Competitividade - Diário Económico
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Este suplemento faz parte integrante do <strong>Diário</strong> <strong>Económico</strong> nº 5409 de 19 de Abril de 2012 e não pode ser vendido separadamente.<br />
EM PARCERIA COM:<br />
<strong>Competitividade</strong><br />
OPTIMIZAÇÃO DE CUSTOS<br />
Crescimento e inovação<br />
sustentáveis<br />
Uma boa gestão de custos pode aumentar a competitividade das empresas. Mas é preciso saber onde poupar,<br />
de modo a garantir a sustentabilidade do negócio, sem esquecer a aposta na inovação.<br />
Warren Litle / Getty Images
Paulo Alexandre Coelho<br />
COMPETITIVIDADE<br />
Optimização de custos<br />
Abordagem holística ao crescimento<br />
Optimizar custos pode ser um processo complexo e discordante do facilitismo dos cortes discricionários. Importa fixar metas,<br />
ganhar flexibilidade e não perder de vista objectivos como a competitividade, o crescimento, a inovação e a sustentabilidade.<br />
Aumentodocustodas matérias-<br />
-primas nos mercados internacionais,<br />
a pressão inflacionária doméstica,<br />
a pressão salarial, a subida<br />
das taxas de juro. Estas são apenasalgumasdasvariáveisqueexplicam<br />
os aumentos de custos com<br />
queasempresassedeparam,subidas<br />
nem sempre transferíveis para<br />
os consumidores que, muitas vezes<br />
no limite do orçamento, abalados<br />
por perspectivas económicas<br />
desfavoráveis e enfrentando duras<br />
restrições no acesso ao crédito, não<br />
têm outra alternativa que não seja<br />
apertar o cinto.<br />
Muitas empresas são mesmo pressionadas<br />
a reduzir os seus preços,<br />
como evidencia um estudo conduzido<br />
pela Ernst & Young, em que<br />
60% dos inquiridos coloca o aumentodepreçosaonível,ouabaixo,dataxadeinflaçãonocurto<br />
prazo. O que fazer quando, para<br />
muitas empresas, os gastos discri-<br />
>2<br />
cionários já foram fortemente cortados,<br />
resultado da recessão económica,<br />
deixando pouca ou nenhuma<br />
margem para economias de<br />
custos adicionais?<br />
Segundo a Ernst & Young, uma<br />
das soluções para se conseguirem<br />
reduções estratégicas e sustentáveisdoscustosenvolvealteraçõesnosprocessosdasempresas,atravésdaapostaemnovosmodelos<br />
de negócio em toda a organização,<br />
de forma a imprimir maior grau de<br />
flexibilidade à estrutura de custos,<br />
de onde deverão resultar economias<br />
adicionais.<br />
Aconsultoraadverteparaaimportânciadareduçãodecustosestar<br />
implícita na estratégia do negócio,<br />
de forma a evitar que sejam<br />
repetidososerros(eperdidasas<br />
oportunidades) de ciclos económicos<br />
anteriores. As empresas<br />
têmdemudaratónicademedidas<br />
de eficiência para medidas de efi-<br />
As empresas têm<br />
de mudar a tónica<br />
de medidas<br />
de eficiência<br />
para medidas de<br />
eficácia. O futuro<br />
passa por fazer<br />
mais com menos.<br />
cácia, da pura redução de custos,<br />
para a sua optimização, de forma<br />
permanente e em toda a estrutura.<br />
O futuro passa por fazer mais com<br />
menos.<br />
Abordagem holística<br />
Umaestratégiadecustosoptimizada<br />
conduz ao aumento do lucro,<br />
por via do incremento das margens.<br />
E a solução está numa abordagem<br />
holística à competitividade<br />
porviadoscustos,nassuasdiversas<br />
vertentes – do imobiliário, às<br />
tecnologias da informação, passando<br />
pela cadeia de fornecimento<br />
enúmerodefuncionários–emvez<br />
de os encarar como elementos independentes<br />
e desconectados.<br />
O desafio está em assegurar uma<br />
redução de custos estratégica, sem<br />
pôremcausaaqualidadeeevitando<br />
benefícios que não são sustentáveis<br />
a médio e longo prazos, o<br />
queimplicaaincorporaçãodapolítica<br />
de optimização de custos em<br />
toda a organização, com acções<br />
claramente alinhadas com a sua estratégia,<br />
valores da marca e principais<br />
iniciativas.<br />
A redução de custos deve endereçar<br />
todas as áreas operacionais,<br />
tanto no ‘back office’ como no<br />
‘front office’, tornando a empresa<br />
tão flexível e ágil quanto possível,<br />
de forma a ajustar-se rapidamente<br />
às flutuações económicas.<br />
O papel do ‘outsourcing’<br />
e das TI<br />
Entre as medidas para garantir flexibilidade<br />
e controlar o nível de<br />
despesa contam-se a redução da<br />
proporção de custos fixos, através<br />
de operações de ‘sale’ and ‘leaseback’,<br />
o recurso a trabalho temporário<br />
e o ‘outsourcing’.<br />
O ‘outsourcing’ permite à empresa<br />
focar-se na sua actividade principal,<br />
reduzir custos, aumentar a eficiênciae<br />
adaptar-se rapidamente às<br />
alterações do mercado. Traduz-se<br />
também em informação mais aprimorada,<br />
custos estandardizados e<br />
maior controlo de competências.<br />
Tendoemvistaareduçãodecustos,<br />
as empresas podem também<br />
procurar introduzir maior flexibilidade<br />
nos contratos com fornecedoreseoptimizarasactividades<br />
que suportam o negócio, criando,<br />
por exemplo, centros de serviços<br />
compartilhados.
