06.05.2013 Views

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

A Doença como Linguagem da Alma - Escola da Luz

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Rüdger Dahlke<br />

A <strong>Doença</strong> com o<br />

<strong>Linguagem</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Alma</strong><br />

OS SINTOMAS COMO OPORTUNIDADES DE<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

Traduçã o<br />

DANTE PIGNATARI


2<br />

EDITORA CULTRIX<br />

São Paulo<br />

199 2


Para Margit<br />

3


Sumário<br />

Introdução<br />

PRIMEIRA PARTE<br />

1. Introdução à filosofia <strong>da</strong> significação dos sintomas<br />

1. Interpretação e valoração<br />

2. Cegueira de si mesmo e projeção<br />

3. Valoração dos sintomas<br />

4. Deslocamento de sintomas em duas direções<br />

5. Forma e conteúdo<br />

6. Homeopatia<br />

7. O jogo <strong>da</strong>s causas<br />

8. Analogia e simbolismo<br />

9. Campos formativos<br />

2. <strong>Doença</strong> e ritual<br />

1. Rituais em nossa socie<strong>da</strong>de<br />

2. Rituais de passagem<br />

3. Rituais <strong>da</strong> medicina moderna<br />

4. Rituais <strong>da</strong> medicina antiga<br />

5. <strong>Doença</strong> e padrão<br />

6. Pensamento vertical e princípios primordiais<br />

7. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> ritual<br />

3. Indicações práticas para a elaboração dos sintomas<br />

1. Nosso vocabulário<br />

2. Mitos e contos de fa<strong>da</strong>s<br />

3. O caminho do reconhecimento sobre o pólo oposto<br />

4. Resumo<br />

1. Pontos de parti<strong>da</strong><br />

4


2. Instruções e perguntas básicas<br />

3. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

S E GUNDA PARTE<br />

1. O esquema cabeça- pé<br />

2. Câncer<br />

1. A imagem do câncer em nossa época<br />

2. O câncer no nível celular<br />

3. A gênese do câncer<br />

4. Os níveis de significação do evento cancerígeno<br />

5. Fases de desenvolvimento do sintoma<br />

6. Regressão e religião<br />

7. O câncer <strong>como</strong> caricatura de nossa reali<strong>da</strong>de<br />

8. Câncer e defesa<br />

9. O câncer no plano social<br />

10. Solução (redenção) do problema do câncer<br />

11. Princípios terapêuticos<br />

3. A cabeça<br />

1. Os cabelos<br />

Hirsutismo - A per<strong>da</strong> de todos os pêlos do corpo -<br />

Que<strong>da</strong> de cabelos<br />

2. O rosto<br />

Ruborização - Nevralgia do trigêmeo ou dores<br />

nervosas no rosto - Paralisia facial ou paralisia<br />

nervosa do rosto - Erisipela facial - Herpes labial<br />

Vista e visão<br />

Ouvido e audiçã o<br />

Tinnitus ou ruído nos ouvidos<br />

Órgão do equilíbrio e esta bili<strong>da</strong>d e<br />

A vertigem - Mal de Ménière<br />

5


Nariz e olfato<br />

Inflamação dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite - Pólipos -<br />

