HOMEOPATIA
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Dr. Celso Fernandes Batello<br />
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PREFÁCIO<br />
Quando o Dr. Celso Fernandes Batello me pediu<br />
para fazer o prefácio de seu livro “Homeopatia x Alopatia?” fiquei<br />
muito satisfeito. Sei bem que um prefácio se destina a falar do<br />
livro em si, no entanto prefiro começar tecendo considerações<br />
sobre o autor. Conheço-o desde antes de cursar medicina Na<br />
Fundação ABC, onde fui seu professor. Depois disso, conheci-o<br />
melhor quando fez sua formação em anestesiologia clínica no<br />
hospital São Caetano, onde dirijo o serviço e a residência na área.<br />
O fato de o Dr. Batello convidar um não-homeopata para prefaciar<br />
seu livro dá uma dimensão daquilo que ele deseja alcançar.<br />
Sou alopata por formação e ele também o é;<br />
recebeu de nós alguns dos princípios que o norteiam até hoje:<br />
“Esteja você onde estiver, apenas está começando”, “Primum non<br />
nocere”, A percepção é finita, mas o conhecimento humano é<br />
infinito, e “Muita atenção em todos os atos médicos”. De maneira<br />
jocosa e agradável ele resumia tudo isso com a expressão: “Olho<br />
de lince em todos os procedimentos”.<br />
Durante a sua residência, por dois anos,<br />
verificamos que a sua capacidade de trabalho era muito grande,<br />
destacando-se por sua habilidade psicomotora, organização,<br />
pontualidade, cortesia, aparência, relacionamento com colegas,<br />
enfermeiras e superiores. Além disso, se destacava pela sua<br />
inteligência privilegiada, pelo interesse pelos conhecimentos<br />
adquiridos, cultura geral médica e, como virtude maior de todas,<br />
“carinho, dedicação e visão de cada paciente como um todo<br />
material, emocional e espiritual”. Era um questionador inato de<br />
tudo e sempre queria saber os “porquês” da etiopatogenia das<br />
doenças, não aceitando facilmente o convencional.<br />
Com esse espírito fez sua formação médica,<br />
exerceu a especialidade alopática por alguns anos e a seguir se<br />
dedicou à Homeopatia. Por definição, as duas agem sobre as<br />
doenças por um método diferente, mas ele sempre viu o homem<br />
de uma forma holística, usando a empatia e a intuição como<br />
fatores básicos para um entendimento das doenças,<br />
2<br />
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independentemente do método aplicado. Em suas mãos, Alopatia<br />
e Homeopatia nunca serão divergentes e incompatíveis: a<br />
finalidade primordial é a cura do homem.<br />
Este livro define bem o que realmente são<br />
Homeopatia e a Alopatia, e aborda outras técnicas terapêuticas<br />
não muito claras a uma parte da população médica. Além disso,<br />
mostra que a Medicina é uma só. Para comprovar esse fato, parte<br />
da própria história da Medicina, procurando conceituar as bases<br />
fisiológicas da Homeopatia. Assim busca fundamentos para<br />
responder as questões controvertidas até mesmo entre os<br />
próprios homeopatas: por que a Homeopatia considera a febre<br />
como uma reação favorável do organismo; por que, segundo<br />
Maffei, o fenômeno da alergia é a base para o entendimento de<br />
toda a Medicina? Procurando estabelecer uma relação entre<br />
Psora e Alergia, traz uma luz a essa controvérsia, utilizando-se da<br />
imunologia para explicar o tema. O resultado desses estudos foi<br />
apresentado no Congresso Médico Pan–Americano de<br />
Homeopatia e foi aceito para apresentação e publicação nos<br />
Anais do XXII Congresso Brasileiro de Homeopatia.<br />
No capítulo Acupuntura chama a atenção para o<br />
fato de que a Homeopatia deve procurar conhecer bem essa<br />
técnica para evitar eventuais incompatibilidades entre Homeopatia<br />
e Acupuntura. Aborda, também, o uso dos Florais de Bach, que<br />
parecem ter uma ação sobre o organismo e, que, no entanto são<br />
usados indiscriminadamente, podendo, eventualmente, inverter os<br />
processos de cura do indivíduo.<br />
Ao mesmo tempo em que tece elogios, critica os<br />
excessos que existem não na Medicina em si, mas na sua prática.<br />
Quando faz alusão às oposições fundamentais<br />
entre as duas, esclarece tanto um quanto a outra, de maneira a<br />
melhor colocar o médico diante do indivíduo enfermo.<br />
Como isso não é comumente ensinado nas<br />
faculdades, e em livro, tem o mérito de posicionar os profissionais<br />
de saúde sobre o que é realmente o bem maior do ser humano<br />
que é a saúde e agir sobre ela.<br />
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Dr.DeoclecioTonelli<br />
Chefe do Serviço de Anestesia do<br />
Hospital São Caetano e Responsável<br />
pelo Centro de Ensino e Treinamento<br />
de Anestesia ABC-HSC-SBA<br />
Prefácio 2 a . Edição<br />
“O grande defeito dos educadores, é jamais<br />
se recordarem que também já foram crianças”.<br />
Jacques de Lacretelle<br />
Sempre nutri uma admiração as pessoas que<br />
buscam a simplicidade na fala e escrita,<br />
especialmente num mundo, onde o “saber” é<br />
maquiado pelo marketing do intelectualismo<br />
presunçoso: mostrar ou aparentar que se sabe<br />
sobrepuja o conhecimento.<br />
Vejo como nobre aquele que busca facilitar<br />
o ensino e assim descomplicar as ciências – passando<br />
verdades acadêmicas de maneira prática e<br />
compreensível.<br />
Isto de fato é ser sábio.<br />
4<br />
4
O caráter do autor deste livro pode ser<br />
admirado, através destas páginas – pois seu estilo<br />
sincero é também encontrado na didática de sua<br />
redação dos conhecimentos doutrinários e científicos<br />
desta centenária Medicina.<br />
Por isso tudo, parabenizo o Dr. Celso<br />
Batello e recomendo este trabalho.<br />
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5<br />
Carlos Brunini
Dedico este livro a todos aqueles que foram ou são meus<br />
mestres, principalmente aos meus pacientes, com os quais muito<br />
aprendi, sobretudo da vida em si, principalmente àqueles que por<br />
um motivo ou por outro não pude, em determinado momento, dar<br />
o melhor de mim mesmo...<br />
A Caio Márcio e Marcella Helena, meus filhos.<br />
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AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço a Roseclair Freire Loula Campoi por ter orientado<br />
e organizado este livro.<br />
Agradeço ao Dr. Deoclécio Tonelli por ter me incutido, nos<br />
meus primeiros anos de formado, a responsabilidade e o respeito<br />
médico perante ao paciente e à Medicina.<br />
Agradeço a GAIA por ter me aceito no seu seio.<br />
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SUMÁRIO<br />
Prólogo 9<br />
Introdução 11<br />
I – Homeopatia e Holismo 13<br />
II – Homeopatia x Alopatia? 18<br />
III - Isto é correto? É científico? 20<br />
IV – Histórico da Medicina 26<br />
V – Sumário da História da Homeopatia no Brasil 30<br />
VI – Todo Inovador é Perseguido 31<br />
VII – Hahnemann, Pai da Homeopatia 34<br />
VIII – Algumas considerações etimológicas 36<br />
IX – Procedência dos medicamentos homeopáticos 39<br />
X – Diluições homeopáticas 40<br />
XI – O medicamento experimentado pelo homem são 42<br />
XII – Os níveis do tratamento homeopático 44<br />
XIII – Uma doença mais forte acaba com uma doença<br />
mais fraca 46<br />
XIV – Órgão débil ou “locus minoris restistentiae” 48<br />
XV – A febre – Uma reação favorável 51<br />
XVI – As diversas linhas do tratamento homeopático 56<br />
XVII – Lei de Cura – Lei de Hering 58<br />
XVIII – Medicamentos complementares 60<br />
XIX – Conceito falso: A homeopatia não é lenta 61<br />
XX – Princípios do tratamento homeopático 61<br />
XXI – A Homeopatia pode ser usada preventivamente? 62<br />
XXII – A homeopatia cura tudo? 63<br />
XXIII – Homeopatia: a importância de observar-se a si próprio 64<br />
XXIV – A alimentação correta ajuda no tratamento<br />
homeopático? 65<br />
XXV - Os canais de eliminação de toxinas 66<br />
XXVI – A segunda prescrição 67<br />
XXVII – A inércia dos homeopatas 68<br />
XXVIII – Os sintomas psíquicos 69<br />
XXIX – Medicina Agressiva 70<br />
XXX – Os diagnósticos em Homeopatia 73<br />
XXXI – Falsos homeopatas 74<br />
XXXII – Nosódios 76<br />
8<br />
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XXXIII – Homeopatia x Acupuntura 78<br />
XXXIV – Miasmas 81<br />
XXXV – Deve-se examinar o paciente? 120<br />
XXXVI – O medicamento homeopático 122<br />
XXXVII – O repertório 128<br />
XXXVIII – Oposições fundamentais entre a<br />
Homeopatia e a Alopatia 130<br />
XXXIX – Os florais de Bach 131<br />
XL – ABC da Homeopatia 134<br />
XLI – Conclusão 135<br />
Referências Bibliográficas 137<br />
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PRÓLOGO<br />
Este livro visa prestar informações aos médicos<br />
e estudantes de Medicina que não tiveram uma formação sobre a<br />
Homeopatia.<br />
Apesar do seu conteúdo elementar, esta obra<br />
pode ser de alguma utilidade para aqueles que estão iniciando<br />
seus passos na ciência legada por Samuel Hahnemann, pai da<br />
Homeopatia, porque ela oferece uma visão global e, ao mesmo<br />
tempo, pormenorizada deste assunto palpitante, uma vez que<br />
Hahnemann teve o mérito de ser um dos precursores da Medicina<br />
Psicossomática e da Ciência Experimental antes mesmo de<br />
Claude Bernard, além de fazer toda uma síntese do curar pelo<br />
semelhante, como veremos no decorrer do livro, complementou<br />
os ensinamentos legados por Hipócrates, contribuindo em muito<br />
para o entendimento do ser humano como sendo um ser único,<br />
global e individualizado.<br />
É um livro que analisa alguns pontos de<br />
divergência cruciais, tais como vacinações, casos graves etc.,<br />
porém sem cunho de confronto, somente com finalidade de<br />
aprendizagem, porque, segundo Hahnemann, “em se tratando de<br />
saúde, deixar de aprender é crime” e, principalmente, porque a<br />
Medicina é uma só, o que difere é tão – somente os métodos<br />
terapêuticos.<br />
As divergências existem, e são salutares, até<br />
mesmo entre os integrantes de uma mesma especialidade, entre<br />
escolas diferentes, o que dirá entre as demais “medicinas” que<br />
existem no mundo inteiro. Que fiquem, porém, somente no campo<br />
das idéias, para redundar em benefício do saber humano e,<br />
conseqüentemente, dos pacientes, finalidade maior, senão única,<br />
da Medicina.<br />
Dentro desta idéia de que a Medicina é uma só<br />
deve-se estar atento e com mente aberta e receptiva para os<br />
pontos de convergência das mais diferentes abordagens<br />
10<br />
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existentes, uma vez que criticar sem conhecer não é nada<br />
científico.<br />
Como se diz em política, referindo-se ao nosso<br />
sistema de saúde, a doença não é federal, estadual ou municipal!<br />
O mesmo raciocínio vale para as diferentes<br />
escolas existentes, ou seja, o doente não pertence a nenhuma<br />
delas, o que ele quer é tão-somente sarar, não importa como.<br />
11<br />
11
INTRODUÇÃO<br />
Nunca saíram da minha memória as palavras do<br />
meu professor de Psiquiatria, Dr. Paulo Fraletti: “Para ser um bom<br />
médico é preciso ter duas faculdades: a Empatia e a Intuição”.<br />
A empatia é a capacidade de sentir ou avaliar o<br />
sofrimento e a dor pelas quais o paciente esteja passando.<br />
A intuição, para poder perceber no paciente, o<br />
que deve ser tratado e escolher o método de tratamento correto.<br />
No meu entender se o ser humano se utilizasse<br />
mais destas faculdades, inevitavelmente o mundo seria melhor.<br />
Este livro tem como objetivo despertar nos<br />
profissionais de saúde a intuição e a empatia, para uso da<br />
Homeopatia, como sendo um dos poucos métodos terapêuticos<br />
que trata o indivíduo holisticamente, isto é, como um todo, física,<br />
mental e psiquicamente, proporcionando-lhe um tratamento mais<br />
pessoal e humano.<br />
Sabemos que, geneticamente, a saúde é<br />
dominante sobre a doença.<br />
Sabemos ainda, que a Homeopatia pode<br />
melhorar a nossa saúde, porque segundo o conhecimento<br />
supracitado nascemos para sermos saudáveis.<br />
E por que não sê-lo?<br />
A Homeopatia, esta “jovem” ciência emergente,<br />
está ai para nos ajudar a sermos mais felizes conosco mesmos e<br />
com aqueles que nos cercam, através de um método terapêutico<br />
que olha o ser humano de uma forma holística, global e não<br />
fragmentada, como se o homem pudesse ser tratado,<br />
grosseiramente falando, como se fosse apenas uma “unha<br />
encravada”, por exemplo.<br />
12<br />
12
Tanto a Alopatia como a Homeopatia têm as<br />
suas indicações precisas.<br />
Elas não são absolutamente incompatíveis entre<br />
si (tudo depende da indicação).<br />
13<br />
13
.<br />
<strong>HOMEOPATIA</strong> E HOLISMO<br />
Existe muita confusão sobre o que seja<br />
realmente a Homeopatia, entre a população, até por interesse dos<br />
grandes laboratórios farmacêuticos, que estão presenciando com<br />
grande preocupação a explosão da ciência legada por Samuel<br />
Hahnemann, o pai da Homeopatia. Estão preocupados a ponto de<br />
haver rumores de que irão fazer uma investida no sentido de<br />
aumentar esta confusão entre as pessoas e até entre os próprios<br />
médicos, que na sua maioria não conhecem o que seja<br />
Homeopatia, não por sua própria culpa, mas sim do sistema, que<br />
dificulta o ensino desta especialidade nas Escolas Médicas, e<br />
talvez mesmo por nosso erro, por sermos omissos em relação à<br />
divulgação desta arte de curar.<br />
A confusão é tão grande que os estudantes de<br />
Medicina, na sua maioria, não sabem as diferenças entre Alopatia<br />
e Homeopatia.<br />
Etimologicamente, Alopatia (all = diferente; patia<br />
= doença) significa curar através de um método que usa um<br />
sistema diferente da doença que está ocorrendo. Antigamente,<br />
diante de um abscesso cerebral, procedia-se à inoculação de um<br />
corpo estranho num tecido vegetativamente de menor importância<br />
do que o cérebro, como os músculos da coxa, com o intuito de<br />
desviar para este local a ação dos anticorpos, diminuindo, desta<br />
maneira, a formação do abscesso naquela região nobre que é o<br />
cérebro. Trata-se, portanto, de um sistema de derivação do<br />
organismo.<br />
A Enantiopatia (enathio = contrário; patia =<br />
doença) consiste em tratar uma doença através dos contrários:<br />
por exemplo, diante de uma febre, administra-se um antifebril, e<br />
diante de uma infecção bacteriana, usa-se um antibiótico (anti =<br />
contra; bio = vida), e assim por diante.<br />
14<br />
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Entretanto, consagrou-se chamar Alopatia o que<br />
na realidade consiste na Enantiopatia.<br />
Desejamos ressaltar que respeitamos a<br />
chamada Alopatia, que a rigor, como vimos, deveria se chamar<br />
Enantiopatia, posto que ela tem o seu grande lugar de importância<br />
na prática médica!<br />
A Homeopatia (homeo = semelhante; patia –<br />
doença), como o próprio nome indica, significa curar pelo<br />
semelhante, isto é, a mesma substância que experimentada no<br />
homem são provoca sintomas neste indivíduo é o mesmo<br />
medicamento que irá curar a sua enfermidade; por exemplo, o uso<br />
da Ipeca contra vômitos, quando sabemos que ela, administrada<br />
no homem sadio, pode provocar vômitos. Somente a genialidade<br />
de Hahnemann percebeu que, se diluísse ainda mais este<br />
medicamento, a cura seria mais rápida e com menor efeito tóxico.<br />
Para a Homeopatia, não existem doenças e sim<br />
indivíduos doentes; por exemplo, diante de um caso agudo de<br />
pneumonia, para se medicar o paciente leva-se em consideração<br />
não somente o diagnóstico clínico, como também o modo como<br />
aquele indivíduo adoeceu, ou seja, conforme a sua<br />
individualidade, se a enfermidade cursa com febre ou sem febre;<br />
com sede ou sem sede; com transpiração ou sem transpiração.<br />
Assim também o estado psíquico do paciente, ou seja, sempre se<br />
leva em consideração a sua totalidade, o seu aspecto mais global.<br />
Uma das poucas exceções é o sarampo, que possui um curso<br />
bem definido.<br />
A palavra “cirurgia” deriva da palavra grega<br />
chirus que quer dizer “mão”. A cirurgia é um procedimento que se<br />
utiliza das mãos, como finalidade terapêutica. Logicamente a<br />
coisa não é tão simples assim, por isso que a Clínica Cirúrgica,<br />
que visa estudar o paciente cirúrgico com o intuito de indicar ou<br />
mesmo contra – indicar uma cirurgia, bem como conferir<br />
rigorosamente as variações do funcionamento daquele organismo<br />
antes, durante e após a cirurgia. Como vimos, a cirurgia não é um<br />
procedimento nem Alopático, nem Homeopático. É cirurgia<br />
15<br />
15
mesmo! Hahnemann já dizia: “O que é cirúrgico deve ser tratado<br />
cirurgicamente!”<br />
Já nos casos crônicos, além disto tudo,<br />
consideram-se também os fatos que marcaram a vida do<br />
indivíduo, tais como: morte de entes queridos, humilhações, perda<br />
de emprego etc., constituindo a Biopatografia (bio = vida; pato =<br />
doença; graphia = gravar).<br />
Os medicamentos são extraídos dos três Reinos<br />
da Natureza: animal, vegetal e mineral.<br />
A Homeopatia é diferente da Fitoterapia, que<br />
trata somente pelas plantas. É um método válido, porém não é<br />
Homeopatia!<br />
A confusão que se tenta estabelecer é fazer com<br />
que uma coisa seja tomada pela outra.<br />
Outra inverdade é dizer que a Homeopatia é<br />
lenta. Ao contrário, é tão rápida como qualquer outro método<br />
terapêutico. Só é lento naqueles casos crônicos considerados de<br />
difícil cura pelo tratamento clássico.<br />
A Homeopatia é mais profunda, uma vez que<br />
trata o indivíduo física, psíquica e mentalmente, e embora não<br />
cure tudo, encontra uma vastíssima área de aplicação terapêutica.<br />
Apesar do paradigma da Homeopatia ser<br />
diferente da Alopatia, acho que a Medicina, esta nobre arte e<br />
ciência de curar, é uma só, o que difere é tão – somente o método<br />
terapêutico.<br />
O Holismo, palavra grega que significa “todo”, “o<br />
inteiro”, diz respeito a uma teoria, preconizada pelos gregos<br />
antigos, onde o universo dever ser visto como algo global, isto é,<br />
como um todo e não em partes separadas, numa visão<br />
macrocósmica. Já numa visão microcósmica, onde se insere o<br />
Homem, este mesmo Homem deve ser visto por inteiro, e não por<br />
16<br />
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partes ou segmentado, ou seja, física, mental, espiritual e<br />
psiquicamente.<br />
partes.<br />
Nesta concepção o todo é maior que a soma das<br />
Este modo de conceber o Universo e o Homem,<br />
visão holística, prevaleceu até a visão dos contrários ou das<br />
partes (Enantiose). Tal raciocínio, como não poderia deixar de<br />
acontecer, tomou conta da Medicina, que atualmente vê o Homem<br />
de uma forma fragmentada, haja vista o grande número cada vez<br />
mais crescente de superespecialidades. Não que estas não<br />
tenham valor, muito pelo contrário, são importantíssimas. O que<br />
se questiona é o desaparecimento do médico generalista, que tem<br />
a função de juntar o indivíduo enfermo, num todo individual, como<br />
bem quer a Homeopatia e como queria também, a bem da<br />
verdade, Hipócrates, o pai da Medicina.<br />
Como vimos, a Homeopatia, ao longo dos<br />
séculos, sempre viu o ser humano holisticamente, sendo portanto<br />
tão antiga como a própria humanidade, que nos seus primórdios<br />
se preocupou com o semelhante e com o Universo, posto que<br />
sabe-se que o todo depende, para manter o seu equilíbrio, da<br />
harmonia das partes.<br />
No entanto, apesar do paradigma da<br />
Homeopatia ser diferente do da Alopatia, ambos se tocam e<br />
interpenetram, uma vez que a Medicina é uma só, o que difere é<br />
tão – somente o método de tratamento e a forma de ver o<br />
indivíduo enfermo. Não está longe da chamada lógica cientifica,<br />
uma vez que está plenamente inserida nos conceitos<br />
mewtonianos que regem a ciência atual. Basta ler o Organon da<br />
Arte de Curar, de Hahnemann, que este fato fica bem evidente.<br />
Segundo Samuel Hahnemann: “A mais alta e<br />
única missão do médico é restabelecer a saúde dos doentes, que<br />
é o que se chama Curar”, bem como, “O ideal máximo da Cura é<br />
o restabelecimento rápido, suave e duradouro da saúde, ou<br />
remoção e aniquilamento da doença, em toda a sua extensão, da<br />
maneira mais curta, mais segura e menos nociva, agindo por<br />
17<br />
17
princípios facilmente compreensíveis”. Princípios estes<br />
plenamente exeqüíveis pela Homeopatia.<br />
18<br />
Celso Fernandes Batello<br />
Chefe do Setor de Homeopatia do Centro de Atenção Integral à<br />
Saúde da mulher, da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia do<br />
Departamento de Saúde Materno Infantil da Faculdade de<br />
Medicina do ABC<br />
Diretor do Instituto Constantine Hering<br />
18
II<br />
<strong>HOMEOPATIA</strong> X ALOPATIA?<br />
A despeito desta pretensa rivalidade entre os<br />
defensores de ambas as técnicas terapêuticas, quero dizer que o<br />
que deve ser combatido é tão – somente os excessos que às<br />
vezes reinam tanto numa como na outra.<br />
Não deve e não pode o homeopata criticar a<br />
terapia alopática, porque a vi, muitas vezes, fazer verdadeiros<br />
milagres, como, por exemplo, na área da Unidade de Terapia<br />
Intensiva e da Anestesiologia, onde militei por vários anos. Isto<br />
sem falar no diabetes juvenil, onde a insulina desempenha um<br />
papel vital para o indivíduo doente.<br />
Recentemente um eminente homeopata teve<br />
uma prostatite que, de tão dolorosa que era, obrigou-o a buscar<br />
socorro nos analgésicos alopáticos.<br />
Então, não há que radicalizar!<br />
Existem ainda aqueles que, aproveitando a<br />
explosão homeopática no mundo, procuram tirar proveito de<br />
situações.<br />
No entanto esta situação está se revertendo,<br />
haja vista o número cada vez maior de médicos e parentes de<br />
médicos que estão cada vez mais procurando se consultar com<br />
homeopatas.<br />
E, se Deus quiser, no futuro não vai mais existir<br />
esta disputa e sim uma somatória de esforços, com o objetivo de<br />
obter benefícios aos pacientes e à humanidade.<br />
Finalizando o capítulo, transcrevo o artigo<br />
abaixo, publicado no Jornal do Comércio em 18 de abril de 1846,<br />
na íntegra:<br />
19<br />
19
“Comunicado<br />
Quando terão fim todas essas vergonhas<br />
contendas entre os Srs. Alopathas e Homeopathas? O que têm<br />
elas produzido e têm ainda a produzir? É sagrado dever do<br />
médico velar sobre a humanidade sofredora, procurar o alívio dos<br />
seus males por meios mais promptos e fáceis. E será com<br />
discussões vagas e indignas de tal profissão? Este juiz<br />
competente em todas as causas sociais só visa nesta questão<br />
sórdidos interesses. Cumpre pois aos litigantes discutir, porém<br />
cientificamente. Ex.: prenda cada um seus princípios internos<br />
adaptados, a inércia dos homeopatas, a compreensão de todos e<br />
de um tal modo se cumprem as obrigações inerentes à profissão<br />
e ao mesmo tempo presta-se um serviço à humanidade.<br />
Dr. Augusto Wigana afirma que esta disputa<br />
somente cessará quando a Homeopatia fizer parte do currículo<br />
nas Faculdades de Medicina”.<br />
20<br />
20
III<br />
ISTO É CORRETO? É CIENTÍFICO?<br />
Tivemos há alguns anos uma vacinação em<br />
massa contra a meningite, quando me posicionei contrário à<br />
utilização de vacina cubana, através de artigos publicados em<br />
jornais, como o reproduzido abaixo:<br />
“A eficácia da vacinação antimeningocócica<br />
Como sabemos, estamos vivendo em São Paulo<br />
uma situação que caracteriza uma epidemia de meningite contra a<br />
qual não existem vacinas.<br />
epidemia.<br />
Ninguém sabe ao certo o comportamento desta<br />
Mas algumas coisas sabemos, quais sejam:<br />
atingem preferencialmente crianças e indivíduos que vivem em<br />
grandes centros.<br />
Em acréscimo, sabemos que as vacinas dadas<br />
na infância não são de todo inócuas.<br />
No mínimo provocam reações inerentes a elas,<br />
como uma produção de células de defesa (anticorpos) no sentido<br />
de se imunizar o organismo contra o microorganismo que está<br />
sendo inoculado neste mesmo organismo, ou seja, as defesas<br />
orgânicas se voltam, preferencialmente, contra este agente<br />
agressor.<br />
Se a vacina consistir em um vírus, ocorrerá por<br />
parte do sistema de defesa (sistema imunitário) uma resposta a<br />
este vírus. Desviando, quiçá, uma eventual proteção que o<br />
organismo possui contra a bactéria do meningococo tipo B para<br />
combater o agente contido na vacina da campanha.<br />
21<br />
21
Como dissemos anteriormente, ninguém sabe<br />
corretamente o comportamento desta epidemia, que dirá se<br />
agravarmos este processo promovendo uma vacinação em massa<br />
contra a paralisia infantil, que se realizará no dia 13 próximo,<br />
mesmo porque, num esquema de vacinação em massa, não é<br />
praxe se examinar corretamente a criança antes de vaciná-la.<br />
Creio que a campanha deveria ser protelada até<br />
que se tenha controle desta epidemia de meningite.<br />
Principalmente pelo fato de que, em São Paulo, já houve uma<br />
campanha recente neste sentido. Portanto, a população não<br />
correria grandes riscos se esta nova campanha fosse transferida<br />
para uma data mais oportuna.<br />
Seria imprudência, a meu ver, se esta campanha<br />
ocorresse nestas circunstâncias.<br />
Gostaria que a Secretaria de Saúde do Estado<br />
de São Paulo interviesse no sentido de melhor estudar o assunto.<br />
Com relação à hipótese de se utilizar a vacina<br />
cubana, contra o meningococo tipo B, de efeito ainda<br />
controvertido, gostaria de sugerir o uso do nosódio homeopático<br />
`meningococcinum’, como foi utilizado na Cidade de<br />
Guaratinguetá (SP), na epidemia de meningite de 1974, pelos<br />
médicos David de Castro (livre – docente em Clínica Homeopática<br />
pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro) e George<br />
W. Galvão Nogueira (capitão – médico do Exército brasileiro).<br />
Neste trabalho exposto no livro Homeopatia e<br />
Profilaxia, de David Castro, os autores mostram que através do<br />
esquema adotado por eles houve uma incidência<br />
significativamente menor na população de Guaratinguetá que<br />
tomou o nosódio homeopático “meningococcinum”.<br />
É por isso que, diante de uma vacina de efeitos<br />
duvidosos como a cubana, gostaria de sugerir às nossas<br />
autoridades que se inteirassem deste trabalho supracitado e<br />
promovessem também, além de protelar esta campanha de<br />
22<br />
22
vacinação contra a poliomielite, uma reavaliação dos resultados<br />
obtidos em Guaratinguetá (SP).<br />
No mínimo sairia mais barato em comparação à<br />
vacina cubana de efeitos não muito claros e cumpriria os<br />
preceitos de Hipócrates: “Primum non nocerum”, isto é, primeiro<br />
não fazer mal, ou primeiro não lesar.<br />
Finalizando, devemos evitar incorrer no axioma<br />
citado por Voltaire: “A medicina consiste em se injetar substâncias<br />
que não se conhecem num organismo que se conhece menos<br />
ainda”.<br />
adotei.<br />
Na época houve algumas críticas à oposição que<br />
Tentei explicar que segundo fontes do Instituto<br />
Adolfo Lutz a vacina cubana não tinha eficácia para o povo<br />
brasileiro e que havia divergências entre os próprios alopatas,<br />
