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Maria Amália Façanha Berger - Grupo de Estudos e Pesquisas

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

A EDUCAÇÃO E OS NOVOS PADRÕES<br />

DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO<br />

<strong>Maria</strong> <strong>Amália</strong> <strong>Façanha</strong> <strong>Berger</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes, amaliaberger@hotmail.com 1<br />

Rosilene Pimentel Santos Rangel<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sergipe, rosilenepimentel@gmail.com 2<br />

RESUMO<br />

O presente artigo analisa a relação entre os novos padrões <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e a<br />

educação, através <strong>de</strong> pesquisa teórico-bibliográfica, consi<strong>de</strong>rando que no contexto das últimas<br />

décadas o <strong>de</strong>bate em torno das transformações no mundo do trabalho ganhou espaço e<br />

consolidou-se como um dos pólos <strong>de</strong> referência para se compreen<strong>de</strong>r as mudanças na<br />

educação. Essas transformações, por sua vez, encontram-se associadas aos contextos<br />

socioeconômico e político, marcados pelo neoliberalismo e pela reestruturação produtiva,<br />

intermediados pela globalização e pela mundialização do capital, pela nova divisão<br />

internacional do trabalho e pela inserção <strong>de</strong> um novo padrão tecnológico <strong>de</strong> base<br />

microeletrônica, com ênfase na Internet. Como resultado, novas exigências são impostas<br />

quanto à qualificação do novo tipo <strong>de</strong> trabalhador que o mercado passa a requerer.<br />

Palavras-chave: Educação. Padrões <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. Mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

ABSTRACT<br />

This article analyzes the relationship between the new patterns of technological <strong>de</strong>velopment<br />

and education through bibliographic research, consi<strong>de</strong>ring all in the context of the <strong>de</strong>bate of<br />

the past few <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s around the transformations in the work world that has gained space and<br />

consolidated itself as one of the references for the un<strong>de</strong>rstanding of changes in education.<br />

Such transformations are associated to socioeconomic and political contexts that are marked<br />

by the neoliberalism paradigm and by productive restructuring, and mediated by<br />

globalization, by the mundialization of capital, by the new international division of work, and<br />

by the insertion of a new technological pattern of microelectronic base mainly related to the<br />

Internet. As a result, new <strong>de</strong>mands are imposed as for the qualification of a new type of<br />

worker that is required in the job market.<br />

Keywords: Education. Patterns of technological <strong>de</strong>velopment. Job market.


1 INTRODUÇÃO<br />

IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

O papel que as NTICs ocupam em nossa socieda<strong>de</strong> gera uma necessida<strong>de</strong> real <strong>de</strong><br />

reflexão, principalmente quando o ensino passa a ser uma fonte muito lucrativa <strong>de</strong> aplicação<br />

do capital, ao ser organizado e administrado conforme a lógica das empresas. O aprendiz hoje<br />

é visto como um cliente, muito embora esse fato não fique explícito, mas seja sutilmente<br />

apresentado; e a idéia <strong>de</strong> educação e treinamento constantes, principalmente <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><br />

mudanças trazidas pelas inovações tecnológicas, é vendida como mercadoria a um público<br />

que, <strong>de</strong>vido ao contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego em massa, na tentativa <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, inicia numa busca <strong>de</strong>sesperada por qualificação, entendida aqui <strong>de</strong> acordo com<br />

análise <strong>de</strong> Lúcia Bruno (1996, p.92) da seguinte forma:<br />

[...] qualificação diz respeito à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> tarefas requeridas<br />

pela tecnologia capitalista. [...] é qualificada aquela força <strong>de</strong> trabalho capaz <strong>de</strong><br />

realizar tarefas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado patamar tecnológico e <strong>de</strong> uma<br />

forma <strong>de</strong> organização do processo <strong>de</strong> trabalho.<br />

Pensar em níveis satisfatórios <strong>de</strong> qualificação profissional <strong>de</strong>ntro do modo <strong>de</strong><br />

produção flexível, por exemplo, leva à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação da escola às mudanças no<br />

mundo do trabalho para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda por profissionais que estejam preparados para<br />

atuar <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e criativa. Porém, fica complicado falar em qualificação em<br />

países on<strong>de</strong> os investimentos na área da educação ainda não garantem, para a maioria da<br />

população, o grau <strong>de</strong> competência que o mercado exige, principalmente no momento atual<br />

que requer gran<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> intelectual, permeado pelos constantes avanços tecnológicos.<br />

Com a mudança <strong>de</strong> foco em relação à qualificação do trabalhador e do papel da escola<br />

nesse contexto, a globalização da economia mundial vem criando necessida<strong>de</strong>s que tiveram<br />

início no século passado, provocando o surgimento <strong>de</strong> um novo perfil <strong>de</strong> trabalhador, cuja<br />

formação precisa aten<strong>de</strong>r às novas <strong>de</strong>mandas do mercado, tornando-o mais qualificado<br />

intelectualmente. A análise <strong>de</strong> Ianni a respeito da globalização do capital enfatiza que:<br />

