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MAPA DA VIOLÊNCIA 2012 CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO BRASIL

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

79<br />

<strong>CRIANÇAS</strong> E <strong>A<strong>DO</strong>LESCENTES</strong> <strong>DO</strong> <strong>BRASIL</strong><br />

Como colocamos na introdução, focamos no presente estudo diversas formas de violência<br />

contra as crianças e os adolescentes do país. Não pretendemos abordar todas as violências,<br />

nem sequer a maior parte delas. Só um minúsculo fragmento do iceberg das violências: aquelas<br />

que são registradas e institucionalizadas através das certidões de óbito ou das notificações de<br />

atendimentos no Sistema Único de Saúde do país. Em ambos os casos: óbitos ou atendimentos,<br />

trabalhamos com as denominadas causas externas. Já no início das análises detectamos um fato<br />

altamente preocupante: na contramão das denominadas causas naturais que caem de forma<br />

contínua e acentuada nas três últimas décadas, as causas externas de mortalidade de crianças e<br />

adolescentes crescem. E crescem, fundamentalmente, pela escalada de um flagelo que se transformou,<br />

ao longo dos anos, a fonte de maior letalidade das crianças e adolescentes – e também<br />

dos jovens, como evidenciamos em trabalhos anteriores: os homicídios. E isto acontece numa<br />

magnitude, numa escala, que devemos considerar totalmente inaceitável.<br />

Se o assassinato de qualquer criança ou adolescente já é inadmissível, que qualificativo<br />

merecem muitas de nossas taxas, que superam de longe os níveis epidêmicos para alcançar<br />

dimensão de verdadeira pandemia social. Claro indicador dessa situação é a posição do Brasil<br />

no contexto internacional. Sua taxa de 13 homicídios para cada 100 mil crianças e adolescentes<br />

a leva a ocupar uma 4ª posição entre 92 países do mundo analisados, com índices entre 50 e<br />

150 vezes superiores aos de países como Inglaterra, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália, Egito, etc.<br />

cujas taxas mal chegam a 0,2 homicídios em 100 mil crianças e adolescentes.<br />

E preocupam não só as magnitudes. Preocupa mais ainda a tolerância e aceitação tanto<br />

da opinião pública quanto das instituições precisamente encarregadas de enfrentar esse flagelo.<br />

Como bem aponta Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, numa recente<br />

entrevista referindo-se aos homicídios de jovens e adolescentes: o Brasil convive, tragicamente,<br />

com uma espécie de “epidemia de indiferença”, quase cumplicidade de grande parcela da<br />

sociedade, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade<br />

social .... Isso ocorre devido a certa naturalização da violência e a um grau assustador de complacência<br />

do estado em relação a essa tragédia. É como se estivéssemos dizendo, como sociedade e<br />

governo, que o destino desses jovens já estava traçado18 .<br />

Como opera esse esquema de “naturalização” e aceitação social da violência? São diversos<br />

mecanismos, mas fundamentalmente:<br />

1 - culpabilização da vítima justificando a violência dirigida, principalmente, a setores<br />

subalternos ou particularmente vulneráveis que demandam proteção específica,<br />

como mulheres, crianças e adolescentes, idosos, negros. Os mecanismos dessa culpabilização<br />

são variados: a estuprada foi quem provocou ou ela se vestia como uma<br />

18 http://prvl.org.br/noticias/anistia-internacional-e-o-compromisso-do-brasil-com-os-direitos-humanos/

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