e à inovação<br />
À medida que as empresas se movem<br />
da simples redução de custos,<br />
para a sua optimização, as Tecnologias<br />
de Informação (TI) assumem<br />
um papel primordial. O seu maior<br />
contributo envolve o fornecimento<br />
de informação precisae actualizada,<br />
que permite às equipas de ‘marketing’e<br />
vendas o foco emclientes que<br />
proporcionammaiores margens. Da<br />
mesma forma, conferem aos responsáveis<br />
de compras uma percepção<br />
mais clara das condições de<br />
compra, permitindo negociar acordosdevolumeeprazosdepagamento<br />
e entrega com fornecedores.<br />
A inteligência artificial representa<br />
uma fonte de poupança na medida<br />
em que permite também optimizar<br />
acadeiadefornecimentoemtempo<br />
real, conduzindo a uma maior<br />
eficáciadagestão de armazéns, enquantonasempresasdeserviços<br />
financeiros agiliza a transacção de<br />
produtos complexos.<br />
Reduzir o custo do controlo<br />
de gestão<br />
O investimento em sistemas de<br />
controlo de gestão só produz resultados<br />
quando devidamente focado,<br />
sob pena de apenas aumentar a sua<br />
complexidade e custo, situação<br />
que muitas vezes só é identificada<br />
durante uma iniciativa de redução<br />
de custos.<br />
Um sistema de controlo de gestão<br />
eficiente acrescenta valor às empresas,<br />
na medida em que lhes<br />
forneceinformaçãodeconfiança<br />
para enfrentar o risco e possibilita<br />
fazer uma avaliação contínua de<br />
iniciativas estratégicas como aumentos<br />
de capital, fusões e aquisições.<br />
Traduz-se ainda em poupança<br />
de custos ao eliminar redundâncias<br />
e sobreposições em matéria<br />
de controlo de risco, uma vez<br />
queaatençãoseconcentranas<br />
áreas de maior prioridade a esse<br />
nível.<br />
ENTREVISTA Carlos Nuno Oliveira,<br />
Secretário de Estado do Empreendedorismo, <strong>Competitividade</strong> e Inovação<br />
“Muitas vezes<br />
a optimização exige<br />
inovação”<br />
Aimportância da eficiência numa<br />
lógica de aumento da competitividade<br />
das empresas e do País explicada<br />
por Carlos Oliveira, que deixa<br />
ainda um conjunto de medidas em<br />
curso com vista à redução dos custos<br />
de contexto das empresas.<br />
A optimização/redução de custos<br />
tem geralmente uma conotação<br />
negativa, associada a<br />
despedimentos. Que abordagem<br />
faria do tema numa lógica<br />
de competitividade, crescimento<br />
e inovação?<br />
A importância da eficiência<br />
nasempresastemtudoavercomo<br />
aumento da competitividade. Muitas<br />
organizações optam por fazer<br />
uma abordagem de eficiência, com<br />
medidas para terem produtos e serviços<br />
que possam concorrer, por<br />
exemplo, nos mercados internacionais.<br />
E muitas vezes a optimização<br />
dos recursos exige inovação<br />
– nos processos, nos produtos e na<br />
própria abordagem aos mercados.<br />
As empresas precisam também de<br />
um enquadramento que as torne<br />
mais competitivas, e aí entra o Estado,<br />
na redução dos custos de contexto<br />
e deixando que as empresas<br />
desempenhem livremente o seu<br />
papel. Empresas mais competitivas<br />
geram mais riqueza e mais emprego.<br />
É também comum associar-se a<br />
optimização de custos à perda<br />
de qualidade dos produtos e<br />
serviços. Como comenta?<br />
A optimização de custos não<br />
pode prejudicar a qualidade dos<br />
produtos, sob pena de subverter o<br />
objectivo do ganho de competitividade.<br />
Que erros devem ser evitados<br />
em matéria de corte/optimização<br />
de custos?<br />
O objectivo passa por as empresas<br />
serem mais competitivas e<br />
internacionalizarem a sua actividade,<br />
e as reestruturações, que por<br />
“ As empresas<br />
precisam de um<br />
enquadramento<br />
que as torne mais<br />
competitivas, e aí<br />
entra o Estado,<br />
na redução<br />
dos custos<br />
de contexto.<br />
vezes são necessárias, devem ser<br />
feitas nesse sentido, com a preocupação<br />