Desvio de septo nasal - Rinofima ou nariz bulboso<br />

ou nariz de bêbado - Fratura do vômer<br />

Pala<strong>da</strong>r<br />

4. O sistema nervoso<br />

1. Do nervosismo ao colapso nervoso<br />

2. Comoção cerebral<br />

3. Meningite<br />

4. Sintomas neurológicos<br />

Mal de Parkinson – Coréia ou <strong>da</strong>nça de São Guido -<br />

Derrame - Esclerose múltipla - Epilepsia<br />

5. O pescoço<br />

1. A laringe<br />

A voz: barômetro do ânimo - O pigarro <strong>como</strong><br />

sintoma<br />

2. A tireóide<br />

O bócio - Hipertireoidismo - Hipotireoidismo<br />

6. A coluna vertebral<br />

1. Problemas de disco<br />

2. Deslocamento <strong>da</strong> primeira vértebra cervical<br />

3. Problemas de postura<br />

Cifose, lordose e “espinha estica<strong>da</strong>"<br />

4. A corcun<strong>da</strong><br />

5. A escoliose ou desvio lateral <strong>da</strong> coluna<br />

6. Paralisia causa<strong>da</strong> por secção <strong>da</strong> medula<br />

7. Os ombros<br />

1. Problemas dos ombros<br />

O braço luxado - A síndrome ombro-braço - Tensão<br />

nos ombros<br />

8. Os braços<br />

1. Problemas dos braços<br />

6


Fraturas dos braços - Inflamação dos tendões<br />

2. O cotovelo<br />

9. As mãos<br />

1. Contração de Dupuytren ou mão torci<strong>da</strong><br />

2. As unhas<br />

Inflamação <strong>da</strong>s unhas<br />

10. O peito<br />

1. O tórax saliente<br />

2. O tórax estreito<br />

3. “Sintomas" do peito<br />

Fratura de costelas - Roncar - Para<strong>da</strong> respiratória<br />

em recém-nascidos ou morte infantil súbita<br />

4. O peito feminino<br />

Câncer de mama<br />

11. O ventre<br />

1. Herpes- zoster, a zona<br />

2. Rompimentos ou hérnias<br />

Hérnia umbilical - Hérnia inguinal<br />

12. A bacia<br />

1. Herpes genital<br />

2. A próstata e seus problemas<br />

3. A articulação coxo-femural<br />

13. As pernas<br />

1. A articulação do joelho - Problemas de menisco<br />

2. A panturrilha e suas cãibras<br />

3. Rompimento do tendão de Aquiles<br />

14. Os pés<br />

1. O astrágalo<br />

7


2. Olho de peixe<br />

3. Fungos<br />

4. Verrugas na sola do pé<br />

15. Os problemas <strong>da</strong> velhice<br />

1. A velhice em nossa época<br />

2. A guerra moderna contra o padrão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

3. Menopausa e osteoporose<br />

4. A crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de<br />

5. Fratura do fêmur<br />

6. Barba feminina ou a integração dos opostos<br />

7. Da ampla visão <strong>da</strong> velhice às rugas<br />

8. A cor cinza<br />

9. O Mal de Alzheimer<br />

Conclusão<br />

Notas<br />

8


Introdução<br />

Dez ano s após a publicaç ã o <strong>da</strong> prim eira ediç ã o de Krankh eit<br />

als We g (A Doe n ç a co m o Ca minh o , publicad o pela Editora<br />

Cultrix, São Paulo, 19 9 2) , ch e g o u a hora de continuar e am pliar<br />

o tem a des crito naqu el e livro. O fato de que o con c eito tenha<br />

en c o ntrad o tanta ress o n â n ci a, a princípio so br etud o entre os<br />

leigos intere s s a d o s e, co m o temp o, cad a vez m ais tam b é m<br />

entre os profission ais <strong>da</strong> m e di cin a, pod e ser um sinal <strong>da</strong><br />

cres c e nt e nec e s si d a d e de um a co m pr e e n s ã o <strong>da</strong> do e n ç a que<br />

volte a unificar form a e conteúd o , corp o e alm a.<br />

As reaç õ e s de paci ent e s , participante s de se min ário s e<br />

leitore s tam b é m express a v a m a nec e s s i d a d e de m ais<br />

interpreta ç õ e s , esp e ci al m e n t e <strong>da</strong>qu el e s sinto m a s que não<br />

fora m ab ord a d o s no prim eiro livro. Essas interpretaç õ e s são<br />

apres e nt a d a s ag or a de form a am pliad a. Seguind o vários<br />

estí m ul o s e sug e st õ e s , não se enfatiza a imen s a quanti<strong>da</strong>d e de<br />

sinto m a s . A idéia foi apre s e nt á- los de tal man eira que a pes s o a<br />

afetad a rec o n h e ç a a direç ã o na qual dev e continuar a<br />

trabalhar.<br />

Uma <strong>da</strong>s con s e q ü ê n c i a s do prim eiro volu m e foi tom ar os<br />

pas s o s inter m e di ários, dos quais resulta m interpretaç õ e s , mais<br />

explícitos, be m co m o aprofund ar o assi m cha m a d o<br />

“pens a m e n t o vertical”, que esta na bas e de todo es s e principio.<br />

Um recurs o que se rev el ou igual m e nt e útil e m confer ê n ci a s foi<br />

o de não só m o strar os asp e ct o s particular m e nt e<br />

impres si o n a nt e s de um sinto m a , m a s cerc á- lo por vá- rios<br />

lado s. Talvez a interpretaç ã o de vários sinto m a s e diagn ó stic o s<br />

individuais de um m e s m o quadr o diminua o prazer <strong>da</strong> leitura<br />

por parte <strong>da</strong>s pes s o a s não afetad a s , m a s des s a m an eira o<br />

trabalh o dos afetad o s tom a- se mais frutífero e con s e q ü e n t e . Na<br />

m e s m a linha de pens a m e n t o , surgira m no entrete m p o os livros<br />

de bols o <strong>da</strong> série “Heilen” [“Curar”], que ab ord a m<br />

9


por m e n o riz ad a m e n t e grand e s tem a s tais co m o proble m a s<br />

coron ário s e de circulaç ã o , proble m a s digestivo s e proble m a s<br />

de pes o, tornan d o pos sív el tanto um a co m pr e e n s ã o<br />

aprofund a d a dos próprios sinto m a s co m o o apren dizad o <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o .<br />

Para iluminar m elh or o ca m p o de abran g ê n c i a de cad a<br />

sinto m a , pres cindiu- se de um a divisã o de ac ord o co m as<br />

funçõ e s tais co m o são des critas pela m e di cin a, e m favor de um<br />

es qu e m a cab e ç a - pé. Os tem a s do cân c er e os proble m a s <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>d e são as únicas exc e ç õ e s , sen d o apres e nt a d o s tanto no<br />

inicio co m o no final. Dess a m an eira, é pos sív el proc e d e r a um a<br />

exten s a introduç ã o a um deter min a d o sinto m a não só e m<br />

relaç ã o ao sim b olis m o do órg ã o afetad o m a s tam b é m ao<br />

sim b olis m o <strong>da</strong> regiã o corresp o n d e n t e .<br />

O trabalh o psicot er ap ê utic o prático co m es s e s con c eito s<br />

resultara m na ampliaç ã o de algun s ponto s e na corre ç ã o de<br />

outros. Assim, no prim eiro volum e , ab and o n a m o s parcial m e nt e<br />

a bas e <strong>da</strong> prática ho m e o p á tic a, por exe m pl o quan d o se<br />

