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Material e Método - Sociedade de Ecologia do Brasil

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Herbivoria foliar em uma população <strong>de</strong> Croton son<strong>de</strong>rianus muell. Arg. Numa área <strong>de</strong> caatinga<br />

<strong>de</strong> Pernambuco<br />

Elcida <strong>de</strong> Lima Araújo 1 ; Antonio Travassos Junior 2 ; Fernanda Alves Ribeiro 2 e Karina Kelly <strong>do</strong>s<br />

Anjos Lima 2 1 . Depto. <strong>de</strong> Biologia, Área <strong>de</strong> Botânica, UFRPE 2 . Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Botânica/UFRPE (elcida@ufrpe.br)<br />

INTRODUÇÃO<br />

Herbivoria tem si<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada um tipo <strong>de</strong> interação biológica que po<strong>de</strong> funcionar como um fator <strong>de</strong><br />

estresse em comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caatinga (Araújo 2005), po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> atuar altean<strong>do</strong> os mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong>mográficos populacionais <strong>do</strong> bioma caatinga, mas pouco se conhece sobre a freqüência <strong>de</strong><br />

herbivoria entre os diferentes estádios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das populações da vegetação da caatinga.<br />

A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, que apresenta uma vegetação <strong>de</strong>cidual, abriga<br />

elevada riqueza <strong>de</strong> espécies animais e vegetais, sen<strong>do</strong> algumas <strong>de</strong>las endêmicas e apresenta<br />

diversificada importância econômica. Hoje, encontra-se bastante fragmentada, com gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong><br />

sua área já ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> modificada pelas ativida<strong>de</strong>s humanas (Araújo & Tabarelli 2002; Leal et. al.<br />

2003). Entre as plantas úteis da caatinga, encontra-se Croton son<strong>de</strong>rianus Muell. Arg., (marmeleiro),<br />

planta arbustiva <strong>de</strong> valor combustão (lenha, carvão, óleo), medicinal e apícola (Ataí<strong>de</strong>-Silva 1986,<br />

Araújo 1998). A espécie exibe reposição rápida das folhas na estação chuvosa e completa caducifólia<br />

na estação seca (Araújo & Feraz 2003), sen<strong>do</strong> visualiza<strong>do</strong> elevada ocorrência <strong>de</strong> danos foliares em<br />

alguns indivíduos <strong>de</strong> suas populações no bioma caatinga, sugerin<strong>do</strong> que os herbívoros teriam<br />

preferência por folhas <strong>de</strong> algum estádio da população. Assim, este estu<strong>do</strong> questiona a existência <strong>de</strong> tal<br />

preferência e objetiva <strong>de</strong>terminar diferenças na freqüência <strong>de</strong> herbivoria foliar nos estádios juvenil e<br />

adulto <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> Croton son<strong>de</strong>rianus Muell.Arg. da caatinga.<br />

<strong>Material</strong> e <strong>Méto<strong>do</strong></strong><br />

O Estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> na Estação Experimental da Empresa Pernambucana <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária<br />

(IPA) em Caruaru, Pernambuco. A área é drenada pelo Riacho Olaria, afluente <strong>do</strong> Rio Ipojuca,<br />

apresenta clima estacional com precipitação média anual <strong>de</strong> 694 mm. As chuvas concentram-se,<br />

geralmente, entre os meses <strong>de</strong> março e agosto, fican<strong>do</strong> no restante <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> praticamente ausente. O<br />

solo é <strong>do</strong> tipo Podzólico Amarelo Eutrófico, pertencente à Província Estrutural da Borborema. A<br />

vegetação da área estudada é consi<strong>de</strong>rada caatinga <strong>de</strong> agreste com fisionomia arbórea, também<br />

chamada <strong>de</strong> Floresta Tropical seca, cujas famílias com maior riqueza <strong>de</strong> espécies são Leguminosae e<br />

