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Alergenos recombinantes: pontos fortes em 2006 - Portugal

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D e I m u n o t e r a p i a A l e r g E' n i c a<br />

<strong>Alergenos</strong><br />

<strong>recombinantes</strong>:<br />

<strong>pontos</strong> <strong>fortes</strong> <strong>em</strong> <strong>2006</strong><br />

N°25 - Dez<strong>em</strong>bro de <strong>2006</strong><br />

L. Van Overtvelt (França)<br />

R. Carbonnel (França)<br />

PONTOS IMPORTANTES<br />

Zoom sobre a EAACI<br />

DOSSIER CLÍNICO<br />

Dessensibilização sublingual<br />

<strong>em</strong> pediatria


Caros Colegas,<br />

Já não é segredo para ninguém: as<br />

doenças alérgicas começam muito cedo<br />

na vida, <strong>em</strong> muitos casos logo na<br />

infância. Ficou claro durante a última<br />

década que, <strong>em</strong>bora uma percentag<strong>em</strong><br />

significativa de crianças afectadas possa<br />

evoluir para uma situação de r<strong>em</strong>issão ou<br />

tolerância s<strong>em</strong> intervenção médica, um<br />

número considerável poderá continuar<br />

um percurso atópico e acabar por ter<br />

sintomas crónicos persistentes, que<br />

deverão afectá-los ao longo de toda a<br />

sua vida.<br />

Os alergologistas pediátricos têm<br />

responsabilidades específicas: precisam<br />

de identificar o probl<strong>em</strong>a, o mais cedo<br />

possível na vida; precisam de encarar<br />

uma intervenção imediata, capaz não só<br />

de reduzir os sintomas, mas também de<br />

modular o resultado, a longo prazo, da<br />

doença atópica. Além disso, têm também<br />

de ter <strong>em</strong> conta as mais recentes<br />

estratégias da intervenção primária.<br />

No último congresso da EAACI, que é<br />

amplamente coberto nesta edição, foram<br />

referidos novos dados de extr<strong>em</strong>a<br />

importância. É óbvio que o progresso da<br />

investigação alergológica deverá abrir<br />

novas e amplas vias para uma<br />

intervenção pr<strong>em</strong>atura, facto que deverá<br />

justificar as nossas esperanças e as<br />

esperanças dos nossos doentes, quer<br />

sejam jovens ou idosos.<br />

Pr. Ulrich Wahn, Al<strong>em</strong>anha<br />

Índice<br />

TÓPICOS 4<br />

Zoom sobre a EAACI<br />

DOSSIER CIENTÍFICO 7<br />

<strong>Alergenos</strong> Recombinantes: <strong>pontos</strong> <strong>fortes</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>2006</strong><br />

Dos extractos naturais às vacinas de <strong>recombinantes</strong><br />

Dr. L. Van Overtvelt (França)<br />

<strong>Alergenos</strong> <strong>recombinantes</strong>: novas ferramentas<br />

biológicas<br />

R. Carbonnel (França)<br />

DOSSIER CLÍNICO 12<br />

Dessensibilização sublingual <strong>em</strong> pediatria<br />

Prof. C.P. Bauer (Al<strong>em</strong>anha)<br />

SOBRE O PACIENTE 14<br />

Escutar os pacientes e as suas famílias<br />

“Serviço de Informação sobre Asma e Alergias”<br />

C. Rolland (França)<br />

FORUM 16<br />

A posição da ITSL no tratamento da<br />

rinite alérgica<br />

Pr. T. Zuberbier (Al<strong>em</strong>anha)<br />

REVISTA DE IMPRENSA 18<br />

EXPRESSionS Departamento de comunicação de Stallergenes<br />

Director de publicação: Christophe Bourdon. Editores-Chefes: Michèle Lhéritier-Barrand,<br />

Lise L<strong>em</strong>onnier. Editor-Chefe Adjunto: Chantal Didiot. Quadro editorial: Victor Alvà,<br />

Olivier de Beaumont, Riad Fadel, Franco Frati, Michèle Lhéritier-Barrand, Philippe Moingeon,<br />

Paola Puccinelli, François Saint-Martin, Jochen Sieber, Thao Tran Xuan. Produzido por: Ektopic.<br />

Gestores de edição: Christiane Mura, Arielle le Masne. Subeditores: Catherine Huzer,<br />

Estelle Pasquier. Fotografias: Laurent/BSIP, GOODSHOOT/JupiterImages (página 1), DR (páginas 5-10-<br />

15), Stallergenes (páginas 4-7-9-13-16-17).


Este ano, o congresso da EAACI (European Acad<strong>em</strong>y of<br />

Allergology and Clinical Immunology – Acad<strong>em</strong>ia Europeia<br />

de Alergologia e Imunologia Clínica) realizou-se sob os<br />

auspícios dos avanços da investigação, tal como ilustrado<br />

pelo título desta 25.ª edição: “Investigação básica no campo<br />

das alergias e da imunologia clínica – um pré-requisito para<br />

a melhoria dos cuidados”.<br />

4<br />

T0 ' PICOS<br />

Zoom Um olhar sobre sobre o o<br />

congresso da EAACI<br />

(Viena, Áustria, 10-14 de Junho <strong>2006</strong>)<br />

OCongresso de <strong>2006</strong> da EAACI<br />

merece destaque devido ao manancial<br />

de notícias <strong>em</strong> matéria de epid<strong>em</strong>iologia.<br />

Na verdade, foram<br />

apresentados os novos resultados decorrentes<br />

do estudo ISAAC de Fase III, <strong>em</strong> que se colocou<br />

a tónica na evolução contínua da incidência<br />

e prevalência das doenças alérgicas. Estas<br />

apresentações foram também a ocasião adequada<br />

para debates enriquecedores à volta<br />

da hipótese higienista: aparent<strong>em</strong>ente, a redução<br />

das doenças infecciosas coincide com<br />

um aumento da prevalência da asma.<br />

Os avanços terapêuticos recentes, relativos<br />

sobretudo à imunoterapia sublingual, foram<br />

objecto de muitas palestras. A prevenção das<br />

A evolução das alergias<br />

A abertura do encontro foi dedicada à evolução da especialização desde que, há c<strong>em</strong> anos, o pediatra<br />

austríaco, Cl<strong>em</strong>ens von Pirquet, introduziu o termo “alergia”.<br />

O Professor Johansson (Suécia) descreveu os progressos consideráveis ocorridos no estudo das<br />

alergias durante o século XX, com incidência particular no papel fundamental des<strong>em</strong>penhado pela<br />

IgE, na extr<strong>em</strong>a diversidade dos alergenos potencialmente implicados e na compreensão das<br />

interacções celulares complexas, características das manifestações alérgicas. Mais recent<strong>em</strong>ente,<br />

estes últimos anos foram marcados por avanços terapêuticos importantes, como os novos métodos<br />

de imunomodulação da resposta da IgE, o desenvolvimento dos alergenos <strong>recombinantes</strong>, o uso de<br />

anticorpos monoclonais anti-IgE e a acção nos receptores de alta afinidade da IgE.<br />

Para o Professor Valovirta (Finlândia), as repercussões das alergias na qualidade de vida,<br />

especialmente da rinite alérgica, o papel des<strong>em</strong>penhado pelo paciente na gestão do próprio<br />

tratamento e os probl<strong>em</strong>as sociais relacionados com as alergias são os principais desafios a abordar<br />

pelos alergologistas europeus no futuro próximo.<br />

Johansson SGO, Valovirta E. The Evolution of allergy. [Sessão plenária 1]<br />

alergias foi igualmente debatida, tendo-se<br />

atribuído um papel especial à amamentação<br />

na prevenção secundária.<br />

Não obstante, sobreveio uma controvérsia<br />

referente à prevenção terciária da alergia aos<br />

ácaros, com discussões animadas à volta do<br />

rácio custo/eficácia de uma evicção total e<br />

efectiva dos ácaros do pó.


A dermatite<br />

alérgica de<br />

contacto na<br />

criança: não é<br />

tão rara assim!<br />

Uma equipa de dermatologistas eslovenos<br />

estudou a prevalência das alergias de<br />

contacto nas crianças, b<strong>em</strong> como os<br />

principais alergenos envolvidos, numa<br />

população de 97 crianças, com idades<br />

compreendidas entre os 0 e os 12 anos<br />

de idade. Os resultados foram<br />

comparados com os de um grupo de<br />

adultos (n = 3.440).<br />

Os testes com pensos foram positivos<br />

para 40,2% destas crianças (64,1% no<br />

caso das raparigas) com suspeita de<br />

dermatite alérgica de contacto, versus<br />

43,9% de adultos. Os alergenos envolvidos<br />

com mais frequência incluíram níquel (12),<br />

perfume (mistura de fragrâncias) (10), cobalto (9),<br />

lanolina (7) e látex (mistura de mercapto) (5). Os<br />

sintomas cutâneos localizaram-se, regra geral, nas<br />

mãos (30,7%) e nos pés (23,1%). Neste estudo, a<br />

dermatite atópica não pareceu constituir um factor<br />

de risco para a dermatite alérgica de contacto.<br />

Concluindo, a alergia de contacto é uma causa<br />

mais frequente de dermatite <strong>em</strong> crianças do<br />

que se poderia supor: a sua prevalência é<br />

comparável à observada nos adultos.<br />

Uma das hipóteses avançadas pelos autores é que,<br />

nos dias de hoje, as crianças estão mais expostas<br />

a alergenos variados devido, por ex<strong>em</strong>plo, a uma<br />

maior higiene e a novos padrões estéticos.<br />

Lunder T et al. Epid<strong>em</strong>iology of contact allergy in children.<br />

[Abstract 1421]<br />

Primeiros resultados do estudo<br />

ISAAC III<br />

A terceira fase do programa de investigação epid<strong>em</strong>iológica ISAAC (International<br />

Study of Asthma e Allergies in Childhood – Estudo Internacional da Asma e Alergias<br />

na Infância) foi levada a cabo <strong>em</strong> 2002 e 2003.Teve por objectivo principal evidenciar<br />

a evolução da epid<strong>em</strong>iologia da asma, das alergias e da rinoconjuntivite <strong>em</strong> comparação<br />

com a Fase I do estudo, o que corresponde a uma média de 7 anos de avaliação.<br />

O ISAAC III recolheu dados de 193.404 crianças, com idades compreendidas<br />

entre os 6 e os 7 anos (66 centros <strong>em</strong> 37 países), e <strong>em</strong> 304.679 adolescentes, entre<br />

os 13 e os 14 anos de idade (106 centros <strong>em</strong> 56 países).<br />

Na maior parte dos centros de investigação, a evolução da prevalência é de, pelo<br />

menos, um desvio padrão para, pelo menos, uma das doenças. Os aumentos da prevalência<br />

são duas vezes mais frequentes do que as reduções, sendo observados<br />

mais frequent<strong>em</strong>ente na faixa etária dos 6 aos 7 anos do que <strong>em</strong> adolescentes.<br />

