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do melodrama ao romance – o texto espetacular ea ... - WWLivros

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Nota-se, no acima exposto, como os trechos descritivos vinculam-se a indicações de<br />

gestos capazes de caracterizar as personagens (uma “mão delicada”, que é “pousada de leve”,<br />

ou então, um “sorriso cândi<strong>do</strong>”). Além disso, elas expõem não só ações, mas também como<br />

elas devem ser r<strong>ea</strong>lizadas: a fala, que se dá em “tom de branda repreensão”, ou o corpo que se<br />

volta em sobressalto. Tem-se a impressão de que se trata de indicações que, assim como as<br />

rubricas no <strong>melodrama</strong>, almejam não uma simples descrição, mas a criação de um vínculo<br />

com um acontecimento <strong>–</strong> o diálogo apela para a oralidade, a caracterização <strong>do</strong>s gestos e <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>do</strong>s de fazê-los, implica r<strong>ea</strong>lização de ações.<br />

Outro exemplo, que aproxima A escrava Isaura de A filha <strong>do</strong> mar, em relação à<br />

estruturação de um <strong>texto</strong> apoia<strong>do</strong> no recurso às rubricas, pode ser encontra<strong>do</strong> em cenas entre a<br />

protagonista Isaura e o vilão Leôncio. Observa-se:<br />

- Isaura, - disse Leôncio, continuan<strong>do</strong> o diálogo que deixamos apenas enceta<strong>do</strong>, -<br />

fica saben<strong>do</strong> que agora a tua sorte está inteiramente entre as minhas mãos.<br />

- Sempre esteve, senhor, - respondeu humildemente Isaura (...)<br />

- Cala-te, escrava insolente! <strong>–</strong> bra<strong>do</strong>u cheio de cólera. <strong>–</strong> Que eu suporte sem irritarme<br />

os teus desdéns e repulsas, ainda vá: mas repreensões!... com quem pensas tu que<br />

falas?...<br />

- Perdão! senhor!... exclamou Isaura aterrada e arrependida das palavras que<br />

lhe tinham escapa<strong>do</strong> (...)<br />

- Oh! <strong>–</strong> exclamou Leôncio com satânico sorriso, - já chegastes a tão subi<strong>do</strong> grau de<br />

exaltação e romantismo!... (...)<br />

- Ah! meu senhor, por piedade! <strong>–</strong> exclamou Isaura, cain<strong>do</strong> de joelhos <strong>ao</strong>s pés de<br />

Leôncio, e levantan<strong>do</strong> as mãos <strong>ao</strong> céu em contorções de angústia (...) (grifos<br />

meus, GUIMARÃES, 1975, p. 51 <strong>–</strong> 53).<br />

Novamente uma passagem composta por um diálogo extenso, que ocupa mais de duas<br />

páginas no capítulo, em que se encontram trechos descritivos semelhantes às rubricas. Aqui,<br />

destaca-se, como na cena entre Luiza e Koppen, a identificação de cada personagem de<br />

acor<strong>do</strong> com um embate antagônico <strong>–</strong> um é mau (brada “cheio de cólera” <strong>–</strong> ato violento,<br />

perigoso, e possui “satânico sorriso”) e a outra é a inocente, virtuosa e atemorizada (suas<br />

respostas são humildes, <strong>ao</strong> mesmo tempo que se encontra “aterrada”, subjugada <strong>–</strong> “cain<strong>do</strong> de<br />

joelhos <strong>ao</strong>s pés de Leôncio”, sen<strong>do</strong> que, nos momentos de angústia, vincula-se <strong>ao</strong>s céus <strong>–</strong><br />

“levantan<strong>do</strong> as mãos <strong>ao</strong> céu” <strong>–</strong> gesto icônico, carrega<strong>do</strong> de senti<strong>do</strong>s não apenas explora<strong>do</strong>s na<br />

literatura ou no t<strong>ea</strong>tro, mas que também possuem um peso imagético, que pode ser vincula<strong>do</strong><br />

tanto a gestos de súplica como de redenção ou de benção, como é possível perceber em<br />

pinturas vinculadas à religião católica, por exemplo).<br />

As passagens citadas, utilizadas como exemplos, não são únicas no <strong>romance</strong> aborda<strong>do</strong><br />

<strong>–</strong> diálogos extensos, perm<strong>ea</strong><strong>do</strong>s por indicações semelhantes às rubricas, de acor<strong>do</strong> com o<br />

esclareci<strong>do</strong> anteriormente, são recorrentes em toda a obra. Repara-se que esses trechos se<br />

infiltram em meio <strong>ao</strong> discurso direto com tal naturalidade que, muitas vezes, como é possível

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