O modo pelo qual o capitalismo se globaliza, articulando e rearticulando as<br />

mais diversas formas <strong>de</strong> organização técnica da produção, envolve ampla<br />

transformação na esfera do trabalho, no modo pelo qual o trabalho entra na<br />

organização social da vida do indivíduo, da família, do grupo, da classe e da<br />

coletivida<strong>de</strong>, em todas as nações e continentes, ilhas e arquipélagos (IANNI,<br />

2001, p.19).<br />

Configura-se hoje, portanto, uma situação mundial diferente da criada pelo<br />

Taylorismo, que não exigia trabalhadores intelectualmente preparados, mas que tinha o foco<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

no trabalho manual. Ainda que o Brasil esteja em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem tecnológica e<br />

estrutural e, conforme Aranha (1999, p.152), seja um país “[...] on<strong>de</strong> o processo <strong>de</strong><br />

reestruturação não vem dando mostras <strong>de</strong> uma ‘bem-sucedida’ entrada no cenário da Terceira<br />

Revolução Industrial”, as discussões sobre a a<strong>de</strong>quação do ensino às necessida<strong>de</strong>s do mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho mundial fazem parte da pauta relativa aos <strong>de</strong>stinos da educação brasileira, pois<br />

essa é a lógica que rege a socieda<strong>de</strong> globalizada.<br />

Um dos pontos discutidos na Conferência Mundial sobre o Ensino Superior <strong>de</strong> 1998<br />

trata justamente <strong>de</strong>ssa aproximação entre a escola e o mundo do trabalho, enfatizando que:<br />

“[...] é imperativo que o ensino superior se adapte às transformações do mundo do trabalho,<br />

mas sem per<strong>de</strong>r sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria e suas priorida<strong>de</strong>s no que concerne às necessida<strong>de</strong>s em<br />

longo prazo da socieda<strong>de</strong>” (1999, p.131). Com base nessa afirmação, este estudo traz<br />

reflexões a respeito dos rumos que a escola <strong>de</strong>ve tomar tendo como foco questões importantes<br />

presentes na Nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96.<br />

2 A LDB, OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS E OS RUMOS DA EDUCAÇÃO<br />

SUPERIOR<br />

Dentro do novo tipo <strong>de</strong> qualificação exigida, o domínio tecnológico funciona como<br />

um elemento norteador da competitivida<strong>de</strong> nas relações <strong>de</strong> trabalho e que <strong>de</strong> certa forma<br />

promove, através da educação, os ajustes necessários à manutenção do sistema. Apesar <strong>de</strong><br />

este direcionamento estar presente no texto da nova LDB, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar que o<br />

que consta na lei nem sempre correspon<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong>.<br />

A análise do documento é apenas uma alternativa que, mesmo não sendo suficiente,<br />

serve para que possamos ter uma idéia do impacto da reestruturação do capital na educação.<br />

Assim, nossas consi<strong>de</strong>rações cumprem somente registrar o que no texto <strong>de</strong>sta lei se relaciona<br />

com a ênfase dada à educação na preparação dos indivíduos para o mundo do trabalho, face<br />

ao patamar <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que a nova sociabilida<strong>de</strong> tecnológica necessita, <strong>de</strong>ntro do<br />

padrão atual <strong>de</strong> reestruturação produtiva.<br />

Não preten<strong>de</strong>mos discutir aqui todo o mundo do trabalho, mas criar um recorte que<br />

permita compreen<strong>de</strong>r até que ponto o uso <strong>de</strong> novas tecnologias na educação <strong>de</strong>ve-se a uma<br />

<strong>de</strong>manda capitalista do mercado <strong>de</strong> trabalho e às mudanças transcorridas no mundo do<br />

trabalho. Para tal, subsidiaremos a discussão com a análise <strong>de</strong> Harvey sobre essa relação:<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

[...] o capitalismo está se tornando cada vez mais organizado através da<br />

dispersão, da mobilida<strong>de</strong> geográfica e das respostas flexíveis nos mercados <strong>de</strong><br />

trabalho, nos processos <strong>de</strong> trabalho e nos mercados <strong>de</strong> consumo, tudo isso<br />

acompanhado por pesadas doses <strong>de</strong> inovação tecnológica, <strong>de</strong> produto e<br />

institucional (HARVEY, 1992, p.150-1).<br />

Sob o foco na tecnologia, i<strong>de</strong>ntificamos em nossas leituras que a primeira referência à<br />

questão tecnológica na nova LDB é inserida a partir do ensino fundamental no Artigo 32, que<br />

enfatiza a formação básica do cidadão, mediante “II - a compreensão do ambiente natural e<br />

social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a<br />

socieda<strong>de</strong>”. 3 Todavia, sua explicitação mais clara se encontra na etapa final da educação<br />

básica, o ensino médio, quando ressalta <strong>de</strong>ntro das suas finalida<strong>de</strong>s “a compreensão dos<br />

fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a<br />

prática, no ensino <strong>de</strong> cada disciplina”. 4<br />

Nessa perspectiva, o currículo <strong>de</strong>verá contemplar como uma <strong>de</strong> suas diretrizes “a<br />

educação tecnológica básica” e que o educando, ao concluir o ensino médio, precisará<br />

