Número 11 (jan-jun/09) - Dialogarts - Uerj
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p.247-8). A hermenêutica é, em boa medida, uma tentativa de oposi- ção a esta proposição e o pragmatismo assume essa oposição como pro- posta, redescrevendo inclusive a idéia de comensurabilidade (RORTY: 1988a, p.257) como a possibilidade de reunião de um conjunto de regras que nos oriente no sentido de alcançarmos um acordo racional acerca do que provoca conflito e dúvidas (RORTY: 1988a, p.247-8). A noção dominante de epistemologia é que para sermos racionais, para sermos completamente humanos, para fazermos o que devemos, precisamos de ser capazes de arranjar um acordo com outros seres humanos. Construir uma epistemologia é encontrar a quantidade máxima de terreno comum com os outros. (RORTY: 1988a, p.248) A Hermenêutica, de mirada rortyana, vê as relações entre vários discursos como as dos fios numa possível “conversação”; uma conversação que não pretenda se sustentar sobre uma base disciplinar que defina o lugar e as competências dos locutores; mas, ao contrário, uma conversação onde nunca se perde a esperança de acordo. Esta esperança não é a esperança da descoberta de um solo comum anteriormente existente, mas simplesmente a esperança de acordo, ou pelo menos, de desacordo excitante e que de algum modo provoque conseqüências frutíferas. A Hermenêutica trata-os como unidos e próximos naquilo a que ele chama uma societas – pessoas cujos caminhos pela vida se encontraram, unidas muito mais pela civilidade do que por um objeto comum ou por um solo comum. E sobre a idéia de “conversação” a Epistemologia e a Hermenêutica se distinguem radicalmente pois, nas palavras rortyanas, “para a epistemologia a conversação é inquérito implícito e para a hermenêutica, o inquérito é conversação de rotina” (RORTY: 1988a, p.249-50). Deste ponto de vista, portanto, a linha entre os respectivos domínios da Epistemologia e da Hermenêutica não é uma questão de diferença entre as “Ciências da Natureza” e a “Ciências do Homem”, nem entre Caderno Seminal Digital, Ano 15, Nº 11, V 11, ( Jan / Jun 2009) - ISSN 1806-9142 128
fato e valor, nem entre o teorético e o prático, nem entre o “conhecimen- to objetivo” e algo mais escorregadio, mais frágil e mais dúbio. Isto sig- nifica que somente podemos obter comensuração epistemológica onde já tivermos acordado práticas de inquérito (ou, de um modo mais geral, de discurso), onde já tivermos alcançado um vocabulário comum onde os parceiros se reconheçam (RORTY: 1988a, p.251-2). A Hermenêutica não é “outra maneira de conhecer” – “compreender” como oposto à (previsiva) “explicação”. Contrariamente, a Hermenêutica é antes outra forma de perceber o universo de problemas e tensões. Seguramente, não faz distinções entre a compreensão, explicação e interpretação. Rorty acredita que contribuiria para a clareza filosófica se déssemos simplesmente a noção de “cognição” à ciência prognóstica e parássemos de nos preocupar com “métodos cognitivos alternativos”. Em sua análise, a palavra conhecimento não pareceria ser digna de disputa se não fosse a tradição kantiana de que ser um filósofo é possuir uma “teoria do conhecimento” e a tradição platônica de que a ação que não se baseia no conhecimento da verdade de proposições é “irracional” (RORTY: 1988a, p.276). Segundo Rorty (1991b, p.28-9), o pragmático admite que não possui nenhum ponto de partida a-histórico, através do qual apoia os hábitos das democracias modernas que ele elogia e mesmo participa. Essas conseqüências e asserções são justamente o que desejam e esperam os partidários da solidariedade. Mas dentre os partidários da objetividade, elas provocam, mais uma vez, o temor do dilema formado pelo etnocentrismo por um lado e pelo relativismo do outro. Torna-se muito claro, portanto, na leitura da obra rortyana, a crença de que devemos estabelecer um privilégio especial (“privilégio” aqui não diz respeito à nenhuma fundamentação epistemológica, mas moral) para a nossa própria comunidade (e, no caso especial de Rorty, para a comunidade democrático- Caderno Seminal Digital, Ano 15, Nº 11, V 11, ( Jan / Jun 2009) - ISSN 1806-9142 129
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já tivermos acordado práticas de inquérito (ou, de um modo mais geral,<br />
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A Hermenêutica não é “outra maneira de conhecer” – “compreender”<br />
como oposto à (previsiva) “explicação”. Contrariamente, a Hermenêutica<br />
é antes outra forma de perceber o universo de problemas e tensões.<br />
Seguramente, não faz distinções entre a compreensão, explicação<br />
e interpretação. Rorty acredita que contribuiria para a clareza filosófica<br />
se déssemos simplesmente a noção de “cognição” à ciência prognóstica<br />
e parássemos de nos preocupar com “métodos cognitivos alternativos”.<br />
Em sua análise, a palavra conhecimento não pareceria ser digna de disputa<br />
se não fosse a tradição kantiana de que ser um filósofo é possuir<br />
uma “teoria do conhecimento” e a tradição platônica de que a ação que<br />
não se baseia no conhecimento da verdade de proposições é “irracional”<br />
(RORTY: 1988a, p.276).<br />
Segundo Rorty (1991b, p.28-9), o pragmático admite que não possui<br />
nenhum ponto de partida a-histórico, através do qual apoia os hábitos<br />
das democracias modernas que ele elogia e mesmo participa. Essas<br />
conseqüências e asserções são justamente o que desejam e esperam os<br />
partidários da solidariedade. Mas dentre os partidários da objetividade,<br />
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por um lado e pelo relativismo do outro. Torna-se muito claro,<br />
portanto, na leitura da obra rortyana, a crença de que devemos estabelecer<br />
um privilégio especial (“privilégio” aqui não diz respeito à nenhuma<br />
fundamentação epistemológica, mas moral) para a nossa própria comunidade<br />
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