de manter o emprego,<br />
sempre que possível, em paralelo<br />
com a aposta em produtos diferenciados.<br />
No actual contexto económico,<br />
muitas empresas têm já pouca<br />
margem para economias de<br />
custos adicionais. De que ferramentas<br />
se podem socorrer para<br />
conseguir reduções estratégicas<br />
de custos e em que áreas?<br />
Cadaempresaéumaempresa,<br />
e cada sector é um sector, mas devem<br />
servir-se de exemplos de em-<br />
presasedesectoresquejápassaram<br />
por crises no passado e sobreviveram.<br />
Como os sectores têxtil,<br />
do calçado e do mobiliário, que recorreram<br />
à inovação a vários níveis<br />
e se dedicaram a novos nichos<br />
de mercado, com resultados assinaláveis<br />
em termos de exportações<br />
num momento de retracção económica.<br />
São exemplos de sectores<br />
que tiveram de se optimizar para<br />
serem mais competitivos e que,<br />
não estando imunes à crise, estão<br />
mais resilientes. A utilização das<br />
novas tecnologias, de forma eficiente,<br />
para optimizar processos é<br />
outra das ferramentas de que as<br />
empresas se podem socorrer. Haverá<br />
sempre espaço para optimizar<br />
ecadaempresateráasuamargem<br />
nesse sentido.<br />
Que medidas prevê o Governo<br />
que se possam reflectir de forma<br />
positiva nos custos das empresas,<br />
contribuindo para aumentar<br />
a sua competitividade?<br />
Destacariaareformadalegislação<br />
laboral, que irá permitir que<br />
as empresas criem emprego sem<br />
os receios que a rigidez da actual<br />
legislação suscita. Estão também<br />
em curso medidas com vista a melhorar<br />
a competitividade do País<br />
para atracção de investimento, e<br />
para agilizar o licenciamento comercial<br />
e industrial. Temos um<br />
grande plano de transposição de<br />
directivas comunitárias para reduzir<br />
as barreiras à entrada no sector<br />
dosserviços.Sabemosqueexistem<br />
dificuldades ao nível do financiamento<br />
das empresas, e nesse<br />
sentido promovemos o alargamento<br />
das linhas PME Investe e<br />
lançámos a linha PME Crescimento,<br />
que está com um ritmo<br />
quatro vezes superior à linha anterior.<br />
Estamos também a fazer uma<br />
reprogramação do QREN (Quadro<br />
de Referência Estratégico Nacional)<br />
no sentido de reduzir a cargaburocráticaeabarreiradecontexto<br />
que representa.<br />
>3
COMPETITIVIDADE<br />
Gestão do custo de capital<br />
Flexibilixar e criar valor<br />
para os ‘stakeholders’<br />
Uma boa gestão do capital pode traduzir ganhos para as empresas, sobretudo se tiver em vista a redução<br />
do seu custo. A dificuldade de acesso ao crédito exige estruturas de capital optimizadas e flexíveis.<br />
Ocustoe a disponibilidade do capital<br />
representam um desafio para<br />
muitos negócios, com a banca e os<br />
mercados de capitais mais cautelosos<br />
no que toca a empréstimos. E o<br />
custo de capital pode ter um forte<br />
impacto nos resultados das empresas,<br />
o que obriga a tomar medidas<br />
para controlar a sua alocação, utilização<br />
e retorno.<br />
Avolatilidade económica mudou a<br />
forma como são avaliados os investimentos,<br />
os objectivos e processos<br />
associados à expansão das<br />
empresas, que cada vez mais procuram<br />
formas de optimizar o financiamento,<br />
transferindo investimentos<br />
de locais em crise de dívida<br />
para outros alternativos, e reduzindo,<br />
ou aumentando, o seu horizonte<br />
temporal. As empresas de<br />
comércio internacional estão também<br />
a identificar mecanismos de<br />
cobertura de risco cambial.<br />
Estruturas de capital optimizadas<br />
traduzem-se em custos mais reduzidos<br />
e maior flexibilidade. O desafio<br />
está em perceber as opções –<br />
mercado de capitais, fontes de financiamento<br />
alternativo, e questões<br />
fiscais e regulatórias associadas<br />
– no sentido de minimizar o<br />
custo de capital e entregar o máximo<br />
valor aos ‘stakeholders’.<br />