<strong>de</strong>monstrar “domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presi<strong>de</strong>m a produção<br />

mo<strong>de</strong>rna”. 5 Neste sentido, apresenta uma nítida articulação com a formação do estudante<br />

voltada para o aspecto tecnológico do setor produtivo.<br />

No tocante à educação superior, o cunho tecnológico assume na nova LDB, junto à<br />

pesquisa, à investigação científica e à formação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> nível universitário, um<br />

papel relevante na organização, <strong>de</strong>senvolvimento e resolução dos problemas sociais presentes<br />

em nossa socieda<strong>de</strong>. Essa contextualização, portanto, eleva o ensino superior a um patamar no<br />

qual a pesquisa, ensino e extensão encontram-se agregados no intuito <strong>de</strong> “promover a<br />

divulgação <strong>de</strong> conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da<br />

humanida<strong>de</strong>”. 6 Não obstante, esses pontos estão direcionados a um único fim: “<strong>de</strong>senvolver o<br />

entendimento do homem e do meio em que vive”, formando “diplomados nas diferentes áreas<br />

do conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais”. 7 Portanto, acaba por<br />

acentuar a formação do estudante para o mercado profissional.<br />

Notadamente, observa-se no texto da nova lei uma preocupação especial com a<br />

educação superior e no que ela representa para o capital em termos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

profissionais capacitados para produzir e reproduzir, além da mais-valia, os valores<br />

previamente <strong>de</strong>terminados pela socieda<strong>de</strong> capitalista, viabilizando assim que o ser social no<br />

processo <strong>de</strong> reprodução reaja <strong>de</strong> modo socialmente almejado. Mas é claro que isso não po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rado como uma forma engessada, uma vez que nas universida<strong>de</strong>s a apropriação do<br />

conhecimento vem acompanhada <strong>de</strong> reflexões e <strong>de</strong>bates que embasam, <strong>de</strong>smistificam ou<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

confirmam as questões presentes no senso comum, em busca <strong>de</strong> uma construção e<br />

reconstrução do conhecimento que ultrapasse os limites <strong>de</strong> uma formação predominantemente<br />

reprodutora.<br />

Cabe aqui salientar as alterações que nossa legislação educacional sofreu na tentativa<br />

<strong>de</strong> inserir o Brasil no novo padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento mundial. O governo Fernando Collor,<br />

por exemplo, foi o propulsor da a<strong>de</strong>são brasileira aos postulados do neoliberalismo no intuito<br />

<strong>de</strong> superar a inflação, ou seja, ele abriu os caminhos para que o i<strong>de</strong>ário neoliberal <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

seu programa <strong>de</strong> reestruturação produtiva promovesse um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>smonte do Estado<br />

Nacional. Dentro <strong>de</strong>ssa mesma perspectiva, o governo <strong>de</strong> Fernando Henrique Cardoso <strong>de</strong>u<br />

continuida<strong>de</strong> ao programa <strong>de</strong> Collor, procurando aten<strong>de</strong>r às recomendações propostas pelo<br />

Consenso <strong>de</strong> Washington. 8<br />

Ao situarmos a educação nesse contexto, observamos que todas as mudanças<br />

empreendidas tiveram como pressuposto a superação da crise e colaboraram para que a<br />

produção do conhecimento, do saber, passasse a ser uma mercadoria essencial a serviço dos<br />

ditames do capital. Os reflexos <strong>de</strong>ssa mudança são nitidamente observáveis hoje nas<br />

exigências impostas pelo mercado <strong>de</strong> trabalho no que se refere à qualificação profissional<br />

requerida ao trabalhador. Porém, o acesso a este saber, além <strong>de</strong> restrito, é fragmentado em<br />

consonância com o tipo <strong>de</strong> ensino que o indivíduo tenha possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressar. Isto é,<br />

Para uma maioria daqueles que realiza ou realizarão tarefas mais simples no<br />

mundo do trabalho oferece-se uma escolarização mínima <strong>de</strong> oito séries. Para<br />

aqueles que efetuam ou possam vir a efetuar tarefas simples um pouco mais<br />

elaboradas, a terminalida<strong>de</strong> da sua trajetória educacional é conseguida pela<br />

conclusão do ensino médio profissionalizante, em geral oferecido pelo<br />

Estado, em parceria com entida<strong>de</strong>s empresariais. Para aqueles “cidadãos <strong>de</strong><br />

1ª classe”, uns mais do que outros, ou seja, para aqueles que realizam tarefas<br />

complexas na produção, <strong>de</strong> diferentes níveis, a trajetória escolar agora<br />

flexibilizada, no dizer oficial, compreen<strong>de</strong>: escolarização básica (ensino<br />

fundamental e ensino médio propedêutico ao ensino superior) realizada<br />

majoritariamente na re<strong>de</strong> privada <strong>de</strong> ensino, confessional ou laica; ensino<br />

superior <strong>de</strong> cinco tipos diferentes, indo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as instituições <strong>de</strong> ensino<br />