Euphorbiaceae (Araújo 1998; Alcofora<strong>do</strong>-Filho et al. 2003). Em uma área da Estação Experimental<br />

foram instaladas aleatoriamente 32 parcelas (5x5m), no interior das quais foram conta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />

indivíduos da população <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus, sen<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> o estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s<br />

mesmos. Foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como pertencente ao estádio plântula, o indivíduo com presença <strong>de</strong><br />

cotilé<strong>do</strong>ne (s) e caule clorofila<strong>do</strong>; como juvenil, o indivíduo com caule lenhoso apresentan<strong>do</strong> apenas<br />

ramificações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m primária e como adulto, o indivíduo com caule lenhoso apresentan<strong>do</strong><br />

ramificações <strong>de</strong> orem secundária ou acima <strong>de</strong>sta. A avaliação da herbivoria foi realizada através <strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estimativa visual, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> as seguintes classes: 1. Herbivoria baixa, indivíduos<br />

com folhas com 25% <strong>de</strong> área foliar danificada; 2. Herbivoria mo<strong>de</strong>rada; indivíduos com folhas com<br />

26 a 50% <strong>de</strong> área foliar danificada e 3. Herbivoria forte, indivíduos com folhas com mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong><br />

área foliar danificada. A fauna silvestre encontrada sobre e/ou se alimentan<strong>do</strong> <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> C.<br />

son<strong>de</strong>rianus, foram coleta<strong>do</strong>s para posterior i<strong>de</strong>ntificação por especialistas. Foram ainda registradas as<br />

espécies vegetais lenhosas <strong>do</strong> entorno, ou seja, àquelas situadas próximas aos indivíduos <strong>de</strong> C.<br />

son<strong>de</strong>rianus, no intuito <strong>de</strong> verificar alguma mudança na freqüência <strong>de</strong> herbivoria nos estádios <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento da população <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma outra espécie lenhosa<br />

da área. Diferenças na freqüência <strong>de</strong> herbivoria entre estádios foi testada pelo qui-quadra<strong>do</strong> (Zar<br />

1996).<br />

Resulta<strong>do</strong> e discussão<br />

Foi encontra<strong>do</strong> um total <strong>de</strong> 519 indivíduos <strong>de</strong> Croton son<strong>de</strong>rianus, <strong>do</strong>s quais 363 foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />

adultos, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a 69,94% e 156 jovens, perfazen<strong>do</strong> 30,06%. Não foi encontra<strong>do</strong> indivíduo <strong>de</strong><br />

C. son<strong>de</strong>rianus no estádio plântula, <strong>de</strong>ntro das parcelas amostrais. O número <strong>de</strong> indivíduo amostra<strong>do</strong><br />

indica tratar-se <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> na área, confirman<strong>do</strong> o registra<strong>do</strong> por


Alcofora<strong>do</strong>-Filho et al. (2003) e Araújo (1998). Foram registra<strong>do</strong>s 46; 34; 29 e 47 indivíduos sem<br />

herbivoria, com baixa herbivoria, mo<strong>de</strong>rada herbivoria e forte herbivoria, respectivamente no estádio<br />

juvenil e 0; 0; 0 e 363 indivíduos sem herbivoria, com baixa herbivoria, mo<strong>de</strong>rada herbivoria e forte<br />

herbivoria, respectivamente no estádio adulto, mostran<strong>do</strong> que a herbivoria foliar é mais freqüente no<br />

estádio adulto da população. A ausência <strong>de</strong> herbivoria foliar ou a presença <strong>de</strong> indivíduos com<br />

herbivoria fraca e mo<strong>de</strong>rada no estádio juvenil sugere que as folhas <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianuis tornam-se<br />

possivelmente mais palatáveis nos estádios finais <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Apesar <strong>de</strong> nenhum a plântula<br />

<strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus ter ocorri<strong>do</strong> na amostra <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, Araújo (1998) observou que indivíduos <strong>de</strong> C.<br />

son<strong>de</strong>rianus neste estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>m ser preda<strong>do</strong>s por formigas, sen<strong>do</strong> este estádio<br />

efêmero só visualiza<strong>do</strong> na estação chuvosa, <strong>de</strong> ocorrência reduzida em anos secos, mas <strong>de</strong> ocorrência<br />

elevada em anos chuvosos da caatinga (Araújo 1998; Araújo & Tabarelli 2002). .A fauna silvestre<br />

presente nas folhas <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus que po<strong>de</strong>m ter atua<strong>do</strong> como herbívora <strong>de</strong>sta espécie vegetal foi<br />

representada por insetos e moluscos. Entre os insetos, foram registradas a presença das espécies<br />

