Documento - Departamento de Prospectiva e Planeamento

Documento - Departamento de Prospectiva e Planeamento Documento - Departamento de Prospectiva e Planeamento

07.05.2013 Views

Fluxos inter-regionais e consistência inter-matricial nos sistemas multi-regionais (MRIO) Natalino Martins natalino@dpp.pt DPP – Departamento de Prospectiva e Planeamento www.dpp.pt Documento apresentado ao 6º Workshop da APDR – 30/04/2010 – Angra do Heroísmo – Universidade dos Açores Os sistemas de matrizes multi-sectoriais multi-regionais são os mais interessantes do ponto de vista da avaliação de impactos territoriais de variações na procura final, nacional ou de qualquer região, no sentido em que permitem avaliar as interdependências entre regiões e, consequentemente, os efeitos difusores, não apenas intersectoriais, mas também inter-regionais, dos choques de procura ocorridos. Tornam-se, todavia muito exigentes em termos da avaliação dos fluxos de comércio inter-regional e em termos da compatibilização entre as matrizes que constituem o sistema. No primeiro caso, no limite, a vantagem está na sectorialização dos fluxos interregionais de produtos (IRIO - Inter-regional input-output account), a qual permite estabelecer uma interacção mais fina entre sectores produtivos de diferentes regiões. Todavia, não havendo estatísticas de comércio inter-regional, mesmo a obtenção desses fluxos sem sectorialização (sistemas multi-regionais) exige o recurso a métodos de estimação que se tornam muito sensíveis pois vão influenciar o que se torna essencial na utilidade das matrizes, a saber, os multiplicadores inter-regionais. No segundo caso, para além da consistência intra-matricial (equilíbrios de oferta e procura em cada matriz do sistema) há que assegurar a consistência entre matrizes regionais e matriz nacional. Se se pretender um sistema de matrizes de produção regional, adicionalmente torna-se necessário garantir a consistência, em cada região, entre as matrizes que o compõem (matrizes de relações totais, de produção regional e de margens). Trata-se de um problema complexo solúvel através da aplicação de métodos de ajustamento proporcional em escala superior à bidimensional, o que pode colocar problemas adicionais de convergência e obriga à adopção de métodos iterativos na construção matricial. Tirando partindo da literatura especializada e da experiência do autor na construção de matrizes regionais, nomeadamente na construção da matriz regional de 1998 para os Açores, bem como considerando a fase de arranque da construção de um novo sistema de matrizes regionais no DPP, apresenta-se nesta comunicação uma reflexão sobre aqueles temas, conducente à apresentação de propostas de soluções. Tendo em conta o faseamento dos trabalhos desencadeados no DPP, restringir-nos-emos à avaliação de fluxos inter-regionais não sectorializados e à consistência relativa ao sistema de matrizes de relações totais. Trata-se, por conseguinte, de uma abordagem mais de natureza operacional do que teórica. 1

Fluxos inter-regionais e consistência inter-matricial nos sistemas multi-regionais<br />

(MRIO)<br />

Natalino Martins<br />

natalino@dpp.pt<br />

DPP – <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e <strong>Planeamento</strong><br />

www.dpp.pt<br />

<strong>Documento</strong> apresentado ao 6º Workshop da APDR – 30/04/2010 – Angra do<br />

Heroísmo – Universida<strong>de</strong> dos Açores<br />

Os sistemas <strong>de</strong> matrizes multi-sectoriais multi-regionais são os mais interessantes do<br />

ponto <strong>de</strong> vista da avaliação <strong>de</strong> impactos territoriais <strong>de</strong> variações na procura final,<br />

nacional ou <strong>de</strong> qualquer região, no sentido em que permitem avaliar as<br />

inter<strong>de</strong>pendências entre regiões e, consequentemente, os efeitos difusores, não<br />

apenas intersectoriais, mas também inter-regionais, dos choques <strong>de</strong> procura ocorridos.<br />

Tornam-se, todavia muito exigentes em termos da avaliação dos fluxos <strong>de</strong> comércio<br />

inter-regional e em termos da compatibilização entre as matrizes que constituem o<br />

sistema.<br />

No primeiro caso, no limite, a vantagem está na sectorialização dos fluxos interregionais<br />

<strong>de</strong> produtos (IRIO - Inter-regional input-output account), a qual permite<br />

estabelecer uma interacção mais fina entre sectores produtivos <strong>de</strong> diferentes regiões.<br />

Todavia, não havendo estatísticas <strong>de</strong> comércio inter-regional, mesmo a obtenção<br />

<strong>de</strong>sses fluxos sem sectorialização (sistemas multi-regionais) exige o recurso a<br />

métodos <strong>de</strong> estimação que se tornam muito sensíveis pois vão influenciar o que se<br />

torna essencial na utilida<strong>de</strong> das matrizes, a saber, os multiplicadores inter-regionais.<br />

No segundo caso, para além da consistência intra-matricial (equilíbrios <strong>de</strong> oferta e<br />

procura em cada matriz do sistema) há que assegurar a consistência entre matrizes<br />

regionais e matriz nacional. Se se preten<strong>de</strong>r um sistema <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> produção<br />

regional, adicionalmente torna-se necessário garantir a consistência, em cada região,<br />

entre as matrizes que o compõem (matrizes <strong>de</strong> relações totais, <strong>de</strong> produção regional e<br />

<strong>de</strong> margens). Trata-se <strong>de</strong> um problema complexo solúvel através da aplicação <strong>de</strong><br />

métodos <strong>de</strong> ajustamento proporcional em escala superior à bidimensional, o que po<strong>de</strong><br />

colocar problemas adicionais <strong>de</strong> convergência e obriga à adopção <strong>de</strong> métodos<br />

iterativos na construção matricial.<br />

Tirando partindo da literatura especializada e da experiência do autor na construção<br />

