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do melodrama ao romance – o texto espetacular ea ... - WWLivros

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DO MELODRAMA AO ROMANCE <strong>–</strong> O TEXTO<br />

ESPETACULAR E A NARRATIVA<br />

Paula Fernanda Ludwig 1<br />

ABSTRACT: This text discusses the relationship between literature and th<strong>ea</strong>ter, specifically<br />

between a <strong>melodrama</strong> (A filha <strong>do</strong> mar, by Lucotte) and a romantic novel (A escrava Isaura, by<br />

Bernar<strong>do</strong> Guimarães) from Brazilian literature in the 18 th and 19 th centuries. Using the<br />

Genette’s formulations about the hypertext, we try to understand how this relationship took<br />

place in the time when the works are produced. We believe that <strong>melodrama</strong>’s characteristics<br />

reverberated in the novel’s structure of the 19 th century. This review aims to present a small<br />

sample that it happened and to suggest its revenue in the Brazilian literature.<br />

KEYWORDS: LITERATURE, THEATER, MELODRAMA.<br />

RESUMO: Este trabalho aborda relações entre literatura e t<strong>ea</strong>tro, mais especificamente,<br />

entre um <strong>melodrama</strong> (A filha <strong>do</strong> mar, de Lucotte) e um <strong>romance</strong> romântico (A escrava Isaura,<br />

de Bernar<strong>do</strong> Guimarães) pertencente à literatura brasileira, sobretu<strong>do</strong> nos séculos XVIII e<br />

XIX. Por esse caminho, recorre-se às formulações de Genette acerca <strong>do</strong> hiper<strong>texto</strong>, numa<br />

tentativa de entender como essa relação se estabeleceu na época de produção das obras.<br />

Especula-se que características <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong> encontram respal<strong>do</strong> na estrutura narrativa de<br />

<strong>romance</strong>s <strong>do</strong> século XIX, aproximan<strong>do</strong> as obras num âmbito que extrapola aspectos como<br />

conteú<strong>do</strong> e temática e atinge a armação <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. No presente estu<strong>do</strong>, pretende-se apresentar<br />

uma pequena mostra de que isso se deu na prática e sugerir seu rendimento na<br />

caracterização da literatura brasileira.<br />

PALAVRAS-CHAVE: LITERATURA, TEATRO, MELODRAMA.<br />

“Relações entre”: combinação de palavras com senti<strong>do</strong> amplo e <strong>ao</strong> mesmo tempo de<br />

entendimento aparentemente rápi<strong>do</strong>, cujo uso pode atribuir complexidade à constituição de<br />

saberes, o que de fato se percebe no campo artístico <strong>–</strong> não é amplo o rol de discussões quan<strong>do</strong><br />

o assunto se apresenta como relações entre objetos artísticos? As denominações são inúmeras<br />

e de níveis operacionais varia<strong>do</strong>s. Pode-se pensar na passagem de um mo<strong>do</strong> de expressão<br />

estética a outro, em transposição da arte, trocas de mídias, que implicam trabalhar com<br />

códigos semióticos diversos, adaptações... enfim, uma rede extensa, sen<strong>do</strong> que, num estu<strong>do</strong><br />

como o que se pretende apresentar a seguir, faz-se necessário traçar delimitações.<br />

1 Doutoranda em Estu<strong>do</strong>s Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de<br />

Santa Maria (UFSM). Linha: Literatura, comparatismo e crítica social. Email: ludwig_paula@yahoo.com.br


Este trabalho pretende abordar relações entre literatura e t<strong>ea</strong>tro, mais especificamente,<br />

entre um <strong>melodrama</strong> e um <strong>romance</strong> romântico pertencente à literatura brasileira, sobretu<strong>do</strong><br />

nos séculos XVIII e XIX, apoian<strong>do</strong>-se em obras pertencentes <strong>ao</strong> campo da dramaturgia e da<br />

narrativa. Para tanto, considera-se a divisão tripartida <strong>do</strong>s gêneros 2 <strong>–</strong> lírico, épico e dramático.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, pode-se afirmar que o foco desse trabalho está nos gêneros dramático,<br />

caracteriza<strong>do</strong> pela “representação de uma ação, movida por um dinamismo de tensão” e épico,<br />

assinala<strong>do</strong> pelo “relato ou apresentação de uma ação” (CUNHA apud PORTELLA, 1976, p.<br />

96).<br />

Inician<strong>do</strong> por uma perspectiva que leva em conta relações entre <strong>texto</strong>s escritos<br />

(material disponível para análise) - relações intertextuais, no caso, seria natural recorrer <strong>ao</strong><br />

conceito de intertextualidade como aporte teórico. No entanto, encontra-se nesse ponto a<br />

primeira problemática da rede ampla que configura a expressão “relações entre”. Samoyault<br />

(2008) abre seu livro, A intertextualidade, alertan<strong>do</strong> para a pluralidade de noções acerca <strong>do</strong><br />

termo em questão: “tão utiliza<strong>do</strong>, defini<strong>do</strong>, carrega<strong>do</strong> de senti<strong>do</strong>s diferentes que se tornou<br />

uma noção ambígua <strong>do</strong> discurso literário” (SAMOYAULT, 2008, p. 9). Mesmo assim, o<br />

vocábulo apresenta:<br />

a vantagem, graças à sua aparente neutralidade, de poder agrupar várias<br />

manifestações <strong>do</strong>s <strong>texto</strong>s literários, de seu entrecruzamento, de sua dependência<br />

recíproca. A literatura se escreve certamente numa relação com o mun<strong>do</strong>, mas<br />

também apresenta-se numa relação consigo mesma, com sua história, a história de<br />

suas produções, a longa caminhada de suas origens. Se cada <strong>texto</strong> constrói sua<br />

própria origem (sua originalidade), inscreve-se <strong>ao</strong> mesmo tempo numa gen<strong>ea</strong>logia<br />

que ele pode mais ou menos explicitar (Ibidem).<br />

Nota-se que as considerações citadas levam em conta relações da literatura consigo<br />

mesma, com sua história e memória, essa última tomada como um eixo centraliza<strong>do</strong>r em meio<br />

a concepções variadas, “propon<strong>do</strong> meios para pensar a intertextualidade de maneira unificada,<br />

reunin<strong>do</strong> seus traços em torno da ideia de memória. O que ela é, com efeito, senão a memória<br />

que a literatura tem de si mesma?” (SAMOYAULT, 2008, p. 10). Por esse viés, “a<br />

intertextualidade não é mais apenas a retomada da citação ou da re-escritura, mas descrição<br />

<strong>do</strong>s movimentos e passagens da escritura na sua relação consigo mesma e com o outro” (Ibid.,<br />

p. 11).<br />

Tal perspectiva permite pensar a literatura como dinâmica, caracterizada por obras que<br />

não se fixam como objetos absolutos e estáticos, mas que antes perpetuam um contínuo<br />

movimento (o que não significa que se preconize a continuidade em detrimento da ruptura).<br />

2 Sobre a divisão tripartida <strong>do</strong>s gêneros, consultar o <strong>texto</strong> “Os gêneros literários”, de Helena Parente Cunha,<br />

disponível em: PORTELLA, Eduar<strong>do</strong>. Teoria literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976.