Stiphra robusta e Coephalocema sp. da família Proscopiidae e Tropidacris callaris (gafanhoto) da<br />

família Romalidaea, as três pertencentes a or<strong>de</strong>m Orthoptera e a presença <strong>de</strong> Atas sp. (formigas) da<br />

família Formicida<strong>de</strong>, or<strong>de</strong>m Hymenoptera. Entre os moluscos, espécie não i<strong>de</strong>ntificada da or<strong>de</strong>m<br />

Gastropoda. Os gafanhotos e formigas foram visualiza<strong>do</strong>s comen<strong>do</strong> as folhas <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus, já os<br />

moluscos foram visualiza<strong>do</strong>s apenas sobre as folhas <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus. Os indivíduos <strong>de</strong> C.<br />

son<strong>de</strong>rianus co-ocorriam nas parcelas com indivíduos das espécies <strong>de</strong> Ana<strong>de</strong>nanthera columbrina<br />

(Benth.) Brenan (angico); Sapium lancelolatum (Muell. Arg.) Herber (burra-leiteria), Caesalpinia<br />

pyramidalis Tul. (catingueira), Pilosocereus pachicladus Ritter (facheiro), Pithecellobium<br />

parviflorum Benth.(jurema); Cereus jamacaru Dc. (mandacaru) e Bauhinia cheilantha Stand.<br />

(mororó), Commiphora leptophaloeos (Mart.) Gillet. (umbarana) e Croton conduplicatus Kuntze<br />

(velame). Dentre estas espécies, as que mais apresentaram danos foliares, apesar <strong>de</strong> baixos, foram B.<br />

cheilantha e Croton conduplicatus, mas não houve evidências <strong>de</strong> que nenhuma das espécies fosse a<br />

atrativa verda<strong>de</strong>ira <strong>do</strong>s herbívoros, <strong>de</strong> forma que os indivíduos <strong>de</strong> C. son<strong>de</strong>rianus estivessem sen<strong>do</strong><br />

prejudica<strong>do</strong>s pelos vizinhos próximos.<br />

Conclusão<br />

Existe diferença na freqüência <strong>de</strong> herbivoria entre folhas <strong>de</strong> indivíduos juvenis e adultos <strong>de</strong> C.<br />

son<strong>de</strong>rianus, sugerin<strong>do</strong> que folhas são mais impalatáveis ce<strong>do</strong> na ontogenia. Logo, se herbivoria for<br />

um fator <strong>de</strong> estresse da dinâmica da população seu nível <strong>de</strong> influência é maior quan<strong>do</strong> os indivíduos<br />

tornam-se adultos.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Alcofora<strong>do</strong>-Filho, F.G.; Sampaio, E.V..S.B.; Rodal, M.J.N. 2003. Florística e fitossociologia <strong>de</strong> um<br />

remanescente <strong>de</strong> vegetação caducifólia espinhosa arbórea em Caruaru. Acta Bot. Bras. 17 (2):<br />

287-303.<br />

Araújo, E.L., Ferraz, E.M.N., 2003. Processos ecológicos mantene<strong>do</strong>res da diversida<strong>de</strong> vegetal na<br />

caatinga: esta<strong>do</strong> atual <strong>do</strong> conhecimento. In: Claudino Sales, V. (Org.), Ecossistemas brasileiros:<br />

manejo e conservação. pp.115-128. Expressão Gráfica, Fortaleza.<br />

Araújo, E. L. 1998. Aspectos da Dinâmica Populacional <strong>de</strong> duas Es pécies em Floresta Tropical<br />

seca (Caatinga), Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.Tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong>. Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas.<br />

Araújo, E. L. & Tabarelli, M. 2002. Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ecologia <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> plantas <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Pp. 135-142. In: Araújo, E. L.; Moura, A. N.; Sampaio, E. V. S. B.; Gestinari, L. M. S.;<br />

Carneiro, J. M. T. (eds.) Biodiversida<strong>de</strong>, conservação e uso sustentável da flora <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Imprensa Universitária, Recife.<br />

Ataí<strong>de</strong>-Silva, M. 1986. Plantas Úteis da Caatinga. In: Anais <strong>do</strong> Simpósio Sobre Caatinga e Sua<br />

Exploração Comercial. Pp. 261- 273. Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana, EMBRAPA.<br />

Leal, I.R., Tabarelli, M., Silva, J.M.C. 2003. <strong>Ecologia</strong> e Conservação da caatinga. Editora<br />

Universitária, UFPE, Recife.<br />

Zar, J. H. 1996. Bioestatistical analysis. Prentice hall, New Jersey, USA.

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