<strong>de</strong> matrizes regionais, nomeadamente na construção da matriz regional <strong>de</strong> 1998 para<br />

os Açores, bem como consi<strong>de</strong>rando a fase <strong>de</strong> arranque da construção <strong>de</strong> um novo<br />

sistema <strong>de</strong> matrizes regionais no DPP, apresenta-se nesta comunicação uma reflexão<br />

sobre aqueles temas, conducente à apresentação <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> soluções. Tendo<br />

em conta o faseamento dos trabalhos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados no DPP, restringir-nos-emos à<br />

avaliação <strong>de</strong> fluxos inter-regionais não sectorializados e à consistência relativa ao<br />

sistema <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> relações totais. Trata-se, por conseguinte, <strong>de</strong> uma abordagem<br />

mais <strong>de</strong> natureza operacional do que teórica.<br />

1


Palavras-chave: Input-output, Mo<strong>de</strong>los multi-regionais, Matrizes inter-regionais,<br />

Consistência matricial, RAS<br />

ÍNDICE<br />

1. Matrizes regionais e multi-regionais: implicações nos métodos <strong>de</strong> construção<br />

2. Fluxos inter-regionais: métodos <strong>de</strong> estimação e sectorialização<br />

3. Níveis <strong>de</strong> consistência nos sistemas multi-regionais: problemática e métodos<br />

4. Conclusões<br />

5. Referências bibliográficas<br />

1. Matrizes regionais e multi-regionais: implicações nos métodos <strong>de</strong><br />

construção<br />

Normalmente, na construção <strong>de</strong> matrizes regionais tem-se distinguido entre a<br />

perspectiva <strong>de</strong>scentralizada – bottom up, em que o construtor não persegue objectivos<br />

<strong>de</strong> compatibilização da(s) matriz(es) regional(ais) com a matriz nacional, e a<br />

perspectiva centralizada – top down, em que o construtor toma a matriz nacional como<br />

um referencial a que o sistema regional <strong>de</strong>verá submeter-se. Na prática, e tomando as<br />

matrizes <strong>de</strong> relações totais a preços <strong>de</strong> aquisição 1 , a consistência inter-matricial<br />

significa que a soma das matrizes relativas a todas as regiões do país <strong>de</strong>verá igualar a<br />

matriz nacional. Esta condição acresce ao equilíbrio entre recursos e empregos em<br />

cada matriz. A consistência inter-matricial nas matrizes <strong>de</strong> produção regional torna-se<br />

mais complexa não cabendo aqui abordá-la.<br />

A opção pelo método centralizado torna-se tanto mais útil para o construtor, quanto<br />

maior for a escassez <strong>de</strong> informação, o que correspon<strong>de</strong> à maioria dos casos<br />

aten<strong>de</strong>ndo à insuficiência dos sistemas estatísticos <strong>de</strong> base. Efectivamente, com este<br />

método, ao invés <strong>de</strong> estimar todos os fluxos e agregados <strong>de</strong> raiz, torna-se possível<br />

“regionalizar” os elementos da matriz nacional, para os quais não se dispõe <strong>de</strong><br />

informação própria suficiente, pelo recurso a proxies – trata-se da metodologia mista<br />

ou híbrida. Esta é, aliás, a prática seguida nas Contas Regionais construídas segundo<br />

os procedimentos estipulados pelo EUROSTAT.<br />

É na perspectiva da consistência inter-matricial, que se torna pertinente questionar se<br />

a distinção entre num extremo, o caso da construção <strong>de</strong> matrizes para uma única<br />

região e, no outro extremo, o da construção <strong>de</strong> matrizes para todas as regiões <strong>de</strong> um<br />

país, não é artificial.<br />

A metodologia seguida pelo autor em projectos <strong>de</strong> construção matricial para uma única<br />

região (casos do Norte, relativa a 1990, e dos Açores, relativa a 1998) baseou-se, nas<br />

primeiras iterações, num sistema a duas regiões – a região <strong>de</strong> referência e o “resto do<br />

1 Que englobam fluxos produzidos e importados, e em que os fluxos englobam todas as margens –<br />

impostos líquidos, comércio e transportes.<br />

2


país”. Todavia, as operações <strong>de</strong> equilíbrio intra-matricial foram efectuadas apenas<br />

para a região <strong>de</strong> referência, o que significa que, na prática, o “resto do país” foi tratado<br />

como um resíduo. No sistema multi-regional <strong>de</strong>senvolvido, com referência ao ano <strong>de</strong><br />

1977 e para as cinco regiões do Continente (quando as únicas matrizes existentes<br />

eram as do ex-GEBEI, e as regiões autónomas não eram abrangidas), a consistência<br />

entre as matrizes regionais e as matrizes do Continente ficou simplificada por, na<br />

estimação do comércio inter-regional, se ter seguido o método dos saldos, o que<br />

significa que todos os enviesamentos <strong>de</strong> estimação dos vários fluxos foram remetidos<br />

para os saldos.<br />

No sistema <strong>de</strong> matrizes para todas as regiões (NUTS II) do País, cuja construção se<br />

está a configurar no DPP, procura-se recorrer a métodos <strong>de</strong> estimação do comércio<br />

inter-regional, alternativos ao método dos saldos, o que coloca a questão da<br />

consistência inter-matricial num patamar <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> bastante mais elevado,<br />

exigindo adaptações nos métodos <strong>de</strong> ajustamento matricial normalmente seguidos, a<br />

saber, o RAS 2 . Num caso e noutro, nas soluções a ensaiar, para além do que se<br />

possa retirar da bibliografia especializada, filtrado pelas disponibilida<strong>de</strong>s estatísticas<br />

nacionais com <strong>de</strong>talhe regional, procura-se também tirar partido <strong>de</strong> alguns ensaios<br />

realizados com a construção da matriz para os Açores.<br />

2. Fluxos inter-regionais: métodos <strong>de</strong> estimação e sectorialização<br />

Na ausência <strong>de</strong> estatísticas <strong>de</strong> comércio inter-regional, a estimação dos fluxos <strong>de</strong><br />

comércio <strong>de</strong> cada produto i entre cada par <strong>de</strong> regiões r e s – – tem sido feita<br />

frequentemente com base em métodos que conduzem à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> um fluxo<br />