Os aumentos mais notados estão relacionados com o ecz<strong>em</strong>a nas crianças mais<br />

pequenas e com a rinoconjuntivite alérgica <strong>em</strong> todas as faixas etárias.<br />

Uma excepção reconfortante é representada pelos sintomas da<br />

asma nos adolescentes, nos quais se observa mais vezes<br />

reduções do que aumentos, pelo menos nos centros com os<br />

níveis de prevalência mais altos.<br />

A heterogeneidade dos resultados consoante os países<br />

e as diferentes regiões do mundo<br />

é um sinal do envolvimento de múltiplos<br />

factores na epid<strong>em</strong>iologia<br />

das doenças alérgicas na<br />

criança.<br />

Asher M et al; ISAAC Phase Three Study<br />

Group. Worldwide time trends in the<br />

prevalence of symptoms of asthma, allergic<br />

rhinoconjunctivitis, and ecz<strong>em</strong>a<br />

in childhood: ISAAC Phases<br />

One and Three repeat<br />

multicountry crosssectional<br />

surveys. Lancet<br />

<strong>2006</strong>; 368: 733-43.<br />

Rinite alérgica: a ITSL melhora a qualidade de vida<br />

O impacto da rinite alérgica na qualidade de vida (QdV) pode ser considerável. Como tal, é fundamental ser possível avaliar a<br />

eficácia dos tratamentos disponíveis neste parâmetro. Este estudo italiano envolveu 452 pacientes com rinite alérgica. Os alergenos<br />

principais foram os ácaros do pó (208 pacientes) e os pólenes das gramíneas (196 pacientes) ou pólenes de Parietária (104 pacientes).<br />

As repercussões da rinite na qualidade de vida foram determinadas por meio de um questionário específico, o RQLQ<br />

(Rhinoconjunctivitis Quality of Life Questionnaire – Questionário acerca da Qualidade de Vida com Rinoconjuntivite), e o estado clínico<br />

por meio da auto-avaliação dos pacientes, numa escala visual analógica (EVA), de 0 (muito mau) a 10 (excelente). Estes dois<br />

parâmetros foram avaliados antes e depois de um ano de imunoterapia sublingual (ITSL) (fase de iniciação de 11 dias seguida por<br />

300 IR x 3/s<strong>em</strong>ana).<br />

Antes do tratamento, o nível da QdV era idêntico no caso dos três alergenos principais. A deterioração média da QdV, avaliada pelo<br />

RQLQ, diminuiu de 2,93 ± 1,04 antes da ITSL para 1,50 ± 0,98 depois da ITSL, o que representa uma melhoria significativa (p < 0,001).<br />

Na EVA, as classificações obtidas corresponderam, respectivamente, a 4,47 ± 2,11 e 6,92 ± 1,64 (p < 0,001).<br />

A ITSL administrada <strong>em</strong> doses altas proporciona uma melhoria significativa da QdV nos pacientes com rinite alérgica.<br />

Amoroso S et al. Quality of life in allergic rhinitis and impact of high dose sublingual immunotherapy. [Abstract 1399]<br />

5


6<br />

T0 ' PICOS<br />

Probióticos e imunidade<br />

Foram incluídas neste estudo treze crianças com dermatite atópica e<br />

alergias alimentares, a receber probióticos (n = 7) ou um placebo<br />

(n = 6) ao longo de 3 meses.<br />

Os resultados in vitro (estimulação por extracto de amendoim cru)<br />

vieram d<strong>em</strong>onstrar que a adição de probióticos a culturas de células<br />

sanguíneas mononucleares induz um aumento da proliferação celular<br />

e da produção do interferão-γ, da IL-10 e do TNF-α. Após a<br />

administração oral de probióticos, a proliferação celular sofre<br />

igualmente um aumento in vitro ao passo que a produção de IgE<br />

diminui. Não obstante, ex vivo, observa-se uma redução da produção<br />

do interferão-γ, da IL-10 e do TNF-α. As classificações de gravidade<br />

da dermatite atópica e o grau de sensibilização a esta doença (IgE<br />

específica e testes cutâneos por picada) permanec<strong>em</strong> inalterados.<br />

Logo, apesar de apelar<strong>em</strong> a uma certa prudência aquando da<br />

extrapolação dos resultados obtidos in vitro para in vivo, estes<br />

resultados mostram, ainda assim, que os probióticos pod<strong>em</strong> ter um<br />

potencial efeito imunomodulador in vivo.<br />

van Hoffen et al. Differences in the immunomodulatory potential of probiotics in vitro versus ex vivo upon<br />

oral administration in children with atopic dermatitis and food allergy. [Abstract 300]<br />

Eficácia e tolerância da ITSL no<br />

protocolo co-sazonal ultra-rápido<br />

O estudo multicêntrico al<strong>em</strong>ão ECRIT (Efficacy of Coseasonal Rush sublingual<br />

Immunotherapy in patients with allergic rhinoconjunctivitis to grass<br />

pollen – Eficácia da Imunoterapia Sublingual CoSazonal Rápida <strong>em</strong> pacientes<br />

com rinoconjuntivite alérgica ao pólen das gramíneas) teve por propósito<br />

a avaliação, <strong>em</strong> larga escala, da eficácia e tolerância da imunoterapia<br />

sublingual (ITSL) administrada no decorrer da estação dos pólenes para o<br />

tratamento da rinoconjuntivite alérgica. Os resultados foram obtidos na primeira<br />

estação de tratamento com 173 pacientes. A ITSL foi administrada após<br />

uma fase de titulação de 60 minutos (30-90-150-300 IR), com uma dose 300<br />

IR por dia, ao longo da estação inteira do pólen (duração média do tratamento:<br />

87,7 dias [21 500 IR]). Em comparação com o estado inicial, a classificação<br />

combinada (sintomas e tratamentos de recurso) aumentou 8,9% no grupo do<br />

placebo e diminuiu 28,2% no grupo da ITSL (p = 0,033). Não se observou qualquer<br />

reacção anafiláctica ou sistémica grave durante o tratamento. Do<br />

mesmo modo, não se constatou a existência de qualquer diferença <strong>em</strong> termos<br />

de incidência dos efeitos adversos entre os grupos do placebo e da ITSL.<br />

Este estudo, realizado numa grande coorte de pacientes, v<strong>em</strong> mostrar que<br />

a ITSL, com uma titulação ultra-rápida, é eficaz logo na primeira estação<br />

do tratamento, além de ser b<strong>em</strong> tolerada. Constitui, pois, uma opção terapêutica<br />

interessante para os pacientes com rinoconjuntivite alérgica.<br />

Ott H et al. ECRIT-study : safety and efficacy of coseasonal SLIT in patients with grass pollen allergy.<br />

[Abstract 1685]<br />

Rumo à<br />

produção do<br />

recombinante<br />

Der p 1<br />

No caso da alergia a ácaros do<br />

pó doméstico, a imunoterapia<br />

usa, actualmente, extractos<br />

biológicos complexos. Para abrir<br />

caminho para uma nova<br />

geração de tratamentos que<br />

<strong>em</strong>pregu<strong>em</strong> alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong>, uma equipa<br />

franco-al<strong>em</strong>ã interessou-se pela<br />

produção do principal alergeno,<br />

o Dermatophagoides<br />

pteronyssinus (Der p 1), pelas<br />

plantas do tabaco.<br />

Assim, foi possível expressar<br />

várias formas do Der p 1<br />

(glicosiladas ou não, com ou<br />

s<strong>em</strong> actividade da cisteína<br />

protease, com ou s<strong>em</strong><br />

propéptido) <strong>em</strong> folhas de<br />

tabaco. A configuração, a<br />

capacidade de ligação da IgE<br />

e a indução da proliferação das<br />

células linfóides das moléculas<br />

<strong>recombinantes</strong> do Der p 1 assim<br />

obtidas são, pois, comparáveis<br />

às da molécula nativa.<br />

Esta técnica de produção<br />

económica pode estar na<br />

orig<strong>em</strong> dos alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong> <strong>em</strong><br />

configuração nativa, a utilizar<br />

para propósitos de diagnóstico<br />

ou terapêutica.<br />

Burtin D et al. Expression of the house dust mite<br />

major allergen Der p 1 in tobacco-plants.<br />

[Abstract 193]


Aimunoterapia específica (ITE) é o<br />

único tratamento curativo específico<br />

das alergias mediadas pela<br />

IgE (tipo I). Este método t<strong>em</strong> provado<br />

ser particularmente benéfico na rinite<br />

alérgica, na asma ligeira a moderada e na<br />

hipersensibilidade aos venenos de himenópteros.<br />

Os extractos naturais são<br />

misturas proteicas complexas<br />

Actualmente, a ITE consiste na administração,<br />

por via subcutânea ou sublingual, de<br />

extractos solúveis, preparados a partir de<br />

uma fonte natural de alergenos (culturas de<br />

ácaros, pólenes, fungos epitélios de animais,<br />

etc). Estes extractos alergénicos são<br />

efectivamente misturas proteicas complexas,<br />

constituídas, por um lado, por alergenos<br />

principais e secundários e, por outro, por<br />

componentes biologicamente inactivos,<br />

como outras proteínas, glicoproteínas e<br />

hidratos de carbono.<br />

Esta heterogeneidade exige a impl<strong>em</strong>entação<br />

de processos de standardização específicos,<br />

por forma a assegurar uniformidade<br />

entre os vários lotes de produto.<br />

A standardização baseia-se principalmente<br />

na medição da capacidade global do<br />

extracto para se ligar às IgE<br />

(ou seja, na sua actividade<br />

alergénica total). Hoje <strong>em</strong><br />

dia, são utilizadas novas tecnologias<br />

(SELDI-TOF, electroforese<br />

com gel a 2D e PF2D)<br />

para obter um perfil exacto<br />

das proteínas presentes no<br />

extracto. No entanto, estes<br />

métodos não são quantitativos<br />

e, por conseguinte, não<br />

pod<strong>em</strong> ser utilizados como<br />

base para a calibração ou o<br />

controlo de qualidade dos<br />

lotes farmacêuticos [1].<br />

Principais<br />

características dos<br />

alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong><br />

DOSSIER CIENTiFICO<br />

`<br />

Os alergenos <strong>recombinantes</strong>:<br />

<strong>pontos</strong> <strong>fortes</strong> <strong>em</strong> <strong>2006</strong><br />

Até à data foram identificados e caracterizados mais de 500 alergenos, graças às técnicas da<br />

biologia molecular (clonag<strong>em</strong> e sequenciação). Passou assim a ser possível substituir os<br />

extractos biológicos naturais por alergenos <strong>recombinantes</strong>, produzidos pela engenharia<br />

genética, e que pod<strong>em</strong> ser utilizados para fins diagnósticos e terapêuticos.<br />