rec o m e n d a v a ao (à) pacient e co m pres s ã o arterial baixa que<br />

imagin a s s e e fingiss e ter vigor. De fato, trata- se neste cas o de<br />

antes, confor m ar- se co m a exig ê n ci a direta do sinto m a e,<br />

portanto, de apren d er a ac eitar a fraqu ez a e exer citar a<br />

abn e g a ç ã o e a humil<strong>da</strong>d e. Significativa m e n t e , o ca minh o e m<br />

direç ã o ao pólo opo st o so m e n t e pod e resultar <strong>da</strong> liberaç ã o <strong>da</strong><br />

exig ê n ci a direta. Com o temp o, o vigor surg e <strong>da</strong> entreg a e <strong>da</strong><br />

humil<strong>da</strong>d e, não sen d o entretanto o objetivo primário. Dedicouse<br />

to<strong>da</strong> uma seç ã o à idéia ho m e o p á tic a para tornar mais claro<br />

es s e principio básic o. Ao lado do con c eito fun<strong>da</strong> m e n t al de que<br />

“a do e n ç a en o br e c e ", nest e volum e levou- se se m pr e e m<br />

con sid er a ç ã o a form a salvad or a no que se refer e a um<br />

sinto m a , o axio m a “a do e n ç a indica a tarefa a ser exe c utad a".<br />

As perguntas ao final de cad a capítulo alm eja m tanto o âm bito<br />

liberad o co m o aqu el e que ain<strong>da</strong> não foi res olvido.<br />

O capitulo "Introduç ã o à filosofia <strong>da</strong> significaçã o dos<br />

sinto m a s " é unica m e n t e um resu m o dos pres s up o st o s básic o s .<br />

Deu- se um a ênfas e esp e ci al àqu el e s ponto s que, de ac ord o<br />

1 0


co m noss a exp eri ên ci a, leva m mais freqü e nt e m e n t e a malenten<br />

did o s . De resto, a parte geral de A Doe n ç a co m o<br />

Ca minh o levou- nos a evitar as rep etiç õ e s . A Introduç ã o a este<br />

nov o volum e esta parcial m e nt e impre g n a d a <strong>da</strong>s reaç õ e s ao<br />

prim eiro e, nest e cas o , pres s up õ e sua existên ci a. Tem a s<br />

con cr et o s tais co m o "polari<strong>da</strong>d e e uni<strong>da</strong>d e", "be m e m al” e<br />

“so m b r a s” so m e n t e são tocad o s para e m b a s a r nov o s con c eito s<br />

tais co m o os ca m p o s de des e n v o l vi m e n t o e os rituais.<br />

Os grand e s ca m p o s tem átic o s , tais co m o o coraç ã o , os<br />

nervo s e o fígad o, tratad o s por outro lado no prim eiro volum e<br />

ou nos livros de bols o <strong>da</strong> série "Heilen" ["Curar"], não são<br />

rep etido s.<br />

Certam e nt e foi nec e s s á ri o reto m ar e ampliar<br />

con sid er a v el m e n t e todo o tem a do cân c er, tend o e m vista o<br />

cân c er mais freqü e nt e nas mulh er e s , o cân c er de m a m a .<br />

Tend o servido original m e nt e co m o en c err a m e n t o ao prim eiro<br />

volu m e , o capítulo so br e o cân c er provou ser en g a n o s o para<br />

muitos(as) pacient e s por colo c ar de m a s i a d a ênfas e no<br />

segun d o pas s o do aprendizad o , o am or, m e n o s p r e z a n d o o<br />

nec e s s á ri o prim eiro pas s o , o <strong>da</strong> luta.<br />

Por fim, resta- m e ain<strong>da</strong> lam e nt ar que Thorwald Dethlefs e n,<br />

que imprimiu sua m ar c a e m todo este principio, tenha- se<br />

retirado de man eira tão definitiva <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e pública, a ponto<br />

de não se deixar conv e n c e r a participar <strong>da</strong> continuaç ã o do<br />

trabalh o co m e ç a d o .<br />

1 1


Primeira Parte<br />

1<br />

Introdução à Filosofia <strong>da</strong> Significação dos Sintomas<br />

1. Interpretação e valoração<br />

O titulo A Do e n ç a co m o Ca minh o levou a alguns m alenten<br />

did o s . Ele dev e ser enc ar a d o de man eira ab s oluta m e n t e<br />

literal e se m qualqu er atributo de valor. A do e n ç a é um<br />

ca min h o que pod e ser perc orrido, ne m bo m ne m mau e m si<br />

m e s m o . O que fazer a resp eito dep e n d e única e<br />

exclusiva m e n t e do afetad o. Eu viven ci ei co m um a série de<br />

pacient e s co m o eles perc orr er a m con s ci e nt e m e n t e es s e<br />

ca min h o e puder a m con statar retrosp e ctiva m e n t e que "seu<br />

exc e s s o de pes o", "seu infarto do mio c ár dio" ou até m e s m o<br />

"seu cân c er" transfor m ar a m - se e m um a grand e oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