líquido <strong>de</strong> exportação ou <strong>de</strong> importação. Trata-se do método dos saldos (aplicável<br />

quando se dispõe da oferta e da procura doméstica e internacional <strong>de</strong> cada produto<br />

em cada região) e do método dos quocientes <strong>de</strong> localização (quando não se dispõe<br />

daquela informação). Ambos os casos têm subjacente uma limitação essencial:<br />

quando o comércio mundial é crescentemente intra-sectorial o comércio inter-regional<br />

assim <strong>de</strong>terminado é do tipo intersectorial.<br />

Sargento (2009) faz uma apresentação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> métodos, incluindo dos<br />

processos <strong>de</strong> sofisticação do método dos quocientes <strong>de</strong> localização que visam<br />

resolver o problema do benchmarking que, na formulação original daquele indicador, é<br />

resolvido <strong>de</strong> forma insatisfatória assimilando a estrutura intersectorial da produção (ou<br />

do emprego) do país à estrutura sectorial <strong>de</strong> procura interna da região. É possível<br />

complementar aqueles métodos com a aplicação <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> crosshauling<br />

share 3 os quais nos dão o peso que o saldo <strong>de</strong> comércio inter-regional tem no valor<br />

bruto das exportações inter-regionais. Conhecidos aqueles parâmetros é possível<br />

<strong>de</strong>terminar, para cada produto, os fluxos <strong>de</strong> importação e exportação inter-regional<br />

(Sargento, 2009).<br />

2 Outros métodos têm sido referidos na literatura, mas os estudos comparativos efectuados, com todas as<br />

suas limitações pois não há verda<strong>de</strong>iramente benchmark, têm apontado para o RAS como sendo o método<br />

mais a<strong>de</strong>quado. Acresce ainda a maior facilida<strong>de</strong> da sua aplicação, comparativamente a outros métodos<br />

mais elaborados (Lenzen, Gallego e Wood, 2008).<br />

3 Que, embora mantendo a <strong>de</strong>signação inglesa, arriscamos traduzir por “parâmetros <strong>de</strong> extracção” das<br />

exportações inter-regionais.<br />

3


O problema está em <strong>de</strong>terminar os valores daquele parâmetro para cada produto (e<br />

para cada par produto / região se estivermos perante um sistema matricial multiregional).<br />

Ramos e Sargento (2003), referidos por Sargento (2009), fizeram<br />

estimações daqueles coeficientes para as regiões portuguesas com base nas<br />

estatísticas <strong>de</strong> fluxos inter-regionais <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> mercadorias mas, como refere<br />

Sargento (2009), a solução revelou-se limitada <strong>de</strong>vido às insuficiências daquelas<br />

estatísticas (nomeadamente as <strong>de</strong>correntes da nomenclatura <strong>de</strong> transportes e da não<br />

cobertura dos serviços, bem como da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir entre os fluxos<br />

entre fornecedor e utilizador <strong>de</strong> cada produto e os fluxos <strong>de</strong> intermediação).<br />

Alves, Martins et al (2004) na matriz dois Açores recorreram às estatísticas <strong>de</strong><br />

transporte marítimo para, com base nas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scarregadas e carregadas nos<br />

portos açorianos (após <strong>de</strong>dução dos fluxos inter-ilhas e internacionais) e nos preços<br />

médios <strong>de</strong> importação e exportação internacionais, proce<strong>de</strong>rem à estimação <strong>de</strong> fluxos<br />

<strong>de</strong> importação e exportação, <strong>de</strong> e para, o resto do país. Para além das limitações<br />

<strong>de</strong>correntes dos problemas <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estatísticas, referidos no parágrafo anterior,<br />

que no caso vertente se esperava ver diminuídas <strong>de</strong>vido à insularida<strong>de</strong> da região, o<br />

método acabou por não ser retido na totalida<strong>de</strong> dos produtos por os resultados, na<br />

confrontação entre oferta e procura regional, não se afigurarem satisfatórios.<br />

Bo e Asao (2005), a partir do cruzamento do carácter probabilístico ou <strong>de</strong>terminístico<br />

dos métodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação daqueles fluxos com a sua fundamentação em escolhas<br />

individuais ou em processos da física social, referem os procedimentos baseados na<br />

escolha individual, que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminísticos ou probabilísticos, e os<br />

procedimentos baseados na física social, que po<strong>de</strong>m ser gravitacionais ou entrópicos.<br />

Na sequência, aqueles autores propõem a inserção das teses da teoria da escolha<br />

<strong>de</strong>terminística na estrutura do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> input-output inter-regional: o fluxo <strong>de</strong><br />

comércio inter-regional <strong>de</strong> cada par produto / região passa assim a ser <strong>de</strong>terminado<br />

pelo preço <strong>de</strong> aquisição (preço no produtor mais custo <strong>de</strong> transporte) e por um<br />

parâmetro <strong>de</strong> substituição (assente na hipótese <strong>de</strong> Armington <strong>de</strong> substituição<br />

imperfeita no comércio entre regiões), po<strong>de</strong>ndo o mo<strong>de</strong>lo ser resolvido como problema<br />

<strong>de</strong> maximização do lucro ou <strong>de</strong> minimização do custo. Para além do cativante<br />

interesse teórico <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> soluções, o problema resi<strong>de</strong> na sua operacionalida<strong>de</strong><br />

tendo em conta as variáveis que se torna necessário valorizar e a ausência <strong>de</strong><br />

informação estatística para o efeito, o que implica o recurso a proxies que são<br />

frequentemente <strong>de</strong> difícil i<strong>de</strong>ntificação.<br />

Lindall, Olson e Alward (2006), estabelecem um mo<strong>de</strong>lo gravitacional com dupla<br />

restrição, baseado no Mo<strong>de</strong>lo IMPLAN <strong>de</strong> Comércio Inter-regional dos EUA, para<br />

estabelecer Coeficientes <strong>de</strong> Compra Regional (Regional Purchase Coefficients). Para<br />