Dos extractos naturais às vacinas<br />

<strong>recombinantes</strong><br />

A produção de alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong>, pela aplicação de<br />

técnicas de biotecnologia, abre o<br />

caminho a novas terapêuticas de<br />

dessensibilização.<br />

Propriedades<br />

Comparativamente aos<br />

extractos alergénicos, os<br />

alergenos <strong>recombinantes</strong><br />

apresentam muitas vantagens<br />

[1]:<br />

- perfeitamente caracterizados ao nível<br />

molecular e imunoquímico;<br />

- altamente purificados;<br />

- fáceis de standardizar;<br />

- permit<strong>em</strong> um diagnóstico e um tratamento<br />

mais precisos.<br />

Selvagens ou hipoalergénicos?<br />

Os alergenos <strong>recombinantes</strong> conhecidos<br />

sob a designação de “tipo selvag<strong>em</strong>” são<br />

produzidos para mimar os alergenos naturais<br />

nos seus mais ínfimos pormenores. O<br />

Contributo dos alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong> para as terapêuticas<br />

alergológicas do futuro<br />

Um estudo multicêntrico europeu, que utilizou a via<br />

subcutânea, d<strong>em</strong>onstrou pela primeira vez que os<br />

alergenos <strong>recombinantes</strong> (e mais particularmente o<br />

Bet v 1) eram tão eficazes como os alergenos naturais<br />

[2]. Estão actualmente <strong>em</strong> curso ensaios clínicos com<br />

o comprimido sublingual de Bet v 1.<br />

Futuramente, a optimização do adjuvante e da fórmula<br />

deverão permitir uma melhoria apreciável do tratamento<br />

das alergias respiratórias. É com base neste conceito<br />

que estão a ser desenvolvidos os “Enhanced Allergens”,<br />

que têm como objectivo definir o protótipo de uma<br />

terapêutica sublingual recombinante.<br />

As vantagens<br />

dos alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong><br />

são expressas<br />

<strong>em</strong> termos de<br />

pureza,<br />

replicabilidade,<br />

traçabilidade e<br />

rendimento.<br />

7


Na ITSL, a<br />

estratégia<br />

baseia-se na<br />

utilização de<br />

alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong><br />

numa<br />

conformação<br />

nativa, afim de<br />

facilitar o seu<br />

reconhecimento<br />

e a captura pelas<br />

células<br />

dendríticas do<br />

tipo Langerhans<br />

existentes na<br />

mucosa da boca.<br />

8<br />

DOSSIER CIENTiFICO<br />

`<br />

termo “selvag<strong>em</strong>” é utilizado por oposição<br />

ao termo “hipoalergénico”, que caracteriza<br />

os alergenos modificados, por mutagénese<br />

dirigida ou alteração da estrutura tridimensional,<br />

afim de reduzir a sua capacidade de<br />

ligação às IgE.<br />

Teoricamente, as formas hipoalergénicas<br />

deveriam levar à produção de vacinas subcutâneas<br />

mais seguras, <strong>em</strong>bora o seu interesse<br />

na imunoterapia sublingual (ITSL) se<br />

mantenha mal definido. De facto, a apresentação<br />

dos alergenos <strong>recombinantes</strong> na<br />

sua configuração natural parece preferível,<br />

na medida <strong>em</strong> que, por um lado, exist<strong>em</strong><br />

poucos mastócitos ao nível da mucosa<br />

sublingual e, por outro, o reconhecimento<br />

pelas IgE permite atingir as células dendríticas<br />

do tipo Langerhans FcεRI+, capazes de<br />

produzir TGF-ß e IL-10 [3].<br />

Métodos de produção<br />

A partir de uma fonte de alergenos, o ARN<br />

mensageiro (ARNm) é isolado e utilizado<br />

como matriz para a síntese do ADN compl<strong>em</strong>entar<br />

(ADNc) (Figura 1). A etapa<br />

seguinte é a ampliação através da técnica da<br />

reacção da cadeia de polimerase PCR (polymerase<br />

chain reaction) do gene codificado<br />

para o alergeno identificado (lista disponível<br />

<strong>em</strong> www.allergome.org). O gene que interessa<br />

é depois inserido num vector adequado,<br />

geralmente um plasmídeo, afim de<br />

facilitar a sua expressão num organismo<br />

hospedeiro.<br />

Os diversos sist<strong>em</strong>as<br />

hospedeiros<br />

Os sist<strong>em</strong>as de expressão procariota, como<br />

as bactérias (Escherichia coli) produz<strong>em</strong><br />

proteínas <strong>recombinantes</strong>, s<strong>em</strong> qualquer modificação<br />

pós-traducional. É assim possível<br />

obter, na maioria dos casos, alergenos cuja<br />

reactividade é comparável à da forma nativa,<br />

de um modo pouco dispendioso, simples e<br />

rápido. No entanto, quando é necessária uma<br />

determinada conformação espacial ou modificações<br />

pós-traducionais – como é o caso da<br />

glicosilação – pode ser utilizado um sist<strong>em</strong>a<br />

de expressão eucariota, como as leveduras<br />

(Pichia pastoris, Saccharomyces cerevisiae),<br />

os Baculovirus de insectos, e diversas<br />

espécies vegetais, como o tabaco Nicotiana<br />

tabacum ou a cevada. Todavia, estes sist<strong>em</strong>as<br />

não induz<strong>em</strong> necessariamente uma glicosilação<br />

idêntica à da glicoproteína nativa.<br />

A escolha do sist<strong>em</strong>a de expressão depende<br />

portanto da natureza da proteína a exprimir e<br />

da sua utilização posterior.<br />

Purificação<br />

No final do processo de fermentação e indução<br />

da expressão do gene, a proteína<br />

recombinante é purificada através da aplicação<br />

de métodos cromatográficos adequados.<br />

Os níveis de caracterização e<br />

standardização obtidos com os alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong> serão, teoricamente, muito<br />

mais elevados do que aqueles que pod<strong>em</strong><br />

ser obtidos com extractos alergénicos:<br />

homologia, pureza, concentração alergénica,<br />

actividade e potenciais níveis de contaminação.<br />

Adjuvantes e galénicos<br />

As proteínas altamente purificadas ou<br />

<strong>recombinantes</strong> são pouco imunogénicas,<br />

razão porque é necessário um adjuvante<br />

para induzir a resposta imune adequada<br />

através de um co-sinal que é enviado às<br />

células imunes [1, 4].<br />

Em latim, 'adjuvare' significa “ajudar”; assim,<br />

um adjuvante pode ser definido como qualquer<br />

molécula biológica ou sintética que<br />

contribui para modular a resposta imune,<br />

quando combinada com um antigene.<br />

O interesse dos adjuvantes<br />

O uso de adjuvantes t<strong>em</strong> diversos objectivos:<br />

- aumentar a eficácia da vacina;<br />

- permitir a redução das doses com manutenção<br />

da eficácia;<br />

- simplificar a administração.<br />

Qual o adjuvante a escolher?<br />

O papel das células T reguladoras e das<br />

citoquinas imunosupressoras (IL-10 e TGF-ß),<br />

como mediadoras da ITE e da resposta<br />

imune normal aos alergenos, está b<strong>em</strong> estabelecido<br />

[5].<br />

É por isso que os adjuvantes capazes de<br />

induzir células dendríticas tolerogénicas e/ou<br />

linfócitos T reguladores poderiam ser bons<br />

candidatos [1, 4]. Os modelos humanos (cocultura<br />

de células dendríticas derivadas de<br />

monócitos e de linfócitos T) e os modelos animais<br />

(ratinhos Balb/C sensibilizados com<br />

albumina do ovo) foram preparados para a<br />

selecção de candidatos adjuvantes (Figura 2).<br />

Os resultados do nosso trabalho suger<strong>em</strong><br />

que a combinação de 1α,25-di-hidroxivitamina<br />

D3 e dexametasona ou bactérias lácticas,<br />

como a Lactobacillus plantarum, pode<br />

induzir uma forte produção de IL-10 pelas<br />

células T humanas e aumentar a eficácia<br />

da ITSL nos ratinhos sensibilizados, após a<br />

administração de albumina do ovo.


Formas galénicas<br />

As formas galénicas inovadoras, como comprimidos,<br />

biopelículas ou pós mucoadesivos<br />

pod<strong>em</strong> também ser utilizadas para<br />

aumentar o t<strong>em</strong>po de contacto com a mucosa<br />

sublingual e tornar mais fácil atingir as células<br />

dendríticas locais [1, 4]. O nosso trabalho<br />

d<strong>em</strong>onstrou que a forma mucoadesiva<br />

da albumina do ovo aumenta a eficácia da<br />

ITSL nos ratinhos sensibilizados com esta<br />

substância.<br />

Conclusão<br />

Dr. L. Van Overtvelt<br />

Antony (França)<br />

A produção de alergenos <strong>recombinantes</strong><br />

abre o caminho ao desenvolvimento<br />

de testes de diagnóstico e a novas terapêuticas<br />

de dessensibilização.<br />

Os alergenos <strong>recombinantes</strong> estão já<br />

disponíveis in vitro para a realização<br />

de testes diagnósticos e são uma boa<br />

ajuda para os pacientes que necessitam<br />

de várias sensibilizações, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po que permit<strong>em</strong> uma melhor identificação<br />

das alergias cruzadas e uma<br />

orientação mais correcta da ITE. Pod<strong>em</strong><br />

ainda ser utilizados futuramente para<br />

testes de diagnóstico in vivo: cutâneos<br />

e de provocação.<br />

Os tratamentos com base nos alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong> irão certamente constituir<br />

um passo <strong>em</strong> frente no tratamento<br />

das doenças alérgicas nos anos mais<br />

próximos.<br />

1- Moingeon P. Sublingual immunotherapy: from biological<br />

extracts to recombinant allergens. Allergy <strong>2006</strong>; 61<br />

(Suppl. 81): 15-9.<br />

2- Pauli G, Mallin H, Rak S et al. Clinical efficacy of<br />

subcutaneous immunotherapy in birch pollen allergic<br />

patients: a randomized, double-blind, placebo-controlled<br />

study with recombinant Bet v 1 versus natural Bet v 1 or<br />

standardized birch extract. XXVe EAACI, Vienna, 10-14<br />

junho <strong>2006</strong> [Abstract 83].<br />

3- Novak N. Targeting dendritic cells in allergen<br />

immunotherapy. Immunol Allergy Clin North Am <strong>2006</strong>;<br />

26: 307-19.<br />

4- Mascarell L, Van Overtvelt L, Moingeon P. Novel ways for<br />

immune intervention in immunotherapy: Mucosal allergy<br />

vaccines. Immunol Allergy Clin North Am <strong>2006</strong>; 26: 283-<br />

306.<br />

5- Moingeon P, Batard T, Fadel R, Frati F, Sieber J,<br />

Van Overtvelt L. Immune mechanisms of allergen-specific<br />

sublingual immunotherapy. Allergy <strong>2006</strong>; 61: 151-65.<br />

Figura 1: Principais fases da produção de alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong><br />