Assim, não se pensa apenas em simples reproduções de <strong>texto</strong>s em canais e condições diversas,<br />

mas se considera o processo de enunciação perm<strong>ea</strong><strong>do</strong> pelo movimento que, <strong>ao</strong> tomar lugar no<br />

enuncia<strong>do</strong>, coloca-se de forma diferenciada, estimulan<strong>do</strong> percepções distintas. Ao assumirem<br />

posição, essas relações geram senti<strong>do</strong>, revelan<strong>do</strong> sua pertença <strong>ao</strong> deslocamento infinito <strong>do</strong>s<br />

<strong>texto</strong>s, capaz de conjugar as unidades semióticas que aderem <strong>ao</strong> seu dinamismo.<br />

Considerar que tal movimento se infiltra na constituição da enunciação, repercutin<strong>do</strong><br />

no enuncia<strong>do</strong>, permite pensar que é possível buscar marcas desse processo nos <strong>texto</strong>s escritos.<br />

Para tanto, as formulações de Genette acerca das relações transtextuais, como as denominou,<br />

respondem à necessidade de conceitos operacionais para a r<strong>ea</strong>lização de uma análise que<br />

pretende confrontar dramaturgia e narrativa.<br />

Em 1982, Gérard Genette apresentou, em Palimpsestos, uma formalização teórica<br />

voltada para a prática, inscreven<strong>do</strong> a noção de intertextualidade numa tipologia geral das<br />

relações que os <strong>texto</strong>s entretêm com outros <strong>texto</strong>s. Sua proposta estabelece cinco relações<br />

transtextuais, sen<strong>do</strong> que a transtextualidade é definida como “transcendência textual <strong>do</strong> <strong>texto</strong>”<br />

ou “grosso mo<strong>do</strong>, como ‘tu<strong>do</strong> que o coloca em relação, manifesta ou secreta, com outros<br />

<strong>texto</strong>s’” (GENETTE, 2010, p. 11). Alerta-se que as relações trasntextuais não devem ser<br />

consideradas “como classes estanques, sem comunicação ou intersecções” (Ibid., p. 20).<br />

Nesse <strong>do</strong>mínio, a intertextualidade é a primeira categoria apresentada e sua<br />

conceituação é: “relação de co-presença entre <strong>do</strong>is ou vários <strong>texto</strong>s, isto é, essencialmente, e o<br />

mais frequentemente, como presença efetiva de um <strong>texto</strong> em um outro” (Ibid., p. 12).<br />

Percebe-se que essa concepção confere certa restrição <strong>ao</strong> alcance <strong>do</strong> termo, o que pode ser<br />

positivo, de um ponto de vista analítico e operacional. Contu<strong>do</strong>, o foco <strong>do</strong> pensamento teci<strong>do</strong><br />

por Genette não se concentra apenas nesse âmbito, que poderia ficar preso a noções como a de<br />

citação, de plágio e de alusão. Ao abordar o quarto tipo de relação transtextual, a<br />

hipertextualidade, o autor insiste sobre a componente relacional e o movimento dinâmico <strong>do</strong>s<br />

<strong>texto</strong>s:<br />

Enten<strong>do</strong> por hipertextualidade toda relação que une um <strong>texto</strong> B (que chamarei<br />

hiper<strong>texto</strong>) a um <strong>texto</strong> anterior A (que, naturalmente, chamarei hipo<strong>texto</strong>) <strong>do</strong> qual<br />

ele brota de uma forma que não é a <strong>do</strong> comentário (...) um <strong>texto</strong> deriva<strong>do</strong> de outro<br />

<strong>texto</strong> preexistente. Esta derivação pode ser de ordem descritiva e intelectual, em que<br />

um meta<strong>texto</strong> (por exemplo, uma página da Poética de Aristóteles) “fala” de um<br />

<strong>texto</strong> (Édipo rei). Ela pode ser de uma outra ordem, em que B não fale nada de A, no<br />

entanto não poderia existir daquela forma sem A (GENETTE, 2010, p. 16).<br />

Percebe-se que o teórico afirma a relação da literatura consigo mesma <strong>ao</strong> categorizar<br />

essas relações, admitin<strong>do</strong>-as como localizáveis no <strong>texto</strong> escrito, mesmo que se considere um<br />

certo grau de implícito. No caso da hipertextualidade, verifica-se que, à medida que o autor


vai desenvolven<strong>do</strong> sua ideia, apoia<strong>do</strong> em exemplos que se fazem por derivação (o termo<br />

utiliza<strong>do</strong> é transformação, na qual se insere a noção de imitação), vai esclarecen<strong>do</strong> a retomada<br />

de estratégias estruturais de outros <strong>texto</strong>s, apontan<strong>do</strong> vínculos entre um <strong>texto</strong> presente (atual)<br />

e um <strong>texto</strong> ausente (virtual). Trata-se não apenas de recortes ou transposições entre <strong>texto</strong>s,<br />

mas também de transformações <strong>–</strong> produção de diferencias, inclusive no que tange a processos<br />

de significação, permitin<strong>do</strong> a observação da assimilação criativa de elementos <strong>ao</strong> <strong>texto</strong>,<br />

favorecen<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong>s processos de produção literária.<br />

Essa consideração instiga uma abordagem cujos parâmetros preconizam a observação<br />

<strong>do</strong> processo de escrita relaciona<strong>do</strong> a um processo de leitura de um corpus anterior <strong>–</strong> “O <strong>texto</strong>,<br />

portanto, é absorção e réplica a outro <strong>texto</strong> (ou vários outros)” (CARVALHAL, 1986, p. 50).<br />

Sublinha-se que esse movimento não se resume a simples constatações de semelhanças e<br />

influências entre obras diferentes. Ele permite o intento de verificação da presença efetiva de<br />

elementos de um <strong>texto</strong> em outro, porém de acor<strong>do</strong> com uma perspectiva crítica capaz de<br />

extrapolar simples identificações, adentran<strong>do</strong> no exame <strong>do</strong>s procedimentos efetua<strong>do</strong>s em<br />

formas expressivas diversas.<br />

No caso desse trabalho, pretende-se observar relações tecidas entre um <strong>melodrama</strong> e<br />

um <strong>romance</strong> brasileiro. Sobre o <strong>melodrama</strong>, destaca-se sua presença como forma t<strong>ea</strong>tral de<br />

origem francesa, entre o final <strong>do</strong> século XVIII e início <strong>do</strong> XIX, nasci<strong>do</strong> no seio da Revolução<br />