<strong>de</strong>senvolver o seu trabalho apoiaram-se em bases <strong>de</strong> dados associadas àquele<br />

mo<strong>de</strong>lo contendo as distâncias e tempos <strong>de</strong> viagem entre unida<strong>de</strong>s territoriais<br />

estatísticas elementares por modo <strong>de</strong> transporte e as toneladas X milhas percorridas.<br />

Saliente-se que o coeficiente <strong>de</strong> compra regional <strong>de</strong>fine-se pela parcela da procura<br />

regional <strong>de</strong> cada produto que é satisfeita com produção da própria região. Também<br />

Robinson e Liu (2006) recorreram a este tipo <strong>de</strong> conceito para, baseando-se naquelas<br />

fontes <strong>de</strong> dados, estimarem os fluxos <strong>de</strong> mercadorias entre condados do Missouri,<br />

comparando os respectivos resultados com os apurados pelo método dos Quocientes<br />

<strong>de</strong> Localização.<br />

4


Leontief e Strout (referidos em Bo e Asao, 2005) propõem o seguinte mo<strong>de</strong>lo para a<br />

estimação dos fluxos inter-regionais do produto i no contexto <strong>de</strong> um sistema regional<br />

fechado ao exterior:<br />

5<br />

(Eq. 2.1)<br />

Em que representa o fluxo do produto i exportado <strong>de</strong> r para s, a produção <strong>de</strong> i<br />

em r e a procura <strong>de</strong> i em s. constitui um parâmetro <strong>de</strong> atrito da distância sobre<br />

os fluxos inter-regionais que, na nossa interpretação, assimilamos a um parâmetro <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio inter-regional 4 .<br />

Efectivamente, se o atrito da distância é suficientemente gran<strong>de</strong> para que não<br />

haja comércio inter-regional, se é não há qualquer atrito da distância ao<br />

comércio inter-regional, pelo que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio é total. O 2º coeficiente, que<br />

<strong>de</strong>signamos por α, representa a quota da região r na produção <strong>de</strong> i.<br />

Des<strong>de</strong> logo ressalta aqui uma dificulda<strong>de</strong>: T <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> D sendo que para se<br />

conhecer D é preciso conhecer T. Consi<strong>de</strong>rando ainda o sistema regional como<br />

fechado em relação ao exterior, Moses (referido em Bo e Asao, 2005) propõe que:<br />

(Eq. 2.2)<br />

on<strong>de</strong> representa os totais <strong>de</strong> empregos <strong>de</strong> i internos à região s com origem na<br />

própria região, que po<strong>de</strong>mos assimilar a fluxos do produto i produzido e utilizado na<br />

própria região. Daquela equação resulta que:<br />

(Eq. 2.3)<br />

Em 2.1 quanto maiores forem a quota <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> r e o grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comércio entre r e s, maior será a sua quota <strong>de</strong> mercado em s ( ) e,<br />

consequentemente o seu volume <strong>de</strong> exportação para s - . Para além disso, o<br />

parâmetro é único para todas as regiões r, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da propensão <strong>de</strong><br />

4 No sentido da Nova Geografia Económica.


cada região para importar das outras regiões, não relevando também da propensão <strong>de</strong><br />

cada região para exportar.<br />

A formulação <strong>de</strong> sugere, todavia, que po<strong>de</strong>rá gerar-se um problema <strong>de</strong><br />

sobrevalorização das exportações. Concretamente, no limite, quando ambos os<br />

parâmetros são iguais a um (concentração total da produção <strong>de</strong> i em r e liberda<strong>de</strong> total<br />

<strong>de</strong> comércio) toda a procura <strong>de</strong> i por s é sustentada em importações <strong>de</strong> r ( ),<br />

mas a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> vai gerar procura infinita (neste caso, basta que a produção<br />

<strong>de</strong> i em s seja nula).<br />

Uma solução alternativa po<strong>de</strong> passar pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> coeficientes que, ainda que <strong>de</strong><br />

forma indirecta e aproximativa, integrem no mo<strong>de</strong>lo a propensão <strong>de</strong> r para exportar e<br />

também a propensão <strong>de</strong> s para importar das outras regiões, coeficientes que sendo<br />

uniformes, no caso das exportações, para cada região <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino e, no caso das<br />

importações, para cada região <strong>de</strong> origem, acabam por resultar diferenciados <strong>de</strong>vido à<br />

filtragem exercida pelo parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio.<br />

Trata-se <strong>de</strong> ter presente:<br />

Deste modo:<br />

Que a propensão para a exportação inter-regional <strong>de</strong> r <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também da<br />

sua própria procura do produto i. Quanto mais a região pesar na procura <strong>de</strong> i<br />

menor será a sua disponibilida<strong>de</strong> para exportar para as outras regiões; e,<br />

Que a propensão <strong>de</strong> s para a importação inter-regional <strong>de</strong> i <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do seu<br />

peso na procura <strong>de</strong>sse produto.<br />

6<br />

(Eq. 2.4)<br />

Coloca-se novamente o problema da <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> , que nesta formulação se<br />

agrava, pois não apenas permanece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o <strong>de</strong>nominador da função <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r ser igual a zero o que, como se po<strong>de</strong> verificar pela fórmula seguinte,<br />

suce<strong>de</strong>rá sempre que o somatório no <strong>de</strong>nominador for igual a um, como também os<br />

parâmetros e passam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> .<br />

(Eq. 2.5)<br />

Antes <strong>de</strong> passarmos a uma possível aproximação a que possa evitar o recurso à<br />

equação acima indicada, generalizemos aquela solução para um sistema aberto ao<br />

exterior, cuja representação matricial se exprime na 2.2.