(institutos superiores, faculda<strong>de</strong>s, faculda<strong>de</strong>s integradas e centros<br />

universitários) majoritariamente privadas laicas até às universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

pesquisa majoritariamente públicas e confessionais (NEVES, 1999, p.143).<br />

Nestas condições, observa-se a amplitu<strong>de</strong> no atendimento à lógica neoliberal <strong>de</strong><br />

organização da socieda<strong>de</strong>, mantendo assim formas <strong>de</strong> escolarização distintas entre as massas<br />

<strong>de</strong> trabalhadores e os trabalhadores qualificados. Esta reorganização do nosso sistema<br />

educacional caracteriza-se pela subordinação da educação aos interesses do capital. Não<br />

obstante, o percurso trilhado por FHC até a promulgação da Nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

da Educação Nacional – Lei 9.394/96 foi marcado por medidas que objetivaram excluir do<br />

projeto o máximo possível <strong>de</strong> ações que <strong>de</strong>sfavorecessem o capital e fossem <strong>de</strong> encontro às<br />

recomendações dos organismos internacionais para uma política educacional na qual os<br />

gastos <strong>de</strong>veriam ser reduzidos.<br />

No entanto, vale ressaltar que a falta <strong>de</strong> investimento pesado em educação e na<br />

informática educativa não é um problema exclusivamente brasileiro e nem assim o po<strong>de</strong>ria ser<br />

numa socieda<strong>de</strong> capitalista globalizada em que o saber continua concentrado, como vem<br />

acontecendo através da história do capitalismo, nos círculos <strong>de</strong> uma elite, marcando essa<br />

socieda<strong>de</strong> tanto por semelhanças quanto por profundas diferenças e <strong>de</strong>svantagens,<br />

principalmente se tomarmos a seguinte análise <strong>de</strong> Pedro Belli a respeito da globalização:<br />

Globalização, o termo que <strong>de</strong>fine a economia dos anos 1990, é hoje<br />

ina<strong>de</strong>quado. Em verda<strong>de</strong>, as economias das nações industrializadas têm se<br />

tornado crescentemente interligadas, por meio do comércio global e dos<br />

produtos globais. Mas a globalização <strong>de</strong>ixou bastante à parte duas imensas<br />

regiões do globo, compreen<strong>de</strong>ndo mais <strong>de</strong> 60 países, com cerca <strong>de</strong> 20% da<br />

população mundial e uma respeitável parcela <strong>de</strong> seus recursos naturais: África<br />

e América Latina [...] Os resultados po<strong>de</strong>rão significar [...] também com a<br />

inclusão da América Latina e da África no mercado mundial, a verda<strong>de</strong>ira<br />

globalização da globalização (cf. IANNI, 1999, p.24).<br />

Essas mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, as quais têm implicações<br />

em todas as outras instâncias sociais, requerem atenção especial na elaboração <strong>de</strong> planos <strong>de</strong><br />

ação para a educação para que sejam pensadas medidas que estejam em sintonia com o que é<br />

cobrado hoje do trabalhador em relação à qualificação profissional, <strong>de</strong> acordo com os padrões<br />

<strong>de</strong> acumulação flexível, que <strong>de</strong>slocaram o foco da exploração da força muscular da mão <strong>de</strong><br />

obra (fordismo), para o componente intelectual.<br />

Esse <strong>de</strong>slocamento do foco da exploração, do componente muscular para o<br />

componente intelectual do trabalho, constitui o elemento fundamental do<br />

processo <strong>de</strong> reestruturação do trabalho, encontrando viabilida<strong>de</strong> técnicooperacional<br />

na chamada Tecnologia da Informação (microeletrônica,<br />

informática e outras técnicas afins) que tem a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> possibilitar processos<br />

<strong>de</strong> trabalho mais integrados e flexíveis, e nas formas sistêmicas <strong>de</strong><br />

organização do trabalho, que pressupõe competências antes <strong>de</strong>sprezadas,<br />

como facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> textos, <strong>de</strong> raciocínio<br />

abstrato, enfim, <strong>de</strong> competências sociais [...] (BRUNO, 1996, p. 92-3).<br />

Com essas questões em mente, quando se condicionam os fins da educação aos do<br />

mercado, corremos o risco <strong>de</strong> ter um mo<strong>de</strong>lo educativo que jamais se constituirá em uma base<br />

para o pleno <strong>de</strong>senvolvimento dos educandos, e sim em um mo<strong>de</strong>lo que servirá para aten<strong>de</strong>r<br />

às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado período <strong>de</strong> tempo, rotulando a construção do<br />

conhecimento, estipulando limites, concretizando a tão cogitada formação polivalente.<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