O modelo de Agenda de Capital da<br />
Ernst &Young aponta algumas<br />
medidas para optimizar e preservar<br />
o capital, quando o que está em<br />
causa é financiar e investir tendo<br />
em vista o crescimento. Entre elas<br />
conta-se a redefinição e simplificação<br />
de métricas em torno do dinheiro,<br />
fundo de maneio e retorno<br />
do capital investido, e o controlo<br />
sistemático da alocação de capital.<br />
A consultora sugere ainda que se<br />
acelere a libertação das sinergias<br />
resultantes das aquisições, de forma<br />
a alavancar os lucros e outros<br />
benefícios decorrentes da colaboração<br />
entre dois operadores.<br />
Quando o objectivo é optimizar as<br />
estruturas de capital, as empresas<br />
>4<br />
LIBERTAR FUNDOS<br />
DE CAIXA: 10 PASSOS<br />
PARA O SUCESSO<br />
1<br />
Incentivar uma gestão<br />
em torno do dinheiro<br />
2<br />
Negociar condições<br />
de pagamento com<br />
clientes e fornecedores<br />
3<br />
Melhorar a velocidade<br />
e a eficiência da<br />
facturação e cobrança<br />
4<br />
Utilizar informação<br />
sobre conflitos para<br />
erradicar os motivos<br />
pela raiz<br />
5<br />
Aumentar a frequência<br />
da facturação<br />
6<br />
Desenvolver uma<br />
cadeia de fornecimento<br />
ágil e adequada<br />
à procura<br />
7<br />
Fazer uma gestão<br />
da procura alinhada<br />
com a cadeia de fundo<br />
de maneio<br />
8<br />
Monitorizar a saúde<br />
financeira de clientes e<br />
fornecedores<br />
9<br />
Identificar os factores-<br />
-chave de consumo de<br />
fundo de maneio<br />
10<br />
Identificar e quantificar<br />
os riscos inerentes<br />
às diversas opções<br />
disponíveis no que<br />
respeita a optimizações<br />
de caixa<br />
estão também a investir na melhoria<br />
do controlo de gestão, a aumentar<br />
a despesa em ‘marketing’ para<br />
captar margem, a avaliar aquisições<br />
estratégicas ou desinvestimentos e<br />
a retirar partido de subsídios e outras<br />
formas de incentivos ao investimento.<br />
Algumas consideraram<br />
formar‘joint-ventures’como forma<br />
de aumentar capital, e os mais ambiciosos<br />
apostam em parcerias de<br />
‘private equity’de modo a financiar<br />
os seus planos de crescimento.<br />
Aposta na reestruturação<br />
Muitas empresas estão já a pensar<br />
em formas de aumentar capital<br />
para enfrentar o desafio da dívida<br />
vencida, que deverá atingir os 1,7<br />
triliões de dólares nos próximos<br />
dois anos. No leque de possibilidadesconta-seaalienaçãodeactivos<br />
maduros, com baixo desempenho,<br />
ou que já não são considerados vitais<br />
para a actividade da empresa.<br />
Umaestratégiafocadanasimplificação<br />
das estruturas empresariais<br />
pode gerar poupanças de custo e<br />
ajudar também a libertar meios financeiros.<br />
Em outros casos, a reestruturação<br />
da dívida propriamente<br />
dita pode ter um efeito profundo<br />
no balanço da empresa.<br />
Faceaoaumentodocustodadívida,<br />
a Ernst & Young aconselha<br />
uma análise estratégica dos negócios,<br />
através de uma avaliação independente<br />
da empresa, dos seus<br />
mercados e da estratégia de gestão,<br />
no sentido de identificarpotenciais<br />
desafios futuros (incluindo necessidades<br />
de financiamento) e fornecer<br />
recomendações no que toca a<br />
opções de reestruturação, para<br />
tranquilizar as partes interessadas,<br />
incluindo os accionistas.<br />
Outra forma de enfrentar a subida<br />
do custo da dívida passa por analisar<br />
alternativas de financiamento,<br />
identificando outros potenciais financiadores<br />
e opções disponíveis<br />
no planeamento e execução de um<br />
pacote de financiamento.<br />
O nível de dívida pode também<br />
obrigar a uma reestruturação operacional,<br />
ou plano de recuperação,<br />
a acelerar alienações ou aquisições,<br />
ou mesmo a encerrar, ou fazer<br />
um ‘downsizing’do negócio.<br />
Fusões e aquisições geram<br />
sinergias e economias<br />
As fusões e aquisições representamoutradasformaspossíveisde<br />