Francesa. Seu estabelecimento nesse con<strong>texto</strong> aponta para uma dicotomia que se consoli<strong>do</strong>u<br />

<strong>ao</strong> longo <strong>do</strong>s anos: a divisão entre a cultura promovida pelas formas populares e a cultura<br />

intelectual e erudita.<br />

Na França, com a ascensão <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong>, as salas oficiais como a Comédie Française<br />

e o L’Opéra perderam seu público para os t<strong>ea</strong>tros populares como o Ambigu e o Porte de<br />

Saint Martin. Paralelamente a isso, críticos e intelectuais eruditos criavam um forte desprezo<br />

<strong>ao</strong> gênero (CARLSON, 1997). Tratava-se de uma modalidade de drama popular, de tramas<br />

complexas, emoções exacerbadas e violência patética (THOMASSEAU, 2005). Suas peças,<br />

<strong>ao</strong> contrário <strong>do</strong> que valorizava a cultura clássica, constituíam-se de uma dramaturgia feita<br />

especificamente para ser encenada, enfatizan<strong>do</strong> as massas não escolarizadas, e não lida e<br />

apreciada como obra literária (CAMARGO, 2005).<br />

Esclarece-se que a investigação, a ser desenvolvida, vincula-se <strong>ao</strong> conflito entre<br />

popular e erudito não só no que diz respeito <strong>ao</strong> <strong>melodrama</strong>, mas também no que tange à<br />

escolha de um parâmetro na literatura brasileira: o <strong>romance</strong>, configura<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> nos<br />

séculos XVIII e XIX, perío<strong>do</strong> de afirmação da literatura nacional. Explica-se: o con<strong>texto</strong><br />

histórico <strong>do</strong> Brasil dessa época foi também o cenário de nossa escola romântica, cujos


ímpetos populares e nacionalistas repercutiram com grande estron<strong>do</strong> no tratamento <strong>do</strong> t<strong>ea</strong>tro e<br />

da literatura. No entanto, observa-se que, antes <strong>do</strong> advento <strong>do</strong> Romantismo no país, o<br />

Arcadismo já havia fertiliza<strong>do</strong> nossas terras. Segun<strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> (1981), esse estilo de época<br />

plantou de vez a literatura <strong>do</strong> Ocidente por aqui “graças <strong>ao</strong>s padrões universais por que se<br />

regia, e que permitiram articular a nossa atividade literária com o sistema expressivo da<br />

civilização a que pertencemos, e dentro da qual fomos definin<strong>do</strong> lentamente a nossa<br />

originalidade” (CANDIDO, 1981, p. 17).<br />

Quan<strong>do</strong> os autores românticos começaram a escrever já havia esse solo sem<strong>ea</strong><strong>do</strong>, cuja<br />

orientação direcionava a escrita para a adequação a padrões universais, de acor<strong>do</strong> com<br />

modelos literários <strong>do</strong> cânone clássico. Apesar disso, deve-se destacar que, no perío<strong>do</strong><br />

menciona<strong>do</strong>, no Brasil, verifica-se a existência de um t<strong>ea</strong>tro em que pre<strong>do</strong>minam as<br />

representações de formas populares, como o <strong>melodrama</strong>, aclama<strong>do</strong> pelo grande público.<br />

Especula-se, então, que o sucesso <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong> perante a plateia pode ter estimula<strong>do</strong> a<br />

influência de características de sua estrutura dramática, caso <strong>do</strong> uso das personagens-tipo e da<br />

lógica maniqueísta, por exemplo, sobre a escrita de outras obras, estimulan<strong>do</strong>-lhes a<br />

exploração de aspectos como a relação <strong>do</strong> <strong>texto</strong> escrito com elementos próprios <strong>do</strong> espetáculo<br />

cênico, aproximan<strong>do</strong> t<strong>ea</strong>tro e literatura.<br />

Em relação <strong>ao</strong> t<strong>ea</strong>tro, leva-se em consideração a pressuposição de relações entre<br />

linguagens diversas <strong>ao</strong> serem considera<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is elementos característicos dessa ár<strong>ea</strong> <strong>–</strong> o <strong>texto</strong><br />

escrito (dramaturgia) e a encenação, que poderia ser vista como um <strong>texto</strong> constituí<strong>do</strong> não<br />

apenas por palavras, mas pela manipulação de sons, imagens, gestos... a linguagem da<br />

representação <strong>espetacular</strong>. Ressalta-se que a dramaturgia é feita de acor<strong>do</strong> com a noção de que<br />

sua escrita está sujeita à montagem de um espetáculo, o que possibilita pensar num processo<br />

de transposição de uma obra literária, feita para ser lida, para uma obra cênica, feita para ser<br />

vista, ouvida e compartilhada (compartilhamento <strong>do</strong> acontecimento cênico). Há como<br />

identificar tal percepção dentro <strong>do</strong> <strong>texto</strong> dramatúrgico? Marcas desse procedimento podem ser<br />

localizadas em narrativas?<br />

No caso <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong>, as observações de Camargo (2005) sugerem um tipo de <strong>texto</strong><br />

dramatúrgico diretamente vincula<strong>do</strong> à encenação t<strong>ea</strong>tral, à representação que ocorre mediante<br />

a ação de atores, num espaço e tempo, aqui e agora, compartilha<strong>do</strong>s pela plateia. Pode a<br />

encenação estar presente no <strong>texto</strong> escrito de uma peça? Camargo afirma que o espaço<br />

correspondente a esse quesito é ocupa<strong>do</strong> pelas rubricas, cuja presença é constante na escrita<br />

das peças melodramáticas. Essa observação leva <strong>ao</strong> apontamento de seus <strong>texto</strong>s como <strong>texto</strong>s


<strong>espetacular</strong>es (MARINIS apud CAMARGO, 2005), isto é, o <strong>texto</strong> escrito especificamente<br />

para ser encena<strong>do</strong>, a dramaturgia é organizada visan<strong>do</strong> a encenação.<br />

Segun<strong>do</strong> o acima exposto, a categorização de <strong>texto</strong> <strong>espetacular</strong> justifica-se<br />

principalmente pelo grande número de rubricas encontradas <strong>ao</strong> longo das peças<br />

melodramáticas. As rubricas são registros escritos juntamente com o <strong>texto</strong> da peça. Sua r<strong>ea</strong>l<br />

efetividade e senti<strong>do</strong> estão na prática, na encenação, e sua presença na dramaturgia, segun<strong>do</strong><br />

Ramos (1999, p. 15) “compreende a literatura dramática como necessariamente vinculada a<br />

um fazer t<strong>ea</strong>tral específico e não como autônoma <strong>do</strong> espetáculo”.<br />