Hoje é precis o assu mir que foi seu infarto do mio c ár di o que<br />

levou santa Tere s a de Ávila a perc orr er o ca minh o que<br />

perc orr eu. Sab e m o s quã o intima m e n t e as visõ e s de Hildeg ard<br />

von Bingen estav a m liga<strong>da</strong> s à sua enxa q u e c a . Estas duas<br />

mulh er e s extraordinárias evid e nt e m e n t e rec e b e r a m as<br />

m e n s a g e n s trans miti<strong>da</strong>s por seus sinto m a s e transfor m ar a m<br />

suas vi<strong>da</strong>s de m an eir a exe m pl ar. É isso exata m e n t e o que<br />

exig e A Do e n ç a co m o Ca minh o: aprend er e cres c e r a partir dos<br />

próprios sinto m a s .<br />

Utilizar mal es s e con c eito e a filosofia que subjaz a ele é um<br />

grand e mal- enten did o. O es ot eris m o não tem na<strong>da</strong> a ver co m a<br />

atribuiçã o de culpa, tratand o- se, tal co m o esta explicitado<br />

exten s a m e n t e no prim eiro volu m e , de que cad a pes s o a é<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e culpad a por ter se sep ar a d o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e.<br />

Ser culpad o não é um a que st ã o de pequ e n a s ou grand e s faltas<br />

co m e tid a s na vi<strong>da</strong> cotidian a, ma s de algo fun<strong>da</strong> m e n t al. A culpa<br />

1 2


hum a n a primordial resid e no ab and o n o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e<br />

paradisíac a. A vi<strong>da</strong> neste mund o de opo st o s é<br />

nec e s s a ria m e n t e ch eia de faltas e serv e para que se<br />

reen c o ntr e o ca min h o de volta à uni<strong>da</strong>d e. Ca<strong>da</strong> falta e cad a<br />

sinto m a significa m ele m e n t o s que faltam para a perfeiç ã o ,<br />

transfor m a n d o - se e m oportuni<strong>da</strong>d e s de des e n v olvi m e nt o .<br />

Distorc er o significad o <strong>da</strong> do e n ç a para avaliar outras<br />

pes s o a s é um m al- enten did o so b vários ponto s de vista. Ele<br />

não pod e servir para a atribuiçã o de culpa, já que a culpa<br />

primordial foi distribuí<strong>da</strong> há muito e não precis a de nenhu m a<br />

colab o r a ç ã o hum a n a. Da m e s m a form a, pod ería m o s<br />

con gr atular os afetad o s por suas do e n ç a s devid o às<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de des e n v olvi m e nt o e aprendizad o nelas<br />

conti<strong>da</strong> s. Os assi m cha m a d o s “primitivo s" estã o bastant e mais<br />

avan ç a d o s que nós nes s e sentido, já que con sid er a m os<br />

sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a co m o golp e s do destino e m suas vi<strong>da</strong>s, e<br />

os ac eita m de bo m grad o co m o prova s. Em muitas tribos, o<br />

candi<strong>da</strong>t o a xam ã sofre sua do e n ç a de iniciaç ã o , único m ei o<br />

que pod e introduzi- lo e m nov o s ca m p o s de exp eriên ci a. Às<br />

vez e s es s e pen s a m e n t o é seguid o de m an eira tão<br />

con s e q ü e n t e que um curand eiro so m e n t e pod e tratar aqu el e s<br />

sinto m a s que ele m e s m o pad e c e u de corpo e alm a. Essa<br />

postura é forços a cas o se enten d a o curand eir o co m o sen d o<br />

um guia de alm a s pelo s mun d o s interiores, já que, afinal, um<br />

guia de viag e n s dev eria con h e c e r de ante m ã o o país atrav é s<br />

do qual guia os outros.<br />

Entre nós existe m so m e n t e traço s des s a m an eira de pens ar.<br />

Assim, e m ale m ã o se rec o n h e c e a “cura enviad a" (ge s c hi c kt e<br />

Heil, do latim salu s = Heil) na palavra destino (Schick s al ).<br />

Dever- se- ia pen s ar tam b é m nas prova s de m e di c a m e n t o s dos<br />

ho m e o p a t a s . Ness e cas o, o m é di c o pen etra de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e no âm bito de exp eriên ci a s <strong>da</strong> do e n ç a para<br />

rec o n h e c e r o padrã o de seu m e dic a m e n t o , ou m ei o de cura. E<br />

finalm e nt e esp er a m o s co m razã o que um psicot er ap e ut a tenha<br />

viajad o exten s a m e n t e pelo s país e s aní mic o s próprios e<br />

coletivo s e que saib a aond e está ac o m p a n h a n d o seu pacient e.<br />

1 3


Acusar o fato fun<strong>da</strong> m e n t al e que nos une a todo s, o estar<br />

do e nt e de um a pes s o a , um a difícil ép o c a de aprendizad o co m<br />

as corre s p o n d e n t e s oportuni<strong>da</strong>d e s de cres ci m e n t o , não leva a<br />

lugar algu m. Isso, pelo m e n o s , não tem na<strong>da</strong> a ver co m “a<br />

do e n ç a co m o ca min h o ", e sim co m o des ej o de ator m e nt ar<br />

algué m .<br />

Quem transfor m a seu ded o indicad or e m arm a e,<br />

“interpretan d o " seus sinto m a s , incrimina outras pes s o a s ou<br />

culpa a si m e s m o e m relaç ã o a isso, dá a enten d er alé m do<br />

mais que co m pr e e n d e u mal todo o principio. O mau uso <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o co m o incrimina ç ã o , segun d o o lem a “voc ê está<br />

