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Dom Edson de Castro Homem<br />
de Deus. Por tal afirmativa, parte do homem ficou emancipada do<br />
Estado, fonte de onde emanou sua autonomia (Cf. LLANO<br />
CIFUENTES, Rafael. In: Relações entre a Igreja e o Estado, José<br />
Olympio, 1971, p. 64). Nesta interpretação, a Religião cristã teria<br />
influenciado, ainda que em prazo longo, para o que se tornou possível<br />
somente durante a modernidade.<br />
Do ponto de vista histórico, na Idade Média não havia separação<br />
como entendemos hoje. Havia a distinção de poderes entre o<br />
báculo e o cetro, portanto a diferença de competências de ambas as<br />
instituições. Contudo, elas se tutelavam mutuamente e sofriam ingerências<br />
recíprocas. Cabia à igreja sagrar o rei, isto é, confirmá-lo.<br />
Destacamos os desmandos do cesaropapismo, pelo qual na pessoa<br />
do imperador se concentrava tanto o poder do Estado quanto da Igreja.<br />
Sublinhamos que, no regalismo, a Igreja era só protegida pelo rei,<br />
mediante o regime do Padroado, guardando sua autonomia nas questões<br />
de ordem espiritual. Sinalizamos, a bem da verdade, que o Papa<br />
Bonifácio VIII, na Bula Unam Sanctam, chegou a exigir que todos<br />
os reis e príncipes cristãos lhe prestassem obediência. Já era o presságio<br />
que o poder dos príncipes lhe fugiria das mãos. Com efeito, a<br />
modernidade acabaria com o privilégio do Padroado e, também, com<br />
a pretensão da Igreja acima do Estado. Na prática, avaliamos que o<br />
Padroado atrapalhou mais do que facilitou ou protegeu a ação apostólica<br />
da Igreja. Ao contrário, a modernidade e a República deram<br />
muito mais autonomia à Igreja. No Brasil, isto é notório.<br />
Surge a nova noção de ciência, dependente do método empírico,<br />
a favor do progresso do conhecimento natural e do desenvolvimento<br />
tecnológico. Emerge a individualidade ou a subjetividade pensante<br />
contra os argumentos da tradição e da autoridade, seja a lógica<br />
aristotélica, com a argumentação escolástica, seja a mediação das<br />
instituições eclesiásticas. Esta posição contrária entra em conflito com<br />
a Religião medieval, mas em contrapartida também é influenciada<br />
por posicionamentos religiosos que respeitavam ambas as esferas,<br />
distinguindo a fé e a razão, ou a aceitação de Deus mediante a revelação<br />
e a especulação filosófica. No método científico, a exclusão<br />
inicial da Teologia e da Filosofia que, depois se consolidou como válida<br />
e necessária, não significava afirmar nem o agnosticismo nem o<br />
ateísmo como postulado. Apenas o novo método de se fazer ciência.<br />
<strong>20</strong> Id. em Dest., Rio de Janeiro, (<strong>20</strong>) : 19-36, jan./abr. <strong>20</strong>06