Modelo humano in vitro<br />

iDC DC CD4+<br />

+ Th0 naif<br />

24 h 7 días<br />

DC imaturo<br />

Adjuvantes<br />

Modelo de murino in vivo<br />

Sensibilização<br />

Fontes de alergenos<br />

Purificação de ARNm<br />

Transcrição reversa de ADNc<br />

Sonda = iniciador<br />

de oligo-nucleótido<br />

Amplificação do gene de interesse por PCR<br />

Vectores<br />

E. coli<br />

DC modulado<br />

Análise do fenotipo e da<br />

produção de citoquinas<br />

Inserção no vector (clonag<strong>em</strong>)<br />

Vectores de recombinante<br />

Transformação do hospedeiro<br />

Produção, selecção e<br />

purificação dos transformantes<br />

Proteína de interesse do recombinante<br />

IL-12R<br />

CD4+<br />

Th1<br />

ICOS<br />

CD4+<br />

Treg<br />

Tbet<br />

IFN-γ<br />

GATA 3<br />

IL-4<br />

Foxp3<br />

TGFβ<br />

IL-10<br />

Análise de expressão de genes<br />

0 14 2122232425 28 88 93<br />

i.p. Aerosol<br />

Terapêutica sublingual Sacrifício<br />

OVA+Alum OVA<br />

2 x s<strong>em</strong>ana durante 2 meses<br />

OVA +/- adjuvante ou formulação<br />

Dessensibilização<br />

P. pastoris<br />

Figure 2: Selecção de candidatos a adjuvantes<br />

CD4+<br />

Th2<br />

Análise da função<br />

respiratória,<br />

da resposta humoral<br />

e celular e da<br />

inflamação<br />

9


10<br />

DOSSIER CIENTiFICO `<br />

<strong>Alergenos</strong> <strong>recombinantes</strong>: novas<br />

ferramentas biológicas<br />

Atendendo às suas características, sobretudo<br />

no que se refere à sua pureza, os alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong> são considerados ferramentas<br />

de grande utilidade para o estudo dos<br />

extractos alergénicos, o diagnóstico, etiologia<br />

e tratamento das doenças alérgicas.<br />

Os alergenos da bétula<br />

clínica, de acordo com a geografia e a existência<br />

de reacções cruzadas entre fontes alergénicas<br />

aparent<strong>em</strong>ente distantes.<br />

Mais concretamente, a possibilidade oferecida<br />

pelos doseamentos de IgE específicos dos alergenos<br />

<strong>recombinantes</strong>, para evidenciar perfis<br />

de sensibilização, permitiu explicar por que<br />

razão, no Norte da Europa, os sintomas característicos<br />

da alergia a certos frutos e vegetais se<br />

manifestam muitas vezes através de síndromas<br />

orais, enquanto que os pacientes do Sul da<br />

Europa apresentam mais frequent<strong>em</strong>ente sintomas<br />

de etiologia sistémica. Efectivamente, o<br />

estudo destes perfis d<strong>em</strong>onstra que a sensibilização<br />

ao Bet v 1 (principal alergeno da bétula)<br />

é dominante no Norte da Europa, dirigindo a sensibilização<br />

para a reactividade aos homólogos<br />

desta proteína também presente noutras espécies,<br />

enquanto que, nas regiões mediterrânicas,<br />

são mais dominantes as sensibilizações às LTP<br />

(proteínas de transferência de lípidos), o que leva<br />

à predominância de verdadeiras alergias alimentares.<br />

Determinar os perfis de reactividade<br />

e analisar as reacções cruzadas<br />

Os alergenos <strong>recombinantes</strong> abr<strong>em</strong> um novo<br />

campo de investigação e fornec<strong>em</strong>, desde<br />

logo, informações anteriormente inacessíveis. É<br />

este, por ex<strong>em</strong>plo, o caso quando, num quadro<br />

Alergeno rBet v 1 rBet v 2 rBet v 3 rBet v 4 rBet v 6 rBet v 7<br />

Peso molecular 17kDa 15kDa 23kDa 8kDa 34kDa 18kDa<br />

ImunoCAP<br />

disponível<br />

Nome PR-10 Profilina CBP-<br />

Polcalcina<br />

Reacções<br />

cruzadas<br />

Um alergeno recombinante é uma<br />

molécula produzida com técnicas<br />

biotecnológicas que tornam possível<br />

a identificação e posteriormente a<br />

reprodução de proteínas específicas a partir<br />

de um extracto alergénico. A maior parte dos<br />

alergenos <strong>recombinantes</strong> existentes são expressos<br />

com Escherichia coli, além de que são<br />

geralmente comparáveis às moléculas nativas,<br />

quer do ponto de vista estrutural, quer da respectiva<br />

sequência de aminoácidos.<br />

A sua designação foi estabelecida <strong>em</strong><br />

conformidade com a nomenclatura oficial<br />

(www.allergen.org) e estão agrupados de acordo<br />

com as respectivas funções bioquímicas. Assim,<br />

encontramos grupos de proteínas estruturais,<br />

proteínas reguladoras, proteínas de reserva,<br />

proteínas PR (relacionadas com a patogénese),<br />

etc.<br />

Comprender melhor a epid<strong>em</strong>iologia<br />

das alergias<br />

Testes in vitro com alergenos <strong>recombinantes</strong><br />

permit<strong>em</strong> o estudo de fenómenos complexos,<br />

designadamente diferenças na reactividade<br />

Sim Sim Não Sim Sim Não<br />

Pólenes de árvores:<br />

Ord<strong>em</strong> das fagáceas,<br />

carvalho, castanheiro<br />

Alimentos de orig<strong>em</strong><br />

vegetal: cenouras,<br />

aipo, maçãs, peras,<br />

cerejas, avelãs, etc.<br />

Muitos<br />

pólenes e<br />

alimentos<br />

de orig<strong>em</strong><br />

vegetal<br />

Polcalcina Isoflavona<br />

reductasa<br />

Só pólenes Alimentos de<br />

orig<strong>em</strong> vegetal:<br />

peras,<br />

pêssegos,<br />

laranjas,<br />

líchias,<br />

curgetes,<br />

cenouras<br />

Ciclofilina


de alergia ao pólen de bétula, se abre a possibilidade de<br />

especificar a(s) molécula(s) responsável(eis) pelos sintomas<br />

alérgicos (Quadro da página 10).<br />

Dão ainda a possibilidade de, quando as espécies vegetais<br />

são taxonomicamente próximas e polinizam durante o<br />

mesmo período, determinar qual é a fonte alergénica realmente<br />

responsável pelos sintomas. Em breve, utilizando uma<br />

análise dos alergenos <strong>recombinantes</strong>, será possível compreender<br />

quais as proteínas capazes de induzir reactividade<br />

clínica e quais as responsáveis pelas reacções cruzadas,<br />

a fim de deduzir as fases a impl<strong>em</strong>enter para um melhor tratamento<br />

do paciente. No entanto, é já possível, utilizando<br />

doseamentos de IgE específicos para os alergenos <strong>recombinantes</strong>,<br />

para compl<strong>em</strong>entar as medidas tradicionais, obter<br />

perfis de reactividade que possibilit<strong>em</strong> compreender a etiologia<br />

das reacções e analisar as interacções potentialmente<br />

heteroespecíficas.<br />

Também já é possível determinar o perfil de sensibilização<br />

antes de um tratamento por imunoterapia específica, a fim<br />

de avaliar se as reacções alérgicas do paciente são ou não<br />

causadas por sensibilização ao principal alergeno de uma<br />

fonte alergénica (por ex<strong>em</strong>plo Bet v 1 no pólen de bétula).<br />

Neste caso, o paciente é efectivamente susceptível de responder<br />

melhor à imunoterapia, uma vez que os extractos<br />

contêm percentagens elevadas e controladas do principal<br />

alergeno.<br />

Aumentar a sensibilidade dos testes de<br />

diagnóstico<br />

Finalmente, os alergenos <strong>recombinantes</strong> também são actualmente<br />

utilizados para aumentar a sensibilidade dos testes<br />

in vitro. Em alguns casos, quando a extracção não permite<br />

representar <strong>em</strong> quantidade suficiente um componente alergénico<br />

específico, adicionando ao extracto esta proteína<br />

específica, obtida por recombinação genética, permite<br />

aumentar a sensibilidade clínica. A melhoria do látex através<br />

da adição do alergeno recombinante rHev b 5, ou,<br />

mais recent<strong>em</strong>ente, o processo de melhoria da avelã, enriquecida<br />

<strong>em</strong> rCor a 1, são ex<strong>em</strong>plos concretos da utilização<br />

dos alergenos <strong>recombinantes</strong>.<br />

R. Carbonnel<br />

Medical business and development, Phadia,<br />

St Quentin en Yvelines (França)<br />

Conclusão<br />

Foi há 10 anos que foi apresentado o primeiro alergeno<br />

recombinante sobre o ImmunoCAP®. Desde então,<br />

foram realizados alguns estudos in vitro, estando actualmente<br />

disponíveis mais de 30 alergenos <strong>recombinantes</strong>.<br />

Os nossos cientistas prossegu<strong>em</strong> as suas investigações,<br />

estudando o impacto clínico e explorando novas vias<br />

para uma melhor utilização destas novas ferramentas.<br />

Estamos convictos de que os alergenos <strong>recombinantes</strong><br />

não são apenas el<strong>em</strong>entos importantes de investigação,<br />

como têm também aplicações correntes para<br />

o diagnóstico in vitro das manifestações alérgicas, o que<br />

representa um benefício para os alergologistas e os<br />

seus pacientes.<br />

Glossário<br />

● <strong>Alergenos</strong> principais/secundários<br />

Dentro de cada fonte de alergenos (pólenes, alimentos, etc),<br />

pod<strong>em</strong>os distinguir:<br />

- alergenos principais, contra os quais pelo menos 50% dos<br />

indivíduos sensibilizados com a substância desenvolveram<br />

anticorpos IgE específicos detectáveis no soro.<br />

Ex<strong>em</strong>plo: O Bet v 1 é o principal alergeno do polen de bétula<br />