co m prisão de ventre porqu e é um trem e n d o de um avar e nt o!",<br />

implica no des c o n h e c i m e n t o do caráter de so m b r a que existe<br />

e m cad a sinto m a de um a do e n ç a . Por definiçã o, so m b r a é o<br />

que é incon s ci e nt e para o afetad o. Por isso m e s m o , a pes s o a<br />

incriminad a des s a man eira não pod er á de m o d o algu m ac eitar<br />

a interpretaç ã o . Se ela soub e s s e que é avar e nta, não hav eria a<br />

m e n o r razão pata que tives s e prisão de ventre. A so m b r a não<br />

assu m e o ataqu e. Ao contrário, é precis o proc e d e r co m<br />

extre m a cautela nest e que é o tem a m ais difícil de nos s a<br />

existên ci a. O afetad o precis a de to<strong>da</strong> a sua en er gia e de muito<br />

esp a ç o e m term o s de am bi e nt e para, de pequ e n o pas s o e m<br />

pequ e n o pas s o , des c o b rir sua relaç ã o co m o tem a expres s o no<br />

sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a . Para isso a valora ç ã o é tão prejudicial<br />

quanto a interpretaç ã o é significativa.<br />

Quem culpa a si m e s m o des s a man eira deixa igualm e nt e de<br />

rec o n h e c e r as oportuni<strong>da</strong>d e s de cres ci m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a . Ver o<br />

plan o <strong>da</strong> alm a atrav é s do sinto m a não mud a na<strong>da</strong> ne m devid o<br />

à culpa fun<strong>da</strong> m e n t al ne m devid o ao s fatos con cr et o s do<br />

probl e m a e m que st ã o . Isso tamp o u c o faz co m que um a pes s o a<br />

se tom e m elh or ou pior; ela se tom a única e exclusiva m e n t e<br />

mais sábia e co m m ais con s ci ê n ci a de resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Caso<br />

se ignor e es s e con h e ci m e n t o e a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e nele<br />

implícita, pouc o mud a, tudo continua co m o antes. Caso<br />

contrário, se assu m e a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e pelo próprio destino, a<br />

do e n ç a transfor m a- se e m oportuni<strong>da</strong>d e e pos sibilita resp o n d e r<br />

14


às indicaç õ e s do próprio padrã o.<br />

O proc e di m e n t o para isso não é de form a algu m a difícil.<br />

Qualquer um pod e indicar na sup erfície do corpo, ou seja,<br />

colo c ar o ded o so br e o lugar que lhe caus a incô m o d o s . O<br />

objetivo dest e livro é relacion ar es s a exp eri ên ci a co m o plan o<br />

aní mic o. Apontar co m o ded o corpór e o era tão óbvio ante s<br />

quanto o é ag or a. Trata- se de colo c ar o ded o na feri<strong>da</strong> e m<br />

sentido figurad o. Isso exig e cora g e m , m a s ne m tanta assi m,<br />

pois a feri<strong>da</strong> já está lá. Ela não surg e no m o m e n t o e m que se<br />

colo c a o ded o so br e ela, so m e n t e se torna mais con s ci e nt e.<br />

Através des s e pas s o corajo s o obté m - se, a long o prazo, a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de curar- se.<br />

2. Cegueira de si mesmo e projeção<br />

A oportuni<strong>da</strong>d e m e s m a não se en c o ntra na interpreta ç ã o de<br />

sinto m a s alhei o s e sim na interpreta ç ã o dos próprios sinto m a s .<br />

Isso é dificultado pela onipre s e nt e ce g u eira de si m e s m o . A<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> projeç ã o , nos s a tend ê n ci a de transp ortar tudo<br />

o que é incô m o d o e difícil para fora e lá tam b é m elab or á- lo e<br />

co m b a t ê- lo, prova ser prejudicial tam b é m no que se refer e à<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s . Ao m e s m o temp o que<br />

rec o n h e c e m o s clara m e n t e o cisc o no olho dos outros, de bo m<br />

grad o deixa m o s de ver a trave que tem o s no nos s o . A<br />

exp eriên ci a co m A Doe n ç a co m o Ca minh o resultou e m um<br />

padrã o notáv el. Às interpretaç õ e s de sinto m a s verb alizad a s por<br />

amig o s e con h e ci d o s contrap õ e - se um grand e "Mas" no que se<br />

refer e ao s próprios sinto m a s . O que tinha funcion a d o de<br />

man eira tão convinc e nt e co m os parc eiro s ou sogr o s, de<br />

rep ent e falhav a.<br />

Interpretar os sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a é trabalhar nas so m b r a s<br />

e, justa m e nt e por es s a razão, freqü e nt e m e n t e des a g r a d á v el.<br />