As rubricas são um espaço direciona<strong>do</strong> diretamente à montagem no <strong>texto</strong> literário, em<br />

que estão sugeridas as primeiras encenações da peça, que podem transcorrer tanto da<br />

imaginação <strong>do</strong> dramaturgo como de anotações advindas de uma montagem anterior da obra.<br />

De acor<strong>do</strong> com Ramos (1999, p. 17), o <strong>texto</strong> da rubrica apresenta-se como “registro literário<br />

de uma certa poética cênica, o vestígio ou a marca de um méto<strong>do</strong>”, capaz de fornecer<br />

indicações precisas para a montagem da peça e também das personagens, dan<strong>do</strong> referências<br />

sobre inúmeros aspectos, desde cenários até gestos a serem feitos pelos atores.<br />

Para compreender esse vínculo traça<strong>do</strong> pelas rubricas entre <strong>texto</strong> literário e espetáculo<br />

t<strong>ea</strong>tral, pode-se pensar nas personagens-tipo, por exemplo, como fonte para o entendimento<br />

dessa questão. Segun<strong>do</strong> Thomass<strong>ea</strong>u (2005), os tipos são máscaras de comportamentos e<br />

linguagens fortemente codificadas <strong>–</strong> há o vilão, o herói, a inocente perseguida, o bobo...<br />

Trata-se de construções estereotipadas, facilmente identificadas pelo público. A constituição<br />

das personagens apoiada na exploração de uma gestualidade codificada <strong>–</strong> cada qual possui<br />

uma forma específica de gestos usa<strong>do</strong>s em cena, é uma característica da composição cênica,<br />

mas que também é explorada na dramaturgia melodramática, cuja tessitura leva em conta que<br />

o <strong>texto</strong> da peça também é expresso através <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>s atores:<br />

O ator em ação dentro <strong>do</strong> espaço representacional apresenta sua personagem como<br />

<strong>texto</strong> sonoro-gestual, um <strong>texto</strong> fragmenta<strong>do</strong> no icônico da representação, <strong>texto</strong><br />

silencioso que fala, significa, na intersecção e sinestesia da sonoridade e ou<br />

visualidade músico-gesto-verbal (CAMARGO, 2005, p. 8 <strong>–</strong> 9).<br />

Sabe-se que ação e conflito são elementos característicos <strong>do</strong> <strong>texto</strong> dramático,<br />

configura<strong>do</strong>r da apresentação de um mun<strong>do</strong> em que as mediações, como a exercida pelo<br />

narra<strong>do</strong>r, são subtraídas. O destaque reside no objeto em si mesmo, cuja concretização está<br />

diretamente relacionada com as personagens que “constituem praticamente a totalidade da<br />

obra: nada existe a não ser através delas” (PRADO, 1987, p. 84).<br />

Funções como comentário, acentuação e descrição, tradicionalmente desempenhadas<br />

em narrativas pelo narra<strong>do</strong>r, no caso de uma peça t<strong>ea</strong>tral, geralmente não são enfatizadas no


diálogo escrito, em que se destaca a ação apresentada como tal, e vão se efetivar na cena,<br />

através da exploração de elementos como a cenografia, a pantomima e a música. Contu<strong>do</strong>,<br />

“Essa função se manifesta no <strong>texto</strong> dramático através das rubricas, rudimento narrativo que é<br />

inteiramente absorvi<strong>do</strong> pelo palco” (ROSENFELD, 2008, p. 35).<br />

Através de seu uso, cria-se um vínculo direto com a representação cênica, cuja<br />

efetivação se dá na atualidade <strong>–</strong> a ação não é contada, mas sim presenciada, apresentada por<br />

personagens que atuam diante <strong>do</strong> público. Os acontecimentos desenrolam-se por si, trabalham<br />

com a ação humana, com a experiência empírica compartilhada por ator e especta<strong>do</strong>r e, a cada<br />

encenação, é como se tu<strong>do</strong> se originasse novamente, pela primeira vez. O <strong>texto</strong> dramático<br />

vincula<strong>do</strong> à encenação pressupõe o imediato <strong>do</strong> acontecimento que se dá no aqui e agora e<br />

não no passa<strong>do</strong>.<br />

O diálogo, o discurso direto, é característico desse tipo de <strong>texto</strong> e está vincula<strong>do</strong> com a<br />

composição das personagens <strong>–</strong> como são escassas as mediações, o conhecimento acerca delas<br />

se dá mediante as suas falas. A pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> discurso direto pressupõe um tipo de <strong>texto</strong><br />

puro, sem o contato, por exemplo, com outros tipos de linguagem. Não é essa a situação<br />

observada em A Filha <strong>do</strong> Mar, <strong>melodrama</strong> seleciona<strong>do</strong> para exemplificar como as rubricas<br />

vinculam a dramaturgia <strong>ao</strong> acontecimento cênico. A peça, da autoria de Lucotte, foi<br />

disponibilizada pelo Grupo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa em T<strong>ea</strong>tro Brasileiro (GETEB) e sobre ela<br />

há poucas informações, fora sua classificação como <strong>melodrama</strong>. Nessa obra, além das falas,<br />

nota-se a reiteração de outros aspectos, como as rubricas explicativas, o uso de canções e a<br />

exploração de efeitos e elementos grandiosos, cuja utilização enfatiza o potencial <strong>espetacular</strong><br />

<strong>do</strong> drama.<br />

Esses traços podem ser observa<strong>do</strong>s em A filha <strong>do</strong> mar, segun<strong>do</strong> a constatação <strong>do</strong><br />

grande número de rubricas encontradas <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Nele, elas configuram-se como<br />

trechos apoia<strong>do</strong>s basicamente em recursos descritivos, de pouca extensão, que se intercalam<br />

entre as falas das personagens, dan<strong>do</strong> referências sobre inúmeros aspectos, como pode ser<br />

observa<strong>do</strong> nos exemplos retira<strong>do</strong>s da peça:<br />

Descrição de espaço - “Salão em casa da Condessa de Ispal, ricamente mobiliada.<br />

Portas laterais e <strong>ao</strong> fun<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> para outro salão, uma janela na D.A. deixan<strong>do</strong> ver o mar.<br />

Mesa, cadeira, etc...” (p. 23);<br />

Descrição de efeitos cênicos - “Forte explosão” (p. 62), “Tiro de canhão” (p. 39);<br />

Descrição de gestos e ações das personagens - “Cobre o rosto com as mãos. Koppen<br />

levanta o punhal. Toque de campainha, dentro. Koppen recua” (p. 24).