O que <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> estrutura educacional é que por um lado ela<br />

favorece uma maneira peculiar <strong>de</strong> se administrar o saber e, consequentemente, <strong>de</strong> se apropriar<br />

do conhecimento condizente com a realida<strong>de</strong>, mas por outro lado, o domínio estipulado do<br />

saber escon<strong>de</strong> a face perversa do capital <strong>de</strong> conseguir sempre se apropriar <strong>de</strong> mecanismos<br />

eficazes <strong>de</strong> controlar a socieda<strong>de</strong> e reproduzir seu sistema. Daí a importância <strong>de</strong> refletirmos a<br />

respeito <strong>de</strong> tais questões para sabermos qual <strong>de</strong>ve ser nossa postura diante <strong>de</strong> tantas<br />

transformações <strong>de</strong>correntes dos avanços tecnológicos e do acirramento do fenômeno da<br />

globalização.<br />

3. IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO NOS MUNDOS DO<br />

TRABALHO E DA EDUCAÇÃO E O PAPEL DAS NTIC<br />

A contemporaneida<strong>de</strong> traz a intensificação <strong>de</strong> uma situação contraditória e paradoxal,<br />

marcada, <strong>de</strong>ntre outros fatores, pela perda <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> do Estado, pela rapi<strong>de</strong>z com que as<br />

informações são processadas e pelo caráter <strong>de</strong> semelhança que a globalização imprimiu às<br />

diferentes realida<strong>de</strong>s, o que fica cada vez mais aparente através dos avanços na área das<br />

tecnologias da informação e da comunicação e pelos novos rumos que as relações entre as<br />

diferentes nações estão tomando.<br />

Esse quadro acirrou-se ainda mais a partir dos anos 70 do século passado, momento<br />

em que se passa a falar <strong>de</strong> globalização nos mol<strong>de</strong>s em que o conceito vem sendo entendido<br />

na atualida<strong>de</strong>, com a criação <strong>de</strong> novas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expansão do sistema capitalista, o qual,<br />

por sua natureza dinâmica e competitiva, precisava encontrar formas <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong>ntro<br />

e fora <strong>de</strong> limites locais.<br />

Essa condicação modifica, principalmente, a lógica do trabalho, gerando<br />

consequências nas várias instâncias da socieda<strong>de</strong>, inclusive na educação e na cultura; porém,<br />

isso não significa uma situação <strong>de</strong> homogeneização cultural, mesmo porque, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

Ortiz (2000, p. 27), a cultura não se globaliza, mas se mundializa, e “uma cultura<br />

mundializada não implica o aniquilamento das outras manifestações culturais, ela cohabita e<br />

se alimenta <strong>de</strong>las. Um exemplo disso: a língua”. Sem seguir uma visão economicista da<br />

globalização, pois isso po<strong>de</strong>ria resultar em uma interpretação errônea <strong>de</strong> que tudo na<br />

socieda<strong>de</strong> globalizada é semelhante, principalmente, ao se tratar <strong>de</strong> cultura, o que não é<br />

verda<strong>de</strong>, por mais que um <strong>de</strong>terminado povo absorva elementos culturais <strong>de</strong> um outro povo, o<br />

autor enten<strong>de</strong> que:<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

O processo <strong>de</strong> mundialização é um fenômeno social total que permeia o<br />

conjunto <strong>de</strong> manifestações culturais. Para existir, ele <strong>de</strong>ve se localizar,<br />

enraizar-se nas práticas cotidianas dos homens, sem o que seria uma expressão<br />

abstrata das relações sociais. (...) Pensar a mundialização como totalida<strong>de</strong> nos<br />

permite aproximá-la à noção <strong>de</strong> ‘civilização’ <strong>de</strong> Marcel Mauss: conjunto<br />

extranacional <strong>de</strong> fenômenos sociais específicos e comuns a várias socieda<strong>de</strong>s.<br />

Mas é necessário ressaltar uma peculiarida<strong>de</strong> dos tempos atuais.<br />

Historicamente, uma civilização se estendia para além dos limites dos povos,<br />

mas se confinava a uma área geográfica <strong>de</strong>terminada. Uma cultura<br />

mundializada correspon<strong>de</strong> a uma civilização cuja territorialida<strong>de</strong> se<br />

globalizou. (ORTIZ, 2000, P.30-31).<br />

A idéia equivocada <strong>de</strong> homogeneização cultural é fruto <strong>de</strong> visões superficiais da<br />

globalização que vislumbram o mundo conectado <strong>de</strong> maneira tal, que acabaremos vivendo<br />

numa gigantesca al<strong>de</strong>ia global 9 , mais caracterizada por semelhanças do que por diferenças.<br />

Essa idéia está hoje reforçada, em gran<strong>de</strong> parte, pelas novas formas <strong>de</strong> comunicação<br />

proporcionadas pelas NTICs, que unem pessoas <strong>de</strong> diferentes locais e nacionalida<strong>de</strong>s através<br />

do acesso instantâneo à informação via Internet.<br />

No entanto, o que a Internet vem proporcionando não é um tipo específico <strong>de</strong><br />

informação, mas uma gama <strong>de</strong> conhecimentos que trafegam sem parar pela Re<strong>de</strong>, atingindo<br />

parcelas específicas e ainda pequenas da socieda<strong>de</strong> mundial; no geral, um grupo bem<br />

específico <strong>de</strong> pessoas: as que têm condições financeiras para a aquisição <strong>de</strong> tal tecnologia; as<br />

possuidoras <strong>de</strong> um certo nível educacional que as capacite a usar tais ferramentas; as que<br />