- alergenos secundários, que ating<strong>em</strong> menos de 50% dos<br />

indivíduos.<br />

● Citoquinas<br />

São proteínas solúveis que transmit<strong>em</strong> mensagens entre as<br />

células e que actuam como mediadores intercelulares ao<br />

ligar<strong>em</strong>-se a receptores específicos nas células-alvo. As<br />

citoquinas inclu<strong>em</strong> as linfoquinas, monoquinas, interleuquinas e<br />

interferões.<br />

● Dessensibilização, imunoterapia<br />

específica, vacinoterapia alergénica<br />

Termos sinónimos, todos eles correspondentes ao mesmo<br />

tratamento que actua directamente ao nível dos linfócitos T,<br />

através da reorientação da resposta imunológica do paciente<br />

alérgico.<br />

● IL-10<br />

A Interleuquina-10 é uma citoquina que diminui a resposta<br />

pró-inflamatória.<br />

● Mutagénese dirigida<br />

Introdução de mutações no ADN para induzir a modificação<br />

dirigida dos amino-ácidos na sequência de uma proteína.<br />

● Plasmídeo<br />

Pequeno fragmento circular de ADN extracromossómico, capaz<br />

de replicar de forma autónoma na célula de orig<strong>em</strong> e na célula<br />

hospedeira. Os plasmídeos são o principal veículo de inserção<br />

para novas informações genéticas nos microrganismos ou nas<br />

plantas.<br />

● SELDI-TOF<br />

A espectrometria de massa do tipo SELDI-TOF (Surface<br />

Enhanced Laser Desorption Ionisation – Time Of Flight)<br />

distingue-se dos outros tipos de espectrometria de massa pela<br />

possibilidade de reter selectivamente as proteínas de uma<br />

amostra <strong>em</strong> superficies químicas diversas.<br />

● PF2D<br />

Sist<strong>em</strong>a de fraccionamento bidimensional.<br />

● TGF-ß<br />

O Transforming Growth Factor-beta (Factor beta de crescimento<br />

e transformação) é uma citoquina com efeitos pleiotrópicos.<br />

Inibe, <strong>em</strong> especial, a proliferação de células linfóides e t<strong>em</strong> um<br />

efeito imunosupressor.<br />

● Traçabilidade<br />

É a possibilidade de seguir ou acompanhar um produto nas<br />

várias fases da sua produção, transformação e marketing.<br />

11


`<br />

Dossier CLiNICO<br />

A imunoterapia sublingual (ITSL) é uma opção terapêutica que<br />

pode ser administrada a partir dos 5 anos de idade, nos casos<br />

de rinite alérgica ou de asma ligeira a moderada devidamente<br />

controlada.<br />

12<br />

Durante<br />

a ITSL,<br />

o alergeno<br />

actua sobre<br />

as células<br />

dendríticas<br />

da mucosa<br />

oral,<br />

estimulando<br />

a produção<br />

de linfócitos<br />

Treg.<br />

Dessensibilização<br />

sublingual <strong>em</strong> pediatria:<br />

experiência de mais de 10 anos<br />

Desde o desenvolvimento da imunoterapia<br />

subcutânea específica (ITSC)<br />

que têm vindo a ser testadas outras<br />

formas de tratamento, <strong>em</strong> especial a<br />

administração oral de alergenos, com vista a<br />

melhorar e facilitar o tratamento dos doentes<br />

alérgicos. Entre essas formas de tratamento, a<br />

administração sublingual revelou-se particularmente<br />

interessante e superior à via digestiva,<br />

<strong>em</strong> termos de resposta imunológica e de eficácia.<br />

A ITSL consiste <strong>em</strong> depositar algumas<br />

gotas de alergenos debaixo da lingua e <strong>em</strong><br />

mantê-las durante dois ou três minutos, a fim de<br />

permitir a absorção do fármaco pela mucosa<br />

oral. Nas crianças, a imunoterapia sublingual<br />

é utilizada há cerca de dez anos.<br />

A ITSL contribui para o reequilíbrio<br />

Th1/Th2<br />

A ITSL permite tratar as alergias dependentes<br />

da IgE. O aumento da produção de IgE, que<br />

está na orig<strong>em</strong> destas alergias, está relacionado<br />

com um certo desequilíbrio a favor dos linfócitos<br />

Th2 sobre os linfócitos Th1. A regulação do<br />

equilíbrio entre Th1/Th2 é efectuada pelos linfócitos<br />

de regulação T (Treg), cuja actividade<br />

é reduzida nos indivíduos atópicos.<br />

A ITSL induz uma captação do alergeno pelas<br />

células dendríticas da mucosa sublingual, induzindo<br />

por sua vez uma estimulação dos linfócitos<br />

Treg. Esta estimulação resulta numa<br />

multiplicação das células Treg e numa maior<br />

produção de citoquinas, como a interleuquina-10<br />

(IL-10), que induz a síntese da IgG4 e uma<br />

redução da produção de IgE através do<br />

aumento relativo da população de Th1. Estes<br />

fenómenos contribu<strong>em</strong> para restabelecer o<br />

equilíbrio Th1/Th2 [1].<br />

Indicações e efeitos a longo prazo<br />

da ITSL nas crianças<br />

A eficácia da ITSL no tratamento da rinoconjuntivite<br />

alérgica e da asma ligeira a moderada<br />

controlada está agora comprovada nas<br />

crianças [2].<br />

Os dados recolhidos ao longo de mais de dez<br />

anos <strong>em</strong> crianças asmáticas ou alérgicas aos<br />

ácaros têm d<strong>em</strong>onstrado uma eficácia comprovada,<br />

que se mantém ao longo do período de tratamento<br />

e perdura após o final do mesmo [3]. De<br />

facto, diversos estudos abertos realizados<br />

d<strong>em</strong>onstraram que o risco de agravamento da<br />

doença alérgica e, <strong>em</strong> especial, da sensibilização<br />

a novos alergenos, pode ser reduzido graças à<br />

ITSL após o final do tratamento.<br />

<strong>Alergenos</strong> disponíveis<br />

Os alergenos mais habitualmente utilizados na<br />

ITSL são os pólenes e os ácaros [4]. A imunoterapia<br />

deve, s<strong>em</strong>pre que possível, ser<br />

efectuada apenas com um único grupo de<br />

alergenos; o efeito parece ser <strong>em</strong> função da<br />

dose administrada (dose terapêutica cumulativa).<br />

A ITSL como tratamento das alergias alimentares<br />

actualmente apenas é utilizada <strong>em</strong> casos<br />

isolados, não fazendo parte da prática clínica<br />

standard. Embora tenha sido impl<strong>em</strong>entada<br />

<strong>em</strong> alguns estudos [5], o seu interesse<br />

requer confirmação através de estudos posteriores.<br />

A ITSL nas crianças asmáticas<br />

A imunoterapia administrada por via sublingual<br />

ou subcutânea é compatível com os tratamentos<br />

básicos da asma. Assim a administração<br />

concomitante de uma ITSL e de<br />

corticosteróides inaláveis, anti-histamínicos<br />

ou antagonistas dos receptors de leucotrienos,<br />

é perfeitamente possível. O impacto destes fármacos<br />

sobre a eficácia da ITSL não é ainda


<strong>em</strong> conhecido, <strong>em</strong>bora se saiba que estes<br />

tratamentos médicos são por vezes a condição<br />

necessária para a aplicação de uma ITSL<br />

ou uma ITE por via subcutânea, uma vez que<br />

a imunoterapia pode ser encarada nos períodos<br />

de estabilidade da doença (asmática,<br />

por ex<strong>em</strong>plo).<br />

O interesse de um tratamento<br />

precoce<br />

A imunoterapia deve ser iniciada numa fase<br />

precoce da doença alérgica, s<strong>em</strong> esperar<br />

pelo aparecimento de sintomas secundários<br />

(evolução espontânea). Assim, teoricamente,<br />

é possível utilizar a ITSL nas crianças, ainda<br />

na primeira infância, <strong>em</strong>bora a aplicação da<br />

terapêutica dependa essencialmente da adesão<br />

dos doentes e dos respectivos pais ao tratamento.<br />

O momento óptimo para iniciar a<br />

terapêutica deve ser definido caso a caso,<br />

<strong>em</strong> função da gravidade das manifestações<br />

alérgicas, das capacidades da criança e do<br />

seu ambiente familiar. Na prática, a imunoterapia<br />

começa geralmente a ser aplicada um<br />

a dois anos após o início da doença.<br />

A questão da melhoria dos resultados terapêuticos<br />

através de uma indução mais precoce,<br />

mantém-se <strong>em</strong> aberto e deverá constituir<br />

o objecto de estudos<br />

futuros.<br />

A importância dos dados de<br />

segurança<br />

Na medida <strong>em</strong> que a ITSL é administrada <strong>em</strong><br />

casa e s<strong>em</strong> necessidade de vigilância médica,<br />

a sua inocuidade reveste-se da maior importância.<br />

Os inúmeros estudos até agora publicados,<br />

tal como os dados resultantes da<br />

prática clínica nunca fizeram referência a qualquer<br />

efeito secundário de tipo alérgico (choque<br />

anafiláctico, por ex<strong>em</strong>plo), nas doses<br />

recomendadas pelos fabricantes [6]. Estes<br />

dados de segurança aplicam-se às crianças<br />

com idades a partir dos 5 anos; porém, os<br />

dados clínicos disponíveis relativamente às<br />

crianças de menor idade são, por enquanto,<br />

insuficientes.<br />

De um modo geral, a ITSL é b<strong>em</strong> tolerada,<br />

apesar dos habituais efeitos secundários no<br />

local de aplicação. A avaliação global da ITSL<br />

pelas famílias e pelo pessoal médico é geralmente<br />

muito positiva. Nas crianças, que geralmente<br />

têm medo de injecções e prefer<strong>em</strong> ser<br />

tratadas no seu ambiente familiar, a ITSL está<br />

particularmente indicada e apresenta grandes<br />

hipóteses de êxito, desde que sejam dadas<br />

explicações claras e seja aplicada uma abordag<strong>em</strong><br />

adaptada.<br />

Pr. C.P. Bauer<br />

Munique (Al<strong>em</strong>anha)<br />

Um diálogo de confiança, explicações<br />

detalhadas e uma informação completa e<br />

clara são algumas das condições<br />

indispensáveis para o êxito do tratamento.<br />

1- Akdis CA, Barlan B, Bahceciler N, Akdis M. Immunological<br />

mechanisms of sublingual immunotherapy.<br />

Allergy <strong>2006</strong>; 61 (suppl. 81): 11-14.<br />

2- Pham-Thi N, de Blic J, Scheinmann P. Sublingual<br />

immunotherapy in the treatment of children.<br />

Allergy <strong>2006</strong>; 61 (suppl. 81): 7-10.<br />

3- Di Rienzo V, Marcucci F, Puccinelli P et al. Long-lasting<br />

effect of sublingual immunotherapy in children with<br />

asthma due to house dust mite: a 10-year prospective<br />

study. Clin Exp Allergy 2003; 33: 206-10.<br />

4- Wilson DR, Torres Lima M, Durham SR.<br />

Sublingual immunotherapy for allergic rhinitis:<br />

syst<strong>em</strong>atic review and meta-analysis.<br />

Allergy 2005; 60: 4-12.<br />

5- Enrique E, Pineda F, Malek T et al.<br />

Sublingual immunotherapy for hazelnut food<br />

allergy: a randomized, double-blind,<br />

placebo-controlled study with a standardized<br />

hazelnut extract.<br />

J Allergy Clin Immunol 2005; 116 : 1073-9.<br />

6- Passalacqua G, Guerra L, Fumagalli F,<br />

Canonica GW. Safety profile of sublingual<br />

immunotherapy. Treat Respir Med <strong>2006</strong>; 5:<br />

225-34.<br />

A imunoterapia<br />

deve ser<br />

realizada num<br />

período de<br />

estabilidade da<br />

doença<br />

asmática.<br />

13


Sobre o paciente<br />

Escutar os pacientes e as<br />

suas famílias<br />

Saber como responder às expectativas e às<br />

exigências dos pacientes faz parte integrante do<br />

tratamento da asma e das alergias. O diálogo<br />

médico-paciente durante a consulta é um el<strong>em</strong>ento<br />

principal na abordag<strong>em</strong> total, essencial para, de uma forma<br />