No que se refere <strong>ao</strong>s gestos e ações das personagens, repare-se que as rubricas<br />

desempenham papel essencial na explicitação <strong>do</strong> antagonismo entre os tipos, auxilian<strong>do</strong> na<br />

construção da lógica maniqueísta que sustenta a trama. Elas funcionam como identifica<strong>do</strong>ras<br />

de cada personagem, sublinhan<strong>do</strong> sua caracterização como boas ou más. Tal questão fica<br />

evidente no quadro abaixo, que opõem o conteú<strong>do</strong> das rubricas características à protagonista<br />

da peça (Luiza), modelo de virtude, e <strong>ao</strong> vilão (Koppen), modelo <strong>do</strong> mal, numa mesma cena:<br />

LUIZA KOPPEN<br />

Entra com a luz Está escondi<strong>do</strong><br />

Senta para ler a Bíblia Pragueja: “Com mil demônios!” (p. 23)<br />

Fala sobre a Condessa lhe querer mal,<br />

porém a relação não é recíproca, pelo<br />

contrário, a criada a admira.<br />

Fala de seu amor, contu<strong>do</strong>, reconhecen<strong>do</strong><br />

a importância da posição social, afirma a<br />

impossibilidade de sua paixão. Sua<br />

satisfação pessoal é deixada de la<strong>do</strong> em<br />

respeito à ordem social.<br />

Constata que Luiza lhe atrapalha e resolve<br />

eliminá-la, sem rodeios, frio e direto:<br />

“Antes matá-la <strong>do</strong> que perder esta<br />

ocasião!” (p. 23). Dá a impressão de que<br />

essa atitude faz parte de seu instinto.<br />

Afirma ser Luiza o obstáculo para o seu<br />

intento, e sem titub<strong>ea</strong>r, decide destruí-la:<br />

“...és o obstáculo que se coloca entre mim<br />

e a riqueza!... Pois bem. Hás de morrer!”<br />

(p. 24).<br />

Porta uma Bíblia e uma vela Está arma<strong>do</strong> com um punhal<br />

Figura 1<br />

A parir <strong>do</strong>s exemplos apresenta<strong>do</strong>s, evidencia-se a preocupação com a montagem<br />

cênica, espaço, efeitos grandiosos e personagens na composição <strong>do</strong> <strong>texto</strong> escrito. As rubricas,<br />

no <strong>melodrama</strong>, dão conta de inúmeros aspectos cuja efetividade explora o aparato sensível de<br />

um especta<strong>do</strong>r que, <strong>ao</strong> entrar em contato com a obra, entra em contato com os efeitos<br />

advin<strong>do</strong>s de sua percepção visual e sonora. Não são apenas simples indicações, perdidas <strong>ao</strong><br />

longo <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, mas sim apontamentos precisos, capazes de constituir um conjunto<br />

diretamente vincula<strong>do</strong> <strong>ao</strong> espetáculo.


Para saber se há convergências entre a escrita <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong>, cuja dramaturgia foi<br />

categorizada como <strong>texto</strong> <strong>espetacular</strong>, e a composição de um <strong>romance</strong> romântico da literatura<br />

brasileira, o que caracterizaria o recurso <strong>ao</strong> hiper<strong>texto</strong>, busca-se apoio na estrutura das<br />

rubricas, encontradas <strong>ao</strong> longo de A filha <strong>do</strong> mar, visan<strong>do</strong>, se possível, estabelecer<br />

correspondências em outra obra, narrativa. Será esse, portanto, o procedimento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> a<br />

seguir e, para a r<strong>ea</strong>lização dessa proposta, será utiliza<strong>do</strong> o <strong>romance</strong> A escrava Isaura, de<br />

Bernar<strong>do</strong> Guimarães <strong>–</strong> narrativa pertencente <strong>ao</strong> perío<strong>do</strong> visa<strong>do</strong>, cujo enre<strong>do</strong> apoia-se num<br />

conflito maniqueísta, assim como no <strong>melodrama</strong>, funcionan<strong>do</strong> através da perseguição<br />

desencad<strong>ea</strong>da pelas ações de um vilão (Leôncio), sen<strong>do</strong> a inocente perseguida a protagonista<br />

Isaura (da mesma forma que se instaura o conflito no <strong>melodrama</strong> aborda<strong>do</strong> <strong>–</strong> a ação se<br />

desenrola pela perseguição que o vilão exerce sobre a protagonista).<br />

O tema da perseguição, encontra<strong>do</strong> tanto na obra dramática como na obra narrativa é<br />

um ponto de convergência entre os <strong>texto</strong>s, contu<strong>do</strong>, busca-se investigar se há<br />

correspondências marcadas na própria tessitura textual, segun<strong>do</strong> a noção de hiper<strong>texto</strong>, e, para<br />

tanto, o principal parâmetro vincula-se <strong>ao</strong> uso das rubricas. Como foi esclareci<strong>do</strong>, as rubricas<br />

apresentam-se como trechos basicamente descritivos (descrevem espaço, efeitos, gestos...),<br />

intercalan<strong>do</strong>-se entre os diálogos como indicações precisas e não muito extensas, afinal,<br />

trechos extensos vincula<strong>do</strong>s a descrição e <strong>ao</strong> desempenho de funções associadas <strong>ao</strong> narra<strong>do</strong>r,<br />

de acor<strong>do</strong> com o exposto anteriormente, geralmente são associa<strong>do</strong>s a obras narrativas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, repara-se, no <strong>romance</strong> seleciona<strong>do</strong>, a reiteração de trechos constituí<strong>do</strong>s<br />

em semelhança com a estruturação das rubricas, exposta anteriormente. Nota-se a ocorrência<br />

dessas indicações precisas e não muito extensas em meio a parágrafos em que o discurso<br />

direto pre<strong>do</strong>mina dentro da obra, de acor<strong>do</strong> com os exemplos a serem apresenta<strong>do</strong>s.<br />

Inicialmente, a cena em que, pela primeira vez, o diálogo entre personagens configura-se na<br />

narrativa (com as personagens Malvina e Isaura). Ela faz parte <strong>do</strong> primeiro capítulo, cuja<br />

composição é finalizada por um diálogo extenso, por isso, foram selecionadas algumas partes<br />

para serem reproduzidas a seguir:<br />

- Isaura!... disse ela pousan<strong>do</strong> de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da<br />

cantora.<br />

- Ah! É a senhora?! <strong>–</strong> respondeu Isaura voltan<strong>do</strong>-se sobressaltada. <strong>–</strong> Não sabia,<br />

que estava aí me escutan<strong>do</strong> (...)<br />

- (...) Oh! não; não cabe em tua boca essa cantiga lastimosa, que tanto gostas de<br />

cantar. <strong>–</strong> Não quero, - continuou em tom de branda repreensão, - não quero que a<br />

cantes mais, ouviste, Isaura?... (...)<br />

- Per<strong>do</strong>e-me, sinhá Malvina; - replicou a escrava com um cândi<strong>do</strong> sorriso (...)<br />

(grifos meus, GUIMARÃES, 1975, p. 12-13).


