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HOMEOPATIA

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Dr. Celso Fernandes Batello<br />

1<br />

1


PREFÁCIO<br />

Quando o Dr. Celso Fernandes Batello me pediu<br />

para fazer o prefácio de seu livro “Homeopatia x Alopatia?” fiquei<br />

muito satisfeito. Sei bem que um prefácio se destina a falar do<br />

livro em si, no entanto prefiro começar tecendo considerações<br />

sobre o autor. Conheço-o desde antes de cursar medicina Na<br />

Fundação ABC, onde fui seu professor. Depois disso, conheci-o<br />

melhor quando fez sua formação em anestesiologia clínica no<br />

hospital São Caetano, onde dirijo o serviço e a residência na área.<br />

O fato de o Dr. Batello convidar um não-homeopata para prefaciar<br />

seu livro dá uma dimensão daquilo que ele deseja alcançar.<br />

Sou alopata por formação e ele também o é;<br />

recebeu de nós alguns dos princípios que o norteiam até hoje:<br />

“Esteja você onde estiver, apenas está começando”, “Primum non<br />

nocere”, A percepção é finita, mas o conhecimento humano é<br />

infinito, e “Muita atenção em todos os atos médicos”. De maneira<br />

jocosa e agradável ele resumia tudo isso com a expressão: “Olho<br />

de lince em todos os procedimentos”.<br />

Durante a sua residência, por dois anos,<br />

verificamos que a sua capacidade de trabalho era muito grande,<br />

destacando-se por sua habilidade psicomotora, organização,<br />

pontualidade, cortesia, aparência, relacionamento com colegas,<br />

enfermeiras e superiores. Além disso, se destacava pela sua<br />

inteligência privilegiada, pelo interesse pelos conhecimentos<br />

adquiridos, cultura geral médica e, como virtude maior de todas,<br />

“carinho, dedicação e visão de cada paciente como um todo<br />

material, emocional e espiritual”. Era um questionador inato de<br />

tudo e sempre queria saber os “porquês” da etiopatogenia das<br />

doenças, não aceitando facilmente o convencional.<br />

Com esse espírito fez sua formação médica,<br />

exerceu a especialidade alopática por alguns anos e a seguir se<br />

dedicou à Homeopatia. Por definição, as duas agem sobre as<br />

doenças por um método diferente, mas ele sempre viu o homem<br />

de uma forma holística, usando a empatia e a intuição como<br />

fatores básicos para um entendimento das doenças,<br />

2<br />

2


independentemente do método aplicado. Em suas mãos, Alopatia<br />

e Homeopatia nunca serão divergentes e incompatíveis: a<br />

finalidade primordial é a cura do homem.<br />

Este livro define bem o que realmente são<br />

Homeopatia e a Alopatia, e aborda outras técnicas terapêuticas<br />

não muito claras a uma parte da população médica. Além disso,<br />

mostra que a Medicina é uma só. Para comprovar esse fato, parte<br />

da própria história da Medicina, procurando conceituar as bases<br />

fisiológicas da Homeopatia. Assim busca fundamentos para<br />

responder as questões controvertidas até mesmo entre os<br />

próprios homeopatas: por que a Homeopatia considera a febre<br />

como uma reação favorável do organismo; por que, segundo<br />

Maffei, o fenômeno da alergia é a base para o entendimento de<br />

toda a Medicina? Procurando estabelecer uma relação entre<br />

Psora e Alergia, traz uma luz a essa controvérsia, utilizando-se da<br />

imunologia para explicar o tema. O resultado desses estudos foi<br />

apresentado no Congresso Médico Pan–Americano de<br />

Homeopatia e foi aceito para apresentação e publicação nos<br />

Anais do XXII Congresso Brasileiro de Homeopatia.<br />

No capítulo Acupuntura chama a atenção para o<br />

fato de que a Homeopatia deve procurar conhecer bem essa<br />

técnica para evitar eventuais incompatibilidades entre Homeopatia<br />

e Acupuntura. Aborda, também, o uso dos Florais de Bach, que<br />

parecem ter uma ação sobre o organismo e, que, no entanto são<br />

usados indiscriminadamente, podendo, eventualmente, inverter os<br />

processos de cura do indivíduo.<br />

Ao mesmo tempo em que tece elogios, critica os<br />

excessos que existem não na Medicina em si, mas na sua prática.<br />

Quando faz alusão às oposições fundamentais<br />

entre as duas, esclarece tanto um quanto a outra, de maneira a<br />

melhor colocar o médico diante do indivíduo enfermo.<br />

Como isso não é comumente ensinado nas<br />

faculdades, e em livro, tem o mérito de posicionar os profissionais<br />

de saúde sobre o que é realmente o bem maior do ser humano<br />

que é a saúde e agir sobre ela.<br />

3<br />

3


Dr.DeoclecioTonelli<br />

Chefe do Serviço de Anestesia do<br />

Hospital São Caetano e Responsável<br />

pelo Centro de Ensino e Treinamento<br />

de Anestesia ABC-HSC-SBA<br />

Prefácio 2 a . Edição<br />

“O grande defeito dos educadores, é jamais<br />

se recordarem que também já foram crianças”.<br />

Jacques de Lacretelle<br />

Sempre nutri uma admiração as pessoas que<br />

buscam a simplicidade na fala e escrita,<br />

especialmente num mundo, onde o “saber” é<br />

maquiado pelo marketing do intelectualismo<br />

presunçoso: mostrar ou aparentar que se sabe<br />

sobrepuja o conhecimento.<br />

Vejo como nobre aquele que busca facilitar<br />

o ensino e assim descomplicar as ciências – passando<br />

verdades acadêmicas de maneira prática e<br />

compreensível.<br />

Isto de fato é ser sábio.<br />

4<br />

4


O caráter do autor deste livro pode ser<br />

admirado, através destas páginas – pois seu estilo<br />

sincero é também encontrado na didática de sua<br />

redação dos conhecimentos doutrinários e científicos<br />

desta centenária Medicina.<br />

Por isso tudo, parabenizo o Dr. Celso<br />

Batello e recomendo este trabalho.<br />

5<br />

5<br />

Carlos Brunini


Dedico este livro a todos aqueles que foram ou são meus<br />

mestres, principalmente aos meus pacientes, com os quais muito<br />

aprendi, sobretudo da vida em si, principalmente àqueles que por<br />

um motivo ou por outro não pude, em determinado momento, dar<br />

o melhor de mim mesmo...<br />

A Caio Márcio e Marcella Helena, meus filhos.<br />

6<br />

6


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço a Roseclair Freire Loula Campoi por ter orientado<br />

e organizado este livro.<br />

Agradeço ao Dr. Deoclécio Tonelli por ter me incutido, nos<br />

meus primeiros anos de formado, a responsabilidade e o respeito<br />

médico perante ao paciente e à Medicina.<br />

Agradeço a GAIA por ter me aceito no seu seio.<br />

7<br />

7


SUMÁRIO<br />

Prólogo 9<br />

Introdução 11<br />

I – Homeopatia e Holismo 13<br />

II – Homeopatia x Alopatia? 18<br />

III - Isto é correto? É científico? 20<br />

IV – Histórico da Medicina 26<br />

V – Sumário da História da Homeopatia no Brasil 30<br />

VI – Todo Inovador é Perseguido 31<br />

VII – Hahnemann, Pai da Homeopatia 34<br />

VIII – Algumas considerações etimológicas 36<br />

IX – Procedência dos medicamentos homeopáticos 39<br />

X – Diluições homeopáticas 40<br />

XI – O medicamento experimentado pelo homem são 42<br />

XII – Os níveis do tratamento homeopático 44<br />

XIII – Uma doença mais forte acaba com uma doença<br />

mais fraca 46<br />

XIV – Órgão débil ou “locus minoris restistentiae” 48<br />

XV – A febre – Uma reação favorável 51<br />

XVI – As diversas linhas do tratamento homeopático 56<br />

XVII – Lei de Cura – Lei de Hering 58<br />

XVIII – Medicamentos complementares 60<br />

XIX – Conceito falso: A homeopatia não é lenta 61<br />

XX – Princípios do tratamento homeopático 61<br />

XXI – A Homeopatia pode ser usada preventivamente? 62<br />

XXII – A homeopatia cura tudo? 63<br />

XXIII – Homeopatia: a importância de observar-se a si próprio 64<br />

XXIV – A alimentação correta ajuda no tratamento<br />

homeopático? 65<br />

XXV - Os canais de eliminação de toxinas 66<br />

XXVI – A segunda prescrição 67<br />

XXVII – A inércia dos homeopatas 68<br />

XXVIII – Os sintomas psíquicos 69<br />

XXIX – Medicina Agressiva 70<br />

XXX – Os diagnósticos em Homeopatia 73<br />

XXXI – Falsos homeopatas 74<br />

XXXII – Nosódios 76<br />

8<br />

8


XXXIII – Homeopatia x Acupuntura 78<br />

XXXIV – Miasmas 81<br />

XXXV – Deve-se examinar o paciente? 120<br />

XXXVI – O medicamento homeopático 122<br />

XXXVII – O repertório 128<br />

XXXVIII – Oposições fundamentais entre a<br />

Homeopatia e a Alopatia 130<br />

XXXIX – Os florais de Bach 131<br />

XL – ABC da Homeopatia 134<br />

XLI – Conclusão 135<br />

Referências Bibliográficas 137<br />

9<br />

9


PRÓLOGO<br />

Este livro visa prestar informações aos médicos<br />

e estudantes de Medicina que não tiveram uma formação sobre a<br />

Homeopatia.<br />

Apesar do seu conteúdo elementar, esta obra<br />

pode ser de alguma utilidade para aqueles que estão iniciando<br />

seus passos na ciência legada por Samuel Hahnemann, pai da<br />

Homeopatia, porque ela oferece uma visão global e, ao mesmo<br />

tempo, pormenorizada deste assunto palpitante, uma vez que<br />

Hahnemann teve o mérito de ser um dos precursores da Medicina<br />

Psicossomática e da Ciência Experimental antes mesmo de<br />

Claude Bernard, além de fazer toda uma síntese do curar pelo<br />

semelhante, como veremos no decorrer do livro, complementou<br />

os ensinamentos legados por Hipócrates, contribuindo em muito<br />

para o entendimento do ser humano como sendo um ser único,<br />

global e individualizado.<br />

É um livro que analisa alguns pontos de<br />

divergência cruciais, tais como vacinações, casos graves etc.,<br />

porém sem cunho de confronto, somente com finalidade de<br />

aprendizagem, porque, segundo Hahnemann, “em se tratando de<br />

saúde, deixar de aprender é crime” e, principalmente, porque a<br />

Medicina é uma só, o que difere é tão – somente os métodos<br />

terapêuticos.<br />

As divergências existem, e são salutares, até<br />

mesmo entre os integrantes de uma mesma especialidade, entre<br />

escolas diferentes, o que dirá entre as demais “medicinas” que<br />

existem no mundo inteiro. Que fiquem, porém, somente no campo<br />

das idéias, para redundar em benefício do saber humano e,<br />

conseqüentemente, dos pacientes, finalidade maior, senão única,<br />

da Medicina.<br />

Dentro desta idéia de que a Medicina é uma só<br />

deve-se estar atento e com mente aberta e receptiva para os<br />

pontos de convergência das mais diferentes abordagens<br />

10<br />

10


existentes, uma vez que criticar sem conhecer não é nada<br />

científico.<br />

Como se diz em política, referindo-se ao nosso<br />

sistema de saúde, a doença não é federal, estadual ou municipal!<br />

O mesmo raciocínio vale para as diferentes<br />

escolas existentes, ou seja, o doente não pertence a nenhuma<br />

delas, o que ele quer é tão-somente sarar, não importa como.<br />

11<br />

11


INTRODUÇÃO<br />

Nunca saíram da minha memória as palavras do<br />

meu professor de Psiquiatria, Dr. Paulo Fraletti: “Para ser um bom<br />

médico é preciso ter duas faculdades: a Empatia e a Intuição”.<br />

A empatia é a capacidade de sentir ou avaliar o<br />

sofrimento e a dor pelas quais o paciente esteja passando.<br />

A intuição, para poder perceber no paciente, o<br />

que deve ser tratado e escolher o método de tratamento correto.<br />

No meu entender se o ser humano se utilizasse<br />

mais destas faculdades, inevitavelmente o mundo seria melhor.<br />

Este livro tem como objetivo despertar nos<br />

profissionais de saúde a intuição e a empatia, para uso da<br />

Homeopatia, como sendo um dos poucos métodos terapêuticos<br />

que trata o indivíduo holisticamente, isto é, como um todo, física,<br />

mental e psiquicamente, proporcionando-lhe um tratamento mais<br />

pessoal e humano.<br />

Sabemos que, geneticamente, a saúde é<br />

dominante sobre a doença.<br />

Sabemos ainda, que a Homeopatia pode<br />

melhorar a nossa saúde, porque segundo o conhecimento<br />

supracitado nascemos para sermos saudáveis.<br />

E por que não sê-lo?<br />

A Homeopatia, esta “jovem” ciência emergente,<br />

está ai para nos ajudar a sermos mais felizes conosco mesmos e<br />

com aqueles que nos cercam, através de um método terapêutico<br />

que olha o ser humano de uma forma holística, global e não<br />

fragmentada, como se o homem pudesse ser tratado,<br />

grosseiramente falando, como se fosse apenas uma “unha<br />

encravada”, por exemplo.<br />

12<br />

12


Tanto a Alopatia como a Homeopatia têm as<br />

suas indicações precisas.<br />

Elas não são absolutamente incompatíveis entre<br />

si (tudo depende da indicação).<br />

13<br />

13


.<br />

<strong>HOMEOPATIA</strong> E HOLISMO<br />

Existe muita confusão sobre o que seja<br />

realmente a Homeopatia, entre a população, até por interesse dos<br />

grandes laboratórios farmacêuticos, que estão presenciando com<br />

grande preocupação a explosão da ciência legada por Samuel<br />

Hahnemann, o pai da Homeopatia. Estão preocupados a ponto de<br />

haver rumores de que irão fazer uma investida no sentido de<br />

aumentar esta confusão entre as pessoas e até entre os próprios<br />

médicos, que na sua maioria não conhecem o que seja<br />

Homeopatia, não por sua própria culpa, mas sim do sistema, que<br />

dificulta o ensino desta especialidade nas Escolas Médicas, e<br />

talvez mesmo por nosso erro, por sermos omissos em relação à<br />

divulgação desta arte de curar.<br />

A confusão é tão grande que os estudantes de<br />

Medicina, na sua maioria, não sabem as diferenças entre Alopatia<br />

e Homeopatia.<br />

Etimologicamente, Alopatia (all = diferente; patia<br />

= doença) significa curar através de um método que usa um<br />

sistema diferente da doença que está ocorrendo. Antigamente,<br />

diante de um abscesso cerebral, procedia-se à inoculação de um<br />

corpo estranho num tecido vegetativamente de menor importância<br />

do que o cérebro, como os músculos da coxa, com o intuito de<br />

desviar para este local a ação dos anticorpos, diminuindo, desta<br />

maneira, a formação do abscesso naquela região nobre que é o<br />

cérebro. Trata-se, portanto, de um sistema de derivação do<br />

organismo.<br />

A Enantiopatia (enathio = contrário; patia =<br />

doença) consiste em tratar uma doença através dos contrários:<br />

por exemplo, diante de uma febre, administra-se um antifebril, e<br />

diante de uma infecção bacteriana, usa-se um antibiótico (anti =<br />

contra; bio = vida), e assim por diante.<br />

14<br />

14


Entretanto, consagrou-se chamar Alopatia o que<br />

na realidade consiste na Enantiopatia.<br />

Desejamos ressaltar que respeitamos a<br />

chamada Alopatia, que a rigor, como vimos, deveria se chamar<br />

Enantiopatia, posto que ela tem o seu grande lugar de importância<br />

na prática médica!<br />

A Homeopatia (homeo = semelhante; patia –<br />

doença), como o próprio nome indica, significa curar pelo<br />

semelhante, isto é, a mesma substância que experimentada no<br />

homem são provoca sintomas neste indivíduo é o mesmo<br />

medicamento que irá curar a sua enfermidade; por exemplo, o uso<br />

da Ipeca contra vômitos, quando sabemos que ela, administrada<br />

no homem sadio, pode provocar vômitos. Somente a genialidade<br />

de Hahnemann percebeu que, se diluísse ainda mais este<br />

medicamento, a cura seria mais rápida e com menor efeito tóxico.<br />

Para a Homeopatia, não existem doenças e sim<br />

indivíduos doentes; por exemplo, diante de um caso agudo de<br />

pneumonia, para se medicar o paciente leva-se em consideração<br />

não somente o diagnóstico clínico, como também o modo como<br />

aquele indivíduo adoeceu, ou seja, conforme a sua<br />

individualidade, se a enfermidade cursa com febre ou sem febre;<br />

com sede ou sem sede; com transpiração ou sem transpiração.<br />

Assim também o estado psíquico do paciente, ou seja, sempre se<br />

leva em consideração a sua totalidade, o seu aspecto mais global.<br />

Uma das poucas exceções é o sarampo, que possui um curso<br />

bem definido.<br />

A palavra “cirurgia” deriva da palavra grega<br />

chirus que quer dizer “mão”. A cirurgia é um procedimento que se<br />

utiliza das mãos, como finalidade terapêutica. Logicamente a<br />

coisa não é tão simples assim, por isso que a Clínica Cirúrgica,<br />

que visa estudar o paciente cirúrgico com o intuito de indicar ou<br />

mesmo contra – indicar uma cirurgia, bem como conferir<br />

rigorosamente as variações do funcionamento daquele organismo<br />

antes, durante e após a cirurgia. Como vimos, a cirurgia não é um<br />

procedimento nem Alopático, nem Homeopático. É cirurgia<br />

15<br />

15


mesmo! Hahnemann já dizia: “O que é cirúrgico deve ser tratado<br />

cirurgicamente!”<br />

Já nos casos crônicos, além disto tudo,<br />

consideram-se também os fatos que marcaram a vida do<br />

indivíduo, tais como: morte de entes queridos, humilhações, perda<br />

de emprego etc., constituindo a Biopatografia (bio = vida; pato =<br />

doença; graphia = gravar).<br />

Os medicamentos são extraídos dos três Reinos<br />

da Natureza: animal, vegetal e mineral.<br />

A Homeopatia é diferente da Fitoterapia, que<br />

trata somente pelas plantas. É um método válido, porém não é<br />

Homeopatia!<br />

A confusão que se tenta estabelecer é fazer com<br />

que uma coisa seja tomada pela outra.<br />

Outra inverdade é dizer que a Homeopatia é<br />

lenta. Ao contrário, é tão rápida como qualquer outro método<br />

terapêutico. Só é lento naqueles casos crônicos considerados de<br />

difícil cura pelo tratamento clássico.<br />

A Homeopatia é mais profunda, uma vez que<br />

trata o indivíduo física, psíquica e mentalmente, e embora não<br />

cure tudo, encontra uma vastíssima área de aplicação terapêutica.<br />

Apesar do paradigma da Homeopatia ser<br />

diferente da Alopatia, acho que a Medicina, esta nobre arte e<br />

ciência de curar, é uma só, o que difere é tão – somente o método<br />

terapêutico.<br />

O Holismo, palavra grega que significa “todo”, “o<br />

inteiro”, diz respeito a uma teoria, preconizada pelos gregos<br />

antigos, onde o universo dever ser visto como algo global, isto é,<br />

como um todo e não em partes separadas, numa visão<br />

macrocósmica. Já numa visão microcósmica, onde se insere o<br />

Homem, este mesmo Homem deve ser visto por inteiro, e não por<br />

16<br />

16


partes ou segmentado, ou seja, física, mental, espiritual e<br />

psiquicamente.<br />

partes.<br />

Nesta concepção o todo é maior que a soma das<br />

Este modo de conceber o Universo e o Homem,<br />

visão holística, prevaleceu até a visão dos contrários ou das<br />

partes (Enantiose). Tal raciocínio, como não poderia deixar de<br />

acontecer, tomou conta da Medicina, que atualmente vê o Homem<br />

de uma forma fragmentada, haja vista o grande número cada vez<br />

mais crescente de superespecialidades. Não que estas não<br />

tenham valor, muito pelo contrário, são importantíssimas. O que<br />

se questiona é o desaparecimento do médico generalista, que tem<br />

a função de juntar o indivíduo enfermo, num todo individual, como<br />

bem quer a Homeopatia e como queria também, a bem da<br />

verdade, Hipócrates, o pai da Medicina.<br />

Como vimos, a Homeopatia, ao longo dos<br />

séculos, sempre viu o ser humano holisticamente, sendo portanto<br />

tão antiga como a própria humanidade, que nos seus primórdios<br />

se preocupou com o semelhante e com o Universo, posto que<br />

sabe-se que o todo depende, para manter o seu equilíbrio, da<br />

harmonia das partes.<br />

No entanto, apesar do paradigma da<br />

Homeopatia ser diferente do da Alopatia, ambos se tocam e<br />

interpenetram, uma vez que a Medicina é uma só, o que difere é<br />

tão – somente o método de tratamento e a forma de ver o<br />

indivíduo enfermo. Não está longe da chamada lógica cientifica,<br />

uma vez que está plenamente inserida nos conceitos<br />

mewtonianos que regem a ciência atual. Basta ler o Organon da<br />

Arte de Curar, de Hahnemann, que este fato fica bem evidente.<br />

Segundo Samuel Hahnemann: “A mais alta e<br />

única missão do médico é restabelecer a saúde dos doentes, que<br />

é o que se chama Curar”, bem como, “O ideal máximo da Cura é<br />

o restabelecimento rápido, suave e duradouro da saúde, ou<br />

remoção e aniquilamento da doença, em toda a sua extensão, da<br />

maneira mais curta, mais segura e menos nociva, agindo por<br />

17<br />

17


princípios facilmente compreensíveis”. Princípios estes<br />

plenamente exeqüíveis pela Homeopatia.<br />

18<br />

Celso Fernandes Batello<br />

Chefe do Setor de Homeopatia do Centro de Atenção Integral à<br />

Saúde da mulher, da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia do<br />