personalizada, atribuir um lugar à doença e aos tratamentos<br />

no dia a dia de cada paciente. No entanto, mesmo que este<br />

diálogo seja aberto e atento, um certo número de pacientes<br />

mantém-se ansioso e incapaz de reagir perante as<br />

consequências da doença na sua vida diária: os receios<br />

quanto aos tratamentos e a incompreensão da necessidade<br />

de administrar um tratamento quando “está tudo OK”,<br />

preocupações quanto ao ambiente, angústia quanto ao facto<br />

de ter uma nova reacção alérgica grave (sobretudo no caso<br />

de uma alergia alimentar na criança), etc. Ao dar<strong>em</strong><br />

resposta a estas perguntas e preocupações, as associações<br />

de pacientes, juntamente com os profissionais de saúde, têm<br />

um papel essencial a cumprir. De facto, é muitas vezes<br />

através das questões colocadas por estes grupos que as<br />

reflexões sobre os cuidados totais têm sido capazes de<br />

evoluir com acções construtivas, como a introdução de<br />

conselheiros de ambiente interno, a generalização de<br />

projectos de acolhimento individualizado nas comunidades,<br />

a integração no projecto terapêutico de cada paciente de um<br />

plano de acção terapêutico escrito e personalizado, etc.<br />

QUARTIS : Questionário sobre a Alergia Respiratória<br />

Tratada através da Imunoterapia Sublingual<br />

Hoje <strong>em</strong> dia, a maioria dos pacientes quer participar nas decisões terapêuticas que lhes<br />

diz<strong>em</strong> respeito. No contexto da imunoterapia sublingual (ITSL), a adesão do paciente ao<br />

tratamento e o cumprimento da terapêutica são factores essenciais. É neste sentido que foi<br />

desenvolvido <strong>em</strong> França um questionário específico, o QUARTIS, destinado a pacientes com<br />

rinite alérgica sazonal ou persistente.<br />

O QUARTIS é uma ferramenta que pode ser utilizada ao longo do período de tratamento, a<br />

partir da decisão de iniciar uma dessensibilização, e até ao final do tratamento. Os diferentes<br />

<strong>pontos</strong> do questionário são concebidos para fornecer, por um lado, uma informação<br />

sintética mas completa, incluindo da percepção da gravidade da doença (score de sintomas<br />

e score de alergias no dia a dia) e, por outro, a percepção quanto ao tratamento pela ITSL:<br />

razões que justificam a administração do tratamento, vantagens e desvantagens esperadas,<br />

facilidade de aplicação, inconvenientes sentidos, satisfação quanto ao tratamento, efeitos<br />

secundários.<br />

Um estudo apresentado no EAACI, <strong>em</strong> Junho de <strong>2006</strong>*, possibilitou a validação da<br />

relevância do QUARTIS, tornando este questionário uma ferramenta promissora para uma<br />

melhor gestão do tratamento <strong>em</strong> total concordância com o paciente. Um estudo de<br />

observação longitudinal está actualmente a ser realizado, com vista à confirmação do valor<br />

previsível do QUARTIS na prática clínica diária.<br />

Actualmente disponível <strong>em</strong> língua francesa, o QUARTIS está a ser traduzido para Inglês,<br />

Italiano, Al<strong>em</strong>ão e Espanhol.<br />

* Didier A et al. Development and validation of a questionnaire dedicated to the manag<strong>em</strong>ent of adults<br />

patients treated with sublingual immunotherapy for allergic rhinitis. XXVe Congresso da Acad<strong>em</strong>ia Europeia<br />

de Alergologia e Imunologia Clínica, Viena (Áustria), 10–14 de Junho de <strong>2006</strong> [Abstract 1398].<br />

14<br />

Associações de pacientes<br />

<strong>em</strong> toda a Europa<br />

Além do nível individual, as associações de pacientes des<strong>em</strong>penham<br />

um papel chave no diálogo com os profissionais de saúde e<br />

as instituições públicas, no sentido de impl<strong>em</strong>entar<strong>em</strong> medidas de<br />

Saúde Pública (luta contra o tabagismo e a poluição, segurança alimentar,<br />

etiquetag<strong>em</strong> de alimentos, etc.).<br />

A EFA (European Federation of Allergy and Airway Diseases Patients<br />

Association – Associação de Pacientes da Federação Europeia de<br />

Doenças Alérgicas e Respiratórias), fundada <strong>em</strong> 1991, inclui hoje<br />

cerca de quarenta associações espalhadas pela maior parte dos<br />

países europeus: Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Finlândia,<br />

França, Grécia, Itália, Lituânia, Lux<strong>em</strong>burgo, Noruega, Holanda,<br />

República Checa, @Reino Unido, Eslovénia, Suécia e Suíça. As organizações<br />

m<strong>em</strong>bros da EFA congregam assim mais de 400.000<br />

pessoas: pacientes alérgicos, asmáticos ou com BPCO e profissionais<br />

de saúde. Esta forte representação confere à EFA uma importância<br />

inquestionável para intervir nas políticas sanitárias à escala<br />

europeia, com vista a uma melhoria do estado de saúde e da qualidade<br />

de vida dos pacientes.<br />

Entre as inúmeras acções levadas a cabo ao longo dos últimos<br />

anos pela EFA, não pod<strong>em</strong>os deixar de citar a sua participação <strong>em</strong><br />

diversos inquéritos de grande envergadura à população. Assim, o<br />

“Fighting for breath” contribuíu com dados muito importantes<br />

sobre como os pacientes asmáticos sent<strong>em</strong> a sua doença. Ao nível<br />

da rinite alérgica, o “Patient Voice Allergy Survey” permitiu avaliar<br />

o impacto desta doença sobre a qualidade de vida e as actividades<br />

diárias de mais de 3.500 pacientes e evidenciar os principais<br />

factores desencadeantes (figura abaixo). A EFA participa igualmente<br />

no “EuroPrevall”, um estudo europeu alargado sobre a<br />

prevalência e as causas das alergias alimentares.<br />

Factores desencadeantes da rinite alérgica<br />

(“Patient Voice Allergy Survey”,<br />

3.562 participantes)<br />

Sabão 8<br />

Frio 11<br />

Calor<br />

Humidade<br />

14<br />

Poluição industrial<br />

16<br />

17<br />

Poluição automóvel<br />

Detergentes domésticos<br />

Alimentos<br />

20<br />

21<br />

21<br />

Edredons e cortinados 22<br />

Perfumes 24<br />

Fungos 27<br />

Fumo de cigarros<br />

30<br />

Pêlos de animais<br />

36<br />

Pó<br />

57<br />

Pólenes<br />

Para mais informações sobre a EFA, visite o site:<br />

www.efanet.org<br />

75


“Serviço de Informação sobre Asma e Alergias”<br />

Desde Fevereiro de 2002 que, <strong>em</strong> França, a linha de atendimento do “Serviço de Informação sobre<br />

Asma e Alergias” recebe chamadas de pacientes asmáticos e/ou alérgicos e das respectivas<br />

famílias. Este serviço foi criado por iniciativa da Direcção Geral de Saúde, que confiou a respectiva<br />

gestão à Associação Asma e Alergias (Association Asthme & Allergies) e v<strong>em</strong> colmatar uma verdadeira<br />

necessidade, conforme d<strong>em</strong>onstrado pelo seu êxito actual, <strong>em</strong> que conta já com mais de 13.500<br />

contactos resolvidos.<br />

A maioria das chamadas (90%) para o “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” (Asthme<br />

& Allergies Infos Services) é feita pelos próprios pacientes e pelas suas famílias e um <strong>em</strong> cada<br />

dez pedidos parte de profissionais de saúde. Embora ambos os grupos estejam muitas vezes<br />

relacionados, 59% das chamadas refer<strong>em</strong>-se a probl<strong>em</strong>as de asma e 41% a probl<strong>em</strong>as alérgicos.<br />

Os pedidos recebidos, que são variados, pod<strong>em</strong> ser agrupados conforme as razões que levam<br />

a fazer as chamadas e que resum<strong>em</strong> b<strong>em</strong> as preocupações dos pacientes e das suas famílias<br />

(figura abaixo).<br />

Mireille Landucci Estar melhor informado, principalmente sobre os tratamentos<br />

Conselheira da Linha Os pedidos de informação específica constitu<strong>em</strong> a principal razão das chamadas para este serviço. De<br />

de Atendimento<br />

facto, depois de uma consulta com o seu médico, o doente t<strong>em</strong> muitas vezes necessidade de esclarecer<br />

alguns <strong>pontos</strong> abordados durante a consulta e de ter ao seu dispor alguma documentação que<br />

possa consultar.<br />

• As perguntas sobre os tratamentos vêm na primeira posição, representando 21% dos pedidos de informação. As perguntas<br />

sobre os riscos de efeitos secundários dos medicamentos, a curto prazo, mas<br />