conforme publicações em jornais da época.<br />
Mesmo assim houve quem achasse que a vacina<br />
deveria ser dada, como aconteceu. A famigerada vacina cubana<br />
foi utilizada, embora houvesse parecer contrário da Comissão de<br />
Meningite, do Ministério da Saúde, conforme artigo publicado no<br />
Jornal do Conselho Federal de Medicina do mês de abril de 1993.<br />
A vacina cubana foi totalmente ineficaz e causou<br />
reações preocupantes, como febre alta, dor de cabeça e vômito,<br />
conforme relatado por um eminente pediatra num jornal de grande<br />
circulação de São Paulo.<br />
A vacinação foi realizada a despeito de já estar<br />
havendo um declínio natural de epidemia.<br />
Esta vacinação ineficaz custou aos cofres<br />
públicos a quantia de 30 milhões de dólares gastos inutilmente.<br />
Este fato veio demonstrar que eu, como<br />
homeopata, não quero enganar a população. Na época alertei<br />
23<br />
23
para o crime que se estava cometendo, tanto é que hoje existe,<br />
dentro do Ministério da Saúde, uma comissão para apurar<br />
tamanha aberração, assim como no Congresso Nacional foi<br />
instituída uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), para<br />
apurar por que foram gastos 30 milhões de dólares nesta<br />
“brincadeira”, quando poderiam ter encontrado melhor destinação.<br />
Como homeopata, da mesma forma que uma<br />
grande parcela dos homeopatas, não sou radicalmente contra as<br />
vacinas, mas somente contra a época, forma, número e como as<br />
vacinas são administradas, porque não posso ficar calado vendo<br />
o povo brasileiro servindo de cobaia de experimentação de<br />
remédios e vacinas de terras alheias, pois esta vacina cubana foi<br />
literal e comprovadamente testada nas crianças e jovens<br />
brasileiros, conforme artigo publicado no Jornal de Conselho<br />
Federal de Medicina no mês de abril de 1993, abaixo transcrito:<br />
“Vacina contra a corrupção”<br />
O ex-ministro Alceni Guerra livrou-se das barras<br />
dos tribunais e ainda promete escrever um livro para coroar a sua<br />
triunfal volta à política em 1994. Assim é o Brasil: o homem que<br />
quase dizimou a saúde brasileira não tem mais por que responder<br />
pelos danos e desmandos que cometeu conscientemente.<br />
Ainda agora, o Jornal do CFM desnuda a<br />
questão das vacinas cubanas descobertas na Fiocruz, com prazo<br />
de validade vencido. Foram 30 milhões que escorreram pelo ralo<br />
da corrupção e da incompetência. Para rememorar a triste<br />
história, o governo Collor, por insistência de Alceni, comprou US$<br />
30 milhões de vacinas cubanas contra a meningite B. Setores<br />
técnicos do Ministério da Saúde advertiram, à época: as vacinas<br />
eram caras, não se esperava uma incidência forte da doença nos<br />
meses seguintes e seu tipo teria baixa eficácia para o caso<br />
brasileiro.<br />
De nada adiantou. Alceni comprou as vacinas.<br />
Elas foram encontradas, pelo novo governo, ainda envasadas em<br />
frascos de 20 litros. O ministro Jamil Haddad anuncia ter<br />
24<br />
24
conseguido o quase impossível: renegociou o lote com o governo<br />
cubano, trocando-o por vacinas com prazo de validade atualizado.<br />
O ministro parece criar-se um impasse de grave<br />
responsabilidade. As vacinas compradas a Cuba não têm eficácia<br />
comprovada para o caso brasileiro, atestou competente comissão<br />
técnica criada pelo próprio ministro Haddad. O problema não era<br />
apenas o prazo de validade. As vacinas só são aceitáveis se<br />
tiverem eficácia comprovada e recomendada pela comissão<br />
técnica do Ministério da Saúde. Este fato merece uma resposta<br />
clara e insofismável.<br />
A despeito disto, as investigações devem<br />
continuar, para saber o que estava por trás de tão esdrúxula<br />
compra. Fere a consciência moral do Brasil imaginar que, mais<br />
uma vez, vingará a repugnante prática de deixar impunes os<br />
culpados”.<br />
“Comissão culpa Alceni por perda de vacinas”<br />
A comissão de sindicância aberta pelo Ministério<br />
da Saúde para investigar a perda da validade de cinco milhões de<br />
doses da vacina cubana contra meningite tipo B responsabilizou o<br />
ex – ministro Alceni Guerra pela importação desnecessária do<br />
produto. O prejuízo aos cofres públicos com a perda da vacina<br />
chega a US$ 30 milhões.<br />
De acordo com o relatório da comissão, o ex –<br />
ministro autorizou a importação mesmo depois de diversos<br />
pareceres técnicos do próprio Ministério da Saúde contra –<br />
indicarem tecnicamente a compra. Alceni Guerra baseou-se, ao<br />
contrário, em documentos apresentados pelo então secretário<br />
executivo Luiz Romero de Farias, que é irmão de Paulo César<br />
Farias, e pela então presidente da Fundação Nacional de Saúde,<br />
Isabel Stefano.<br />
Baixa eficácia – Entre os pareceres contrários,<br />
está o da Comissão Nacional de Meningite que, reunida em maio<br />
de 1990, concluiu que não haveria um aumento abrupto da<br />
doença nos meses seguintes e reiterou que a vacina seria<br />
25<br />
25
comprada por um preço muito alto, tornando-a proibitiva para<br />
vacinação em massa ou mesmo de rotina’. Em seminários pelo<br />
País, a mesma comissão alertou diversas vezes que a eficácia da<br />
vacina cubana seria muito baixa no caso brasileiro. Dois anos<br />
depois, afirmações forma comprovadas: técnicos de diferentes<br />
instituições de saúde, com base nas vacinações feitas em oito<br />
estados brasileiros, entre 1989 e 1990, chegaram à conclusão de<br />
que não houve redução na incidência da doença que pudesse ser<br />
relacionada ao uso da vacina cubana contra a meningite B.<br />
Ao investigar as vacinas, além disso, a comissão<br />
de sindicância encontrou o lote importado de Cuba ainda nos<br />
vidros de 20 litros utilizados no transporte do produto para o<br />
Brasil. De acordo com o relatório, depois de comprar as vacinas, o<br />
Ministério não autorizou o envase das mesmas, apesar das várias<br />
solicitações da Fundação Athaulfo de Paiva, de Belo Horizonte,<br />
onde as vacinas estavam armazenadas. Isso, concluiu a<br />
comissão, contribuiu decisivamente para a perda de validade do<br />
produto e o prejuízo de US$ 30 milhões.<br />
Troca – Para evitar este rombo, o ministro Jamil<br />
Haddad conseguiu negociar com o governo de Cuba a troca das<br />
cinco milhões de doses vencidas por outro lote na mesma<br />
quantidade, mas com o prazo atualizado. Haddad pretende, a<br />
princípio, usar a vacina cubana em casos de epidemia e só incluíla<br />
em campanhas de rotina quando for comprovada sua total<br />
aplicabilidade para o caso brasileiro. Estudos recentes, realizados<br />
em São Paulo e publicados pela revista científica The Lancet ,<br />
mostraram que na faixa etária de maior ocorrência da doença –<br />
em crianças menores de quatro anos – a vacina é ineficaz para o<br />
uso em campanhas de vacinação. O imunizante cubano foi<br />
testado no Brasil entre crianças e adolescentes com idade entre<br />
três meses e 19 anos ( Wagner Oliveira, RJ)”.<br />
O que existe, portanto, são determinados<br />
procedimentos que ferem a dignidade do conhecimento médico e<br />
da população em geral, piorando o caos institucional em que vive<br />
o País, quando se fere um dos mandamentos de Hipócrates que<br />
pode ser estendido a tudo que se refere à nação, ou seja,<br />
“primum non nocerum”, isto é, primeiro não lesar, ou primeiro não<br />
fazer mal.<br />
26<br />
26
IV<br />
HISTÓRICO DA MEDICINA<br />
A tentativa de aliviar e curar as dores e o<br />
sofrimento data dos tempos imemoriais e se confunde com a<br />
própria história da humanidade.<br />
Para se entender a Homeopatia é muito<br />
importante que antes de mais nada se entenda a evolução e a<br />
história da Medicina.<br />
Convém ressaltar que não existe a medicina<br />
homeopática. A medicina é uma só. O que difere ente a<br />
Homeopatia e a erroneamente chamada Alopatia é a forma de<br />
tratamento; esta trata pelos contrários e aquela pelos<br />
semelhantes, como veremos mais à frente.<br />
Segundo a mitologia grega, na Antigüidade<br />
clássica, no período heróico, vivia no Olimpo * o deus Apolo,<br />
relacionado com a Medicina.<br />
Apolo era também chamado de Alexikakos,<br />
aquele que afasta as doenças, através de suas flechas.<br />
Alexikakos, da mesma forma, curava usando a<br />
raiz da peônia, uma planta que cresce na Europa. Por esse<br />
motivo os médicos eram chamados de Filhos de Pean.<br />
Conta a lenda que Apolo e sua irmã Artemisa<br />
ensinaram a Chiron, filho de Saturno, a arte da Música e da<br />
Medicina.<br />
Chiron, por sua vez, transmitiu esses<br />
conhecimentos a Esculápio, filho de Apolo com a ninfa Coronis.<br />
• espécie de céu.<br />
27<br />
27
Esculápio tornou-se tão bom médico e hábil<br />
cirurgião, que diminuiu o número de pessoas que morriam,<br />
provocando a ira de Plutão, deus da profundidades e do inferno,<br />
que reclamou a Zeus* a morte de Esculápio, um semi – deus.<br />
um raio.<br />
Zeus atendeu a Plutão e fulminou Esculápio com<br />
Em homenagem a Esculápio criaram-se templos<br />
chamados Asclépias, onde os doentes depositavam as chamadas<br />
Tábuas Votivas, que relatavam o motivo de suas queixas, a<br />
duração da doença e finalmente como saravam, e que serviram<br />
de modelo de aprendizagem.<br />
Nestes templos havia um misto de filosofia e<br />
magia, e naqueles rituais de cura era hábito imolar um galo, razão<br />
pela qual esse animal passou a representar o símbolo da<br />
medicina.<br />
Nessa época dois Asclépias se sobressaíram<br />
pelas suas tábuas votivas, o de Cós e Cnido.<br />
Cós e Cnido tornaram-se verdadeiros templos da<br />
observação médica, que serviram de modelo às nossas escolas<br />
médicas atuais.<br />
Esculápio tinha duas filhas Hygea e Panacea,<br />
que alimentavam as serpentes sagradas dos templos.<br />
Farmácia.<br />
Hygea deu origem à Higiene e Panacea à<br />
Hygea era associada pelos romanos a Salus que<br />
era representada por uma taça. Daí a Farmácia ser representada<br />
por uma taça envolvida por uma serpente.<br />
* Deus dos deuses.<br />
28<br />
28
Mas foi através de Hipócrates, que viveu de 460<br />
a 373 a C., em pleno século de Péricles, época de grandes nomes<br />
como Sófocles e Eurípedes, Aristófanes e Píndaro. Sócrates e<br />
Platão, Heródoto e Teuclides, Rhide e Polignoto, era dotado de<br />
elevado espírito de observação e conhecimento médico, que lhe<br />
possibilitou utilizar todos os dados destes pensadores, que<br />
serviram como base para os conhecimentos médicos atuais.<br />
da Medicina.<br />
Esta compilação recebeu o nome de Aforismas.<br />
Por este motivo Hipócrates é chamado de o Pai<br />
Como dissemos anteriormente, Hipócrates criou<br />
a Medicina Científica.<br />
Com este cabedal de conhecimentos enunciou o<br />
preceito básico de cura, qual seja:<br />
“Similia similibus curantur” (os semelhantes se<br />
curam pelos semelhantes). Diferente do “Contrario contrarius<br />
curantur” (os contrários se curam pelos contrários).<br />
Se a medicina não fosse algo único, englobando<br />
a Alopatia e a Homeopatia e outras técnicas terapêuticas<br />
existentes, após enunciar o princípio dos semelhantes,<br />
reclamaríamos Hipócrates como sendo Pai da Homeopatia.<br />
A cura pelos contrários foi defendida por Galeno.<br />
Por este método utiliza-se o “anti”, isto é, diante de uma febre<br />
administra-se um antifebril; da presença de um verme, um “anti –<br />
verme”(anti – helmíntico); e de uma bactéria, um antibiótico (anti =<br />
contra, bio = vida) etc.<br />
A cirurgia vem de chirus (mãos). Portanto, a<br />
cirurgia não é nem Homeopatia, nem Alopatia. É cirurgia mesmo.<br />
Não se pode olvidar o valor da cirurgia atual, na cura de<br />
determinadas moléstias.<br />
29<br />
29
A cura pelos semelhantes foi definida por<br />
Hipócrates, quando enunciou o seguinte Aforisma:<br />
“A doença é produzida pelos semelhantes, e<br />
pelos semelhantes que a produziram ... o paciente retorna à<br />
saúde. Desse modo, o que provoca a estrangúria* que não existe,<br />
cura a estrangúria que existe: a tosse, como estrangúria, é<br />
causada e curada pelo mesmo agente.<br />
Dando um exemplo prático, Hipócrates cita um<br />
caso de cura de cólera** com Veratrum album, que produz no<br />
homem sadio, violenta gastroenterite*** com tendência à algidez,<br />
semelhante ao ataque colérico.<br />
Há os que acham que Hipócrates sequer existiu,<br />
entretanto, existem provas de que ele nasceu em Cós no ano de<br />
460 d.C. e faleceu em 377 a C. Dizem alguns que os Aforismas e<br />
prognósticos foram escritos através de várias gerações de<br />
médicos, entretanto, contra esta hipótese está a maior parte dos<br />
escritores modernos que vêem nesta obra uma unidade e uma<br />
uniformidade que só pode ser atribuída a um único homem!<br />
Hipócrates descendia de Esculápio, por<br />
linhagem paterna, e de Hércules, pelos antepassados da mãe.<br />
Entre os seus ancestrais contavam alguns reis e<br />
três célebres médicos, quais sejam, Pródico e Cós, Hipócrates<br />
primeiro e seu pai Heráclito, que lhe ensinou as primeiras noções<br />
científicas.<br />
Era, portanto, filho de Heráclito e Fenavita ou<br />
Praxitea, da família dos Asclepíades, que vinham exercendo a<br />
Medicina por dezoito gerações.<br />
Hipócrates era, sem dúvida alguma, um sábio,<br />
como Sócrates e outros.<br />
* estrangúria – espécie de dificuldade para urinar<br />
30<br />
30
* cólera – enfermidade que produz no indivíduo uma<br />
gastroenterite, com diarréia intensa<br />
* gastroenterite – inflamação de estômago e intestinos.<br />
V<br />
SUMÁRIO DA HISTÓRIA DA <strong>HOMEOPATIA</strong> NO<br />
BRASIL<br />
Foi através do francês Benois Jules Mure, no dia<br />
21.11.1840, que a Homeopatia foi introduzida no Brasil.<br />
Por isso nesse dia é comemorado o Dia da<br />
Homeopatia no Brasil.<br />
Nessa época foram criadas, como o Instituto<br />
Homeopático Brasileiro, o Instituto Hahnemanniano do Brasil<br />
(1859).<br />
Um fato marcante, que determinou a instalação<br />
da Homeopatia no Brasil, foi a cura obtida pelo Dr. Joaquim<br />
Murtinho no então ministro de Guerra, o Marechal João<br />
Nepomuceno de Medeiros Mallet, apesar deste estar<br />
desenganado pelas sumidades terapêutica oficial.<br />
Porém, foi com a criação de uma escola de<br />
Homeopatia, a Faculdade Hahnemanniana e o Hospital<br />
Hahnemanniano, reconhecidos pelo governo federal, a Escola de<br />
Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, em 1957, que a<br />
Homeopatia tomou maior impulso.<br />
Foi em 1918, através do Decreto nº 3.530, de 25<br />
de setembro, que se reconheceu o Instituto Hahnemanniano do<br />
Brasil, como entidade de utilidade pública, no artigo que diz:<br />
“Além das medicinas fornecidas pelas escolas oficiais ou<br />
equiparadas, a clínica homeopática será exercida pelos<br />
profissionais habilitados pelo Instituto Hahnemanniano”.<br />
31<br />
31
Em 1952, pelo Decreto n.º 1.552, de 8.7.1952, o<br />
ensino de Farmacotécnica Homeopática foi tornado obrigatório<br />
em todas as faculdades de Farmácia do Brasil.<br />
etc.<br />
Foram realizados vários Congressos, Jornadas<br />
Atualmente existem várias associações nos<br />
vários estados do País, porém a oficialização se deu de fato no<br />
governo federal há pouco mais de uma década.<br />
Um fato relevante dentro desta história foi a<br />
aceitação da Homeopatia como sendo um departamento da<br />
conceituada Associação Paulista de Medicina, o que veio<br />
dignificar a Homeopatia.<br />
VI<br />
TODO INOVADOR É PERSEGUIDO<br />
Como todo inovador, Hahnemann foi perseguido,<br />
e continua sendo, até os dias atuais, por aqueles que mesmo sem<br />
conhecer a Homeopatia a detratam, contrariando o espírito<br />
científico que dizem possuir.<br />
Porém a verdade, ou aquilo que é verdadeiro,<br />
não perece, haja vista que, na França, quando um grupo de<br />
pessoas procurou um ministro para proibir o uso da Homeopatia,<br />
recebeu a resposta de que tudo que não tem resultado perece por<br />
si próprio e que, se a ciência de Hahnemann não tivesse<br />
fundamento, ela desapareceria por si só, caso não tivesse bases<br />
sólidas.<br />
Como sabemos, ela perdura até hoje e em<br />
franca ascensão.<br />
32<br />
32
Outros sábios, pesquisadores, reformadores que<br />
tiveram o mérito de descobrir algo, desde logo foram cobertos de<br />
calúnias e críticas infundadas.<br />
Parece que se uma pessoa galga algum degrau<br />
sempre aparece alguém para tentar perturbá-lo, e às vezes,<br />
mesmo sem saber porquê.<br />
As boas coisas parecem enfrentar um obstáculo<br />
natural, até que sejam reconhecidas, como cita Burnett no seu<br />
livro 50 Razões para ser Homeopata.<br />
Roger Bacon, rebelando-se contra as idéias<br />
dominantes na época, viu-se compelido a viver 24 anos recluso.<br />
O impertinente Vesálio, que ousou desacreditar<br />
Galeno, despertou contra si calúnias subterrâneas, que o<br />
obrigaram a deixar Pádua e a recolher-se à Espanha.<br />
Serveto teve destino mais trágico: foi arder na<br />
fogueira armada por Calvino.<br />
Paracelso rebelou-se contra a medicina do seu<br />
tempo, divulgou-lhe novos rumos, estarreceu espetacularmente a<br />
Basiléia queimando os livros de Galeno e Avicena, mas despertou<br />
com essas idéias reformadoras as primeiras fagulhas do seu<br />
martírio e preparando o seu próprio desdito.<br />
Harvey, estabelecendo noções exatas sobre a<br />
circulação sangüínea, foi tido como charlatão e até mesmo louco.<br />
A clientela o abandonou e estaria irremediavelmente perdido, se<br />
não fosse a proteção de Carlos I da Inglaterra.<br />
E Galileu? Por que foi parar nas mãos dos<br />
poderosos da época? Por que sofreu em idade avançada tantas<br />
torturas?<br />
Porque derrubou as teorias de Aristóteles e<br />
Ptolomeu; porque reviveu as idéias de Copérnico, demonstrando-<br />
33<br />
33
as, dando-lhes nova vida; porque destronou a Terra, arrancando-a<br />
de sua posição do Centro do Universo, afirmando que era ela<br />
quem girava em torno do sol. Em suma, verdades acima da<br />
compreensão dos sábios da época.<br />
Ambroise Paré sucumbiu na luta contra a<br />
Faculdade, no entanto é hoje tido como pai da cirurgia moderna.<br />
Pasteur, no dizer de Lister, “ergueu o véu que<br />
durante séculos cobria as doenças infecciosas”.<br />
Qual foi porém a atitude dos cientistas de então?<br />
Cercaram-no de hostilidades impiedosas,<br />
cobriram-no com inventivas sarcásticas, deram-no como<br />
sonhador. A classe médica, a qual não pertencia, combateu-o<br />
asperamente.<br />
Janner descobriu a vacina contra a varíola.<br />
Quando pela primeira vez, em Londres, levou ao<br />
conhecimento dos pares que certos vaqueiros que tinham<br />
contraído o cow-pox ficavam isentos da varíola, os seus colegas<br />
advertiram-no solidariamente de que não voltasse mais aos<br />
debates com semelhante impertinência, se não quisesse ser<br />
afastado de seu cargo.<br />
O tempo, contudo, fez de Jenner não só um<br />
herói da sua pátria, como o consagrou benfeitor da Humanidade e<br />
a varíola deixou de ser flagelo universal.<br />
Levantaram-lhe uma estátua em “Trafalgar<br />
Square”, mas alguns anos mais tarde a sua estátua foi<br />
transportada para um lugar obscuro e substituída por um obscuro<br />
general.<br />
voltou.<br />
Houve protestos, o general saiu, mas Jenner não<br />
34<br />
34
Erlich foi um sábio. Graças à descoberta do 606,<br />
foi possível a cura de sífilis. Em sinal de gratidão foi-lhe erguida,<br />
em sua pátria, uma estátua em Frankfurt. Contudo, certa manhã,<br />
a estátua foi encontrada pintada de pixe e coberta de penas.<br />
Erlich era judeu ...!<br />
Não admiro que Hahnemann fosse perseguido e<br />
mal compreendido até os dias atuais.<br />
Que o mundo científico se curve diante de<br />
Hahnemann, porque antes mesmo de Claude Bernard, o pai da<br />
Homeopatia introduziu a Ciência Experimental, através de<br />
experimentação no homem são!<br />
VII<br />
HAHNEMANN, PAI DA <strong>HOMEOPATIA</strong><br />
Se coube à Hipócrates o mérito de codificar a<br />
Medicina, coube a Christian Friedrich Samuel Hahnemann<br />
codificar, desenvolver e metodizar a Homeopatia.<br />
Hahnemann, nascido em Meissen (Saxen),<br />
Alemanha, em 1755, cursou Medicina em Leipzig.<br />
Após diplomar-se, o seu desapontamento com a<br />
medicina da época foi tão intenso, que a princípio contentou-se<br />
com uma simples terapêutica, que ficava à mercê da Natura<br />
medicatrix*, para posteriormente abandoná-la.<br />
Como falava 14 idiomas, passou a fazer<br />
traduções para sobreviver.<br />
Certo dia, ao traduzir sobre a célebre Matéria<br />
Médica, de Cullen, lhe chamou a atenção o fato da quinina<br />
provocar febre nas pessoas sadias.<br />
35<br />
35
Diante desse fato, experimentou a droga em si<br />
próprio e em outros, e observou que a febre provocada em<br />
indivíduos sadios tinha a mesma características da febre em<br />
pacientes enfermos, febre esta curada pela própria quinina.<br />
Hahnemann vislumbrou que isto poderia ser feito<br />
com outras substâncias e procedeu a novas experimentações<br />
com a Beladona, a Digital e o Coque do Levante, que resultaram<br />
afirmativas.<br />
Com esta descoberta, voltou a praticar a<br />
Medicina, utilizando-se desta terapêutica não – agressiva e não –<br />
pesada, como ele se referia à medicina da época.<br />
Como todo inovador, o pioneiro Hahnemann não<br />
escapou às críticas e perseguições daquelas pessoas retrógradas<br />
e reacionárias da época, principalmente dos farmacêuticos,<br />
obrigando-o a refugiar-se em Leipzig ate’1820.<br />
* Natura Medicatrix é uma teoria de que o próprio organismo pode<br />
sozinho, sem qualquer ajuda, se curar.<br />
Este tempo de refúgio permitiu-lhe escrever<br />
várias obras sobre a teoria e a técnica desta doutrina emergente.<br />
Já em 1820, devido à inexorável oposição, teve<br />
que abandonar Leipzig e fugir para Coethen, sob a proteção do<br />
Duque Ferdinando, onde foi pessimamente recebido pela<br />
população.<br />
Em contrapartida, quando deixou Coethen par<br />
residir em Paris, a pedido de seus discípulos, teve que fazê-lo na<br />
calada da noite, de tão grande que era o seu prestígio, uma vez<br />
que o povo queria, por toda força, que ele ficasse.<br />
Faleceu em Paris com 88 anos.<br />
Os seus restos mortais encontram-se no<br />
Cemitério Père Lachaise, em Paris, cidade que se orgulha de<br />
guardar os despojos deste imortal humanista.<br />
36<br />
36
VIII<br />
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ETIMOLÓGICAS<br />
A medicina é uma só, o que difere é, tão<br />
somente, a técnica terapêutica. Para confirmar este fato deve-se<br />
reportar a história da Medicina.<br />
Para melhorar a compreensão do significado das<br />
palavras, bem como seu conceito, se estudará algumas<br />
definições, legadas pelo próprio Hahnemann, sobre o que seja a<br />
Homeopatia, Alopatia e Enantiopatia, expressas no livro A Teoria<br />
e a Técnica da Homeopatia, do Dr. Henry Duprat.<br />
“A Enantiopatia (enanthios = contrários; pathos =<br />
sofrimento) consiste em dar ao paciente a substância capaz de<br />
determinar um estado contrário ao distúrbio que constituiu a<br />
própria doença.<br />
Exemplo químico: emprego de um alcalino<br />
contra perturbações produzidas por um meio estomacal<br />
hiperácido.<br />
Exemplo físico: injeção de água fisiologicamente<br />
salgada, para fazer subir a pressão circulatória, que uma<br />
hemorragia profusa fez baixar exageradamente.<br />
Exemplo farmacodinâmico: emprego do ópio<br />
contra a insônia, pois o ópio provoca, no homem são, um sono<br />
artificial.<br />
A Opoterapia* pode ser considerada um processo enantiopático<br />
quando faz o enfermo absorver o órgão animal correspondente ao<br />
que nele é diferente ou foi suprimido. A transfusão de sangue<br />
pertence também à enantopia, posto que substitui parcialmente o<br />
sangue viciado, biologicamente falando negativo, por outro lado<br />
sadio, positivo, ou então compensa quantitativamente uma perda<br />
hemorrágica. Dessa terapêutica<br />
37<br />
37
• Opoterapia – processo pelo qual se utiliza de substância de<br />
determinados órgãos no sentido de curar a deficiência desses<br />
mesmos órgãos no ser vivo. Por exemplo: diante de uma<br />
deficiência de secreção por parte da glândula hipófise, pode-se<br />
administrar o opoterápico hipófise.<br />
•<br />
enantiopática, fazem parte alguns processos que denominarei de<br />
terapêutica higiênica, porque desempenham, no momento exato<br />
do ato patológico, o que a higiene realiza com o objetivo de<br />
prevenir tal ato: lutam contra a causa mórbida. É a parte mais<br />
lógica senão a mais completa e mais prática da enantiopatia.<br />
Exemplos: anti-sepsia interna para a destruição dos agentes<br />
microbianos em atividade patogência no corpo. Purgação e<br />
Sangria, esta eliminando as substâncias tóxicas de que o sangue<br />
se acha carregado (uremia), aquela provocando expulsão do bolo<br />
alimentar quantitativa e qualitativamente nocivo.<br />
A Homeopatia (homoios = semelhantes; pathso<br />
= sofrimento) é o oposto do processo emantiopático. Consiste em<br />
dar ao doente uma substância medicamentosa capaz de produzir<br />
no organismo sadio, um estado semelhante ao da doença que se<br />
quer curar. Esta terapêutica funciona do ponto de vista físico e<br />
principalmente farmacodinâmico.<br />
Exemplo físico: bebidas quentes em caso de queimaduras da<br />
mucosa estomacal.<br />
Exemplos farmacodinâmicos: ópio administrado contra um estado<br />
de sonolência doentia comatosa, ou, por exemplo, Ipeca prescrita<br />
contra vômitos, por produzi-los no homem sadio.<br />
A Homeopatia se relaciona à Isopatia (isos =<br />
idênticos; pathos = sofrimento), que se vale de uma semelhança<br />
mais perfeita levada até a identidade (vírus mórbidos, secreções e<br />
excreções mórbidas, produtos microbianos, proteínas e alergenos<br />
diversos) contra as enfermidades causadas por esses mesmos<br />
micróbios e proteínas. Na escola oficial, o método é praticado e<br />
tem nomes de vacinoterapia, proteinoterapia etc.<br />
38<br />
38
A Alopatia (allos = diversos; pathos = sofrimento)<br />
emprega um medicamento que visa produzir um estado diferente<br />
daquele que constitui o estado mórbido.<br />
É ela que introduz o sistema de derivação.<br />
Exemplo: a purgação, no caso de congestão cerebral, a fim de<br />
desviar para a mucosa intestinal o afluxo sangüíneo que aflige o<br />
cérebro: o abscesso de fixação, que, por meio de introdução de<br />
um corpo estranho num tecido vegetativamente inútil (os<br />
músculos da coxa), se destina a fixar naquele ponto o esforço<br />
microbiano que perigosamente se desenvolve num órgão<br />
importante.<br />
Essas foram as três formas terapêuticas<br />
universalmente utilizadas no tempo e no espaço, e os títulos de<br />
ancianidade da Homeopatia não são os menos válidos, como<br />
veremos no capítulo seguinte.<br />
É, portanto, a Enantiopatia que representa o<br />
oposto da Homeopatia. O uso, porém, consagrou a substituição<br />
do termo Enantiopatia pelo Alopatia, que designa e reúne todos<br />
os processos de ação contrária, e de derivação utilizados na<br />
medicina oficial. E para não prejudicar a clareza contrariando<br />
velhos hábitos de linguagem, continuarei a empregar neste<br />
trabalho a palavra Alopatia em seu sentido corrente.<br />