Figura 2.2<br />

Matriz <strong>de</strong> fluxos inter-territoriais do produto i<br />

Orig/Dest 1 2 … r s … k e Oferta<br />

1 … …<br />

2<br />

…<br />

… … … … … … … … … …<br />

r<br />

s<br />

…<br />

…<br />

… … … … … … … … … …<br />

k<br />

e<br />

Procura<br />

…<br />

…<br />

…<br />

Consi<strong>de</strong>rando aquela matriz, on<strong>de</strong> as exportações <strong>de</strong> r para o exterior estão<br />

assinaladas como , teremos que:<br />

7<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

(Eq. 2.6)<br />

No quadro das disponibilida<strong>de</strong>s estatísticas, para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> não vemos<br />

outra solução que não a <strong>de</strong> nos basearmos nas primeiras estimativas feitas a partir<br />

das fontes estatísticas. Efectivamente, consi<strong>de</strong>rando o método <strong>de</strong>sconcentrado <strong>de</strong><br />

estimação dos fluxos <strong>de</strong> procura intermédia e final interna <strong>de</strong> cada região, baseado na<br />

regionalização dos fluxos da matriz nacional <strong>de</strong> relações totais, po<strong>de</strong>remos consi<strong>de</strong>rar<br />

que os mesmos abrangem os fluxos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> cada região , mais as<br />

importações internacionais <strong>de</strong> cada região e as importações inter-regionais <strong>de</strong><br />

cada região correspon<strong>de</strong>ntes ao fluxo da origem inicial (o produtor) para <strong>de</strong>stino final<br />

(o utilizador). Isto é, excluem apenas os fluxos <strong>de</strong> intermediação que na matriz<br />

nacional estão consolidados. Por exemplo, se um produto produzido no Norte é<br />

objecto <strong>de</strong> consumo final em Lisboa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar por um intermediário do Centro,<br />

apenas o fluxo entre o Norte e Lisboa está implícito na matriz nacional.<br />

Deste modo, segundo o método <strong>de</strong>sconcentrado, cada fluxo do produto i na matriz<br />

nacional <strong>de</strong> relações totais, correspon<strong>de</strong> a:<br />

(Eq. 2.7)


on<strong>de</strong> , e correspon<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> relações totais <strong>de</strong> i para j<br />

na matriz da região s (fluxo <strong>de</strong> todas as origens).<br />

Por conseguinte, numa primeira fase po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que:<br />

8<br />

(Eq. 2.8)<br />

em que j representa os ramos <strong>de</strong> procura intermédia e <strong>de</strong> procura final interna mais as<br />

exportações internacionais, isto é, só não inclui as exportações inter-regionais.<br />

Deste modo teremos que:<br />

. (Eq. 2.9)<br />

Colocam-se então os problemas da <strong>de</strong>terminação do parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comércio <strong>de</strong> cada produto e da aferição dos fluxos <strong>de</strong> comércio assim <strong>de</strong>terminados.<br />

Para a obtenção do parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio po<strong>de</strong>r-se-á recorrer a<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> inter-acção espacial, ou a procedimentos mais elementares, recorrendo,<br />

por exemplo, às matrizes <strong>de</strong> transporte inter-regionais (ITR complementado pela<br />

matriz <strong>de</strong> transportes ferroviários). Po<strong>de</strong>-se inclusivamente recorrer a um método<br />

misto, em que se estima o grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio inter-regional apenas para<br />

os produtos pon<strong>de</strong>rosos consi<strong>de</strong>rando-se igual a um nos restantes casos.<br />

Saliente-se que, nas condições <strong>de</strong> Portugal Continental, os custos <strong>de</strong> transporte não<br />

são muito relevantes pois as distâncias também não o são, exceptuando entre regiões<br />

antípodas na direcção norte – sul, e as diferenças <strong>de</strong> especialização “impõem”<br />

<strong>de</strong>terminados fluxos inter-regionais. A geografia produtiva do país dá-nos alguns<br />

exemplos, como o da cortiça produzida no Alentejo e transformada no Norte, embora<br />

tratando-se <strong>de</strong> um produto pon<strong>de</strong>roso. O custo <strong>de</strong> transporte para as regiões<br />

autónomas torna-se mais relevante, todavia a sua posição insular e ultraperiférica em<br />

relação aos espaços continentais acaba por beneficiar o Continente que lhes é mais<br />

próximo.<br />

Todavia, mesmo apenas no caso do Continente, como se po<strong>de</strong> ver pelas figuras 2.1 e<br />

2.2, em 2007, os volumes totais <strong>de</strong> tráfegos em toneladas inter-regionais, segundo o<br />

Inquérito ao Transporte Rodoviário <strong>de</strong> Mercadorias, são bastante inferiores aos<br />

volumes intra-regionais, e ten<strong>de</strong>m a diminuir à medida que passamos <strong>de</strong> regiões<br />

contíguas para regiões não contíguas. Naturalmente que os tráfegos por produto<br />

po<strong>de</strong>rão apresentar perfis territoriais diversificados em que aquela característica não<br />

seja observada. Uma avaliação mais <strong>de</strong>talhada permitirá respon<strong>de</strong>r a essa questão e<br />

ajudar a melhor <strong>de</strong>cidir sobre os procedimentos a adoptar.


Figura 2.1<br />

Peso do transporte rodoviário <strong>de</strong> mercadorias inter-regional no transporte intraregional<br />

2007 - origens<br />

1,000<br />

0,800<br />

0,600<br />

0,400<br />

0,200<br />

0,000<br />

Fonte: DPP baseado em ITR/INE<br />

Figura 2.2<br />

Peso do transporte rodoviário <strong>de</strong> mercadorias inter-regional no transporte intraregional<br />

2007 - <strong>de</strong>stinos<br />

1,000<br />

0,800<br />

0,600<br />

0,400<br />

0,200<br />

0,000<br />

Fonte: DPP baseado em ITR/INE<br />

9<br />

Algarve<br />

Alentejo<br />

Lisboa<br />

Centro<br />

Norte<br />

Algarve<br />

Alentejo<br />

Lisboa<br />

Centro<br />

Norte<br />

Norte<br />

Centro<br />

Lisboa<br />

Alentejo<br />

Algarve<br />

Norte<br />

Centro<br />

Lisboa<br />

Alentejo<br />

Algarve


Para aferição dos fluxos inter-regionais estimados segundo a metodologia que se<br />

propõe, po<strong>de</strong>-se estipular que os mesmos <strong>de</strong>vem assegurar que o saldo <strong>de</strong> r daí<br />

resultante, iguale o saldo que resulta do diferencial entre recursos e empregos da<br />

região r, antes da <strong>de</strong>terminação das exportações e importações inter-regionais.<br />