<strong>de</strong>têm habilida<strong>de</strong>s linguísticas, uma vez que muito do material disponível está em língua<br />

estrangeira e, ainda, possuem discernimento para selecionar quais conteúdos são <strong>de</strong> fato<br />

importantes e merecedores <strong>de</strong> crédito.<br />

O papel da Internet, segundo análise <strong>de</strong> Castells (1996), vincula-se a dois extremos:<br />

um lado que inclui, quando pensado como o mais diversificado meio <strong>de</strong> informação que o<br />

mundo já experimentou, sendo usado para a divulgação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas, troca <strong>de</strong> informações<br />

em vários níveis e publicação <strong>de</strong> trabalhos científicos e acadêmicos e seu outro lado, o que<br />

exclui a maior parte da população mundial, <strong>de</strong>vido aos altos custos <strong>de</strong> tal acesso. Diante <strong>de</strong><br />

tais consi<strong>de</strong>rações, Castells pontua que:<br />

[...] embora a mídia tenha <strong>de</strong> fato se interconectado globalmente e programas<br />

e mensagens circulem na re<strong>de</strong> global, nós não estamos vivendo em uma al<strong>de</strong>ia<br />

global, mas em chalés personalizados globalmente e localmente distribuídos<br />

(CASTELLS, 1996, p.341) (tradução nossa). 10<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

Não se po<strong>de</strong> negar, porém, que está em curso hoje um processo que, além <strong>de</strong> se<br />

concretizar no âmbito econômico, tem alterado significativamente as relações estabelecidas<br />

entre diferentes culturas e que essa troca <strong>de</strong> experiências está sendo intensificada pela rápida<br />

veiculação da informação, facilitada pelas diversas manifestações das tecnologias e das novas<br />

tecnologias, entendidas, conforme Silva, como: “[...] termo genérico empregado para <strong>de</strong>signar<br />

a automação <strong>de</strong> base microeletrônica (...) que comporta uma variada gama <strong>de</strong> equipamentos<br />

que têm, em comum, o fato <strong>de</strong> se conectarem a um computador [...]” (em CATTANI, 1997,<br />

P.169). No entanto, tomando a análise feita por Ortiz (2000, p.14-15) sobre a metáfora <strong>de</strong><br />

al<strong>de</strong>ia global, <strong>de</strong>stacamos que:<br />

O mundo dificilmente po<strong>de</strong>ria ser realmente entendido como uma al<strong>de</strong>ia<br />

global, e mesmo sabendo que o peso das novas tecnologias é consi<strong>de</strong>rável na<br />

rearticulação da or<strong>de</strong>m social, não se po<strong>de</strong> esquecer que as técnicas se inserem<br />

sempre nas condições objetivas da história. Entre os homens que se<br />

comunicam nesta al<strong>de</strong>ia existem tensões, interesses e disputas que os afastam<br />

<strong>de</strong> qualquer i<strong>de</strong>al comum [...].<br />

Uma prova disso é que a socieda<strong>de</strong> globalizada é marcada pela contradição, o que<br />

leva à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão da sua lógica e das implicações <strong>de</strong>sse quadro <strong>de</strong><br />

‘alongamento’ das relações sociais, na tentativa <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rmos os reais <strong>de</strong>sdobramentos<br />

<strong>de</strong>sse fenômeno. Ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos nos aproximam, ficam<br />

cada vez mais acentuadas as diferenças entre os diferentes grupos sociais.<br />

De acordo com o relatório da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior <strong>de</strong> 1998,<br />

ao analisar o papel das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação – NTIC -, é dito<br />

que: “As NTIC são, ao mesmo tempo, um vetor <strong>de</strong> internalização da cultura e um instrumento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais, <strong>de</strong>safio maior ao qual o ensino superior não po<strong>de</strong> ficar<br />

insensível” (1999, p.174).<br />

É bem verda<strong>de</strong> que estamos cada vez mais conectados e essa situação teve início com<br />

o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, o qual, segundo Berman (2001, p.35), “<strong>de</strong>senvolveu uma re<strong>de</strong> da<br />

qual ninguém po<strong>de</strong> escapar, nem no mais remoto canto do mundo”, <strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> outro.<br />

Estamos vivemos momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta a respeito <strong>de</strong> outras culturas e nossa visão do<br />

mundo está sendo gradativamente ampliada, levando a um maior conhecimento relativo a<br />

outros tantos diferentes povos; ou seja, estamos passando por um momento que o autor <strong>de</strong>fine<br />

como ‘a experiência ambiental da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>’, a qual,<br />

[...] anula todas as fronteiras geográficas e raciais, <strong>de</strong> classe e nacionalida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> religião e i<strong>de</strong>ologia: nesse sentido, po<strong>de</strong>-se dizer que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> une a<br />

espécie humana (...) Porém, é uma unida<strong>de</strong> paradoxal, uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sunida<strong>de</strong>: ela nos <strong>de</strong>speja a todos num turbilhão <strong>de</strong> permanente<br />

<strong>de</strong>sintegração e mudança, <strong>de</strong> luta e contradição, <strong>de</strong> ambiguida<strong>de</strong> e angústia.<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