Pode- se inclusive con cluir a partir diss o que as interpreta ç õ e s<br />

orais trop e ç a m na recus a esp o ntân e a . Se um a interpreta ç ã o de<br />

rep ent e pare c e agrad á v el, ela ou não é correta ou, de qualqu er<br />

1 5


form a, não é suficiente m e n t e profun<strong>da</strong>. Ness e cas o , o m ais<br />

simpl e s é aprend er co m os sinto m a s alhei o s e entã o aplicar<br />

es s e s con h e ci m e n t o s e m si m e s m o . O con c eito so m e n t e<br />

adquire sentido co m o con s e q ü ê n c i a des s e difícil pas s o . Mas<br />

entã o ele transfor m a- se e m um ver<strong>da</strong>d eir o ca minh o de autocon<br />

h e ci m e n t o e auto- realizaç ã o .<br />

Em relaç ã o a outros siste m a s de interpreta ç ã o ,<br />

esp e ci al m e n t e do âm bito es ot éric o, o sim b olis m o dos sinto m a s<br />

tem a vantag e m de não deixar pratica m e n t e qualqu er m ar g e m<br />

para mal- enten did o s quanto à área afetad a. O risco de<br />

interpretar um a úlcera do estô m a g o co m o sen d o um sinal de<br />

um iminent e proc e s s o de fulminaç ã o imediata é be m m e n o r. O<br />

corp o confirm a que se trata aqui de uma tarefa de aprendizad o<br />

palpáv el, substanci al m e nt e enraizad a no mun d o mat erial.<br />

3. Valoração dos sintomas<br />

À prim eira vista, a diferen ç a m ais marc a nt e e m relaç ã o à<br />

m e di cin a usual é a noss a avaliaç ã o positiva dos sinto m a s . Em<br />

vez de aliar- se ao pacient e contra seus sinto m a s , co m o é<br />

costu m e , trata- se de aliar- se ao m e s m o temp o ao s sinto m a s<br />

para rec o n h e c e r o que falta ao pacient e e pres e nt e á - lo tanto<br />

co m es s e s sinto m a s co m o co m as suas car ên ci a s. O sinto m a ,<br />

quan d o liberad o de sua valora ç ã o neg ativa, pod e se<br />

transfor m ar e m um exc el e nt e indicad or de ca minh o e guiar- nos<br />

ao s tem a s car en ci ais, aju<strong>da</strong>n d o a que nos tom e m o s mais<br />

saud á v ei s e íntegr o s.<br />

Há aqui uma imen s a oportuni<strong>da</strong>d e de cres ci m e n t o , já que<br />

to<strong>da</strong>s as pes s o a s apre s e nt a m sinto m a s . Quanto a este último<br />

conto, imp er a um a rara unani mi<strong>da</strong> d e e m todo s os ca m p o s <strong>da</strong><br />

m e di cin a. A m e dicin a ac ad ê m i c a , co m seus m ét o d o s de<br />

pes q uis a cad a vez m ais refinad o s , enc o ntra algu m desvi o <strong>da</strong><br />

nor m a e m pratica m e n t e todo s os ser e s hum a n o s . As<br />

estatística s de saúd e 1 , que são na ver<strong>da</strong>d e estatística s de<br />

do e n ç a , falam um a lingua g e m igualm e nt e clara. A m e di cin a<br />

1 6


natural, co m seus proc e di m e n t o s de diagn ó stic o ain<strong>da</strong> m ais<br />

sen sív ei s, já não enc o ntra m ais indivíduo s saud á v ei s. As duas<br />

tend ê n ci a s co m b at e m es s e estad o de coisa s, en quant o a<br />

religião e o es ot eris m o o ac eita m co m o sen d o uma reali<strong>da</strong>d e<br />

inevitáv el. Segund o sua con c e p ç ã o , o ser hum a n o é um<br />

univers o polar nec e s s a ria m e n t e não saud á v el, e m bus c a <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e perdi<strong>da</strong> que ele deixou no Paraís o quan d o<br />

e m pr e e n d e u seu ca min h o de des e n v olvi m e nt o . É interes s a nt e<br />

notar que a m an eir a pela qual a saúd e é defini<strong>da</strong> pela OMS 2 e<br />

que é adota d a pela m e di cin a ac ad ê m i c a lem br a a tradiçã o<br />

es ot éric a. Trata- se de um estad o livre de sofrim e nt o físico,<br />

espiritual e social. Cons e q ü e n t e m e n t e , fora dos livros de<br />

anato mi a e fisiologia não existe neste mund o um único ser<br />

hum a n o são.<br />

Tanto se ve m o s noss o estad o geral de do e n ç a co m o um<br />

es c â n d al o <strong>da</strong>s políticas de saúd e ou co m o sen d o a nec e s s á ri a<br />

con s e q ü ê n c i a de noss o desvi o <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>d e, per m a n e c e o fato<br />

de que todo s tem o s sinto m a s e, co m isso, a oportuni<strong>da</strong>d e de<br />

cres c e r a partir deles. A que st ã o é: quer e m o s continuar<br />

tentan d o o que tem fracas s a d o há milênio s, ou seja, eliminá- los<br />

do mund o , ou quer e m o s fazer o esforç o de rec o n h e c ê - los<br />

co m o indicad or e s de ca min h o e segui- los?<br />

4. Deslocamento de sintomas em duas direções<br />

A m e di cin a é ab s oluta m e n t e a única que acredita pod er<br />

eliminar cois a s do mund o. Os quí mic o s e os físico s sab e m e<br />

prova m que so m e n t e é pos sív el a transfor m a ç ã o de um a<br />

manife staç ã o e m outra, jam ais um des a p ar e ci m e n t o se m<br />

repo siç ã o .<br />

Através do aqu e ci m e n t o de um bloc o de gelo, m at éria sóli<strong>da</strong><br />