Como já se salientou, a cirurgia deriva da palavra<br />
chiro (mãos), não sendo, a rigor, nem Homeopatia e nem<br />
Alopatia, tratando-se de procedimentos manuais para fins<br />
terapêuticos.<br />
A clínica cirúrgica visa estudar as mudanças<br />
fisiológicas ocorridas antes, durante e após a cirurgia e o modo de<br />
se corrigir estas alterações no sentido de se beneficiar os<br />
pacientes.<br />
Quem pode se opor a uma apendicectomia, a<br />
uma cesariana, a uma colecistectomia ou a uma correção<br />
ortopédica traumática ou não!<br />
39<br />
39
O próprio Hahnemann, no seu Organon da Arte<br />
de Curar, diz que o que é cirúrgico deve ser resolvido com a<br />
cirurgia.<br />
Existia no entender de Hahnemann, um outro<br />
método de cura que foi chamado de Isopatia (isso = igual; pathos<br />
= sofrimento/doença), isto é, o idêntico é curado pelo idêntico; é a<br />
própria causa mórbida que cura a enfermidade que ela produz.<br />
Vacino-terapia.<br />
A Escola Alopática de Pasteur adotou o nome de<br />
A partir das considerações etimológicas que<br />
foram feitas, pode-se compreender que a Medicina é uma só e o<br />
que difere entre a Homeopatia e a erroneamente chamada<br />
Alopatia é, tão – somente, a forma de tratamento, isto é, o modo<br />
terapêutico.<br />
IX<br />
PROCEDÊNCIA DOS MEDICAMENTOS<br />
HOMEOPÁTICOS<br />
Os medicamentos homeopáticos provêm dos<br />
três reinos existentes na natureza: animal, mineral e vegetal.<br />
Como exemplo do reino animal, citamos o<br />
veneno da cobra surucucu (Lachesis); do reino mineral, o cobre<br />
(Cuprum) ; o ouro (Aurum) e o mercúrio (Mercurius) ; e finalmente,<br />
do vegetal, a beladona, extraída da atropa Belladona,<br />
popularmente conhecida como “comigo ninguém pode”.<br />
É preciso fazer distinção entre Homeopatia e<br />
Herboterapia (tratamento pelas ervas), ambas de grande valia no<br />
tratamento do indivíduo enfermo.<br />
A diferença reside, como dissemos acima, em<br />
que a Homeopatia utiliza as substâncias dos três reinos na<br />
40<br />
40
natureza e, principalmente, pelo fato do medicamento<br />
homeopático ser diluído, perdendo de fato sua toxidade.<br />
A despeito de seus efeitos terapêuticos<br />
incontestáveis, algumas ervas ou plantas, por possuírem<br />
substâncias farmacologicamente ativas, podem apresentar efeitos<br />
tóxicos. Efeitos estes aproveitados pela indústria farmacêutica<br />
para, em conhecendo a falta de esclarecimento da população a<br />
respeito, tentarem denegrir a Homeopatia, uma vez que estão<br />
sentindo o grande avanço da ciência que cura pelos semelhantes<br />
e preconiza uma cura rápida, suave e duradoura e menos nociva,<br />
como queria Samuel Hahnemann.<br />
X<br />
DILUIÇÕES HOMEOPÁTICAS<br />
Hahnemann, no seu Organon da Arte de Curar,<br />
enunciou: “o ideal máximo da cura é o restabelecimento rápido,<br />
suave e duradouro da saúde, ou remoção e aniquilamento da<br />
doença, em toda sua extensão, da maneira mais curta, mais<br />
segura e menos nociva, agindo por princípios facilmente<br />
compreensíveis”.<br />
Para cumprir os preceitos supracitados, ele<br />
percebeu que, além de semelhantes, os medicamentos deveriam<br />
ser diluídos, isto é, tornarem-se menos “pesados” e menos<br />
tóxicos. Fato este conseguido por um processo de diluições<br />
sucessivas, caracterizando as Doses Mínimas.<br />
Os medicamentos do reino animal e vegetal são<br />
preparados, geralmente, com uma parte da substância fresca e<br />
outras quartas partes de álcool a 95º, que pode ser substituído<br />
por soro fisiológico nas primeiras diluições, para não perderem o<br />
seu efeito medicamentoso, quando se usa o veneno de algum<br />
animal, como o Lachesis, para, a partir da terceira ou quarta<br />
diluições, serem preparados com álcool.<br />
41<br />
41
Já os produtos de origem mineral dever ser<br />
rigorosamente triturados, para, depois, serem diluídos.<br />
Estas substâncias, assim preparadas, são<br />
chamadas tintura-mãe.<br />
A primeira diluição decimal é obtida diluindo-se<br />
uma parte dessa tintura em mais nove partes de solução<br />
alcoólica. Já a Segunda decimal é derivada da diluição de uma<br />
parte desta primeira decimal em nove partes de álcool.<br />
O mesmo método é válido para as diluições<br />
centesimais, onde primeiramente se dilui, por exemplo, 1 gota de<br />
tintura-mãe em 99 gotas de solução alcoólica, obtendo a primeira<br />
diluição centesimal.<br />
Já a Segunda centesimal obtém-se diluindo-se,<br />
por exemplo, 1 gota da primeira centesimal em 99 gotas de álcool.<br />
As diluições decimais recebem a letra D<br />
seguidos dos números que as caracterizam, por exemplo:<br />
Belladona D1, para a primeira decimal, Belladona D2, para a<br />
segunda decimal e assim sucessivamente.<br />
As diluições centesimais, analogicamente,<br />
recebem a sigla C, seguidas, da mesma forma, do número que<br />
lhe dão ordem, por exemplo: Mercurius silubilis C1, e Mercurius<br />
solubilis C2 para a primeira e Segunda diluição centesimal,<br />
respectivamente.<br />
a seguir:<br />
Para melhor ilustrar o método, exemplificaremos<br />
Tintura mãe Solução alcoólica<br />
(1 gota) (9 gotas)<br />
10 partes decimais<br />
Primeira decimal<br />
42<br />
42
Tintura mãe Solução alcoólica<br />
(1 gota) (99 gotas)<br />
100 partes centesimais<br />
Primeira centesimal<br />
Existe ainda uma outra diluição, a cinqüenta<br />
milesimal, desenvolvida por Hahnemann, comumente<br />
representada pela letra L (maiúscula), ou pela associação L e LM<br />
(maiúsculas), que corresponde a uma diluição elevadíssima, que<br />
só o gênio criativo do pai da Homeopatia podia idealizar.<br />
XI<br />
O MEDICAMENTO EXPERIMENTADO PELO<br />
HOMEM SÃO<br />
Um dos princípios da Homeopatia, como<br />
citamos, é a experimentação no homem são, ou seja, o mesmo<br />
medicamento que causa sintomas no sadio é que vai curar o<br />
enfermo pela lei da semelhança.<br />
Hahnemann experimentou em si próprio e em<br />
outras várias pessoas diversos medicamentos e, após rigorosa<br />
observação, catalogou os sintomas e sinais produzidos por estas<br />
substâncias no seu livro Matéria Médica Pura.<br />
Diante deste conhecimento, pode-se medicar a<br />
pessoa enferma de uma forma pessoal e individual, segundo o<br />
seu modo de adoecer.<br />
43<br />
43
Por exemplo: diante de uma amigdalite<br />
(inflamação de amígdalas) deve-se levar em consideração o que<br />
mudou no doente.<br />
Há pacientes que nestes casos não apresentam<br />
febre, outros que a apresentam, acompanhadas de delírio, outros<br />
que transpiram durante o calor febril, outros que não transpiram,<br />
outros que não apresentam calafrio.<br />
Há pacientes nestes casos que, apesar de uma<br />
inflamação intensa na garganta, não sentem dor, entretanto,<br />
existem aqueles que não conseguem sequer engolir a saliva,<br />
devido à dor ocasionada por este ato.<br />
Vimos que o homeopata, além do diagnóstico<br />
clínico, deve proceder a um diagnóstico do medicamento, que<br />
deve ser individual.<br />
Daí concluímos que um medicamento que cura<br />
uma amigdalite numa pessoa pode não servir para curar uma<br />
outra.<br />
No caso discutido, amigdalite, poderíamos fazer<br />
a análise do medicamento em função do conhecimento da Matéria<br />
Médica Homeopática da seguinte forma:<br />
Sinais e sintomas Medicamentos que cobre estes<br />
sintomas<br />
Amigdalite<br />
XYZ – Mercurius<br />
Dor de garganta ao engolir<br />
XY – Mercurius<br />
Transpiração durante a febre<br />
Y – Mercurius<br />
Calafrio durante a febre<br />
Y – Mercurius<br />
Delírio durante a febre<br />
Y -<br />
Vimos que restou somente o medicamento Y,<br />
devendo portanto ser usado, no caso.<br />
44<br />
44
Vimos, também, que a eleição do medicamento<br />
se faz por um processo de exclusão.<br />
Observamos que geralmente devemos utilizar<br />
um único medicamento de cada vez, isto é, o Medicamento Único<br />
, aquele que cobre a totalidade do indivíduo, física e<br />
psiquicamente.<br />
Com relação ao que pode ser considerado<br />
Homem Sadio é uma questão que gera muitas discussões, que<br />
não cabe no contexto deste livro, todavia, penso que o<br />
entendimento deste fato passa pelo conhecimento do que seja<br />
constituição e órgãos de choque segundo Maffei.<br />
A experimentação no homem são, sem sombra<br />
de dúvida, supera e muito o método alopático, que experimenta<br />
os remédios em animais de laboratório, que sabidamente<br />
possuem reações distintas às dos seres humanos sem falar das<br />
experiências in vitro (tubos de ensaios), que não levam em conta<br />
os mecanismos de defesa do ser vivo, como se o organismo fosse<br />
um simples campo de batalha entre o antibiótico e a bactéria, por<br />
exemplo.<br />
Com estes conhecimentos prévios e pela lei da<br />
semelhança, pode o médico homeopata refutar as palavras de<br />
Voltaire (1694/1778): “A medicina consiste em se introduzir<br />
medicamentos que não se conhecem em um organismo que se<br />
conhece menos ainda”.<br />
XII<br />
OS NÍVEIS DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO<br />
O tratamento constitucional ou de fundo só pode<br />
ser realizado por um médico competente.<br />
constituição.<br />
Antes de mais nada, cumpre definir o que seja<br />
45<br />
45
Segundo o Prof. Maffei: “A constituição é o<br />
conjunto dos caracteres anatômicos e funcionais de um indivíduo<br />
a partir de um momento dado da sua vida”.<br />
“Assim compreendida, a constituição é<br />
fundamentalmente determinada pela hereditariedade, mais ou<br />
menos modificada pelos fatores modificadores já descritos e<br />
ambientais, por conseguinte, a constituição é a manifestação<br />
fenotipo individual, entretanto, no recém-nascido não é possível<br />
estabelecer-se o tipo constitucional, pois este se delineia durante<br />
a evolução do indivíduo”.<br />
A partir destas considerações podemos inferir<br />
que o medicamento constitucional é aquele que atende ao<br />
indivíduo de uma forma global, física, mental e psiquicamente.<br />
Levando-se em consideração, principalmente, a<br />
sua história biopatográfica (bio = vida ; pathos = sofrimento; grafia<br />
= gravar), ou seja, os sofrimentos físicos, psíquicos e mentais,<br />
que marcaram a sua existência.<br />
Existe uma discussão muito grande entre os<br />
próprios homeopatas, sobre o que seja Homeopatia de 1º, 2º e 3º<br />
níveis.<br />
A meu ver, o tratamento que leva em<br />
consideração a constituição do indivíduo poderia ser enquadrado<br />
no chamado nível 3º.<br />
O medicamento que eventualmente poderia ser<br />
enquadrado no 1º nível seria aquele usado, por exemplo, numa<br />
epidemia onde se administra uma mesma substância para toda a<br />
população sem levar em conta as individualidades de cada um.<br />
Isto caracteriza o que chamamos “Gênio Epidêmico” de<br />
medicamentos.<br />
Nestes casos leva-se me consideração somente<br />
os sintomas gerais da população.<br />
46<br />
46
Hahnemann debelou grandes epidemias,<br />
utilizando-se desta forma de tratamento.<br />
O medicamento que poderia ser colocado no 2º<br />
nível é aquele que, na mesma epidemia acima citada, atendesse<br />
a individualidade do enfermo. Além dos sintomas gerais, como por<br />
exemplo, febre, diarréia etc., leva-se em conta também as<br />
mudanças que se processaram nesta pessoa que a distingue dos<br />
demais, tais como: aumento, diminuição ou ausência de sede,<br />
desejo de ficar só ou em companhia durante a doença e outras<br />
coisas mais.<br />
Apesar de idealmente, dever-se tratar as<br />
pessoas de uma forma constitucional, não se deve, em hipótese<br />
alguma, colocar em segundo plano as técnicas a meu ver<br />
erroneamente chamadas de 1º e 2º níveis, posto que é um<br />
procedimento por demais discriminatório.<br />
XIII<br />
UMA DOENÇA MAIS FORTE ACABA COM UMA<br />
DOENÇA MAIS FRACA<br />
Muitas vezes uma moléstia se torna crônica<br />
porque os seus mecanismos defensivos estão debilitados por um<br />
fenômeno de pouca reatividade ou baixa Alergia, que não<br />
consegue estabelecer a imunidade.<br />
Outras vezes, uma outra doença se sobrepõe à<br />
já existente, solicitando uma resposta de maior intensidade por<br />
parte do organismo, que tenta vencer a agressão. É como se<br />
todas as forças orgânicas convergissem para lutar contra uma<br />
doença mais potente.<br />
Se o sistema defensivo consegue vencer esta<br />
segunda agressão, não é incomum desaparecer a primeira<br />
doença.<br />
47<br />
47
Senão vejamos, quantas vezes uma Asma<br />
Brônquica é curada depois do indivíduo contrair uma Pneumonia<br />
ou então uma coqueluche.<br />
A sabedoria popular sabe deste fato, e tenho<br />
visto inúmeras vezes enfermeiras, com muitos anos de profissão,<br />
tecerem comentários neste sentido.<br />
No livro Moléstias Infecciosas Contagiosas, do<br />
eminente Prof. Veronesi, há uma citação de que a melhora da<br />
Asma Brônquica que ocorre após uma criança contrair<br />
coqueluche é apenas uma coincidência.<br />
Podemos inferir, pelo exposto, que, longe de ser<br />
uma coincidência, a melhora de uma moléstia, depois de uma<br />
moléstia, mais forte, pode ser antes de tudo até uma lei que<br />
merecesse ser melhor entendida e compreendida.<br />
O medicamento homeopático age de forma e<br />
maneira semelhante à de uma doença mais forte, despertando<br />
uma força diferente e mais potente, daí as reações de agravação<br />
que podem ocorrer após a administração deste medicamento,<br />
como exemplificarei a seguir.<br />
Reação fraca Agente Agressivo Cronicidade<br />
Reação fraca<br />
+<br />
……………<br />
energia do medicamento<br />
Agente Agressor →Agudização → Cura<br />
O exemplo acima mostra que o medicamento<br />
homeopático acrescenta um “caudal” energético à reação<br />
orgânica, provocando uma reação diferente e mais potente por<br />
parte do organismo e promovendo a cura da sua energia vital.<br />
É difícil aos olhos dos colegas alopatas se falar<br />
em força vital, todavia no seu livro Aforismos y Prognósticos,<br />
tradução de Antônio Gagaya, Madrid, 1904, Hipócrates admite um<br />
48<br />
48
princípio vital, que ele denomina natureza, força de essência<br />
ignorada, que se manifesta nas funções de todos os órgãos,<br />
atraindo a cada órgão o que lhe é proveitoso e eliminado dele o<br />
que lhe é funesto. Na presença de uma causa mórbida, esta<br />
energia se desprende e adquire um desenvolvimento ainda<br />
maior...<br />
XIV<br />
ÓRGÃO DÉBIL OU “LOCUS MINORIS<br />
RESISTENTIAE”<br />
Muito se fala sobre o órgão débil, portanto,<br />
vamos tentar descrevê-lo para melhor compreensão do fato.<br />
São mais fracos, porque não atingiram o seu<br />
desenvolvimento pleno durante os estágios embriológicos,<br />
quando no útero materno, justificando o axioma da medicina<br />
organicista que diz “Ninguém fica doente do que quer e sim do<br />
que pode”.<br />
Por exemplo, uma criança com febre reumática<br />
só seria susceptível a ter um problema na válvula cardíaca, se ela<br />
já apresentasse um defeito anatômico congênito, ou então<br />
contrair uma glomerulonefrite, em decorrência de uma piodermite<br />
(infecção de pele), se ela possuir um rim lobulado etc.<br />
Pelo mesmo raciocínio, uma criança que tem a<br />
espinha bífida, ou seja, uma ausência de soldadura de uma<br />
vértebra, é mais suscetível a contrair a poliomielite anterior aguda<br />
(paralisia infantil), porque concomitantemente à espinha bífida<br />
ocorrem alterações microscópicas em nível de medula espinhal,<br />
que predisporia a instalação e ação do vírus da pólio neste local.<br />
Este processo pode ocorrer em qualquer órgão<br />
do organismo, como o cérebro, útero, próstata, fígado etc.<br />
49<br />
49
Por isso mesmo, serão estes órgãos que<br />
sofrerão as conseqüências se houver um desequilíbrio orgânico,<br />
devido a fatores vários tais como stress, desnutrição, susto, morte<br />
de entes queridos, separações etc.<br />
Quem já não ouviu falar em pessoas que ficaram<br />
diabéticas depois de um desgosto, mágoa etc.?<br />
É que, provavelmente, “o órgão de choque” ou<br />
locus minoris resistentiae era o pâncreas endócrino.<br />
Neste particular é importante frisar que uma<br />
alimentação que forneça os nutrientes que os diferentes órgãos<br />
precisam é fundamental para o seu bom funcionamento,<br />
tornando-se mais resistente às enfermidades.<br />
Sabemos que a doença evolui como se<br />
descesse uma escada, e para que haja a cura é necessário<br />
percorrer este caminho de volta, e os nutrientes são a matériaprima<br />
indispensável para que a cura aconteça ad integrum, isto é,<br />
sem deixar seqüelas, como na ilustração abaixo:<br />
Enfermidade cura<br />
agudo agudo_ nutrientes<br />
subagudo _subagudo matéria prima<br />
crônico_ crônico<br />
degenerativo degenerativo<br />
A propósito deste processo de reconstituição<br />
orgânica e, de que o órgão de choque é aquele que não atingiu<br />
seu desenvolvimento pleno nas fases embriológicas, lanço a<br />
hipótese, se é que não lançaram alhures, de que muitas vezes<br />
este atraso de desenvolvimento pode ser completado nas fases<br />
50<br />
50
pós – embriológicas, como podemos constatar pela evolução de<br />
ovários policísticos após o tratamento homeopático.<br />
Se tal teoria pode gritar alto na razão de muitos,<br />
é só atentar que cientistas conseguiram reproduzir numa bactéria<br />
o código genético de uma múmia de 5.000 anos, o que não é<br />
possível a um organismo vivo fazer?<br />
Finalizando este capítulo, citamos o Prof. Maffei,<br />
quando faz uma analogia do órgão minoris resistentiae com a<br />
sabedoria grega: “Aliás, já na mitologia grega, encontra-se a<br />
concepção de órgão sensível na conhecida História de Acquiles.<br />
Quando este herói da guerra de Tróia nasceu, a sua mãe Tetis<br />
mergulhou-o nas águas da lagoa Estígia, o que o tornou<br />
invulnerável, exceto no calcanhar, por onde ela o segurou e,<br />
portanto, esse ponto não foi banhado, mais tarde foi morto por<br />
uma seta lançada por Páris que o acertou neste ponto. Como se<br />
vê, trata-se de um simbolismo significando que todo o indivíduo<br />
possui o seu ponto sensível.<br />
No mínimo, quando o Prof. Maffei cita a palavra<br />
funcional, penso que, melhorando a função do órgão das<br />
pessoas, por tabela contribuímos para melhorar a sua<br />
constituição, e isto pode ser feito através da Homeopatia, também<br />
através do fornecimento de vitaminas e sais minerais específicos<br />
a estes órgãos, ou através de uma orientação alimentar ou<br />
mesmo com suprimentos alimentares, caminhadas, exercícios<br />
físicos etc.<br />
É clássico, entre aqueles que assistiram as<br />
famosas autópsias do Prof. Maffei, que antes mesmo de “abrir” o<br />
cadáver, já sabia de antemão, da sua causa mortis pelas suas<br />
características morfológicas, como, por exemplo, implante de<br />
orelha e sua relação embriológica com os órgãos internos.<br />
Com relação à experimentação no homem são, a<br />
Profª. Ana Kossak, numa palestra proferida na Associação<br />
Paulista de Homeopatia, disse que deve haver uma predisposição<br />
para que o indivíduo apresente sintomas na experimentação.<br />
Penso que este processo passa pelo conhecimento do que<br />
51<br />
51
ealmente seja constituição geral e constituição parcial,<br />
representada pelos órgãos de choque, já que “ninguém fica<br />
doente do que quer e sim do que pode”, por analogia, “ninguém<br />
responde a uma experimentação do que quer e sim do que pode”,<br />
segundo os seus órgãos de choque e estados que se encontram,<br />
porque se eles não existissem, pelo fato do organismo ser uma<br />
máquina teoricamente perfeita, não haveria a morte. Porém todos<br />
temos um Calcanhar de Aquiles. O medicamento homeopático<br />
deve agir neste ponto.<br />
XV<br />
A FEBRE – UMA REAÇÃO FAVORÁVEL<br />
A convulsão só ocorre em que tem tendência,<br />
que diminui, à medida que o sistema nervoso central atinge a sua<br />
maturidade, principalmente através da mielinização do sistema<br />
nervoso como um todo.<br />
Geralmente, a convulsão febril ocorre em<br />
crianças de 6 meses a 6 anos de idade, nas primeiras 24 horas da<br />
febre e não deixa seqüelas.<br />
A febre constitui uma reação favorável do<br />
organismo, seja de alarme ou de defesa, frente a um agente<br />
agressor.<br />
Durante a febre ocorre uma maior produção de<br />
anticorpos contra o agente infeccioso, como veremos a seguir.<br />
O “abaixar” febre representa diminuir em “plena<br />
batalha” e na iminência da vitória, os anticorpos responsáveis pela<br />
defesa do organismo. Representa, a meu ver, um rebote falso,<br />
uma agressão contra a homeostasia, que segundo o fisiologista<br />
norte-americano Walter Bradford Cannon é a “propriedade<br />
hereditária do ser vivo de perdurar no tempo, mantendo o<br />
equilíbrio morfológico e funcional das suas células e tecidos”. A<br />
52<br />
52
homeostasia por sua vez é mantida por outra propriedade<br />
hereditária que é auto–regulação.<br />
A auto – regulação se manifesta, por exemplo,<br />
quando a temperatura do ambiente é elevada, provocando uma<br />
dilatação dos capilares a fim de se eliminar calor do organismo.<br />
A homeostasia e a auto – regulação do<br />
organismo constituem os mecanismos de adaptação e<br />
compreensão do organismo aos diversos agentes externos,<br />
influindo assim não só na época da manifestação de uma<br />
moléstia, como também no modo de evolução e ação terapêutica<br />
(Maffei).<br />
A febre, bem como os sinais que a caracterizam,<br />
tais como sudorese, calafrios etc., fazem parte da tentativa do<br />
organismo de manter a sua homeostasia e auto – regulação frente<br />
à agressão e alteração que está sofrendo.<br />
A sudorese se processa através do mecanismo<br />
de vasodilatação, quando o organismo não necessita mais da<br />
febre para vencer o agente agressor.<br />
O calafrio, pelo contrário, representa uma<br />
tentativa do organismo, através da sua auto – regulação de<br />
manter o calor, pela vasoconstricção. Este mecanismo é de<br />
fundamental importância na defesa contra uma infecção viral,<br />
posto que é um dos únicos mecanismos próprios que o organismo<br />
dispõe contra a ação dos diferentes vírus que acometem o ser<br />
humano. Aliás, o Prof. Maffei cita que o organismo dispõe de um<br />
mecanismo natural que lhe confere uma imunidade contra os<br />
microorganismos existentes na atmosfera terrestre que, se<br />
somados, representam o próprio peso da terra.<br />
É atribuído a Hipócrates o seguinte aforisma:<br />
“Dá-me uma febre, que curarei qualquer doença”.<br />
Costuma-se dizer, em Medicina Organicista, que<br />
ninguém fica doente do que quer e sim do que pode, isto é, em<br />
53<br />
53
função de quais sejam os seus órgãos de menor resistência, ou<br />
seja, aqueles que nasceram mais fracos.<br />
Dentro deste raciocínio, a convulsão ocorre em<br />
quem tem tendência, e quando se tem tendência convulsiona-se<br />
com 37ºC.<br />
Sabe-se também que, à medida que o sistema<br />
nervoso atinge a sua maturidade, diminui a tendência à<br />
convulsão, tanto que é raríssimo um adulto convulsionar por<br />
febre.<br />
Existem alguns autores que acham que a<br />
convulsão que ocorre durante um processo infeccioso não ocorre<br />
em função da febre, e sim durante a própria infecção, por isso a<br />
inutilidade de se diminuir a febre.<br />
São famosos os casos do Prof. Maffei, quando<br />
provocava febre artificial em pacientes “desenganados”,<br />
principalmente os desnutridos, alcoolistas e crianças portadoras<br />
de moléstias infecciosas que cursam sem febre. Nestes casos,<br />
quando a febre ocorre, aumenta a chance de sobrevivência<br />
desses pacientes, caso contrário, evoluem sempre de forma fatal.<br />
Para tanto cito as suas palavras contidas no livro<br />
Os fundamentos da Medicina, p. 870, no parágrafo, “significação<br />
da febre”: “a febre, porém, constitui a reação dos mecanismos do<br />
organismo ao agente mórbido, pois o aumento da temperatura<br />
estimula a atividade fagocitária dos leucócitos e a produção de<br />
anticorpos, atestado pelo aumento das gamaglobulinas. O que<br />
está em relação com o aumento da destruição das toxinas<br />
bacterianas. De fato, nos indivíduos desnutridos, como acontece<br />
nos alcoolistas, as moléstias infecciosas evoluem sem febre e até<br />
com hipotermia e, por isso mesmo, são sempre fatais. São<br />
também graves as moléstias que em certos indivíduos evoluem<br />
com febre baixa, quando habitualmente deveriam ter febre<br />
elevada, demonstrando a precariedade dos seus mecanismos<br />
defensivos.<br />
54<br />
54
Por isso mesmo, diversas moléstias são tratadas<br />
provocando-se febre artificial, pela injeção de substâncias dotadas<br />
destas propriedades.<br />
Não obstante, se a febre for excessivamente<br />
elevada, acima de 40ºC, já passa a ser patológica, pois está<br />
indicando que os centros termorreguladores não conseguem mais<br />
controlar a temperatura do organismo, e então resultam<br />
alterações graves dos diversos órgãos e até a morte. Como a<br />
febre representa o descontrole do centro termorregulador do<br />
hipotálamo, não se deve dar banho no doente, principalmente<br />
quando se trata de criança, pois, devido à labilidade dos<br />
mecanismos da adaptação, nesses casos, pode resultar colapso e<br />
morte”.<br />
Se um organismo não faz febre diante de um<br />
agente infeccioso, e sabendo-se que a febre á a resultante do<br />
choque entre o microorganismo e os anticorpos, conforme a<br />
equação, por exemplo:<br />
bactéria x anticorpos = febre<br />
pode-se supor que, se este produto resulta igual a zero, pode-se<br />
também inferir que um dos produtos é igual a zero, ou seja, se for<br />
a bactéria igual a zero, fica:<br />
Ou o inverso:<br />
Bactéria zero x anticorpos = ausência de febre<br />
Bactéria x anticorpos zero = ausência de febre<br />
55<br />
55
Por isso que diante de um quadro de pneumonia,<br />
por exemplo, se existe o vírus ou a bactéria, por que não ter febre,<br />
já que existe o agente agressor?<br />
É porque existe uma baixa produção de<br />
anticorpos e o prognóstico quase sempre é ruim: daí o Prof.<br />
Maffei tentar provocar febre artificial nestes casos, numa tentativa<br />
de provocar, através da estimulação dos centros<br />
termorreguladores, uma produção maior de anticorpos.<br />
Como se vê, a Homeopatia não é contra o<br />
alopata, quando insiste que não deve diminuir a febre, porque<br />
este conhecimento transcede a própria Homeopatia, posto que<br />
pertence à Medicina, que como já vimos engloba a Homeopatia.<br />
De fato, na minha experiência ao longo dos anos<br />
de Homeopatia, nunca tive problemas em não “abaixar” a febre de<br />
meus pacientes, muito pelo contrário, só tive motivos de alegria,<br />
ao ver muitos casos rotulados como incuráveis serem resolvidos<br />
após um episódio febril.<br />
Devo ressaltar que apesar da citação de que a<br />
febre não deve ultrapassar 40ºC, já tive pacientes, inclusive meu<br />
próprio filho, em que isto ocorreu sem problema algum para eles.<br />
É muito importante se atentar para uma eventual<br />
indústria da febre, se assim não fora, não caberia a<br />
recomendação do Instituto de Pesos e Medidas de se comprar<br />
somente termômetros de determinadas marcas idôneas, conforme<br />
artigo publicado no jornal Folha de São Paulo , do dia 20 de<br />