<strong>em</strong> especial os riscos a longo prazo, e principalmente nas crianças, continuam<br />

a ser a principal preocupação. De modo idêntico, a necessidade de um tratamento<br />

de longo prazo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é b<strong>em</strong> compreendida ou aceite, e os conselheiros<br />

dedicam muito do seu t<strong>em</strong>po a tranquilizar as pessoas e a explicar-lhes<br />

a importância deste tipo de tratamento.<br />

• As recomendações úteis para evitar os alergenos, e <strong>em</strong> especial os ácaros<br />

do pó doméstico, ocupam a segunda posição dos contactos (17%).<br />

• As alergias alimentares constitu<strong>em</strong> a terceira principal razão dos pedidos de<br />

informação (15%). A percentag<strong>em</strong> de chamadas sobre este t<strong>em</strong>a t<strong>em</strong> vindo a<br />

aumentar consideravelmente desde o lançamento da linha gratuita e v<strong>em</strong> confirmar<br />

a angústia dos pais que têm um filho com uma alergia alimentar e que<br />

procuram soluções práticas para o probl<strong>em</strong>a: interpretação dos rótulos dos alimentos,<br />

conselhos dietéticos, conselhos práticos para a substituição de um<br />

determinado alimento alergénico por outro inócuo, etc.<br />

• Por último, muitas das chamadas refer<strong>em</strong>-se a casos de dermatite atópica, rinite<br />

alérgica, etc.<br />

Razões que levam a contactar o<br />

“Serviço de Informação sobre<br />

Asma e Alergias”<br />

(2002-<strong>2006</strong>: 13.500 chamadas)<br />

Informações específicas<br />

Orientação para uma opção de tratamento<br />

Praticamente um terço das chamadas para o “Serviço de Informação sobre Asma<br />

e Alergias” deve-se a um pedido de informação sobre um determinado tipo de Aconselhamento<br />

profissional de saúde ou um estabelecimento de assistência. Estes<br />

pedidos refer<strong>em</strong>-se principalmente a uma orientação quanto aos especialistas<br />

a consultar (49%) e às Escolas da Asma (31%). A verdade é que estas escolas constitu<strong>em</strong> uma verdadeira extensão das consultas<br />

médicas especializadas, e são um apoio apreciável para uma melhor gestão da doença pelos pacientes.<br />

Necessidade de ser ouvido e apoiado<br />

Falar, test<strong>em</strong>unhar<br />

Um número considerável de pessoas que contactam este Serviço sent<strong>em</strong> necessidade de ser<strong>em</strong> ouvidas, <strong>em</strong> especial sobre o<br />

seu tratamento, e de discutir<strong>em</strong> as suas apreensões sobre a doença, que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é b<strong>em</strong> compreendida por aqueles que<br />

estão à sua volta, quer se trate de m<strong>em</strong>bros da família ou de colegas de trabalho ou da escola. São muitas vezes pais de crianças<br />

asmáticas ou alérgicas, que se sent<strong>em</strong> particularmente ansiosos quanto à doença do seu filho e que têm um enorme sentimento<br />

de solidão e incompreensão.<br />

57%<br />

11%<br />

32%<br />

Christine Rolland,<br />

Directora da Associação da Asma e Alergias, Paris (França)<br />

15


16<br />

ForUM<br />

O papel da ITSL no<br />

tratamento da rinite<br />

alérgica<br />

A novas perspectivas terapêuticas da rinite alérgica pod<strong>em</strong><br />

certamente ser consideradas do ponto de vista do paciente,<br />

mas também do ponto de vista da relação médico-paciente.<br />

De facto, o progresso terapêutico deve ser acompanhado por<br />

informações e explicações claras, para que estas novas<br />

opções possam ser adaptadas aos requisitos da nossa prática<br />

diária.<br />

Onúmero de doentes com rinite alérgica<br />

no mundo ocidental é considerável,<br />

qualquer que seja o tipo<br />

de estudo analisado. Os mais<br />

recentes dados publicados sobre o estudo<br />

ECHRS (European Community Health<br />

Respiratory Survey) d<strong>em</strong>onstram uma prevalência<br />

da rinite alérgica na população europeia<br />

<strong>em</strong> geral de cerca de 20% [1].<br />

Para uma utilização óptima dos<br />

diversos tratamentos<br />

Oferecer aos nossos pacientes com rinite alérgica<br />

uma qualidade de vida próxima da<br />

normalidade é um dos nossos<br />

objectivos terapêuticos. O controlo<br />

dos sintomas pelas<br />

soluções terapêuticas medicamentosas<br />

actualmente<br />

disponíveis (corticosteróides<br />

nasais e antihistamínicos)<br />

é bastante<br />

satisfatório, mas provavelmente<br />

não é a melhor<br />

solução para o controlo dos<br />

pacientes [2].<br />

Uma melhoria desta situação<br />

poderia passar pela utilização<br />

combinada e sinérgica dos diferentes<br />

tratamentos s<strong>em</strong> uma fórmula<br />

universal, mas com estratégias individualizadas<br />

e adaptadas a cada caso. No consenso<br />

da ARIA (Allergic Rhinitis and its Impact on<br />

Asthma) [3], a rinite alérgica é um factor de risco<br />

reconhecido da asma, e estas duas patologias<br />

respiratórias dev<strong>em</strong> ser abordadas<br />

segundo uma mesma metodologia <strong>em</strong> termos<br />

de reconhecimento da doença “rinite” e do<br />

seu controlo.<br />

Passar as mensagens correctas<br />

O diálogo com o paciente é um el<strong>em</strong>ento importante<br />

para o cuidado das doenças alérgicas,<br />

mas deve ir além de simples questões sobre a<br />

sintomatologia nasal. A rinite alérgica provoca,<br />

efectivamente, uma verdadeira cascata de<br />

incómodos que, no dia a dia, ultrapassam a<br />

simples esfera nasal. A importância dos efeitos<br />

da alergia sobre a vida quotidiana, tanto do<br />

ponto de vista prático como social, deve igualmente<br />

ser tida <strong>em</strong> conta. É b<strong>em</strong> conhecida de<br />

todos nós uma quebra de rendimento no trabalho<br />

de qualquer indivíduo que sofra de rinite<br />

alérgica [4] e pode ser comprovada pelo cálculo<br />

dos custos indirectos gerados, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

pela alergia aos pólenes (tabela da pág. 17).<br />

É essencial explicar aos doentes a importância<br />

e a base dos tratamentos. Para a rinite e a<br />

dessensibilização, esta informação passa por<br />

uma explicação das funções do sist<strong>em</strong>a imunitário<br />

(a distinção entre “estranho” e “perigoso”)<br />

e eventuais disfunções observadas na<br />

alergia. Uma explicação simples dos mecanismos<br />

de reorientação da relação Th1/Th2<br />

pode permitir obter uma melhor adesão do<br />

doente ao tratamento a administrar.<br />

Níveis de eficácia dos tratamentos<br />

Conforme recomendado no relatório de 1998<br />

da Organização Mundial de Saúde (OMS), a<br />

imunoterapia deve ser considerada no tratamento<br />

global das doenças alérgicas e ocupa<br />

o seu lugar no arsenal terapêutico disponível,<br />

juntamente com outros tratamentos [5]. A via de<br />

administração sublingual justifica-se, do ponto<br />

de vista fisiopatológico, pela densidade dos


eceptores FcεRI nas células de<br />

Langerhans da mucosa oral humana, que<br />

é superior nos indivíduos atópicos, comparativamente<br />

aos indivíduos saudáveis.<br />

Os estudos sobre os tratamentos sintomáticos<br />

revelaram um efeito versus placebo<br />

de cerca de 10% para os<br />

anti-histamínicos [6] e de 15 a 20% para os<br />

corticosteróides nasais [7]. Trabalhos<br />

recentes para avaliação da dessensibilização<br />

pela via sublingual, administrados<br />

sob a forma de comprimidos, d<strong>em</strong>onstraram<br />

uma melhoria superior a 35% do score<br />

dos sintomas versus placebo e uma redução<br />

de mais de 45% do score sintomático<br />

medicamentoso. Estes resultados são<br />

ainda mais importantes na medida <strong>em</strong> que<br />

os pacientes do grupo do placebo podiam<br />

ter acesso aos tratamentos sintomáticos<br />

(anti-histamínicos e corticosteróides).<br />

Extraído de um relatório de Pr. T. Zuberbier<br />

Berlim (Al<strong>em</strong>anha), EAACI <strong>2006</strong><br />

Custos indirectos das alergias.<br />

Redução da actividade na sequência da alergia aos pólenes<br />

(ex<strong>em</strong>plo de uma <strong>em</strong>presa com 15.000 trabalhadores)<br />

Poucas hipóteses<br />

60 dias de polinização<br />

e 10% de perda de<br />

eficácia<br />

Muitas hipóteses<br />

120 dias de polinização<br />

e 30 % de perda de<br />

eficácia<br />

Número de<br />

trabalhadores<br />

alérgicos<br />

T<strong>em</strong>po de trabalho<br />

perdido<br />

(horas/hom<strong>em</strong>/ano)<br />

T<strong>em</strong>po de<br />

trabalho<br />

perdido<br />

(total anual)<br />

Prejuízos anuais<br />

devidos às<br />

alergias<br />

(base de €30/h)<br />

3 000 34,30 102 900 3 087 000 €<br />

3 000 205,80 617 400 18 522 000 €<br />

1- Bauchau V, Durham SR. Prevalence and rate of diagnosis of allergic rhinitis in Europe. Eur Respir J 2004 ; 24 : 758–64.<br />

2- White P et al. Symptom control in patients with hay fever in UK general practice: how well are we doing and is there a need for<br />

allergen immunotherapy? Clin Exp Allergy 1998 ; 28 : 266–70.<br />

3- World Health Organization. Allergic rhinitis and its impact on asthma. Allergy 2002 ; 57 : 841–55.<br />

4- Crystal-Peters J, Crown WH, Goetzel RZ, Schutt DC. The cost of productivity losses associated with allergic rhinitis. Am J Manag<br />

Care 2000 ; 6 : 373-8.<br />

5- Allergen immunotherapy: therapeutic vaccines for allergic diseases. World Health Organization. American acad<strong>em</strong>y of Allergy,<br />

Asthma and Immunology. Ann Allergy Asthma Immunol 1998 ; 81 (5 Pt 1) : 401–5.<br />

6- Philip G, Malmstrom K, Hampel Jr FC et al. Montelukast for treating seasonal allergic rhinitis: a randomized, double-blind,<br />

placebo-controlled trial performed in the spring. Clin Exp Allergy 2002 ; 32 : 1020–8.<br />