gerar sinergias e economias de escala,<br />
e as empresas que consideram<br />
fazê-lo estão cada vez mais<br />
cuidadosas relativamente à realidade<br />
das previsões e à sustentabilidade<br />
das empresas que pretendem<br />
adquirir, ou com as quais tencionam<br />
fazer parcerias.<br />
Atingir alguma certeza sobre os<br />
aspectos comerciais da transacção<br />
é desejável, mas difícil. Obriga a<br />
uma abordagem focada e rigorosa<br />
no que toca a validar os pressupostos-chave<br />
das expectativas futuras<br />
de‘cashflow’ede‘performance’.<br />
Entre os pontos que devem ser<br />
olhados com objectividade e rigor<br />
conta-se o grau de realismo com<br />
que é prevista a receita, tendo por<br />
base aspectos como o mercado, as<br />
suas previsões de crescimento, as<br />
acções dos consumidores, as reacções<br />
dos concorrentes e eventuais<br />
alterações no ambiente de negócios.<br />
Importa também perceber o quão<br />
realistas e objectivos são os planos<br />
da empresa no que diz respeito à<br />
sua estrutura operacional – à capacidade<br />
de gerir a base de custos – e<br />
se são realmente necessários todos<br />
os investimentos previstos para<br />
atingir os objectivos de crescimento<br />
e manter as projecções de ‘cash<br />
flow’(fluxos de caixa) previamente<br />
fixados. Acresce a importância<br />
de perceber se a empresa está preparada<br />
para a mudança, no sentido<br />
de ter as qualificações de gestão<br />
necessárias para gerar as melhorias<br />
operacionais que se esperam<br />
das sinergias.<br />
Paulo Alexandre Coelho<br />
Liquidez e financiamento<br />
Optimizar o<br />
Financiar o crescimento através<br />
das reservas de caixa é uma opção<br />
viáveledebaixorisco,massóterá<br />
sucesso se a empresa tiver um conhecimento<br />
profundo de como o<br />
dinheiro é utilizado na sua actividade:<br />
qual o montante de fundo de<br />
maneio afecto ao negócio e onde<br />
está a ser alocado.<br />
Optimizarofundodemaneioexige<br />
relatórios de gestão precisos e<br />
atempados, uma atribuição clara<br />
de responsabilidades, objectivos e<br />
incentivos alinhados em todas as<br />
funções, e uma previsão de fluxo<br />
de caixa precisa.<br />
Iniciativas directamente aponta-
fundo de maneio<br />
das para a gestão de fundo de maneio<br />
podem melhorar o saldo de<br />
caixa e o balanço no curto prazo,<br />
mas para se conseguirem mudançassustentáveiséprecisoquea<br />
gestão do fundo de maneio esteja<br />
consideradaaolongodetodaacadeia<br />
de valor. E reduzir custos fixos<br />
representa apenas uma face da<br />
equação.<br />
Muitas empresas estão a apostarna<br />
melhoria da eficiência das funções<br />
de suporte e a investir na qualificação<br />
da força de trabalho para aumentar<br />
a flexibilidade e a produtividade.<br />
Olham também para a cadeia de<br />
fornecimento, no sentido de retirar<br />
benefícios da gestão fiscal (incluindo<br />
preços de transferência,<br />
impostos indirectos e direitos<br />
aduaneiros), e dos contractos com<br />
fornecedores e serviços de<br />
‘outsourcing’, procurando melhores<br />
condições comerciais, mais<br />
crédito, descontos e promoções.<br />
Pode ser vantajoso reduzir a base<br />
de fornecedores, para alavancar a<br />
capacidade de negociação, oferecendo<br />
incentivos para resultados<br />
mais promissores, ou pagando<br />
mais rápido para obter descontos<br />
de pronto pagamento.<br />
As empresas estão também a equa-<br />
Muitas empresas<br />
estão a apostar<br />
na melhoria<br />
da eficiência<br />
das funções<br />
de suporte<br />
e a investir na<br />
qualificação da<br />
força de trabalho<br />
para aumentar<br />
a flexibilidade<br />
e a produtividade.<br />
cionar quando é que os contractos<br />
devem ser locais, regionais, centralizados,<br />
em ‘outsourcing’, ou mistos.<br />
Muitas consideram mudar parte<br />
das operações para mais perto da<br />
cadeia de fornecimento, alterar os<br />
formatos de embalagem e optimizar<br />