outubro de 1989, que noticia a apreensão de vários lotes de<br />
termômetros que marcavam para mais, levando as pessoas a<br />
ficarem preocupadas. Será que não existe um esquema montado<br />
para aumentar o consumo de antitérmicos?<br />
Segundo Maffei, “... as crises que se manifestam<br />
por ocasião de uma moléstia infecciosa ou intoxicação, fato este<br />
que se verifica em certas crianças, sendo então atribuídas à febre<br />
e, por isso, comumente designadas convulsões febris, conforme<br />
se vê, as convulsões, nesses casos, são consideradas como<br />
56<br />
56
sintoma da moléstia, mas, na realidade, trata-se de heterozigotos<br />
epilépticos e a infecção é apenas o desencadeante das crises”.<br />
É de fundamental importância que os estudantes<br />
de Medicina reflitam sobre o que foi escrito e passem a encarar a<br />
febre segundo as suas próprias conclusões, e não como querem<br />
as indústrias farmacêuticas!<br />
XVI<br />
AS DIVERSAS LINHAS DO TRATAMENTO<br />
HOMEOPÁTICO<br />
Homeopatia.<br />
Existem muitas correntes dentro da própria<br />
Há os que defendem o uso de medicamento<br />
único. São os chamados unicistas, que apregoam que um único<br />
medicamento pode curar todos os males.<br />
Existem os alternistas, que como o próprio nome<br />
diz alteram os medicamentos, isto é, administra-se primeiramente<br />
uma substância para depois, alternadamente, fornecer um outro<br />
medicamento.<br />
Particularmente, acho que medicamentos devem<br />
ser administrados um de cada vez. Porque, como saber qual o<br />
medicamento que surtiu efeito e, eventualmente, aumentar-lhe a<br />
potência aumentando o seu efeito no sentido de consolidar a cura.<br />
Não é de bom alvitre usar potências elevadas<br />
indiscriminadamente.<br />
O Dr. Arthur de Almeida Rezende Filho, numa de<br />
suas palestras a que assisti, diz o que o homeopata não deixa de<br />
ser um unicista se usar um medicamento de cada vez, mesmo<br />
que tenha que complementá-lo com um outro.<br />
57<br />
57
Com relação às potências, existem aqueles que<br />
as usam de forma elevada, são os altistas e há aqueles que as<br />
usam de forma baixa, são os baixistas.<br />
De um modo geral considera-se potência baixa<br />
aquela que vai até 12ª centesimal, mas alguns homeopatas<br />
acham que a 30ª centesimal ainda pode ser considerada baixa.<br />
Entretanto existe um consenso de que 30ª<br />
centesimal é considerada uma potência média.<br />
A partir de 200ª centesimal, considera-se<br />
potência elevada.<br />
As potências baixas são mais usadas quando<br />
quer se curar a parte física; já as elevadas, usa-se, mais<br />
comumente, para tratar de sintomas mentais.<br />
Isto não quer dizer que as potências baixas não<br />
melhorem os sintomas mentais.<br />
Em crianças as potências baixas agem muito<br />
favoravelmente nos sintomas mentais, tais como: medos, terror<br />
noturno, sonambulismo, briquismo (ranger os dentes), roer unhas<br />
etc.<br />
O próprio Hahnemann recomenda começar com<br />
potências baixas.<br />
Tenho visto, principalmente técnicos em<br />
farmácia, leigos que não tiveram formação homeopática, como<br />
um farmacêutico que cursou Faculdade de Farmácia e pósgraduação<br />
em Homeopatia, receitarem potências elevadíssimas,<br />
como a dez mil centesimal, como se fossem água, aos pacientes.<br />
Isso cabe a um médico com formação<br />
homeopática fazê-lo, mesmo assim após criterioso exame do<br />
paciente.<br />
58<br />
58
O medicamento homeopático não é de todo<br />
inócuo. Pode-se produzir sintomas mentais no paciente, que só<br />
um homeopata experiente pode reverter.<br />
Assisti recentemente um curso proferido pelo Dr.<br />
Mikail Antouniuk que preconiza o uso de medicamentos<br />
“menores”, que, junto com os grandes medicamentos<br />
(policrestos), agiriam como drenadores de toxinas do organismo,<br />
indo muito de encontro com o pensamento da escola francesa.<br />
Convém não radicalizar posições que só serviria<br />
para desunir os homeopatas, bem do interesse de multinacionais<br />
da doença.<br />
XVII<br />
LEI DE CURA – LEI DE HERING<br />
Antes de abordarmos este capítulo, convém<br />
elucidarmos que segundo a eminente Profª. Anna Kossak o termo<br />
Lei é inadequado, posto que na realidade o correto seria<br />
fenômeno de Hering.<br />
Existe um conceito em Homeopatia que diz: “O<br />
que ficou mal curado ou suprimido pode voltar”. É a chamada<br />
“volta dos sintomas antigos”.<br />
Hering, médico homeopata, enunciou que esta<br />
volta de sintomas antigos se faz da seguinte maneira: “de dentro<br />
para fora, de cima para baixo e na ordem inversa do seu<br />
aparecimento”.<br />
É importante ressaltar que Hering, um alopata<br />
brilhante, foi escolhido para desbancar a Homeopatia, entretanto,<br />
após estudá-la e compreendê-la, não só tornou-se homeopata,<br />
como observou uma lei que tomou seu nome.<br />
É clássica, em Pediatria, a alternância entre<br />
eczema e asma brônquica, isto é, diante de um eczema atópico é<br />
59<br />
59
comum usar pomadas que fazem desaparecer a lesão,<br />
aparecendo imediatamente uma crise de asma brônquica, que<br />
desaparece quando reaparece o eczema.<br />
Neste mesmo caso, se não reaparecesse o<br />
eczema, poderia até ocorrer uma pneumonia e confusão mental,<br />
por exemplo.<br />
Se diante desta eventual pneumonia o paciente<br />
fosse medicado corretamente, a cura deveria ocorrer da seguinte<br />
forma:<br />
esquema:<br />
- de dentro para fora: cura-se primeiro a<br />
pneumonia<br />
- de cima para baixo: melhora a confusão<br />
mental<br />
- na ordem inversa do aparecimento dos<br />
sintomas – ou seja, cura-se a pneumonia,<br />
reaparece a asma brônquica e, finalmente, o<br />
eczema.<br />
É como se descesse uma escada, conforme o<br />
Eczema Supressão<br />
Asma<br />
Pneumonia<br />
Eczema Volta de sintomas<br />
60<br />
Asma<br />
Pneumonia<br />
60
Por isso que em Homeopatia se respeita muito<br />
as tentativas do organismo em se exonerar aquilo que lhe faz mal.<br />
É o organismo que faz a doença, tentando<br />
resolver os seus problemas.<br />
Portanto, quando se cessa uma coriza, uma<br />
diarréia ou se suprime lesões de pelo está-se interiorizando o<br />
processo, deslocando-o para outros órgãos, quase sempre os de<br />
menor resistência.<br />
XVIII<br />
MEDICAMENTOS COMPLEMENTARES<br />
Existem grupos de medicamentos homeopáticos<br />
que se completam entre si, segundo suas características físicoquímicas<br />
que se enquadram no grupo de Boyd.<br />
Boyd, segundo as características físico–químicas<br />
das substâncias, elaborou doze grupos de medicamentos que são<br />
utilizados complementarmente. No geral, quando se exaurem os<br />
efeitos de um elemento desse grupo, pode se entrar num outro<br />
medicamento desse mesmo grupo, desde que cumpra a lei das<br />
semelhanças.<br />
Por exemplo, quando se esgotaram os efeitos de<br />
Aconitum napellus, pode-se utilizar o medicamento Bromium, que<br />
pertence ao mesmo grupo.<br />
Existem outros medicamentos homeopáticos que<br />
não pertencem ao mesmo grupo de Boyd e que são<br />
complementares entre si, como o Arsenicum album e o<br />
Phosphorus , por exemplo.<br />
61<br />
61
XIX<br />
CONCEITO FALSO: A <strong>HOMEOPATIA</strong> NÃO É<br />
LENTA<br />
O tratamento pode ser considerado lento<br />
somente naqueles casos crônicos, que a própria Alopatia<br />
considera como incuráveis, como: artroses e outras doenças<br />
degenerativas como o mioma uterino.<br />
Já nos casos agudos, como amigdalites,<br />
vômitos, diarréia etc., o tratamento homeopático pode ser<br />
extremamente rápido.<br />
No caso de pneumonias a cura clínica e<br />
radiológica é tão, ou, mais rápida que a própria alopatia.<br />
Entretanto, na vigência de uma meningite<br />
bacteriana a antiobioticoterapia torna-se imprescindível, mesmo<br />
porque nestes casos não se tem experiência com a homeopatia.<br />
Há que haver bom senso!<br />
XX<br />
PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO<br />
Hipócrates já defendia a noção de uma unidade<br />
mórbida: “A natureza de todas as doenças é a mesma. Difere<br />
apenas quanto à sua sede. A essência é uma: a causa que as<br />
determina é também uma ... O que é importante não é tanto<br />
enumerar e separar cada doença, por mais que se ache que ela<br />
difira um pouco das outras, mas imaginar que as doenças são<br />
sempre, essencialmente, as mesmas, ainda que tenham nomes<br />
diferentes”.<br />
A Energia Vital permeia todo o organismo, e é<br />
essa energia vital que primeiro adoece. Hipócrates admite um<br />
princípio vital, que ele denomina natureza, força e essência<br />
ignorada, que se manifesta nas funções de todos os órgãos ...<br />
62<br />
62
Energia Vital.<br />
O medicamento homeopático age sobre essa<br />
Por isso, quando se administra um medicamento<br />
homeopático, este promove a cura global do indivíduo.<br />
Existem várias teorias atuais que vão desde a<br />
presença da substância diluída no seio do veículo hidroalcoólico<br />
até a presença de receptores celulares ultra-sensíveis que<br />
interagirão com o medicamento homeopático, mesmo em doses<br />
infinitesimais, que atuam, provavelmente, nas estruturas do<br />
Hipotálamo.<br />
XXI<br />
A <strong>HOMEOPATIA</strong> PODE SER USADA<br />
PREVENTIVAMENTE?<br />
Tal assunto é muito controvertido, mesmo entre<br />
próprios médicos homeopatas.<br />
Mas, apenas para ilustrar o assunto, citamos<br />
uma experiência com o medicamento homeopático administrado<br />
profilaticamente pelo Dr. David Castro e Dr. George W. Galvão<br />
Nogueira.<br />
Na cidade de Guaratinguetá, quando da<br />
ocorrência da epidemia de meningite, em agosto de 1974,<br />
segundo os dados estatísticos, houve uma incidência<br />
consideravelmente menor da meningite meningocócica no grupo<br />
tratado preventivamente com o medicamento homeopático.<br />
Este fato deveria ser levado em consideração e<br />
ser melhor pesquisado na área de saúde pública, principalmente<br />
pelos médicos sanitaristas.<br />
63<br />
63
XXII<br />
A <strong>HOMEOPATIA</strong> CURA TUDO?<br />
Seria muita pretensão que um único método<br />
terapêutico curasse todas as enfermidades.<br />
A saúde decorre de uma série de fatores como:<br />
ambientais, alimentares, de uma vida não - sedentária, do<br />
descanso, da higiene mental etc.<br />
A homeopatia contribui de uma forma<br />
significativa para a obtenção e manutenção da saúde, mas ela<br />
não é única.<br />
Não se pode prescindir da cirurgia quando for<br />
necessária. O que é cirúrgico deve ser tratado cirurgicamente.<br />
Existem algumas enfermidades que, na minha<br />
experiência, só são passíveis de tratamento alopático.<br />
faz necessária?<br />
Quantas vezes a ajuda de um psicoterapeuta se<br />
Nos traumas pós – acidentes, por exemplo, a<br />
ortopedia, a microcirurgia, a neucocirurgia, fazem verdadeiros<br />
milagres.<br />
As chamadas terapias alternativas são<br />
excelentes coadjuvantes da Homeopatia.<br />
Não há que se radicalizar e gerar confusão nas<br />
pessoas. Tudo depende da indicação exata do tratamento, pois<br />
assim procedendo, da mesma forma que refutamos Voltaire,<br />
podemos contestar a frase de Molière (1622-1673): “O médico<br />
tem a sorte do Sol iluminá-lo e a Terra ocultar-lhe os erros”.<br />
Como dizia Charrette: “Digo que a Homeopatia é<br />
uma terapêutica e não toda a terapêutica”.<br />
64<br />
64
XXIII<br />
<strong>HOMEOPATIA</strong>: A IMPORTÂNCIA DE<br />
OBSERVAR-S A SI PRÓPRIO<br />
É muito comum, no consultório, o paciente<br />
estranhar determinadas perguntas que lhe fazem os homeopatas.<br />
Perguntam-nos o que certos medos, como medo<br />
de tempestades, de escuro, de ficar sozinho, ou desejos<br />
alimentares, tais como de doces, de ovos, leite ou posição de<br />
sono etc., têm a ver com a sua enfermidade.<br />
É que mesmo diante de um mesmo diagnóstico,<br />
como, por exemplo, mioma ou fibroma uterino, cada um tem um<br />
modo de adoecer.<br />
Não é somente o órgão que está doente, e sim o<br />
paciente como um todo. Mesmo uma simples lesão de pele<br />
significa que algo não vai bem no organismo e que ele tenta<br />
eliminar pela pele as substâncias tóxicas que o estão<br />
sobrecarregando.<br />
Esta forma individual de se enfermar se<br />
manifesta primeiramente através de mudanças de sono, hábitos<br />
alimentares, sexuais etc.<br />
Com o tempo, o paciente aprende a se observar<br />
e notar as mudanças que estão ocorrendo em si próprio.<br />
Através do diagnóstico e das mudanças que<br />
ocorreram no indivíduo, o homeopata tem condições de eleger o<br />
medicamento correto ou o medicamento simillimum que deverá<br />
melhorar desde “uma unha encravada, até o fio de cabelo”.<br />
Principalmente levando-se em consideração os<br />
fatos que marcaram a vida do paciente, tais como: perda de<br />
emprego, de dinheiro, desprezo, honra ferida etc.<br />
65<br />
65
Na mulher, por exemplo, a menstruação é de<br />
grande valia para a escolha do medicamento, isto é, se tem cólica<br />
ou se muda de humor antes, durante e depois da menstruação.<br />
A síndrome pré – menstrual fala a favor de<br />
alguns medicamentos que, sendo administrados, podem melhorar<br />
estes sintomas com uma boa margem de êxito.<br />
Há autores que acham que pelas características<br />
da menstruação pode-se fechar o diagnóstico do medicamento<br />
homeopático.<br />
Daí a importância de observar-se a si próprio.<br />
XXIV<br />
A ALIMENTAÇÃO CORRETA AJUNDA NO<br />
TRATAMENTO HOMEOPÁTICO?<br />
Hahnemann, no seu Organon da Arte de Curar,<br />
no artigo 244, dá ênfase à nutrição quando diz: “... contudo, o<br />
homem pode em sua mocidade habituar-se mesmo a lugares<br />
pantanosos e conservar-se em perfeita saúde, desde que<br />
mantenha um regime impecável e seu organismo não se submeta<br />
à subnutrição.<br />
Isto não quer dizer que a pessoa deveria adotar<br />
esta ou aquela técnica de alimentação, isto é foro íntimo de cada<br />
um, mas, sem dúvida, deveria ingerir alimentos que pelo menos<br />
contivessem os nutrientes indispensáveis ao funcionamento e<br />
manutenção do organismo.<br />
Não existe uma dieta “standard ideal”, o que<br />
existe são aproximações do real. Cumpre ao médico orientar o<br />
seu paciente no sentido de fazer uma dieta o mais próximo do<br />
ideal.<br />
Para tanto, deve ensinar ao paciente:<br />
66<br />
66
- o que comer,<br />
- quanto comer,<br />
- quando comer,<br />
- como comer,<br />
- como combinar os alimentos.<br />
De um modo geral, os alimentos dever ser puros,<br />
frescos e integrais, e creiam, isto não é difícil nem desagradável.<br />
Finalizamos este capítulo com as palavras de<br />
uma pessoa que deve ser considerada, no mínimo, genial: “o<br />
médico do futuro não receitará remédios e, sim, orientará os seus<br />
pacientes numa dieta saudável”(Thomaz Alva Edson).<br />
Penso que a frase acima não deve ser tomada<br />
como uma verdade única, entretanto, é muito importante que se<br />
atente para uma alimentação saudável com fonte de preservação<br />
da saúde, contudo, Hipócrates diz nos seus Aforismas que uma<br />
dieta excessivamente rigorosa é prejudicial à saúde. Ele mesmo<br />
diz que “em matéria de alimento nada faz mal, nada faz bem,<br />
depende da quantidade”. Já Lucrécio diz que “a mesma carne que<br />
alimenta um homem pode envenenar um outro”, isto é, deve-se<br />
evitar o que faz mal e comer o resto com moderação.<br />
XXV<br />
OS CANAIS DE ELIMINAÇÃO DE TOXINAS<br />
Existem cinco canais de eliminação de toxinas<br />
pelos quais o organismo preferencialmente exonera as toxinas,<br />
quais sejam: pele, aparelho respiratório, aparelho urinário,<br />
sistema linfático e intestino grosso.<br />
Toda vez que existe uma sobrecarga tóxica, o<br />
organismo drena estas toxinas do seguinte modo:<br />
Pele: através de toda sorte de lesões, como: eczemas, vesículas,<br />
pústulas, pruridos etc. Na medicina chinesa, desde cinco mil anos<br />
atrás, se preconizava usar agulhas de acupuntura, a fim de se<br />
transformar a dor em “coceira”(prurido de pele).<br />
67<br />
67
Aparelho respiratório: através da eliminação de catarro (muco) ,<br />
aumento de freqüência respiratória etc.<br />
Aparelho urinário: através da eliminação de uma maior quantidade<br />
de urina ( diurese) , de sais minerais, corpos cetônicos etc.<br />
Sistema linfático: representado pelo baço, gânglios (linfáticos),<br />
eliminando as grandes moléculas da circulação sangüínea. Há<br />
autores que não consideram o sistema linfático como um canal de<br />
eliminação.<br />
Intestino grosso: através da diarréia, fezes mucosas etc.<br />
Como dissemos anteriormente, convém respeitar<br />
estas drenagens, desde que, logicamente, não estejam colocando<br />
em risco a vida do paciente.<br />
XXVI<br />
A SEGUNDA PRESCRIÇÃO<br />
O médico só pode avaliar se o tratamento deu<br />
certo na Segunda consulta, quando ele decide se mantém o<br />
medicamento ou se o troca.<br />
Com o médico homeopata não é diferente.<br />
Pode ocorrer que numa primeira consulta não se<br />
consiga chegar ao medicamento “simillimum”, porém, pode-se<br />
fazê-lo nas consultas posteriores.<br />
A segunda prescrição é, sem dúvida alguma,<br />
mais complexa que a primeira, porque é onde o homeopata deve<br />
usar todo o seu conhecimento para saber que conduta tomar, isto<br />
é, se muda ou não o medicamento e, na eventualidade de fazê-lo,<br />
tentar trabalhar corretamente com a potência seguinte.<br />
68<br />
68
Tal procedimento ocorre em função das<br />
alterações que se processaram no paciente após a administração<br />
do medicamento, que em geral são muito complexas e, mesmo ,<br />
às vezes muito sutis.<br />
XXVII<br />
A INÉRCIA DOS HOMEOPATAS<br />
Voltando ao assunto Homeopatia versus<br />
Alopatia, penso que os homeopatas detêm a maior parcela de<br />
culpa neste sentido. Porque os alopatas, radicais pelo seu modo<br />
exclusivamente cartesiano de pensar, não conhecem a ciência e<br />
arte de se tratar pelos semelhantes, por nossa culpa,<br />
exclusivamente nossa culpa, pois poderíamos satisfazer a lógica<br />
cartesiana dos referidos colegas, apresentando trabalhos<br />
científicos não só nos congressos e jornadas homeopáticas, como<br />
também nos de Alopatia.<br />
Quem pode de sã consciência, por exemplo,<br />
refutar as curas de doentes, comprováveis por RX, ultrassom,<br />
exames de laboratórios, antes, durante e depois do tratamento<br />
homeopático?<br />
Isto sem contar os depoimentos de pacientes<br />
sobre a cura de doenças psíquicas e funcionais, que não deixam<br />
de ser um documento científico. Numa das primeiras aulas que<br />
tive no curso de Homeopatia, o Dr. Betarello apresentou alguns<br />
exames laboratoriais de função hepática que viraram ou se<br />
normalizaram de uma forma tão rápida que, de início, quase<br />
ninguém acreditou no que via.<br />
Após, no dia – a - dia de consultório<br />
homeopático, pudemos constatar que este fato ocorre com uma<br />
freqüência muito grande, que deveria ser divulgada aos quatro<br />
cantos do mundo científico, muito embora exista todo um trabalho<br />
contrário, por parte dos laboratórios, utilizando recursos de<br />
marketing até com apelos sexuais para, em atuando no<br />
subconsciente do médico, tornar agradável o produto ao<br />
69<br />
69
profissional, que deve e tem obrigação de conhecer as<br />
propriedades farmacológicas das substâncias em questão.<br />
Lembro de um congresso, quando ainda era<br />
estudante, em que o Prof. Maffei, que para mim é um dos maiores<br />
pilares da Medicina e também não é homeopata, disse que<br />
seríamos um bando de cordeiros, caso não atentássemos para o<br />
fato dessa pressão que os laboratórios exercem sobre os<br />
médicos, promovendo congressos, dando brindes, amostra grátis<br />
etc., ditando normas de como os médicos devem proceder.<br />
Talvez a única pecha que os homeopatas não<br />
têm que carregar é a de ser cordeiros, de se submeter a esta<br />
massificação imposta pelas multinacionais.<br />
XXVIII<br />
OS SINTOMAS PSÍQUICOS<br />
Como pode ser visto no capítulo “O<br />
medicamento homeopático”, a escolha do simillimum sempre<br />
ocorre em função da totalidade dos sintomas que o paciente<br />
apresenta, sejam eles físicos ou psíquicos.<br />
A escola francesa opta, por exemplo, pelos<br />
sintomas físicos.<br />
Porém, existem escolas que preconizam a<br />
utilização dos sintomas psíquicos como melhor forma de escolher<br />
o medicamento, uma vez que psiquismo é a parte mais nobre do<br />
ser humano e que, antes mesmo que a doença se estabeleça de<br />
uma forma anátomo–patológica, o organismo já começa a dar<br />
sinais de que algo não vai bem com ele, através de mudanças<br />
psíquicas que ocorrem, tais como: alterações de sexualidade,<br />
medos, alterações de sono, mudança de hábitos, etc.<br />
Os sintomas psíquicos são importantes,<br />
principalmente os fatos que marcaram a vida do indivíduo, como<br />
morte de entes queridos, grandes humilhações, sustos,<br />
70<br />
70
desprezos, mágoas etc. caracterizando a História Biopatográfica<br />
(bio = vida; pathos = doenças; graphos = marcar), ou seja, os<br />
episódios que deixaram marcar indeléveis na vida das pessoas,<br />
fazendo-as enfermar-se.<br />
Como já dissemos em algum capítulo deste livro,<br />
Hahnemann não foi somente o precursor da Medicina<br />
Experimental antes mesmo de Claude Bernard, como também é o<br />
precursor da Medicina Psicossomática, na medida em que<br />
valoriza muito os acontecimentos psíquicos na gênese das<br />
doenças.<br />
Particularmente, na escolha do medicamento,<br />
utilizo de preferência os sintomas psíquicos como sintomas<br />
diretores ou mais importantes, acrescidos de físicos, para no<br />
processo de exclusão da repertorização chegar àquele que cubra<br />
todas e as mais importantes características do paciente.<br />
XXIX<br />
MEDICINA AGRESSIVA<br />
O preceito de Hipócrates, “Primum non<br />
nocerum”, isto é, primeiro não lesar, ou primeiro não fazer mal, é<br />
para mim o mais importante de todos os seus axiomas.<br />
Foi baseado neste princípio que Hahnemann<br />
criou a Homeopatia, porque sempre se posicionou contra a<br />
medicina agressiva e pesada que se praticava na época, onde se<br />
aplicavam sangrias absurdas, sanguessugas etc.<br />
Um exemplo clássico deste fato foi o de George<br />
Washington. Após sentir fortes dores de garganta, foi chamado<br />
um médico que lhe fez uma sangria na veia femoral, tirando-lhe<br />
aproximadamente meio litro de sangue. Como a dor não passava,<br />
outro médico foi solicitado, o qual procedeu uma nova sangria,<br />
agora na veia umeral, subtraindo-lhe mais meio litro de sangue.<br />
Tal procedimento, entretanto, não surtiu efeito, então mais dois<br />
médicos foram chamados, e, fazendo uma punção na veia jugular,<br />
retiraram-lhe aproximadamente mais 1 litro de sangue e<br />
administraram-lhe calomelano.<br />
71<br />
71
Sabemos que o corpo humano tem em torno de<br />
5 litros de sangue.<br />
Como resultado final a dor passou de forma<br />
efetiva, só que George Washington veio falecer no dia 14 de<br />
dezembro de 1779 por hipovolemia, ou seja, perda acentuada de<br />
sangue. Foi este o tratamento que recebeu o mais ilustre cidadão<br />
americano, donde podemos concluir que este era o melhor<br />
tratamento da época.<br />
Este é um exemplo que não se pode deixar de<br />
dar, para mostrar o quão a medicina foi agressiva, justificando até<br />
um dizer de que a medicina caminhou sobre milhões de<br />
cadáveres, inclusive o do mais ilustre cidadão americano.<br />
Transcrevemos o texto do Prof. Elisaldo Luiz de<br />
Araújo Carlini, Professor de Psicobiologia.<br />
“Além destas sangrias o uso do Calomelano era<br />
obrigatório para quase tudo. E a posologia era pródiga: devia ser<br />
aumentar a dose até que o paciente salivasse profusamente, o<br />
que sabemos, hoje, ser o primeiro sinal de envenenamento pelo<br />
cloreto de mercúrio. No caso do doente escapar a esta<br />
terapêutica não era incomum posteriormente perder os dentes e<br />
os cabelos por causa deste envenenamento. Tinha, assim, muito<br />
sentido a famosa frase “Morreu curado”.<br />
Há não muito tempo atrás, quantas cirurgias de<br />
apêndice (apendicectomia) foram realizadas para se curar todos<br />
os males existentes na face da Terra, tais como: asma, bronquite<br />
etc.<br />
Criou-se posteriormente a crença de que o<br />
apêndice cecal é um órgão inútil, como se a natureza fizesse algo<br />
sem valor para a economia do organismo, pois trata-se de um<br />
órgão linfóide responsável pela defesa do intestino, que parece<br />
proteger contra o câncer intestinal.<br />
72<br />
72
Isto sem falar das cirurgias de amígdalas<br />
(amigdalectomia) que foram realizadas num número sem fim, com<br />
a finalidade de se prevenir a febre reumática.<br />
Hoje existe o consenso de que a amigdalectomia<br />
não previne a febre reumática, podendo às vezes até<br />
desencadeá-la, porque as amígdalas são os órgãos destinados a<br />
proteger as vias aéreas superiores. Nada no organismo e na<br />
natureza existe por acaso.<br />
As famigeradas gastrectomias que amputavam<br />
¾ do estômago são um atestado desta prática agressiva, quando<br />
sabemos que a úlcera duodenal é uma doença eminentemente<br />
psicossomática, e se não auxiliarmos o paciente neste sentido, de<br />
nada vai valer qualquer tratamento.<br />
Volto a insistir que “Primum non nocerum” é o<br />
primeiro e maior mandamento de Hipócrates.<br />
Outro fator favorável à Homeopatia é que ela<br />
tem leis fixas que orientam o tratamento, não mudando<br />
constantemente, como, por exemplo, a Atropia, que foi usada<br />
como pancreatite aguda, sendo proscrita e posteriormente usada<br />
no tratamento desta mesma moléstia.<br />
O que não dizer da Talidomia, que acarretou<br />
tantos problemas congênitos, e dos remédios proscritos e<br />
condenados em outros países e que ainda continuam em uso no<br />
nosso país.<br />
Quero dizer que não é a medicina que é<br />
agressiva e sim algumas formas terapêuticas existentes.<br />
Tenho um colega amigo médico que diz : “o que<br />
não é tratado com antibiótico ou com corticóide é tratado,<br />
somente, com cirurgia, caso contrário não tem cura”.<br />
Ledo engano, porque a Homeopatia vem<br />
preencher este imenso vazio que resta na terapêutica clássica.<br />
Ela cura muita doença tratável com antibiótico, corticóide e<br />
73<br />
73
mesmo através da cirurgia, de uma forma rápida, suave e<br />
duradoura.<br />
O que dizer do uso de remédios proibidos em<br />
outros países, condenados pela Organização Mundial de Saúde<br />
(OMS) pelos seus efeitos indesejáveis quando usados<br />
indiscriminadamente, devido a um sistema econômico – político<br />
desumano e não aos medicamentos propriamente ditos, que,<br />
muitas vezes eficazes, minoram a dor, o sofrimento humano,<br />
porém, quando mal utilizados, podem provocar reações tóxicas<br />
indesejáveis.<br />
Cresce cada vez mais o número de crianças que<br />
fazem uso de calmantes, predispondo, com certeza, este mesmo<br />
pacientinho, a se tornar um dependente de droga no futuro.<br />
repensado?<br />
Isto tudo não deveria ser reavaliado e<br />
XXX<br />
OS DIAGNÓSTICOS EM <strong>HOMEOPATIA</strong><br />
O homeopata, antes de mais nada, é um médico,<br />
devendo, portanto, tentar proceder ao diagnóstico etiológico, ou<br />
seja, o que é a doença, qual a sua causa e conseqüência, isto é,<br />