Departamento de Saúde Materno Infantil da Faculdade de<br />

Medicina do ABC<br />

Diretor do Instituto Constantine Hering<br />

18


II<br />

<strong>HOMEOPATIA</strong> X ALOPATIA?<br />

A despeito desta pretensa rivalidade entre os<br />

defensores de ambas as técnicas terapêuticas, quero dizer que o<br />

que deve ser combatido é tão – somente os excessos que às<br />

vezes reinam tanto numa como na outra.<br />

Não deve e não pode o homeopata criticar a<br />

terapia alopática, porque a vi, muitas vezes, fazer verdadeiros<br />

milagres, como, por exemplo, na área da Unidade de Terapia<br />

Intensiva e da Anestesiologia, onde militei por vários anos. Isto<br />

sem falar no diabetes juvenil, onde a insulina desempenha um<br />

papel vital para o indivíduo doente.<br />

Recentemente um eminente homeopata teve<br />

uma prostatite que, de tão dolorosa que era, obrigou-o a buscar<br />

socorro nos analgésicos alopáticos.<br />

Então, não há que radicalizar!<br />

Existem ainda aqueles que, aproveitando a<br />

explosão homeopática no mundo, procuram tirar proveito de<br />

situações.<br />

No entanto esta situação está se revertendo,<br />

haja vista o número cada vez maior de médicos e parentes de<br />

médicos que estão cada vez mais procurando se consultar com<br />

homeopatas.<br />

E, se Deus quiser, no futuro não vai mais existir<br />

esta disputa e sim uma somatória de esforços, com o objetivo de<br />

obter benefícios aos pacientes e à humanidade.<br />

Finalizando o capítulo, transcrevo o artigo<br />

abaixo, publicado no Jornal do Comércio em 18 de abril de 1846,<br />

na íntegra:<br />

19<br />

19


“Comunicado<br />

Quando terão fim todas essas vergonhas<br />

contendas entre os Srs. Alopathas e Homeopathas? O que têm<br />

elas produzido e têm ainda a produzir? É sagrado dever do<br />

médico velar sobre a humanidade sofredora, procurar o alívio dos<br />

seus males por meios mais promptos e fáceis. E será com<br />

discussões vagas e indignas de tal profissão? Este juiz<br />

competente em todas as causas sociais só visa nesta questão<br />

sórdidos interesses. Cumpre pois aos litigantes discutir, porém<br />

cientificamente. Ex.: prenda cada um seus princípios internos<br />

adaptados, a inércia dos homeopatas, a compreensão de todos e<br />

de um tal modo se cumprem as obrigações inerentes à profissão<br />

e ao mesmo tempo presta-se um serviço à humanidade.<br />

Dr. Augusto Wigana afirma que esta disputa<br />

somente cessará quando a Homeopatia fizer parte do currículo<br />

nas Faculdades de Medicina”.<br />

20<br />

20


III<br />

ISTO É CORRETO? É CIENTÍFICO?<br />

Tivemos há alguns anos uma vacinação em<br />

massa contra a meningite, quando me posicionei contrário à<br />

utilização de vacina cubana, através de artigos publicados em<br />

jornais, como o reproduzido abaixo:<br />

“A eficácia da vacinação antimeningocócica<br />

Como sabemos, estamos vivendo em São Paulo<br />

uma situação que caracteriza uma epidemia de meningite contra a<br />

qual não existem vacinas.<br />

epidemia.<br />

Ninguém sabe ao certo o comportamento desta<br />

Mas algumas coisas sabemos, quais sejam:<br />

atingem preferencialmente crianças e indivíduos que vivem em<br />

grandes centros.<br />

Em acréscimo, sabemos que as vacinas dadas<br />

na infância não são de todo inócuas.<br />

No mínimo provocam reações inerentes a elas,<br />

como uma produção de células de defesa (anticorpos) no sentido<br />

de se imunizar o organismo contra o microorganismo que está<br />

sendo inoculado neste mesmo organismo, ou seja, as defesas<br />

orgânicas se voltam, preferencialmente, contra este agente<br />

agressor.<br />

Se a vacina consistir em um vírus, ocorrerá por<br />

parte do sistema de defesa (sistema imunitário) uma resposta a<br />

este vírus. Desviando, quiçá, uma eventual proteção que o<br />

organismo possui contra a bactéria do meningococo tipo B para<br />

combater o agente contido na vacina da campanha.<br />

21<br />

21


Como dissemos anteriormente, ninguém sabe<br />

corretamente o comportamento desta epidemia, que dirá se<br />

agravarmos este processo promovendo uma vacinação em massa<br />

contra a paralisia infantil, que se realizará no dia 13 próximo,<br />

mesmo porque, num esquema de vacinação em massa, não é<br />

praxe se examinar corretamente a criança antes de vaciná-la.<br />

Creio que a campanha deveria ser protelada até<br />

que se tenha controle desta epidemia de meningite.<br />

Principalmente pelo fato de que, em São Paulo, já houve uma<br />

campanha recente neste sentido. Portanto, a população não<br />

correria grandes riscos se esta nova campanha fosse transferida<br />

para uma data mais oportuna.<br />

Seria imprudência, a meu ver, se esta campanha<br />

ocorresse nestas circunstâncias.<br />

Gostaria que a Secretaria de Saúde do Estado<br />

de São Paulo interviesse no sentido de melhor estudar o assunto.<br />

Com relação à hipótese de se utilizar a vacina<br />

cubana, contra o meningococo tipo B, de efeito ainda<br />

controvertido, gostaria de sugerir o uso do nosódio homeopático<br />

`meningococcinum’, como foi utilizado na Cidade de<br />

Guaratinguetá (SP), na epidemia de meningite de 1974, pelos<br />

médicos David de Castro (livre – docente em Clínica Homeopática<br />

pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro) e George<br />

W. Galvão Nogueira (capitão – médico do Exército brasileiro).<br />

Neste trabalho exposto no livro Homeopatia e<br />

Profilaxia, de David Castro, os autores mostram que através do<br />

esquema adotado por eles houve uma incidência<br />

significativamente menor na população de Guaratinguetá que<br />

tomou o nosódio homeopático “meningococcinum”.<br />

É por isso que, diante de uma vacina de efeitos<br />

duvidosos como a cubana, gostaria de sugerir às nossas<br />

autoridades que se inteirassem deste trabalho supracitado e<br />

promovessem também, além de protelar esta campanha de<br />

22<br />

22


vacinação contra a poliomielite, uma reavaliação dos resultados<br />

obtidos em Guaratinguetá (SP).<br />

No mínimo sairia mais barato em comparação à<br />

vacina cubana de efeitos não muito claros e cumpriria os<br />

preceitos de Hipócrates: “Primum non nocerum”, isto é, primeiro<br />

não fazer mal, ou primeiro não lesar.<br />

Finalizando, devemos evitar incorrer no axioma<br />

citado por Voltaire: “A medicina consiste em se injetar substâncias<br />

que não se conhecem num organismo que se conhece menos<br />

ainda”.<br />

adotei.<br />

Na época houve algumas críticas à oposição que<br />

Tentei explicar que segundo fontes do Instituto<br />

Adolfo Lutz a vacina cubana não tinha eficácia para o povo<br />

brasileiro e que havia divergências entre os próprios alopatas,<br />

conforme publicações em jornais da época.<br />

Mesmo assim houve quem achasse que a vacina<br />

deveria ser dada, como aconteceu. A famigerada vacina cubana<br />

foi utilizada, embora houvesse parecer contrário da Comissão de<br />

Meningite, do Ministério da Saúde, conforme artigo publicado no<br />

Jornal do Conselho Federal de Medicina do mês de abril de 1993.<br />

A vacina cubana foi totalmente ineficaz e causou<br />

reações preocupantes, como febre alta, dor de cabeça e vômito,<br />

conforme relatado por um eminente pediatra num jornal de grande<br />

circulação de São Paulo.<br />

A vacinação foi realizada a despeito de já estar<br />

havendo um declínio natural de epidemia.<br />

Esta vacinação ineficaz custou aos cofres<br />

públicos a quantia de 30 milhões de dólares gastos inutilmente.<br />

Este fato veio demonstrar que eu, como<br />

homeopata, não quero enganar a população. Na época alertei<br />

23<br />

23


para o crime que se estava cometendo, tanto é que hoje existe,<br />

dentro do Ministério da Saúde, uma comissão para apurar<br />

tamanha aberração, assim como no Congresso Nacional foi<br />

instituída uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), para<br />

apurar por que foram gastos 30 milhões de dólares nesta<br />

“brincadeira”, quando poderiam ter encontrado melhor destinação.<br />

Como homeopata, da mesma forma que uma<br />

grande parcela dos homeopatas, não sou radicalmente contra as<br />

vacinas, mas somente contra a época, forma, número e como as<br />

vacinas são administradas, porque não posso ficar calado vendo<br />

o povo brasileiro servindo de cobaia de experimentação de<br />

remédios e vacinas de terras alheias, pois esta vacina cubana foi<br />

literal e comprovadamente testada nas crianças e jovens<br />

brasileiros, conforme artigo publicado no Jornal de Conselho<br />

Federal de Medicina no mês de abril de 1993, abaixo transcrito:<br />

“Vacina contra a corrupção”<br />

O ex-ministro Alceni Guerra livrou-se das barras<br />

dos tribunais e ainda promete escrever um livro para coroar a sua<br />

triunfal volta à política em 1994. Assim é o Brasil: o homem que<br />

quase dizimou a saúde brasileira não tem mais por que responder<br />

pelos danos e desmandos que cometeu conscientemente.<br />

Ainda agora, o Jornal do CFM desnuda a<br />

questão das vacinas cubanas descobertas na Fiocruz, com prazo<br />

de validade vencido. Foram 30 milhões que escorreram pelo ralo<br />

da corrupção e da incompetência. Para rememorar a triste<br />

história, o governo Collor, por insistência de Alceni, comprou US$<br />

30 milhões de vacinas cubanas contra a meningite B. Setores<br />

técnicos do Ministério da Saúde advertiram, à época: as vacinas<br />

eram caras, não se esperava uma incidência forte da doença nos<br />

meses seguintes e seu tipo teria baixa eficácia para o caso<br />

brasileiro.<br />

De nada adiantou. Alceni comprou as vacinas.<br />

Elas foram encontradas, pelo novo governo, ainda envasadas em<br />

frascos de 20 litros. O ministro Jamil Haddad anuncia ter<br />

24<br />

24


conseguido o quase impossível: renegociou o lote com o governo<br />

cubano, trocando-o por vacinas com prazo de validade atualizado.<br />

O ministro parece criar-se um impasse de grave<br />

responsabilidade. As vacinas compradas a Cuba não têm eficácia<br />

comprovada para o caso brasileiro, atestou competente comissão<br />

técnica criada pelo próprio ministro Haddad. O problema não era<br />

apenas o prazo de validade. As vacinas só são aceitáveis se<br />

tiverem eficácia comprovada e recomendada pela comissão<br />

técnica do Ministério da Saúde. Este fato merece uma resposta<br />

clara e insofismável.<br />

A despeito disto, as investigações devem<br />

continuar, para saber o que estava por trás de tão esdrúxula<br />

compra. Fere a consciência moral do Brasil imaginar que, mais<br />

uma vez, vingará a repugnante prática de deixar impunes os<br />

culpados”.<br />

“Comissão culpa Alceni por perda de vacinas”<br />

A comissão de sindicância aberta pelo Ministério<br />

da Saúde para investigar a perda da validade de cinco milhões de<br />

doses da vacina cubana contra meningite tipo B responsabilizou o<br />

ex – ministro Alceni Guerra pela importação desnecessária do<br />

produto. O prejuízo aos cofres públicos com a perda da vacina<br />

chega a US$ 30 milhões.<br />

De acordo com o relatório da comissão, o ex –<br />

ministro autorizou a importação mesmo depois de diversos<br />

pareceres técnicos do próprio Ministério da Saúde contra –<br />

indicarem tecnicamente a compra. Alceni Guerra baseou-se, ao<br />

contrário, em documentos apresentados pelo então secretário<br />

executivo Luiz Romero de Farias, que é irmão de Paulo César<br />

Farias, e pela então presidente da Fundação Nacional de Saúde,<br />

Isabel Stefano.<br />

Baixa eficácia – Entre os pareceres contrários,<br />

está o da Comissão Nacional de Meningite que, reunida em maio<br />

de 1990, concluiu que não haveria um aumento abrupto da<br />

doença nos meses seguintes e reiterou que a vacina seria<br />

25<br />

25


comprada por um preço muito alto, tornando-a proibitiva para<br />

vacinação em massa ou mesmo de rotina’. Em seminários pelo<br />

País, a mesma comissão alertou diversas vezes que a eficácia da<br />

vacina cubana seria muito baixa no caso brasileiro. Dois anos<br />

depois, afirmações forma comprovadas: técnicos de diferentes<br />

instituições de saúde, com base nas vacinações feitas em oito<br />

estados brasileiros, entre 1989 e 1990, chegaram à conclusão de<br />

que não houve redução na incidência da doença que pudesse ser<br />

relacionada ao uso da vacina cubana contra a meningite B.<br />

Ao investigar as vacinas, além disso, a comissão<br />

de sindicância encontrou o lote importado de Cuba ainda nos<br />

vidros de 20 litros utilizados no transporte do produto para o<br />

Brasil. De acordo com o relatório, depois de comprar as vacinas, o<br />

Ministério não autorizou o envase das mesmas, apesar das várias<br />

solicitações da Fundação Athaulfo de Paiva, de Belo Horizonte,<br />

onde as vacinas estavam armazenadas. Isso, concluiu a<br />

comissão, contribuiu decisivamente para a perda de validade do<br />

produto e o prejuízo de US$ 30 milhões.<br />

Troca – Para evitar este rombo, o ministro Jamil<br />

Haddad conseguiu negociar com o governo de Cuba a troca das<br />

cinco milhões de doses vencidas por outro lote na mesma<br />

quantidade, mas com o prazo atualizado. Haddad pretende, a<br />

princípio, usar a vacina cubana em casos de epidemia e só incluíla<br />

em campanhas de rotina quando for comprovada sua total<br />

aplicabilidade para o caso brasileiro. Estudos recentes, realizados<br />

em São Paulo e publicados pela revista científica The Lancet ,<br />

mostraram que na faixa etária de maior ocorrência da doença –<br />

em crianças menores de quatro anos – a vacina é ineficaz para o<br />

uso em campanhas de vacinação. O imunizante cubano foi<br />

testado no Brasil entre crianças e adolescentes com idade entre<br />

três meses e 19 anos ( Wagner Oliveira, RJ)”.<br />

O que existe, portanto, são determinados<br />

procedimentos que ferem a dignidade do conhecimento médico e<br />

da população em geral, piorando o caos institucional em que vive<br />

o País, quando se fere um dos mandamentos de Hipócrates que<br />

pode ser estendido a tudo que se refere à nação, ou seja,<br />

“primum non nocerum”, isto é, primeiro não lesar, ou primeiro não<br />

fazer mal.<br />

26<br />

26


IV<br />

HISTÓRICO DA MEDICINA<br />

A tentativa de aliviar e curar as dores e o<br />

sofrimento data dos tempos imemoriais e se confunde com a<br />

própria história da humanidade.<br />

Para se entender a Homeopatia é muito<br />

importante que antes de mais nada se entenda a evolução e a<br />

história da Medicina.<br />

Convém ressaltar que não existe a medicina<br />

homeopática. A medicina é uma só. O que difere ente a<br />

Homeopatia e a erroneamente chamada Alopatia é a forma de<br />

tratamento; esta trata pelos contrários e aquela pelos<br />

semelhantes, como veremos mais à frente.<br />

Segundo a mitologia grega, na Antigüidade<br />

clássica, no período heróico, vivia no Olimpo * o deus Apolo,<br />

relacionado com a Medicina.<br />

Apolo era também chamado de Alexikakos,<br />

aquele que afasta as doenças, através de suas flechas.<br />

Alexikakos, da mesma forma, curava usando a<br />

raiz da peônia, uma planta que cresce na Europa. Por esse<br />

motivo os médicos eram chamados de Filhos de Pean.<br />

Conta a lenda que Apolo e sua irmã Artemisa<br />

ensinaram a Chiron, filho de Saturno, a arte da Música e da<br />

Medicina.<br />

Chiron, por sua vez, transmitiu esses<br />

conhecimentos a Esculápio, filho de Apolo com a ninfa Coronis.<br />

• espécie de céu.<br />

27<br />

27


Esculápio tornou-se tão bom médico e hábil<br />

cirurgião, que diminuiu o número de pessoas que morriam,<br />

provocando a ira de Plutão, deus da profundidades e do inferno,<br />

que reclamou a Zeus* a morte de Esculápio, um semi – deus.<br />

um raio.<br />

Zeus atendeu a Plutão e fulminou Esculápio com<br />

Em homenagem a Esculápio criaram-se templos<br />

chamados Asclépias, onde os doentes depositavam as chamadas<br />

Tábuas Votivas, que relatavam o motivo de suas queixas, a<br />

duração da doença e finalmente como saravam, e que serviram<br />

de modelo de aprendizagem.<br />

Nestes templos havia um misto de filosofia e<br />

magia, e naqueles rituais de cura era hábito imolar um galo, razão<br />

pela qual esse animal passou a representar o símbolo da<br />

medicina.<br />

Nessa época dois Asclépias se sobressaíram<br />

pelas suas tábuas votivas, o de Cós e Cnido.<br />

Cós e Cnido tornaram-se verdadeiros templos da<br />

observação médica, que serviram de modelo às nossas escolas<br />

médicas atuais.<br />

Esculápio tinha duas filhas Hygea e Panacea,<br />

que alimentavam as serpentes sagradas dos templos.<br />

Farmácia.<br />

Hygea deu origem à Higiene e Panacea à<br />

Hygea era associada pelos romanos a Salus que<br />

era representada por uma taça. Daí a Farmácia ser representada<br />

por uma taça envolvida por uma serpente.<br />

* Deus dos deuses.<br />

28<br />

28


Mas foi através de Hipócrates, que viveu de 460<br />

a 373 a C., em pleno século de Péricles, época de grandes nomes<br />

como Sófocles e Eurípedes, Aristófanes e Píndaro. Sócrates e<br />

Platão, Heródoto e Teuclides, Rhide e Polignoto, era dotado de<br />

elevado espírito de observação e conhecimento médico, que lhe<br />

possibilitou utilizar todos os dados destes pensadores, que<br />

serviram como base para os conhecimentos médicos atuais.<br />

da Medicina.<br />

Esta compilação recebeu o nome de Aforismas.<br />

Por este motivo Hipócrates é chamado de o Pai<br />

Como dissemos anteriormente, Hipócrates criou<br />

a Medicina Científica.<br />

Com este cabedal de conhecimentos enunciou o<br />

preceito básico de cura, qual seja:<br />

“Similia similibus curantur” (os semelhantes se<br />

curam pelos semelhantes). Diferente do “Contrario contrarius<br />

curantur” (os contrários se curam pelos contrários).<br />

Se a medicina não fosse algo único, englobando<br />

a Alopatia e a Homeopatia e outras técnicas terapêuticas<br />

existentes, após enunciar o princípio dos semelhantes,<br />

reclamaríamos Hipócrates como sendo Pai da Homeopatia.<br />

A cura pelos contrários foi defendida por Galeno.<br />

Por este método utiliza-se o “anti”, isto é, diante de uma febre<br />

administra-se um antifebril; da presença de um verme, um “anti –<br />

verme”(anti – helmíntico); e de uma bactéria, um antibiótico (anti =<br />

contra, bio = vida) etc.<br />

A cirurgia vem de chirus (mãos). Portanto, a<br />

cirurgia não é nem Homeopatia, nem Alopatia. É cirurgia mesmo.<br />

Não se pode olvidar o valor da cirurgia atual, na cura de<br />

determinadas moléstias.<br />

29<br />

29


A cura pelos semelhantes foi definida por<br />

Hipócrates, quando enunciou o seguinte Aforisma:<br />

“A doença é produzida pelos semelhantes, e<br />

pelos semelhantes que a produziram ... o paciente retorna à<br />

saúde. Desse modo, o que provoca a estrangúria* que não existe,<br />

cura a estrangúria que existe: a tosse, como estrangúria, é<br />

causada e curada pelo mesmo agente.<br />

Dando um exemplo prático, Hipócrates cita um<br />

caso de cura de cólera** com Veratrum album, que produz no<br />

homem sadio, violenta gastroenterite*** com tendência à algidez,<br />

semelhante ao ataque colérico.<br />

Há os que acham que Hipócrates sequer existiu,<br />

entretanto, existem provas de que ele nasceu em Cós no ano de<br />

460 d.C. e faleceu em 377 a C. Dizem alguns que os Aforismas e<br />

prognósticos foram escritos através de várias gerações de<br />

médicos, entretanto, contra esta hipótese está a maior parte dos<br />

escritores modernos que vêem nesta obra uma unidade e uma<br />

uniformidade que só pode ser atribuída a um único homem!<br />

Hipócrates descendia de Esculápio, por<br />

linhagem paterna, e de Hércules, pelos antepassados da mãe.<br />

Entre os seus ancestrais contavam alguns reis e<br />

três célebres médicos, quais sejam, Pródico e Cós, Hipócrates<br />

primeiro e seu pai Heráclito, que lhe ensinou as primeiras noções<br />

científicas.<br />

Era, portanto, filho de Heráclito e Fenavita ou<br />

Praxitea, da família dos Asclepíades, que vinham exercendo a<br />

Medicina por dezoito gerações.<br />

Hipócrates era, sem dúvida alguma, um sábio,<br />

como Sócrates e outros.<br />

* estrangúria – espécie de dificuldade para urinar<br />

30<br />

30


* cólera – enfermidade que produz no indivíduo uma<br />

gastroenterite, com diarréia intensa<br />

* gastroenterite – inflamação de estômago e intestinos.<br />

V<br />

SUMÁRIO DA HISTÓRIA DA <strong>HOMEOPATIA</strong> NO<br />

BRASIL<br />

Foi através do francês Benois Jules Mure, no dia<br />

21.11.1840, que a Homeopatia foi introduzida no Brasil.<br />

Por isso nesse dia é comemorado o Dia da<br />

Homeopatia no Brasil.<br />

Nessa época foram criadas, como o Instituto<br />

Homeopático Brasileiro, o Instituto Hahnemanniano do Brasil<br />

(1859).<br />

Um fato marcante, que determinou a instalação<br />

da Homeopatia no Brasil, foi a cura obtida pelo Dr. Joaquim<br />

Murtinho no então ministro de Guerra, o Marechal João<br />

Nepomuceno de Medeiros Mallet, apesar deste estar<br />

desenganado pelas sumidades terapêutica oficial.<br />

Porém, foi com a criação de uma escola de<br />

Homeopatia, a Faculdade Hahnemanniana e o Hospital<br />

Hahnemanniano, reconhecidos pelo governo federal, a Escola de<br />

Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, em 1957, que a<br />

Homeopatia tomou maior impulso.<br />

Foi em 1918, através do Decreto nº 3.530, de 25<br />

de setembro, que se reconheceu o Instituto Hahnemanniano do<br />

Brasil, como entidade de utilidade pública, no artigo que diz:<br />

“Além das medicinas fornecidas pelas escolas oficiais ou<br />

equiparadas, a clínica homeopática será exercida pelos<br />

profissionais habilitados pelo Instituto Hahnemanniano”.<br />

31<br />

31


Em 1952, pelo Decreto n.º 1.552, de 8.7.1952, o<br />

ensino de Farmacotécnica Homeopática foi tornado obrigatório<br />

em todas as faculdades de Farmácia do Brasil.<br />

etc.<br />

Foram realizados vários Congressos, Jornadas<br />

Atualmente existem várias associações nos<br />

vários estados do País, porém a oficialização se deu de fato no<br />

governo federal há pouco mais de uma década.<br />

Um fato relevante dentro desta história foi a<br />

aceitação da Homeopatia como sendo um departamento da<br />

conceituada Associação Paulista de Medicina, o que veio<br />

dignificar a Homeopatia.<br />

VI<br />

TODO INOVADOR É PERSEGUIDO<br />

Como todo inovador, Hahnemann foi perseguido,<br />

e continua sendo, até os dias atuais, por aqueles que mesmo sem<br />

conhecer a Homeopatia a detratam, contrariando o espírito<br />

científico que dizem possuir.<br />

Porém a verdade, ou aquilo que é verdadeiro,<br />

não perece, haja vista que, na França, quando um grupo de<br />

pessoas procurou um ministro para proibir o uso da Homeopatia,<br />

recebeu a resposta de que tudo que não tem resultado perece por<br />

si próprio e que, se a ciência de Hahnemann não tivesse<br />

fundamento, ela desapareceria por si só, caso não tivesse bases<br />

sólidas.<br />

Como sabemos, ela perdura até hoje e em<br />

franca ascensão.<br />

32<br />

32


Outros sábios, pesquisadores, reformadores que<br />

tiveram o mérito de descobrir algo, desde logo foram cobertos de<br />

calúnias e críticas infundadas.<br />

Parece que se uma pessoa galga algum degrau<br />

sempre aparece alguém para tentar perturbá-lo, e às vezes,<br />

mesmo sem saber porquê.<br />

As boas coisas parecem enfrentar um obstáculo<br />

natural, até que sejam reconhecidas, como cita Burnett no seu<br />

livro 50 Razões para ser Homeopata.<br />

Roger Bacon, rebelando-se contra as idéias<br />

dominantes na época, viu-se compelido a viver 24 anos recluso.<br />

O impertinente Vesálio, que ousou desacreditar<br />

Galeno, despertou contra si calúnias subterrâneas, que o<br />

obrigaram a deixar Pádua e a recolher-se à Espanha.<br />

Serveto teve destino mais trágico: foi arder na<br />

fogueira armada por Calvino.<br />

Paracelso rebelou-se contra a medicina do seu<br />

tempo, divulgou-lhe novos rumos, estarreceu espetacularmente a<br />

Basiléia queimando os livros de Galeno e Avicena, mas despertou<br />

com essas idéias reformadoras as primeiras fagulhas do seu<br />

martírio e preparando o seu próprio desdito.<br />

Harvey, estabelecendo noções exatas sobre a<br />

circulação sangüínea, foi tido como charlatão e até mesmo louco.<br />

A clientela o abandonou e estaria irremediavelmente perdido, se<br />

não fosse a proteção de Carlos I da Inglaterra.<br />

E Galileu? Por que foi parar nas mãos dos<br />

poderosos da época? Por que sofreu em idade avançada tantas<br />

torturas?<br />

Porque derrubou as teorias de Aristóteles e<br />

Ptolomeu; porque reviveu as idéias de Copérnico, demonstrando-<br />

33<br />

33


as, dando-lhes nova vida; porque destronou a Terra, arrancando-a<br />

de sua posição do Centro do Universo, afirmando que era ela<br />

quem girava em torno do sol. Em suma, verdades acima da<br />

compreensão dos sábios da época.<br />

Ambroise Paré sucumbiu na luta contra a<br />

Faculdade, no entanto é hoje tido como pai da cirurgia moderna.<br />

Pasteur, no dizer de Lister, “ergueu o véu que<br />

durante séculos cobria as doenças infecciosas”.<br />

Qual foi porém a atitude dos cientistas de então?<br />

Cercaram-no de hostilidades impiedosas,<br />

cobriram-no com inventivas sarcásticas, deram-no como<br />

sonhador. A classe médica, a qual não pertencia, combateu-o<br />

asperamente.<br />

Janner descobriu a vacina contra a varíola.<br />

Quando pela primeira vez, em Londres, levou ao<br />

conhecimento dos pares que certos vaqueiros que tinham<br />

contraído o cow-pox ficavam isentos da varíola, os seus colegas<br />

advertiram-no solidariamente de que não voltasse mais aos<br />

debates com semelhante impertinência, se não quisesse ser<br />

afastado de seu cargo.<br />

O tempo, contudo, fez de Jenner não só um<br />

herói da sua pátria, como o consagrou benfeitor da Humanidade e<br />

a varíola deixou de ser flagelo universal.<br />

Levantaram-lhe uma estátua em “Trafalgar<br />

Square”, mas alguns anos mais tarde a sua estátua foi<br />

transportada para um lugar obscuro e substituída por um obscuro<br />

general.<br />

voltou.<br />

Houve protestos, o general saiu, mas Jenner não<br />

34<br />

34


Erlich foi um sábio. Graças à descoberta do 606,<br />

foi possível a cura de sífilis. Em sinal de gratidão foi-lhe erguida,<br />

em sua pátria, uma estátua em Frankfurt. Contudo, certa manhã,<br />

a estátua foi encontrada pintada de pixe e coberta de penas.<br />

Erlich era judeu ...!<br />

Não admiro que Hahnemann fosse perseguido e<br />

mal compreendido até os dias atuais.<br />

Que o mundo científico se curve diante de<br />

Hahnemann, porque antes mesmo de Claude Bernard, o pai da<br />

Homeopatia introduziu a Ciência Experimental, através de<br />

experimentação no homem são!<br />

VII<br />

HAHNEMANN, PAI DA <strong>HOMEOPATIA</strong><br />

Se coube à Hipócrates o mérito de codificar a<br />

Medicina, coube a Christian Friedrich Samuel Hahnemann<br />

codificar, desenvolver e metodizar a Homeopatia.<br />

Hahnemann, nascido em Meissen (Saxen),<br />

Alemanha, em 1755, cursou Medicina em Leipzig.<br />

Após diplomar-se, o seu desapontamento com a<br />

medicina da época foi tão intenso, que a princípio contentou-se<br />

com uma simples terapêutica, que ficava à mercê da Natura<br />

medicatrix*, para posteriormente abandoná-la.<br />

Como falava 14 idiomas, passou a fazer<br />

traduções para sobreviver.<br />

Certo dia, ao traduzir sobre a célebre Matéria<br />

Médica, de Cullen, lhe chamou a atenção o fato da quinina<br />

provocar febre nas pessoas sadias.<br />

35<br />

35


Diante desse fato, experimentou a droga em si<br />

próprio e em outros, e observou que a febre provocada em<br />

indivíduos sadios tinha a mesma características da febre em<br />

pacientes enfermos, febre esta curada pela própria quinina.<br />

Hahnemann vislumbrou que isto poderia ser feito<br />

com outras substâncias e procedeu a novas experimentações<br />

com a Beladona, a Digital e o Coque do Levante, que resultaram<br />

afirmativas.<br />

Com esta descoberta, voltou a praticar a<br />

Medicina, utilizando-se desta terapêutica não – agressiva e não –<br />

pesada, como ele se referia à medicina da época.<br />

Como todo inovador, o pioneiro Hahnemann não<br />

escapou às críticas e perseguições daquelas pessoas retrógradas<br />

e reacionárias da época, principalmente dos farmacêuticos,<br />

obrigando-o a refugiar-se em Leipzig ate’1820.<br />

* Natura Medicatrix é uma teoria de que o próprio organismo pode<br />

sozinho, sem qualquer ajuda, se curar.<br />

Este tempo de refúgio permitiu-lhe escrever<br />

várias obras sobre a teoria e a técnica desta doutrina emergente.<br />

Já em 1820, devido à inexorável oposição, teve<br />

que abandonar Leipzig e fugir para Coethen, sob a proteção do<br />

Duque Ferdinando, onde foi pessimamente recebido pela<br />

população.<br />

Em contrapartida, quando deixou Coethen par<br />

residir em Paris, a pedido de seus discípulos, teve que fazê-lo na<br />

calada da noite, de tão grande que era o seu prestígio, uma vez<br />

que o povo queria, por toda força, que ele ficasse.<br />

Faleceu em Paris com 88 anos.<br />

Os seus restos mortais encontram-se no<br />

Cemitério Père Lachaise, em Paris, cidade que se orgulha de<br />

guardar os despojos deste imortal humanista.<br />

36<br />

36


VIII<br />

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ETIMOLÓGICAS<br />

A medicina é uma só, o que difere é, tão<br />

somente, a técnica terapêutica. Para confirmar este fato deve-se<br />

reportar a história da Medicina.<br />

Para melhorar a compreensão do significado das<br />

palavras, bem como seu conceito, se estudará algumas<br />

definições, legadas pelo próprio Hahnemann, sobre o que seja a<br />

Homeopatia, Alopatia e Enantiopatia, expressas no livro A Teoria<br />