o armazenamento. Pode ser interessante<br />
estabelecer parcerias<br />
com os fornecedores no que toca a<br />
objectivos de melhoria de ‘performance’,<br />
ou adoptar modelos de negócio<br />
cooperativos, criando ‘jointventures’<br />
com outros concorrentes<br />
e partilhando serviços para obter<br />
economias de escala.<br />
Outras soluções geradoras de<br />
‘cash flow’ envolvem o faseamento<br />
de despesas de capital, bem<br />
como estratégias de caixa transfronteiriças.<br />
As vantagens de uma gestão eficiente<br />
do fundo de maneio são óbvias:<br />
maior liquidez, redução dos<br />
custos de financiamento, incrementodeflexibilidadeemelhoria<br />
das margens. Iniciativas de melhoria<br />
do fundo de maneio traduzem-<br />
-se também, muitas vezes, em autofinanciamento<br />
e em melhoria de<br />
custos operacionais e de transacção,<br />
bem como dos níveis de dívida<br />
incobráveis e de obsolescência<br />
dos ‘stocks’.<br />
>5
COMPETITIVIDADE<br />
ENTREVISTA António Portela, CEO do Grupo Bial<br />
“Não podemos focar<br />
toda a organização<br />
na redução de custos”<br />
Optimizar custos sem comprometer<br />
o crescimento e a inovação é<br />
uma preocupação central na Bial,<br />
empresa que canaliza anualmente<br />
mais de 20% da facturação para<br />
I&D. O CEO explica como.<br />
Como é que na Bial é assegurada<br />
a competitividadeearacionalidade<br />
dos custos numa perspectiva<br />
sustentável?<br />
Com procura permanente na<br />
racionalização das actividades,<br />
optimização de processos e manutenção<br />
de relações estáveis com<br />
fornecedores, mas que sejam competitivas<br />
em termos de condições<br />
financeiras. Existe a preocupação<br />
em ter uma estrutura funcional<br />
“magra”, eficiente e com níveis de<br />
desempenho elevados. A gestão é<br />
baseada em planos trienais, desdobrados<br />
em períodos anuais, e os últimos<br />
doze meses assentes numa<br />
periodicidade mensal.<br />
Quais as principais áreas monitorizadas<br />
e de que ferramentas<br />
se socorrem no que toca à optimização<br />
da estrutura de custos?<br />
Todasasáreasfuncionaistrabalham<br />
com base em planos de atividade,<br />
em orçamentos de exploração<br />
e de investimento mensais, e<br />
em indicadores mensais de desempenho.<br />
A maioria desses indicadores<br />
estão diretamente refletidos<br />
nasavaliaçõesdedesempenhodos<br />
colaboradores. Há uma permanente<br />
preocupação em cumprir com os<br />
orçamentos e indicadores e corrigirosdesvios.Osindicadoressão<br />
monitorizados de forma contínua.<br />
>6<br />
Depois de implementar medidas<br />
de otimização de custos,<br />
deixando pouca margem para<br />
economias adicionais, em situações<br />
limite, como o momento<br />
de austeridade que se<br />
vive, de que ferramentas se<br />
podem socorrer as empresas<br />
para conseguir reduções es-<br />
tratégicas de custos, e em que<br />
áreas?<br />
Em situações limite poderão<br />
ser repensadas áreas de negócio e<br />
revistos projectos de investimento.<br />
Existem sempre margens de melhoria<br />
em gestão de recursos. Mas<br />
é importante fazê-lo em equilíbrio<br />
com o crescimento do negócio.<br />
Não podemos focar a organização<br />
toda na redução de custos e não em<br />
crescimento. Idealmente, devemos<br />
apostar na procura de oportunidades<br />
de crescimento.<br />
Que erros devem ser evitados<br />
em matéria de optimização de<br />
custos, sobretudo numa empresa<br />
como a Bial, cuja atividade<br />
assenta na investigação e<br />
desenvolvimento?<br />
É importante manter uma perspetiva<br />
de negócio a médio prazo.<br />
Há que evitar as reações emocionais<br />
e sob pressão, que em vez de<br />
cortarem “gorduras” eliminam o<br />
“músculo” e a capacidade competitiva<br />
das empresas. Apesar da<br />
pressão, devemos evitar comprometero<br />
crescimento da empresa. O<br />
desenvolvimento de um novo medicamento<br />
inovador demora 10 a<br />
12anoseotempodepatenteconta<br />