deve estabelecer o diagnóstico clínico.<br />
Entretanto, além do diagnóstico supracitado,<br />
deve e precisa fazer os diagnósticos individuais, biopatográfico,<br />
medicamentoso e da potência do referido medicamento.<br />
Para tentar uma melhor compreensão,<br />
exporemos resumidamente, no quadro sinóptico abaixo, os<br />
diagnósticos supracitados:<br />
1. Clínico – o que é? causa?<br />
conseqüência?<br />
74<br />
74
2. Individual representado por exemplo, por sonhos, relação<br />
Familiar, desejos, aversões, irritabilidade etc<br />
3. Biopatográfico ou Constituicional, onde se levam em<br />
consideração os fatos que marcaram a vida do indivíduo (bio =<br />
vida; pathos= doença; graphos = marcar), desde a infância até<br />
agora, como vivências, experiências, sentimentos de culpa,<br />
remorso, vacinações, humilhações, morte de entes queridos,<br />
mágoas, sustos etc.<br />
4. Medicamentoso, que deve ser realizado após minuciosa<br />
análise dos demais diagnósticos acima. Além de se escolher o<br />
medicamento, deve-se também optar pela potência mais<br />
adequada para cada caso.<br />
Prognóstico: Após proceder aos diagnósticos<br />
acima, deve saber o médico, segundo a sua experiência, se o<br />
paciente vai se curar totalmente, ou apenas parcialmente, ou,<br />
mesmo, se vai ocorrer óbito do doente.<br />
XXXI<br />
FALSOS HOMEOPATAS<br />
Em todas as raças, povos, religiões, idades etc.,<br />
existem os bons e os maus profissionais. O mesmo ocorre na<br />
Homeopatia.<br />
O que temos observado é que existem alguns<br />
colegas que intitulam homeopatas e administram toda uma gama<br />
de remédios alopáticos, na maioria das vezes numa quantidade<br />
maior do que um alopata consciencioso e de bom nível receitaria,<br />
e acrescenta, alhures, um medicamento homeopático juntamente<br />
aos demais para dar aparência de tratamento homeopático.<br />
Não temos nada contra a terapia alopática, muito<br />
pelo contrário, temos convicção de que ela tem um lugar muito<br />
75<br />
75
em definido e importante no tratamento do ser humano, sendo,<br />
mesmo, imprescindível em alguns casos.<br />
Como sabemos, não existe impedimento de se<br />
tratar, simultaneamente, pacientes com terapia alopática e<br />
homeopática, como no caso de pacientes que fazem uso de<br />
anticonvulsivantes, devido a epilepsias severas; digitálicos, devido<br />
a insuficiências cardíacas graves; insulina, devido à diabetes<br />
juvenil etc.<br />
Existem pacientes que utilizam há muitos anos<br />
calmantes e antidepressivos, caso em que não os retiro de pronto,<br />
fazendo um esquema lento e gradual de supressão desses<br />
remédios, quando possível.<br />
Vejamos se não é lógico tratarmos uma criança<br />
com quadro convulsivo severo, que toma anticonvulsivantes, com<br />
Homeopatia, quando a sua queixa principal é a de amigdalites de<br />
repetição.<br />
O homeopata, nestes casos, deve manter um<br />
intercâmbio com o colega especialista que também trata da<br />
criança.<br />
Isso não exclui o fato de podermos retirar um<br />
anticonvulsivante, quando o paciente não apresenta convulsões, e<br />
onde se observa que o que está sendo tratado é, tão-somente, o<br />
eletroencefalograma e não o paciente; nestes casos, a clínica é<br />
soberana.<br />
Se fizermos um eletroencefalograma (EEG) na<br />
população, ficaremos surpresos, pois grande parte desta<br />
população apresentará alterações no EEG, sem manifestações<br />
clínicas.<br />
Porém, outro cuidado que se tem de tomar é<br />
com relação aos chamados “tratamentos homeopáticos” para<br />
regimes de emagrecimento, onde, invariavelmente, o profissional<br />
receita uma quantidade de anorexígenos numa dosagem maior,<br />
até mesmo, que os remédios controlados e acrescenta alguns<br />
76<br />
76
fitoterápicos (remédios à base de ervas) e alguns homeopáticos<br />
para dar caráter de tratamento natural.<br />
Estes remédios atuam no hipotálamo, onde<br />
estão os centros da fome, sede, sexualidade, pressão arterial,<br />
promovendo desequilíbrios hormonais importantes.<br />
Por isso, é fundamental ficarmos alertas a esses<br />
profissionais que não são nem um bom homeopata e, muito<br />
menos, um bom alopata.<br />
XXXII<br />
NOSÓDIOS<br />
Os nosódios são medicamentos homeopáticos<br />
preparados com vírus, bactérias, secreções mórbidas, não sendo,<br />
portanto, considerados vacinas.<br />
A solução é levada à maior semelhança possível<br />
caracterizando a Isopatia.<br />
Pode ser usado segundo a lei da semelhança ou na vigência do<br />
processo mórbido específico. Por exemplo, recebi um telefonema<br />
de uma colega pediatra homeopata, dizendo que vacinou o seu<br />
sobrinho com a vacina contra o sarampo e que ele estava<br />
apresentando febre alta em decorrência da vacinação, tendo já<br />
dado um simillimum que não resolveu o caso.<br />
Sugeri que lhe administrasse o nosódio<br />
Morbilinium, feito com o próprio vírus do sarampo. O resultado foi<br />
imediato. A criança melhorou de pronto.<br />
O nosódio nunca deve ser usado como primeiro<br />
recurso, guardando-se a sua utilização para quando se esgotam<br />
os recursos do medicamento similimum.<br />
São usados também nos miasmas, cuja<br />
explanação está contida no capítulo que leva este título.<br />
77<br />
77
Outra forma de utilização dos nosódios é na<br />
imunização das crianças ou para combater os maus efeitos das<br />
vacinações, conforme sugere o Dr. David de Castro, fato que<br />
deveria estudado pelas autoridades sanitárias para se comprovar<br />
ou não a veracidade da proposta.<br />
Ainda, a respeito das imunizações na infância o<br />
Dr. David Castro, no seu livro Homeopatia e Profilaxia preconiza:<br />
“A seguir, os nosódios a serem empregados, na<br />
ordem cronológica, com a potência mais indicada e a dose a ser<br />
utilizada:<br />
1. Tuberculinas – T. Koch C 200<br />
Bacillinum C 30 e C 200 e outros, 2 gotas em 10 ml de água<br />
destilada, de uma só vez, ao deitar, longe das refeições, ou pela<br />
manhã, 15 minutos antes da primeira mamada.<br />
2. Diphiterinum – C 30 ou C 200 ou Diphtero Toxinum C30 ou<br />
C200 (Difteria).<br />
3. Coqueluchinum ou Pertussinum – C30 ou C 200 (<br />
Coqueluche)<br />
4. Poliovac – C30 (Poliomelite)<br />
O intervalo nas doses pode ser de uma semana a 15 dias, nas<br />
dosagens acima referidas, com início no primeiro mês de vida.<br />
Após virão:<br />
5. Variolinum C30 ou C 200 – não temos experiência porque até<br />
agora era a vacina obrigatória no Brasil , estando para<br />
terminar em virtude da erradicação da moléstia.<br />
6. Tetano toxinum – C30 e C200 (Tétano).<br />
7. Parotidinum – C30 ou C200 ( Paratidite infecciosa)<br />
78<br />
78
8. Meningococcinum A C. – C30 ou C200 (Meningite<br />
menigococcica). Veja-se o interessante trabalho de<br />
imunização em massa contra a moléstia, realizada pelos Drs.<br />
G. W. Galvão Nogueira e Prof. José Barros da Silva, em 1974,<br />
publicado na Revista Similia – 1975 – Rio.<br />
9. Eberthinum – C30 ou C200 ( Febre tifóide)<br />
10. Rubéola – C30 “.<br />
Tal esquema merece ser melhor estudado e<br />
comprovado por parte dos epidemiologistas e sanitaristas.<br />
XXXIII<br />
<strong>HOMEOPATIA</strong> X ACUPUNTURA<br />
Existe em Homeopatia o conceito de supressão.<br />
Entende-se por supressão: “É o<br />
desaparecimento de um sintoma ou síndrome funcional ou<br />
anatomoclínico, sem verdadeira melhora do paciente e com<br />
seguro reaparecimento, depois de um tempo mais ou menos<br />
variável, de uma sintomatologia de maior gravidade”(Candegabe)<br />
ou “supressão mórbida é a paliação, inibição ou desaparecimento<br />
de uma parte dos sintomas de um paciente, por meios,<br />
procedimentos ou agentes externos".<br />
Conforme consta no capítulo seguinte, toda a<br />
medicina se baseia no fenômeno chamado Alergia, donde<br />
podemos inferir que a doença é o resultado de uma própria<br />
reação do organismo no sentido de se tentar chegar à imunidade,<br />
que é uma tentativa do sistema de defesa de resolver o problema<br />
que acomete o referido organismo, colocando “a casa em ordem”.<br />
Neste processo, a febre é uma reação favorável,<br />
assim como a solicitação dos sistemas de drenagem de toxinas,<br />
existentes no corpo humano, tais como o sistema respiratório,<br />
79<br />
79
sistema linfático, o cólon (intestino grosso) e a pele, com a<br />
finalidade de manter o equilíbrio do organismo.<br />
Então, qualquer procedimento que vise inferir<br />
nesses processos, como passar pomadas, suprimindo uma lesão<br />
de pele, parar uma diarréia, tomar remédios para tosse,<br />
suprimindo a eliminação de muco e catarro, o uso de<br />
descongestionantes nasais, pode suprimir ou “interiorizar” uma<br />
manifestação do próprio organismo no sentido de eliminar aquilo<br />
que está lhe fazendo mal.<br />
O exemplo clássico desta lei é descrita em<br />
Pediatria, que é a alternância de eczema e asma brônquica em<br />
criança, ou seja, na vigência de uma lesão exzematosa, passamse<br />
pomadas, que fazem desaparecer a lesão, isto é, suprime a<br />
manifestação e, logo em seguida, surge a asma brônquica, que<br />
melhora, tão logo reapareça a lesão de pele.<br />
Para melhor ilustrar este processo, mostrarei um<br />
esquema, hipotético logo a seguir.<br />
agudo Supressão<br />
subagudo Supressão<br />
crônico_ Supressão<br />
degenerativo<br />
A utilização acima mostra que a doença se<br />
aprofunda partindo do estado agudo, podendo chegar até o<br />
degenerativo, a partir da manifestação que se enquadre no estado<br />
agudo, como, por exemplo, uma coriza, levando a um estado<br />
gripal, seguindo-se a asma brônquica e quiçá um estado<br />
degenerativo, como enfisema etc.<br />
Para que haja cura verdadeira, tem que se fazer<br />
o caminho de volta, caracterizando a clássica volta dos sintomas<br />
antigos, posto que o organismo só sabe resolver o seu problema<br />
na sua superfície.<br />
80<br />
80
Agudo<br />
Coriza_<br />
Cura<br />
Subagudo<br />
__Gripe______<br />
Cura<br />
Crônico<br />
Asma brônquica____<br />
Cura<br />
Degenerativo<br />
_Enfisema Pulmonar<br />
Vimos, portanto, que a supressão é tudo aquilo<br />
que impede a manifestação do organismo na tentativa de<br />
resolver, à sua maneira, os seus problemas.<br />
Neste particular é que existem divergências<br />
entre alguns homeopatas e acupunturistas, posto que os<br />
primeiros acham que a técnica de se utilizar agulhas em pontos<br />
especiais do organismo, como preconiza a Medicina Chinesa,<br />
pode suprimir sintomas, com todas as implicações decorrentes<br />
deste fato.<br />
A bem da verdade um medicamento<br />
homeopático inadequado pode suprimir sintomas.<br />
Há, entretanto, acupunturistas que utilizam a<br />
“Acupuntura Constitucional”, que parece não suprimir sintomas, o<br />
mesmo ocorre com aqueles que têm conhecimento de causa<br />
naquilo que fazem.<br />
Vale salientar estas divergências, uma vez que<br />
elas vêm nos mostrar que ambas as terapêuticas se utilizam da<br />
Energia Vital para se chegar à cura, e que esta aparente<br />
incompatibilidade entre ambas pode ser o elo que no futuro<br />
explicará os meios pelos quais age, tanto uma como outra, no<br />
organismo.<br />
Neste sentido, propus que se criasse, na<br />
Associação Paulista de Homeopatia, um ambulatório<br />
experimental, onde se estudasse melhor o assunto, porque<br />
81<br />
81
somente aqueles que conhecem as duas técnicas é que poderão<br />
dar uma explicação plausível, diminuindo e esclarecendo tais<br />
dúvidas.<br />
Não pairam dúvidas sobre a eficácia da<br />
Acupuntura, comprovada de uma maneira irrefutável através das<br />
cirurgias de grande porte, como cirurgia toráxica, onde o paciente<br />
permanece acordado, sendo anestesiado “somente” por algumas<br />
“agulhinhas” especialmente colocadas na pele do indivíduo, que,<br />
também, agem favoravelmente nas mais diversas enfermidades.<br />
Só através do estudo e da observação é que<br />
podemos esclarecer estes dois pontos, aparentemente<br />
conflitantes. Plagiando Shakespeare, “Há mais mistérios entre o<br />
céu e a terra do que sonha a vossa vã filosofia”, e segundo Albert<br />
Einstein, “A coisa mais bela que podemos experimentar é o<br />
mistério. Ele é a raiz de toda Ciência e arte”.<br />
XXXIV<br />
MIASMAS<br />
Miasma, termo grego, no sentido estrito da<br />
palavra quer dizer emanações dos pântanos, e colocada pelos<br />
médicos antigos como causa de doenças. Entretanto, Hahnemann<br />
a usou como um land mark (pedra fundamental), para melhor<br />
entendimento da sua doutrina e das doenças.<br />
O termo miasma tem gerado tanta polêmica, que<br />
alguns homeopatas preferem designá-la por Diásteses, ou<br />
predisposições mórbidas que algumas pessoas possuem, ou seja,<br />
uma “brecha” no organismo, logicamente determinado por fatores<br />
genéticos e hereditários.<br />
Outros autores contestam esta definição, porque<br />
Hahnemann, muito antes de Pasteur e Koch, já suspeitava da<br />
existência de microorganismos transmissíveis como determinante<br />
da teoria miasmática, como fica claramente exposto no artigo 78<br />
do Organon: “As verdadeiras enfermidades cr6onicas naturais,<br />
82<br />
82
são as que se originam de uma matéria infecciosa de ação<br />
crônica ( miasma crônico)”, e no artigo 81: “O fato de que este<br />
agente infectante muito antigo haja passado gradualmente<br />
através de muitos milhões de organismos humanos em centenas<br />
de gerações, alcançando, assim, virulência incrível”.<br />
Deixemos de lado esta questão de semântica,<br />
que não invalida as observações de Hahnemann, muito pelo<br />
contrário, porque mesmo hoje, à luz de tantos recursos modernos,<br />
o que interessa, ou seja, a essência de sua observação, não<br />
mudou em nada, assim como só ia acontecer com as coisas reais<br />
e verdadeiras.<br />
O que faz Hahnemann pensar na possibilidade<br />
de existência de miasmas foi o fato de perceber que determinados<br />
pacientes, a despeito de estarem submetidos ao tratamento<br />
homeopático, não logravam a cura total, tendo sintomas que<br />
desapareciam e depois retornavam, ou então somente se<br />
atenuavam.<br />
Hahnemann, depois de muito estudar, pensar e<br />
repensar, chegou à conclusão de que existiam algumas condições<br />
que bloqueavam ou então impediam a cura total do paciente.<br />
A estes obstáculos à cura ele designou de<br />
miasmas. No seu entender existem somente três miasmas: a<br />
Psora, a Sycose e a Syphilis.<br />
A psora é considerada a primeira doença crônica<br />
(não–venérea). A base ou o ponto de partida dos demais<br />
miasmas.<br />
A sua manifestação em nível psíquico é a<br />
“angustia existencial”, e a física são as lesões de pele,<br />
principalmente, segundo Hahnemann, a sarna ou congêneres tipo<br />
herpes etc.<br />
As erupções de pele, como sabemos, são uma<br />
via de drenagem das toxinas endógenas, são a manifestação da<br />
psora interna.<br />
83<br />
83
O que fez a humanidade ao longo do seu<br />
desenvolvimento?<br />
Como as lesões de pele causam repugnânica,<br />
sempre se tentou suprimi-las impedindo a sua manifestação,<br />
decorrendo daí doenças internas mais profundas, como o câncer<br />
etc.<br />
O segundo miasma é a sycose, que literalmente<br />
significa doença do cancro venéreo ou doença da verruga do figo,<br />
que psiquicamente se caracteriza por uma hipertrofia do Eu e,<br />
fisicamente, por hipertrofia do sistema retículo endotelial,<br />
verrugas, tumores etc. A sua manifestação clássica é a gonorréia<br />
e o condiloma acuminado.<br />
A meu ver, a maior prova de existência de uma<br />
predisposição mórbida par se adquirir gonorréia é o fato de vários<br />
homens terem relações sexuais com uma mesma prostituta, ou<br />
então com uma mulher portadora de gonorréia, e somente alguns<br />
poucos contraírem a moléstia, provando que ninguém “fica doente<br />
do que quer e sim do que pode”, isto é, existe um terreno orgânico<br />
ou um estado próprio para se contagiar.<br />
A syphilis é o terceiro miasma. Alguns autores<br />
preferem o termo sifilinismo à designação syphilis.<br />
Se na sycose ocorre hipertrofia do Eu, no<br />
sifilismo o organismo passa à autodestruição, tanto no aspecto<br />
físico, através de ulcerações etc., como no plano psíquico, com<br />
pensamentos suicidas etc.<br />
Recentemente saiu publicado na revista<br />
Superinteressante que alguns cientistas acham que alguns casos<br />
de AIDS com HIV não – reagente se deve a uma espécie de sífilis<br />
não–detectada em laboratório. Hahnemann, há aproximadamente<br />
200 anos, já falava no estado sifilínico.<br />
Existem, no entender de alguns eminentes<br />
homeopatas, outros miasmas, como o tuberculismo e o<br />
cancerinismo. Porém, segundo Hahnemann, “a psora é a mais<br />
84<br />
84
antiga, mais universal, mais destrutiva e, não obstante, a mais<br />
irreconhecida das doenças miasmáticas crônicas que há milhares<br />
de anos vêm desfigurando e torturando a humanidade e que,<br />
durante os últimos séculos, tem-se tornado a mãe de todas as<br />
milhares de doenças incrivelmente variadas, agudas e crônicas<br />
(não–venéreas), pelas quais é a mais afetada a totalidade da raça<br />
humana civilizada, na parte do globo”.<br />
A cura das doenças miasmáticas deve ocorrer a<br />
partir do medicamento simillimum, mesmo porque a maioria dos<br />
policrestos (grandes medicamentos homeopáticos) cobre ou age<br />
contra os três miasmas, ou através de um nosódico, quando o<br />
caso indicar.<br />
Após esta breve abordagem, para melhor<br />
entendimento e compreensão do que seja miasma,<br />
transcrevemos os conceitos de Gatak: “Miasmas são condições<br />
do ‘Sistema’ que geram predisposição a determinados tipos de<br />
enfermidade.”<br />
estruturadas:<br />
Já Ortega considera os miasmas em formas<br />
“ – Psora, cujo erro se baseia no defeito;<br />
- Sycose, cujo erro se baseia no excesso;<br />
- Syphilis, cujo erro se baseia no errado”.<br />
A observação que fizemos sobre os miasmas foi<br />
o mais sucinta possível, porém, para um entendimento mais<br />
profundo, seriam necessários não somente um pequeno capítulo,<br />
mas vários livros com as mais diversas opiniões, para que o leitor<br />
se inteirasse de uma forma mais global sobre o assunto.<br />
Entretanto, expresso a minha opinião pessoal<br />
através de um trabalho aceito para apresentação e publicação<br />
nos Anais do 54º Congresso Médico Panamericano de<br />
Homeopatia, no ano de 1993.<br />
85<br />
85
ABORDAGEM DO PROBLEMA<br />
PSORA<br />
Somente a genialidade de um Hahnemann<br />
poderia perceber a causa primeira, básica, primária, inicial de<br />
todas as enfermidades que assolam a humanidade desde as mais<br />
remotas eras, a psora.<br />
Todas as moléstias existentes partem dela e<br />
para ela devem retornar, de uma forma ou de outra, para se<br />
efetuar a verdadeira cura ou, pelo menos, equilibra-la ou torná-la<br />
latente.<br />
Hahnemann comparou a psora à Sarna, antevendo, muito<br />
tempo antes de Pasteur, que existia “ algo” que se transmitia de<br />
uma forma infecciosa, através dos seres humanos, ao longo da<br />
História da Humanidade.<br />
Hahnemann considera a psora como sendo um<br />
miasma, palavra grega, que no sentido estrito da palavra quer<br />
dizer emanações dos pântanos, e colocada pelos médicos antigos<br />
como causa de doenças.<br />
Entretanto Hahnemann a usou como um land<br />
mark (pedra fundamental), para melhor entendimento da sua<br />
doutrina e das doenças.<br />
O termo miasma sempre gerou e continua<br />
promovendo muitas controvérsias até mesmo junto aos<br />
homeopatas.<br />
Alguns preferem designar o termo miasma por<br />
Diátese ou predisposição mórbida que as pessoas possuem, ou<br />
seja, uma “ brecha” no organismo, logicamente determinada por<br />
fatores genéticos e hereditários.<br />
Outros autores contestam esta definição, porque<br />
Hahnemann, muito antes de Pasteur e Koch, já suspeitava da<br />
86<br />
86
existência de microorganismos transmissíveis, como<br />
determinantes da teoria miasmática, como fica claramente<br />
exposto no parágrafo 78 do Organon da Arte de Curar: “ As<br />
verdadeiras enfermidades crônicas naturais são as que se<br />
originam de uma matéria infecciosa de ação crônica (miasma<br />
crônico)...” , e no parágrafo 81:” O fato de que este agente<br />
infectante muito antigo haja passado gradualmente através de<br />
muitos milhões de organismos humanos em centenas de<br />
gerações, alcançando assim virulência incrível” .<br />
Deixando de lado estas questões de semântica,<br />
que nada invalidam as observações de Hahnemann, muito pelo<br />
contrário, porque mesmo à luz de tantos recursos modernos o que<br />
interessa, ou seja, a essência de suas observações, não mudou<br />
em nada, assim como só ia acontecer com as coisas reais e<br />
verdadeiras.<br />
O que fez Hahnemann pensar na possibilidade<br />
da existência de miasmas foi o fato dele perceber que<br />
determinados pacientes, a despeito de estarem submentidos a<br />
tratamento homeopático, não logravam a cura total, tendo<br />
sintomas que desapareciam e depois retornavam ou, então,<br />
somente se atenuavam.<br />
Hahnemann, depois de muito estudar, pensar e<br />
repensar, chegou à conclusão que existiam algumas condições<br />
que bloqueavam ou então impediam a cura total do paciente.<br />
A este obstáculos à cura ele designou de<br />
miasmas. No seu entender existem somente três miasmas: a<br />
psora, a sycose e a syphilis.<br />
Segundo Hahnemann, “a Psora é a mais antiga,<br />
mais universal, mais conhecida das doenças miasmáticas<br />
crônicas, que há milhares de anos vêm desfigurando e torturando<br />
a humanidade e que, durante os últimos séculos, tem-se tornado<br />
a mãe de todas milhares de doenças incrivelmente variadas,<br />
agudas e crônicas (não–venéreas), pelas quais é a mais afetada a<br />
totalidade da raça humana civilizada, na parte habitada do globo.<br />
87<br />
87
Para Walter Edgard Maffei a alergia é o<br />
fundamento de toda a Medicina, conforme o texto abaixo<br />
discriminado:<br />
“ Os mecanismos defensivos os humorais do organismo”<br />
Conforme aprendemos, a moléstia é o conjunto<br />
das alterações funcionais e orgânicas, de caráter evolutivo, que<br />
se manifestam em um indivíduo atingido por um agente exterior,<br />
contra o qual o seu organismo reage. Esse conceito indica:<br />
1. que todo indivíduo é dotado geneticamente de mecanismos<br />
defensivos contra a ação dos diversos agentes que se<br />
encontram no ambiente no qual ele vive e;<br />
2. que todos os sintomas por ele apresentados em<br />
conseqüência da ação desses agentes representam<br />
exteriorização desses mecanismos defensivos. Portanto,<br />
qualquer sintoma ou conjunto de sintomas que<br />
caracterizam as doenças não constituem um mecanismo<br />
novo aparecido no indivíduo, mas apenas a exaltação ou<br />
inibição daqueles já nele existentes, em um determinado<br />
momento da sua vida, pela ação conjugada dos diversos<br />
momentos patogênicos.<br />
Esses mecanismos defensivos são de natureza<br />
celular e humoral, este último realizado pela ação dos anticorpos<br />
existentes no plasma sanguíneo, constituídos pela fração gama<br />
das globinas, e a sua formação é provocada por qualquer proteína<br />
estranha que penetre no nosso organismo ou nele seja formada;<br />
as substâncias capazes de determinar a formação de anticorpos<br />
são denominadas antígenos.<br />
Os anticorpos são produzidos pelo sistema<br />
retículo endotelial – S.R.E. – particularmente do baço e gânglios<br />
linfáticos, pelas células linfocitóides ou microistiócitos, histiócitos e<br />
plasmócitos; a basofilia do citoplasma dessas células é<br />
determinada pelo teor em gamaglobulinas.<br />
Os anticorpos unem-se ao antígeno<br />
neutralizando-o ou mesmo destruindo-o, mas os resultados são<br />
88<br />
88
variáveis, conforme o caso: se o antígeno for uma toxina, o<br />
anticorpo neutraliza o grupo ativo desta e, por isso, esse anticorpo<br />
recebe o nome de antitoxina; se o antígeno for bactéria ou célula,<br />
o anticorpo pode determinar a aglutinação desses corpúsculos em<br />
blocos e, então, esse anticorpo é chamado aglutina (do latim,<br />
glutem = cola); se o antígeno for molécula protéica e, portanto, de<br />
tamanho menor, o anticorpo determina a sua precipitação , sendo<br />
assim denominada precipitina. O soro humano possui<br />
normalmente aglutinas que não se formam pela ação de proteínas<br />
estranhas, mas atuam contra os glóbulos vermelhos de outros<br />
grupos sanguíneos. Além disso, em certos casos há até<br />
anticorpos contra os próprios glóbulos vermelhos do indivíduo,<br />
mas que atuam somente em baixas temperaturas, constituindo as<br />
crioglobinas ou crioaglutinas. Até substâncias do próprio<br />
organismo podem funcionar como antígenos , desde que<br />
apresentem alguma modificação bioquímica, de modo a funcionar<br />
como substâncias estranhas, resultando a formação de autoanticorpos.<br />
É por meio da formação e ação dos anticorpos<br />
que se realizam os fenômenos de imunidade adquirida ativa ou<br />
passiva, respectivamente, em conseqüência da aquisição da<br />
infecção em sua forma clínica ou mesmo subclínica, ou então,<br />
pela administração de vacinas e soros.<br />
A formação dos anticorpos é uma propriedade<br />
inerente ao genótipo, dependendo da homeostásia e, por isso, é<br />
variável de um indivíduo a outro e também com a idade e o<br />
estado de nutrição. Assim, por exemplo, nos casos de hipo ou<br />
mesmo agamaglobulinemia, que são de natureza constitucional, o<br />
indivíduo não tem defesa contra as bactérias, de modo que<br />
qualquer um toma conta facilmente do organismo levando-o à<br />
morte em pouco tempo.<br />
Por conseguinte, a imunidade adquirida ativa ou<br />
passiva representa o mecanismo defensivo fundamental do<br />
organismo contra os agentes mórbidos, realizado por meio de<br />
anticorpos; compreende-se assim que uma das principais funções<br />
do exsudado na inflamação é levar ao foco os anticorpos.<br />
89<br />
89
Não obstante, geralmente os anticorpos não<br />
conseguem realizar a imunidade, mas da ação entre os antígenos<br />
penetrados no organismo e os anticorpos por ele produzidos ou<br />
nele existentes resultam manifestações variáveis de um caso a<br />
outro indicando modificação ou alteração da reação do<br />
organismo; é esta reação modificada ou alterada que constitui a<br />
Alergia (allos + ergon = força, energia). Trata-se de um conceito<br />
introduzido na Patologia em 1905 pelo pediatra de Viena,<br />
Clemens Von Pirquet (1874;1929), resultante da observação dos<br />
doentes tratados com os soros específicos para certas moléstias<br />
infecciosas, os quais apresentavam um quadro clínico variável de<br />
um caso a outro, mas freqüentemente representado pela<br />
urticária*, que é uma erupção cutânea sob a forma de áreas ou<br />
mesmo placas avermelhadas ou, então, pontos da mesma cor<br />
disseminados pela pelo do corpo, acompanhadas de prurido mais<br />
ou menos intenso; então, Von Pirquet explicou esses fenômenos<br />
estabelecendo que a ação do soro específico determinava a<br />
alteração da reação do organismo e daí a denominação de alergia<br />
dada a esse modo de reagir do organismo. Ora, como qualquer<br />
moléstia ou um simples sintoma representa uma reação alterada<br />
do organismo, segue-se que a alergia representa toda a Medicina,<br />