e a Técnica da Homeopatia, do Dr. Henry Duprat.<br />

“A Enantiopatia (enanthios = contrários; pathos =<br />

sofrimento) consiste em dar ao paciente a substância capaz de<br />

determinar um estado contrário ao distúrbio que constituiu a<br />

própria doença.<br />

Exemplo químico: emprego de um alcalino<br />

contra perturbações produzidas por um meio estomacal<br />

hiperácido.<br />

Exemplo físico: injeção de água fisiologicamente<br />

salgada, para fazer subir a pressão circulatória, que uma<br />

hemorragia profusa fez baixar exageradamente.<br />

Exemplo farmacodinâmico: emprego do ópio<br />

contra a insônia, pois o ópio provoca, no homem são, um sono<br />

artificial.<br />

A Opoterapia* pode ser considerada um processo enantiopático<br />

quando faz o enfermo absorver o órgão animal correspondente ao<br />

que nele é diferente ou foi suprimido. A transfusão de sangue<br />

pertence também à enantopia, posto que substitui parcialmente o<br />

sangue viciado, biologicamente falando negativo, por outro lado<br />

sadio, positivo, ou então compensa quantitativamente uma perda<br />

hemorrágica. Dessa terapêutica<br />

37<br />

37


• Opoterapia – processo pelo qual se utiliza de substância de<br />

determinados órgãos no sentido de curar a deficiência desses<br />

mesmos órgãos no ser vivo. Por exemplo: diante de uma<br />

deficiência de secreção por parte da glândula hipófise, pode-se<br />

administrar o opoterápico hipófise.<br />

•<br />

enantiopática, fazem parte alguns processos que denominarei de<br />

terapêutica higiênica, porque desempenham, no momento exato<br />

do ato patológico, o que a higiene realiza com o objetivo de<br />

prevenir tal ato: lutam contra a causa mórbida. É a parte mais<br />

lógica senão a mais completa e mais prática da enantiopatia.<br />

Exemplos: anti-sepsia interna para a destruição dos agentes<br />

microbianos em atividade patogência no corpo. Purgação e<br />

Sangria, esta eliminando as substâncias tóxicas de que o sangue<br />

se acha carregado (uremia), aquela provocando expulsão do bolo<br />

alimentar quantitativa e qualitativamente nocivo.<br />

A Homeopatia (homoios = semelhantes; pathso<br />

= sofrimento) é o oposto do processo emantiopático. Consiste em<br />

dar ao doente uma substância medicamentosa capaz de produzir<br />

no organismo sadio, um estado semelhante ao da doença que se<br />

quer curar. Esta terapêutica funciona do ponto de vista físico e<br />

principalmente farmacodinâmico.<br />

Exemplo físico: bebidas quentes em caso de queimaduras da<br />

mucosa estomacal.<br />

Exemplos farmacodinâmicos: ópio administrado contra um estado<br />

de sonolência doentia comatosa, ou, por exemplo, Ipeca prescrita<br />

contra vômitos, por produzi-los no homem sadio.<br />

A Homeopatia se relaciona à Isopatia (isos =<br />

idênticos; pathos = sofrimento), que se vale de uma semelhança<br />

mais perfeita levada até a identidade (vírus mórbidos, secreções e<br />

excreções mórbidas, produtos microbianos, proteínas e alergenos<br />

diversos) contra as enfermidades causadas por esses mesmos<br />

micróbios e proteínas. Na escola oficial, o método é praticado e<br />

tem nomes de vacinoterapia, proteinoterapia etc.<br />

38<br />

38


A Alopatia (allos = diversos; pathos = sofrimento)<br />

emprega um medicamento que visa produzir um estado diferente<br />

daquele que constitui o estado mórbido.<br />

É ela que introduz o sistema de derivação.<br />

Exemplo: a purgação, no caso de congestão cerebral, a fim de<br />

desviar para a mucosa intestinal o afluxo sangüíneo que aflige o<br />

cérebro: o abscesso de fixação, que, por meio de introdução de<br />

um corpo estranho num tecido vegetativamente inútil (os<br />

músculos da coxa), se destina a fixar naquele ponto o esforço<br />

microbiano que perigosamente se desenvolve num órgão<br />

importante.<br />

Essas foram as três formas terapêuticas<br />

universalmente utilizadas no tempo e no espaço, e os títulos de<br />

ancianidade da Homeopatia não são os menos válidos, como<br />

veremos no capítulo seguinte.<br />

É, portanto, a Enantiopatia que representa o<br />

oposto da Homeopatia. O uso, porém, consagrou a substituição<br />

do termo Enantiopatia pelo Alopatia, que designa e reúne todos<br />

os processos de ação contrária, e de derivação utilizados na<br />

medicina oficial. E para não prejudicar a clareza contrariando<br />

velhos hábitos de linguagem, continuarei a empregar neste<br />

trabalho a palavra Alopatia em seu sentido corrente.<br />

Como já se salientou, a cirurgia deriva da palavra<br />

chiro (mãos), não sendo, a rigor, nem Homeopatia e nem<br />

Alopatia, tratando-se de procedimentos manuais para fins<br />

terapêuticos.<br />

A clínica cirúrgica visa estudar as mudanças<br />

fisiológicas ocorridas antes, durante e após a cirurgia e o modo de<br />

se corrigir estas alterações no sentido de se beneficiar os<br />

pacientes.<br />

Quem pode se opor a uma apendicectomia, a<br />

uma cesariana, a uma colecistectomia ou a uma correção<br />

ortopédica traumática ou não!<br />

39<br />

39


O próprio Hahnemann, no seu Organon da Arte<br />

de Curar, diz que o que é cirúrgico deve ser resolvido com a<br />

cirurgia.<br />

Existia no entender de Hahnemann, um outro<br />

método de cura que foi chamado de Isopatia (isso = igual; pathos<br />

= sofrimento/doença), isto é, o idêntico é curado pelo idêntico; é a<br />

própria causa mórbida que cura a enfermidade que ela produz.<br />

Vacino-terapia.<br />

A Escola Alopática de Pasteur adotou o nome de<br />

A partir das considerações etimológicas que<br />

foram feitas, pode-se compreender que a Medicina é uma só e o<br />

que difere entre a Homeopatia e a erroneamente chamada<br />

Alopatia é, tão – somente, a forma de tratamento, isto é, o modo<br />

terapêutico.<br />

IX<br />

PROCEDÊNCIA DOS MEDICAMENTOS<br />

HOMEOPÁTICOS<br />

Os medicamentos homeopáticos provêm dos<br />

três reinos existentes na natureza: animal, mineral e vegetal.<br />

Como exemplo do reino animal, citamos o<br />

veneno da cobra surucucu (Lachesis); do reino mineral, o cobre<br />

(Cuprum) ; o ouro (Aurum) e o mercúrio (Mercurius) ; e finalmente,<br />

do vegetal, a beladona, extraída da atropa Belladona,<br />

popularmente conhecida como “comigo ninguém pode”.<br />

É preciso fazer distinção entre Homeopatia e<br />

Herboterapia (tratamento pelas ervas), ambas de grande valia no<br />

tratamento do indivíduo enfermo.<br />

A diferença reside, como dissemos acima, em<br />

que a Homeopatia utiliza as substâncias dos três reinos na<br />

40<br />

40


natureza e, principalmente, pelo fato do medicamento<br />

homeopático ser diluído, perdendo de fato sua toxidade.<br />

A despeito de seus efeitos terapêuticos<br />

incontestáveis, algumas ervas ou plantas, por possuírem<br />

substâncias farmacologicamente ativas, podem apresentar efeitos<br />

tóxicos. Efeitos estes aproveitados pela indústria farmacêutica<br />

para, em conhecendo a falta de esclarecimento da população a<br />

respeito, tentarem denegrir a Homeopatia, uma vez que estão<br />

sentindo o grande avanço da ciência que cura pelos semelhantes<br />

e preconiza uma cura rápida, suave e duradoura e menos nociva,<br />

como queria Samuel Hahnemann.<br />

X<br />

DILUIÇÕES HOMEOPÁTICAS<br />

Hahnemann, no seu Organon da Arte de Curar,<br />

enunciou: “o ideal máximo da cura é o restabelecimento rápido,<br />

suave e duradouro da saúde, ou remoção e aniquilamento da<br />

doença, em toda sua extensão, da maneira mais curta, mais<br />

segura e menos nociva, agindo por princípios facilmente<br />

compreensíveis”.<br />

Para cumprir os preceitos supracitados, ele<br />

percebeu que, além de semelhantes, os medicamentos deveriam<br />

ser diluídos, isto é, tornarem-se menos “pesados” e menos<br />

tóxicos. Fato este conseguido por um processo de diluições<br />

sucessivas, caracterizando as Doses Mínimas.<br />

Os medicamentos do reino animal e vegetal são<br />

preparados, geralmente, com uma parte da substância fresca e<br />

outras quartas partes de álcool a 95º, que pode ser substituído<br />

por soro fisiológico nas primeiras diluições, para não perderem o<br />

seu efeito medicamentoso, quando se usa o veneno de algum<br />

animal, como o Lachesis, para, a partir da terceira ou quarta<br />

diluições, serem preparados com álcool.<br />

41<br />

41


Já os produtos de origem mineral dever ser<br />

rigorosamente triturados, para, depois, serem diluídos.<br />

Estas substâncias, assim preparadas, são<br />

chamadas tintura-mãe.<br />

A primeira diluição decimal é obtida diluindo-se<br />

uma parte dessa tintura em mais nove partes de solução<br />

alcoólica. Já a Segunda decimal é derivada da diluição de uma<br />

parte desta primeira decimal em nove partes de álcool.<br />

O mesmo método é válido para as diluições<br />

centesimais, onde primeiramente se dilui, por exemplo, 1 gota de<br />

tintura-mãe em 99 gotas de solução alcoólica, obtendo a primeira<br />

diluição centesimal.<br />

Já a Segunda centesimal obtém-se diluindo-se,<br />

por exemplo, 1 gota da primeira centesimal em 99 gotas de álcool.<br />

As diluições decimais recebem a letra D<br />

seguidos dos números que as caracterizam, por exemplo:<br />

Belladona D1, para a primeira decimal, Belladona D2, para a<br />

segunda decimal e assim sucessivamente.<br />

As diluições centesimais, analogicamente,<br />

recebem a sigla C, seguidas, da mesma forma, do número que<br />

lhe dão ordem, por exemplo: Mercurius silubilis C1, e Mercurius<br />

solubilis C2 para a primeira e Segunda diluição centesimal,<br />

respectivamente.<br />

a seguir:<br />

Para melhor ilustrar o método, exemplificaremos<br />

Tintura mãe Solução alcoólica<br />

(1 gota) (9 gotas)<br />

10 partes decimais<br />

Primeira decimal<br />

42<br />

42


Tintura mãe Solução alcoólica<br />

(1 gota) (99 gotas)<br />

100 partes centesimais<br />

Primeira centesimal<br />

Existe ainda uma outra diluição, a cinqüenta<br />

milesimal, desenvolvida por Hahnemann, comumente<br />

representada pela letra L (maiúscula), ou pela associação L e LM<br />

(maiúsculas), que corresponde a uma diluição elevadíssima, que<br />

só o gênio criativo do pai da Homeopatia podia idealizar.<br />

XI<br />

O MEDICAMENTO EXPERIMENTADO PELO<br />

HOMEM SÃO<br />

Um dos princípios da Homeopatia, como<br />

citamos, é a experimentação no homem são, ou seja, o mesmo<br />

medicamento que causa sintomas no sadio é que vai curar o<br />

enfermo pela lei da semelhança.<br />

Hahnemann experimentou em si próprio e em<br />

outras várias pessoas diversos medicamentos e, após rigorosa<br />

observação, catalogou os sintomas e sinais produzidos por estas<br />

substâncias no seu livro Matéria Médica Pura.<br />

Diante deste conhecimento, pode-se medicar a<br />

pessoa enferma de uma forma pessoal e individual, segundo o<br />

seu modo de adoecer.<br />

43<br />

43


Por exemplo: diante de uma amigdalite<br />

(inflamação de amígdalas) deve-se levar em consideração o que<br />

mudou no doente.<br />

Há pacientes que nestes casos não apresentam<br />

febre, outros que a apresentam, acompanhadas de delírio, outros<br />

que transpiram durante o calor febril, outros que não transpiram,<br />

outros que não apresentam calafrio.<br />

Há pacientes nestes casos que, apesar de uma<br />

inflamação intensa na garganta, não sentem dor, entretanto,<br />

existem aqueles que não conseguem sequer engolir a saliva,<br />

devido à dor ocasionada por este ato.<br />

Vimos que o homeopata, além do diagnóstico<br />

clínico, deve proceder a um diagnóstico do medicamento, que<br />

deve ser individual.<br />

Daí concluímos que um medicamento que cura<br />

uma amigdalite numa pessoa pode não servir para curar uma<br />

outra.<br />

No caso discutido, amigdalite, poderíamos fazer<br />

a análise do medicamento em função do conhecimento da Matéria<br />

Médica Homeopática da seguinte forma:<br />

Sinais e sintomas Medicamentos que cobre estes<br />

sintomas<br />

Amigdalite<br />

XYZ – Mercurius<br />

Dor de garganta ao engolir<br />

XY – Mercurius<br />

Transpiração durante a febre<br />

Y – Mercurius<br />

Calafrio durante a febre<br />

Y – Mercurius<br />

Delírio durante a febre<br />

Y -<br />

Vimos que restou somente o medicamento Y,<br />

devendo portanto ser usado, no caso.<br />

44<br />

44


Vimos, também, que a eleição do medicamento<br />

se faz por um processo de exclusão.<br />

Observamos que geralmente devemos utilizar<br />

um único medicamento de cada vez, isto é, o Medicamento Único<br />

, aquele que cobre a totalidade do indivíduo, física e<br />

psiquicamente.<br />

Com relação ao que pode ser considerado<br />

Homem Sadio é uma questão que gera muitas discussões, que<br />

não cabe no contexto deste livro, todavia, penso que o<br />

entendimento deste fato passa pelo conhecimento do que seja<br />

constituição e órgãos de choque segundo Maffei.<br />

A experimentação no homem são, sem sombra<br />

de dúvida, supera e muito o método alopático, que experimenta<br />

os remédios em animais de laboratório, que sabidamente<br />

possuem reações distintas às dos seres humanos sem falar das<br />

experiências in vitro (tubos de ensaios), que não levam em conta<br />

os mecanismos de defesa do ser vivo, como se o organismo fosse<br />

um simples campo de batalha entre o antibiótico e a bactéria, por<br />

exemplo.<br />

Com estes conhecimentos prévios e pela lei da<br />

semelhança, pode o médico homeopata refutar as palavras de<br />

Voltaire (1694/1778): “A medicina consiste em se introduzir<br />

medicamentos que não se conhecem em um organismo que se<br />

conhece menos ainda”.<br />

XII<br />

OS NÍVEIS DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO<br />

O tratamento constitucional ou de fundo só pode<br />

ser realizado por um médico competente.<br />

constituição.<br />

Antes de mais nada, cumpre definir o que seja<br />

45<br />

45


Segundo o Prof. Maffei: “A constituição é o<br />

conjunto dos caracteres anatômicos e funcionais de um indivíduo<br />

a partir de um momento dado da sua vida”.<br />

“Assim compreendida, a constituição é<br />

fundamentalmente determinada pela hereditariedade, mais ou<br />

menos modificada pelos fatores modificadores já descritos e<br />

ambientais, por conseguinte, a constituição é a manifestação<br />

fenotipo individual, entretanto, no recém-nascido não é possível<br />

estabelecer-se o tipo constitucional, pois este se delineia durante<br />

a evolução do indivíduo”.<br />

A partir destas considerações podemos inferir<br />

que o medicamento constitucional é aquele que atende ao<br />

indivíduo de uma forma global, física, mental e psiquicamente.<br />

Levando-se em consideração, principalmente, a<br />

sua história biopatográfica (bio = vida ; pathos = sofrimento; grafia<br />

= gravar), ou seja, os sofrimentos físicos, psíquicos e mentais,<br />

que marcaram a sua existência.<br />

Existe uma discussão muito grande entre os<br />

próprios homeopatas, sobre o que seja Homeopatia de 1º, 2º e 3º<br />

níveis.<br />

A meu ver, o tratamento que leva em<br />

consideração a constituição do indivíduo poderia ser enquadrado<br />

no chamado nível 3º.<br />

O medicamento que eventualmente poderia ser<br />

enquadrado no 1º nível seria aquele usado, por exemplo, numa<br />

epidemia onde se administra uma mesma substância para toda a<br />

população sem levar em conta as individualidades de cada um.<br />

Isto caracteriza o que chamamos “Gênio Epidêmico” de<br />

medicamentos.<br />

Nestes casos leva-se me consideração somente<br />

os sintomas gerais da população.<br />

46<br />

46


Hahnemann debelou grandes epidemias,<br />

utilizando-se desta forma de tratamento.<br />

O medicamento que poderia ser colocado no 2º<br />

nível é aquele que, na mesma epidemia acima citada, atendesse<br />

a individualidade do enfermo. Além dos sintomas gerais, como por<br />

exemplo, febre, diarréia etc., leva-se em conta também as<br />

mudanças que se processaram nesta pessoa que a distingue dos<br />

demais, tais como: aumento, diminuição ou ausência de sede,<br />

desejo de ficar só ou em companhia durante a doença e outras<br />

coisas mais.<br />

Apesar de idealmente, dever-se tratar as<br />

pessoas de uma forma constitucional, não se deve, em hipótese<br />

alguma, colocar em segundo plano as técnicas a meu ver<br />

erroneamente chamadas de 1º e 2º níveis, posto que é um<br />

procedimento por demais discriminatório.<br />

XIII<br />

UMA DOENÇA MAIS FORTE ACABA COM UMA<br />

DOENÇA MAIS FRACA<br />

Muitas vezes uma moléstia se torna crônica<br />

porque os seus mecanismos defensivos estão debilitados por um<br />

fenômeno de pouca reatividade ou baixa Alergia, que não<br />

consegue estabelecer a imunidade.<br />

Outras vezes, uma outra doença se sobrepõe à<br />

já existente, solicitando uma resposta de maior intensidade por<br />

parte do organismo, que tenta vencer a agressão. É como se<br />

todas as forças orgânicas convergissem para lutar contra uma<br />

doença mais potente.<br />

Se o sistema defensivo consegue vencer esta<br />

segunda agressão, não é incomum desaparecer a primeira<br />

doença.<br />

47<br />

47


Senão vejamos, quantas vezes uma Asma<br />

Brônquica é curada depois do indivíduo contrair uma Pneumonia<br />

ou então uma coqueluche.<br />

A sabedoria popular sabe deste fato, e tenho<br />

visto inúmeras vezes enfermeiras, com muitos anos de profissão,<br />

tecerem comentários neste sentido.<br />

No livro Moléstias Infecciosas Contagiosas, do<br />

eminente Prof. Veronesi, há uma citação de que a melhora da<br />

Asma Brônquica que ocorre após uma criança contrair<br />

coqueluche é apenas uma coincidência.<br />

Podemos inferir, pelo exposto, que, longe de ser<br />

uma coincidência, a melhora de uma moléstia, depois de uma<br />

moléstia, mais forte, pode ser antes de tudo até uma lei que<br />

merecesse ser melhor entendida e compreendida.<br />

O medicamento homeopático age de forma e<br />

maneira semelhante à de uma doença mais forte, despertando<br />

uma força diferente e mais potente, daí as reações de agravação<br />

que podem ocorrer após a administração deste medicamento,<br />

como exemplificarei a seguir.<br />

Reação fraca Agente Agressivo Cronicidade<br />

Reação fraca<br />

+<br />

……………<br />

energia do medicamento<br />

Agente Agressor →Agudização → Cura<br />

O exemplo acima mostra que o medicamento<br />

homeopático acrescenta um “caudal” energético à reação<br />

orgânica, provocando uma reação diferente e mais potente por<br />

parte do organismo e promovendo a cura da sua energia vital.<br />

É difícil aos olhos dos colegas alopatas se falar<br />

em força vital, todavia no seu livro Aforismos y Prognósticos,<br />

tradução de Antônio Gagaya, Madrid, 1904, Hipócrates admite um<br />

48<br />

48


princípio vital, que ele denomina natureza, força de essência<br />

ignorada, que se manifesta nas funções de todos os órgãos,<br />

atraindo a cada órgão o que lhe é proveitoso e eliminado dele o<br />

que lhe é funesto. Na presença de uma causa mórbida, esta<br />

energia se desprende e adquire um desenvolvimento ainda<br />

maior...<br />

XIV<br />

ÓRGÃO DÉBIL OU “LOCUS MINORIS<br />

RESISTENTIAE”<br />

Muito se fala sobre o órgão débil, portanto,<br />

vamos tentar descrevê-lo para melhor compreensão do fato.<br />

São mais fracos, porque não atingiram o seu<br />

desenvolvimento pleno durante os estágios embriológicos,<br />

quando no útero materno, justificando o axioma da medicina<br />

organicista que diz “Ninguém fica doente do que quer e sim do<br />

que pode”.<br />

Por exemplo, uma criança com febre reumática<br />

só seria susceptível a ter um problema na válvula cardíaca, se ela<br />

já apresentasse um defeito anatômico congênito, ou então<br />

contrair uma glomerulonefrite, em decorrência de uma piodermite<br />

(infecção de pele), se ela possuir um rim lobulado etc.<br />

Pelo mesmo raciocínio, uma criança que tem a<br />

espinha bífida, ou seja, uma ausência de soldadura de uma<br />

vértebra, é mais suscetível a contrair a poliomielite anterior aguda<br />

(paralisia infantil), porque concomitantemente à espinha bífida<br />

ocorrem alterações microscópicas em nível de medula espinhal,<br />

que predisporia a instalação e ação do vírus da pólio neste local.<br />

Este processo pode ocorrer em qualquer órgão<br />

do organismo, como o cérebro, útero, próstata, fígado etc.<br />

49<br />

49


Por isso mesmo, serão estes órgãos que<br />

sofrerão as conseqüências se houver um desequilíbrio orgânico,<br />

devido a fatores vários tais como stress, desnutrição, susto, morte<br />

de entes queridos, separações etc.<br />

Quem já não ouviu falar em pessoas que ficaram<br />

diabéticas depois de um desgosto, mágoa etc.?<br />

É que, provavelmente, “o órgão de choque” ou<br />

locus minoris resistentiae era o pâncreas endócrino.<br />

Neste particular é importante frisar que uma<br />

alimentação que forneça os nutrientes que os diferentes órgãos<br />

precisam é fundamental para o seu bom funcionamento,<br />

tornando-se mais resistente às enfermidades.<br />

Sabemos que a doença evolui como se<br />

descesse uma escada, e para que haja a cura é necessário<br />

percorrer este caminho de volta, e os nutrientes são a matériaprima<br />

indispensável para que a cura aconteça ad integrum, isto é,<br />

sem deixar seqüelas, como na ilustração abaixo:<br />

Enfermidade cura<br />

agudo agudo_ nutrientes<br />

subagudo _subagudo matéria prima<br />

crônico_ crônico<br />

degenerativo degenerativo<br />

A propósito deste processo de reconstituição<br />

orgânica e, de que o órgão de choque é aquele que não atingiu<br />

seu desenvolvimento pleno nas fases embriológicas, lanço a<br />

hipótese, se é que não lançaram alhures, de que muitas vezes<br />

este atraso de desenvolvimento pode ser completado nas fases<br />

50<br />

50


pós – embriológicas, como podemos constatar pela evolução de<br />

ovários policísticos após o tratamento homeopático.<br />

Se tal teoria pode gritar alto na razão de muitos,<br />

é só atentar que cientistas conseguiram reproduzir numa bactéria<br />

o código genético de uma múmia de 5.000 anos, o que não é<br />

possível a um organismo vivo fazer?<br />

Finalizando este capítulo, citamos o Prof. Maffei,<br />

quando faz uma analogia do órgão minoris resistentiae com a<br />

sabedoria grega: “Aliás, já na mitologia grega, encontra-se a<br />

concepção de órgão sensível na conhecida História de Acquiles.<br />

Quando este herói da guerra de Tróia nasceu, a sua mãe Tetis<br />

mergulhou-o nas águas da lagoa Estígia, o que o tornou<br />

invulnerável, exceto no calcanhar, por onde ela o segurou e,<br />

portanto, esse ponto não foi banhado, mais tarde foi morto por<br />

uma seta lançada por Páris que o acertou neste ponto. Como se<br />

vê, trata-se de um simbolismo significando que todo o indivíduo<br />

possui o seu ponto sensível.<br />

No mínimo, quando o Prof. Maffei cita a palavra<br />

funcional, penso que, melhorando a função do órgão das<br />

pessoas, por tabela contribuímos para melhorar a sua<br />

constituição, e isto pode ser feito através da Homeopatia, também<br />

através do fornecimento de vitaminas e sais minerais específicos<br />

a estes órgãos, ou através de uma orientação alimentar ou<br />

mesmo com suprimentos alimentares, caminhadas, exercícios<br />

físicos etc.<br />

É clássico, entre aqueles que assistiram as<br />

famosas autópsias do Prof. Maffei, que antes mesmo de “abrir” o<br />

cadáver, já sabia de antemão, da sua causa mortis pelas suas<br />

características morfológicas, como, por exemplo, implante de<br />

orelha e sua relação embriológica com os órgãos internos.<br />

Com relação à experimentação no homem são, a<br />

Profª. Ana Kossak, numa palestra proferida na Associação<br />

Paulista de Homeopatia, disse que deve haver uma predisposição<br />

para que o indivíduo apresente sintomas na experimentação.<br />

Penso que este processo passa pelo conhecimento do que<br />

51<br />

51


ealmente seja constituição geral e constituição parcial,<br />

representada pelos órgãos de choque, já que “ninguém fica<br />

doente do que quer e sim do que pode”, por analogia, “ninguém<br />

responde a uma experimentação do que quer e sim do que pode”,<br />

segundo os seus órgãos de choque e estados que se encontram,<br />

porque se eles não existissem, pelo fato do organismo ser uma<br />

máquina teoricamente perfeita, não haveria a morte. Porém todos<br />

temos um Calcanhar de Aquiles. O medicamento homeopático<br />

deve agir neste ponto.<br />

XV<br />

A FEBRE – UMA REAÇÃO FAVORÁVEL<br />

A convulsão só ocorre em que tem tendência,<br />

que diminui, à medida que o sistema nervoso central atinge a sua<br />

maturidade, principalmente através da mielinização do sistema<br />

nervoso como um todo.<br />

Geralmente, a convulsão febril ocorre em<br />

crianças de 6 meses a 6 anos de idade, nas primeiras 24 horas da<br />

febre e não deixa seqüelas.<br />

A febre constitui uma reação favorável do<br />

organismo, seja de alarme ou de defesa, frente a um agente<br />

agressor.<br />

Durante a febre ocorre uma maior produção de<br />

anticorpos contra o agente infeccioso, como veremos a seguir.<br />

O “abaixar” febre representa diminuir em “plena<br />

batalha” e na iminência da vitória, os anticorpos responsáveis pela<br />

defesa do organismo. Representa, a meu ver, um rebote falso,<br />

uma agressão contra a homeostasia, que segundo o fisiologista<br />

norte-americano Walter Bradford Cannon é a “propriedade<br />

hereditária do ser vivo de perdurar no tempo, mantendo o<br />

equilíbrio morfológico e funcional das suas células e tecidos”. A<br />

52<br />

52


homeostasia por sua vez é mantida por outra propriedade<br />

hereditária que é auto–regulação.<br />

A auto – regulação se manifesta, por exemplo,<br />

quando a temperatura do ambiente é elevada, provocando uma<br />

dilatação dos capilares a fim de se eliminar calor do organismo.<br />

A homeostasia e a auto – regulação do<br />

organismo constituem os mecanismos de adaptação e<br />

compreensão do organismo aos diversos agentes externos,<br />

influindo assim não só na época da manifestação de uma<br />

moléstia, como também no modo de evolução e ação terapêutica<br />

(Maffei).<br />

A febre, bem como os sinais que a caracterizam,<br />

tais como sudorese, calafrios etc., fazem parte da tentativa do<br />

organismo de manter a sua homeostasia e auto – regulação frente<br />

à agressão e alteração que está sofrendo.<br />

A sudorese se processa através do mecanismo<br />

de vasodilatação, quando o organismo não necessita mais da<br />

febre para vencer o agente agressor.<br />

O calafrio, pelo contrário, representa uma<br />

tentativa do organismo, através da sua auto – regulação de<br />

manter o calor, pela vasoconstricção. Este mecanismo é de<br />

fundamental importância na defesa contra uma infecção viral,<br />

posto que é um dos únicos mecanismos próprios que o organismo<br />

dispõe contra a ação dos diferentes vírus que acometem o ser<br />

humano. Aliás, o Prof. Maffei cita que o organismo dispõe de um<br />

mecanismo natural que lhe confere uma imunidade contra os<br />

microorganismos existentes na atmosfera terrestre que, se<br />

somados, representam o próprio peso da terra.<br />

É atribuído a Hipócrates o seguinte aforisma:<br />

“Dá-me uma febre, que curarei qualquer doença”.<br />

Costuma-se dizer, em Medicina Organicista, que<br />

ninguém fica doente do que quer e sim do que pode, isto é, em<br />

53<br />

53


função de quais sejam os seus órgãos de menor resistência, ou<br />

seja, aqueles que nasceram mais fracos.<br />

Dentro deste raciocínio, a convulsão ocorre em<br />

quem tem tendência, e quando se tem tendência convulsiona-se<br />

com 37ºC.<br />

Sabe-se também que, à medida que o sistema<br />

nervoso atinge a sua maturidade, diminui a tendência à<br />

convulsão, tanto que é raríssimo um adulto convulsionar por<br />

febre.<br />

Existem alguns autores que acham que a<br />

convulsão que ocorre durante um processo infeccioso não ocorre<br />

em função da febre, e sim durante a própria infecção, por isso a<br />

inutilidade de se diminuir a febre.<br />

São famosos os casos do Prof. Maffei, quando<br />

provocava febre artificial em pacientes “desenganados”,<br />

principalmente os desnutridos, alcoolistas e crianças portadoras<br />

de moléstias infecciosas que cursam sem febre. Nestes casos,<br />

quando a febre ocorre, aumenta a chance de sobrevivência<br />

desses pacientes, caso contrário, evoluem sempre de forma fatal.<br />

Para tanto cito as suas palavras contidas no livro<br />

Os fundamentos da Medicina, p. 870, no parágrafo, “significação<br />

da febre”: “a febre, porém, constitui a reação dos mecanismos do<br />

organismo ao agente mórbido, pois o aumento da temperatura<br />

estimula a atividade fagocitária dos leucócitos e a produção de<br />

anticorpos, atestado pelo aumento das gamaglobulinas. O que<br />

está em relação com o aumento da destruição das toxinas<br />

bacterianas. De fato, nos indivíduos desnutridos, como acontece<br />

nos alcoolistas, as moléstias infecciosas evoluem sem febre e até<br />

com hipotermia e, por isso mesmo, são sempre fatais. São<br />

também graves as moléstias que em certos indivíduos evoluem<br />

com febre baixa, quando habitualmente deveriam ter febre<br />

elevada, demonstrando a precariedade dos seus mecanismos<br />

defensivos.<br />

54<br />

54


Por isso mesmo, diversas moléstias são tratadas<br />

provocando-se febre artificial, pela injeção de substâncias dotadas<br />

destas propriedades.<br />

Não obstante, se a febre for excessivamente<br />

elevada, acima de 40ºC, já passa a ser patológica, pois está<br />

indicando que os centros termorreguladores não conseguem mais<br />

controlar a temperatura do organismo, e então resultam<br />

alterações graves dos diversos órgãos e até a morte. Como a<br />

febre representa o descontrole do centro termorregulador do<br />

hipotálamo, não se deve dar banho no doente, principalmente<br />