desde o início, pelo que é fundamental<br />
manter uma perspetiva de<br />
médio prazo.<br />
Em períodos de menor liquidez,<br />
como o que se atravessa, a gestão<br />
e o custo do fundo de maneio<br />
apresentam-se como dois grandes<br />
desafios. Como garantem<br />
umagestãooptimizadadofundo<br />
de maneio?<br />
Monitorizando as principais<br />
rúbricas que afectam o fundo de<br />
maneio, como os ‘stocks’, os prazos<br />
de recebimento de clientes e de<br />
pagamento a fornecedores. Obtendo<br />
boas condições comerciais, que<br />
minimizem as necessidades de fundo<br />
de maneio, e encurtando os processos.<br />
Por outro lado, é também<br />
importante manter uma gestão de<br />
médio prazo, para evitarmos situações<br />
de maioraperto em momentos<br />
como o que vivemos atualmente.<br />
A Bial vai investir, em 2012, 40<br />
milhões de euros em I&D. É a<br />
prova de que é possível, num<br />
momento de austeridade, optimizar<br />
custos sem comprometer<br />
a inovação e o crescimento?<br />
O valor que refere já resulta de<br />
uma importante seleção das áreas e<br />
projectos prioritários de investimento,<br />
tendo em atenção a actual<br />
“<br />
É preocupante<br />
para a<br />
competitividade<br />
das empresas<br />
portuguesas<br />
o presente nível<br />
das taxas de juro.<br />
conjuntura económica e financeira.<br />
Temosprojetosemcursoquepoderiam<br />
absorver um volume de investimento<br />
muito maior , mas é necessário<br />
ser realista e prudente.<br />
Além de menos disponível, o capital<br />
está também mais caro,<br />
constituindo um grande desafio<br />
para muitos negócios, sobretudo<br />
os que exigem maior investimento.<br />
Como procuram contornar<br />
ou enfrentar esse desafio?<br />
Uma das formas foi realizar financiamentos<br />
de médio prazo, com<br />
taxas de juro e ‘spreads’ fixos. É<br />
preocupante para a competitividade<br />
das empresas portuguesas o presente<br />
nível das taxas de juro, sem<br />
paralelo com os restantes países da<br />
União Europeia. Estão a ser pagas<br />
taxas de juro reais muito elevadas,<br />
com um diferencial significativo<br />
face às empresas de outros países.<br />
Quandoaapostaprioritáriaparao<br />
crescimento da economia são as<br />
exportações, este nível elevado de<br />
taxas de juro é um factor de redução<br />
de competitividade internacional<br />
para as nossas empresas.<br />
Reconheceu à comunicação social<br />
que deviam investir ainda<br />
mais, e que deixaram de lado investimentos<br />
“não core” para o<br />
desenvolvimento da empresa.<br />
Pode explicar, numa óptica de<br />
gestão, o motivo do adiamento?<br />
A prioridade foram os projetos<br />
de investigação em fases mais<br />
avançadas e com retorno financeiro<br />
previsto nos contratos de licenciamento<br />
já assinados. Na actual conjuntura<br />
nacional, mas também internacional,<br />
não era aconselhável a<br />
Bial ter um investimento superior.<br />
Relativamente aos designados<br />
custos de contexto das empresas,<br />
que medidas gostaria de<br />
ver tomadas tendo em vista a<br />
sua redução?<br />
Ter a actividade em Portugal é<br />
tradicionalmente um factor negativo,<br />
mas que foi fortemente agravado<br />
nos últimos dois anos. A imagem<br />
de Portugal, em particular nos<br />
mercados financeiros, as cotações<br />
de ‘rating’ da dívida pública, a necessidade<br />
de intervenção internacional,<br />
prejudicam o desenvolvimento<br />
das empresas portuguesas<br />
de múltiplas formas. O mercado<br />
nacional está, na grande maioria<br />
dos sectores, em crise, não sendo o<br />
mercado farmacêutico excepção.<br />
A escassez de crédito às empresas<br />
privadas é preocupante, o custo do<br />
financiamento é muito elevado, a<br />
quesesomamotradicionalcusto<br />
elevado da energia, uma legislação<br />
laboral rígida, uma legislação fiscal<br />
complexa e em permanente<br />
mudança, uma justiça lenta e uma<br />
burocracia pesada e pouco amiga<br />
da actividade empresarial.