o que aliás, foi também estabelecido pelo próprio Von Pirquet.<br />
Entretanto, como sói acontecer em qualquer ramo da Biologia e,<br />
particularmente, da Medicina, reação alterada do organismo em<br />
face das mais variadas substâncias já havia sido observada muito<br />
antes, atribuindo-se ao famoso poeta e filósofo romano Títus<br />
Lucretus Carus, conhecido simplesmente por Lucrécio, no século I<br />
antes de Cristo, o provérbio: ‘ a carne que alimenta o homem,<br />
pode envenenar um outro’ . Os médicos da Idade Média citavam<br />
casos de indivíduos que apresentavam crises de espirro ou<br />
mesmo asma em presença de pólen de flores, ou de certas<br />
plantas. Não obstante, foi Von Pirquet que chamou a atenção do<br />
mundo médico para essa reação modificada do organismo, não<br />
só por tê-la batizado, como também por tê-la explicado, conforme<br />
se verá adiante.<br />
O advento da Bacteriologia determinou a<br />
intensificação das pesquisas experimentais em animais a fim de<br />
se demonstrar a patogenicidade dos micróbios e estudar as<br />
manifestações e evolução das moléstias, resultando três<br />
90<br />
90
exemplos que até constituem as pedras fundamentais da<br />
Patologia e da Medicina:<br />
____________<br />
*derivado do latim urtica, em português urtiga, nome dado a um<br />
gênero de plantas, cujas folhas são pilosas e produzem uma<br />
substância cáustica, de modo que em contato com a pele<br />
determina áreas de eritema ou pontos avermelhados e até<br />
formação de bolhas com sensação de queimaduras ou coceira.<br />
- O primeiro, na ordem cronológica, deve-se a<br />
Robert Koch, que descobriu o bacilo da<br />
tuberculose. Em 1981 ele demonstrou que<br />
inoculando-se bacilos da tuberculose em uma<br />
cobaia sã, após um prazo de 20 a 30 dias<br />
verifica-se uma lesão nodular, a qual amolece<br />
e depois se ulcera, acompanhada de igual<br />
comprometimento do gânglio satélite, assim<br />
permanecendo até a morte do animal pela<br />
generalização da moléstia. Se, então, nesta<br />
mesma cobaia injetarmos uma nova dose do<br />
mesmo bacilo, verificar-se-á, 24 horas após,<br />
um processo inflamatório violento, constituído<br />
por intensa congestão ocal, que se apresenta<br />
como um nódulo de cor vermelho-violácea,<br />
necrosando-se rapidamente, cujo material<br />
necrótico é eliminado para o exterior,<br />
resultando uma escara cianótica, mas sem<br />
repercussão ganglionar; esta escara cicatrizase<br />
completamente, enquanto a tuberculose<br />
produzida pela primeira inoculação continua a<br />
sua evolução. Este fato, conhecido em<br />
Patologia Geral pelo nome de fenômeno de<br />
Koch, mostra que a cobaia já tuberculizada,<br />
submetida a uma nova inoculação do mesmo<br />
bacilo, reage de modo completamente<br />
diferente da cobaia sã que recebeu uma<br />
única dose desse bacilo.<br />
91<br />
91
- O segundo exemplo nos foi revelado pelo<br />
fisiologista francês Charles Richet<br />
(1850/1935), o qual , em 1902, procurando<br />
estudar as propriedades farmacodinâmicas<br />
dos tentáculos das actínias, que é um gênero<br />
de polipos marinhos, preparou um macerado<br />
desses tentáculos em glicerina e injetou 0,1<br />
ml em um cão, verificando que o animal<br />
continuava a viver normalmente e, portanto,<br />
essa substância não era tóxica para ele; 22<br />
dias após, como esse animal estivesse<br />
perfeitamente bem, injetou-lhe novamente 0,1<br />
ml do mesmo macerado; alguns segundos<br />
após esta Segunda injeção, o cão apresentou<br />
graves manifestações: a respiração tornou-se<br />
ofegante, a marcha difícil, arrastando as<br />
pernas, caindo de lado, emitiu fezes<br />
diarréicas e vomitou sangue, e , perdendo a<br />
sua sensibilidade, morreu 25 minutos após<br />
essa Segunda injeção. A autópsia do cão<br />
revelou intensa congestão do fígado,<br />
sufusões hemorrágicas em toda a mucosa<br />
gástrica e colapso dos pulmões. Richet,<br />
então, interpretou esse fenômeno, dizendo<br />
que a Segunda dose, em vez de agir<br />
profilaticamente, determinava, pelo contrário,<br />
uma falta de defesa no cão e, por isso, deu<br />
ao fenômeno o nome de anafilaxia<br />
(ana=contra + phylaxis=defesa), isto é, sem<br />
defesa.<br />
- O terceiro exemplo deve-se ao fisiologista<br />
francês Maurice Arthus (1862/1945), o qual,<br />
em 1903, realizou experiências com o soro de<br />
cavalo, injetando-o no coelho, o qual nada<br />
apresentou de anormal, e portanto, esse soro<br />
não é tóxico para o animal; passados 20 dias,<br />
porém, repetiu a injeção no mesmo animal,<br />
observando, então, que 24 horas depois<br />
desenvolveu-se no local da injeção um<br />
92<br />
92
processo inflamatório violento, com intensa<br />
congestão, edema e, passadas 48 horas,<br />
necrose a qual, dois dias depois, é eliminada,<br />
resultando uma escara. Este fato ficou<br />
conhecido em Patologia Geral pelo nome de<br />
fenômeno de Arthus.<br />
Esses três fenômenos – de Koch, a Anafilaxia e<br />
o de Arthus – demonstram de modo evidente e esquemático a<br />
reação alterada do organismo em resposta à penetração de nova<br />
dose de antígeno e, por isso, representam as pedras<br />
fundamentais da Patologia Geral e a base da interpretação e<br />
explicação dos quadros clínicos e anatomopatológicos da<br />
Medicina em geral.<br />
Conhecida a alergia, tratou-se de explicá-la e a<br />
sua interpretação foi dada pelo próprio Von Pirquet, do seguinte<br />
modo: quando penetra um antígeno no organismo, este reage<br />
formando os anticorpos; se depois de penetrar uma nove dose<br />
desse antígeno, dá-se o choque deste antígeno com aqueles<br />
anticorpos, resultando os fenômenos mórbidos. Por isso, a<br />
primeira dose do antígeno é chamada sensibilizante e a Segunda<br />
é a desencadeante.<br />
Por conseguinte, alergia é a reação alterada do<br />
organismo, provocada pelo choque ontígeno x anticorpo.<br />
Ora, a anafilaxia é também explicada pelo<br />
choque antígeno x anticorpo, o mesmo acontecendo com a<br />
imunidade adquirida; temos então, três conceitos cuja base<br />
fisiológica é a mesma. Qual a diferença entre eles? Alergia resulta<br />
do choque antígeno x anticorpo que se processa nos tecidos e,<br />
portanto, apresenta um quadro anatomoclínico. A anafilaxia é<br />
semelhante à alergia, pois também resulta do choque antígeno x<br />
anticorpo nos tecidos e, por isso, apresenta um quadro<br />
anatomoclínico, porém, há sempre um órgão específico para cada<br />
espécie animal que responde a esse choque, como, por exemplo,<br />
o útero na cobaia fêmea, os músculos brônquicos no cobaio, os<br />
ramos da artéria pulmonar no coelho, o território da veia porta no<br />
cão, e assim por diante, sendo esse órgão denominado órgão de<br />
93<br />
93
choque . Além disso, a nafilaxia é transmissível passivamente de<br />
um animal a outro, isto é, o sangue dos animais anafilactizados<br />
injetado em animais normais confere a estes a anafilaxia. A<br />
alergia não tem órgão específico para a sua ação, nem tampouco<br />
é transmissível passivamente.<br />
Finalmente, a imunidade consiste no choque<br />
antígeno x anticorpo que se processa nos humores,<br />
permanecendo os tecidos alheios ao fenômeno e, por isso, não<br />
temos conhecimento das suas manifestações devido à ausência<br />
de sintomas e processo anatomopatológico. Por conseguinte,<br />
alergia e imunidade são dois fenômenos opostos: quando a<br />
alergia predomina a imunidade à alergia é baixa.<br />
Esquematicamente, podemos representar esses estados opostos<br />
por uma gangorra, na qual um dos extremos é a alergia (A) e o<br />
outro é a imunidade (I) ; o estado de saúde aparente em que<br />
vivemos é constituído pelo equilíbrio entre a alergia e a<br />
imunidade; este equilíbrio, porém, é instável, rompendo-se<br />
sempre na direção da alergia. Um exemplo desses aspectos, que<br />
pode ser observado por qualquer pessoa, nos é dado pela<br />
vacinação antivariólica; nos primeiros dias que se seguem à sua<br />
aplicação forma-se uma área avermelhada devido à congestão,<br />
de forma circular, com 1 cm de diâmetro mais ou menos, que<br />
aumenta progressivamente e ao mesmo tempo acentua-se a sua<br />
cor vermelha, tornando-se ainda tumefeita e dolorosa, isto é, com<br />
os caracteres de um processo inflamatório agudo, no décimo dia<br />
mais ou menos, forma-se um foco purulento no centro, que vai<br />
aumentando até constituir-se uma pústula no 15º dia. Neste<br />
momento a alergia está no auge e só a partir deste momento é<br />
que começa a imunidade, caracterizada pela regressão<br />
progressiva desse processo inflamatório com a atenuação da dor,<br />
da congestão e da tumefação, formação da crosta que depois é<br />
eliminada, formando-se a cicatriz; neste momento atingiu-se o<br />
máximo da imunidade e o fim da alergia. Reportando-nos aos<br />
esquemas da fig 1 (página 122), na evolução da vacina<br />
anticariólica assistimos à inversão da gangorra de uma posição<br />
extrema a outra. A partir de então o indivíduo poderá ser infectado<br />
pela varíola, mas não tem conhecimento disso, porque o vírus<br />
dessa moléstia é neutralizado nos seus humores, sem qualquer<br />
manifestação clínica ou subjetiva. Por isso, a imunidade adquirida<br />
94<br />
94
esulta da alergia, constituindo, portanto, uma redundância falarse<br />
em imunidade alérgica, como se encontra em certos tratados.<br />
Sendo a alergia reação alterada do organismo,<br />
precisamos saber, antes de tudo, em que consiste essa alteração;<br />
analisando-se os três fenômenos fundamentais, de Koch, de<br />
Arthus e a anafilaxia, verificamos que essa alteração é na<br />
intensidade, no tempo e na quantidade. Assim, enquanto a<br />
introdução da primeira dose do soro de cavalo, na experiência de<br />
Arthus e na anafilaxia, não determina qualquer alteração, na<br />
Segunda dose as manifestações são de extraordinária<br />
intensidade e gravidade; o tempo é também consideravelmente<br />
reduzido nos três primeiros exemplos: na experiência de Koch, a<br />
primeira dose leva 20 a 30 dias para produzir lesões, enquanto na<br />
Segunda dose as manifestações se apresentam 24 horas após.<br />
Finalmente, se o indivíduo já foi sensibilizado, qualquer<br />
quantidade de antígeno novamente introduzido, produzirá o<br />
fenômeno.<br />
Nos exemplos citados a reação do organismo é<br />
violenta, isto é, alterada para mais; em outros casos, porém, essa<br />
reação pode ser atenuada, ou seja, alterada para menos: no<br />
primeiro caso fala-se em hiperergia, e no segundo, hipoergia,<br />
podendo ser tão atenuada que se torna nula, constituindo, então,<br />
a anergia.<br />
A hiperergia é uma reação intensa, violenta,<br />
indicando a luta máxima dos anticorpos contra o antígeno, com o<br />
fim de destruí-lo e localizá-lo em determinado território; nos<br />
exemplos dados anteriormente destacam-se os fenômenos de<br />
Koch e de Arthus.<br />
A hipoergia é uma reação mais atenuada, não só<br />
nas suas manifestações clínicas, como também<br />
anatomopatológicas, como é, por exemplo, uma inflamação<br />
crônica banal.<br />
Finalmente, a anergia é a falta de reação do<br />
organismo, isto é, a falta de produção de anticorpos, podendo ser<br />
positiva ou negativa. Fala-se em anergia positiva quando se trata<br />
95<br />
95
de melhora ou cura da moléstia, de fato, sendo a alergia = choque<br />
antígeno x anticorpo, toda vez que um dos fatores se tornar igual<br />
a zero, o produto também será igual a zero. Ora, o antígeno, está<br />
sempre presente e, portanto, é o anticorpo que não mais existe,<br />
isto é, torna-se igual a zero; este fato pode acontecer em duas<br />
eventualidades opostas:<br />
1. quando o organismo vence o antígeno, e<br />
2. quando se esgotam as forças defensivas<br />
do organismo.<br />
Com efeito, se o organismo vencer o antígeno,<br />
cessa a ação dos anticorpos no tecido e, portanto, cai a alergia e<br />
sobe a imunidade, conforme o esquema da gangorra; como<br />
exemplo desta eventualidade pode-se citar a pneumonia lobar:<br />
esta é uma moléstia infecciosa que se manifesta geralmente com<br />
febre elevada, pontada no tórax, esta geral grave do indivíduo e,<br />
anatomopatologicamente, é uma inflamação fribrinosa que se<br />
desenvolve no interior dos alvéolos pulmonares e, por isso, o lobo<br />
atingido apresenta macicez semelhante àquela do fígado quando<br />
realizamos a percussão do tórax e, por isso, é denominada<br />
hepatização. Esse quadro clínico anatomopatológico representa<br />
uma reação hiperérgica. No sétimo dia, a febre cai em crise e o<br />
estado geral do doente melhora, mas se o examinarmos<br />
verificaremos a mesma macicez do lobo pulmonar que havia no<br />
dia anterior e o exame do escarro revela ainda enorme<br />
quantidade de pneumococos, como na véspera, quando o<br />
indivíduo estava mal. O que passou então? Da luta entre o<br />
anticorpo e o antígeno resultou a neutralização de pneumococo<br />
que, por isso, tornou-se inócuo e, então, o organismo não<br />
necessita mais dos anticorpos nesse órgão, caindo a alergia, isto<br />
é, o organismo entra em anergia, que é positiva porque indica a<br />
cura do doente, subindo então a imunidade.<br />
Pelo contrário, um tuberculoso crônico cuja<br />
moléstia consumiu-lhe as forças de defesa e o desenlace fatal<br />
está próximo, se então fizermos a prova da tuberculina, esta dará<br />
resultado negativo, porque o organismo já não produz mais<br />
anticorpos por ter esgotado a sua capacidade de reagir e,<br />
portanto, de se defender; não há mais alergia nem imunidade, o<br />
96<br />
96
que caracteriza a anergia negativa, índice de piora e morte. No<br />
esquema da gangorra, esta eventualidade é representada pela<br />
ruptura da haste, esquematizando a queda da alergia e da<br />
imunidade (Fig. 2, página 122). Em outras palavras, anergia é a<br />
parada de produção dos anticorpos.<br />
Por conseguinte, o estado anérgico do<br />
organismo se caracteriza pela ausência de sintomas; todo<br />
indivíduo com alguma moléstia, quando tende para a cura,<br />
apresenta uma fase de piora clínica, e isto indica o máximo da<br />
alergia, à qual se segue a fase de imunidade representada pela<br />
convalescença e cura; pelo contrário, quando o doente tende para<br />
a morte há uma fase de melhora rápida, na qual desaparecem os<br />
sintomas que o molestavam, para logo entrar em agonia. Essa<br />
rápida fase de melhora indica a anergia negativa e, por isso, os<br />
sintomas desaparecem mais ou menos bruscamente; essa fase,<br />
porém, é de curta duração, seguindo-se logo a morte. O povo com<br />
seu peculiar espírito de observação denomina pitorescamente<br />
essa fase “despedida da saúde”, que pode ser considerada<br />
expressão popular da anergia negativa. O estado de saúde<br />
aparente em que vivemos é determinado pela anergia positiva e,<br />
por isso, não há manifestações clínicas, isto é, representa um<br />
equilíbrio entre a imunidade e a alergia; este equilíbrio, porém, é<br />
instável, rompendo-se sempre na direção da alergia. Por<br />
conseguinte, os sintomas de qualquer doença ou moléstia só<br />
aparecem quando se manifesta a alergia.<br />
Desde o momento em que penetra um antígeno<br />
no nosso organismo até a manifestação da moléstia decorre<br />
sempre um prazo de tempo variável de um caso a outro, que<br />
constitui o período de incubação; este fato é evidente na<br />
reprodução experimental de uma moléstia, como é o caso da<br />
introdução do bacilo de Koch no organismo da cobaia, na qual a<br />
moléstia se manifesta após um mês ou menos. Esse período de<br />
incubação corresponde à fase de reação do S.R.E. na produção<br />
dos anticorpos e, portanto, na manifestação da alergia. No<br />
homem o período de incubação nem sempre pode ser<br />
estabelecido, sendo bem conhecido para certas moléstias, como,<br />
por exemplo, a raiva, na qual esse período é de um mês no<br />
mínimo, mas pode-se estender até um ano.<br />
97<br />
97
Os fenômenos de reação alterada do organismo<br />
que apresentamos resultam de estudos experimentais em animais<br />
e, por isso, são esquemáticos; quando, porém, verificamos o que<br />
se passa na espécie humana, verificamos manifestações bem<br />
diferentes. Esta discrepância resulta, em primeiro lugar, da<br />
biologia totalmente diversa dos animais e do homem; em segundo<br />
lugar, porque geralmente os animais são virgens de infecções e<br />
intoxicações durante quase toda a vida e, quando a adquirem,<br />
morrem em prazo mais ou menos curto ou, então, cada espécie é<br />
refratária a determinados antígenos. Por exemplo, a cobaia tem<br />
grande receptividade para o bacilo da tuberculose humana, de tal<br />
modo que quando se trata de saber se um material qualquer<br />
retirado de um processo patológico do nosso organismo é de<br />
natureza tuberculosa, inocula-se nesse animal; no caso positivo, a<br />
cobaia no fim de um mês morre com o processo generalizado.<br />
Nunca porém, verifica-se nesse anima a tuberculose com os<br />
diversos aspectos dessa infecção no homem. Por outro lado, o<br />
coelho dificilmente adquire a tuberculose humana. Estes fatos,<br />
nos mostram que a cobaia é sensível ao bacilo de Koch humano,<br />
enquanto o coelho é refratário ao mesmo. Desse modo, podemos<br />
preparar um animal com a dose sensibilizante do antígeno e após<br />
algum tempo aplicar-lhe a dose desencadeante, resultando o<br />
fenômeno de Koch, já descrito.<br />
No homem, porém, é perfeitamente impossível<br />
na maioria dos casos conhecermos a dose sensibilizante, mas ele<br />
é sensibilizado já na vida intra-uterina e no momento do<br />
nascimento pelo líquido amniótico que é aspirado para os<br />
brônquios e tubo digestivo e, posteriormente, todas as infecções<br />
próprias da infância, desde as banais infecções da garganta até<br />
as moléstias eruptivas e outras, assim como as vacinas<br />
antivaríola, contra a coqueluche etc. Todas essas infecções<br />
determinam a formação de anticorpos que permanecem no<br />
organismo, portanto, o homem é geralmente sensibilizado<br />
inespecificamente. Durante a vida, então, um choque com os<br />
anticorpos de outras origens, nele existentes, dá lugar a<br />
manifestações mais ou menos graves conforme o caso ou, então,<br />
faz desaparecer as manifestações presentes. Essa asserção pode<br />
ser ilustrada pelo seguinte exemplo: suponhamos um indivíduo<br />
98<br />
98
que ainda não adquiriu a primo-infecção tuberculosa, atestado<br />
pela negatividade da prova da Mantoux; se, então, esse indivíduo<br />
for vacinado contra a varíola e quando esta estiver no auge<br />
realizarmos aquela prova, verificar-se-á a sua positividade, mas<br />
isto não significa que o indivíduo esteja tuberculizado. Os<br />
anticorpos antivariólicos entrando em choque com o antígeno<br />
tuberculina, determinaram a positividade desta reação.<br />
Trata-se, portanto, de um choque antígeno x<br />
anticorpo inespecífico, que constitui a paralergia. A paralergia é o<br />
mecanismo defensivo mais importante da patologia humana, pois<br />
nesta não existe a alergia propriamente dita. De fato, a alergia<br />
consiste no choque antígeno x anticorpo, porém, específicos,<br />
como se verifica no fenômenos de Koch e de Arthus; no primeiro<br />
a cobaia sensibilizada pelo antígeno bacilo da tuberculose,<br />
produziu os respectivos anticorpos, os quais entraram em choque<br />
com o mesmo antígeno da Segunda dose; no fenômeno de<br />
Arthus, o coelho sensibilizado pelo soro de cavalo, produz<br />
anticorpos soro de cavalo que entram em choque com o mesmo<br />
antígeno da Segunda dose. Como , porém, o homem já foi<br />
sensibilizado pro diversos antígenos que determinaram a<br />
formação dos respectivos anticorpos, os choques antígeno x<br />
anticorpo nele verificados são sempre inespecíficos e, portanto,<br />
fenômenos da paralergia. A paralergia nos faz compreender a<br />
grande variabilidade dos quadros clínicos de cada moléstia de um<br />
indivíduo para outro, bem como a sua evolução; além disso, é<br />
também importante para a interpretação das reações sorológicas<br />
usadas em Medicina, como a reação de Wassermann Widal,<br />
Guerreiro Machado etc., baseadas em antígeno e anticorpo, pois<br />
em certos casos elas são positivas sem, no entanto, tratar-se de<br />
sífilis, ou de febre tifóide, ou moléstia de Chagas respectivamente<br />
e, reciprocamente, outras vezes são negativas e no entanto, o<br />
indivíduo tem a moléstia que se procura documentar com a<br />
reação.<br />
Em certos casos, o organismo especificamente<br />
sensibilizado responde a ulteriores exposições de tipo diferente,<br />
com reações alérgicas específicas, reproduzindo o mesmo quadro<br />
clínico provocado pelo primeiro agente; por exemplo, uma<br />
enfermeira que tenha tido uma dermantite primaveril, pode<br />
99<br />
99
apresentá-la novamente pela ação de um desinfetante, como o<br />
sublimado corrosivo, ou fenol, ou mercúrio - cromo etc. Esse tipo<br />
de reação alterada recebeu o nome de metalergia. Emprega-se<br />
também este termo para indicar as reações alteradas<br />
determinadas pela ação de substâncias químicas introduzidas, ou<br />
aplicadas, ou formadas no próprio organismo, as quais<br />
combinado-se com as proteínas orgânicas formam os haptenos<br />
(haptein = agarrar), também chamados meio – antígenos; estes,<br />
entrando em choque com os anticorpos já existentes, dão lugar<br />
aos mais variados resultados de um caso a outro. As alterações<br />
dos tecidos na gota úrica resultando o tofo, bem como aquelas da<br />
uremia, são de natureza alérgica, tendo-se agora a explicação<br />
desses fenômenos pela formação dos haptenos. Por conseguinte,<br />
as reações alteradas maléficas ou benéficas determinadas pelos<br />
medicamentos, as primeiras designadas em Medicina como<br />
idiossincrasia ou intolerância, são também de natureza alérgica e,<br />
mais propriamente metalérgica.<br />
Qualquer agente de natureza química ou física<br />
capaz de causar uma reação alterada do organismo constitui um<br />
alergênio, enquanto o termo antígeno designa os agentes<br />
microbianos e seus produtos; portanto, a diferença entre alergênio<br />
e antígeno é que o primeiro é inanimado e o outro é um ser vivo<br />
ou um produto dele derivado. Não obstante, reação antígeno x<br />
anticorpo é empregada indistintamente, quer se trate de alergênio<br />
ou de antígeno.<br />
Conforme se acabou de ver, as reações<br />
alteradas do organismo podem decorrer de mecanismos variados,<br />
cada um deles designado por um termo; há ainda a atopia (em<br />
grego significa doença estranha), consistindo em uma<br />
sensibilidade especial do organismo humano, de natureza<br />
hereditária, exteriorizando-se por uma reação cutânea do tipo<br />
papuloso ou outros aspectos clínicos, como a asma e a febre do<br />
feno. Nestes casos, verifica-se a presença de reaginas no sangue<br />
circulante. O conceito de atopia foi estabelecido pelo médico<br />
norte-americano A F Coca em 1931*, entretanto, nada mais é do<br />
que a diátese alérgica, já estabelecida antes desse autor.<br />
_______________<br />
100<br />
100
* Coca, A F.; Walzer, M e Thomsen, A A – Asthma and Hay Fever<br />
in Theory and Practice, Charles C Thomas, Springfield, III, 1931.<br />
Devido a tantos conceitos para indicar reação<br />
alterada do organismo conforme o seu mecanismo, tornou-se<br />
necessária uma sistematização, o que foi realizada pelo<br />
patologista alemão R. Rossie, englobando todos os conceitos de<br />
reação alterada do organismo sob a denominação genérica de<br />
patergia. Entretanto, todos esses termos não conseguiram<br />
popularidade, de modo que na prática médica usa-se o termo<br />
alergia para exprimir os fenômenos de reação alterada do<br />
organismo de qualquer natureza, mesmo porque não há<br />
vantagens na especificação de cada um, a não ser de ordem<br />
acadêmica.<br />
Assim, pois, a reação organismo humano não é<br />
tão esquemática como a dos animais, nestes, os fenômenos de<br />
Koch e de Arthus e a anafilaxia podem ser sempre obtidos com o<br />
mesmo aspecto, enquanto no homem os quadros clínicos e<br />
anatômicos das doenças variam consideravelmente de um caso a<br />
outro, de modo a não se possível traçar-se uma descrição que<br />
sirva para todos os casos, aliás, todos os médicos sabem da<br />
prática diária os erros de diagnóstico que se cometem, sem que<br />
isto os desprestigie, porquanto, por mais competente que seja o<br />
médico, a reação do organismo, da qual depende a sintomatoligia,<br />
é muito variável de um caso a outro. Além disso, é também<br />
variável a ação terapêutica, de modo que em um caso o resultado<br />
é brilhante, em outro caso idêntico pode fracassar e em um<br />
terceiro pode até ser um desastre. Em certos casos, ainda, o<br />
diagnóstico está errado e, portanto, a terapêutica estabelecida é<br />
errada e, no entanto, o resultado é ótimo. Todas essas<br />
discrepâncias são devidas à paralergia e metalergia. Em outras<br />
palavras: a fisiopatologia das doenças, que constitui<br />
sintomatologia clínica, depende exclusivamente do modo do<br />
organismo reagir e não da causa que a determinou, nem<br />
tampouco da lesão anatomopatológica; o mesmo se verifica em<br />
relação à ação dos medicamentos.<br />
Esse modo de reagir do organismo resulta a<br />
interação dos caracteres do genotipo, representados pela sua<br />
101<br />
101
constituição geral e parcial, predisposição ou refratariedade e o<br />
metabolismo os quais, por sua vez, realizam a homeostásia;<br />
esses caracteres representam o terreno biológico, que varia de<br />
um indivíduo, conforme a idade, sexo, o estado de nutrição e a<br />
época do ano. Eis por que no início desta obra dissemos que é o<br />
indivíduo que faz a sua doença, assim como é também o próprio<br />
indivíduo que a cura, ou a torna crônica ou, então, determina a<br />
morte. Em outras palavras: não existe doença benigna, nem<br />
maligna, mas apenas terreno bom e terreno mau.<br />
O que foi dito acima é perfeitamente<br />
demonstrado pela moléstia do soro, isto é, o quadro clínico que se<br />
verifica após a introdução de um soro específico (antitetânico, ou<br />
antidiftérico, ou antidisentérico etc.) no nosso organismo, o qual<br />
pode-se apresentar com os seguintes aspectos, de um indivíduo a<br />
outro: urticária, eritema difuso semelhante à escarlatina ou o<br />
sarampo; eritema multiforme; eritema nodoso; púrpura erupção<br />
semelhante à rubéola; eritema recidivante ou ambulante; febre,<br />
que pode ser de qualquer tipo; adenopatias, com o aspecto de<br />
uma doença hemopoética; edema cutâneo e das serosas;<br />
albuminúria e até anúria, por alteração do rim; poliartrite, com os<br />
caracteres de febre reumática; quadro tetânico; pericardite aguda<br />
serosa, ou fibrinosa, ou mesmo soro-fibrinosa; infarto do<br />
miocárdio; meningite aguda; síndrome de tumor intercraniano,<br />
representado pela cefaléia, vômitos e papila de estase; neurites<br />
óptica, ou facial, ou do trigêmeo etc.; mielite aguda; radiculites;<br />
paralisias periféricas da laringe, ou dos olhos ou da bexiga, ou<br />
dos intestinos etc.; fenômeno de Arthus (muito raro no homem).<br />
Além disso, é muito variável a época da manifestação de qualquer<br />
desses aspectos: às vezes é tardia. Conforme se viu, a mesma<br />
causa – o soro específico – pode determinar os mais variados<br />