transfor m a- se e m água. Caso continu e m o s a aqu e c ê - la, o<br />

liquido pas s a para a form a gas o s a , transfor m a n d o - se e m<br />

vap or. Através do resfriam e nt o , es s e proc e s s o pod e ser<br />

rev ertido, gás transfor m a n d o - se e m líquido que por sua vez se<br />

17


transfor m a e m gelo sólido. Isso é óbvio para nós, e é explicad o<br />

pela física atrav é s <strong>da</strong> lei <strong>da</strong> con s er v a ç ã o de en er gia, segun d o a<br />

qual a so m a <strong>da</strong> en er gi a per m a n e c e se m pr e con sta nt e. Na<strong>da</strong><br />

jam ais é real m e nt e aniquilad o.<br />

A física en sin a ain<strong>da</strong> que as várias form a s de manife staç ã o<br />

<strong>da</strong> água estã o liga<strong>da</strong>s a diferent e s estad o s de vibraç ã o de suas<br />

m ol é c ul a s. No estad o sólido, os co m p o n e n t e s m ol e c ular e s<br />

básic o s vibra m a um a freqü ê n ci a relativa m e n t e baixa. No<br />

âm bito líquido eles estã o en er g etic a m e n t e m ais estimulad o s e<br />

vibra m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e . No estad o gas o s o sua estimulaç ã o e<br />

con s e q ü e n t e m e n t e sua freqü ê n ci a são as mais altas pos sív ei s.<br />

O es ot eris m o deriva um a interpreta ç ã o corre s p o n d e n t e ao<br />

relacion ar o sólido ao ele m e n t o terra, mat erial, o liquido à água<br />

aní mic a e a form a gas o s a ao espiritual, ele m e n t o ar.<br />

Transp o st o para o tem a e m questã o , isto significa o seguinte: o<br />

corp o, co m o expres s ã o do mun d o m at erial, tem a freqü ê n ci a<br />

de vibraç ã o mais baixa, o plano aní mic o tem um a freqü ê n ci a<br />

m é di a, en qu a nt o o plan o m e ntal tem a freqü ê n ci a mais alta.<br />

Para que um tem a que se degr a d o u ao plan o inferior de<br />

freqü ê n ci a de vibraç ã o co m o sinto m a corpor al seja elev a d o ao<br />

nível aní mic o, é precis o injetar- lhe en er gia. Mais en er gia ain<strong>da</strong><br />

é nec e s s á ria para elev á- lo ao plan o m e ntal. Na interpreta ç ã o<br />

dos sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a , es s a en er gia dev e surgir so b a form a<br />

de con s ci e ntizaç ã o e de entreg a.<br />

No proc e s s o contrário, o do surgimento <strong>da</strong> doença , es s a<br />

en er gi a foi arm az e n a d a . Quando um tem a co m o qual não<br />

quer e m o s li<strong>da</strong>r se aproxi m a de nós, ec o n o m i z a m o s en er gia ao<br />

deixar que ele m er gulh e no âm bito aní mic o e, mais long e<br />

ain<strong>da</strong>, no corp o. Aquilo que não quer e m o s ter na con s ci ê n ci a e,<br />

ignoran d o , acr edita m o s deixar de lado, aterriss a de fato ao lado<br />

ou, na termin ol o gi a de C. G. Jung, na sombra . A so m b r a<br />

con sist e portanto de tudo aquilo que não perc e b e m o s e não<br />

ac eita m o s , e que gostaría m o s de não ver. Em posiç ã o<br />

diam etr al m e n t e opo sta está o Ego, que con siste de tudo aquilo<br />

que ac eita m o s e m nós e co m o qual nos identifica m o s . Neste<br />

sentido, não há nen hu m Ego ne m nen hu m ser hum a n o que se<br />

1 8


alegr e ao reen c o ntr ar os tem a s acu m ul a d o s na so m b r a.<br />

Com o, entretanto, a so m b r a é um a parte nec e s s á ria de<br />

noss a totali<strong>da</strong>d e, so m e n t e pod e m o s tornar- nos são s, no<br />

sentido de íntegr o s, atrav é s justa m e n t e de sua integra ç ã o .<br />

Uma pes s o a inteira con siste de eg o e so m b r a. Os dois juntos<br />

resulta m no “si m e s m o " , ou s elf, que repres e nt a a pes s o a<br />

integrad a, que realizou a si m e s m a . A ac eitaç ã o e a elab or a ç ã o<br />

dos tem a s <strong>da</strong> so m b r a m at erializad o s nos sinto m a s é<br />

con s e q ü e n t e m e n t e um ca minh o de bus c a de si m e s m o .<br />

Sinto m a s são m anifesta ç õ e s <strong>da</strong> so m b r a muito ac e s s í v ei s<br />

devido ao fato de tere m e m er gid o <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a<br />

para a sup erfície do mund o corp ór e o , tom a n d o - se assi m<br />

exc e p ci o n ai s indicad or e s do ca min h o <strong>da</strong> perfeiç ã o .<br />