Bruno Barbosa<br />
Duas décadas<br />
de aposta em I&D<br />
Há cerca de duas décadas que a<br />
Bial aposta fortemente em actividades<br />
de Investigação & Desenvolvimento<br />
(I&D), canalizando<br />
anualmente mais de 20% da facturação<br />
nesse sentido.<br />
NosseuscentrosdeI&D,emPortugal<br />
e Espanha, trabalham equipas<br />
internacionais altamente qualificadas,<br />
compostas porquímicos,<br />
farmacologistas, bioquímicos,<br />
médicos e farmacêuticos, dedicadas<br />
à procura de novos fármacos,<br />
particularmente em três campos de<br />
pesquisa: o sistema nervoso central,acardiologiaeaimunoterapia.<br />
Estas equipas centralizam as<br />
fasesiniciaiseestruturantesdo<br />
processo de investigação, colaborandoactivamenteeemredecom<br />
dezenas de centros de investigação,<br />
empresas e instituições internacionais.<br />
OdepartamentodeI&DdoPorto<br />
concentra todas as áreas envolvidas<br />
no processo de descoberta de<br />
Gestão assegurada<br />
por quatro gerações<br />
A Bial nasceu em 1924,pelamão<br />
de Álvaro Portela. Em 1962,António<br />
Emílio Portela assume a presidência<br />
da empresa e, em 1979,<br />
Luís Portela viria a suceder o pai,<br />
transformando, em 30 anos, a pequena<br />
empresa familiar do avô<br />
numa multinacional internacionalmente<br />
reconhecida.<br />
O ano passado foi feita uma auscultação<br />
no mercado internacional,eapesardeidentificadosgestores<br />
de topo com perfil para assumirem<br />
a liderança da empresa, ge-<br />
novos medicamentos: investigação<br />
química, farmacológica e clínica.<br />
Equipado com as mais avançadas<br />
tecnologias, este centro dispõetambémdeumaUnidadede<br />
FarmacologiaHumana, autorizada<br />
a realizar ensaios clínicos de Fase<br />
I, sendo o único laboratório farmacêutico<br />
em Portugal que possui<br />
essa autorização.<br />
Na área da alergologia, a actividade<br />
de I&D, centralizada nas instalações<br />
da empresa em Bilbau, Espanha,<br />
assenta em processos de<br />
biotecnologia e resultou já na estandardização<br />
de 250 alergénios<br />
naturais,33dosquaispadronizados<br />
biologicamente.<br />
Em reconhecimento do compromisso<br />
da Bial com a I&D, o grupo<br />
é também membro da European<br />
Federation ofPharmaceutical Industries<br />
and Associations<br />
(EFPIA), que reúne as companhias<br />
de investigação líderes do sector<br />
farmacêutico europeu.<br />
rou-se uma situação de consenso<br />
no Conselho de Administração relativamente<br />
a António Portela. Foi<br />
apontado por ter carisma e espírito<br />
de liderança, e pelo trabalho desenvolvido<br />
na empresa.<br />
Em Janeiro de 2011, Luís Portela<br />
dá como cumprida a sua missão e<br />
entregaapresidênciaexecutivada<br />
empresa ao seu filho, António Portela.<br />
Quatro gerações à frente dos destinos<br />
de um grupo farmacêutico reconhecido<br />
internacionalmente.<br />
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