quadros clínicos, conforme o indivíduo.<br />
Para compreendermos essa variabilidade dos<br />
aspectos fisiopatológicos da reação do organismo, precisamos<br />
saber que não é o antígeno, nem o anticorpo que constituem o<br />
agente nocivo, mas sim a união de ambos e esta determina um<br />
terceira substância de natureza ainda mal definida, denominada<br />
substância H a qual, agindo sobre o órgão sensível, faz<br />
manifestar a respectiva sintomatologia. Esse mecanismo está<br />
102<br />
102
ilustrado no esquema da fig. 3 (pág. ...) ,q eu embora, muito<br />
simplista, porque é semelhante àquele usado em mecânica para<br />
representar a ação de duas forças aplicadas em um ponto<br />
originando-se uma terceira, que é resultante, nos dá, porém, a<br />
idéia do fenômeno: o antígeno atua, por exemplo, na amígdala; a<br />
reação do organismo determina o choque do anticorpo com o<br />
antígeno nesse nível, atestado pela formação de um<br />
microbscesso, resultando uma terceira substância, que podemos<br />
denominar alergina, pois ainda não conhecemos a sua verdadeira<br />
natureza. É a alergina que agindo no órgão sensível dá lugar à<br />
sintomatologia e, por isso, esta sintomatologia constitui fenômeno<br />
de hipersensibilidade; por conseguinte a hipersensibilidade<br />
consiste nos fenômenos que decorrem da alergia e daí certos<br />
autores, principalmente norte – americanos, confundirem a alergia<br />
coma a hipersensibilidade, o que não corresponde aos fatos,<br />
porque os fenômenos alérgicos nem sempre são exagerados,<br />
podendo ser também atenuados, conforme já foi dito. Então, no<br />
esquema dado, se o órgão sensível for a própria amígdala o<br />
indivíduo apresentará a dor de garganta, isto é, a angina; se for<br />
uma articulação, apresentará uma artrite; se for o rim, resultará a<br />
nefrite, e assim por diante. No exemplo da moléstia do soro é<br />
exatamente isso que acontece, isto é, o soro introduzido por via<br />
subcutânea ou endovenosa, dá lugar a um quadro clínico<br />
qualquer, conforme o órgão sensível do indivíduo. Compreendese,<br />
assim, porque na medicina humana, os quadros clínicos são<br />
tão variados em face da mesma causa, não sendo possível uma<br />
descrição padronizada de cada moléstia, que seja válida para<br />
todos os casos; é que cada indivíduo tem o seu órgão sensível<br />
diferente do outro.<br />
O que é o órgão sensível? Podemos defini-lo<br />
sinteticamente como sendo o órgão que responde ao choque<br />
antígeno x anticorpo, isto é, o órgão que dá o quadro clínico e<br />
anatomopatológico da moléstia. Quando é possível o exame<br />
anamopatológico, verifica-se então que se trata de um órgão<br />
embriologicamente alterado ou retardado na sua evolução, isto é,<br />
uma alteração constitucional parcial, representado pela<br />
persistência da lobulação fetal do rim que, por isso, nele se<br />
instalou a glomerulonefrite difusa aguda em conseqüência de<br />
amigdalite e essa lobulação está indicando um retardamento da<br />
103<br />
103
evolução desse órgão; no coração , nos casos de endocardites,<br />
verifica-se nas válvulas alterações do seu desenvolvimento,<br />
variáveis de um caso a outro em casos de espinha bífida oculta,<br />
freqüentemente a incapacidade dos membros inferiores se<br />
manifesta após uma amigdalite e daí o diagnóstico comum de<br />
paralisia infantil, e assim por diante. Órgão sensível é, pois, o<br />
órgão meioprágico, ou abiotrófico, isto é, o “locus minoris<br />
resistentiae” dos médicos antigos por analogia com o que se<br />
verifica na anafilaxia, , costuma-se falar também em órgão de<br />
choque.<br />
Para compreendermos este aspecto da<br />
Patologia, precisamos saber que o S.R.E. é o depositário do<br />
esquema genético de todas as estruturas que formam qualquer<br />
parte do nosso organismo; se uma delas ficou atrasada ou<br />
alterada no desenvolvimento embrionário o S.R.E. não poderá<br />
reconhecê-lo, produzindo anticorpos contra esse órgão ou contra<br />
parte dele assim alterada e, dessa forma, permanece<br />
sensibilizado. A ação desencadeante será qualquer agente<br />
ambiental, mecânico, físico, químico, biológico ou climático.<br />
Aliás, já na Mitologia grega encontra-se a<br />
concepção do órgão sensível, na conhecida história de Aquiles:<br />
quando este herói de Guerra de Tróia nasceu, a sua mãe, Tétis,<br />
mergulhou-o nas águas da lagoa Estígia, o que o tornou<br />
invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a sua mãe o segurou<br />
e, portanto, esse ponto não foi banhado; mais tarde foi morto por<br />
uma seta lançada por Páris, que o acertou nesse ponto. Como se<br />
vê, trata-se de um simbolismo significando que todo o indivíduo<br />
possui o seu ponto sensível que o levará à morte.<br />
A fisiopatologia da alergia é representada pela<br />
contração do músculo liso, resultante da ação das substâncias H<br />
que, conforme o caso, poderá ser das arteríolas, ou dos<br />
brônquios, ou do útero, ou de um segmento do tubo digestivo, ou<br />
dos ductos excretores das glândulas; qualquer sintoma, dor ou<br />
prurido e alteração da função de um ou mais órgãos decorre da<br />
contração mais ou menos intensa de músculo liso que entra na<br />
estrutura de qualquer parte de um órgão, em conseqüência do<br />
choque antígeno x anticorpo. A febre ou a hipotermia resulta da<br />
104<br />
104
ação da alergina ou substância H no centro hipotalâmico<br />
regulador da temperatura. Essas alterações funcionais variam de<br />
um caso a outro na sua intensidade, podendo ser atenuadas em<br />
um caso e violentas em outro, dependendo de vários fatores,<br />
particularmente do sistema neuroendócrino e especificamente da<br />
hipófise e supra-renal. O grau máximo dessa alteração é<br />
representado pelo shock que, por analogia com a anafilaxia, falase<br />
em schock alérgico.<br />
O nosso organismo apresenta sempre as<br />
condições essenciais para manifestar um shock alérgico, faltando<br />
apenas o fator desencadeante; a título de esquema ilustrativo,<br />
neste particular, podemos comparar o nosso organismo àquela<br />
clássica experiência de química que se coloca em um balão de<br />
vidro oxigênio e hidrogênio nas respectivas proporções: teremos<br />
uma simples mistura desses dois elementos; se, porém, nele<br />
incidir uma faísca elétrica ou se introduzir a esponja de platina<br />
produziremos uma explosão resultando a água. Do mesmo modo,<br />
em nosso organismo temos constantemente os antígenos e os<br />
anticorpos; a centelha elétrica pode ser representada por qualquer<br />
substância alimentar ou medicamentos, bem como agentes vivos,<br />
físicos , químicos, mecânicos e até condições climáticas.<br />
Compreende-se, assim, porque há casos de<br />
indivíduos que apresentam o shock , freqüentemente mortal logo<br />
no início da anestesia por inalação ou por drogas introduzidas por<br />
vias endovenosas, ou intra – raquiana, ou mesmo local,<br />
intradérmica; ou, então, pela introdução de outros medicamentos<br />
por via subcutânea ou intramuscular ou endovenosa. Nesses<br />
casos a autópsia freqüentemente demonstra a presença de<br />
vermes intestinais, particularmente o áscaris, cujo ciclo pulmonar<br />
de suas larvas sensibiliza os pulmões; por isso, em todo caso<br />
cirúrgico, principalmente tratando-se de crianças, deve ser feito<br />
sempre o exame de vezes previamente e, se for positivo, primeiro<br />
tratar dessa parasitose e em seguida dessensibilizar o indivíduo.<br />
105<br />
105
PRESSUPOSTO<br />
Estabelecendo uma correlação entre ambas as<br />
coisas a psora e a alergia, notamos que existe um paralelismo,<br />
uma semelhança entre os dois conceitos.<br />
A psora assim como a alergia é uma força<br />
diferente, uma resposta alterada, modificada do organismo.<br />
A alergia precede a imunidade, como ficou<br />
exposto anteriormente.<br />
A alergia como a psora resultam de uma<br />
malfadada tentativa do organismo, de vencer um agente agressor<br />
qualquer. Sendo, portanto, um mecanismo de homeostásia.<br />
Se houver um bloqueio na manifestação da<br />
alergia, não se atinge a imunidade, cronificando o processo<br />
podendo levar o organismo a um estágio de degeneração.<br />
Se se impedir a manifestação da psora, através<br />
da sarna (erupções na pele etc.), aprofunda-se o processo,<br />
levando o organismo a um estado subseqüente de sycose<br />
(cronicidade) e syphilis (degeneração).<br />
Dentro do modelo teórico exposto, um gráfico<br />
que poderia sintetizar esta hipótese, ficaria da seguinte forma:<br />
Estado agudo (força alterada = alergia)<br />
Supressão = antifebril, analgésico corticóides, vacinas<br />
Crônico = retículo endoteliose proliferativa<br />
psora supressão<br />
106<br />
sycose = crônico<br />
degenerativo = destruição<br />
syphilis = destruição<br />
106
No texto exposto nas páginas 71 e 72 do livro<br />
Doenças Crônicas, tradução da 2ª edição alemã, 1835 – 1ª edição<br />
brasileira, 1984, Hahnemann usa a palavra “mudança” da<br />
totalidade da pessoa “e” somente quando o organismo inteiro se<br />
sentir transformado por esta doença miasmática crônica, peculiar<br />
é que a força vital adoecida tenta adequada manifestação de um<br />
sintoma local sobre a pele.<br />
Comparando com a alergia, que segundo o Prof.<br />
Maffei é uma reação modificada, portanto, mudada ou<br />
transformada do organismo, podemos inferir um grau elevado de<br />
semelhança entre ambas as definições.<br />
Quando texto Maffei cita que quem faz a doença<br />
é o próprio organismo através dos seus mecanismos defensivos,<br />
a psora age ou se manifesta de uma forma diferente?<br />
Basta interpretar o parágrafo supracitado onde<br />
Hahnemann diz que somente após a transformação de todo o<br />
organismo é que a psora se manifesta.<br />
Um fato que poderia se contrapor a hipótese, de<br />
que a psora seja igual a Alergia, seria a eventual<br />
transmissibilidade da psora (psora = sarna).<br />
Entretanto somo da opinião de que “Ninguém<br />
fica doente do que quer e sim do que pode” e baseado no<br />
conceito do locus minoris resistentiae, ou seja, aquele órgão que<br />
durante o desenvolvimento embriológico não atingiu o seu<br />
desenvolvimento pleno, como, por exemplo, uma espinha bífida,<br />
que predispõe o indivíduo a desenvolver prolapso de reto, uretro –<br />
cistocele, a contrair a própria poliomielite, uma vez que existem<br />
alterações concomitantes na mesma região metamérica em nível<br />
de medula espinhal, ou uma válvula cardíaca com defeito, ser<br />
mais sujeita a assestar o striptococus que provoca a febre<br />
reumática ou ainda predispõe um rim lobulado a desenvolver uma<br />
nefrite etc.<br />
107<br />
107
Porém não esqueçamos que o locus minoris<br />
resistentiae se transmite de uma maneira genética, hereditária, de<br />
geração para geração, não indo, portanto, contra a teoria de<br />
transmissibilidade ao longo da evolução humana.<br />
Um outro argumento, que poderia ser levantado<br />
a favor de que a psora (psora = alergia) como a causa primária de<br />
todas as doenças é a teoria de que a resposta de defesa do<br />
organismo é inespecífica, ou seja, feita de uma mesma forma e<br />
maneira para todos os agentes agressores, quer endógenos ou<br />
exógenos.<br />
A inespecificidade da resposta orgânica pode ser<br />
evidenciada pelas reações de Wassermann, Widal ... resultando<br />
negativa, quando realmente existe a enfermidade ou falso<br />
positivo, quando na realidade não está ocorrendo a doença.<br />
Figuras:<br />
A I A I<br />
Figura 1<br />
I A<br />
Figura 2<br />
* Alergia = Imunocomplexo<br />
I<br />
Figura 3<br />
108<br />
A<br />
antígeno<br />
*alergina órgão sensível<br />
anticorpo<br />
108
Outra prova de inespecificidade de resposta<br />
orgânica é o fato do indivíduo com reação de Mantoux<br />
anteriormente, negativa, tornar-se positiva após tomar a vacina<br />
contra o sarampo ou varíola.<br />
Onde fica a teoria da resposta exclusivamente<br />
humoral e celular, esta para as afecções virais e aquela para as<br />
bacterianas?<br />
A resposta orgânica é inespecífica, através da<br />
alergia ou psora.<br />
No ser humano, devido às vacinas, intoxicações<br />
por metais pesados e remédios, principalmente os parenterais,<br />
não existe a alergia, somente a paralergia (para = lado; ergon =<br />
foça) que explica a sycose (retículo endoteliose proliferativo),<br />
ocasionada principalmente pelas vacinações e supressões<br />
medicamentosas da alergia (psora).<br />
A syphilis representa a destruição dos tecidos,<br />
que pode ocorrer depois de uma malfadada tentativa do<br />
organismo de se hipertrofiar às custas de um código genético não<br />
preparado para tal evento.<br />
Sabemos que a alergia e a imunidade são<br />
diametralmente opostas e que esta sucede aquela, como pode<br />
ser visto no esquema abaixo:<br />
Alergia (A) Imunidade (I)<br />
O exemplo clássico disto é a vacina antivariólica<br />
que provoca uma reação diferente por parte do organismo até o<br />
14º dia na fase da pústula, quando cessa a alergia e sobrevem a<br />
imunidade.<br />
109<br />
109
Qualquer processo que dificulta, modifica ou<br />
impede este processo altera a resposta do organismo no sentido<br />
de atingir a imunidade, conforme esquema abaixo:<br />
I = Dificuldade: diminuição das<br />
A proteínas plasmáticas<br />
A I = modificação: Vacinas<br />
A I = impedimento: corticoterapia<br />
O mesmo raciocínio vale para a relação psora e imunidade:<br />
Psora Imunidade<br />
O exemplo acima não quer dizer que a psora<br />
seja algo benéfico, entretanto, segundo Hahnemann, ela é o<br />
ponto de partida para as demais doenças.<br />
Uma psora latente ou alergia latente promove o<br />
estímulo que ainda dá condições do organismo de atingir a<br />
imunidade, veja gráfico abaixo:<br />
110<br />
110
Psora latente Imunidade<br />
Já a psora que explode pode inibir a imunidade,<br />
porque, segundo a lei de Shultz:<br />
“a um estímulo forte o organismo responde<br />
fracamente; ao contrário, diante de um estímulo fraco o organismo<br />
promove uma resposta intensa”.<br />
Psora<br />
manifesta<br />
Imunidade<br />
Outra hipótese de alteração no equilíbrio psora<br />
(alergia) já exposto anteriormente é o seguinte:<br />
Aparecimento da sycose e syphilis<br />
-------------------------------------------<br />
A I<br />
Isto é, diante da supressão da alergia (psora)<br />
pode surgir a Sycose e, subseqüentemente, a syphilis.<br />
111<br />
111
FATORES TEÓRICOS DE ANÁLISE<br />
O organismo humano quando não consegue de<br />
imediato estabelecer uma resposta imunológica sem<br />
intercorrências frente a um antígeno qualquer, lança mão do<br />
fenômeno da alergia, que, como foi citado, trata-se de uma reação<br />
modificada do organismo.<br />
A psora , do mesmo modo, é uma tentativa de<br />
adaptação do organismo, agindo como uma resposta alterada do<br />
mesmo, visando o equilíbrio, fato este bem evidente nas palavras<br />
de Hahnemann, quando se refere à psora:<br />
“Uma mudança da totalidade da pessoa” ou é<br />
“somente quando o organismo inteiro se sentir transformado por<br />
esta força miasmática crônica peculiar é que a força vital<br />
adoecida, tanta aliviar e abrandar a moléstia interna pelo<br />
estabelecimento de um sintoma local sobre a pele”.<br />
Por este motivo, este modo de agir e reagir do<br />
organismo, seja a alergia, seja a psora, que no nosso<br />
entendimento são a mesma entidade, incorporam os fatores<br />
teóricos de análise.<br />
OBJETIVOS DO TRABALHO<br />
O presente trabalho visa esclarecer um tema<br />
extremamente controvertido, qual seja, a psora.<br />
Tal esclarecimento deve, necessariamente,<br />
tentar satisfazer a comunidade médica científica, através de<br />
conceitos atualizados, hodiernos, que passam pelo conhecimento<br />
imunológico.<br />
Com este intuito, o autor procura demonstrar a<br />
semelhança entre a psora e o fenômeno da alergia, entendida no<br />
seu aspecto mais amplo possível.<br />
112<br />
112
Definição de Termos:<br />
ALERGIA – alergia, palavra grega ( all = diferente, modificada;<br />
ergia = força, energia), que etimologicamente<br />
significa reação ou força alterada ou modificada no<br />
organismo, frente a um agente agressor qualquer.<br />
MIASMA – palavra grega que no seu sentido estrito quer dizer<br />
emanações dos pântanos; era usada pelos médicos<br />
antigos como sendo causa das doenças.<br />
S.E.R. – o sistema retículo endotelial compreende as células<br />
que revestem muitos canais vasculares e linfáticos e<br />
que são capazes de fagocitar bactérias, vírus e<br />
outros corpos estranhos, ou podem formar anticorpos<br />
contra eles. Compreendem as células fagocitárias da<br />
medula óssea, do baço, do fígado e dos gânglios<br />
linfáticos. Todas essas células se assemelham,<br />
sendo denominadas células reticulares.<br />
SELF – termo que designa aquilo que é próprio do organismo, ou<br />
melhor, que não é estranho ao sistema imunológico.<br />
REVISÃO DA LITERATURA OU SUPORTE<br />
BÁSICO<br />
Kent, no capítulo 18 do livro Filosofia<br />
Homeopática , diz: “A psora é a causa fundamental, é a desordem<br />
primitiva ou primária da raça humana”.<br />
Segundo Edgard Maffei, o entendimento de<br />
todas as reações orgânicas deve passar pelo conhecimento do<br />
fenômeno da alergia, que literalmente significa: força ou reação<br />
diferente ou modificada do organismo frente a um agente<br />
agressor. A alergia é o ponto de partida para o entendimento e<br />
conhecimento de toda a Medicina.<br />
113<br />
113
Os dois conceitos, o da psora e o da alergia se<br />
interpenetram de tal forma e modo a parecerem a mesma coisa.<br />
A procura de uma definição comum entre ambos<br />
os termos visa dar uma interpretação atual imunológica da psora,<br />
de tal sorte a tentar satisfazer as exigências do mundo médico –<br />
científico do que realmente seja a psora.<br />
Tanto uma quanto a outra são decorrentes de<br />
uma falha do sistema de defesa do organismo, contra um agente<br />
agressor qualquer.<br />
Trata-se, portanto, de um mecanismo secundário<br />
de defesa, que se processa através de uma modificação ou<br />
alteração do mesmo, com finalidades adaptativas.<br />
cura.<br />
114<br />
Porém, ambas funcionam como um obstáculo à<br />
Quando Hahnemann se refere à psora , como<br />
sendo uma mudança da totalidade da pessoa ou “e somente<br />
quando o organismo inteiro se sente transformado por esta<br />
doença miasmática crônica peculiar é que a força vital adoecida<br />
tenta adequada manifestação de um sintoma local na pele”, ele<br />
não estará adotando a mesma linha de raciocínio de Maffei,<br />
consubstanciados nos exemplos abaixo discriminados, onde<br />
partimos do princípio que a psora (P) e a alergia são a mesma<br />
identidade?<br />
A=P Imunidade (I)<br />
O gráfico acima sugere que a alergia e a<br />
imunidade vivem num aparente equilíbrio. Se um dos pratos da<br />
balança pender para um dos lados, teremos o seguinte:<br />
A=P<br />
114
Ou seja, se A = P estiver em alta, teremos uma<br />
imunidade baixa.<br />
O inverso também é verdadeiro:<br />
I<br />
A=P<br />
Como já foi explanado, tal fenômeno pode ser<br />
observado claramente nas vacinações antivariólicas, onde até em<br />
torno do 14º dia ocorre uma intensa reação local, onde foi<br />
aplicada a vacina, ocorrendo uma profunda reação à mesma,<br />
provocando uma força alterada ou modificada no organismo,<br />
sobrevinda geralmente a partir do 15º dia, a fase de imunização,<br />
ou seja, popularmente, sabe-se que a “vacina pegou” invertendo<br />
os pratos da nossa balança simbólica, colocando em alta<br />
imunidade. A partir daí, se o indivíduo entrar em contato com o<br />
vírus da varíola, a resposta orgânica será eficiente e ele não<br />
contrairá a doença. Donde pode-se concluir, que a psora e a<br />
alergia são uma reação alterada e quase sempre não ideal de<br />
defesa do organismo.<br />
Logicamente, estas reações modificadas<br />
ocorrem em função do genótipo de cada indivíduo, tornando claro<br />
que a alergia é um fenômeno individual, de tal sorte a explicar a<br />
gama intensa de manifestações psóricas que ocorrem de<br />
indivíduo para indivíduo, tanto na área somática, como na<br />
psíquica.<br />
As manifestações supracitadas são<br />
condicionadas às constituições gerais e parciais das pessoas.<br />
115<br />
I<br />
115
Por constituição geral entende-se como sendo o<br />
“conjunto de caracteres anatômicos e funcionais de um indivíduo<br />
num dado momento da sua vida” (Maffei ).<br />
Já a constituição parcial se refere aos órgãos de<br />
menor resistência, que são aqueles órgãos que nasceram mais<br />
fracos, num indivíduo, devido a um não–desenvolvimento<br />
completo deles, durante a fase embriológica.<br />
Como já se frisou, tais modificações orgânicas,<br />
atribuíveis à psora ou à alergia, estão sujeitas ao modo particular<br />
de reagir de cada pessoa, uma vez que segundo Lucrécio, filósofo<br />
romano, século I aC., “a mesma carne que alimenta um homem,<br />
pode envenenar um outro”.<br />
Se um “simples” alimento pode desencadear<br />
toda uma modificação no organismo, levando até a morte certos<br />
organismos, através de um choque anafilático, frente a um<br />
alimento qualquer, o que não pensar o que poderia ocorrer<br />
quando estes mesmos organismos entram em contato com a<br />
infinidade de microorganismos que pululam na atmosfera.<br />
A existência de uma transmissibilidade<br />
infecciosa da psora, que Hahnemann anteviu até mesmo a<br />
Pasteur, pode ser plenamente explicada pela alergia.<br />
Interessante também observar que a gama de<br />
sintomas que ocorrem de pessoa para pessoa,<br />
independentemente do agente etiológico, seja, por exemplo, viral<br />
ou bacteriano é explicável pela psora e/ou alergia, dependendo de<br />
uma resposta global do organismo, inespecífica, qual seja à<br />
Energia Vital, alterada, ou transformada, para tentar se equilibrar.<br />
Com base no fenômeno da alergia e psora,<br />
pode-se procurar também explicações para os miasmas, sycose e<br />
syphilis.<br />
116<br />
116
Todos os fenômenos defensivos do organismo,<br />
inespecífico, qual seja à da Energia Vital alterada ou<br />
transformada, são tentativas do organismo se equilibrar.<br />
Todos os fenômenos defensivos do organismo<br />
são dependentes do S.R.E., que é o fiel depositário de todas as<br />
informações genéticas, reconhecendo o que é self (próprio) e o<br />
que não lhe pertence, inclusive explicando as doenças auto –<br />
imunes, onde estariam envolvidos os órgãos minores resistentiae,<br />
que pelo fato de não terem atingido o seu desenvolvimento pleno,<br />
param numa fase anterior, onde as suas estruturas inacabadas,<br />
acabam sendo reconhecidas como não self, gerando as referidas<br />
doenças auto – imunes, na vigência do choque antígeno x<br />
anticorpo, que também provocam uma alergia, força diferente no<br />
organismo, a psora, reação modificada no organismo, onde podese<br />
inferir que a psora e a alergia constituem o mesmo fenômeno.<br />
Complementando esta idéia da existência de<br />
uma unidade mórbida no organismo, recorreremos a Hipócrates:<br />
“A natureza de todas as doenças é o mesmo, difere apenas<br />
quanto a sua sede. A essência é uma, a causa que as determina<br />
é também uma ... O que é importante não é tanto enumerar e<br />
separar cada doença por menor que se ache que ela difira em<br />
pouco das outras, mais imaginar que as doenças são sempre,<br />
essencialmente, as mesmas, ainda que tenham nomes<br />
diferentes”.<br />
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS<br />
Semelhanças entre:<br />
PSORA ALERGIA<br />
É a causa primária de todas as<br />
enfermidades agudas crônicas (<br />
não – venéreas) que assolam a<br />
humanidade.<br />
A Psora é a mais antiga, mais<br />
universal, mais destrutiva, não<br />
117<br />
117<br />
É o ponto de partida para o<br />
entendimento de todas as<br />
reações orgânicas e<br />
conseqüentemente de toda a<br />
Medicina<br />
Representa o núcleo primeiro de<br />
reagir do organismo, quando
obstante, a mais irreconhecida<br />
das doenças miasmáticas<br />
crônicas que há milhares de<br />
anos vem desfigurando e<br />
torturando a humanidade e que<br />
durante os últimos séculos têm<br />
se tornado a mãe de todas as<br />
milhares de doenças<br />
incrivelmente variadas agudas e<br />
crônicas (não–venéreas), pelas<br />
quais é a mais afetada a<br />
totalidade da raça humana<br />
civilizada, na parte habitada do<br />
globo (Hahnemann).<br />
Hahnemann usa a frase<br />
“mudança da totalidade da<br />
pessoa”e “somente quando o<br />
organismo inteiro se sentir<br />
transformado por esta doença<br />
miasmática crônica peculiar”<br />
A Psora funciona como um<br />
obstáculo à cura<br />
CONCLUSÃO<br />
118<br />
este não consegue vencer sem<br />
intercorrência, um ataque<br />
endógeno ou exógeno contra<br />
ele mesmo, quer de natureza<br />
aguda ou crônica.<br />
Alergia = (all = diferente;<br />
modificado; ergon = força,<br />
energia) palavra grega que quer<br />
dizer: reação alterada ou<br />
modificada do organismo frente<br />
a um agente agressor.<br />
A alergia é inversamente<br />
proporcional à imunidade.<br />
Como procuramos demonstrar, tanto a alergia<br />
como a psora são uma modificação ou alteração do organismo<br />
frente a um agente agressor, seja externo ou endógeno, fato este<br />
facilmente compreensível até pela própria definição de alergia<br />
(allos=diferente, alterado; ergon=força ou energia) de<br />
Hahnemann.<br />
Já a psora é referida por Hahnemann como<br />
sendo “uma mudança da totalidade a pessoa” ou “somente<br />
quando o organismo inteiro se sentir transformado por esta<br />
doença maiasmática crônica é que a força vital adoecida tentar<br />
aliviar e abranger a moléstia interna pelo estabelecimento de um<br />
sintoma local sobre a pele, as vesículas da sarna”. Tanto uma<br />
118
como outra dependem de genótipo de cada indivíduo, daí a<br />
explicação para as mais incríveis e variadas doenças agudas e<br />
crônicas que acometem toda a humanidade.<br />
Ambos os fenômenos são mediados pelo<br />
sistema retículo endotelial (S.R.E), fiel depositário de todas as<br />
informações genéticas do organismo, detectando tudo aquilo que<br />
não é self no mesmo, endógeno ou exógeno. Maffei considera o<br />
conhecimento da alergia como sendo pedra fundamental (land –<br />
mark) de toda Medicina.<br />
Hahnemann não pensa diferente de Maffei,<br />
quando diz que a “psora é a mais antiga, mais universal, mais<br />
destrutiva e não obstante a mais irreconhecida das doenças<br />
miasmáticas que há milhares de anos vêm desfigurando e<br />
torturando a humanidade e que, durante os últimos séculos temse<br />
tornado a mãe de todas as doenças variadas, agudas e<br />
crônicas (não–venéreas) pelas quais é a mais afetada a totalidade<br />
da raça humana civilizada na parte habitada do globo”. Segundo<br />
ainda Von Pirquet, a alergia é um fenômeno primário, básico de<br />
todas as alterações orgânicas, assim como a psora.<br />
Outro fato em comum entre a psora e a alergia é<br />
que ambas funcionam como um obstáculo à cura, como ficou<br />
demonstrado no exemplo da “gangorra”, isto é, quando ambas<br />
predominam, resulta na baixa imunidade, sendo que o inverso é<br />
plenamente verdadeiro, conforme o esquema a seguir:<br />
Alergia=psora Imunidade<br />
Da ilustração anterior depreende-se que, se a<br />