Admite-se, assim, que as reexportações inter-regionais são nulas.<br />

Deste modo, consi<strong>de</strong>rando o total <strong>de</strong> exportações <strong>de</strong> i, <strong>de</strong> r para as outras regiões<br />

como sendo<br />

10<br />

(Eq. 2.10)<br />

e o total <strong>de</strong> importações <strong>de</strong> i por r, provenientes das outras regiões, como sendo<br />

tem que se garantir que, para cada produto i,<br />

(Eq. 2.11)<br />

(Eq. 2.12)<br />

em que correspon<strong>de</strong> à produção <strong>de</strong> i em r, correspon<strong>de</strong> à importação<br />

internacional <strong>de</strong> i por r, correspon<strong>de</strong> ao total <strong>de</strong> margens inci<strong>de</strong>ntes no produto i na<br />

região r e correspon<strong>de</strong> à procura <strong>de</strong> i interna da região r estimada com a equação<br />

2.8.<br />

Uma vez que, como vimos acima, o cálculo dos fluxos inter-regionais é <strong>de</strong>terminado e<br />

<strong>de</strong>termina a procura regional do produto i, a aplicação <strong>de</strong> todo o algoritmo <strong>de</strong> cálculo<br />

dos fluxos inter-regionais tem <strong>de</strong> ser efectuada <strong>de</strong> forma iterativa e os ajustamentos<br />

com as margens previamente fixadas tem <strong>de</strong> ser feito por procedimento RAS ou outro<br />

semelhante.<br />

Porque o RAS não é aplicável a diferenças, o procedimento a seguir <strong>de</strong>verá ser o<br />

apresentado na secção seguinte, consi<strong>de</strong>rando-se os como correspon<strong>de</strong>ndo aos<br />

recursos totais do ramo j e o como correspon<strong>de</strong>ndo aos empregos do produto i.<br />

Haverá, no entanto, que garantir, no caso dos fluxos inter-regionais, que o total <strong>de</strong><br />

importações inter-regionais <strong>de</strong> cada produto tem <strong>de</strong> igualar o total <strong>de</strong> exportações<br />

inter-regionais <strong>de</strong>sse mesmo produto, o que significa introduzir uma restrição <strong>de</strong><br />

compatibilida<strong>de</strong> inter-regional diferente da aplicada às restantes colunas da matriz.<br />

Não está no âmbito do projecto DPP, na primeira fase, proce<strong>de</strong>r à sectorialização dos<br />

fluxos inter-regionais, <strong>de</strong>terminando os sectores <strong>de</strong> origem e <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> cada fluxo<br />

inter-regional – fluxos intersectoriais inter-regionais (IRIO – Interregional Input-output).<br />

Para a estimação <strong>de</strong>sses fluxos há procedimentos sofisticados, nomeadamente os que<br />

envolvem a programação quadrática ou funções <strong>de</strong> entropia (Canning e Wang, 2005)<br />

que, partindo <strong>de</strong> estimativas iniciais <strong>de</strong>sses fluxos, visam garantir a sua coerência com<br />

o sistema multi-regional na sua globalida<strong>de</strong> e permitem atenuar o problema da<br />

explosão dimensional que po<strong>de</strong> ocorrer quando, nas aplicações reais, se acrescentam<br />

os fluxos intersectoriais inter-regionais aos sistemas multi-regionais. Trata-se <strong>de</strong><br />

metodologias a explorar no caso da extensão do projecto do sistema multi-regional do<br />

DPP àqueles fluxos.


3. Níveis <strong>de</strong> consistência nos sistemas multi-regionais: problemática e<br />

métodos<br />

O RAS constitui um procedimento, já muito disseminado, <strong>de</strong> ajustamento biproporcional<br />

<strong>de</strong> matrizes, visando minimizar os <strong>de</strong>svios entre as somas em linha e em<br />

coluna <strong>de</strong> uma matriz e as margens tomadas como objectivo para a matriz que se<br />

preten<strong>de</strong> apurar. Trata-se <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong><br />

matrizes <strong>de</strong> input-output. Aplica-se a matrizes bidimensionais, e segue um<br />

procedimento iterativo <strong>de</strong> ajustamento proporcional, alternadamente em linha e em<br />

coluna, até os referidos <strong>de</strong>svios se reduzirem para níveis consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>sprezíveis.<br />

Reunindo as condições <strong>de</strong> convergência, os <strong>de</strong>svios que se vão obtendo em cada<br />

iteração vão ten<strong>de</strong>ndo para zero.<br />

O RAS não é totalmente estranho aos procedimentos <strong>de</strong> programação quadrática e <strong>de</strong><br />

entropia, como referem (Canning e Wang, 2005) ao escreverem que the entropy<br />

function is motivated from the information theory and is the objective function<br />

un<strong>de</strong>rlying the wellknown RAS procedure e que, no caso da solução quadrática, When<br />

the initial estimates are taken as the weights, solution of the mo<strong>de</strong>l gives a weighted<br />

constrained least-square estimator, which is … a good approximation of the RAS<br />

solution.<br />

No caso dos mo<strong>de</strong>los multi-regionais surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r a<br />

ajustamentos matriciais em sistemas tridimensionais, uma vez que, para além <strong>de</strong> se<br />

ter <strong>de</strong> garantir o equilíbrio interno a cada matriz regional do sistema, tem que se<br />

garantir a consistência dos fluxos <strong>de</strong> cada matriz regional com os fluxos homólogos da<br />

matriz nacional. Em termos muito simples, e como se referiu já na secção anterior, tem<br />

que se garantir que fluxo nacional tem <strong>de</strong> ser igual à soma dos fluxos regionais<br />

homólogos, isto é:<br />

11<br />

(Eq. 3.1)<br />

O algoritmo que se apresenta <strong>de</strong> seguida constitui uma solução para este problema e<br />