quando se trata de criança, pois, devido à labilidade dos<br />

mecanismos da adaptação, nesses casos, pode resultar colapso e<br />

morte”.<br />

Se um organismo não faz febre diante de um<br />

agente infeccioso, e sabendo-se que a febre á a resultante do<br />

choque entre o microorganismo e os anticorpos, conforme a<br />

equação, por exemplo:<br />

bactéria x anticorpos = febre<br />

pode-se supor que, se este produto resulta igual a zero, pode-se<br />

também inferir que um dos produtos é igual a zero, ou seja, se for<br />

a bactéria igual a zero, fica:<br />

Ou o inverso:<br />

Bactéria zero x anticorpos = ausência de febre<br />

Bactéria x anticorpos zero = ausência de febre<br />

55<br />

55


Por isso que diante de um quadro de pneumonia,<br />

por exemplo, se existe o vírus ou a bactéria, por que não ter febre,<br />

já que existe o agente agressor?<br />

É porque existe uma baixa produção de<br />

anticorpos e o prognóstico quase sempre é ruim: daí o Prof.<br />

Maffei tentar provocar febre artificial nestes casos, numa tentativa<br />

de provocar, através da estimulação dos centros<br />

termorreguladores, uma produção maior de anticorpos.<br />

Como se vê, a Homeopatia não é contra o<br />

alopata, quando insiste que não deve diminuir a febre, porque<br />

este conhecimento transcede a própria Homeopatia, posto que<br />

pertence à Medicina, que como já vimos engloba a Homeopatia.<br />

De fato, na minha experiência ao longo dos anos<br />

de Homeopatia, nunca tive problemas em não “abaixar” a febre de<br />

meus pacientes, muito pelo contrário, só tive motivos de alegria,<br />

ao ver muitos casos rotulados como incuráveis serem resolvidos<br />

após um episódio febril.<br />

Devo ressaltar que apesar da citação de que a<br />

febre não deve ultrapassar 40ºC, já tive pacientes, inclusive meu<br />

próprio filho, em que isto ocorreu sem problema algum para eles.<br />

É muito importante se atentar para uma eventual<br />

indústria da febre, se assim não fora, não caberia a<br />

recomendação do Instituto de Pesos e Medidas de se comprar<br />

somente termômetros de determinadas marcas idôneas, conforme<br />

artigo publicado no jornal Folha de São Paulo , do dia 20 de<br />

outubro de 1989, que noticia a apreensão de vários lotes de<br />

termômetros que marcavam para mais, levando as pessoas a<br />

ficarem preocupadas. Será que não existe um esquema montado<br />

para aumentar o consumo de antitérmicos?<br />

Segundo Maffei, “... as crises que se manifestam<br />

por ocasião de uma moléstia infecciosa ou intoxicação, fato este<br />

que se verifica em certas crianças, sendo então atribuídas à febre<br />

e, por isso, comumente designadas convulsões febris, conforme<br />

se vê, as convulsões, nesses casos, são consideradas como<br />

56<br />

56


sintoma da moléstia, mas, na realidade, trata-se de heterozigotos<br />

epilépticos e a infecção é apenas o desencadeante das crises”.<br />

É de fundamental importância que os estudantes<br />

de Medicina reflitam sobre o que foi escrito e passem a encarar a<br />

febre segundo as suas próprias conclusões, e não como querem<br />

as indústrias farmacêuticas!<br />

XVI<br />

AS DIVERSAS LINHAS DO TRATAMENTO<br />

HOMEOPÁTICO<br />

Homeopatia.<br />

Existem muitas correntes dentro da própria<br />

Há os que defendem o uso de medicamento<br />

único. São os chamados unicistas, que apregoam que um único<br />

medicamento pode curar todos os males.<br />

Existem os alternistas, que como o próprio nome<br />

diz alteram os medicamentos, isto é, administra-se primeiramente<br />

uma substância para depois, alternadamente, fornecer um outro<br />

medicamento.<br />

Particularmente, acho que medicamentos devem<br />

ser administrados um de cada vez. Porque, como saber qual o<br />

medicamento que surtiu efeito e, eventualmente, aumentar-lhe a<br />

potência aumentando o seu efeito no sentido de consolidar a cura.<br />

Não é de bom alvitre usar potências elevadas<br />

indiscriminadamente.<br />

O Dr. Arthur de Almeida Rezende Filho, numa de<br />

suas palestras a que assisti, diz o que o homeopata não deixa de<br />

ser um unicista se usar um medicamento de cada vez, mesmo<br />

que tenha que complementá-lo com um outro.<br />

57<br />

57


Com relação às potências, existem aqueles que<br />

as usam de forma elevada, são os altistas e há aqueles que as<br />

usam de forma baixa, são os baixistas.<br />

De um modo geral considera-se potência baixa<br />

aquela que vai até 12ª centesimal, mas alguns homeopatas<br />

acham que a 30ª centesimal ainda pode ser considerada baixa.<br />

Entretanto existe um consenso de que 30ª<br />

centesimal é considerada uma potência média.<br />

A partir de 200ª centesimal, considera-se<br />

potência elevada.<br />

As potências baixas são mais usadas quando<br />

quer se curar a parte física; já as elevadas, usa-se, mais<br />

comumente, para tratar de sintomas mentais.<br />

Isto não quer dizer que as potências baixas não<br />

melhorem os sintomas mentais.<br />

Em crianças as potências baixas agem muito<br />

favoravelmente nos sintomas mentais, tais como: medos, terror<br />

noturno, sonambulismo, briquismo (ranger os dentes), roer unhas<br />

etc.<br />

O próprio Hahnemann recomenda começar com<br />

potências baixas.<br />

Tenho visto, principalmente técnicos em<br />

farmácia, leigos que não tiveram formação homeopática, como<br />

um farmacêutico que cursou Faculdade de Farmácia e pósgraduação<br />

em Homeopatia, receitarem potências elevadíssimas,<br />

como a dez mil centesimal, como se fossem água, aos pacientes.<br />

Isso cabe a um médico com formação<br />

homeopática fazê-lo, mesmo assim após criterioso exame do<br />

paciente.<br />

58<br />

58


O medicamento homeopático não é de todo<br />

inócuo. Pode-se produzir sintomas mentais no paciente, que só<br />

um homeopata experiente pode reverter.<br />

Assisti recentemente um curso proferido pelo Dr.<br />

Mikail Antouniuk que preconiza o uso de medicamentos<br />

“menores”, que, junto com os grandes medicamentos<br />

(policrestos), agiriam como drenadores de toxinas do organismo,<br />

indo muito de encontro com o pensamento da escola francesa.<br />

Convém não radicalizar posições que só serviria<br />

para desunir os homeopatas, bem do interesse de multinacionais<br />

da doença.<br />

XVII<br />

LEI DE CURA – LEI DE HERING<br />

Antes de abordarmos este capítulo, convém<br />

elucidarmos que segundo a eminente Profª. Anna Kossak o termo<br />

Lei é inadequado, posto que na realidade o correto seria<br />

fenômeno de Hering.<br />

Existe um conceito em Homeopatia que diz: “O<br />

que ficou mal curado ou suprimido pode voltar”. É a chamada<br />

“volta dos sintomas antigos”.<br />

Hering, médico homeopata, enunciou que esta<br />

volta de sintomas antigos se faz da seguinte maneira: “de dentro<br />

para fora, de cima para baixo e na ordem inversa do seu<br />

aparecimento”.<br />

É importante ressaltar que Hering, um alopata<br />

brilhante, foi escolhido para desbancar a Homeopatia, entretanto,<br />

após estudá-la e compreendê-la, não só tornou-se homeopata,<br />

como observou uma lei que tomou seu nome.<br />

É clássica, em Pediatria, a alternância entre<br />

eczema e asma brônquica, isto é, diante de um eczema atópico é<br />

59<br />

59


comum usar pomadas que fazem desaparecer a lesão,<br />

aparecendo imediatamente uma crise de asma brônquica, que<br />

desaparece quando reaparece o eczema.<br />

Neste mesmo caso, se não reaparecesse o<br />

eczema, poderia até ocorrer uma pneumonia e confusão mental,<br />

por exemplo.<br />

Se diante desta eventual pneumonia o paciente<br />

fosse medicado corretamente, a cura deveria ocorrer da seguinte<br />

forma:<br />

esquema:<br />

- de dentro para fora: cura-se primeiro a<br />

pneumonia<br />

- de cima para baixo: melhora a confusão<br />

mental<br />

- na ordem inversa do aparecimento dos<br />

sintomas – ou seja, cura-se a pneumonia,<br />

reaparece a asma brônquica e, finalmente, o<br />

eczema.<br />

É como se descesse uma escada, conforme o<br />

Eczema Supressão<br />

Asma<br />

Pneumonia<br />

Eczema Volta de sintomas<br />

60<br />

Asma<br />

Pneumonia<br />

60


Por isso que em Homeopatia se respeita muito<br />

as tentativas do organismo em se exonerar aquilo que lhe faz mal.<br />

É o organismo que faz a doença, tentando<br />

resolver os seus problemas.<br />

Portanto, quando se cessa uma coriza, uma<br />

diarréia ou se suprime lesões de pelo está-se interiorizando o<br />

processo, deslocando-o para outros órgãos, quase sempre os de<br />

menor resistência.<br />

XVIII<br />

MEDICAMENTOS COMPLEMENTARES<br />

Existem grupos de medicamentos homeopáticos<br />

que se completam entre si, segundo suas características físicoquímicas<br />

que se enquadram no grupo de Boyd.<br />

Boyd, segundo as características físico–químicas<br />

das substâncias, elaborou doze grupos de medicamentos que são<br />

utilizados complementarmente. No geral, quando se exaurem os<br />

efeitos de um elemento desse grupo, pode se entrar num outro<br />

medicamento desse mesmo grupo, desde que cumpra a lei das<br />

semelhanças.<br />

Por exemplo, quando se esgotaram os efeitos de<br />

Aconitum napellus, pode-se utilizar o medicamento Bromium, que<br />

pertence ao mesmo grupo.<br />

Existem outros medicamentos homeopáticos que<br />

não pertencem ao mesmo grupo de Boyd e que são<br />

complementares entre si, como o Arsenicum album e o<br />

Phosphorus , por exemplo.<br />

61<br />

61


XIX<br />

CONCEITO FALSO: A <strong>HOMEOPATIA</strong> NÃO É<br />

LENTA<br />

O tratamento pode ser considerado lento<br />

somente naqueles casos crônicos, que a própria Alopatia<br />

considera como incuráveis, como: artroses e outras doenças<br />

degenerativas como o mioma uterino.<br />

Já nos casos agudos, como amigdalites,<br />

vômitos, diarréia etc., o tratamento homeopático pode ser<br />

extremamente rápido.<br />

No caso de pneumonias a cura clínica e<br />

radiológica é tão, ou, mais rápida que a própria alopatia.<br />

Entretanto, na vigência de uma meningite<br />

bacteriana a antiobioticoterapia torna-se imprescindível, mesmo<br />

porque nestes casos não se tem experiência com a homeopatia.<br />

Há que haver bom senso!<br />

XX<br />

PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO<br />

Hipócrates já defendia a noção de uma unidade<br />

mórbida: “A natureza de todas as doenças é a mesma. Difere<br />

apenas quanto à sua sede. A essência é uma: a causa que as<br />

determina é também uma ... O que é importante não é tanto<br />

enumerar e separar cada doença, por mais que se ache que ela<br />

difira um pouco das outras, mas imaginar que as doenças são<br />

sempre, essencialmente, as mesmas, ainda que tenham nomes<br />

diferentes”.<br />

A Energia Vital permeia todo o organismo, e é<br />

essa energia vital que primeiro adoece. Hipócrates admite um<br />

princípio vital, que ele denomina natureza, força e essência<br />

ignorada, que se manifesta nas funções de todos os órgãos ...<br />

62<br />

62


Energia Vital.<br />

O medicamento homeopático age sobre essa<br />

Por isso, quando se administra um medicamento<br />

homeopático, este promove a cura global do indivíduo.<br />

Existem várias teorias atuais que vão desde a<br />

presença da substância diluída no seio do veículo hidroalcoólico<br />

até a presença de receptores celulares ultra-sensíveis que<br />

interagirão com o medicamento homeopático, mesmo em doses<br />

infinitesimais, que atuam, provavelmente, nas estruturas do<br />

Hipotálamo.<br />

XXI<br />

A <strong>HOMEOPATIA</strong> PODE SER USADA<br />

PREVENTIVAMENTE?<br />

Tal assunto é muito controvertido, mesmo entre<br />

próprios médicos homeopatas.<br />

Mas, apenas para ilustrar o assunto, citamos<br />

uma experiência com o medicamento homeopático administrado<br />

profilaticamente pelo Dr. David Castro e Dr. George W. Galvão<br />

Nogueira.<br />

Na cidade de Guaratinguetá, quando da<br />

ocorrência da epidemia de meningite, em agosto de 1974,<br />

segundo os dados estatísticos, houve uma incidência<br />

consideravelmente menor da meningite meningocócica no grupo<br />

tratado preventivamente com o medicamento homeopático.<br />

Este fato deveria ser levado em consideração e<br />

ser melhor pesquisado na área de saúde pública, principalmente<br />

pelos médicos sanitaristas.<br />

63<br />

63


XXII<br />

A <strong>HOMEOPATIA</strong> CURA TUDO?<br />

Seria muita pretensão que um único método<br />

terapêutico curasse todas as enfermidades.<br />

A saúde decorre de uma série de fatores como:<br />

ambientais, alimentares, de uma vida não - sedentária, do<br />

descanso, da higiene mental etc.<br />

A homeopatia contribui de uma forma<br />

significativa para a obtenção e manutenção da saúde, mas ela<br />

não é única.<br />

Não se pode prescindir da cirurgia quando for<br />

necessária. O que é cirúrgico deve ser tratado cirurgicamente.<br />

Existem algumas enfermidades que, na minha<br />

experiência, só são passíveis de tratamento alopático.<br />

faz necessária?<br />

Quantas vezes a ajuda de um psicoterapeuta se<br />

Nos traumas pós – acidentes, por exemplo, a<br />

ortopedia, a microcirurgia, a neucocirurgia, fazem verdadeiros<br />

milagres.<br />

As chamadas terapias alternativas são<br />

excelentes coadjuvantes da Homeopatia.<br />

Não há que se radicalizar e gerar confusão nas<br />

pessoas. Tudo depende da indicação exata do tratamento, pois<br />

assim procedendo, da mesma forma que refutamos Voltaire,<br />

podemos contestar a frase de Molière (1622-1673): “O médico<br />

tem a sorte do Sol iluminá-lo e a Terra ocultar-lhe os erros”.<br />

Como dizia Charrette: “Digo que a Homeopatia é<br />

uma terapêutica e não toda a terapêutica”.<br />

64<br />

64


XXIII<br />

<strong>HOMEOPATIA</strong>: A IMPORTÂNCIA DE<br />

OBSERVAR-S A SI PRÓPRIO<br />

É muito comum, no consultório, o paciente<br />

estranhar determinadas perguntas que lhe fazem os homeopatas.<br />

Perguntam-nos o que certos medos, como medo<br />

de tempestades, de escuro, de ficar sozinho, ou desejos<br />

alimentares, tais como de doces, de ovos, leite ou posição de<br />

sono etc., têm a ver com a sua enfermidade.<br />

É que mesmo diante de um mesmo diagnóstico,<br />

como, por exemplo, mioma ou fibroma uterino, cada um tem um<br />

modo de adoecer.<br />

Não é somente o órgão que está doente, e sim o<br />

paciente como um todo. Mesmo uma simples lesão de pele<br />

significa que algo não vai bem no organismo e que ele tenta<br />

eliminar pela pele as substâncias tóxicas que o estão<br />

sobrecarregando.<br />

Esta forma individual de se enfermar se<br />

manifesta primeiramente através de mudanças de sono, hábitos<br />

alimentares, sexuais etc.<br />

Com o tempo, o paciente aprende a se observar<br />

e notar as mudanças que estão ocorrendo em si próprio.<br />

Através do diagnóstico e das mudanças que<br />

ocorreram no indivíduo, o homeopata tem condições de eleger o<br />

medicamento correto ou o medicamento simillimum que deverá<br />

melhorar desde “uma unha encravada, até o fio de cabelo”.<br />

Principalmente levando-se em consideração os<br />

fatos que marcaram a vida do paciente, tais como: perda de<br />

emprego, de dinheiro, desprezo, honra ferida etc.<br />

65<br />

65


Na mulher, por exemplo, a menstruação é de<br />

grande valia para a escolha do medicamento, isto é, se tem cólica<br />

ou se muda de humor antes, durante e depois da menstruação.<br />

A síndrome pré – menstrual fala a favor de<br />

alguns medicamentos que, sendo administrados, podem melhorar<br />

estes sintomas com uma boa margem de êxito.<br />

Há autores que acham que pelas características<br />

da menstruação pode-se fechar o diagnóstico do medicamento<br />

homeopático.<br />

Daí a importância de observar-se a si próprio.<br />

XXIV<br />

A ALIMENTAÇÃO CORRETA AJUNDA NO<br />

TRATAMENTO HOMEOPÁTICO?<br />

Hahnemann, no seu Organon da Arte de Curar,<br />

no artigo 244, dá ênfase à nutrição quando diz: “... contudo, o<br />

homem pode em sua mocidade habituar-se mesmo a lugares<br />

pantanosos e conservar-se em perfeita saúde, desde que<br />

mantenha um regime impecável e seu organismo não se submeta<br />

à subnutrição.<br />

Isto não quer dizer que a pessoa deveria adotar<br />

esta ou aquela técnica de alimentação, isto é foro íntimo de cada<br />

um, mas, sem dúvida, deveria ingerir alimentos que pelo menos<br />

contivessem os nutrientes indispensáveis ao funcionamento e<br />

manutenção do organismo.<br />

Não existe uma dieta “standard ideal”, o que<br />

existe são aproximações do real. Cumpre ao médico orientar o<br />

seu paciente no sentido de fazer uma dieta o mais próximo do<br />

ideal.<br />

Para tanto, deve ensinar ao paciente:<br />

66<br />

66


- o que comer,<br />

- quanto comer,<br />

- quando comer,<br />

- como comer,<br />

- como combinar os alimentos.<br />

De um modo geral, os alimentos dever ser puros,<br />

frescos e integrais, e creiam, isto não é difícil nem desagradável.<br />

Finalizamos este capítulo com as palavras de<br />

uma pessoa que deve ser considerada, no mínimo, genial: “o<br />

médico do futuro não receitará remédios e, sim, orientará os seus<br />

pacientes numa dieta saudável”(Thomaz Alva Edson).<br />

Penso que a frase acima não deve ser tomada<br />

como uma verdade única, entretanto, é muito importante que se<br />

atente para uma alimentação saudável com fonte de preservação<br />

da saúde, contudo, Hipócrates diz nos seus Aforismas que uma<br />

dieta excessivamente rigorosa é prejudicial à saúde. Ele mesmo<br />

diz que “em matéria de alimento nada faz mal, nada faz bem,<br />

depende da quantidade”. Já Lucrécio diz que “a mesma carne que<br />

alimenta um homem pode envenenar um outro”, isto é, deve-se<br />

evitar o que faz mal e comer o resto com moderação.<br />

XXV<br />

OS CANAIS DE ELIMINAÇÃO DE TOXINAS<br />

Existem cinco canais de eliminação de toxinas<br />

pelos quais o organismo preferencialmente exonera as toxinas,<br />

quais sejam: pele, aparelho respiratório, aparelho urinário,<br />

sistema linfático e intestino grosso.<br />

Toda vez que existe uma sobrecarga tóxica, o<br />

organismo drena estas toxinas do seguinte modo:<br />

Pele: através de toda sorte de lesões, como: eczemas, vesículas,<br />

pústulas, pruridos etc. Na medicina chinesa, desde cinco mil anos<br />

atrás, se preconizava usar agulhas de acupuntura, a fim de se<br />

transformar a dor em “coceira”(prurido de pele).<br />

67<br />

67


Aparelho respiratório: através da eliminação de catarro (muco) ,<br />

aumento de freqüência respiratória etc.<br />

Aparelho urinário: através da eliminação de uma maior quantidade<br />

de urina ( diurese) , de sais minerais, corpos cetônicos etc.<br />

Sistema linfático: representado pelo baço, gânglios (linfáticos),<br />

eliminando as grandes moléculas da circulação sangüínea. Há<br />

autores que não consideram o sistema linfático como um canal de<br />

eliminação.<br />

Intestino grosso: através da diarréia, fezes mucosas etc.<br />

Como dissemos anteriormente, convém respeitar<br />

estas drenagens, desde que, logicamente, não estejam colocando<br />

em risco a vida do paciente.<br />

XXVI<br />

A SEGUNDA PRESCRIÇÃO<br />

O médico só pode avaliar se o tratamento deu<br />

certo na Segunda consulta, quando ele decide se mantém o<br />

medicamento ou se o troca.<br />

Com o médico homeopata não é diferente.<br />

Pode ocorrer que numa primeira consulta não se<br />

consiga chegar ao medicamento “simillimum”, porém, pode-se<br />

fazê-lo nas consultas posteriores.<br />

A segunda prescrição é, sem dúvida alguma,<br />

mais complexa que a primeira, porque é onde o homeopata deve<br />

usar todo o seu conhecimento para saber que conduta tomar, isto<br />

é, se muda ou não o medicamento e, na eventualidade de fazê-lo,<br />

tentar trabalhar corretamente com a potência seguinte.<br />

68<br />

68


Tal procedimento ocorre em função das<br />

alterações que se processaram no paciente após a administração<br />

do medicamento, que em geral são muito complexas e, mesmo ,<br />

às vezes muito sutis.<br />

XXVII<br />

A INÉRCIA DOS HOMEOPATAS<br />

Voltando ao assunto Homeopatia versus<br />

Alopatia, penso que os homeopatas detêm a maior parcela de<br />

culpa neste sentido. Porque os alopatas, radicais pelo seu modo<br />

exclusivamente cartesiano de pensar, não conhecem a ciência e<br />

arte de se tratar pelos semelhantes, por nossa culpa,<br />

exclusivamente nossa culpa, pois poderíamos satisfazer a lógica<br />

cartesiana dos referidos colegas, apresentando trabalhos<br />

científicos não só nos congressos e jornadas homeopáticas, como<br />

também nos de Alopatia.<br />

Quem pode de sã consciência, por exemplo,<br />

refutar as curas de doentes, comprováveis por RX, ultrassom,<br />

exames de laboratórios, antes, durante e depois do tratamento<br />

homeopático?<br />

Isto sem contar os depoimentos de pacientes<br />

sobre a cura de doenças psíquicas e funcionais, que não deixam<br />

de ser um documento científico. Numa das primeiras aulas que<br />

tive no curso de Homeopatia, o Dr. Betarello apresentou alguns<br />

exames laboratoriais de função hepática que viraram ou se<br />

normalizaram de uma forma tão rápida que, de início, quase<br />

ninguém acreditou no que via.<br />

Após, no dia – a - dia de consultório<br />

homeopático, pudemos constatar que este fato ocorre com uma<br />

freqüência muito grande, que deveria ser divulgada aos quatro<br />

cantos do mundo científico, muito embora exista todo um trabalho<br />

contrário, por parte dos laboratórios, utilizando recursos de<br />

marketing até com apelos sexuais para, em atuando no<br />

subconsciente do médico, tornar agradável o produto ao<br />

69<br />

69


profissional, que deve e tem obrigação de conhecer as<br />

propriedades farmacológicas das substâncias em questão.<br />

Lembro de um congresso, quando ainda era<br />

estudante, em que o Prof. Maffei, que para mim é um dos maiores<br />

pilares da Medicina e também não é homeopata, disse que<br />

seríamos um bando de cordeiros, caso não atentássemos para o<br />

fato dessa pressão que os laboratórios exercem sobre os<br />

médicos, promovendo congressos, dando brindes, amostra grátis<br />

etc., ditando normas de como os médicos devem proceder.<br />

Talvez a única pecha que os homeopatas não<br />

têm que carregar é a de ser cordeiros, de se submeter a esta<br />

massificação imposta pelas multinacionais.<br />

XXVIII<br />

OS SINTOMAS PSÍQUICOS<br />

Como pode ser visto no capítulo “O<br />

medicamento homeopático”, a escolha do simillimum sempre<br />

ocorre em função da totalidade dos sintomas que o paciente<br />

apresenta, sejam eles físicos ou psíquicos.<br />

A escola francesa opta, por exemplo, pelos<br />

sintomas físicos.<br />

Porém, existem escolas que preconizam a<br />

utilização dos sintomas psíquicos como melhor forma de escolher<br />

o medicamento, uma vez que psiquismo é a parte mais nobre do<br />

ser humano e que, antes mesmo que a doença se estabeleça de<br />

uma forma anátomo–patológica, o organismo já começa a dar<br />

sinais de que algo não vai bem com ele, através de mudanças<br />

psíquicas que ocorrem, tais como: alterações de sexualidade,<br />

medos, alterações de sono, mudança de hábitos, etc.<br />

Os sintomas psíquicos são importantes,<br />

principalmente os fatos que marcaram a vida do indivíduo, como<br />

morte de entes queridos, grandes humilhações, sustos,<br />

70<br />

70


desprezos, mágoas etc. caracterizando a História Biopatográfica<br />

(bio = vida; pathos = doenças; graphos = marcar), ou seja, os<br />

episódios que deixaram marcar indeléveis na vida das pessoas,<br />

fazendo-as enfermar-se.<br />

Como já dissemos em algum capítulo deste livro,<br />

Hahnemann não foi somente o precursor da Medicina<br />

Experimental antes mesmo de Claude Bernard, como também é o<br />

precursor da Medicina Psicossomática, na medida em que<br />

valoriza muito os acontecimentos psíquicos na gênese das<br />

doenças.<br />

Particularmente, na escolha do medicamento,<br />

utilizo de preferência os sintomas psíquicos como sintomas<br />

diretores ou mais importantes, acrescidos de físicos, para no<br />

processo de exclusão da repertorização chegar àquele que cubra<br />

todas e as mais importantes características do paciente.<br />

XXIX<br />

MEDICINA AGRESSIVA<br />

O preceito de Hipócrates, “Primum non<br />

nocerum”, isto é, primeiro não lesar, ou primeiro não fazer mal, é<br />

para mim o mais importante de todos os seus axiomas.<br />

Foi baseado neste princípio que Hahnemann<br />

criou a Homeopatia, porque sempre se posicionou contra a<br />

medicina agressiva e pesada que se praticava na época, onde se<br />

aplicavam sangrias absurdas, sanguessugas etc.<br />

Um exemplo clássico deste fato foi o de George<br />

Washington. Após sentir fortes dores de garganta, foi chamado<br />

um médico que lhe fez uma sangria na veia femoral, tirando-lhe<br />

aproximadamente meio litro de sangue. Como a dor não passava,<br />

outro médico foi solicitado, o qual procedeu uma nova sangria,<br />

agora na veia umeral, subtraindo-lhe mais meio litro de sangue.<br />

Tal procedimento, entretanto, não surtiu efeito, então mais dois<br />

médicos foram chamados, e, fazendo uma punção na veia jugular,<br />

retiraram-lhe aproximadamente mais 1 litro de sangue e<br />

administraram-lhe calomelano.<br />

71<br />

71


Sabemos que o corpo humano tem em torno de<br />

5 litros de sangue.<br />

Como resultado final a dor passou de forma<br />

efetiva, só que George Washington veio falecer no dia 14 de<br />

dezembro de 1779 por hipovolemia, ou seja, perda acentuada de<br />

sangue. Foi este o tratamento que recebeu o mais ilustre cidadão<br />

americano, donde podemos concluir que este era o melhor<br />

tratamento da época.<br />

Este é um exemplo que não se pode deixar de<br />

dar, para mostrar o quão a medicina foi agressiva, justificando até<br />

um dizer de que a medicina caminhou sobre milhões de<br />

cadáveres, inclusive o do mais ilustre cidadão americano.<br />

Transcrevemos o texto do Prof. Elisaldo Luiz de<br />

Araújo Carlini, Professor de Psicobiologia.<br />

“Além destas sangrias o uso do Calomelano era<br />

obrigatório para quase tudo. E a posologia era pródiga: devia ser<br />

aumentar a dose até que o paciente salivasse profusamente, o<br />

que sabemos, hoje, ser o primeiro sinal de envenenamento pelo<br />

cloreto de mercúrio. No caso do doente escapar a esta<br />

terapêutica não era incomum posteriormente perder os dentes e<br />

os cabelos por causa deste envenenamento. Tinha, assim, muito<br />

sentido a famosa frase “Morreu curado”.<br />

Há não muito tempo atrás, quantas cirurgias de<br />

apêndice (apendicectomia) foram realizadas para se curar todos<br />

os males existentes na face da Terra, tais como: asma, bronquite<br />

etc.<br />

Criou-se posteriormente a crença de que o<br />

apêndice cecal é um órgão inútil, como se a natureza fizesse algo<br />

sem valor para a economia do organismo, pois trata-se de um<br />

órgão linfóide responsável pela defesa do intestino, que parece<br />

proteger contra o câncer intestinal.<br />

72<br />

72


Isto sem falar das cirurgias de amígdalas<br />

(amigdalectomia) que foram realizadas num número sem fim, com<br />

a finalidade de se prevenir a febre reumática.<br />

Hoje existe o consenso de que a amigdalectomia<br />

não previne a febre reumática, podendo às vezes até<br />

desencadeá-la, porque as amígdalas são os órgãos destinados a<br />

proteger as vias aéreas superiores. Nada no organismo e na<br />

natureza existe por acaso.<br />

As famigeradas gastrectomias que amputavam<br />

¾ do estômago são um atestado desta prática agressiva, quando<br />

sabemos que a úlcera duodenal é uma doença eminentemente<br />

psicossomática, e se não auxiliarmos o paciente neste sentido, de<br />

nada vai valer qualquer tratamento.<br />

Volto a insistir que “Primum non nocerum” é o<br />

primeiro e maior mandamento de Hipócrates.<br />

Outro fator favorável à Homeopatia é que ela<br />

tem leis fixas que orientam o tratamento, não mudando<br />

constantemente, como, por exemplo, a Atropia, que foi usada<br />

como pancreatite aguda, sendo proscrita e posteriormente usada<br />

no tratamento desta mesma moléstia.<br />

O que não dizer da Talidomia, que acarretou<br />

tantos problemas congênitos, e dos remédios proscritos e<br />

condenados em outros países e que ainda continuam em uso no<br />

nosso país.<br />

Quero dizer que não é a medicina que é<br />

agressiva e sim algumas formas terapêuticas existentes.<br />

Tenho um colega amigo médico que diz : “o que<br />

não é tratado com antibiótico ou com corticóide é tratado,<br />

somente, com cirurgia, caso contrário não tem cura”.<br />

Ledo engano, porque a Homeopatia vem<br />

preencher este imenso vazio que resta na terapêutica clássica.<br />

Ela cura muita doença tratável com antibiótico, corticóide e<br />

73<br />

73


mesmo através da cirurgia, de uma forma rápida, suave e<br />

duradoura.<br />

O que dizer do uso de remédios proibidos em<br />

outros países, condenados pela Organização Mundial de Saúde<br />

(OMS) pelos seus efeitos indesejáveis quando usados<br />

indiscriminadamente, devido a um sistema econômico – político<br />

desumano e não aos medicamentos propriamente ditos, que,<br />

muitas vezes eficazes, minoram a dor, o sofrimento humano,<br />

porém, quando mal utilizados, podem provocar reações tóxicas<br />

indesejáveis.<br />

Cresce cada vez mais o número de crianças que<br />

fazem uso de calmantes, predispondo, com certeza, este mesmo<br />

pacientinho, a se tornar um dependente de droga no futuro.<br />

repensado?<br />

Isto tudo não deveria ser reavaliado e<br />

XXX<br />

OS DIAGNÓSTICOS EM <strong>HOMEOPATIA</strong><br />

O homeopata, antes de mais nada, é um médico,<br />

devendo, portanto, tentar proceder ao diagnóstico etiológico, ou<br />