Nota-se, no acima exposto, como os trechos descritivos vinculam-se a indicações de<br />

gestos capazes de caracterizar as personagens (uma “mão delicada”, que é “pousada de leve”,<br />

ou então, um “sorriso cândi<strong>do</strong>”). Além disso, elas expõem não só ações, mas também como<br />

elas devem ser r<strong>ea</strong>lizadas: a fala, que se dá em “tom de branda repreensão”, ou o corpo que se<br />

volta em sobressalto. Tem-se a impressão de que se trata de indicações que, assim como as<br />

rubricas no <strong>melodrama</strong>, almejam não uma simples descrição, mas a criação de um vínculo<br />

com um acontecimento <strong>–</strong> o diálogo apela para a oralidade, a caracterização <strong>do</strong>s gestos e <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>do</strong>s de fazê-los, implica r<strong>ea</strong>lização de ações.<br />

Outro exemplo, que aproxima A escrava Isaura de A filha <strong>do</strong> mar, em relação à<br />

estruturação de um <strong>texto</strong> apoia<strong>do</strong> no recurso às rubricas, pode ser encontra<strong>do</strong> em cenas entre a<br />

protagonista Isaura e o vilão Leôncio. Observa-se:<br />

- Isaura, - disse Leôncio, continuan<strong>do</strong> o diálogo que deixamos apenas enceta<strong>do</strong>, -<br />

fica saben<strong>do</strong> que agora a tua sorte está inteiramente entre as minhas mãos.<br />

- Sempre esteve, senhor, - respondeu humildemente Isaura (...)<br />

- Cala-te, escrava insolente! <strong>–</strong> bra<strong>do</strong>u cheio de cólera. <strong>–</strong> Que eu suporte sem irritarme<br />

os teus desdéns e repulsas, ainda vá: mas repreensões!... com quem pensas tu que<br />

falas?...<br />

- Perdão! senhor!... exclamou Isaura aterrada e arrependida das palavras que<br />

lhe tinham escapa<strong>do</strong> (...)<br />

- Oh! <strong>–</strong> exclamou Leôncio com satânico sorriso, - já chegastes a tão subi<strong>do</strong> grau de<br />

exaltação e romantismo!... (...)<br />

- Ah! meu senhor, por piedade! <strong>–</strong> exclamou Isaura, cain<strong>do</strong> de joelhos <strong>ao</strong>s pés de<br />

Leôncio, e levantan<strong>do</strong> as mãos <strong>ao</strong> céu em contorções de angústia (...) (grifos<br />

meus, GUIMARÃES, 1975, p. 51 <strong>–</strong> 53).<br />

Novamente uma passagem composta por um diálogo extenso, que ocupa mais de duas<br />

páginas no capítulo, em que se encontram trechos descritivos semelhantes às rubricas. Aqui,<br />

destaca-se, como na cena entre Luiza e Koppen, a identificação de cada personagem de<br />

acor<strong>do</strong> com um embate antagônico <strong>–</strong> um é mau (brada “cheio de cólera” <strong>–</strong> ato violento,<br />

perigoso, e possui “satânico sorriso”) e a outra é a inocente, virtuosa e atemorizada (suas<br />

respostas são humildes, <strong>ao</strong> mesmo tempo que se encontra “aterrada”, subjugada <strong>–</strong> “cain<strong>do</strong> de<br />

joelhos <strong>ao</strong>s pés de Leôncio”, sen<strong>do</strong> que, nos momentos de angústia, vincula-se <strong>ao</strong>s céus <strong>–</strong><br />

“levantan<strong>do</strong> as mãos <strong>ao</strong> céu” <strong>–</strong> gesto icônico, carrega<strong>do</strong> de senti<strong>do</strong>s não apenas explora<strong>do</strong>s na<br />

literatura ou no t<strong>ea</strong>tro, mas que também possuem um peso imagético, que pode ser vincula<strong>do</strong><br />

tanto a gestos de súplica como de redenção ou de benção, como é possível perceber em<br />

pinturas vinculadas à religião católica, por exemplo).<br />

As passagens citadas, utilizadas como exemplos, não são únicas no <strong>romance</strong> aborda<strong>do</strong><br />

<strong>–</strong> diálogos extensos, perm<strong>ea</strong><strong>do</strong>s por indicações semelhantes às rubricas, de acor<strong>do</strong> com o<br />

esclareci<strong>do</strong> anteriormente, são recorrentes em toda a obra. Repara-se que esses trechos se<br />

infiltram em meio <strong>ao</strong> discurso direto com tal naturalidade que, muitas vezes, como é possível


observar nos trechos cita<strong>do</strong>s, nem <strong>ao</strong> menos há marcas gráficas (hífen, travessão...) que os<br />

separem das falas. Além disso, percebe-se, já nos exemplos apresenta<strong>do</strong>s, que há ainda outras<br />

convergências, como a exploração da emoção e <strong>do</strong> exagero na escritura (nota-se o uso das<br />

interjeições e <strong>do</strong> excesso de pontuação) <strong>–</strong> o que também é próprio <strong>do</strong> <strong>texto</strong> melodramático.<br />

Destaca-se assim, a aproximação entre hipo e hiper<strong>texto</strong>, não só por semelhança de<br />

temática, enre<strong>do</strong> ou mesmo tipificação de personagens, ligadas a uma lógica maniqueísta,<br />

(não é difícil classificar Leôncio como vilão e Isaura como mocinha, por exemplo). A questão<br />

ultrapassa a história em si e infiltra-se na estruturação da narrativa, perm<strong>ea</strong>n<strong>do</strong> sua tessitura<br />

com a exploração de recursos característicos de um tipo de <strong>texto</strong> classifica<strong>do</strong> como<br />

dramaturgia feita especificamente para ser encenada e não lida <strong>–</strong> o <strong>texto</strong> <strong>espetacular</strong>.<br />

Sabe-se que a arte t<strong>ea</strong>tral é caracterizada pela exploração de várias linguagens em sua<br />

composição, efetivan<strong>do</strong>-se tanto pelas vias <strong>do</strong> sonoro como pelas vias <strong>do</strong> visual. Quan<strong>do</strong> a<br />

dramaturgia que a sustenta é vista como <strong>texto</strong> <strong>espetacular</strong>, entende-se que o seu <strong>texto</strong> escrito<br />

está vincula<strong>do</strong> às circunstâncias de enunciação e de fruição <strong>do</strong> espetáculo cênico, fator capaz<br />

de enriquecer seu arcabouço literário <strong>ao</strong> abrir campos de possibilidades significativas através<br />

da relação entre literatura e t<strong>ea</strong>tro.<br />

Esse processo caracteriza um tipo de dramaturgia vinculada não <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> da leitura<br />

com exclusividade, mas antes relacionada a um tipo de recepção que almeja um público<br />

presente fisicamente, fato que proporciona a efetivação das possibilidades semânticas<br />

sugeridas pelas rubricas na obra. Não estar habitua<strong>do</strong> à leitura, porém se encontrar vincula<strong>do</strong><br />