Ser mo<strong>de</strong>rno é fazer parte <strong>de</strong> um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo o<br />

que é sólido <strong>de</strong>smancha no ar’ (BERMAN, 2001, p.15).<br />

Verificamos, então, que a relação homem/tecnologia se complexifica ainda mais<br />

quando surgem as NTICs, criando um novo ponto <strong>de</strong> clivagem – a exclusão dos que não têm<br />

acesso à informação. Uma nova divisão da socieda<strong>de</strong> é estabelecida, a partir do momento em<br />

que se começa a falar em ‘inforicos’ e ‘infopobres’, os que possuem e os que não possuem<br />

acesso à informação. A Internet, nesse contexto, aparece tanto como panacéia universal<br />

quanto como elemento <strong>de</strong>sestabilizador, fragmentador do conhecimento e disseminador mais<br />

<strong>de</strong> informações <strong>de</strong>snecessárias do que necessárias. Mas, <strong>de</strong> toda forma, a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

disseminação faz com sua importância seja objeto <strong>de</strong> diferentes estudos.<br />

Nesse sentido, convém citar aqui a comparação que Warschauer (1999) 11 fez a<br />

respeito da revolução <strong>de</strong> Gutenberg e do advento da Internet. O autor lembra que em relação à<br />

primeira, foram necessários vários séculos para que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas tivesse<br />

acesso a trabalhos impressos, enquanto que em relação à Internet, precisou-se <strong>de</strong> apenas<br />

algumas décadas para que a informação pu<strong>de</strong>sse ser acessada via cyberspace.<br />

Apesar do acesso à Internet ser ainda restrito a uma pequena parcela da população<br />

mundial 12 , seu crescimento vem acontecendo <strong>de</strong> forma espantosamente rápida e o seu uso<br />

vem promovendo uma série <strong>de</strong> mudanças na socieda<strong>de</strong>, principalmente no que diz respeito a<br />

como as pessoas vêm se comunicando e interagindo tanto em nível local quanto global o que<br />

<strong>de</strong>sperta o interesse em se estudar como melhor tirar proveito <strong>de</strong>ste meio, especialmente,<br />

quando associado ao campo educacional.<br />

Justamente por estarmos vivendo hoje a intensificação <strong>de</strong>sse turbilhão <strong>de</strong> mudanças<br />

constantes que atinge os quatro cantos do globo, ligando o local ao global, consequência da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência do capital e <strong>de</strong> um enorme potencial criativo impulsionado pela<br />

evolução nas ciências, potencial esse que tanto po<strong>de</strong> construir quanto <strong>de</strong>struir, é que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma postura crítica em relação aos diversos papéis que <strong>de</strong>sempenhamos<br />

na socieda<strong>de</strong> se faz necessário.<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No contexto do capitalismo, a educação respon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s que são<br />

gradativamente criadas por um conjunto <strong>de</strong> aspectos econômicos, sociais e políticos.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, ao procurar suprir estas necessida<strong>de</strong>s, o complexo da educação, enquanto<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

componente da totalida<strong>de</strong> social, acaba por colaborar com a lógica do capital. Isto acontece<br />

porque nas socieda<strong>de</strong>s regidas pelo modo <strong>de</strong> produção e acumulação capitalista existe uma<br />

preocupação em estabelecer um processo preparatório que viabilize a inserção dos indivíduos<br />

nas relações sociais <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>terminando assim novas formas <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r<br />

convergentes com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reprodução daquela socieda<strong>de</strong>. Ao mesmo tempo, as<br />

relações sociais acabam por condicionar os indivíduos a aceitarem as condições <strong>de</strong>terminadas<br />

pelas relações sociais vigentes.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que as reformas educacionais adotadas <strong>de</strong>ntro do modo <strong>de</strong> produção<br />

capitalista não são suficientes para aten<strong>de</strong>r em longo prazo as mudanças que acontecem tanto<br />

no cenário econômico quanto no tecnológico, <strong>de</strong>vido às constantes reconfigurações que<br />

ocorrem no interior do capital. No máximo, elas servem para colocar a educação em<br />

consonância com as <strong>de</strong>mandas sociais, aten<strong>de</strong>ndo, assim, com plenitu<strong>de</strong>, os preceitos do<br />

capital. Nesse contexto, a escola tem papel <strong>de</strong> extrema importância, levando tanto educandos<br />

quanto educadores a refletirem sobre o momento atual em que as implicações advindas do<br />

acirramento do processo <strong>de</strong> globalização e dos usos das NTIC afetam a socieda<strong>de</strong> como um<br />

todo, mesmo que indiretamente.<br />

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IV Colóquio Internacional Educação e Contemporaneida<strong>de</strong> ISSN 1982-3657<br />

REFERÊNCIAS<br />

ARANHA, Lúcia. Educação e trabalho no contexto da terceira revolução industrial. São<br />

Cristóvão, SE: Editora UFS, 1999.<br />

BATISTA, Paulo Nogueira. O consenso <strong>de</strong> Washington: a visão neoliberal dos problemas<br />

latino-americanos. Ca<strong>de</strong>rno Dívida Externa nº 6. 3. ed. São Paulo: 1995.<br />

BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: A aventura da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.[tradução: Carlos Felipe Moisés, Ana <strong>Maria</strong> L.Ioriatti] São Paulo: Companhia<br />

das Letras, 1986.<br />

BRASIL. Lei <strong>de</strong> diretrizes e bases da educação nacional, Lei N. 5.692 <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1971. Brasília: MEC. Disponível em < www.mec.gov.br> Acesso em: 20 set 2004.<br />

