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do melodrama ao romance – o texto espetacular ea ... - WWLivros

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suas estratégias ecoaram em uma obra nacional (cuja repercussão ultrapassou seu tempo <strong>–</strong><br />

sen<strong>do</strong> o <strong>romance</strong> adapta<strong>do</strong> posteriormente para a linguagem da telenovela) pertencente <strong>ao</strong><br />

perío<strong>do</strong> romântico, numa época essencial para a formação da literatura brasileira.<br />

Nesse con<strong>texto</strong>, percebe-se a configuração da cultura nacional, marcada pelo conflito<br />

entre o gosto popular e o intuito de composição de <strong>texto</strong>s cuja qualidade estética pudesse<br />

validar a arte <strong>do</strong> país perante padrões internacionais. Contu<strong>do</strong>, observa-se que conflitos <strong>do</strong><br />

tipo popular x erudito vão além de nossas fronteiras. Os séculos XVIII e XIX na verdade, são<br />

marca<strong>do</strong>s por mudanças de padrões econômicos, sociais e culturais, fato que repercutiu no<br />

campo artístico.<br />

Sobre tal questão escreve Hauser (1994) apontan<strong>do</strong> para um processo de nivelamento<br />

cultural através <strong>do</strong> surgimento de um novo e regular público leitor, compra<strong>do</strong>r de livros, fato<br />

que assegurou a muitos escritores o sustento livre de obrigações pessoais. Esse novo público<br />

devia sua existência primeiramente à crescente importância da burguesia abastada, cuja<br />

situação refletiu no movimento romântico que:<br />

em geral, com sua ênfase burguesa nos sentimentos, nada mais é <strong>do</strong> que o produto<br />

da rivalidade intelectual e um instrumento na luta contra a visão de mun<strong>do</strong><br />

classicista da aristocracia, com sua tendência para o normativo e o universalmente<br />

váli<strong>do</strong> (...) A burguesia tornou-se tão próspera e influente que pode permitir-se uma<br />

literatura própria, tenta impor por sua própria individualidade, em oposição a essas<br />

classes superiores, e falar sua própria linguagem que se converte em uma linguagem<br />

<strong>do</strong> sentimentalismo. A revolta das emoções contra a frieza <strong>do</strong> intelecto (HAUSER,<br />

1994, p. 550).<br />

O modelo clássico, pensa<strong>do</strong> no âmbito social, enfatizava a relação entre arte e vida<br />

social. A arte era erudita <strong>–</strong> pressupunha uma educação formal que fornecesse os parâmetros<br />

de suas regras. O padrão <strong>do</strong> herói trágico, honra<strong>do</strong> e digno, era exalta<strong>do</strong>. Tal perspectiva<br />

cedeu lugar à expressão das emoções singulares, <strong>ao</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sentimento e o herói, que<br />

passou a sofrer por paixão, deixou de ser modelar para ser exemplar.<br />

A linguagem utilizada adaptou-se <strong>ao</strong> público leitor <strong>–</strong> não se endereçava mais somente<br />

<strong>ao</strong>s escolariza<strong>do</strong>s, era para o entendimento geral das massas. A preocupação com o indivíduo<br />

era maior <strong>do</strong> que a preocupação com a norma. Antes, o princípio da reflexão sobre a vida e a<br />

essência <strong>do</strong> humano, o exercício intelectual, que <strong>ao</strong>s poucos passou a ser substituí<strong>do</strong> pelo<br />

pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sentimento, pelo efeito <strong>do</strong> imediato que ainda hoje é forte na cultura ocidental.<br />

Com essas afirmações não se pretende gerar julgamentos valorativos, o intuito está<br />

antes no estímulo de um movimento que busca compreender <strong>ao</strong> invés de valorar. Pressupõe-se<br />

que tal cuida<strong>do</strong> é essencial quan<strong>do</strong> se compara linguagens diferentes e também quan<strong>do</strong> se<br />

busca lançar um olhar sobre aspectos históricos, constituintes de uma tradição que, de uma<br />

forma ou de outra, marcou a construção de elementos próprios da nossa cultura.

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