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Observa-se que o melodrama procura se aproximar dessa exposição, ligada a uma performance que presentifica a história. Também o romance abordado aparenta possuir o intento de aproximar-se desse procedimento de presentificação, cujo processo parece favorecer a diminuição da distância entre obra e leitor. Favorecendo a construção desse tipo de vínculo, ambas as obras poderiam estimular processos capazes de aproximar o público (leitor ou espectador) da experiência que é relatada na ficção o que, provavelmente, contribui para a concretização de uma função didática nas obras, consolidadas através de personagens e episódios que assumem a função de demonstrar padrões de valores certos e errados, válidos para a vida em sociedade. Tal esquema trabalha com o conflito entre o bem e o mal oferecendo imagens simples de valores. Com isso, proporciona matrizes aparentemente sólidas de avaliação da experiência num universo tremendamente instável, o mundo moderno, marcado por mudanças que envolveram a economia, o poder político, sem autoridades absolutas, e a falta de rigor normativo no campo estético (XAVIER, 2003). Ao oferecer essas matrizes, o melodrama é capaz de formalizar um imaginário que busca dar corpo à moral, torná-la visível e audível. Para estabelecer esses padrões, muito mais do que o texto escrito, o melodrama usa o texto de seu espetáculo, estimulando uma legibilidade que se dá por uma combinação visual e sonora – meio capaz de despertar a via do afetivo, atingindo o espectador e conquistando sua credulidade pela via da emoção. A clareza na performance das personagens é essencial (as rubricas não promovem divergências, antes acentuam essa percepção): ao dizer tudo, fixam nitidamente um esquema moral do mundo, com modelos claros. A ênfase nos gestos e expressões acentua a visibilidade da cena e a condição das personagens ganha corpo, torna-se real, pelo desempenho cênico. Percebe-se o valor da exibição para a concretização da ficção perante o público. Tal composição encaixa-se no contexto brasileiro do século XIX e a ele serve, fornecendo padrões de condutas. Contudo, muito além disso, repara-se que as peculiaridades provindas do melodrama, que acabaram por influenciar na escritura de outras obras, não se associam apenas ao incentivo de regularizações morais, mas antes oferecem um mundo de possibilidades imagéticas e sensíveis, com sua ênfase em composições cênicas grandiosas, recheadas de tramas cujas reviravoltas exploram emoções variadas de forma intensa. Dentro dessa perspectiva, sublinha-se a relação entre textos, o que não significa que eles não sejam autônomos – cada obra possui “sua própria presença no tempo e no espaço, uma existência única no local onde ocorre” (BENJAMIN apud HUTCHEON, 2011). Admitir
essa singularidade em convivência com a validade das relações entre objetos artísticos é motivo para provocações, impulsionando estudos e afirmando deslocamentos que não permitem estagnação. Espera-se que tal trabalho possa contribuir com tal movimento, ciente de que a proposta apresentada também não fecha portas por aqui, mas antes aceita sua busca sem fim. BIBLIOGRAFIA CAMARGO, Robson Correa de. O espetáculo do Melodrama: arquétipos e paradigmas. Tese (Doutorado em Teatro). São Paulo, USP, 2005. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: Editora Nacional, 1973. _____. Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, 1° Vol. CANDIDO, Antonio; ROSENFELD, A.; PRADO, Décio de A.; GOMES, Paulo E. S. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1987. CARLSON, Marvin. Teorias do teatro: estudo histórico-crítico, dos gregos à atualidade. São Paulo, Ed. UNESP, 1997. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada. São Paulo: Ática, 1986. GENETTE, Gerárd. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Ed. Viva Voz, 2010. GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1975. HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. HUTCHEON, Linda. “Começando a teorizar a adaptação: o quê? Quem? Por quê? Como? Onde? Quando?”. In.:_____. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2011. LUCOTTE. A Filha do Mar. Manuscrito digitado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro (GETEB) - UFSJ. RAMOS, Luiz Fernando. O parto de Godot e outras encenações imaginárias. São Paulo: Hucitec, 1999. ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, 2008. SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Trad. Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008. THOMASSEAU, Jean-Marie. O Melodrama. São Paulo: Perspectiva, 2005. XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, Cinema Novo, Nélson Rodrigues. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
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