do melodrama ao romance – o texto espetacular ea ... - WWLivros
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No que se refere <strong>ao</strong>s gestos e ações das personagens, repare-se que as rubricas<br />
desempenham papel essencial na explicitação <strong>do</strong> antagonismo entre os tipos, auxilian<strong>do</strong> na<br />
construção da lógica maniqueísta que sustenta a trama. Elas funcionam como identifica<strong>do</strong>ras<br />
de cada personagem, sublinhan<strong>do</strong> sua caracterização como boas ou más. Tal questão fica<br />
evidente no quadro abaixo, que opõem o conteú<strong>do</strong> das rubricas características à protagonista<br />
da peça (Luiza), modelo de virtude, e <strong>ao</strong> vilão (Koppen), modelo <strong>do</strong> mal, numa mesma cena:<br />
LUIZA KOPPEN<br />
Entra com a luz Está escondi<strong>do</strong><br />
Senta para ler a Bíblia Pragueja: “Com mil demônios!” (p. 23)<br />
Fala sobre a Condessa lhe querer mal,<br />
porém a relação não é recíproca, pelo<br />
contrário, a criada a admira.<br />
Fala de seu amor, contu<strong>do</strong>, reconhecen<strong>do</strong><br />
a importância da posição social, afirma a<br />
impossibilidade de sua paixão. Sua<br />
satisfação pessoal é deixada de la<strong>do</strong> em<br />
respeito à ordem social.<br />
Constata que Luiza lhe atrapalha e resolve<br />
eliminá-la, sem rodeios, frio e direto:<br />
“Antes matá-la <strong>do</strong> que perder esta<br />
ocasião!” (p. 23). Dá a impressão de que<br />
essa atitude faz parte de seu instinto.<br />
Afirma ser Luiza o obstáculo para o seu<br />
intento, e sem titub<strong>ea</strong>r, decide destruí-la:<br />
“...és o obstáculo que se coloca entre mim<br />
e a riqueza!... Pois bem. Hás de morrer!”<br />
(p. 24).<br />
Porta uma Bíblia e uma vela Está arma<strong>do</strong> com um punhal<br />
Figura 1<br />
A parir <strong>do</strong>s exemplos apresenta<strong>do</strong>s, evidencia-se a preocupação com a montagem<br />
cênica, espaço, efeitos grandiosos e personagens na composição <strong>do</strong> <strong>texto</strong> escrito. As rubricas,<br />
no <strong>melodrama</strong>, dão conta de inúmeros aspectos cuja efetividade explora o aparato sensível de<br />
um especta<strong>do</strong>r que, <strong>ao</strong> entrar em contato com a obra, entra em contato com os efeitos<br />
advin<strong>do</strong>s de sua percepção visual e sonora. Não são apenas simples indicações, perdidas <strong>ao</strong><br />
longo <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, mas sim apontamentos precisos, capazes de constituir um conjunto<br />
diretamente vincula<strong>do</strong> <strong>ao</strong> espetáculo.