seja, o que é a doença, qual a sua causa e conseqüência, isto é,<br />

deve estabelecer o diagnóstico clínico.<br />

Entretanto, além do diagnóstico supracitado,<br />

deve e precisa fazer os diagnósticos individuais, biopatográfico,<br />

medicamentoso e da potência do referido medicamento.<br />

Para tentar uma melhor compreensão,<br />

exporemos resumidamente, no quadro sinóptico abaixo, os<br />

diagnósticos supracitados:<br />

1. Clínico – o que é? causa?<br />

conseqüência?<br />

74<br />

74


2. Individual representado por exemplo, por sonhos, relação<br />

Familiar, desejos, aversões, irritabilidade etc<br />

3. Biopatográfico ou Constituicional, onde se levam em<br />

consideração os fatos que marcaram a vida do indivíduo (bio =<br />

vida; pathos= doença; graphos = marcar), desde a infância até<br />

agora, como vivências, experiências, sentimentos de culpa,<br />

remorso, vacinações, humilhações, morte de entes queridos,<br />

mágoas, sustos etc.<br />

4. Medicamentoso, que deve ser realizado após minuciosa<br />

análise dos demais diagnósticos acima. Além de se escolher o<br />

medicamento, deve-se também optar pela potência mais<br />

adequada para cada caso.<br />

Prognóstico: Após proceder aos diagnósticos<br />

acima, deve saber o médico, segundo a sua experiência, se o<br />

paciente vai se curar totalmente, ou apenas parcialmente, ou,<br />

mesmo, se vai ocorrer óbito do doente.<br />

XXXI<br />

FALSOS HOMEOPATAS<br />

Em todas as raças, povos, religiões, idades etc.,<br />

existem os bons e os maus profissionais. O mesmo ocorre na<br />

Homeopatia.<br />

O que temos observado é que existem alguns<br />

colegas que intitulam homeopatas e administram toda uma gama<br />

de remédios alopáticos, na maioria das vezes numa quantidade<br />

maior do que um alopata consciencioso e de bom nível receitaria,<br />

e acrescenta, alhures, um medicamento homeopático juntamente<br />

aos demais para dar aparência de tratamento homeopático.<br />

Não temos nada contra a terapia alopática, muito<br />

pelo contrário, temos convicção de que ela tem um lugar muito<br />

75<br />

75


em definido e importante no tratamento do ser humano, sendo,<br />

mesmo, imprescindível em alguns casos.<br />

Como sabemos, não existe impedimento de se<br />

tratar, simultaneamente, pacientes com terapia alopática e<br />

homeopática, como no caso de pacientes que fazem uso de<br />

anticonvulsivantes, devido a epilepsias severas; digitálicos, devido<br />

a insuficiências cardíacas graves; insulina, devido à diabetes<br />

juvenil etc.<br />

Existem pacientes que utilizam há muitos anos<br />

calmantes e antidepressivos, caso em que não os retiro de pronto,<br />

fazendo um esquema lento e gradual de supressão desses<br />

remédios, quando possível.<br />

Vejamos se não é lógico tratarmos uma criança<br />

com quadro convulsivo severo, que toma anticonvulsivantes, com<br />

Homeopatia, quando a sua queixa principal é a de amigdalites de<br />

repetição.<br />

O homeopata, nestes casos, deve manter um<br />

intercâmbio com o colega especialista que também trata da<br />

criança.<br />

Isso não exclui o fato de podermos retirar um<br />

anticonvulsivante, quando o paciente não apresenta convulsões, e<br />

onde se observa que o que está sendo tratado é, tão-somente, o<br />

eletroencefalograma e não o paciente; nestes casos, a clínica é<br />

soberana.<br />

Se fizermos um eletroencefalograma (EEG) na<br />

população, ficaremos surpresos, pois grande parte desta<br />

população apresentará alterações no EEG, sem manifestações<br />

clínicas.<br />

Porém, outro cuidado que se tem de tomar é<br />

com relação aos chamados “tratamentos homeopáticos” para<br />

regimes de emagrecimento, onde, invariavelmente, o profissional<br />

receita uma quantidade de anorexígenos numa dosagem maior,<br />

até mesmo, que os remédios controlados e acrescenta alguns<br />

76<br />

76


fitoterápicos (remédios à base de ervas) e alguns homeopáticos<br />

para dar caráter de tratamento natural.<br />

Estes remédios atuam no hipotálamo, onde<br />

estão os centros da fome, sede, sexualidade, pressão arterial,<br />

promovendo desequilíbrios hormonais importantes.<br />

Por isso, é fundamental ficarmos alertas a esses<br />

profissionais que não são nem um bom homeopata e, muito<br />

menos, um bom alopata.<br />

XXXII<br />

NOSÓDIOS<br />

Os nosódios são medicamentos homeopáticos<br />

preparados com vírus, bactérias, secreções mórbidas, não sendo,<br />

portanto, considerados vacinas.<br />

A solução é levada à maior semelhança possível<br />

caracterizando a Isopatia.<br />

Pode ser usado segundo a lei da semelhança ou na vigência do<br />

processo mórbido específico. Por exemplo, recebi um telefonema<br />

de uma colega pediatra homeopata, dizendo que vacinou o seu<br />

sobrinho com a vacina contra o sarampo e que ele estava<br />

apresentando febre alta em decorrência da vacinação, tendo já<br />

dado um simillimum que não resolveu o caso.<br />

Sugeri que lhe administrasse o nosódio<br />

Morbilinium, feito com o próprio vírus do sarampo. O resultado foi<br />

imediato. A criança melhorou de pronto.<br />

O nosódio nunca deve ser usado como primeiro<br />

recurso, guardando-se a sua utilização para quando se esgotam<br />

os recursos do medicamento similimum.<br />

São usados também nos miasmas, cuja<br />

explanação está contida no capítulo que leva este título.<br />

77<br />

77


Outra forma de utilização dos nosódios é na<br />

imunização das crianças ou para combater os maus efeitos das<br />

vacinações, conforme sugere o Dr. David de Castro, fato que<br />

deveria estudado pelas autoridades sanitárias para se comprovar<br />

ou não a veracidade da proposta.<br />

Ainda, a respeito das imunizações na infância o<br />

Dr. David Castro, no seu livro Homeopatia e Profilaxia preconiza:<br />

“A seguir, os nosódios a serem empregados, na<br />

ordem cronológica, com a potência mais indicada e a dose a ser<br />

utilizada:<br />

1. Tuberculinas – T. Koch C 200<br />

Bacillinum C 30 e C 200 e outros, 2 gotas em 10 ml de água<br />

destilada, de uma só vez, ao deitar, longe das refeições, ou pela<br />

manhã, 15 minutos antes da primeira mamada.<br />

2. Diphiterinum – C 30 ou C 200 ou Diphtero Toxinum C30 ou<br />

C200 (Difteria).<br />

3. Coqueluchinum ou Pertussinum – C30 ou C 200 (<br />

Coqueluche)<br />

4. Poliovac – C30 (Poliomelite)<br />

O intervalo nas doses pode ser de uma semana a 15 dias, nas<br />

dosagens acima referidas, com início no primeiro mês de vida.<br />

Após virão:<br />

5. Variolinum C30 ou C 200 – não temos experiência porque até<br />

agora era a vacina obrigatória no Brasil , estando para<br />

terminar em virtude da erradicação da moléstia.<br />

6. Tetano toxinum – C30 e C200 (Tétano).<br />

7. Parotidinum – C30 ou C200 ( Paratidite infecciosa)<br />

78<br />

78


8. Meningococcinum A C. – C30 ou C200 (Meningite<br />

menigococcica). Veja-se o interessante trabalho de<br />

imunização em massa contra a moléstia, realizada pelos Drs.<br />

G. W. Galvão Nogueira e Prof. José Barros da Silva, em 1974,<br />

publicado na Revista Similia – 1975 – Rio.<br />

9. Eberthinum – C30 ou C200 ( Febre tifóide)<br />

10. Rubéola – C30 “.<br />

Tal esquema merece ser melhor estudado e<br />

comprovado por parte dos epidemiologistas e sanitaristas.<br />

XXXIII<br />

<strong>HOMEOPATIA</strong> X ACUPUNTURA<br />

Existe em Homeopatia o conceito de supressão.<br />

Entende-se por supressão: “É o<br />

desaparecimento de um sintoma ou síndrome funcional ou<br />

anatomoclínico, sem verdadeira melhora do paciente e com<br />

seguro reaparecimento, depois de um tempo mais ou menos<br />

variável, de uma sintomatologia de maior gravidade”(Candegabe)<br />

ou “supressão mórbida é a paliação, inibição ou desaparecimento<br />

de uma parte dos sintomas de um paciente, por meios,<br />

procedimentos ou agentes externos".<br />

Conforme consta no capítulo seguinte, toda a<br />

medicina se baseia no fenômeno chamado Alergia, donde<br />

podemos inferir que a doença é o resultado de uma própria<br />

reação do organismo no sentido de se tentar chegar à imunidade,<br />

que é uma tentativa do sistema de defesa de resolver o problema<br />

que acomete o referido organismo, colocando “a casa em ordem”.<br />

Neste processo, a febre é uma reação favorável,<br />

assim como a solicitação dos sistemas de drenagem de toxinas,<br />

existentes no corpo humano, tais como o sistema respiratório,<br />

79<br />

79


sistema linfático, o cólon (intestino grosso) e a pele, com a<br />

finalidade de manter o equilíbrio do organismo.<br />

Então, qualquer procedimento que vise inferir<br />

nesses processos, como passar pomadas, suprimindo uma lesão<br />

de pele, parar uma diarréia, tomar remédios para tosse,<br />

suprimindo a eliminação de muco e catarro, o uso de<br />

descongestionantes nasais, pode suprimir ou “interiorizar” uma<br />

manifestação do próprio organismo no sentido de eliminar aquilo<br />

que está lhe fazendo mal.<br />

O exemplo clássico desta lei é descrita em<br />

Pediatria, que é a alternância de eczema e asma brônquica em<br />

criança, ou seja, na vigência de uma lesão exzematosa, passamse<br />

pomadas, que fazem desaparecer a lesão, isto é, suprime a<br />

manifestação e, logo em seguida, surge a asma brônquica, que<br />

melhora, tão logo reapareça a lesão de pele.<br />

Para melhor ilustrar este processo, mostrarei um<br />

esquema, hipotético logo a seguir.<br />

agudo Supressão<br />

subagudo Supressão<br />

crônico_ Supressão<br />

degenerativo<br />

A utilização acima mostra que a doença se<br />

aprofunda partindo do estado agudo, podendo chegar até o<br />

degenerativo, a partir da manifestação que se enquadre no estado<br />

agudo, como, por exemplo, uma coriza, levando a um estado<br />

gripal, seguindo-se a asma brônquica e quiçá um estado<br />

degenerativo, como enfisema etc.<br />

Para que haja cura verdadeira, tem que se fazer<br />

o caminho de volta, caracterizando a clássica volta dos sintomas<br />

antigos, posto que o organismo só sabe resolver o seu problema<br />

na sua superfície.<br />

80<br />

80


Agudo<br />

Coriza_<br />

Cura<br />

Subagudo<br />

__Gripe______<br />

Cura<br />

Crônico<br />

Asma brônquica____<br />

Cura<br />

Degenerativo<br />

_Enfisema Pulmonar<br />

Vimos, portanto, que a supressão é tudo aquilo<br />

que impede a manifestação do organismo na tentativa de<br />

resolver, à sua maneira, os seus problemas.<br />

Neste particular é que existem divergências<br />

entre alguns homeopatas e acupunturistas, posto que os<br />

primeiros acham que a técnica de se utilizar agulhas em pontos<br />

especiais do organismo, como preconiza a Medicina Chinesa,<br />

pode suprimir sintomas, com todas as implicações decorrentes<br />

deste fato.<br />

A bem da verdade um medicamento<br />

homeopático inadequado pode suprimir sintomas.<br />

Há, entretanto, acupunturistas que utilizam a<br />

“Acupuntura Constitucional”, que parece não suprimir sintomas, o<br />

mesmo ocorre com aqueles que têm conhecimento de causa<br />

naquilo que fazem.<br />

Vale salientar estas divergências, uma vez que<br />

elas vêm nos mostrar que ambas as terapêuticas se utilizam da<br />

Energia Vital para se chegar à cura, e que esta aparente<br />

incompatibilidade entre ambas pode ser o elo que no futuro<br />

explicará os meios pelos quais age, tanto uma como outra, no<br />

organismo.<br />

Neste sentido, propus que se criasse, na<br />

Associação Paulista de Homeopatia, um ambulatório<br />

experimental, onde se estudasse melhor o assunto, porque<br />

81<br />

81


somente aqueles que conhecem as duas técnicas é que poderão<br />

dar uma explicação plausível, diminuindo e esclarecendo tais<br />

dúvidas.<br />

Não pairam dúvidas sobre a eficácia da<br />

Acupuntura, comprovada de uma maneira irrefutável através das<br />

cirurgias de grande porte, como cirurgia toráxica, onde o paciente<br />

permanece acordado, sendo anestesiado “somente” por algumas<br />

“agulhinhas” especialmente colocadas na pele do indivíduo, que,<br />

também, agem favoravelmente nas mais diversas enfermidades.<br />

Só através do estudo e da observação é que<br />

podemos esclarecer estes dois pontos, aparentemente<br />

conflitantes. Plagiando Shakespeare, “Há mais mistérios entre o<br />

céu e a terra do que sonha a vossa vã filosofia”, e segundo Albert<br />

Einstein, “A coisa mais bela que podemos experimentar é o<br />

mistério. Ele é a raiz de toda Ciência e arte”.<br />

XXXIV<br />

MIASMAS<br />

Miasma, termo grego, no sentido estrito da<br />

palavra quer dizer emanações dos pântanos, e colocada pelos<br />

médicos antigos como causa de doenças. Entretanto, Hahnemann<br />

a usou como um land mark (pedra fundamental), para melhor<br />

entendimento da sua doutrina e das doenças.<br />

O termo miasma tem gerado tanta polêmica, que<br />

alguns homeopatas preferem designá-la por Diásteses, ou<br />

predisposições mórbidas que algumas pessoas possuem, ou seja,<br />

uma “brecha” no organismo, logicamente determinado por fatores<br />

genéticos e hereditários.<br />

Outros autores contestam esta definição, porque<br />

Hahnemann, muito antes de Pasteur e Koch, já suspeitava da<br />

existência de microorganismos transmissíveis como determinante<br />

da teoria miasmática, como fica claramente exposto no artigo 78<br />

do Organon: “As verdadeiras enfermidades cr6onicas naturais,<br />

82<br />

82


são as que se originam de uma matéria infecciosa de ação<br />

crônica ( miasma crônico)”, e no artigo 81: “O fato de que este<br />

agente infectante muito antigo haja passado gradualmente<br />

através de muitos milhões de organismos humanos em centenas<br />

de gerações, alcançando, assim, virulência incrível”.<br />

Deixemos de lado esta questão de semântica,<br />

que não invalida as observações de Hahnemann, muito pelo<br />

contrário, porque mesmo hoje, à luz de tantos recursos modernos,<br />

o que interessa, ou seja, a essência de sua observação, não<br />

mudou em nada, assim como só ia acontecer com as coisas reais<br />

e verdadeiras.<br />

O que faz Hahnemann pensar na possibilidade<br />

de existência de miasmas foi o fato de perceber que determinados<br />

pacientes, a despeito de estarem submetidos ao tratamento<br />

homeopático, não logravam a cura total, tendo sintomas que<br />

desapareciam e depois retornavam, ou então somente se<br />

atenuavam.<br />

Hahnemann, depois de muito estudar, pensar e<br />

repensar, chegou à conclusão de que existiam algumas condições<br />

que bloqueavam ou então impediam a cura total do paciente.<br />

A estes obstáculos à cura ele designou de<br />

miasmas. No seu entender existem somente três miasmas: a<br />

Psora, a Sycose e a Syphilis.<br />

A psora é considerada a primeira doença crônica<br />

(não–venérea). A base ou o ponto de partida dos demais<br />

miasmas.<br />

A sua manifestação em nível psíquico é a<br />

“angustia existencial”, e a física são as lesões de pele,<br />

principalmente, segundo Hahnemann, a sarna ou congêneres tipo<br />

herpes etc.<br />

As erupções de pele, como sabemos, são uma<br />

via de drenagem das toxinas endógenas, são a manifestação da<br />

psora interna.<br />

83<br />

83


O que fez a humanidade ao longo do seu<br />

desenvolvimento?<br />

Como as lesões de pele causam repugnânica,<br />

sempre se tentou suprimi-las impedindo a sua manifestação,<br />

decorrendo daí doenças internas mais profundas, como o câncer<br />

etc.<br />

O segundo miasma é a sycose, que literalmente<br />

significa doença do cancro venéreo ou doença da verruga do figo,<br />

que psiquicamente se caracteriza por uma hipertrofia do Eu e,<br />

fisicamente, por hipertrofia do sistema retículo endotelial,<br />

verrugas, tumores etc. A sua manifestação clássica é a gonorréia<br />

e o condiloma acuminado.<br />

A meu ver, a maior prova de existência de uma<br />

predisposição mórbida par se adquirir gonorréia é o fato de vários<br />

homens terem relações sexuais com uma mesma prostituta, ou<br />

então com uma mulher portadora de gonorréia, e somente alguns<br />

poucos contraírem a moléstia, provando que ninguém “fica doente<br />

do que quer e sim do que pode”, isto é, existe um terreno orgânico<br />

ou um estado próprio para se contagiar.<br />

A syphilis é o terceiro miasma. Alguns autores<br />

preferem o termo sifilinismo à designação syphilis.<br />

Se na sycose ocorre hipertrofia do Eu, no<br />

sifilismo o organismo passa à autodestruição, tanto no aspecto<br />

físico, através de ulcerações etc., como no plano psíquico, com<br />

pensamentos suicidas etc.<br />

Recentemente saiu publicado na revista<br />

Superinteressante que alguns cientistas acham que alguns casos<br />

de AIDS com HIV não – reagente se deve a uma espécie de sífilis<br />

não–detectada em laboratório. Hahnemann, há aproximadamente<br />

200 anos, já falava no estado sifilínico.<br />

Existem, no entender de alguns eminentes<br />

homeopatas, outros miasmas, como o tuberculismo e o<br />

cancerinismo. Porém, segundo Hahnemann, “a psora é a mais<br />

84<br />

84


antiga, mais universal, mais destrutiva e, não obstante, a mais<br />

irreconhecida das doenças miasmáticas crônicas que há milhares<br />

de anos vêm desfigurando e torturando a humanidade e que,<br />

durante os últimos séculos, tem-se tornado a mãe de todas as<br />

milhares de doenças incrivelmente variadas, agudas e crônicas<br />

(não–venéreas), pelas quais é a mais afetada a totalidade da raça<br />

humana civilizada, na parte do globo”.<br />

A cura das doenças miasmáticas deve ocorrer a<br />

partir do medicamento simillimum, mesmo porque a maioria dos<br />

policrestos (grandes medicamentos homeopáticos) cobre ou age<br />

contra os três miasmas, ou através de um nosódico, quando o<br />

caso indicar.<br />

Após esta breve abordagem, para melhor<br />

entendimento e compreensão do que seja miasma,<br />

transcrevemos os conceitos de Gatak: “Miasmas são condições<br />

do ‘Sistema’ que geram predisposição a determinados tipos de<br />

enfermidade.”<br />

estruturadas:<br />

Já Ortega considera os miasmas em formas<br />

“ – Psora, cujo erro se baseia no defeito;<br />

- Sycose, cujo erro se baseia no excesso;<br />

- Syphilis, cujo erro se baseia no errado”.<br />

A observação que fizemos sobre os miasmas foi<br />

o mais sucinta possível, porém, para um entendimento mais<br />

profundo, seriam necessários não somente um pequeno capítulo,<br />

mas vários livros com as mais diversas opiniões, para que o leitor<br />

se inteirasse de uma forma mais global sobre o assunto.<br />

Entretanto, expresso a minha opinião pessoal<br />

através de um trabalho aceito para apresentação e publicação<br />

nos Anais do 54º Congresso Médico Panamericano de<br />

Homeopatia, no ano de 1993.<br />

85<br />

85


ABORDAGEM DO PROBLEMA<br />

PSORA<br />

Somente a genialidade de um Hahnemann<br />

poderia perceber a causa primeira, básica, primária, inicial de<br />

todas as enfermidades que assolam a humanidade desde as mais<br />

remotas eras, a psora.<br />

Todas as moléstias existentes partem dela e<br />

para ela devem retornar, de uma forma ou de outra, para se<br />

efetuar a verdadeira cura ou, pelo menos, equilibra-la ou torná-la<br />

latente.<br />

Hahnemann comparou a psora à Sarna, antevendo, muito<br />

tempo antes de Pasteur, que existia “ algo” que se transmitia de<br />

uma forma infecciosa, através dos seres humanos, ao longo da<br />

História da Humanidade.<br />

Hahnemann considera a psora como sendo um<br />

miasma, palavra grega, que no sentido estrito da palavra quer<br />

dizer emanações dos pântanos, e colocada pelos médicos antigos<br />

como causa de doenças.<br />

Entretanto Hahnemann a usou como um land<br />

mark (pedra fundamental), para melhor entendimento da sua<br />

doutrina e das doenças.<br />

O termo miasma sempre gerou e continua<br />

promovendo muitas controvérsias até mesmo junto aos<br />

homeopatas.<br />

Alguns preferem designar o termo miasma por<br />

Diátese ou predisposição mórbida que as pessoas possuem, ou<br />

seja, uma “ brecha” no organismo, logicamente determinada por<br />

fatores genéticos e hereditários.<br />

Outros autores contestam esta definição, porque<br />

Hahnemann, muito antes de Pasteur e Koch, já suspeitava da<br />

86<br />

86


existência de microorganismos transmissíveis, como<br />

determinantes da teoria miasmática, como fica claramente<br />

exposto no parágrafo 78 do Organon da Arte de Curar: “ As<br />

verdadeiras enfermidades crônicas naturais são as que se<br />

originam de uma matéria infecciosa de ação crônica (miasma<br />

crônico)...” , e no parágrafo 81:” O fato de que este agente<br />

infectante muito antigo haja passado gradualmente através de<br />

muitos milhões de organismos humanos em centenas de<br />

gerações, alcançando assim virulência incrível” .<br />

Deixando de lado estas questões de semântica,<br />

que nada invalidam as observações de Hahnemann, muito pelo<br />

contrário, porque mesmo à luz de tantos recursos modernos o que<br />

interessa, ou seja, a essência de suas observações, não mudou<br />

em nada, assim como só ia acontecer com as coisas reais e<br />

verdadeiras.<br />

O que fez Hahnemann pensar na possibilidade<br />

da existência de miasmas foi o fato dele perceber que<br />

determinados pacientes, a despeito de estarem submentidos a<br />

tratamento homeopático, não logravam a cura total, tendo<br />

sintomas que desapareciam e depois retornavam ou, então,<br />

somente se atenuavam.<br />

Hahnemann, depois de muito estudar, pensar e<br />

repensar, chegou à conclusão que existiam algumas condições<br />

que bloqueavam ou então impediam a cura total do paciente.<br />

A este obstáculos à cura ele designou de<br />

miasmas. No seu entender existem somente três miasmas: a<br />

psora, a sycose e a syphilis.<br />

Segundo Hahnemann, “a Psora é a mais antiga,<br />

mais universal, mais conhecida das doenças miasmáticas<br />

crônicas, que há milhares de anos vêm desfigurando e torturando<br />

a humanidade e que, durante os últimos séculos, tem-se tornado<br />

a mãe de todas milhares de doenças incrivelmente variadas,<br />

agudas e crônicas (não–venéreas), pelas quais é a mais afetada a<br />

totalidade da raça humana civilizada, na parte habitada do globo.<br />

87<br />

87


Para Walter Edgard Maffei a alergia é o<br />

fundamento de toda a Medicina, conforme o texto abaixo<br />

discriminado:<br />

“ Os mecanismos defensivos os humorais do organismo”<br />

Conforme aprendemos, a moléstia é o conjunto<br />

das alterações funcionais e orgânicas, de caráter evolutivo, que<br />

se manifestam em um indivíduo atingido por um agente exterior,<br />

contra o qual o seu organismo reage. Esse conceito indica:<br />

1. que todo indivíduo é dotado geneticamente de mecanismos<br />

defensivos contra a ação dos diversos agentes que se<br />

encontram no ambiente no qual ele vive e;<br />

2. que todos os sintomas por ele apresentados em<br />

conseqüência da ação desses agentes representam<br />

exteriorização desses mecanismos defensivos. Portanto,<br />

qualquer sintoma ou conjunto de sintomas que<br />

caracterizam as doenças não constituem um mecanismo<br />

novo aparecido no indivíduo, mas apenas a exaltação ou<br />

inibição daqueles já nele existentes, em um determinado<br />

momento da sua vida, pela ação conjugada dos diversos<br />

momentos patogênicos.<br />

Esses mecanismos defensivos são de natureza<br />

celular e humoral, este último realizado pela ação dos anticorpos<br />

existentes no plasma sanguíneo, constituídos pela fração gama<br />

das globinas, e a sua formação é provocada por qualquer proteína<br />

estranha que penetre no nosso organismo ou nele seja formada;<br />

as substâncias capazes de determinar a formação de anticorpos<br />

são denominadas antígenos.<br />

Os anticorpos são produzidos pelo sistema<br />

retículo endotelial – S.R.E. – particularmente do baço e gânglios<br />

linfáticos, pelas células linfocitóides ou microistiócitos, histiócitos e<br />

plasmócitos; a basofilia do citoplasma dessas células é<br />

determinada pelo teor em gamaglobulinas.<br />

Os anticorpos unem-se ao antígeno<br />

neutralizando-o ou mesmo destruindo-o, mas os resultados são<br />

88<br />

88


variáveis, conforme o caso: se o antígeno for uma toxina, o<br />

anticorpo neutraliza o grupo ativo desta e, por isso, esse anticorpo<br />

recebe o nome de antitoxina; se o antígeno for bactéria ou célula,<br />

o anticorpo pode determinar a aglutinação desses corpúsculos em<br />

blocos e, então, esse anticorpo é chamado aglutina (do latim,<br />

glutem = cola); se o antígeno for molécula protéica e, portanto, de<br />

tamanho menor, o anticorpo determina a sua precipitação , sendo<br />

assim denominada precipitina. O soro humano possui<br />

normalmente aglutinas que não se formam pela ação de proteínas<br />

estranhas, mas atuam contra os glóbulos vermelhos de outros<br />

grupos sanguíneos. Além disso, em certos casos há até<br />

anticorpos contra os próprios glóbulos vermelhos do indivíduo,<br />

mas que atuam somente em baixas temperaturas, constituindo as<br />

crioglobinas ou crioaglutinas. Até substâncias do próprio<br />

organismo podem funcionar como antígenos , desde que<br />

apresentem alguma modificação bioquímica, de modo a funcionar<br />

como substâncias estranhas, resultando a formação de autoanticorpos.<br />

É por meio da formação e ação dos anticorpos<br />

que se realizam os fenômenos de imunidade adquirida ativa ou<br />

passiva, respectivamente, em conseqüência da aquisição da<br />

infecção em sua forma clínica ou mesmo subclínica, ou então,<br />

pela administração de vacinas e soros.<br />

A formação dos anticorpos é uma propriedade<br />

inerente ao genótipo, dependendo da homeostásia e, por isso, é<br />

variável de um indivíduo a outro e também com a idade e o<br />

estado de nutrição. Assim, por exemplo, nos casos de hipo ou<br />

mesmo agamaglobulinemia, que são de natureza constitucional, o<br />

indivíduo não tem defesa contra as bactérias, de modo que<br />

qualquer um toma conta facilmente do organismo levando-o à<br />

morte em pouco tempo.<br />

Por conseguinte, a imunidade adquirida ativa ou<br />

passiva representa o mecanismo defensivo fundamental do<br />

organismo contra os agentes mórbidos, realizado por meio de<br />

anticorpos; compreende-se assim que uma das principais funções<br />

do exsudado na inflamação é levar ao foco os anticorpos.<br />

89<br />

89


Não obstante, geralmente os anticorpos não<br />

conseguem realizar a imunidade, mas da ação entre os antígenos<br />

penetrados no organismo e os anticorpos por ele produzidos ou<br />

nele existentes resultam manifestações variáveis de um caso a<br />

outro indicando modificação ou alteração da reação do<br />

organismo; é esta reação modificada ou alterada que constitui a<br />

Alergia (allos + ergon = força, energia). Trata-se de um conceito<br />

introduzido na Patologia em 1905 pelo pediatra de Viena,<br />

Clemens Von Pirquet (1874;1929), resultante da observação dos<br />

doentes tratados com os soros específicos para certas moléstias<br />

infecciosas, os quais apresentavam um quadro clínico variável de<br />

um caso a outro, mas freqüentemente representado pela<br />

urticária*, que é uma erupção cutânea sob a forma de áreas ou<br />

mesmo placas avermelhadas ou, então, pontos da mesma cor<br />

disseminados pela pelo do corpo, acompanhadas de prurido mais<br />

ou menos intenso; então, Von Pirquet explicou esses fenômenos<br />

estabelecendo que a ação do soro específico determinava a<br />

alteração da reação do organismo e daí a denominação de alergia<br />

dada a esse modo de reagir do organismo. Ora, como qualquer<br />

moléstia ou um simples sintoma representa uma reação alterada<br />

do organismo, segue-se que a alergia representa toda a Medicina,<br />

o que aliás, foi também estabelecido pelo próprio Von Pirquet.<br />

Entretanto, como sói acontecer em qualquer ramo da Biologia e,<br />

particularmente, da Medicina, reação alterada do organismo em<br />

face das mais variadas substâncias já havia sido observada muito<br />

antes, atribuindo-se ao famoso poeta e filósofo romano Títus<br />

Lucretus Carus, conhecido simplesmente por Lucrécio, no século I<br />

antes de Cristo, o provérbio: ‘ a carne que alimenta o homem,<br />

pode envenenar um outro’ . Os médicos da Idade Média citavam<br />

casos de indivíduos que apresentavam crises de espirro ou<br />

mesmo asma em presença de pólen de flores, ou de certas<br />

plantas. Não obstante, foi Von Pirquet que chamou a atenção do<br />

mundo médico para essa reação modificada do organismo, não<br />

só por tê-la batizado, como também por tê-la explicado, conforme<br />

se verá adiante.<br />

O advento da Bacteriologia determinou a<br />

intensificação das pesquisas experimentais em animais a fim de<br />

se demonstrar a patogenicidade dos micróbios e estudar as<br />

manifestações e evolução das moléstias, resultando três<br />

90<br />

90


exemplos que até constituem as pedras fundamentais da<br />

Patologia e da Medicina:<br />

____________<br />

*derivado do latim urtica, em português urtiga, nome dado a um<br />

gênero de plantas, cujas folhas são pilosas e produzem uma<br />

substância cáustica, de modo que em contato com a pele<br />

determina áreas de eritema ou pontos avermelhados e até<br />

formação de bolhas com sensação de queimaduras ou coceira.<br />

- O primeiro, na ordem cronológica, deve-se a<br />

Robert Koch, que descobriu o bacilo da<br />

tuberculose. Em 1981 ele demonstrou que<br />

inoculando-se bacilos da tuberculose em uma<br />

cobaia sã, após um prazo de 20 a 30 dias<br />

verifica-se uma lesão nodular, a qual amolece<br />

e depois se ulcera, acompanhada de igual<br />

comprometimento do gânglio satélite, assim<br />

permanecendo até a morte do animal pela<br />

generalização da moléstia. Se, então, nesta<br />

mesma cobaia injetarmos uma nova dose do<br />

mesmo bacilo, verificar-se-á, 24 horas após,<br />

um processo inflamatório violento, constituído<br />