alergia (psora) estiver em alta, a imunidade cai, conforme<br />
esquema a seguir:<br />
Psora<br />
119<br />
119
A (P)<br />
O inverso também é verdadeiro:<br />
(I)<br />
Imunidade<br />
No organismo humano, a resposta alterada varia<br />
em conformidade com a constituição geral e parcial de cada<br />
indivíduo, por isso a gama imensa de variações que uma mesma<br />
doença nosologicamente classificada produz de um indivíduo para<br />
outro.<br />
A partir do entendimento da compreensão da<br />
psora e da alergia, pode-se tentar estabelecer um modelo teórico<br />
que explique a sycose (paralergia) e a syphilis.<br />
Esperamos que de alguma forma as hipóteses<br />
levantadas neste trabalho possam dar uma interpretação atual<br />
para o nosso exigente mundo médico–científico, do que seja<br />
realmente a psora, deixando em aberto esta questão, para que<br />
outras colegas possam ajudar a elaborar melhor esta nossa<br />
teoria.<br />
120<br />
120
XXXV<br />
DEVE-SE EXAMINAR O PACIENTE?<br />
Como já sabemos, não existe a medicina<br />
homeopática ou a medicina alopática.<br />
A medicina é uma só.<br />
Existem, sim, métodos terapêuticos diferentes,<br />
isto é, formas de tratamento, chamadas Alopatia e Homeopatia,<br />
assim como há diversos modos de se tratar um indivíduo enfermo,<br />
com Acupuntura, Hidroterapia, Biocibernética Bucal, Alimentação,<br />
Quiropatia etc.<br />
Etimologicamente, Patologia (phatos=doenças,<br />
logos=estudo) significa “estudo das doenças”.<br />
Segundo o Prof. Maffei, a Patologia se inicia com<br />
a observação do doente, que se compõe do interrogatório e<br />
exame físico, o que constitui a clínica (do grego, klinikos, que<br />
significa cama ou leito); esta denominação resultou do fato do<br />
doente estar em geral acamado.<br />
“No primeiro contato com o doente, o médico<br />
procede ao interrogatório, a fim de obter o histórico dos males que<br />
o afetam, isto é, procede-se à anamnese (ana=duas vezes;<br />
mneses=lembrar); portanto, relembrar ou rememorar. Desse<br />
modo apreende-se qual o tipo de sofrimento, que constitui o<br />
sintoma ou sintomas subjetivos...”.<br />
Leva-se em conta há quanto tempo está<br />
ocorrendo o sofrimento, os antecedentes pessoais, os<br />
antecedentes familiares e hereditários.<br />
Na etapa seguinte, passa o médico ao exame<br />
físico, olhando o doente (inspeção), tocando – o (palpação) e<br />
fazendo a percussão, que consiste em colocar, em geral, o dedo<br />
indicador esquerdo sobre o tórax e o abdome, batendo-se sobre<br />
121<br />
121
ele com o 3º dedo da mão direita, como se fosse um martelo, e,<br />
finalmente, procedendo à ausculta, com a finalidade de ouvir os<br />
diversos ruídos das diferentes áreas do corpo.<br />
Este conjunto de manobras constitui a<br />
Semiologia Médica (semion = sinal + logus = estudo).<br />
Vimos que para se chegar a um diagnóstico (dia<br />
=através + gnonis=reconhecer) depende-se dos procedimentos<br />
acima.<br />
Através do diagnóstico consegue-se ter uma<br />
idéia do prognóstico (pro = antes + gnosis = reconhecer), que<br />
pode ser favorável ou desfavorável; se a cura vai ser total ou<br />
parcial ou mesmo resultar no óbito do paciente.<br />
Portanto, como observamos, dentro de um<br />
contexto rigorosamente médico, o exame físico se impõe.<br />
Além do que, os dados físicos podem servir<br />
como elemento para se escolher o medicamento homeopático<br />
correto.<br />
Mesmo com todos os esses cuidados, pode-se<br />
“comer – bolar”, como se diz em gíria médica, o que dirá se não<br />
examinarmos os pacientes.<br />
Não nos esqueçamos que o físico, juntamente<br />
com o mental e o psíquico, formam o conjunto, a totalidade, o<br />
holos (todo) do indivíduo.<br />
Não só devemos examinar o doente, principalmente as crianças,<br />
que possuem uma labilidade muito grande, como devemos<br />
recorrer inclusive à Propedêutica (pro = antes + pedeus = ensinar)<br />
armada, tais como: RX, ultrassonografia, exames de laboratório<br />
etc, utilizando todos os recursos modernos existentes à nossa<br />
disposição.<br />
122<br />
122
XXXVI<br />
O MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO<br />
Como já sabemos, o medicamento homeopático,<br />
pela Lei das Semelhanças é experimentado no homem são e<br />
Hahnemann catalogou estes sintomas num livro que chamou de<br />
Matéria Médica Pura, onde descreve estes sintomas físicos e<br />
mentais, que caracterizam cada medicamento.<br />
No capítulo “O medicamento experimentado pelo<br />
homem são”, mostramos que a escolha do medicamento<br />
homeopático se faz por um processo de exclusão, único e<br />
particular, onde os sintomas do paciente devem coincidir o<br />
máximo possível com os do medicamento, por isso dizemos que<br />
um é o espelho do outro.<br />
Quando dizemos que uma pessoa é<br />
Phosphorus, é porque as suas características físicas e psíquicas<br />
se assemelham ao medicamento Phosphorus, quando<br />
experimentado no homem são.<br />
Para melhor entendimento descrevemos este<br />
processo de experimentação, que recebe o nome de Patogenesia,<br />
consubstanciada na matéria médica homeopática.<br />
Queremos esclarecer que existem matérias<br />
médicas de vários autores e que a simples leitura dos<br />
medicamentos que exporemos adiante não autoriza e nem<br />
desautoriza o seu uso.<br />
Existem alguns livros de Homeopatia que<br />
descrevem os medicamentos homeopáticos, fornecendo<br />
indicações clínicas para eles, como se isto fosse tão simples. Isso<br />
a meu ver só confundem a população.<br />
Por exemplo, uma vez atendi uma criança<br />
porque apresentava um corrimento vaginal crônico (leucorréia<br />
crônica) que não cedia a nada.<br />
123<br />
123
No interrogatório sobre os diferentes aparelhos<br />
do organismo, ficamos sabendo que a criança, extremamente<br />
friorenta, ciumenta, irritada, dormia na posição genupeitoral (prece<br />
maometana), que tinha um desejo marcado por doce etc.<br />
Ao exame físico constatamos uma faringite.<br />
Repertorizamos tais sintomas e chegamos no<br />
medicamento Sepia succus, o que nos autorizou a sua<br />
administração.<br />
Porém, a mãe foi à farmácia, que tinha um livro<br />
muito conhecido, incompleto e nada esclarecedor sobre o que<br />
seja a Homeopatia, e, contando com o “imenso” favor que o<br />
balconista da farmácia fez de dizer a ela que aquele medicamento<br />
era usado em mulheres em época de menopausa etc., não deu o<br />
Sepia succus para a criança e, o que foi pior, desistiu da<br />
Homeopatia.<br />
Desejo esclarecer que fiquei sabendo de tal fato<br />
somente posteriormente, através de uma paciente, amiga da mãe<br />
da criança.<br />
Foi falta de confiança no médico? Ou o referido<br />
livro é algo muito forte?<br />
Não fora este livro e o balconista, a criança<br />
provavelmente teria se beneficiado com o uso de Sepia succus.<br />
Um farmacêutico com curso universitário e pósgraduado<br />
em Homeopatia, pela responsabilidade e pela noção de<br />
ética que possui, certamente não procederia desta forma.<br />
A seguir exporemos como o medicamento é<br />
estudado na referida matéria médica:<br />
Bryonia alba:<br />
O medicamento quando experimentado no<br />
homem sadio produz:<br />
124<br />
124
- Inflamações agudas que se traduzem por<br />
ressecamento excessivo das mucosas e por dores agudas e<br />
pulsantes, melhoradas pela pressão e repouso, agravadas ao<br />
menor movimento.<br />
Agravações:<br />
1. movimento<br />
2. calor<br />
3. tempo quente<br />
4. 21 horas<br />
5. sobretudo pela manhã, 3 horas<br />
6. supressão de corrimento habitual<br />
Melhora:<br />
1. repouso<br />
2. pressão<br />
3. lado doloroso<br />
4. bebidas e aplicações frias<br />
Lateralidade – Direita<br />
Vertigem pela manhã, ao levantar-se, quando se levanta de seu<br />
assento, tem a sensação como se a cabeça desse volta em<br />
ciranda;<br />
Sede ardente, por grandes quantidades de água fria a largo<br />
intervalos;<br />
Sensação de pedra pesada no estômago;<br />
Conspiração tenaz, fezes muito duras, secas, negras, como<br />
queimadas, sempre grossa;<br />
Diarréia pela manhã, ao 1º movimento;<br />
Epistaxes pela manhã, persistindo 1/4 horas – 3 horas;<br />
Tosse seca quintosa quando passa do frio para o calor, se<br />
acompanhada de dores agudas, lancinates, no peito ( dor de<br />
costado) e na cabeça;<br />
Melhora da pressão forte;<br />
Menstruações precedidas de epistaxis;<br />
Dor no ovário direito;<br />
Mamas pálidas, quentes, duras de uma dureza de pedra, pesados<br />
e muito dolorosos;<br />
125<br />
125
Clínica:<br />
Proteleum:<br />
Agravação:<br />
1.no inverno<br />
2. trocas atmosféricas<br />
3. tempestades (durante)<br />
4. carruagem<br />
5. emoção<br />
Melhora:<br />
1. calor<br />
2. repouso<br />
126<br />
- Bryonia afeta principalmente as serosas;<br />
- Sua indicação aparece freqüentemente em<br />
Natrum muriaticum;<br />
- Movimentos constantes do braço e perna<br />
esquerda;<br />
- Pele amarelada e oleosa, e cabelo oleoso.<br />
- amenorréia, angiocolites e apendicites<br />
crônica, artrite, asma, bronquite,<br />
broncopneumonia, cefaléia, ciática, cólicas<br />
hepáticas, congestão pulmonar, constipação,<br />
flatulência, diabetes, diarréia, dispnéia,<br />
dispepsia, enfisema, endocardite, epsistaxe,<br />
escarlatina, febre.<br />
- Alterações profundas da pele, agravadas<br />
durante o inverno. Diarréia crônica que se<br />
apresenta unicamente durante o dia.<br />
Moléstias provocadas ou agravadas por<br />
andar em carruagem ou barco.<br />
- pensa que é duplo: 2 pernas – 2 filhos na<br />
febre puerperal;<br />
- crê que a morte está próxima;<br />
126
Aversão:<br />
1. carne<br />
2. gorduras – diarréia<br />
3. repolho<br />
127<br />
- se perde em coisas que conhece<br />
- vertigem ao levantar-se, por andar em<br />
carruagem;<br />
- cefaléia occiptal.<br />
Sede por cerveja;<br />
Fome canina imediatamente após evacuar;<br />
Fome à noite;<br />
Diarréia somente durante o dia, depois de comer repolho;<br />
Nariz seco, fossas nasais ulceradas com formações de crostas;<br />
Umidade constante dos órgãos genitais externos, com suores<br />
ofensivos e erupções;<br />
Regras adiantadas e curtas, antes do período;<br />
Batimentos na cabeça, leucorréia abundante, albuminosa, com<br />
pruridos locais, herpes e eczema úmido;<br />
Pele seca, grossa e rugosa, com fissuras profundas, fissuras e<br />
grietas nas pontas dos dedos que pioram no inverno;<br />
Erupções suprimidas, com vesículas, mais ou menos confluentes,<br />
que deixam escapar corrimento claro e aquoso, que forma crostas<br />
amareladas. Vesículas pruriginosas, ardorosas e superúmidas.<br />
Sempre agravação pelo inverno e frio. Couro cabeludo, atrás das<br />
orelhas, boca, dorso das mãos, entre os dedos dos pés, partes<br />
genitais e períneo;<br />
Transpiração abundante e odor penetrante das partes genitais,<br />
axilas e pés.<br />
Clínica:<br />
Complementar:<br />
- angina de peito, audição, coriza crônica,<br />
diarréia, dispepsia, eczema, fissuras,<br />
enxaquecas, náuseas e vômitos, psoríase,<br />
reumatismo, frieiras, úlceras de estômago,<br />
vertigem.<br />
127
Conium maculatum:<br />
seguinte:<br />
- Sepia succus<br />
Agravação:<br />
1. noite<br />
2. cabeça baixa<br />
3. por dar voltas na cama<br />
4. depois de haver comido<br />
5. antes e durante as regras<br />
Melhora:<br />
1. na obscuridade<br />
2. pelo movimento<br />
3. sobretudo pelo andar<br />
4. pelo calor<br />
128<br />
A patogenesia do Conium maculatum é a<br />
- Paralisia progressiva ascendente precedida<br />
de consulsões e vertigens. Endurecimento<br />
dos tecidos, particularmente das glândulas, e<br />
geralmente consecutivas a um traumatismo.<br />
- acha-se incapaz para sustentar um esforço<br />
mental;<br />
- vertigem estando acostado, ao volta-se na<br />
cama;<br />
- lacrimejamento excessivo e fotofobia intensa<br />
em desproporção com os sinais objetivos<br />
comprovados;<br />
- ptoses;<br />
- exudações muito ácidas;<br />
- debilidades e tremores depois de cada<br />
evacuação;<br />
- gases e evacuações frias;<br />
- prurido no nariz que obriga o enfermo a<br />
coçar-se;<br />
- disúria com jato intermitente;<br />
128
129<br />
- ejaculação involuntária na presença de uma<br />
mulher;<br />
- testículos aumentados de volume e<br />
endurecidos;<br />
- menstruação:<br />
A antes: ⎨1. prurido uterino<br />
⎨2. mamas inchadas, pesadas, duras e dolorosas<br />
B. durante ⎨1. Espasmos uterinos<br />
C. depois ⎨1. Leucorréia ácida, leitosa, abundante, durante 10<br />
dias<br />
- supressão brusca das regras ( menstruação)<br />
depois de haver colocado as mãos na água<br />
fria;<br />
- glândulas mamárias amolecidas e relaxadas<br />
com nódulos endurecidos, sensíveis e<br />
dolorosos;<br />
- suores abundantes ao fechar os olhos desde<br />
que adormece.<br />
Como já expusemos anteriormente, uma análise<br />
simplista dos sintomas acima não autoriza o uso de tais<br />
medicamentos, que devem ser receitados por um médico<br />
preparado para tal.<br />
XXXVII<br />
O REPERTÓRIO<br />
Qual o paciente, que freqüenta um consultório<br />
homeopático, que não se deparou com um livro em geral preto<br />
que o homeopata usa durante a consulta?<br />
uma Bíblia.<br />
Muitos perguntam curiosamente se se trata de<br />
129
De certa forma esta pessoa observadora não<br />
deixa de ter razão, posto que este livro pode perfeitamente ser<br />
comparado a uma Bíblia, que significa “o livro dos livros”, uma vez<br />
que o Repertório , como é chamada esta obra, contém quase<br />
todos os sinais e sintomas da matéria médica homeopática, que<br />
pode se ter uma idéia no capítulo “O medicamento homeopático”,<br />
só que de uma maneira esquemática, ao contrário da Matéria<br />
Médica, que é feita de uma maneira dissertativa.<br />
Por exemplo, uma paciente refere necessidade<br />
de afeto, gosta de comer queijo, dor de cabeça após cessar a<br />
menstruação, cólicas durante a menstruação, as rubricas se<br />
apresentam da seguinte forma:<br />
Psiquismo:<br />
130<br />
- afeto: necessidade de: Carcinosinum (2<br />
pontos), Phosphorus (3 pontos), Pulsatilla (3<br />
pontos)<br />
Estômago:<br />
- desejo: queijo: Argentum nitricum (1 ponto), Asteria rubens (1<br />
ponto), Cistus canadesis (2 pontos), Bacillus gartner (1 ponto),<br />
Ignatia amara (1 ponto), Moschus (1 ponto), Bacillus proteus (1<br />
ponto), Pulsatilla nigricans (1 ponto), Bacillus syccocus (1 ponto) .<br />
Cabeça:<br />
- Dor: menstruação. Depois: ao cessar: Bryonia<br />
alba (1 ponto); Carbo vegetalis (2 pontos);<br />
Glonoinum (1 ponto); Naja tripudians (1<br />
ponto); Nitric acidum (1 ponto); Pulsatilla<br />
nigricans (2 pontos).<br />
Como vimos, por um processo de exclusão<br />
vamos eliminando todos os medicamentos que não constam nas<br />
rubrica que cubram todas as características do paciente, até se<br />
chegar num único que cubra a totalidade, física, psíquica do<br />
indivíduo enfermo, no caso em particular, Pulsatilla nigricans.<br />
130
Existem vários repertórios. No Brasil há uma<br />
preferência pelo Repertório de Kent.<br />
Pelo exposto, o Repertório funciona como um<br />
banco de dados de um computador, de onde pode-se obter o<br />
medicamento simillimum, que visa melhorar o paciente<br />
holisticamente, isto é, como um todo.<br />
XXXVIII<br />
OPOSIÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE<br />
A <strong>HOMEOPATIA</strong> E A ALOPATIA<br />
As grandes linhas teóricas do novo Modelo<br />
Médico apresentado pela Homeopatia na primeira metade do<br />
século XIX, soavam absurdas para a medicina de então, como<br />
soam “hipotéticas” até hoje. Tais linhas podem ser assim<br />
resumidas:<br />
1. Medicina dos doentes individuais, por oposição a uma<br />
medicina de doenças.<br />
2. Exame clínico baseado no discurso do paciente, solicitando a<br />
se exprimir exaustivamente, por oposição ao olhar classificado<br />
e interventor do médico sobre o organismo do paciente,<br />
através da prática do exame anatomoclínico, físico e da<br />
classificação de sinais e sintomas num quadro produzido a<br />
priori pelo conhecimento médico.<br />
3. Medicina dos quadros sintomáticos globais, isto é, uma<br />
medicina gestáltica, por oposição a uma medicina etiológica.<br />
4. Personificação de doses e de medicamentos em função do<br />
quadro sintomático individual, por oposição à generalização<br />
de doses e medicamentos em função de patologias<br />
específicas.<br />
5. Dinamização de doses de substâncias medicamentosas ao<br />
nível infinitesimal, por oposição a doses quimicamente<br />
131<br />
131
concretadas para serem eficazes na cura de patologias<br />
específicas.<br />
6. Experimentação de doses e medicamentos no homem são,<br />
por oposição a experiência em animais.<br />
7. Finalmente, e talvez a mais clara diferença, o princípio de que<br />
o semelhante pode curar semelhante em oposição a uma<br />
medicina de combate ao agente patogênico por um agente<br />
químico constituído de propriedades contrárias ao do inimigo<br />
capas de “eliminá-lo”, ou trazê-lo para fora do suor da<br />
inflamação local, da febre, do vômito.<br />
Em acréscimo ao item 7 do artigo de Madel<br />
Therezinha Luz, acima exposto, publicado na revista Ciência<br />
Hoje, volume 7, nº 39, observei ao longo dos anos que pratico a<br />
Homeopatia que parece que o organismo só “sabe” ou “prefere”<br />
resolver os seus problemas na superfície, na luz do dia, ou seja,<br />
às claras, como tudo na natureza e, qualquer processo ao<br />
contrário que vise suprimir ou desaparecer lesões de pele, coriza,<br />
diarréias etc., só pode complicar o seu mecanismo de alergia.<br />
Alergia (all = diferente, modificado; ergon =<br />
força) significa reação ou força alterada do organismo frente a um<br />
agente agressor. Segundo Maffei é a base para compreensão de<br />
toda a Medicina.<br />
XXXIX<br />
OS FLORAIS DE BACH<br />
Não cabe nesta modesta obra tecer<br />
considerações aprofundadas sobre os Florais de Bach.<br />
Cabe, sim, dizer que os remédios florais não são<br />
medicamentos homeopáticos.<br />
Edward Bach, célebre, ilustre e embora muito<br />
bem sucedido médico inglês no campo da Microbiologia e da<br />
132<br />
132
Imunologia, abandonou esta especialidade para se dedicar à<br />
Homeopatia, onde também, como não podia deixar de ser,<br />
alcançou pleno êxito na ciência e arte legada por Hahnemann.<br />
Além do sucesso profissional e competência<br />
científica que sempre foram a sua marca registrada, Bach<br />
também possuía uma extraordinária sensibilidade psíquica e,<br />
como toda pessoa sensitiva, percebeu que determinadas flores<br />
possuíam poderes curativos sobre o ser humano e as catalogou<br />
num total de 38 flores, as quais denominou Florais de Bach.<br />
Estamos assistindo a uma explosão dos Florais<br />
de Bach no mundo inteiro, particularmente no Brasil. Isto nos<br />
preocupa, porque os florais vêm sendo usados de uma foram<br />
indiscriminada.<br />
A preocupação supracitada decorre do fato de<br />
realmente acharmos que os florais agem no organismo humano,<br />
portanto, têm capacidade de promover uma força ou reação<br />
diferente no organismo (vide o fenômeno da alergia), motivo pelo<br />
qual pode promover a cura. Porém, pensamos que quando mal<br />
indicado, pelo próprio fato de possuir uma capacidade de<br />
reacionar o organismo, pode proceder a uma supressão,<br />
promovendo interiorização mórbida.<br />
Há que se estudar melhor a ação dos florais para<br />
não se arriscar a infringir o primeiro mandamento de Hipócrates:<br />
“Primum non nocerum”, ou seja, “primeiro não lesar ou, ainda,<br />
primeiro não fazer mal”.<br />
Há que se estudar melhor o assunto, reafirmo!<br />
Será que os sintomas que aparecem após o uso<br />
dos florais são manifestação da própria enfermidade ou são<br />
resultantes de uma supressão ou de uma má agravação, que os<br />
adeptos do uso dos florais dizem que é como descascar uma<br />
cebola, onde vão surgindo sintomas mais profundos?<br />
Aldous Huxley cita, no sue livro Admirável<br />
Mundo Novo, uma substância – soma – que era administrada às<br />
133<br />
133
pessoas, que as fazia sentirem-se bem, a despeito de estarem<br />
muito mal. Sabemos que na sycose isto pode perfeitamente<br />
ocorrer.<br />
Não desejo parecer um Cavaleiro do Apocalipse<br />
com relação aos Florais de Bach, porém, no mínimo, eles<br />
precisam ser melhor compreendidos e, se administrados, que o<br />
sejam por aquele que compreenda das leis da cura.<br />
Para corroborar o parágrafo supracitado, basta<br />
relembrar as propagandas prometendo curas fantásticas pelo uso<br />
dos Florais de Bach, vendidos até por reembolso postal, de uma<br />
forma indiscriminada e, como visto, podendo ser até prejudicial à<br />
saúde do ser humano.<br />
Esquematicamente a cura deve ocorrer de<br />
dentro para fora, conforme exemplificado:<br />
EU EU<br />
CURA<br />
O inverso contraria a Lei de Hering:<br />
EU<br />
134<br />
SUPRESSÃO<br />
134
Quando se administra um Floral de Bach, por<br />
exemplo, para se curar um medo qualquer sem levar em<br />
consideração o todo do indivíduo e nestas circunstâncias surgir<br />
um desejo de suicídio, seguramente está ocorrendo um<br />
aprofundamento do processo, que não é mais um sintoma que<br />
mereça um outro floral, trata-se de uma supressão, devendo-se<br />
imediatamente suspender o remédio e aguardar, se persistir<br />
consultar um bom homeopata.<br />
Vimos que o Floral de Bach age, entretanto, há<br />
que se conhecê-lo muito bem e não ficar sendo prescrito em cada<br />
esquina, por qualquer aventureiro da saúde.<br />
XL<br />
ABC DA <strong>HOMEOPATIA</strong><br />
O Dr. Waltencir Linhares, na usa obra O ABC da Homeopatia,<br />
refere que a Homeopatia está embasada em quatro pilares ou<br />
princípios fundamentais:<br />
1. Lei dos Semelhantes<br />
2. Experimentação no homem são<br />
3. Medicamento único<br />
4. Doses mínimas.<br />
Cremos que estes princípios foram explicados no<br />
decorrer desta obra.<br />
Entretanto, enquanto os três últimos itens<br />
possam ser passíveis de críticas, o primeiro é irrefutável,<br />
confirmado até pelas próprias palavras de Hipócrates, que diz que<br />
uma das maneiras existentes de curar é pela Lei dos<br />
Semelhantes, conforme exposto anteriormente, quando o mesmo<br />
135<br />
135
Hipócrates usava o Veratrum album para combater epidemias de<br />
cólera.<br />
XLI<br />
CONCLUSÃO<br />
A idéia de se escrever este livro partiu do desejo<br />
de escrever algo que pudesse esclarecer de uma maneira<br />
despretensiosa os alunos da Medicina, os colegas médicos que<br />
não têm formação homeopática ou, mesmo, aqueles que estão<br />
iniciando um curso de formação sobre a Homeopatia.<br />
Esta pequena obra visa mostrar a Homeopatia<br />
como sendo um método terapêutico, capaz de atender a 80% dos<br />
indivíduos que são chamados pacientes funcionais, isto é, que<br />
não se consegue estabelecer um diagnóstico, não sendo,<br />
portanto, passíveis de tratamento alopático, que necessita de<br />
referido diagnóstico.<br />
São pacientes que estão em fase de adoecer<br />
fisicamente e que são tratados como pessoas nervosas, onde lhe<br />
administram calmantes, antidepressivos etc.<br />
A Homeopatia atende muito bem a estes<br />
pacientes, através das mudanças que ocorrem em suas vidas,<br />
tais como: hábitos alimentares, sono, medo, dores, sexualidade,<br />
tensão pré - menstrual etc.<br />
Dessa forma a Homeopatia vem complementar,<br />
de forma eficiente, esta lacuna deixada pela Alopatia.<br />
A Homeopatia age mesmo nos casos crônicos,<br />
com lesões teciduais estabelecidas e,mesmo, classicamente<br />
tratados cirurgicamente, tais como: miomas uterinos, hipertrofia<br />
de próstata etc.<br />
Como dissemos acima, só não erra quem não<br />
faz, mas com o domínio das várias técnicas de cura existentes<br />
136<br />
136
podemos refutar, como dissemos anteriormente, as palavras de<br />
Voltaire: “A medicina consiste em se introduzir substâncias que<br />
não se conhece em um organismo que se conhece menos ainda”.<br />
A Homeopatia no seu sentido exato é aquela<br />
ciência e arte capaz de restabelecer a saúde do paciente de uma<br />
forma rápida, suave e duradoura, removendo ou aniquilando a<br />
doença, em toda a sua extensão da maneira mais curta, mais<br />
segura e menos nociva por princípios facilmente compreensíveis,<br />
como queria Hahnemann, podendo, perfeitamente, contribuir<br />
juntamente com a Alopatia, para o bem–estar e a saúde do ser<br />
humano e, porque dentro da hipótese Gaia, que significa Terra<br />
dos Deuses, é um ser vivo, onde até os minerais têm vida, e nós,<br />
seres humanos, funcionamos como órgãos externos de Gaia,<br />
como braço, olhos, pernas etc.<br />
cérebro!<br />
137<br />
Porque não começamos a treinar para ser o seu<br />
Porém, antes disto, temos que somar forças, e a<br />
união de todos os métodos terapêuticos existentes é um<br />
caminho...<br />
137
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
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REZENDE, AA FILHO. “Grupos Boyd”. Revista da Associação<br />
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VOLTAIRE: “A Medicina consiste em se injetar substâncias que<br />
não se conhece num organismo que se conhece menos ainda”.<br />
140<br />
140
Por isso Hahnemann, ciente da Medicina pesada<br />
que se praticava naquela época, criou a Homeopatia que<br />
preconiza que: “O ideal máximo da cura é o restabelecido rápido,<br />
suave e duradouro da saúde, da maneira mais curta, mais segura<br />
e menos nociva, agindo por princípios facilmente<br />
compreensíveis”.<br />
Quem duvida dos dizeres de Voltaire, basta<br />
lembrar como muitas pessoas morreram pelo uso do calomelano.<br />
George Washington, após sentir dores fortes na<br />
garganta, foi submetido ao tratamento com calomelano e sangrias<br />
sucessivas que o levaram à morte no dia 14 de dezembro de<br />
1774 por hipovolemia, ou seja, perda acentuada de sangue.<br />
O tratamento acima foi o que recebeu o mais<br />
ilustre cidadão norte-americano, onde se pode concluir que este<br />
era o melhor tratamento da época.<br />
Lógica e felizmente a Medicina atual, graças aos<br />
avanços científicos, tem um conhecimento mais verdadeiro dos<br />
recursos que utiliza, tais como novas drogas úteis, os exames<br />
complementares sejam laboratoriais, ultrassonográficos ou<br />
computadorizados.<br />
A cirurgia continua tendo o seu lugar, desde que<br />
bem indicada. O uso do diagnóstico e da terapêutica nuclear é<br />
importantíssimo.<br />
Entretanto, ainda ocorrem no Terceiro Mundo<br />
distorções, como, por exemplo, o uso de remédios contraindicados<br />
nos países adiantados, que mesmo assim são utilizados<br />
aqui no Brasil, sem falar que muitos destes remédios têm sua<br />
fórmula original alterada pelos laboratórios, sem que os médicos<br />
tenham conhecimento prévio de tal mudança.<br />
A Anestesiologia atual, por exemplo, é uma<br />
especialidade que contradiz Voltaire, uma vez, que se tem um<br />
conhecimento e domínio quase perfeito do mecanismo de ação<br />
das drogas que utiliza.<br />
141<br />
141
A Medicina é uma só, o que se difere entre a<br />
Alopatia e a Homeopatia é, tão – somente, o método terapêutico.<br />
Ambas são importantes, e cada uma tem o seu<br />
papel e finalidade no mundo atual, qual seja a de beneficiar o ser<br />
humano.<br />
142<br />
142