<strong>de</strong>signamo-lo <strong>de</strong> RAS por ciclos a dois tempos uma vez que, iterativamente, em<br />

cada ciclo se proce<strong>de</strong> sequencialmente:<br />

a um ajustamento inter-regional intra-sectorial, em que, para cada sector, se<br />

estabelece a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o somatório dos fluxos regionais e o<br />

correspon<strong>de</strong>nte fluxo nacional, como se ilustra na equação 3.1; e,<br />

a um ajustamento intra-regional intersectorial, em que cada matriz regional é<br />

tornada consistente com as margens que lhe são previamente fixadas, isto é:<br />

e .<br />

A figura 3.1 ilustra este processo, e na figura 3.2 proce<strong>de</strong>-se a uma explicitação da sua<br />

aplicação a um sistema matricial a dois sectores e duas regiões. Havendo<br />

convergência matricial em cada tempo <strong>de</strong> cada ciclo, haverá convergência entre<br />

tempos.


Para aplicar este procedimento <strong>de</strong> RAS, parte-se da estimativa inicial da<br />

regionalização <strong>de</strong> cada uma das colunas da matriz (1º tempo do 1º ciclo) e no segundo<br />

tempo proce<strong>de</strong>-se à composição da matriz <strong>de</strong> cada região e, com o RAS, proce<strong>de</strong>-se<br />

ao seu ajustamento <strong>de</strong> modo a garantir a consistência em linha salvaguardando a<br />

consistência em coluna. No 1º tempo do ciclo 2, recompõem-se as matrizes interregionais<br />

por ramo e, através do RAS, proce<strong>de</strong>-se à compatibilização <strong>de</strong> cada uma<br />

com a respectiva coluna da matriz nacional, salvaguardando a sua consistência em<br />

coluna.<br />

Genericamente, em cada ciclo t, reequilibra-se a matriz inter-regional <strong>de</strong> cada ramo<br />

herdada do ciclo t-1, tornando a soma das suas colunas (as regiões) idêntica à coluna<br />

homónima da matriz nacional, <strong>de</strong>sequilibrando cada matriz regional. No 2º tempo,<br />

recompõe-se a matriz <strong>de</strong> cada região com as matrizes inter-regionais <strong>de</strong> cada ramo, e<br />

proce<strong>de</strong>-se, através do RAS, ao seu ajustamento <strong>de</strong> modo a que as somas em linha e<br />

coluna gerem o mesmo valor para cada produto e ramo homónimos (equilíbrio <strong>de</strong> input<br />

e <strong>de</strong> output), rompendo a condição <strong>de</strong> equilíbrio inter-regional em cada ramo.<br />

Por conseguinte, o processo assenta numa alternância <strong>de</strong> equilíbrios – <strong>de</strong>sequilíbrios<br />

que ten<strong>de</strong>m a ser progressivamente menores: estabelece-se o equilíbrio inter-regional<br />

intra-sectorial rompendo o equilíbrio intra-regional intersectorial; restabelece-se este<br />

último rompendo o primeiro, e assim sucessivamente.<br />

Respeitadas as condições <strong>de</strong> convergência 5 , os vectores <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio entre a matriz e as<br />

margens objectivo no final <strong>de</strong> cada tempo <strong>de</strong> cada iteração, ten<strong>de</strong>rão para zero. Feito<br />

um número <strong>de</strong> ciclos suficiente, os <strong>de</strong>svios serão marginais e po<strong>de</strong>rão ser<br />

<strong>de</strong>sprezados.<br />

Na figura 3.2, as setas a vermelho indicam a dimensão em que, no tempo anterior se<br />

reintroduziram discrepâncias que <strong>de</strong>vem ser anuladas com a aplicação do RAS nesse<br />

tempo.<br />

Este procedimento foi aplicado na matriz dos Açores (Alves, Martins et al, 2004) a uma<br />

situação (o apuramento <strong>de</strong> outputs por produto e <strong>de</strong> inputs por subsector do sector<br />

primário, para os Açores e para o Resto do País) um pouco mais complexa no sentido<br />

em que não se verificava a igualda<strong>de</strong> entre inputs e outputs em cada matriz, impondo<br />

assim que cada ciclo comportasse três tempos. Certamente que, trabalhando a sete<br />

regiões e várias <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> sectores o cálculo torna-se mais pesado e, por isso, mais<br />

exigente em termos informáticos. Simultaneamente, a aplicação concreta do método<br />

exige várias truncagens (<strong>de</strong> todos os elementos que se <strong>de</strong>vam consi<strong>de</strong>rar fixos) e a<br />

resolução dos problemas <strong>de</strong> convergência em presença <strong>de</strong> fluxos negativos. Não<br />

trataremos aqui <strong>de</strong>ssas questões. Há também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um procedimento<br />

específico para os fluxos inter-regionais, como <strong>de</strong>corre do exposto na secção anterior.<br />

Cabe, no entanto, referir que no caso dos fluxos negativos se po<strong>de</strong> recorrer à<br />

segmentação da matriz a ajustar em duas, uma <strong>de</strong> valores positivos e outra <strong>de</strong> valores<br />

negativos. Trata-se do método GRAS <strong>de</strong>senvolvido por Junius e Oosterhaven (2003)<br />

referido por Lenzen, Gallego e Wood (2008). Estes autores propõem uma extensão do<br />

5 Que po<strong>de</strong> ser impossibilitada nos casos <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> valores negativos e <strong>de</strong> insuficiente<br />

preenchimento da matriz <strong>de</strong> partida face às margens objectivo estabelecidas. Para além disso, as margens<br />

<strong>de</strong>vem ser estabelecidas com valores pontuais, não admitindo <strong>de</strong>finições por intervalos (Lenzen, Gallego<br />

e Wood, 2008, referindo Taracon e Del Rio, 2005)<br />

12


GRAS, que <strong>de</strong>signam por KRAS, com que preten<strong>de</strong>m evitar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acertos<br />

manuais na truncagem. A solução proposta, que não cabe aqui <strong>de</strong>senvolver, baseia-se<br />

na já referida analogia do RAS à minimização <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> entropia.<br />