7- van Drunen C, Meltzer EO, Bachert C et al. Nasal allergies and beyond: a clinical review of the pharmacology, efficacy, and safety<br />

of mometasone furoate. Allergy 2005 ; 60 (Suppl. 80) : 5–19.<br />

A imunoterapia<br />

sublingual<br />

representa<br />

actualmente um<br />

meio seguro e<br />

eficaz de aplicação<br />

das recomendações<br />

da OMS para<br />

o cuidado<br />

das doenças<br />

alérgicas.<br />

17


18<br />

Revista de Imprensa<br />

Venter C, Pereira B, Grundy J, Clayton CB, Arshad SH, Dean T.<br />

Pediatr Allergy Immunol <strong>2006</strong>; 17: 356–63.<br />

A prevalência das alergias alimentares<br />

nas crianças<br />

Este estudo abrange uma população de crianças de<br />

6 anos de idade, residentes na Ilha de Wight (Reino<br />

Unido) e avaliou a prevalência de alergias alimentares,<br />

fazendo a distinção entre os dados referidos pelos pais e<br />

as alergias alimentares diagnosticadas objectivamente.<br />

Foi igualmente analisada a prevalência de dessensibilizações<br />

aos alergenos alimentares mais frequentes.<br />

De uma população total de 1.440 crianças com 6 anos de<br />

idade, 798 participaram no estudo. Os pais referiram alergia<br />

a pelo menos um alimento e/ou um componente alimentar<br />

<strong>em</strong> 94 casos, o que representa uma prevalência de<br />

11,8% (CI 95%: 9.6-14.2). Os alimentos ou componentes<br />

mais frequent<strong>em</strong>ente referidos foram o leite e os produtos<br />

lácticos (40%), os amendoins (16%), os ovos (16%), os aditivos<br />

e corantes (13%), as nozes e outros frutos secos<br />

(12%) e o trigo (11%). Foram realizados testes cutâneos por<br />

picada (ou prick-tests cutâneos) (PTC) com um painel<br />

Franchi M, Carrer P, Kotzias D et al. Allergy <strong>2006</strong>; 61: 864–8.<br />

Lutar contra a poluição interior<br />

A<br />

gora que a poluição do ar no local de trabalho foi<br />

b<strong>em</strong> estudada, as consequências da poluição<br />

doméstica são muito b<strong>em</strong> conhecidas, sobretudo <strong>em</strong> termos<br />

de alergias, asma e outras patologias respiratórias.<br />

O projecto europeu THADE (Towards Healthy Air in<br />

Dwellings in Europe), realizado pela EFA (European<br />

Federation of Allergy and Airway Diseases Patients<br />

Associations-Associação de Pacientes da Federação<br />

Europeia de doenças Alérgicas e Respiratórias), teve por<br />

objectivo o estudo deste vasto material, através dos<br />

dados referidos na literatura. As lições a extrair deste trabalho<br />

são muitas. Vamos ver alguns ex<strong>em</strong>plos:<br />

Os cidadãos europeus passam mais de 85% do seu<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> espaços fechados: casa, escola, escritório,<br />

lojas, etc. Nos espaços fechados, os principais poluentes<br />

do ar (componentes aromáticos e carbonilos) são 2<br />

a 5 vezes superiores aos do ar exterior. Os ambientes<br />

interiores têm vindo a mudar profundamente com a chegada<br />

dos tecidos modernos, dos tapetes e alcatifas<br />

sintéticos e dos sist<strong>em</strong>as de ventilação. As principais fontes<br />

de poluição interior com um impacto negativo sobre<br />

a saúde são: o fumo do tabaco, os ácaros, os alergenos<br />

pré-definido de alergenos alimentares e aeroalergenos <strong>em</strong><br />

700 crianças, tendo a taxa de sensibilização a este painel<br />

de alergenos alimentares sido de 3,6% (25/700; CI 95%:<br />

2.3-5.2). A prevalência de alergias alimentares foi de 2,5%<br />

(CI 95%: 1.5-3.8), com base <strong>em</strong> testes de provocação oral<br />

(TPO), abertos, e/ou numa história clínica evocadora, associada<br />

a testes cutâneos positivos. A prevalência diminuiu<br />

assim para 1,6% (CI 95%: 0.9-2.7) quando o diagnóstico<br />

foi efectuado através de um TPO <strong>em</strong> dupla ocultação, com<br />

um diagnóstico clínico ou baseado na associação de uma<br />

história clínica evocadora e <strong>em</strong> PTCs positivos.<br />

Deste modo, as taxas de percepção da alergia alimentar<br />

são definitivamente mais elevadas que a prevalência<br />

de sensibilização aos principais alergenos<br />

alimentares, conforme comprovado por testes<br />

cutâneos ou testes de provocação oral.<br />

dos animais domésticos, as baratas, os fungos, os pólenes,<br />

os óxidos de azoto (ácido nítrico), o formaldeído, etc.<br />

Os efeitos nocivos dos poluentes interiores pod<strong>em</strong><br />

manifestar-se a três níveis:<br />

- sensibilização inicial por activação do sist<strong>em</strong>a imunitário;<br />

- sintomas desencadeados <strong>em</strong> indivíduos já sensibilizados;<br />

- perenização do estado inflamatório das mucosas respiratórias.<br />

As medidas para o controlo da poluição interior estão<br />

ainda numa fase muito pr<strong>em</strong>atura na Europa e há ainda<br />

muito a fazer: melhoria dos sist<strong>em</strong>as de aquecimento<br />

e ventilação, luta contra a humidade e os fungos, evolução<br />

dos métodos de limpeza e higiene doméstica,<br />

r<strong>em</strong>oção dos papéis ou tecidos das paredes, controlo<br />

das fontes de poluição, como o tabaco, etc.<br />

Pode consultar o relatório THADE<br />

completo no site<br />

www.efanet.org/activities/documents/THADEReport.pdf


O<br />

s primeiros resultados do estudo do PAT<br />

(Preventive Allergy Treatment – Tratamento de<br />

Prevenção da Alergia) d<strong>em</strong>onstrou que os três anos de<br />

dessensibilização por imunoterapia específica (ITE)<br />

nas crianças com rinite alérgica sazonal aos pólenes<br />

das gramineas e da bétula reduziu significativamente<br />

o risco de desenvolvimento de asma durante o período<br />

de tratamento (OR = 2.52 [CI 95%: 1.3–5.1]), comparativamente<br />

com um tratamento puramente sintomático<br />

(J Allergy Clin Immunol 2002; 109: 251–6). O que é<br />

que acontece dois anos após o final da imunoterapia?<br />

Dois anos após a interrupção da ITE, foram avaliadas<br />

183 crianças de um grupo inicial de 205, com idades<br />

entre os 11 e os 20 anos (media etária: 15,6). Para além<br />

da avaliação clínica, os testes de provocação conjuntival<br />

(TPC) e os testes de provocação brônquica com<br />

metacolina, foram realizados durante a estação dos<br />

pólenes e também no Inverno.<br />

A melhoria significativa da rinite alérgica sazonal e dos<br />

resultados observados após 3 anos persiste decorridos<br />

5 anos de follow-up. As 142 crianças s<strong>em</strong> asma<br />

no momento da inclusão no estudo foram analisados<br />

especificamente quanto ao desenvolvimento de sintomatologia<br />

asmática no final do período de 5 anos: o<br />

Passalacqua G, Guerra L, Fumagalli F, Canonica GW.<br />

Treat Respir Med <strong>2006</strong>; 5: 225-34.<br />

Perfil de tolerância da imunoterapia<br />

sublingual<br />

A<br />

imunoterapia sublingual (ITSL) é utilizada na prática<br />

clínica há cerca de 20 anos. O seu principal<br />

objectivo é aumentar a tolerância e evitar os efeitos<br />

secundários do tratamento tradicional das doenças respiratórias<br />

alérgicas. Até agora foram publicados 32 estudos<br />

aleatorizados e controlados e 6 estudos de<br />

farmacovigilância, os quais permitiram estabelecer, graças<br />

a uma documentação sólida, o perfil de tolerância da<br />

ITSL.<br />

De acordo com estes estudos aleatorizados, os efeitos<br />

secundários mais frequent<strong>em</strong>ente observados na ITSL<br />

são o prurido e o ed<strong>em</strong>a da mucosa oral, seguidos de<br />

perturbações gastrointestinais. Estes efeitos secundários<br />

são s<strong>em</strong>pre descritos como moderados e de fácil controlo,<br />

bastando um simples ajustamento das doses. Os<br />

efeitos secundários sistémicos (asma, urticária, angio-<br />

ed<strong>em</strong>a) são referidos apenas esporadicamente e, à<br />

excepção dos efeitos secundários do foro oral e gastrointestinal,<br />

a incidência de outros efeitos secundários<br />

parece não ser muito diferente entre os grupos do placebo<br />

e da ITSL. O perfil de tolerância da ITSL é comparável<br />

entre o adulto e a criança.<br />

Os estudos de farmacovigilância d<strong>em</strong>onstram consistent<strong>em</strong>ente<br />

que a incidência de efeitos secundários<br />

associados à ITSL é inferior a 10%, ou menos de um<br />

evento por cada 1000 doses, atribuindo à ITSL um perfil<br />

de tolerância muito mais vantajoso que o da imunoterapia<br />

subcutânea.<br />

Por fim, dados muito recentes d<strong>em</strong>onstram que a incidência<br />

de efeitos secundários da ITSL não aumenta nas<br />

crianças com idade inferior a 5 anos.<br />

Nigg<strong>em</strong>ann B, Jacobsen L, Dreborg S et al ; The PAT investigator group. Allergy <strong>2006</strong>; 61: 855-9.<br />

Imunoterapia específica e prevenção de<br />

longo prazo da asma <strong>em</strong> pediatria<br />

risco de desenvolvimento de asma é significativamente<br />

reduzido no grupo tratado pela ITE, comparativamente<br />

com os controlos (15/75 vs. 29/67; OR = 2.68<br />

[CI 95%: 1.3–5.7]); o número de crianças com agravamento<br />

dos seus scores da asma foi significativamente<br />

mais baixo (p< 0,01) do que no grupo de controlo. Não<br />

se observou qualquer diferença na resposta brônquica<br />

à metacolina, atendendo à melhoria espontânea<br />

dos el<strong>em</strong>entos do grupo de controlo durante o período<br />

de follow-up.<br />

Os resultados preliminares do follow-up dos indivíduos<br />

do estudo PAT, 7 anos após o final da ITE, foram<br />

comunicados durante o último congresso AAAAI<br />

(J. Allergy Clin Immunol <strong>2006</strong>; 117: 721 [abstract<br />

LB6]). O follow-up total a 10 anos abrangeu 157 crianças.<br />

Entre as que não apresentavam asma no momento<br />

da inclusão no estudo, 24 de um total de 29 (83%) desenvolveram<br />

asma no grupo de controlo, comparativamente<br />

com apenas 16 de um total de 48 (33%) no<br />

grupo tratado com ITE: OR = 2,48 (CI 95%: 1.1–5.4).<br />

A ITE parece assim constituir uma opção terapêutica<br />

que permite assegurar também a prevenção<br />

de longo prazo contra o desenvolvimento de asma.<br />

19


Confar – Centro de Atendimento Stallergenes-IPI<br />

Rua Félix Correia Nº 1-A - 1500-271 Lisboa <strong>Portugal</strong> - Telefone 21 774 28 48<br />

www.stallergenes.com<br />

Realização : Ektopic -7575 - 12/06 - Stallergenes Departamento de comunicação

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