por intensa congestão ocal, que se apresenta<br />

como um nódulo de cor vermelho-violácea,<br />

necrosando-se rapidamente, cujo material<br />

necrótico é eliminado para o exterior,<br />

resultando uma escara cianótica, mas sem<br />

repercussão ganglionar; esta escara cicatrizase<br />

completamente, enquanto a tuberculose<br />

produzida pela primeira inoculação continua a<br />

sua evolução. Este fato, conhecido em<br />

Patologia Geral pelo nome de fenômeno de<br />

Koch, mostra que a cobaia já tuberculizada,<br />

submetida a uma nova inoculação do mesmo<br />

bacilo, reage de modo completamente<br />

diferente da cobaia sã que recebeu uma<br />

única dose desse bacilo.<br />

91<br />

91


- O segundo exemplo nos foi revelado pelo<br />

fisiologista francês Charles Richet<br />

(1850/1935), o qual , em 1902, procurando<br />

estudar as propriedades farmacodinâmicas<br />

dos tentáculos das actínias, que é um gênero<br />

de polipos marinhos, preparou um macerado<br />

desses tentáculos em glicerina e injetou 0,1<br />

ml em um cão, verificando que o animal<br />

continuava a viver normalmente e, portanto,<br />

essa substância não era tóxica para ele; 22<br />

dias após, como esse animal estivesse<br />

perfeitamente bem, injetou-lhe novamente 0,1<br />

ml do mesmo macerado; alguns segundos<br />

após esta Segunda injeção, o cão apresentou<br />

graves manifestações: a respiração tornou-se<br />

ofegante, a marcha difícil, arrastando as<br />

pernas, caindo de lado, emitiu fezes<br />

diarréicas e vomitou sangue, e , perdendo a<br />

sua sensibilidade, morreu 25 minutos após<br />

essa Segunda injeção. A autópsia do cão<br />

revelou intensa congestão do fígado,<br />

sufusões hemorrágicas em toda a mucosa<br />

gástrica e colapso dos pulmões. Richet,<br />

então, interpretou esse fenômeno, dizendo<br />

que a Segunda dose, em vez de agir<br />

profilaticamente, determinava, pelo contrário,<br />

uma falta de defesa no cão e, por isso, deu<br />

ao fenômeno o nome de anafilaxia<br />

(ana=contra + phylaxis=defesa), isto é, sem<br />

defesa.<br />

- O terceiro exemplo deve-se ao fisiologista<br />

francês Maurice Arthus (1862/1945), o qual,<br />

em 1903, realizou experiências com o soro de<br />

cavalo, injetando-o no coelho, o qual nada<br />

apresentou de anormal, e portanto, esse soro<br />

não é tóxico para o animal; passados 20 dias,<br />

porém, repetiu a injeção no mesmo animal,<br />

observando, então, que 24 horas depois<br />

desenvolveu-se no local da injeção um<br />

92<br />

92


processo inflamatório violento, com intensa<br />

congestão, edema e, passadas 48 horas,<br />

necrose a qual, dois dias depois, é eliminada,<br />

resultando uma escara. Este fato ficou<br />

conhecido em Patologia Geral pelo nome de<br />

fenômeno de Arthus.<br />

Esses três fenômenos – de Koch, a Anafilaxia e<br />

o de Arthus – demonstram de modo evidente e esquemático a<br />

reação alterada do organismo em resposta à penetração de nova<br />

dose de antígeno e, por isso, representam as pedras<br />

fundamentais da Patologia Geral e a base da interpretação e<br />

explicação dos quadros clínicos e anatomopatológicos da<br />

Medicina em geral.<br />

Conhecida a alergia, tratou-se de explicá-la e a<br />

sua interpretação foi dada pelo próprio Von Pirquet, do seguinte<br />

modo: quando penetra um antígeno no organismo, este reage<br />

formando os anticorpos; se depois de penetrar uma nove dose<br />

desse antígeno, dá-se o choque deste antígeno com aqueles<br />

anticorpos, resultando os fenômenos mórbidos. Por isso, a<br />

primeira dose do antígeno é chamada sensibilizante e a Segunda<br />

é a desencadeante.<br />

Por conseguinte, alergia é a reação alterada do<br />

organismo, provocada pelo choque ontígeno x anticorpo.<br />

Ora, a anafilaxia é também explicada pelo<br />

choque antígeno x anticorpo, o mesmo acontecendo com a<br />

imunidade adquirida; temos então, três conceitos cuja base<br />

fisiológica é a mesma. Qual a diferença entre eles? Alergia resulta<br />

do choque antígeno x anticorpo que se processa nos tecidos e,<br />

portanto, apresenta um quadro anatomoclínico. A anafilaxia é<br />

semelhante à alergia, pois também resulta do choque antígeno x<br />

anticorpo nos tecidos e, por isso, apresenta um quadro<br />

anatomoclínico, porém, há sempre um órgão específico para cada<br />

espécie animal que responde a esse choque, como, por exemplo,<br />

o útero na cobaia fêmea, os músculos brônquicos no cobaio, os<br />

ramos da artéria pulmonar no coelho, o território da veia porta no<br />

cão, e assim por diante, sendo esse órgão denominado órgão de<br />

93<br />

93


choque . Além disso, a nafilaxia é transmissível passivamente de<br />

um animal a outro, isto é, o sangue dos animais anafilactizados<br />

injetado em animais normais confere a estes a anafilaxia. A<br />

alergia não tem órgão específico para a sua ação, nem tampouco<br />

é transmissível passivamente.<br />

Finalmente, a imunidade consiste no choque<br />

antígeno x anticorpo que se processa nos humores,<br />

permanecendo os tecidos alheios ao fenômeno e, por isso, não<br />

temos conhecimento das suas manifestações devido à ausência<br />

de sintomas e processo anatomopatológico. Por conseguinte,<br />

alergia e imunidade são dois fenômenos opostos: quando a<br />

alergia predomina a imunidade à alergia é baixa.<br />

Esquematicamente, podemos representar esses estados opostos<br />

por uma gangorra, na qual um dos extremos é a alergia (A) e o<br />

outro é a imunidade (I) ; o estado de saúde aparente em que<br />

vivemos é constituído pelo equilíbrio entre a alergia e a<br />

imunidade; este equilíbrio, porém, é instável, rompendo-se<br />

sempre na direção da alergia. Um exemplo desses aspectos, que<br />

pode ser observado por qualquer pessoa, nos é dado pela<br />

vacinação antivariólica; nos primeiros dias que se seguem à sua<br />

aplicação forma-se uma área avermelhada devido à congestão,<br />

de forma circular, com 1 cm de diâmetro mais ou menos, que<br />

aumenta progressivamente e ao mesmo tempo acentua-se a sua<br />

cor vermelha, tornando-se ainda tumefeita e dolorosa, isto é, com<br />

os caracteres de um processo inflamatório agudo, no décimo dia<br />

mais ou menos, forma-se um foco purulento no centro, que vai<br />

aumentando até constituir-se uma pústula no 15º dia. Neste<br />

momento a alergia está no auge e só a partir deste momento é<br />

que começa a imunidade, caracterizada pela regressão<br />

progressiva desse processo inflamatório com a atenuação da dor,<br />

da congestão e da tumefação, formação da crosta que depois é<br />

eliminada, formando-se a cicatriz; neste momento atingiu-se o<br />

máximo da imunidade e o fim da alergia. Reportando-nos aos<br />

esquemas da fig 1 (página 122), na evolução da vacina<br />

anticariólica assistimos à inversão da gangorra de uma posição<br />

extrema a outra. A partir de então o indivíduo poderá ser infectado<br />

pela varíola, mas não tem conhecimento disso, porque o vírus<br />

dessa moléstia é neutralizado nos seus humores, sem qualquer<br />

manifestação clínica ou subjetiva. Por isso, a imunidade adquirida<br />

94<br />

94


esulta da alergia, constituindo, portanto, uma redundância falarse<br />

em imunidade alérgica, como se encontra em certos tratados.<br />

Sendo a alergia reação alterada do organismo,<br />

precisamos saber, antes de tudo, em que consiste essa alteração;<br />

analisando-se os três fenômenos fundamentais, de Koch, de<br />

Arthus e a anafilaxia, verificamos que essa alteração é na<br />

intensidade, no tempo e na quantidade. Assim, enquanto a<br />

introdução da primeira dose do soro de cavalo, na experiência de<br />

Arthus e na anafilaxia, não determina qualquer alteração, na<br />

Segunda dose as manifestações são de extraordinária<br />

intensidade e gravidade; o tempo é também consideravelmente<br />

reduzido nos três primeiros exemplos: na experiência de Koch, a<br />

primeira dose leva 20 a 30 dias para produzir lesões, enquanto na<br />

Segunda dose as manifestações se apresentam 24 horas após.<br />

Finalmente, se o indivíduo já foi sensibilizado, qualquer<br />

quantidade de antígeno novamente introduzido, produzirá o<br />

fenômeno.<br />

Nos exemplos citados a reação do organismo é<br />

violenta, isto é, alterada para mais; em outros casos, porém, essa<br />

reação pode ser atenuada, ou seja, alterada para menos: no<br />

primeiro caso fala-se em hiperergia, e no segundo, hipoergia,<br />

podendo ser tão atenuada que se torna nula, constituindo, então,<br />

a anergia.<br />

A hiperergia é uma reação intensa, violenta,<br />

indicando a luta máxima dos anticorpos contra o antígeno, com o<br />

fim de destruí-lo e localizá-lo em determinado território; nos<br />

exemplos dados anteriormente destacam-se os fenômenos de<br />

Koch e de Arthus.<br />

A hipoergia é uma reação mais atenuada, não só<br />

nas suas manifestações clínicas, como também<br />

anatomopatológicas, como é, por exemplo, uma inflamação<br />

crônica banal.<br />

Finalmente, a anergia é a falta de reação do<br />

organismo, isto é, a falta de produção de anticorpos, podendo ser<br />

positiva ou negativa. Fala-se em anergia positiva quando se trata<br />

95<br />

95


de melhora ou cura da moléstia, de fato, sendo a alergia = choque<br />

antígeno x anticorpo, toda vez que um dos fatores se tornar igual<br />

a zero, o produto também será igual a zero. Ora, o antígeno, está<br />

sempre presente e, portanto, é o anticorpo que não mais existe,<br />

isto é, torna-se igual a zero; este fato pode acontecer em duas<br />

eventualidades opostas:<br />

1. quando o organismo vence o antígeno, e<br />

2. quando se esgotam as forças defensivas<br />

do organismo.<br />

Com efeito, se o organismo vencer o antígeno,<br />

cessa a ação dos anticorpos no tecido e, portanto, cai a alergia e<br />

sobe a imunidade, conforme o esquema da gangorra; como<br />

exemplo desta eventualidade pode-se citar a pneumonia lobar:<br />

esta é uma moléstia infecciosa que se manifesta geralmente com<br />

febre elevada, pontada no tórax, esta geral grave do indivíduo e,<br />

anatomopatologicamente, é uma inflamação fribrinosa que se<br />

desenvolve no interior dos alvéolos pulmonares e, por isso, o lobo<br />

atingido apresenta macicez semelhante àquela do fígado quando<br />

realizamos a percussão do tórax e, por isso, é denominada<br />

hepatização. Esse quadro clínico anatomopatológico representa<br />

uma reação hiperérgica. No sétimo dia, a febre cai em crise e o<br />

estado geral do doente melhora, mas se o examinarmos<br />

verificaremos a mesma macicez do lobo pulmonar que havia no<br />

dia anterior e o exame do escarro revela ainda enorme<br />

quantidade de pneumococos, como na véspera, quando o<br />

indivíduo estava mal. O que passou então? Da luta entre o<br />

anticorpo e o antígeno resultou a neutralização de pneumococo<br />

que, por isso, tornou-se inócuo e, então, o organismo não<br />

necessita mais dos anticorpos nesse órgão, caindo a alergia, isto<br />

é, o organismo entra em anergia, que é positiva porque indica a<br />

cura do doente, subindo então a imunidade.<br />

Pelo contrário, um tuberculoso crônico cuja<br />

moléstia consumiu-lhe as forças de defesa e o desenlace fatal<br />

está próximo, se então fizermos a prova da tuberculina, esta dará<br />

resultado negativo, porque o organismo já não produz mais<br />

anticorpos por ter esgotado a sua capacidade de reagir e,<br />

portanto, de se defender; não há mais alergia nem imunidade, o<br />

96<br />

96


que caracteriza a anergia negativa, índice de piora e morte. No<br />

esquema da gangorra, esta eventualidade é representada pela<br />

ruptura da haste, esquematizando a queda da alergia e da<br />

imunidade (Fig. 2, página 122). Em outras palavras, anergia é a<br />

parada de produção dos anticorpos.<br />

Por conseguinte, o estado anérgico do<br />

organismo se caracteriza pela ausência de sintomas; todo<br />

indivíduo com alguma moléstia, quando tende para a cura,<br />

apresenta uma fase de piora clínica, e isto indica o máximo da<br />

alergia, à qual se segue a fase de imunidade representada pela<br />

convalescença e cura; pelo contrário, quando o doente tende para<br />

a morte há uma fase de melhora rápida, na qual desaparecem os<br />

sintomas que o molestavam, para logo entrar em agonia. Essa<br />

rápida fase de melhora indica a anergia negativa e, por isso, os<br />

sintomas desaparecem mais ou menos bruscamente; essa fase,<br />

porém, é de curta duração, seguindo-se logo a morte. O povo com<br />

seu peculiar espírito de observação denomina pitorescamente<br />

essa fase “despedida da saúde”, que pode ser considerada<br />

expressão popular da anergia negativa. O estado de saúde<br />

aparente em que vivemos é determinado pela anergia positiva e,<br />

por isso, não há manifestações clínicas, isto é, representa um<br />

equilíbrio entre a imunidade e a alergia; este equilíbrio, porém, é<br />

instável, rompendo-se sempre na direção da alergia. Por<br />

conseguinte, os sintomas de qualquer doença ou moléstia só<br />

aparecem quando se manifesta a alergia.<br />

Desde o momento em que penetra um antígeno<br />

no nosso organismo até a manifestação da moléstia decorre<br />

sempre um prazo de tempo variável de um caso a outro, que<br />

constitui o período de incubação; este fato é evidente na<br />

reprodução experimental de uma moléstia, como é o caso da<br />

introdução do bacilo de Koch no organismo da cobaia, na qual a<br />

moléstia se manifesta após um mês ou menos. Esse período de<br />

incubação corresponde à fase de reação do S.R.E. na produção<br />

dos anticorpos e, portanto, na manifestação da alergia. No<br />

homem o período de incubação nem sempre pode ser<br />

estabelecido, sendo bem conhecido para certas moléstias, como,<br />

por exemplo, a raiva, na qual esse período é de um mês no<br />

mínimo, mas pode-se estender até um ano.<br />

97<br />

97


Os fenômenos de reação alterada do organismo<br />

que apresentamos resultam de estudos experimentais em animais<br />

e, por isso, são esquemáticos; quando, porém, verificamos o que<br />

se passa na espécie humana, verificamos manifestações bem<br />

diferentes. Esta discrepância resulta, em primeiro lugar, da<br />

biologia totalmente diversa dos animais e do homem; em segundo<br />

lugar, porque geralmente os animais são virgens de infecções e<br />

intoxicações durante quase toda a vida e, quando a adquirem,<br />

morrem em prazo mais ou menos curto ou, então, cada espécie é<br />

refratária a determinados antígenos. Por exemplo, a cobaia tem<br />

grande receptividade para o bacilo da tuberculose humana, de tal<br />

modo que quando se trata de saber se um material qualquer<br />

retirado de um processo patológico do nosso organismo é de<br />

natureza tuberculosa, inocula-se nesse animal; no caso positivo, a<br />

cobaia no fim de um mês morre com o processo generalizado.<br />

Nunca porém, verifica-se nesse anima a tuberculose com os<br />

diversos aspectos dessa infecção no homem. Por outro lado, o<br />

coelho dificilmente adquire a tuberculose humana. Estes fatos,<br />

nos mostram que a cobaia é sensível ao bacilo de Koch humano,<br />

enquanto o coelho é refratário ao mesmo. Desse modo, podemos<br />

preparar um animal com a dose sensibilizante do antígeno e após<br />

algum tempo aplicar-lhe a dose desencadeante, resultando o<br />

fenômeno de Koch, já descrito.<br />

No homem, porém, é perfeitamente impossível<br />

na maioria dos casos conhecermos a dose sensibilizante, mas ele<br />

é sensibilizado já na vida intra-uterina e no momento do<br />

nascimento pelo líquido amniótico que é aspirado para os<br />

brônquios e tubo digestivo e, posteriormente, todas as infecções<br />

próprias da infância, desde as banais infecções da garganta até<br />

as moléstias eruptivas e outras, assim como as vacinas<br />

antivaríola, contra a coqueluche etc. Todas essas infecções<br />

determinam a formação de anticorpos que permanecem no<br />

organismo, portanto, o homem é geralmente sensibilizado<br />

inespecificamente. Durante a vida, então, um choque com os<br />

anticorpos de outras origens, nele existentes, dá lugar a<br />

manifestações mais ou menos graves conforme o caso ou, então,<br />

faz desaparecer as manifestações presentes. Essa asserção pode<br />

ser ilustrada pelo seguinte exemplo: suponhamos um indivíduo<br />

98<br />

98


que ainda não adquiriu a primo-infecção tuberculosa, atestado<br />

pela negatividade da prova da Mantoux; se, então, esse indivíduo<br />

for vacinado contra a varíola e quando esta estiver no auge<br />

realizarmos aquela prova, verificar-se-á a sua positividade, mas<br />

isto não significa que o indivíduo esteja tuberculizado. Os<br />

anticorpos antivariólicos entrando em choque com o antígeno<br />

tuberculina, determinaram a positividade desta reação.<br />

Trata-se, portanto, de um choque antígeno x<br />

anticorpo inespecífico, que constitui a paralergia. A paralergia é o<br />

mecanismo defensivo mais importante da patologia humana, pois<br />

nesta não existe a alergia propriamente dita. De fato, a alergia<br />

consiste no choque antígeno x anticorpo, porém, específicos,<br />

como se verifica no fenômenos de Koch e de Arthus; no primeiro<br />

a cobaia sensibilizada pelo antígeno bacilo da tuberculose,<br />

produziu os respectivos anticorpos, os quais entraram em choque<br />

com o mesmo antígeno da Segunda dose; no fenômeno de<br />

Arthus, o coelho sensibilizado pelo soro de cavalo, produz<br />

anticorpos soro de cavalo que entram em choque com o mesmo<br />

antígeno da Segunda dose. Como , porém, o homem já foi<br />

sensibilizado pro diversos antígenos que determinaram a<br />

formação dos respectivos anticorpos, os choques antígeno x<br />

anticorpo nele verificados são sempre inespecíficos e, portanto,<br />

fenômenos da paralergia. A paralergia nos faz compreender a<br />

grande variabilidade dos quadros clínicos de cada moléstia de um<br />

indivíduo para outro, bem como a sua evolução; além disso, é<br />

também importante para a interpretação das reações sorológicas<br />

usadas em Medicina, como a reação de Wassermann Widal,<br />

Guerreiro Machado etc., baseadas em antígeno e anticorpo, pois<br />

em certos casos elas são positivas sem, no entanto, tratar-se de<br />

sífilis, ou de febre tifóide, ou moléstia de Chagas respectivamente<br />

e, reciprocamente, outras vezes são negativas e no entanto, o<br />

indivíduo tem a moléstia que se procura documentar com a<br />

reação.<br />

Em certos casos, o organismo especificamente<br />

sensibilizado responde a ulteriores exposições de tipo diferente,<br />

com reações alérgicas específicas, reproduzindo o mesmo quadro<br />

clínico provocado pelo primeiro agente; por exemplo, uma<br />

enfermeira que tenha tido uma dermantite primaveril, pode<br />

99<br />

99


apresentá-la novamente pela ação de um desinfetante, como o<br />

sublimado corrosivo, ou fenol, ou mercúrio - cromo etc. Esse tipo<br />

de reação alterada recebeu o nome de metalergia. Emprega-se<br />

também este termo para indicar as reações alteradas<br />

determinadas pela ação de substâncias químicas introduzidas, ou<br />

aplicadas, ou formadas no próprio organismo, as quais<br />

combinado-se com as proteínas orgânicas formam os haptenos<br />

(haptein = agarrar), também chamados meio – antígenos; estes,<br />

entrando em choque com os anticorpos já existentes, dão lugar<br />

aos mais variados resultados de um caso a outro. As alterações<br />

dos tecidos na gota úrica resultando o tofo, bem como aquelas da<br />

uremia, são de natureza alérgica, tendo-se agora a explicação<br />

desses fenômenos pela formação dos haptenos. Por conseguinte,<br />

as reações alteradas maléficas ou benéficas determinadas pelos<br />

medicamentos, as primeiras designadas em Medicina como<br />

idiossincrasia ou intolerância, são também de natureza alérgica e,<br />

mais propriamente metalérgica.<br />

Qualquer agente de natureza química ou física<br />

capaz de causar uma reação alterada do organismo constitui um<br />

alergênio, enquanto o termo antígeno designa os agentes<br />

microbianos e seus produtos; portanto, a diferença entre alergênio<br />

e antígeno é que o primeiro é inanimado e o outro é um ser vivo<br />

ou um produto dele derivado. Não obstante, reação antígeno x<br />

anticorpo é empregada indistintamente, quer se trate de alergênio<br />

ou de antígeno.<br />

Conforme se acabou de ver, as reações<br />

alteradas do organismo podem decorrer de mecanismos variados,<br />

cada um deles designado por um termo; há ainda a atopia (em<br />

grego significa doença estranha), consistindo em uma<br />

sensibilidade especial do organismo humano, de natureza<br />

hereditária, exteriorizando-se por uma reação cutânea do tipo<br />

papuloso ou outros aspectos clínicos, como a asma e a febre do<br />

feno. Nestes casos, verifica-se a presença de reaginas no sangue<br />

circulante. O conceito de atopia foi estabelecido pelo médico<br />

norte-americano A F Coca em 1931*, entretanto, nada mais é do<br />

que a diátese alérgica, já estabelecida antes desse autor.<br />

_______________<br />

100<br />

100


* Coca, A F.; Walzer, M e Thomsen, A A – Asthma and Hay Fever<br />

in Theory and Practice, Charles C Thomas, Springfield, III, 1931.<br />

Devido a tantos conceitos para indicar reação<br />

alterada do organismo conforme o seu mecanismo, tornou-se<br />

necessária uma sistematização, o que foi realizada pelo<br />

patologista alemão R. Rossie, englobando todos os conceitos de<br />

reação alterada do organismo sob a denominação genérica de<br />

patergia. Entretanto, todos esses termos não conseguiram<br />

popularidade, de modo que na prática médica usa-se o termo<br />

alergia para exprimir os fenômenos de reação alterada do<br />

organismo de qualquer natureza, mesmo porque não há<br />

vantagens na especificação de cada um, a não ser de ordem<br />

acadêmica.<br />

Assim, pois, a reação organismo humano não é<br />

tão esquemática como a dos animais, nestes, os fenômenos de<br />

Koch e de Arthus e a anafilaxia podem ser sempre obtidos com o<br />

mesmo aspecto, enquanto no homem os quadros clínicos e<br />

anatômicos das doenças variam consideravelmente de um caso a<br />

outro, de modo a não se possível traçar-se uma descrição que<br />

sirva para todos os casos, aliás, todos os médicos sabem da<br />

prática diária os erros de diagnóstico que se cometem, sem que<br />

isto os desprestigie, porquanto, por mais competente que seja o<br />

médico, a reação do organismo, da qual depende a sintomatoligia,<br />

é muito variável de um caso a outro. Além disso, é também<br />

variável a ação terapêutica, de modo que em um caso o resultado<br />

é brilhante, em outro caso idêntico pode fracassar e em um<br />

terceiro pode até ser um desastre. Em certos casos, ainda, o<br />

diagnóstico está errado e, portanto, a terapêutica estabelecida é<br />

errada e, no entanto, o resultado é ótimo. Todas essas<br />

discrepâncias são devidas à paralergia e metalergia. Em outras<br />

palavras: a fisiopatologia das doenças, que constitui<br />

sintomatologia clínica, depende exclusivamente do modo do<br />

organismo reagir e não da causa que a determinou, nem<br />

tampouco da lesão anatomopatológica; o mesmo se verifica em<br />

relação à ação dos medicamentos.<br />

Esse modo de reagir do organismo resulta a<br />

interação dos caracteres do genotipo, representados pela sua<br />

101<br />

101


constituição geral e parcial, predisposição ou refratariedade e o<br />

metabolismo os quais, por sua vez, realizam a homeostásia;<br />

esses caracteres representam o terreno biológico, que varia de<br />

um indivíduo, conforme a idade, sexo, o estado de nutrição e a<br />

época do ano. Eis por que no início desta obra dissemos que é o<br />

indivíduo que faz a sua doença, assim como é também o próprio<br />

indivíduo que a cura, ou a torna crônica ou, então, determina a<br />

morte. Em outras palavras: não existe doença benigna, nem<br />

maligna, mas apenas terreno bom e terreno mau.<br />

O que foi dito acima é perfeitamente<br />

demonstrado pela moléstia do soro, isto é, o quadro clínico que se<br />

verifica após a introdução de um soro específico (antitetânico, ou<br />

antidiftérico, ou antidisentérico etc.) no nosso organismo, o qual<br />

pode-se apresentar com os seguintes aspectos, de um indivíduo a<br />

outro: urticária, eritema difuso semelhante à escarlatina ou o<br />

sarampo; eritema multiforme; eritema nodoso; púrpura erupção<br />

semelhante à rubéola; eritema recidivante ou ambulante; febre,<br />

que pode ser de qualquer tipo; adenopatias, com o aspecto de<br />

uma doença hemopoética; edema cutâneo e das serosas;<br />

albuminúria e até anúria, por alteração do rim; poliartrite, com os<br />

caracteres de febre reumática; quadro tetânico; pericardite aguda<br />

serosa, ou fibrinosa, ou mesmo soro-fibrinosa; infarto do<br />

miocárdio; meningite aguda; síndrome de tumor intercraniano,<br />

representado pela cefaléia, vômitos e papila de estase; neurites<br />

óptica, ou facial, ou do trigêmeo etc.; mielite aguda; radiculites;<br />

paralisias periféricas da laringe, ou dos olhos ou da bexiga, ou<br />

dos intestinos etc.; fenômeno de Arthus (muito raro no homem).<br />

Além disso, é muito variável a época da manifestação de qualquer<br />

desses aspectos: às vezes é tardia. Conforme se viu, a mesma<br />

causa – o soro específico – pode determinar os mais variados<br />

quadros clínicos, conforme o indivíduo.<br />

Para compreendermos essa variabilidade dos<br />

aspectos fisiopatológicos da reação do organismo, precisamos<br />

saber que não é o antígeno, nem o anticorpo que constituem o<br />

agente nocivo, mas sim a união de ambos e esta determina um<br />

terceira substância de natureza ainda mal definida, denominada<br />

substância H a qual, agindo sobre o órgão sensível, faz<br />

manifestar a respectiva sintomatologia. Esse mecanismo está<br />

102<br />

102


ilustrado no esquema da fig. 3 (pág. ...) ,q eu embora, muito<br />

simplista, porque é semelhante àquele usado em mecânica para<br />

representar a ação de duas forças aplicadas em um ponto<br />

originando-se uma terceira, que é resultante, nos dá, porém, a<br />

idéia do fenômeno: o antígeno atua, por exemplo, na amígdala; a<br />

reação do organismo determina o choque do anticorpo com o<br />

antígeno nesse nível, atestado pela formação de um<br />

microbscesso, resultando uma terceira substância, que podemos<br />

denominar alergina, pois ainda não conhecemos a sua verdadeira<br />

natureza. É a alergina que agindo no órgão sensível dá lugar à<br />

sintomatologia e, por isso, esta sintomatologia constitui fenômeno<br />

de hipersensibilidade; por conseguinte a hipersensibilidade<br />

consiste nos fenômenos que decorrem da alergia e daí certos<br />

autores, principalmente norte – americanos, confundirem a alergia<br />

coma a hipersensibilidade, o que não corresponde aos fatos,<br />

porque os fenômenos alérgicos nem sempre são exagerados,<br />

podendo ser também atenuados, conforme já foi dito. Então, no<br />

esquema dado, se o órgão sensível for a própria amígdala o<br />

indivíduo apresentará a dor de garganta, isto é, a angina; se for<br />

uma articulação, apresentará uma artrite; se for o rim, resultará a<br />

nefrite, e assim por diante. No exemplo da moléstia do soro é<br />

exatamente isso que acontece, isto é, o soro introduzido por via<br />

subcutânea ou endovenosa, dá lugar a um quadro clínico<br />

qualquer, conforme o órgão sensível do indivíduo. Compreendese,<br />

assim, porque na medicina humana, os quadros clínicos são<br />

tão variados em face da mesma causa, não sendo possível uma<br />

descrição padronizada de cada moléstia, que seja válida para<br />

todos os casos; é que cada indivíduo tem o seu órgão sensível<br />

diferente do outro.<br />

O que é o órgão sensível? Podemos defini-lo<br />

sinteticamente como sendo o órgão que responde ao choque<br />

antígeno x anticorpo, isto é, o órgão que dá o quadro clínico e<br />

anatomopatológico da moléstia. Quando é possível o exame<br />

anamopatológico, verifica-se então que se trata de um órgão<br />

embriologicamente alterado ou retardado na sua evolução, isto é,<br />

uma alteração constitucional parcial, representado pela<br />

persistência da lobulação fetal do rim que, por isso, nele se<br />

instalou a glomerulonefrite difusa aguda em conseqüência de<br />

amigdalite e essa lobulação está indicando um retardamento da<br />

103<br />

103


evolução desse órgão; no coração , nos casos de endocardites,<br />

verifica-se nas válvulas alterações do seu desenvolvimento,<br />

variáveis de um caso a outro em casos de espinha bífida oculta,<br />

freqüentemente a incapacidade dos membros inferiores se<br />

manifesta após uma amigdalite e daí o diagnóstico comum de<br />

paralisia infantil, e assim por diante. Órgão sensível é, pois, o<br />

órgão meioprágico, ou abiotrófico, isto é, o “locus minoris<br />

resistentiae” dos médicos antigos por analogia com o que se<br />

verifica na anafilaxia, , costuma-se falar também em órgão de<br />

choque.<br />

Para compreendermos este aspecto da<br />

Patologia, precisamos saber que o S.R.E. é o depositário do<br />

esquema genético de todas as estruturas que formam qualquer<br />

parte do nosso organismo; se uma delas ficou atrasada ou<br />

alterada no desenvolvimento embrionário o S.R.E. não poderá<br />

reconhecê-lo, produzindo anticorpos contra esse órgão ou contra<br />

parte dele assim alterada e, dessa forma, permanece<br />

sensibilizado. A ação desencadeante será qualquer agente<br />

ambiental, mecânico, físico, químico, biológico ou climático.<br />

Aliás, já na Mitologia grega encontra-se a<br />

concepção do órgão sensível, na conhecida história de Aquiles:<br />

quando este herói de Guerra de Tróia nasceu, a sua mãe, Tétis,<br />

mergulhou-o nas águas da lagoa Estígia, o que o tornou<br />

invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a sua mãe o segurou<br />