à recepção de obras por outras vias, são aspectos relaciona<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> público brasileiro por<br />

teóricos como Antonio Candi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> menciona a “tradição de auditório” que acompanha a<br />

literatura nacional.<br />

Afirma o teórico que já no início <strong>do</strong> século XIX “esboçaram-se no Brasil condições<br />

para definir tanto o público quanto o papel social <strong>do</strong> escritor em conexão estreita com o<br />

nacionalismo” (CANDIDO, 1973, p. 80). Esse público é caracteriza<strong>do</strong> pelo autor como:<br />

uma sociedade de iletra<strong>do</strong>s, analfabetos ou pouco afeitos à leitura que, dispensan<strong>do</strong><br />

o intermédio da página impressa, estabeleceu-se como um público de auditores [...]<br />

requeren<strong>do</strong> no escritor certas características de facilidade e ênfase, certo ritmo<br />

oratório que passou a timbre de boa literatura e prejudicou entre nós a formação dum<br />

estilo r<strong>ea</strong>lmente escrito para ser li<strong>do</strong> [...] Esta tendência recebeu incremento <strong>do</strong><br />

nacionalismo, propenso a assumir o tom verbal e mesmo verboso, que desperta a<br />

emoção (Ibid., p. 81).<br />

Se o <strong>melodrama</strong> contribuiu para o condicionamento desse tipo de recepção para as<br />

obras brasileiras, é assunto que demanda o aprofundamento da reflexão. Contu<strong>do</strong>, pode-se<br />

observar que sua estrutura dramática prevê um público despreocupa<strong>do</strong> com a erudição e que


suas estratégias ecoaram em uma obra nacional (cuja repercussão ultrapassou seu tempo <strong>–</strong><br />

sen<strong>do</strong> o <strong>romance</strong> adapta<strong>do</strong> posteriormente para a linguagem da telenovela) pertencente <strong>ao</strong><br />

perío<strong>do</strong> romântico, numa época essencial para a formação da literatura brasileira.<br />

Nesse con<strong>texto</strong>, percebe-se a configuração da cultura nacional, marcada pelo conflito<br />

entre o gosto popular e o intuito de composição de <strong>texto</strong>s cuja qualidade estética pudesse<br />

validar a arte <strong>do</strong> país perante padrões internacionais. Contu<strong>do</strong>, observa-se que conflitos <strong>do</strong><br />

tipo popular x erudito vão além de nossas fronteiras. Os séculos XVIII e XIX na verdade, são<br />

marca<strong>do</strong>s por mudanças de padrões econômicos, sociais e culturais, fato que repercutiu no<br />

campo artístico.<br />

Sobre tal questão escreve Hauser (1994) apontan<strong>do</strong> para um processo de nivelamento<br />

cultural através <strong>do</strong> surgimento de um novo e regular público leitor, compra<strong>do</strong>r de livros, fato<br />

que assegurou a muitos escritores o sustento livre de obrigações pessoais. Esse novo público<br />

devia sua existência primeiramente à crescente importância da burguesia abastada, cuja<br />

situação refletiu no movimento romântico que:<br />

em geral, com sua ênfase burguesa nos sentimentos, nada mais é <strong>do</strong> que o produto<br />

da rivalidade intelectual e um instrumento na luta contra a visão de mun<strong>do</strong><br />

classicista da aristocracia, com sua tendência para o normativo e o universalmente<br />

váli<strong>do</strong> (...) A burguesia tornou-se tão próspera e influente que pode permitir-se uma<br />

literatura própria, tenta impor por sua própria individualidade, em oposição a essas<br />

classes superiores, e falar sua própria linguagem que se converte em uma linguagem<br />

<strong>do</strong> sentimentalismo. A revolta das emoções contra a frieza <strong>do</strong> intelecto (HAUSER,<br />

1994, p. 550).<br />

O modelo clássico, pensa<strong>do</strong> no âmbito social, enfatizava a relação entre arte e vida<br />

social. A arte era erudita <strong>–</strong> pressupunha uma educação formal que fornecesse os parâmetros<br />

de suas regras. O padrão <strong>do</strong> herói trágico, honra<strong>do</strong> e digno, era exalta<strong>do</strong>. Tal perspectiva<br />

cedeu lugar à expressão das emoções singulares, <strong>ao</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sentimento e o herói, que<br />

passou a sofrer por paixão, deixou de ser modelar para ser exemplar.<br />

A linguagem utilizada adaptou-se <strong>ao</strong> público leitor <strong>–</strong> não se endereçava mais somente<br />

<strong>ao</strong>s escolariza<strong>do</strong>s, era para o entendimento geral das massas. A preocupação com o indivíduo<br />

era maior <strong>do</strong> que a preocupação com a norma. Antes, o princípio da reflexão sobre a vida e a<br />

essência <strong>do</strong> humano, o exercício intelectual, que <strong>ao</strong>s poucos passou a ser substituí<strong>do</strong> pelo<br />

pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sentimento, pelo efeito <strong>do</strong> imediato que ainda hoje é forte na cultura ocidental.<br />

Com essas afirmações não se pretende gerar julgamentos valorativos, o intuito está<br />

antes no estímulo de um movimento que busca compreender <strong>ao</strong> invés de valorar. Pressupõe-se<br />

que tal cuida<strong>do</strong> é essencial quan<strong>do</strong> se compara linguagens diferentes e também quan<strong>do</strong> se<br />

busca lançar um olhar sobre aspectos históricos, constituintes de uma tradição que, de uma<br />

forma ou de outra, marcou a construção de elementos próprios da nossa cultura.


Nesse senti<strong>do</strong>, a consideração de relações hipertextuais apresenta-se como opção<br />

válida para ampliar percepções à medida que possibilita um aumento na legibilidade <strong>do</strong>s<br />