BRUNO, Lúcia. Educação, Qualificação e Desenvolvimento Econômico, In: BRUNO, Lúcia<br />

(org). Organização e Trabalho no Capitalismo Contemporâneo, São Paulo: Ed. Atlas,<br />

1996.<br />

CASTELLS, M. The Rise of Network Society. Mal<strong>de</strong>n, MA, Blackwell, 1996.<br />

CATTANI, Antonio David (org.). Trabalho e Tecnologia – Dicionário crítico. Porto<br />

Alegre: EDEUFGRS, 1997.<br />

Conferência Mundial sobre o Ensino Superior (1998: Paris, França). Tendências <strong>de</strong><br />

Educação Superior para o Século XXI/ UNESCO/ CRUB/1999.<br />

HARVEY, David. A Condição Pós-Mo<strong>de</strong>rna: uma pesquisa sobre as origens da mudança<br />

cultural.[tradução <strong>de</strong> Adail Ubirajara Sobral e <strong>Maria</strong> Stela Gonçalves].São Paulo: Loyola,<br />

1992.<br />

IANNI, Octávio. A Era do Globalismo.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.<br />

_____________. A Socieda<strong>de</strong> Global. 8ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.<br />

NEVES, <strong>Maria</strong> Lúcia W. Educação: um caminhar para o mesmo lugar. In: LESBAUPIN, Ivo<br />

(Org.). O <strong>de</strong>smonte da nação. Petrópolis, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1999<br />

ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2000.<br />

WARSCHAUER, Mark. Electronic Literacies: Language, Culture, and Power in Online<br />

Education. New Jersey: LEA, 1999.<br />

___________________. Technology and Social Inclusion: rethinking the digital divi<strong>de</strong>.<br />

Massachussetts: The MIT Press, 2003.<br />

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NOTAS<br />

1 <strong>Maria</strong> <strong>Amália</strong> <strong>Façanha</strong> <strong>Berger</strong> é Mestre em Educação (UFS) e graduada em Letras Português-Inglês (UFS). É<br />

professora do curso <strong>de</strong> Letras Inglês da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes (UNIT).<br />

2 Rosilene Pimentel Santos Rangel é Mestre em Educação (UFS) e graduada em Letras Português-Inglês<br />

(UFAL). É professora das disciplinas Inglês e Português da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sergipe (FaSe).<br />

3 BRASIL. Lei <strong>de</strong> diretrizes e bases da educação nacional, Lei N. 5.692 <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1971. Brasília:<br />

MEC. Disponível em < www.mec.gov.br> Acesso em: 20 set 2004.p.11.<br />

4 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.12.<br />

5 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.13.<br />

6 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.15.<br />

7 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p.15.<br />

8 Diz Paulo Nogueira Batista (1995, p.5): “Em novembro <strong>de</strong> 1989, reuniram-se na capital dos Estados Unidos<br />

funcionários do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados – FMI, Banco<br />

Mundial e BID – especializados em assuntos latino-americanos. O objetivo do encontro, convocado pelo<br />

Institute for International Economics, sob o título ‘Latin American Adjustment: How Much Has Happened?’, era<br />

proce<strong>de</strong>r a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas nos países da região. Para relatar a experiência<br />

<strong>de</strong> seus países também estiveram presentes diversos economistas latino-americanos. Às conclusões <strong>de</strong>ssa reunião<br />

é que se daria, subsequentemente, a <strong>de</strong>nominação informal <strong>de</strong> ‘Consenso <strong>de</strong> Washington’”.<br />

9 Termo usado pela primeira vez por Marshall McLuhan (1911-1980) para <strong>de</strong>senhar um tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> em<br />

que haveria uma homogeneização cultural.<br />

10 “[...] while the media have in<strong>de</strong>ed globally intraconnected, and programs and messages circulate in the global<br />

network, we are not living in a global village, but in customized cottages globally produced and locally<br />

distributed” (CASTELLS, 1996, p. 341). Maiores <strong>de</strong>talhes sobre a questão da socieda<strong>de</strong> conectada em re<strong>de</strong> serão<br />

apresentados no terceiro capítulo <strong>de</strong>ste estudo.<br />

11 A temática em questão po<strong>de</strong> ser melhor aprofundada em sua obra Electronic Literacies: Language, Culture,<br />

and Power in Online Education, 1999.<br />

12 De acordo com dados colhidos por Warschauer (2003, p.49-50), estimava-se que em 2001, por volta <strong>de</strong> 513<br />

milhões <strong>de</strong> pessoas em todo o mundo tinham acesso à Internet, o que representava 8.4% da população mundial.<br />

O referido autor cita uma das maiores pesquisas conduzidas a respeito dos fatores que causam a disparida<strong>de</strong> em<br />

relação ao acesso à Internet, por Kristopher Robison and Edward Crenshaw , a qual indica que os EUA eram os<br />

lí<strong>de</strong>res em acesso com 181 millhões <strong>de</strong> pessoas (57.2%) e a América Latina em terceiro lugar com 25 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas (4.8%) em 2000.<br />

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