e, portanto, esse ponto não foi banhado; mais tarde foi morto por<br />

uma seta lançada por Páris, que o acertou nesse ponto. Como se<br />

vê, trata-se de um simbolismo significando que todo o indivíduo<br />

possui o seu ponto sensível que o levará à morte.<br />

A fisiopatologia da alergia é representada pela<br />

contração do músculo liso, resultante da ação das substâncias H<br />

que, conforme o caso, poderá ser das arteríolas, ou dos<br />

brônquios, ou do útero, ou de um segmento do tubo digestivo, ou<br />

dos ductos excretores das glândulas; qualquer sintoma, dor ou<br />

prurido e alteração da função de um ou mais órgãos decorre da<br />

contração mais ou menos intensa de músculo liso que entra na<br />

estrutura de qualquer parte de um órgão, em conseqüência do<br />

choque antígeno x anticorpo. A febre ou a hipotermia resulta da<br />

104<br />

104


ação da alergina ou substância H no centro hipotalâmico<br />

regulador da temperatura. Essas alterações funcionais variam de<br />

um caso a outro na sua intensidade, podendo ser atenuadas em<br />

um caso e violentas em outro, dependendo de vários fatores,<br />

particularmente do sistema neuroendócrino e especificamente da<br />

hipófise e supra-renal. O grau máximo dessa alteração é<br />

representado pelo shock que, por analogia com a anafilaxia, falase<br />

em schock alérgico.<br />

O nosso organismo apresenta sempre as<br />

condições essenciais para manifestar um shock alérgico, faltando<br />

apenas o fator desencadeante; a título de esquema ilustrativo,<br />

neste particular, podemos comparar o nosso organismo àquela<br />

clássica experiência de química que se coloca em um balão de<br />

vidro oxigênio e hidrogênio nas respectivas proporções: teremos<br />

uma simples mistura desses dois elementos; se, porém, nele<br />

incidir uma faísca elétrica ou se introduzir a esponja de platina<br />

produziremos uma explosão resultando a água. Do mesmo modo,<br />

em nosso organismo temos constantemente os antígenos e os<br />

anticorpos; a centelha elétrica pode ser representada por qualquer<br />

substância alimentar ou medicamentos, bem como agentes vivos,<br />

físicos , químicos, mecânicos e até condições climáticas.<br />

Compreende-se, assim, porque há casos de<br />

indivíduos que apresentam o shock , freqüentemente mortal logo<br />

no início da anestesia por inalação ou por drogas introduzidas por<br />

vias endovenosas, ou intra – raquiana, ou mesmo local,<br />

intradérmica; ou, então, pela introdução de outros medicamentos<br />

por via subcutânea ou intramuscular ou endovenosa. Nesses<br />

casos a autópsia freqüentemente demonstra a presença de<br />

vermes intestinais, particularmente o áscaris, cujo ciclo pulmonar<br />

de suas larvas sensibiliza os pulmões; por isso, em todo caso<br />

cirúrgico, principalmente tratando-se de crianças, deve ser feito<br />

sempre o exame de vezes previamente e, se for positivo, primeiro<br />

tratar dessa parasitose e em seguida dessensibilizar o indivíduo.<br />

105<br />

105


PRESSUPOSTO<br />

Estabelecendo uma correlação entre ambas as<br />

coisas a psora e a alergia, notamos que existe um paralelismo,<br />

uma semelhança entre os dois conceitos.<br />

A psora assim como a alergia é uma força<br />

diferente, uma resposta alterada, modificada do organismo.<br />

A alergia precede a imunidade, como ficou<br />

exposto anteriormente.<br />

A alergia como a psora resultam de uma<br />

malfadada tentativa do organismo, de vencer um agente agressor<br />

qualquer. Sendo, portanto, um mecanismo de homeostásia.<br />

Se houver um bloqueio na manifestação da<br />

alergia, não se atinge a imunidade, cronificando o processo<br />

podendo levar o organismo a um estágio de degeneração.<br />

Se se impedir a manifestação da psora, através<br />

da sarna (erupções na pele etc.), aprofunda-se o processo,<br />

levando o organismo a um estado subseqüente de sycose<br />

(cronicidade) e syphilis (degeneração).<br />

Dentro do modelo teórico exposto, um gráfico<br />

que poderia sintetizar esta hipótese, ficaria da seguinte forma:<br />

Estado agudo (força alterada = alergia)<br />

Supressão = antifebril, analgésico corticóides, vacinas<br />

Crônico = retículo endoteliose proliferativa<br />

psora supressão<br />

106<br />

sycose = crônico<br />

degenerativo = destruição<br />

syphilis = destruição<br />

106


No texto exposto nas páginas 71 e 72 do livro<br />

Doenças Crônicas, tradução da 2ª edição alemã, 1835 – 1ª edição<br />

brasileira, 1984, Hahnemann usa a palavra “mudança” da<br />

totalidade da pessoa “e” somente quando o organismo inteiro se<br />

sentir transformado por esta doença miasmática crônica, peculiar<br />

é que a força vital adoecida tenta adequada manifestação de um<br />

sintoma local sobre a pele.<br />

Comparando com a alergia, que segundo o Prof.<br />

Maffei é uma reação modificada, portanto, mudada ou<br />

transformada do organismo, podemos inferir um grau elevado de<br />

semelhança entre ambas as definições.<br />

Quando texto Maffei cita que quem faz a doença<br />

é o próprio organismo através dos seus mecanismos defensivos,<br />

a psora age ou se manifesta de uma forma diferente?<br />

Basta interpretar o parágrafo supracitado onde<br />

Hahnemann diz que somente após a transformação de todo o<br />

organismo é que a psora se manifesta.<br />

Um fato que poderia se contrapor a hipótese, de<br />

que a psora seja igual a Alergia, seria a eventual<br />

transmissibilidade da psora (psora = sarna).<br />

Entretanto somo da opinião de que “Ninguém<br />

fica doente do que quer e sim do que pode” e baseado no<br />

conceito do locus minoris resistentiae, ou seja, aquele órgão que<br />

durante o desenvolvimento embriológico não atingiu o seu<br />

desenvolvimento pleno, como, por exemplo, uma espinha bífida,<br />

que predispõe o indivíduo a desenvolver prolapso de reto, uretro –<br />

cistocele, a contrair a própria poliomielite, uma vez que existem<br />

alterações concomitantes na mesma região metamérica em nível<br />

de medula espinhal, ou uma válvula cardíaca com defeito, ser<br />

mais sujeita a assestar o striptococus que provoca a febre<br />

reumática ou ainda predispõe um rim lobulado a desenvolver uma<br />

nefrite etc.<br />

107<br />

107


Porém não esqueçamos que o locus minoris<br />

resistentiae se transmite de uma maneira genética, hereditária, de<br />

geração para geração, não indo, portanto, contra a teoria de<br />

transmissibilidade ao longo da evolução humana.<br />

Um outro argumento, que poderia ser levantado<br />

a favor de que a psora (psora = alergia) como a causa primária de<br />

todas as doenças é a teoria de que a resposta de defesa do<br />

organismo é inespecífica, ou seja, feita de uma mesma forma e<br />

maneira para todos os agentes agressores, quer endógenos ou<br />

exógenos.<br />

A inespecificidade da resposta orgânica pode ser<br />

evidenciada pelas reações de Wassermann, Widal ... resultando<br />

negativa, quando realmente existe a enfermidade ou falso<br />

positivo, quando na realidade não está ocorrendo a doença.<br />

Figuras:<br />

A I A I<br />

Figura 1<br />

I A<br />

Figura 2<br />

* Alergia = Imunocomplexo<br />

I<br />

Figura 3<br />

108<br />

A<br />

antígeno<br />

*alergina órgão sensível<br />

anticorpo<br />

108


Outra prova de inespecificidade de resposta<br />

orgânica é o fato do indivíduo com reação de Mantoux<br />

anteriormente, negativa, tornar-se positiva após tomar a vacina<br />

contra o sarampo ou varíola.<br />

Onde fica a teoria da resposta exclusivamente<br />

humoral e celular, esta para as afecções virais e aquela para as<br />

bacterianas?<br />

A resposta orgânica é inespecífica, através da<br />

alergia ou psora.<br />

No ser humano, devido às vacinas, intoxicações<br />

por metais pesados e remédios, principalmente os parenterais,<br />

não existe a alergia, somente a paralergia (para = lado; ergon =<br />

foça) que explica a sycose (retículo endoteliose proliferativo),<br />

ocasionada principalmente pelas vacinações e supressões<br />

medicamentosas da alergia (psora).<br />

A syphilis representa a destruição dos tecidos,<br />

que pode ocorrer depois de uma malfadada tentativa do<br />

organismo de se hipertrofiar às custas de um código genético não<br />

preparado para tal evento.<br />

Sabemos que a alergia e a imunidade são<br />

diametralmente opostas e que esta sucede aquela, como pode<br />

ser visto no esquema abaixo:<br />

Alergia (A) Imunidade (I)<br />

O exemplo clássico disto é a vacina antivariólica<br />

que provoca uma reação diferente por parte do organismo até o<br />

14º dia na fase da pústula, quando cessa a alergia e sobrevem a<br />

imunidade.<br />

109<br />

109


Qualquer processo que dificulta, modifica ou<br />

impede este processo altera a resposta do organismo no sentido<br />

de atingir a imunidade, conforme esquema abaixo:<br />

I = Dificuldade: diminuição das<br />

A proteínas plasmáticas<br />

A I = modificação: Vacinas<br />

A I = impedimento: corticoterapia<br />

O mesmo raciocínio vale para a relação psora e imunidade:<br />

Psora Imunidade<br />

O exemplo acima não quer dizer que a psora<br />

seja algo benéfico, entretanto, segundo Hahnemann, ela é o<br />

ponto de partida para as demais doenças.<br />

Uma psora latente ou alergia latente promove o<br />

estímulo que ainda dá condições do organismo de atingir a<br />

imunidade, veja gráfico abaixo:<br />

110<br />

110


Psora latente Imunidade<br />

Já a psora que explode pode inibir a imunidade,<br />

porque, segundo a lei de Shultz:<br />

“a um estímulo forte o organismo responde<br />

fracamente; ao contrário, diante de um estímulo fraco o organismo<br />

promove uma resposta intensa”.<br />

Psora<br />

manifesta<br />

Imunidade<br />

Outra hipótese de alteração no equilíbrio psora<br />

(alergia) já exposto anteriormente é o seguinte:<br />

Aparecimento da sycose e syphilis<br />

-------------------------------------------<br />

A I<br />

Isto é, diante da supressão da alergia (psora)<br />

pode surgir a Sycose e, subseqüentemente, a syphilis.<br />

111<br />

111


FATORES TEÓRICOS DE ANÁLISE<br />

O organismo humano quando não consegue de<br />

imediato estabelecer uma resposta imunológica sem<br />

intercorrências frente a um antígeno qualquer, lança mão do<br />

fenômeno da alergia, que, como foi citado, trata-se de uma reação<br />

modificada do organismo.<br />

A psora , do mesmo modo, é uma tentativa de<br />

adaptação do organismo, agindo como uma resposta alterada do<br />

mesmo, visando o equilíbrio, fato este bem evidente nas palavras<br />

de Hahnemann, quando se refere à psora:<br />

“Uma mudança da totalidade da pessoa” ou é<br />

“somente quando o organismo inteiro se sentir transformado por<br />

esta força miasmática crônica peculiar é que a força vital<br />

adoecida, tanta aliviar e abrandar a moléstia interna pelo<br />

estabelecimento de um sintoma local sobre a pele”.<br />

Por este motivo, este modo de agir e reagir do<br />

organismo, seja a alergia, seja a psora, que no nosso<br />

entendimento são a mesma entidade, incorporam os fatores<br />

teóricos de análise.<br />

OBJETIVOS DO TRABALHO<br />

O presente trabalho visa esclarecer um tema<br />

extremamente controvertido, qual seja, a psora.<br />

Tal esclarecimento deve, necessariamente,<br />

tentar satisfazer a comunidade médica científica, através de<br />

conceitos atualizados, hodiernos, que passam pelo conhecimento<br />

imunológico.<br />

Com este intuito, o autor procura demonstrar a<br />

semelhança entre a psora e o fenômeno da alergia, entendida no<br />

seu aspecto mais amplo possível.<br />

112<br />

112


Definição de Termos:<br />

ALERGIA – alergia, palavra grega ( all = diferente, modificada;<br />

ergia = força, energia), que etimologicamente<br />

significa reação ou força alterada ou modificada no<br />

organismo, frente a um agente agressor qualquer.<br />

MIASMA – palavra grega que no seu sentido estrito quer dizer<br />

emanações dos pântanos; era usada pelos médicos<br />

antigos como sendo causa das doenças.<br />

S.E.R. – o sistema retículo endotelial compreende as células<br />

que revestem muitos canais vasculares e linfáticos e<br />

que são capazes de fagocitar bactérias, vírus e<br />

outros corpos estranhos, ou podem formar anticorpos<br />

contra eles. Compreendem as células fagocitárias da<br />

medula óssea, do baço, do fígado e dos gânglios<br />

linfáticos. Todas essas células se assemelham,<br />

sendo denominadas células reticulares.<br />

SELF – termo que designa aquilo que é próprio do organismo, ou<br />

melhor, que não é estranho ao sistema imunológico.<br />

REVISÃO DA LITERATURA OU SUPORTE<br />

BÁSICO<br />

Kent, no capítulo 18 do livro Filosofia<br />

Homeopática , diz: “A psora é a causa fundamental, é a desordem<br />

primitiva ou primária da raça humana”.<br />

Segundo Edgard Maffei, o entendimento de<br />

todas as reações orgânicas deve passar pelo conhecimento do<br />

fenômeno da alergia, que literalmente significa: força ou reação<br />

diferente ou modificada do organismo frente a um agente<br />

agressor. A alergia é o ponto de partida para o entendimento e<br />

conhecimento de toda a Medicina.<br />

113<br />

113


Os dois conceitos, o da psora e o da alergia se<br />

interpenetram de tal forma e modo a parecerem a mesma coisa.<br />

A procura de uma definição comum entre ambos<br />

os termos visa dar uma interpretação atual imunológica da psora,<br />

de tal sorte a tentar satisfazer as exigências do mundo médico –<br />

científico do que realmente seja a psora.<br />

Tanto uma quanto a outra são decorrentes de<br />

uma falha do sistema de defesa do organismo, contra um agente<br />

agressor qualquer.<br />

Trata-se, portanto, de um mecanismo secundário<br />

de defesa, que se processa através de uma modificação ou<br />

alteração do mesmo, com finalidades adaptativas.<br />

cura.<br />

114<br />

Porém, ambas funcionam como um obstáculo à<br />

Quando Hahnemann se refere à psora , como<br />

sendo uma mudança da totalidade da pessoa ou “e somente<br />

quando o organismo inteiro se sente transformado por esta<br />

doença miasmática crônica peculiar é que a força vital adoecida<br />

tenta adequada manifestação de um sintoma local na pele”, ele<br />

não estará adotando a mesma linha de raciocínio de Maffei,<br />

consubstanciados nos exemplos abaixo discriminados, onde<br />

partimos do princípio que a psora (P) e a alergia são a mesma<br />

identidade?<br />

A=P Imunidade (I)<br />

O gráfico acima sugere que a alergia e a<br />

imunidade vivem num aparente equilíbrio. Se um dos pratos da<br />

balança pender para um dos lados, teremos o seguinte:<br />

A=P<br />

114


Ou seja, se A = P estiver em alta, teremos uma<br />

imunidade baixa.<br />

O inverso também é verdadeiro:<br />

I<br />

A=P<br />

Como já foi explanado, tal fenômeno pode ser<br />

observado claramente nas vacinações antivariólicas, onde até em<br />

torno do 14º dia ocorre uma intensa reação local, onde foi<br />

aplicada a vacina, ocorrendo uma profunda reação à mesma,<br />

provocando uma força alterada ou modificada no organismo,<br />

sobrevinda geralmente a partir do 15º dia, a fase de imunização,<br />

ou seja, popularmente, sabe-se que a “vacina pegou” invertendo<br />

os pratos da nossa balança simbólica, colocando em alta<br />

imunidade. A partir daí, se o indivíduo entrar em contato com o<br />

vírus da varíola, a resposta orgânica será eficiente e ele não<br />

contrairá a doença. Donde pode-se concluir, que a psora e a<br />

alergia são uma reação alterada e quase sempre não ideal de<br />

defesa do organismo.<br />

Logicamente, estas reações modificadas<br />

ocorrem em função do genótipo de cada indivíduo, tornando claro<br />

que a alergia é um fenômeno individual, de tal sorte a explicar a<br />

gama intensa de manifestações psóricas que ocorrem de<br />

indivíduo para indivíduo, tanto na área somática, como na<br />

psíquica.<br />

As manifestações supracitadas são<br />

condicionadas às constituições gerais e parciais das pessoas.<br />

115<br />

I<br />

115


Por constituição geral entende-se como sendo o<br />

“conjunto de caracteres anatômicos e funcionais de um indivíduo<br />

num dado momento da sua vida” (Maffei ).<br />

Já a constituição parcial se refere aos órgãos de<br />

menor resistência, que são aqueles órgãos que nasceram mais<br />

fracos, num indivíduo, devido a um não–desenvolvimento<br />

completo deles, durante a fase embriológica.<br />

Como já se frisou, tais modificações orgânicas,<br />

atribuíveis à psora ou à alergia, estão sujeitas ao modo particular<br />

de reagir de cada pessoa, uma vez que segundo Lucrécio, filósofo<br />

romano, século I aC., “a mesma carne que alimenta um homem,<br />

pode envenenar um outro”.<br />

Se um “simples” alimento pode desencadear<br />

toda uma modificação no organismo, levando até a morte certos<br />

organismos, através de um choque anafilático, frente a um<br />

alimento qualquer, o que não pensar o que poderia ocorrer<br />

quando estes mesmos organismos entram em contato com a<br />

infinidade de microorganismos que pululam na atmosfera.<br />

A existência de uma transmissibilidade<br />

infecciosa da psora, que Hahnemann anteviu até mesmo a<br />

Pasteur, pode ser plenamente explicada pela alergia.<br />

Interessante também observar que a gama de<br />

sintomas que ocorrem de pessoa para pessoa,<br />

independentemente do agente etiológico, seja, por exemplo, viral<br />

ou bacteriano é explicável pela psora e/ou alergia, dependendo de<br />

uma resposta global do organismo, inespecífica, qual seja à<br />

Energia Vital, alterada, ou transformada, para tentar se equilibrar.<br />

Com base no fenômeno da alergia e psora,<br />

pode-se procurar também explicações para os miasmas, sycose e<br />

syphilis.<br />

116<br />

116


Todos os fenômenos defensivos do organismo,<br />

inespecífico, qual seja à da Energia Vital alterada ou<br />

transformada, são tentativas do organismo se equilibrar.<br />

Todos os fenômenos defensivos do organismo<br />

são dependentes do S.R.E., que é o fiel depositário de todas as<br />

informações genéticas, reconhecendo o que é self (próprio) e o<br />

que não lhe pertence, inclusive explicando as doenças auto –<br />

imunes, onde estariam envolvidos os órgãos minores resistentiae,<br />

que pelo fato de não terem atingido o seu desenvolvimento pleno,<br />

param numa fase anterior, onde as suas estruturas inacabadas,<br />

acabam sendo reconhecidas como não self, gerando as referidas<br />

doenças auto – imunes, na vigência do choque antígeno x<br />

anticorpo, que também provocam uma alergia, força diferente no<br />

organismo, a psora, reação modificada no organismo, onde podese<br />

inferir que a psora e a alergia constituem o mesmo fenômeno.<br />

Complementando esta idéia da existência de<br />

uma unidade mórbida no organismo, recorreremos a Hipócrates:<br />

“A natureza de todas as doenças é o mesmo, difere apenas<br />

quanto a sua sede. A essência é uma, a causa que as determina<br />

é também uma ... O que é importante não é tanto enumerar e<br />

separar cada doença por menor que se ache que ela difira em<br />

pouco das outras, mais imaginar que as doenças são sempre,<br />

essencialmente, as mesmas, ainda que tenham nomes<br />

diferentes”.<br />

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS<br />

Semelhanças entre:<br />

PSORA ALERGIA<br />

É a causa primária de todas as<br />

enfermidades agudas crônicas (<br />

não – venéreas) que assolam a<br />

humanidade.<br />

A Psora é a mais antiga, mais<br />

universal, mais destrutiva, não<br />

117<br />

117<br />

É o ponto de partida para o<br />

entendimento de todas as<br />

reações orgânicas e<br />

conseqüentemente de toda a<br />

Medicina<br />

Representa o núcleo primeiro de<br />

reagir do organismo, quando


obstante, a mais irreconhecida<br />

das doenças miasmáticas<br />

crônicas que há milhares de<br />

anos vem desfigurando e<br />

torturando a humanidade e que<br />

durante os últimos séculos têm<br />

se tornado a mãe de todas as<br />

milhares de doenças<br />

incrivelmente variadas agudas e<br />

crônicas (não–venéreas), pelas<br />

quais é a mais afetada a<br />

totalidade da raça humana<br />

civilizada, na parte habitada do<br />

globo (Hahnemann).<br />

Hahnemann usa a frase<br />

“mudança da totalidade da<br />

pessoa”e “somente quando o<br />

organismo inteiro se sentir<br />

transformado por esta doença<br />

miasmática crônica peculiar”<br />

A Psora funciona como um<br />

obstáculo à cura<br />

CONCLUSÃO<br />

118<br />

este não consegue vencer sem<br />

intercorrência, um ataque<br />

endógeno ou exógeno contra<br />

ele mesmo, quer de natureza<br />

aguda ou crônica.<br />

Alergia = (all = diferente;<br />

modificado; ergon = força,<br />

energia) palavra grega que quer<br />

dizer: reação alterada ou<br />

modificada do organismo frente<br />

a um agente agressor.<br />

A alergia é inversamente<br />

proporcional à imunidade.<br />

Como procuramos demonstrar, tanto a alergia<br />

como a psora são uma modificação ou alteração do organismo<br />

frente a um agente agressor, seja externo ou endógeno, fato este<br />

facilmente compreensível até pela própria definição de alergia<br />

(allos=diferente, alterado; ergon=força ou energia) de<br />

Hahnemann.<br />

Já a psora é referida por Hahnemann como<br />

sendo “uma mudança da totalidade a pessoa” ou “somente<br />

quando o organismo inteiro se sentir transformado por esta<br />

doença maiasmática crônica é que a força vital adoecida tentar<br />

aliviar e abranger a moléstia interna pelo estabelecimento de um<br />

sintoma local sobre a pele, as vesículas da sarna”. Tanto uma<br />

118


como outra dependem de genótipo de cada indivíduo, daí a<br />

explicação para as mais incríveis e variadas doenças agudas e<br />

crônicas que acometem toda a humanidade.<br />

Ambos os fenômenos são mediados pelo<br />

sistema retículo endotelial (S.R.E), fiel depositário de todas as<br />

informações genéticas do organismo, detectando tudo aquilo que<br />

não é self no mesmo, endógeno ou exógeno. Maffei considera o<br />

conhecimento da alergia como sendo pedra fundamental (land –<br />

mark) de toda Medicina.<br />

Hahnemann não pensa diferente de Maffei,<br />

quando diz que a “psora é a mais antiga, mais universal, mais<br />

destrutiva e não obstante a mais irreconhecida das doenças<br />

miasmáticas que há milhares de anos vêm desfigurando e<br />

torturando a humanidade e que, durante os últimos séculos temse<br />

tornado a mãe de todas as doenças variadas, agudas e<br />

crônicas (não–venéreas) pelas quais é a mais afetada a totalidade<br />

da raça humana civilizada na parte habitada do globo”. Segundo<br />

ainda Von Pirquet, a alergia é um fenômeno primário, básico de<br />

todas as alterações orgânicas, assim como a psora.<br />

Outro fato em comum entre a psora e a alergia é<br />

que ambas funcionam como um obstáculo à cura, como ficou<br />

demonstrado no exemplo da “gangorra”, isto é, quando ambas<br />

predominam, resulta na baixa imunidade, sendo que o inverso é<br />

plenamente verdadeiro, conforme o esquema a seguir:<br />

Alergia=psora Imunidade<br />

Da ilustração anterior depreende-se que, se a<br />

alergia (psora) estiver em alta, a imunidade cai, conforme<br />

esquema a seguir:<br />

Psora<br />

119<br />

119


A (P)<br />

O inverso também é verdadeiro:<br />

(I)<br />

Imunidade<br />

No organismo humano, a resposta alterada varia<br />

em conformidade com a constituição geral e parcial de cada<br />

indivíduo, por isso a gama imensa de variações que uma mesma<br />

doença nosologicamente classificada produz de um indivíduo para<br />

outro.<br />

A partir do entendimento da compreensão da<br />

psora e da alergia, pode-se tentar estabelecer um modelo teórico<br />

que explique a sycose (paralergia) e a syphilis.<br />

Esperamos que de alguma forma as hipóteses<br />

levantadas neste trabalho possam dar uma interpretação atual<br />

para o nosso exigente mundo médico–científico, do que seja<br />

realmente a psora, deixando em aberto esta questão, para que<br />

outras colegas possam ajudar a elaborar melhor esta nossa<br />

teoria.<br />

120<br />

120


XXXV<br />

DEVE-SE EXAMINAR O PACIENTE?<br />

Como já sabemos, não existe a medicina<br />

homeopática ou a medicina alopática.<br />

A medicina é uma só.<br />

Existem, sim, métodos terapêuticos diferentes,<br />

isto é, formas de tratamento, chamadas Alopatia e Homeopatia,<br />

assim como há diversos modos de se tratar um indivíduo enfermo,<br />

com Acupuntura, Hidroterapia, Biocibernética Bucal, Alimentação,<br />

Quiropatia etc.<br />

Etimologicamente, Patologia (phatos=doenças,<br />

logos=estudo) significa “estudo das doenças”.<br />

Segundo o Prof. Maffei, a Patologia se inicia com<br />

a observação do doente, que se compõe do interrogatório e<br />

exame físico, o que constitui a clínica (do grego, klinikos, que<br />

significa cama ou leito); esta denominação resultou do fato do<br />

doente estar em geral acamado.<br />

“No primeiro contato com o doente, o médico<br />

procede ao interrogatório, a fim de obter o histórico dos males que<br />

o afetam, isto é, procede-se à anamnese (ana=duas vezes;<br />

mneses=lembrar); portanto, relembrar ou rememorar. Desse<br />

modo apreende-se qual o tipo de sofrimento, que constitui o<br />

sintoma ou sintomas subjetivos...”.<br />

Leva-se em conta há quanto tempo está<br />

ocorrendo o sofrimento, os antecedentes pessoais, os<br />

antecedentes familiares e hereditários.<br />

Na etapa seguinte, passa o médico ao exame<br />

físico, olhando o doente (inspeção), tocando – o (palpação) e<br />

fazendo a percussão, que consiste em colocar, em geral, o dedo<br />

indicador esquerdo sobre o tórax e o abdome, batendo-se sobre<br />

121<br />

121


ele com o 3º dedo da mão direita, como se fosse um martelo, e,<br />

finalmente, procedendo à ausculta, com a finalidade de ouvir os<br />

diversos ruídos das diferentes áreas do corpo.<br />

Este conjunto de manobras constitui a<br />

Semiologia Médica (semion = sinal + logus = estudo).<br />

Vimos que para se chegar a um diagnóstico (dia<br />

=através + gnonis=reconhecer) depende-se dos procedimentos<br />