<strong>texto</strong>s, <strong>ao</strong> serem traçadas as matrizes que eles recuperam para consumo próprio. Por essa<br />

linha, ultrapassa-se a ideia de simples reprodução, seja de modelos ou mesmo de elementos<br />

característicos, em favor da percepção da atitude crítica a<strong>do</strong>tada por uma obra em relação à<br />

outra.<br />

No caso <strong>do</strong>s <strong>texto</strong>s seleciona<strong>do</strong>s, verifica-se a utilização da rubrica como recurso<br />

textual capaz de enfatizar relações entre linguagens diversificadas. No <strong>texto</strong> dramatúrgico, ela<br />

revela-se como principal indício para uma categorização que reformula a maneira como se<br />

pode considerar o <strong>texto</strong> das peças melodramáticas <strong>–</strong> seu ponto forte não se dirige a aspectos<br />

próprios de uma análise literária, mas antes está volta<strong>do</strong> para a exploração de possibilidades<br />

que vão se concretizar no acontecimento cênico. No <strong>texto</strong> narrativo, percebe-se a<br />

aproximação com a utilização desse tipo de recurso, volta<strong>do</strong> para fins propícios <strong>ao</strong> t<strong>ea</strong>tro, o<br />

que gera tensão.<br />

Essa tensão coloca-se como fator positivo à medida que preconiza uma abertura de<br />

parâmetros para se pensar a obra: pode-se dizer que, muito mais <strong>do</strong> que explorar o valor de<br />

contar uma história, há o trabalho com o poder de expressão, próprio <strong>do</strong> objeto artístico. Ao<br />

vincular-se com linguagens que extrapolam a língua escrita, o <strong>texto</strong> sugere uma operação que<br />

preconiza o movimento que sai de um artefato literalmente estático, o livro, a página, e se<br />

dirige a um acontecimento sonoro-visual dinâmico.<br />

Para tanto, usam-se dispositivos verbais, liga<strong>do</strong>s em grande parte a formulações<br />

descritivas, que estimulam, no leitor, a atenção a outros componentes da escrita, não apenas às<br />

palavras em si. Tal procedimento evidencia a natureza subversiva da descrição, destacan<strong>do</strong> o<br />

uso da língua não como simples nomenclatura <strong>do</strong> r<strong>ea</strong>l, mas ciente da sua potencialidade<br />

estética, no que possui de abertura à imaginação.<br />

Percebe-se que a concepção <strong>do</strong> <strong>texto</strong> <strong>espetacular</strong>, como hipo<strong>texto</strong>, encontra ecos de<br />

sua estrutura em outra obra, hiper<strong>texto</strong>, o que implica considerar mudanças na forma de<br />

apresentação de uma história:<br />

cada forma envolve um mo<strong>do</strong> de engajamento distinto por parte <strong>do</strong> público (...) uma<br />

história mostrada não é o mesmo que uma história contada, e nenhuma delas é o<br />

mesmo que uma história da qual você participa ou com a qual você interage, ou seja,<br />

uma história vivenciada direta ou cinestesicamente (...) contar uma história, como<br />

em <strong>romance</strong>s, contos e até mesmo em relatos históricos, é descrever, explicar,<br />

resumir, expandir; o narra<strong>do</strong>r tem um ponto de vista e grande poder para viajar pelo<br />

tempo e espaço, e às vezes até mesmo para se aventurar dentro das mentes <strong>do</strong>s<br />

personagens. Mostrar uma história, como em filmes, balés, peças de rádio e t<strong>ea</strong>tro,<br />

musicais e óperas, envolve uma performance direta, auditiva e geralmente visual,<br />

experienciada em tempo r<strong>ea</strong>l (HUTCHEON, 2011, p. 35).


Observa-se que o <strong>melodrama</strong> procura se aproximar dessa exposição, ligada a uma<br />

performance que presentifica a história. Também o <strong>romance</strong> aborda<strong>do</strong> aparenta possuir o<br />

intento de aproximar-se desse procedimento de presentificação, cujo processo parece<br />

favorecer a diminuição da distância entre obra e leitor. Favorecen<strong>do</strong> a construção desse tipo<br />

de vínculo, ambas as obras poderiam estimular processos capazes de aproximar o público<br />

(leitor ou especta<strong>do</strong>r) da experiência que é relatada na ficção o que, provavelmente, contribui<br />

para a concretização de uma função didática nas obras, consolidadas através de personagens e<br />

episódios que assumem a função de demonstrar padrões de valores certos e erra<strong>do</strong>s, váli<strong>do</strong>s<br />

para a vida em sociedade.<br />

Tal esquema trabalha com o conflito entre o bem e o mal oferecen<strong>do</strong> imagens simples<br />

de valores. Com isso, proporciona matrizes aparentemente sólidas de avaliação da experiência<br />

num universo tremendamente instável, o mun<strong>do</strong> moderno, marca<strong>do</strong> por mudanças que<br />

envolveram a economia, o poder político, sem autoridades absolutas, e a falta de rigor<br />

normativo no campo estético (XAVIER, 2003).<br />

Ao oferecer essas matrizes, o <strong>melodrama</strong> é capaz de formalizar um imaginário que<br />

busca dar corpo à moral, torná-la visível e audível. Para estabelecer esses padrões, muito mais<br />

<strong>do</strong> que o <strong>texto</strong> escrito, o <strong>melodrama</strong> usa o <strong>texto</strong> de seu espetáculo, estimulan<strong>do</strong> uma<br />

legibilidade que se dá por uma combinação visual e sonora <strong>–</strong> meio capaz de despertar a via <strong>do</strong><br />

afetivo, atingin<strong>do</strong> o especta<strong>do</strong>r e conquistan<strong>do</strong> sua credulidade pela via da emoção.<br />

A clareza na performance das personagens é essencial (as rubricas não promovem<br />

divergências, antes acentuam essa percepção): <strong>ao</strong> dizer tu<strong>do</strong>, fixam nitidamente um esquema<br />

moral <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com modelos claros. A ênfase nos gestos e expressões acentua a visibilidade<br />

da cena e a condição das personagens ganha corpo, torna-se r<strong>ea</strong>l, pelo desempenho cênico.<br />

Percebe-se o valor da exibição para a concretização da ficção perante o público.<br />

Tal composição encaixa-se no con<strong>texto</strong> brasileiro <strong>do</strong> século XIX e a ele serve,<br />

fornecen<strong>do</strong> padrões de condutas. Contu<strong>do</strong>, muito além disso, repara-se que as peculiaridades<br />

provindas <strong>do</strong> <strong>melodrama</strong>, que acabaram por influenciar na escritura de outras obras, não se<br />

associam apenas <strong>ao</strong> incentivo de regularizações morais, mas antes oferecem um mun<strong>do</strong> de<br />

possibilidades imagéticas e sensíveis, com sua ênfase em composições cênicas grandiosas,<br />

rech<strong>ea</strong>das de tramas cujas reviravoltas exploram emoções variadas de forma intensa.<br />

Dentro dessa perspectiva, sublinha-se a relação entre <strong>texto</strong>s, o que não significa que<br />

eles não sejam autônomos <strong>–</strong> cada obra possui “sua própria presença no tempo e no espaço,<br />

uma existência única no local onde ocorre” (BENJAMIN apud HUTCHEON, 2011). Admitir


essa singularidade em convivência com a validade das relações entre objetos artísticos é<br />

motivo para provocações, impulsionan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s e afirman<strong>do</strong> deslocamentos que não<br />

permitem estagnação. Espera-se que tal trabalho possa contribuir com tal movimento, ciente<br />

de que a proposta apresentada também não fecha portas por aqui, mas antes aceita sua busca<br />

sem fim.<br />

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