Figura 3.1<br />

Ajustamento matricial biproporcional num procedimento cíclico a dois tempos<br />

13


Figura 3.2<br />

Aplicação do ajustamento matricial biproporcional num procedimento cíclico a dois<br />

tempos, a uma economia a duas regiões e dois sectores<br />

14


4. Conclusões<br />

A estimação <strong>de</strong> matrizes multi-regionais é muito exigente em informação, e apresenta,<br />

entre outros, dois gran<strong>de</strong>s problemas: os fluxos inter-regionais, especialmente se<br />

forem, simultaneamente intersectoriais (matrizes <strong>de</strong> relações intersectoriais interregionais)<br />

e a compatibilização entre diferentes tipos <strong>de</strong> matrizes e níveis territoriais<br />

(consistência matricial).<br />

Para a estimação dos fluxos inter-regionais, vários tipos <strong>de</strong> soluções têm sido<br />

<strong>de</strong>senvolvidas. Umas, menos exigentes em informação estatística, têm o<br />

inconveniente <strong>de</strong> assentarem numa perspectiva <strong>de</strong> comércio inter-sectorial quando a<br />

abertura das economias tem acentuado o carácter intra-sectorial do comércio externo.<br />

Outras, porventura com resultados mais interessantes, são muito mais exigentes em<br />

informação o que as torna inviáveis nos países com sistemas estatísticos mais fracos<br />

nesta perspectiva.<br />

Neste texto, apresenta-se uma proposta que assenta na exploração da solução <strong>de</strong><br />

Leontief e Strout, introduzindo parâmetros <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação da oferta e procura regional<br />

<strong>de</strong> comércio inter-regional, e propondo uma solução para a <strong>de</strong>terminação prévia da<br />

procura regional <strong>de</strong> cada produto que sirva como base para a primeira iteração da<br />

estimação dos fluxos inter-regionais <strong>de</strong> comércio por produto, quantificados por origem<br />

e <strong>de</strong>stino. Trata-se <strong>de</strong> um procedimento ainda não testado, mas que se prevê que o<br />

venha a ser no âmbito do projecto <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> matrizes regionais<br />

para as sete regiões NUTS II nacionais, em curso no <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e<br />

<strong>Planeamento</strong> do MAOT.<br />

Relativamente à consistência matricial, preconiza-se uma aplicação do RAS por ciclos<br />

a dois tempos, em que alternadamente se proce<strong>de</strong> ao ajustamento inter-regional <strong>de</strong><br />

cada ramo das matrizes regionais, compatibilizando-as com a matriz nacional, e ao<br />

ajustamento <strong>de</strong> cada matriz regional, compatibilizando-a com as respectivas margens.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um procedimento já aplicado, noutra dimensão, na matriz regional dos<br />

Açores <strong>de</strong> 1998.<br />

5. Referências bibliográficas<br />

Alves, Martins et al, (2004), Sistema <strong>de</strong> Matrizes Regionais <strong>de</strong> Input-Output para a<br />

Região Autónoma dos Açores 1998; Relatório Metodológico e Resultados,<br />

Subsecretário Regional do <strong>Planeamento</strong> e Assuntos Europeus, Direcção Regional <strong>de</strong><br />

Estudos e <strong>Planeamento</strong>, Abril <strong>de</strong> 2004.<br />

Bo, M. and Asao, A., (2005), An Economic Derivation of Tra<strong>de</strong> Coefficients un<strong>de</strong>r the<br />

Framework of Multi-regional I-O Analysis, Institute of Developing Economies - JETRO,<br />

Discussion Paper nº 29, Chiba, Japan<br />

Canning, P. and Wang, Z., (2005), A flexible mathematical programming mo<strong>de</strong>l to<br />

estimate interregional input-output accounts, Journal of Regional Science, Vol. 45, nº<br />

3, 2005, pp. 539-563<br />

15


Lenzen, M., Gallego, B. and Wood, R., (2008), , in Economic Systems Research, 2009,<br />

Vol. 21(1), 2009, pp. 23-44, Journal of the International Input-Output Association, ISSN<br />

0953-5314.<br />

Leontief, W. and Strout, A., Multi-regional input-output analysis, in T. Barna, (ed.),<br />

Structural Inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce amd Economic Development, St. Martin’s Press, 1963.<br />

Moses, L., The stability of interregional trading patterns and input-output analysis, the<br />

American Economic Review, 45(5), 1955<br />

Lindall, S., Olson and D., Alward, G., (2006), Deriving Multi-Regional Mo<strong>de</strong>ls Using the<br />

IMPLAN National Tra<strong>de</strong> Flows Mo<strong>de</strong>l, MCRSA Presi<strong>de</strong>ntial Symposium – 36 th Annual<br />

Conference; The Journal of Regional Analysis and Policy 36(1): 76-83.<br />

Robinson, D. and Liu, Z., (2006), The Effects of Interregional Tra<strong>de</strong> Flow Estimating<br />

Procedures on Multiregional Social Accounting Matrix Multipliers, MCRSA Presi<strong>de</strong>ntial<br />

Symposium – 36 th Annual Conference; The Journal of Regional Analysis and Policy<br />

36(1): 94-114.<br />

Ramos, and P., Sargento, A., (2003), “Estimating tra<strong>de</strong> flows between Portuguese<br />

regions using an input-output approach”, 43th Congress of the European Regional<br />

Science Association, Jyvăskylă (Finland), August 27-30, 2003<br />

Sargento, A., (2009), Introducing Input-Output Analysis at the Regional Level, Basic<br />

Notions and Specific Issues; REAL 09-T-4, www.real.illinois.edu.<br />

Taracon, M. and P. Del Rio (2005), Projection of Input-Output Tables by Means of<br />

Mathematical Programming Based on the Hypothesis of Stable Structural Evolution,<br />

Economic Systems Research, 17, 1-23<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!