acima.<br />

Através do diagnóstico consegue-se ter uma<br />

idéia do prognóstico (pro = antes + gnosis = reconhecer), que<br />

pode ser favorável ou desfavorável; se a cura vai ser total ou<br />

parcial ou mesmo resultar no óbito do paciente.<br />

Portanto, como observamos, dentro de um<br />

contexto rigorosamente médico, o exame físico se impõe.<br />

Além do que, os dados físicos podem servir<br />

como elemento para se escolher o medicamento homeopático<br />

correto.<br />

Mesmo com todos os esses cuidados, pode-se<br />

“comer – bolar”, como se diz em gíria médica, o que dirá se não<br />

examinarmos os pacientes.<br />

Não nos esqueçamos que o físico, juntamente<br />

com o mental e o psíquico, formam o conjunto, a totalidade, o<br />

holos (todo) do indivíduo.<br />

Não só devemos examinar o doente, principalmente as crianças,<br />

que possuem uma labilidade muito grande, como devemos<br />

recorrer inclusive à Propedêutica (pro = antes + pedeus = ensinar)<br />

armada, tais como: RX, ultrassonografia, exames de laboratório<br />

etc, utilizando todos os recursos modernos existentes à nossa<br />

disposição.<br />

122<br />

122


XXXVI<br />

O MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO<br />

Como já sabemos, o medicamento homeopático,<br />

pela Lei das Semelhanças é experimentado no homem são e<br />

Hahnemann catalogou estes sintomas num livro que chamou de<br />

Matéria Médica Pura, onde descreve estes sintomas físicos e<br />

mentais, que caracterizam cada medicamento.<br />

No capítulo “O medicamento experimentado pelo<br />

homem são”, mostramos que a escolha do medicamento<br />

homeopático se faz por um processo de exclusão, único e<br />

particular, onde os sintomas do paciente devem coincidir o<br />

máximo possível com os do medicamento, por isso dizemos que<br />

um é o espelho do outro.<br />

Quando dizemos que uma pessoa é<br />

Phosphorus, é porque as suas características físicas e psíquicas<br />

se assemelham ao medicamento Phosphorus, quando<br />

experimentado no homem são.<br />

Para melhor entendimento descrevemos este<br />

processo de experimentação, que recebe o nome de Patogenesia,<br />

consubstanciada na matéria médica homeopática.<br />

Queremos esclarecer que existem matérias<br />

médicas de vários autores e que a simples leitura dos<br />

medicamentos que exporemos adiante não autoriza e nem<br />

desautoriza o seu uso.<br />

Existem alguns livros de Homeopatia que<br />

descrevem os medicamentos homeopáticos, fornecendo<br />

indicações clínicas para eles, como se isto fosse tão simples. Isso<br />

a meu ver só confundem a população.<br />

Por exemplo, uma vez atendi uma criança<br />

porque apresentava um corrimento vaginal crônico (leucorréia<br />

crônica) que não cedia a nada.<br />

123<br />

123


No interrogatório sobre os diferentes aparelhos<br />

do organismo, ficamos sabendo que a criança, extremamente<br />

friorenta, ciumenta, irritada, dormia na posição genupeitoral (prece<br />

maometana), que tinha um desejo marcado por doce etc.<br />

Ao exame físico constatamos uma faringite.<br />

Repertorizamos tais sintomas e chegamos no<br />

medicamento Sepia succus, o que nos autorizou a sua<br />

administração.<br />

Porém, a mãe foi à farmácia, que tinha um livro<br />

muito conhecido, incompleto e nada esclarecedor sobre o que<br />

seja a Homeopatia, e, contando com o “imenso” favor que o<br />

balconista da farmácia fez de dizer a ela que aquele medicamento<br />

era usado em mulheres em época de menopausa etc., não deu o<br />

Sepia succus para a criança e, o que foi pior, desistiu da<br />

Homeopatia.<br />

Desejo esclarecer que fiquei sabendo de tal fato<br />

somente posteriormente, através de uma paciente, amiga da mãe<br />

da criança.<br />

Foi falta de confiança no médico? Ou o referido<br />

livro é algo muito forte?<br />

Não fora este livro e o balconista, a criança<br />

provavelmente teria se beneficiado com o uso de Sepia succus.<br />

Um farmacêutico com curso universitário e pósgraduado<br />

em Homeopatia, pela responsabilidade e pela noção de<br />

ética que possui, certamente não procederia desta forma.<br />

A seguir exporemos como o medicamento é<br />

estudado na referida matéria médica:<br />

Bryonia alba:<br />

O medicamento quando experimentado no<br />

homem sadio produz:<br />

124<br />

124


- Inflamações agudas que se traduzem por<br />

ressecamento excessivo das mucosas e por dores agudas e<br />

pulsantes, melhoradas pela pressão e repouso, agravadas ao<br />

menor movimento.<br />

Agravações:<br />

1. movimento<br />

2. calor<br />

3. tempo quente<br />

4. 21 horas<br />

5. sobretudo pela manhã, 3 horas<br />

6. supressão de corrimento habitual<br />

Melhora:<br />

1. repouso<br />

2. pressão<br />

3. lado doloroso<br />

4. bebidas e aplicações frias<br />

Lateralidade – Direita<br />

Vertigem pela manhã, ao levantar-se, quando se levanta de seu<br />

assento, tem a sensação como se a cabeça desse volta em<br />

ciranda;<br />

Sede ardente, por grandes quantidades de água fria a largo<br />

intervalos;<br />

Sensação de pedra pesada no estômago;<br />

Conspiração tenaz, fezes muito duras, secas, negras, como<br />

queimadas, sempre grossa;<br />

Diarréia pela manhã, ao 1º movimento;<br />

Epistaxes pela manhã, persistindo 1/4 horas – 3 horas;<br />

Tosse seca quintosa quando passa do frio para o calor, se<br />

acompanhada de dores agudas, lancinates, no peito ( dor de<br />

costado) e na cabeça;<br />

Melhora da pressão forte;<br />

Menstruações precedidas de epistaxis;<br />

Dor no ovário direito;<br />

Mamas pálidas, quentes, duras de uma dureza de pedra, pesados<br />

e muito dolorosos;<br />

125<br />

125


Clínica:<br />

Proteleum:<br />

Agravação:<br />

1.no inverno<br />

2. trocas atmosféricas<br />

3. tempestades (durante)<br />

4. carruagem<br />

5. emoção<br />

Melhora:<br />

1. calor<br />

2. repouso<br />

126<br />

- Bryonia afeta principalmente as serosas;<br />

- Sua indicação aparece freqüentemente em<br />

Natrum muriaticum;<br />

- Movimentos constantes do braço e perna<br />

esquerda;<br />

- Pele amarelada e oleosa, e cabelo oleoso.<br />

- amenorréia, angiocolites e apendicites<br />

crônica, artrite, asma, bronquite,<br />

broncopneumonia, cefaléia, ciática, cólicas<br />

hepáticas, congestão pulmonar, constipação,<br />

flatulência, diabetes, diarréia, dispnéia,<br />

dispepsia, enfisema, endocardite, epsistaxe,<br />

escarlatina, febre.<br />

- Alterações profundas da pele, agravadas<br />

durante o inverno. Diarréia crônica que se<br />

apresenta unicamente durante o dia.<br />

Moléstias provocadas ou agravadas por<br />

andar em carruagem ou barco.<br />

- pensa que é duplo: 2 pernas – 2 filhos na<br />

febre puerperal;<br />

- crê que a morte está próxima;<br />

126


Aversão:<br />

1. carne<br />

2. gorduras – diarréia<br />

3. repolho<br />

127<br />

- se perde em coisas que conhece<br />

- vertigem ao levantar-se, por andar em<br />

carruagem;<br />

- cefaléia occiptal.<br />

Sede por cerveja;<br />

Fome canina imediatamente após evacuar;<br />

Fome à noite;<br />

Diarréia somente durante o dia, depois de comer repolho;<br />

Nariz seco, fossas nasais ulceradas com formações de crostas;<br />

Umidade constante dos órgãos genitais externos, com suores<br />

ofensivos e erupções;<br />

Regras adiantadas e curtas, antes do período;<br />

Batimentos na cabeça, leucorréia abundante, albuminosa, com<br />

pruridos locais, herpes e eczema úmido;<br />

Pele seca, grossa e rugosa, com fissuras profundas, fissuras e<br />

grietas nas pontas dos dedos que pioram no inverno;<br />

Erupções suprimidas, com vesículas, mais ou menos confluentes,<br />

que deixam escapar corrimento claro e aquoso, que forma crostas<br />

amareladas. Vesículas pruriginosas, ardorosas e superúmidas.<br />

Sempre agravação pelo inverno e frio. Couro cabeludo, atrás das<br />

orelhas, boca, dorso das mãos, entre os dedos dos pés, partes<br />

genitais e períneo;<br />

Transpiração abundante e odor penetrante das partes genitais,<br />

axilas e pés.<br />

Clínica:<br />

Complementar:<br />

- angina de peito, audição, coriza crônica,<br />

diarréia, dispepsia, eczema, fissuras,<br />

enxaquecas, náuseas e vômitos, psoríase,<br />

reumatismo, frieiras, úlceras de estômago,<br />

vertigem.<br />

127


Conium maculatum:<br />

seguinte:<br />

- Sepia succus<br />

Agravação:<br />

1. noite<br />

2. cabeça baixa<br />

3. por dar voltas na cama<br />

4. depois de haver comido<br />

5. antes e durante as regras<br />

Melhora:<br />

1. na obscuridade<br />

2. pelo movimento<br />

3. sobretudo pelo andar<br />

4. pelo calor<br />

128<br />

A patogenesia do Conium maculatum é a<br />

- Paralisia progressiva ascendente precedida<br />

de consulsões e vertigens. Endurecimento<br />

dos tecidos, particularmente das glândulas, e<br />

geralmente consecutivas a um traumatismo.<br />

- acha-se incapaz para sustentar um esforço<br />

mental;<br />

- vertigem estando acostado, ao volta-se na<br />

cama;<br />

- lacrimejamento excessivo e fotofobia intensa<br />

em desproporção com os sinais objetivos<br />

comprovados;<br />

- ptoses;<br />

- exudações muito ácidas;<br />

- debilidades e tremores depois de cada<br />

evacuação;<br />

- gases e evacuações frias;<br />

- prurido no nariz que obriga o enfermo a<br />

coçar-se;<br />

- disúria com jato intermitente;<br />

128


129<br />

- ejaculação involuntária na presença de uma<br />

mulher;<br />

- testículos aumentados de volume e<br />

endurecidos;<br />

- menstruação:<br />

A antes: ⎨1. prurido uterino<br />

⎨2. mamas inchadas, pesadas, duras e dolorosas<br />

B. durante ⎨1. Espasmos uterinos<br />

C. depois ⎨1. Leucorréia ácida, leitosa, abundante, durante 10<br />

dias<br />

- supressão brusca das regras ( menstruação)<br />

depois de haver colocado as mãos na água<br />

fria;<br />

- glândulas mamárias amolecidas e relaxadas<br />

com nódulos endurecidos, sensíveis e<br />

dolorosos;<br />

- suores abundantes ao fechar os olhos desde<br />

que adormece.<br />

Como já expusemos anteriormente, uma análise<br />

simplista dos sintomas acima não autoriza o uso de tais<br />

medicamentos, que devem ser receitados por um médico<br />

preparado para tal.<br />

XXXVII<br />

O REPERTÓRIO<br />

Qual o paciente, que freqüenta um consultório<br />

homeopático, que não se deparou com um livro em geral preto<br />

que o homeopata usa durante a consulta?<br />

uma Bíblia.<br />

Muitos perguntam curiosamente se se trata de<br />

129


De certa forma esta pessoa observadora não<br />

deixa de ter razão, posto que este livro pode perfeitamente ser<br />

comparado a uma Bíblia, que significa “o livro dos livros”, uma vez<br />

que o Repertório , como é chamada esta obra, contém quase<br />

todos os sinais e sintomas da matéria médica homeopática, que<br />

pode se ter uma idéia no capítulo “O medicamento homeopático”,<br />

só que de uma maneira esquemática, ao contrário da Matéria<br />

Médica, que é feita de uma maneira dissertativa.<br />

Por exemplo, uma paciente refere necessidade<br />

de afeto, gosta de comer queijo, dor de cabeça após cessar a<br />

menstruação, cólicas durante a menstruação, as rubricas se<br />

apresentam da seguinte forma:<br />

Psiquismo:<br />

130<br />

- afeto: necessidade de: Carcinosinum (2<br />

pontos), Phosphorus (3 pontos), Pulsatilla (3<br />

pontos)<br />

Estômago:<br />

- desejo: queijo: Argentum nitricum (1 ponto), Asteria rubens (1<br />

ponto), Cistus canadesis (2 pontos), Bacillus gartner (1 ponto),<br />

Ignatia amara (1 ponto), Moschus (1 ponto), Bacillus proteus (1<br />

ponto), Pulsatilla nigricans (1 ponto), Bacillus syccocus (1 ponto) .<br />

Cabeça:<br />

- Dor: menstruação. Depois: ao cessar: Bryonia<br />

alba (1 ponto); Carbo vegetalis (2 pontos);<br />

Glonoinum (1 ponto); Naja tripudians (1<br />

ponto); Nitric acidum (1 ponto); Pulsatilla<br />

nigricans (2 pontos).<br />

Como vimos, por um processo de exclusão<br />

vamos eliminando todos os medicamentos que não constam nas<br />

rubrica que cubram todas as características do paciente, até se<br />

chegar num único que cubra a totalidade, física, psíquica do<br />

indivíduo enfermo, no caso em particular, Pulsatilla nigricans.<br />

130


Existem vários repertórios. No Brasil há uma<br />

preferência pelo Repertório de Kent.<br />

Pelo exposto, o Repertório funciona como um<br />

banco de dados de um computador, de onde pode-se obter o<br />

medicamento simillimum, que visa melhorar o paciente<br />

holisticamente, isto é, como um todo.<br />

XXXVIII<br />

OPOSIÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE<br />

A <strong>HOMEOPATIA</strong> E A ALOPATIA<br />

As grandes linhas teóricas do novo Modelo<br />

Médico apresentado pela Homeopatia na primeira metade do<br />

século XIX, soavam absurdas para a medicina de então, como<br />

soam “hipotéticas” até hoje. Tais linhas podem ser assim<br />

resumidas:<br />

1. Medicina dos doentes individuais, por oposição a uma<br />

medicina de doenças.<br />

2. Exame clínico baseado no discurso do paciente, solicitando a<br />

se exprimir exaustivamente, por oposição ao olhar classificado<br />

e interventor do médico sobre o organismo do paciente,<br />

através da prática do exame anatomoclínico, físico e da<br />

classificação de sinais e sintomas num quadro produzido a<br />

priori pelo conhecimento médico.<br />

3. Medicina dos quadros sintomáticos globais, isto é, uma<br />

medicina gestáltica, por oposição a uma medicina etiológica.<br />

4. Personificação de doses e de medicamentos em função do<br />

quadro sintomático individual, por oposição à generalização<br />

de doses e medicamentos em função de patologias<br />

específicas.<br />

5. Dinamização de doses de substâncias medicamentosas ao<br />

nível infinitesimal, por oposição a doses quimicamente<br />

131<br />

131


concretadas para serem eficazes na cura de patologias<br />

específicas.<br />

6. Experimentação de doses e medicamentos no homem são,<br />

por oposição a experiência em animais.<br />

7. Finalmente, e talvez a mais clara diferença, o princípio de que<br />

o semelhante pode curar semelhante em oposição a uma<br />

medicina de combate ao agente patogênico por um agente<br />

químico constituído de propriedades contrárias ao do inimigo<br />

capas de “eliminá-lo”, ou trazê-lo para fora do suor da<br />

inflamação local, da febre, do vômito.<br />

Em acréscimo ao item 7 do artigo de Madel<br />

Therezinha Luz, acima exposto, publicado na revista Ciência<br />

Hoje, volume 7, nº 39, observei ao longo dos anos que pratico a<br />

Homeopatia que parece que o organismo só “sabe” ou “prefere”<br />

resolver os seus problemas na superfície, na luz do dia, ou seja,<br />

às claras, como tudo na natureza e, qualquer processo ao<br />

contrário que vise suprimir ou desaparecer lesões de pele, coriza,<br />

diarréias etc., só pode complicar o seu mecanismo de alergia.<br />

Alergia (all = diferente, modificado; ergon =<br />

força) significa reação ou força alterada do organismo frente a um<br />

agente agressor. Segundo Maffei é a base para compreensão de<br />

toda a Medicina.<br />

XXXIX<br />

OS FLORAIS DE BACH<br />

Não cabe nesta modesta obra tecer<br />

considerações aprofundadas sobre os Florais de Bach.<br />

Cabe, sim, dizer que os remédios florais não são<br />

medicamentos homeopáticos.<br />

Edward Bach, célebre, ilustre e embora muito<br />

bem sucedido médico inglês no campo da Microbiologia e da<br />

132<br />

132


Imunologia, abandonou esta especialidade para se dedicar à<br />

Homeopatia, onde também, como não podia deixar de ser,<br />

alcançou pleno êxito na ciência e arte legada por Hahnemann.<br />

Além do sucesso profissional e competência<br />

científica que sempre foram a sua marca registrada, Bach<br />

também possuía uma extraordinária sensibilidade psíquica e,<br />

como toda pessoa sensitiva, percebeu que determinadas flores<br />

possuíam poderes curativos sobre o ser humano e as catalogou<br />

num total de 38 flores, as quais denominou Florais de Bach.<br />

Estamos assistindo a uma explosão dos Florais<br />

de Bach no mundo inteiro, particularmente no Brasil. Isto nos<br />

preocupa, porque os florais vêm sendo usados de uma foram<br />

indiscriminada.<br />

A preocupação supracitada decorre do fato de<br />

realmente acharmos que os florais agem no organismo humano,<br />

portanto, têm capacidade de promover uma força ou reação<br />

diferente no organismo (vide o fenômeno da alergia), motivo pelo<br />

qual pode promover a cura. Porém, pensamos que quando mal<br />

indicado, pelo próprio fato de possuir uma capacidade de<br />

reacionar o organismo, pode proceder a uma supressão,<br />

promovendo interiorização mórbida.<br />

Há que se estudar melhor a ação dos florais para<br />

não se arriscar a infringir o primeiro mandamento de Hipócrates:<br />

“Primum non nocerum”, ou seja, “primeiro não lesar ou, ainda,<br />

primeiro não fazer mal”.<br />

Há que se estudar melhor o assunto, reafirmo!<br />

Será que os sintomas que aparecem após o uso<br />

dos florais são manifestação da própria enfermidade ou são<br />

resultantes de uma supressão ou de uma má agravação, que os<br />

adeptos do uso dos florais dizem que é como descascar uma<br />

cebola, onde vão surgindo sintomas mais profundos?<br />

Aldous Huxley cita, no sue livro Admirável<br />

Mundo Novo, uma substância – soma – que era administrada às<br />

133<br />

133


pessoas, que as fazia sentirem-se bem, a despeito de estarem<br />

muito mal. Sabemos que na sycose isto pode perfeitamente<br />

ocorrer.<br />

Não desejo parecer um Cavaleiro do Apocalipse<br />

com relação aos Florais de Bach, porém, no mínimo, eles<br />

precisam ser melhor compreendidos e, se administrados, que o<br />

sejam por aquele que compreenda das leis da cura.<br />

Para corroborar o parágrafo supracitado, basta<br />

relembrar as propagandas prometendo curas fantásticas pelo uso<br />

dos Florais de Bach, vendidos até por reembolso postal, de uma<br />

forma indiscriminada e, como visto, podendo ser até prejudicial à<br />

saúde do ser humano.<br />

Esquematicamente a cura deve ocorrer de<br />

dentro para fora, conforme exemplificado:<br />

EU EU<br />

CURA<br />

O inverso contraria a Lei de Hering:<br />

EU<br />

134<br />

SUPRESSÃO<br />

134


Quando se administra um Floral de Bach, por<br />

exemplo, para se curar um medo qualquer sem levar em<br />

consideração o todo do indivíduo e nestas circunstâncias surgir<br />

um desejo de suicídio, seguramente está ocorrendo um<br />

aprofundamento do processo, que não é mais um sintoma que<br />

mereça um outro floral, trata-se de uma supressão, devendo-se<br />

imediatamente suspender o remédio e aguardar, se persistir<br />

consultar um bom homeopata.<br />

Vimos que o Floral de Bach age, entretanto, há<br />

que se conhecê-lo muito bem e não ficar sendo prescrito em cada<br />

esquina, por qualquer aventureiro da saúde.<br />

XL<br />

ABC DA <strong>HOMEOPATIA</strong><br />

O Dr. Waltencir Linhares, na usa obra O ABC da Homeopatia,<br />

refere que a Homeopatia está embasada em quatro pilares ou<br />

princípios fundamentais:<br />

1. Lei dos Semelhantes<br />

2. Experimentação no homem são<br />

3. Medicamento único<br />

4. Doses mínimas.<br />

Cremos que estes princípios foram explicados no<br />

decorrer desta obra.<br />

Entretanto, enquanto os três últimos itens<br />

possam ser passíveis de críticas, o primeiro é irrefutável,<br />

confirmado até pelas próprias palavras de Hipócrates, que diz que<br />

uma das maneiras existentes de curar é pela Lei dos<br />

Semelhantes, conforme exposto anteriormente, quando o mesmo<br />

135<br />

135


Hipócrates usava o Veratrum album para combater epidemias de<br />

cólera.<br />

XLI<br />

CONCLUSÃO<br />

A idéia de se escrever este livro partiu do desejo<br />

de escrever algo que pudesse esclarecer de uma maneira<br />

despretensiosa os alunos da Medicina, os colegas médicos que<br />

não têm formação homeopática ou, mesmo, aqueles que estão<br />

iniciando um curso de formação sobre a Homeopatia.<br />

Esta pequena obra visa mostrar a Homeopatia<br />

como sendo um método terapêutico, capaz de atender a 80% dos<br />

indivíduos que são chamados pacientes funcionais, isto é, que<br />

não se consegue estabelecer um diagnóstico, não sendo,<br />

portanto, passíveis de tratamento alopático, que necessita de<br />

referido diagnóstico.<br />

São pacientes que estão em fase de adoecer<br />

fisicamente e que são tratados como pessoas nervosas, onde lhe<br />

administram calmantes, antidepressivos etc.<br />

A Homeopatia atende muito bem a estes<br />

pacientes, através das mudanças que ocorrem em suas vidas,<br />

tais como: hábitos alimentares, sono, medo, dores, sexualidade,<br />

tensão pré - menstrual etc.<br />

Dessa forma a Homeopatia vem complementar,<br />

de forma eficiente, esta lacuna deixada pela Alopatia.<br />

A Homeopatia age mesmo nos casos crônicos,<br />

com lesões teciduais estabelecidas e,mesmo, classicamente<br />

tratados cirurgicamente, tais como: miomas uterinos, hipertrofia<br />

de próstata etc.<br />

Como dissemos acima, só não erra quem não<br />

faz, mas com o domínio das várias técnicas de cura existentes<br />

136<br />

136


podemos refutar, como dissemos anteriormente, as palavras de<br />

Voltaire: “A medicina consiste em se introduzir substâncias que<br />

não se conhece em um organismo que se conhece menos ainda”.<br />

A Homeopatia no seu sentido exato é aquela<br />

ciência e arte capaz de restabelecer a saúde do paciente de uma<br />

forma rápida, suave e duradoura, removendo ou aniquilando a<br />

doença, em toda a sua extensão da maneira mais curta, mais<br />

segura e menos nociva por princípios facilmente compreensíveis,<br />

como queria Hahnemann, podendo, perfeitamente, contribuir<br />

juntamente com a Alopatia, para o bem–estar e a saúde do ser<br />

humano e, porque dentro da hipótese Gaia, que significa Terra<br />

dos Deuses, é um ser vivo, onde até os minerais têm vida, e nós,<br />

seres humanos, funcionamos como órgãos externos de Gaia,<br />

como braço, olhos, pernas etc.<br />

cérebro!<br />

137<br />

Porque não começamos a treinar para ser o seu<br />

Porém, antes disto, temos que somar forças, e a<br />

união de todos os métodos terapêuticos existentes é um<br />

caminho...<br />

137


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

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São Paulo, Editora Typus, 1989, 93 p.<br />

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edição, São Paulo, Ground, 1991, 216 p.<br />

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Gráfica Olímpica Editora, 1974, 198 p.<br />

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Miasmática. São Paulo, Soma. 1980, 253 p.<br />

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Ediciones Marecel, 1978, 388 p.<br />

GIANNONI, F.G. Medicina Básica – Propedêutica e<br />

Fisiopatologia. São Paulo. RG Serviços de Imprensa Ltda., 398 p.<br />

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edição, Rio de Janeiro, São Paulo, Editora Atheneu, 1990, 800 p.<br />

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POZETTI, G. L. “Mecanismo de ação do medicamento<br />

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269.<br />

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139


PROENÇA, N.G. “Alopatia e Homeopatia”. Gazeta Homeopática,<br />

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REIS, J.G. “Febre, sinal de saúde”. Revista de Homeopatia, nº<br />

164.<br />

REZENDE, AA FILHO. “Grupos Boyd”. Revista da Associação<br />

Paulista de Homeopatia.<br />

SGARBIERI, V.C. Alimentação e Nutrição. Campinas. Editora<br />

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VERONESI, Doenças Infecciosas e Parasitárias. 6ª edição, Rio de<br />

Janeiro, Guanabara Koogan. 1976, 1149 p.<br />

VOLTAIRE: “A Medicina consiste em se injetar substâncias que<br />

não se conhece num organismo que se conhece menos ainda”.<br />

140<br />

140


Por isso Hahnemann, ciente da Medicina pesada<br />

que se praticava naquela época, criou a Homeopatia que<br />

preconiza que: “O ideal máximo da cura é o restabelecido rápido,<br />

suave e duradouro da saúde, da maneira mais curta, mais segura<br />

e menos nociva, agindo por princípios facilmente<br />

compreensíveis”.<br />

Quem duvida dos dizeres de Voltaire, basta<br />

lembrar como muitas pessoas morreram pelo uso do calomelano.<br />

George Washington, após sentir dores fortes na<br />

garganta, foi submetido ao tratamento com calomelano e sangrias<br />

sucessivas que o levaram à morte no dia 14 de dezembro de<br />

1774 por hipovolemia, ou seja, perda acentuada de sangue.<br />

O tratamento acima foi o que recebeu o mais<br />

ilustre cidadão norte-americano, onde se pode concluir que este<br />

era o melhor tratamento da época.<br />

Lógica e felizmente a Medicina atual, graças aos<br />

avanços científicos, tem um conhecimento mais verdadeiro dos<br />

recursos que utiliza, tais como novas drogas úteis, os exames<br />

complementares sejam laboratoriais, ultrassonográficos ou<br />

computadorizados.<br />

A cirurgia continua tendo o seu lugar, desde que<br />

bem indicada. O uso do diagnóstico e da terapêutica nuclear é<br />

importantíssimo.<br />

Entretanto, ainda ocorrem no Terceiro Mundo<br />

distorções, como, por exemplo, o uso de remédios contraindicados<br />

nos países adiantados, que mesmo assim são utilizados<br />

aqui no Brasil, sem falar que muitos destes remédios têm sua<br />

fórmula original alterada pelos laboratórios, sem que os médicos<br />

tenham conhecimento prévio de tal mudança.<br />

A Anestesiologia atual, por exemplo, é uma<br />

especialidade que contradiz Voltaire, uma vez, que se tem um<br />

conhecimento e domínio quase perfeito do mecanismo de ação<br />

das drogas que utiliza.<br />

141<br />

141


A Medicina é uma só, o que se difere entre a<br />

Alopatia e a Homeopatia é, tão – somente, o método terapêutico.<br />

Ambas são importantes, e cada uma tem o seu<br />

papel e finalidade no mundo atual, qual seja a de beneficiar o ser<br />

humano.<br />

142<br />

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