Número 11 (jan-jun/09) - Dialogarts - Uerj
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so comunicativo entre emissor e receptor não ocorre em Maio, mês de Maria. As regras que governam as produções lingüísticas ali estabelecidas não levam em conta as diferenças sociais, logo não há interação. Toda comunicação discursiva só adquire valor se realizada no contexto social e cultural apropriado. A construção dos atos de linguagem precisa levar em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte. Os produtores do discurso precisam conhecer e agir verbalmente de acordo com determinadas regras para a produção discursiva ser completa, isto é, eles precisam ‘saber’: “a) quando pode falar e quando não pode; b) que tipo de variedade lingüística é oportuno que seja usada” (GNER- RE: 1998, p.10). Esses elementos constituem a base condizente com o ato de fala propriamente dito e deverão estar de acordo com o contexto em que o ato verbal será produzido. A presença de tais códigos torna-se um dado positivo não só para o falante, mas também para o ouvinte que pode ter alguma expectativa em relação à produção lingüística do falante, distinta daquela estabelecida na cerimônia de casamento. De um lado, encontra-se a família de Hortência: “gente de posição média [...] instruída” (MMM: p.54) e do outro lado, com menos instrução e menos “elegância”, os familiares do noivo. O contraste, o choque cultural é explicitado pelo conflito instaurado na língua dos desterrados do Bairro do Balão e, especialmente, na festa de casamento. Os signos recebem uma nova configuração nos falares que estavam para acontecer: – Meus senhores e minhas senhoras. Eu aqui presente, Chitalu Sipanguale, tio do camarada Comandante, quer falar uma cueza na noiva e no noivo meu sobrinho camarada Comandante, calem a boca, porra! [...], silêncio! _ mas quem que mandou este sacana falar, João Segunda estava pensar no íntimo dele _ eu aqui presento Chitalu Sipanguale quero desejar os noivo ficam bem, ficam felizes, quando tiver discutissão lá em casa Caderno Seminal Digital, Ano 15, Nº 11, V 11, ( Jan / Jun 2009) - ISSN 1806-9142 44
é só chamar de mim ou o compadre nome dele João Segunda para resolver os problema, vocês devem ter muitos filios, os filios é a riqueza dos pobres (MMM: p.53. Grifos nossos). O discurso do Chitalu intensifica as disparidades, a confusão de signos deslocados com uma sonoridade destoante que se traduz em diferenças discursivas e de classes sociais. Esse dado aparece no contexto narrativo como mais um elemento para referendar a idéia do sujeito desterrado, isolado num cenário opressivo, sanguinário, de medo e de sombra infiltrado nos ‘falares’ e nos ‘lares’: “quem que imaginava nos tempos agora nossos a gente tinha de retrazer memória esquecida do tempo do tuga, vigiar a palavra, reaprender a pose estudada na esquina do olhar pidesco? (MMM: p.84). 1. A fúria canina e a hora de Maria O discurso dominante fundamenta-se em signos marcados pela superposição de dados. Esses elementos representam uma única verdade, dotada de recursos retóricos que têm como finalidade convencer ou alterar atitudes e comportamentos já estabelecidos. Os cachorros redimensionam a vida de Manarairema: A cidade estava engrenando na rotina do tomar café, do regar horta, do varrer casa, do arrear cavalo, quando os latidos rolaram estrada abaixo. [...] Borboletas inocentes [...] morreriam [...] pisadas, mordidas, desmanchadas como flores depois da ventania. O palco estava armado para os cachorros, e eles o ocuparam como demônios alucinados (HR: p.34-5). As ações repressivas, típicas da ditadura são simuladas pelos animais que representam os homens que viviam na tapera de forma enigmática “entocados lá longe, cercados, fechados” (HR: p.40). Os signos que demarcam a dominação fixam o jogo demoníaco em Manarairema: “toda a cidade estava praticamente a serviço dos cachorros tudo o mais parou” (HR: p.37). A contaminação contextual é recontextualizada, explicitada por meio de expressões específicas do tipo: “pêlo suado, urina concentrada, Caderno Seminal Digital, Ano 15, Nº 11, V 11, ( Jan / Jun 2009) - ISSN 1806-9142 45
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propriamente dito e deverão estar de acordo com o contexto em que o<br />
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positivo não só para o falante, mas também para o ouvinte que pode ter<br />
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– Meus senhores e minhas senhoras. Eu aqui presente, Chitalu<br />
Sipanguale, tio do camarada Comandante, quer falar uma cueza<br />
na noiva e no noivo meu sobrinho camarada Comandante,<br />
calem a boca, porra! [...], silêncio! _ mas quem que mandou<br />
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