O fenô m e n o do desl o c a m e n t o dos sinto m a s co m suas duas<br />

direç õ e s diferent e s ficará m ais claro co m o exe m pl o con cr et o<br />

de um a úlcera esto m a c a l. O con c eito foi difundido pela<br />

m e di cin a e pela psicolo gi a ac ad ê m i c a quan d o se rec o n h e c e u<br />

que sinto m a s "eliminad o s " pela terapia voltava m a e m e r gir e m<br />

outro lugar. Para a m e dicin a aca d ê m i c a , fixa<strong>da</strong> no corp o, o<br />

deslo c a m e n t o de sinto m a s tam b é m oc orr e, natural m e nt e, no<br />

corp o. Cinica m e n t e , pod er- se- ia dizer que os sinto m a s<br />

deslo c a m - se de órgã o para órgã o, de pacient e para<br />

esp e ci alista e de esp e ci alista para esp e ci alista.<br />

Quem procura o m é dic o devido a m ol é stias nervo s a s do<br />

estô m a g o , geral m e n t e rec e b e hoje e m dia um psicofár m a c o<br />

que produz um assi m cha m a d o deslig a m e n t o psicov e g e t ativ o.<br />

Isso quer dizer que a ligaç ã o entre os nervo s veg et ativo s do<br />

estô m a g o e a psiqu e é bloqu e a d a quimic a m e n t e , o que entã o<br />

imp e d e que o estô m a g o reaja ao s impuls o s <strong>da</strong> psiqu e. A<br />

rem o ç ã o <strong>da</strong> dor, que não m o difica na<strong>da</strong> na situaç ã o <strong>da</strong> pes s o a<br />

afetad a, tem um efeito tem p or al m e n t e limitado. O pas s o<br />

seguinte <strong>da</strong> m e di cin a ac ad ê m i c a seria o deslig a m e n t o<br />

psicov e g e t ativo por via cirúrgica, ond e os ram o s<br />

corre s p o n d e n t e s do nervo vag o são sec ci o n a d o s . Caso já seja<br />

tarde de m ai s para isso tam b é m , amputa- se um ou dois terço s<br />

do estô m a g o ultrafatigad o. O que não existe m ais não pod e<br />

19


do er, esta é a lógica tão simple s quanto míop e, já que log o o<br />

estô m a g o diminuído des s a m an eira co m e ç a a apres e nt ar<br />

outros probl e m a s digestivo s. Todo s es s e s pas s o s visa m<br />

exclusiva m e n t e o corp o. Os sinto m a s são deslo c a d o s para o<br />

corp or al e, ao m e s m o temp o, para o plano horizontal.<br />

A alternativa seria desl o c á- los na vertical: do plano corp or al<br />

para o aní mic o e, finalm e nt e, para o plano m e ntal. Entretanto,<br />

para pas s ar de um plan o de baixa freqü ê n ci a de vibraç ã o para<br />

outro de freqü ê n ci a mais alta é nec e s s á ri a um a certa<br />

quanti<strong>da</strong>d e de en er gi a que o próprio afetad o dev e prov er.<br />

Neste cas o, o m é di c o pod e unica m e n t e des e m p e n h a r o pap el<br />

de catalisad or 3 . Com o eng aja m e n t o con s ci e nt e é pos sív el ir<br />

e m busc a <strong>da</strong>s razõ e s aní mic a s <strong>da</strong> dor de estô m a g o . O que<br />

pres si o n a es s e estô m a g o , o que é que se en g ol e e que não é<br />

digerív el, o que leva a este ato de auto dilac er a m e n t o que to<strong>da</strong><br />

úlcera do estô m a g o repre s e nt a? É pos sív el, atrav é s <strong>da</strong><br />

pes q uis a corresp o n d e n t e . enc o ntrar e elab or ar os padrõ e s de<br />

con s ci ê n ci a que estã o por trás dos tem a s assi m sen si bilizad o s .<br />

Tal desl o c a m e n t o de sinto m a s na vertical tem a vantag e m de<br />

não per mitir que a es c al a d a <strong>da</strong> sinto m átic a continue, tornand oa,<br />

ao contrário, solúv el.<br />

5. Forma e conteúdo<br />

Os plan o s do corp o, <strong>da</strong> alm a e <strong>da</strong> m e nt e, dispo sto s<br />

vertical m e nt e um so br e o outro, corresp o n d e m ao s âm bito s <strong>da</strong><br />

form a e do conteúd o . O corpo repres e nt a o asp e ct o form al,<br />

en qu a nt o tanto a alm a co m o o espírito form a m o cont eú d o . Do<br />

ponto de vista religios o e es ot éric o es s e paralelis m o é óbvio,<br />

sen d o , ao contrário, estran h o para as ciên cias naturais. Para<br />

os antigo s, to<strong>da</strong> form a, e portanto to<strong>da</strong> cois a, era a<br />

manife staç ã o <strong>da</strong> idéia que está por trás dela. Goeth e ain<strong>da</strong><br />

formulou se m ser refutad o: "Tudo o que é transitório é so m e n t e<br />

uma m etáfora". Em muitas áre a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> arte à técnic a, a<br />

relaç ã o entre form a e conteúd o é evid e nt e para nós até hoje.<br />

20


Nós apre cia m o s um a es c ultura de Michelan g el o por aquilo que<br />

ela expres s a . Por m ais important e que seja it mat erial, ele ve m<br />

dep ois do conteú d o . A lâmp a d a de alerta que se ac e n d e e m<br />

um apar elh o técnic o nos leva a investigar as caus a s<br />

subjac e nt e s . Nós quer e m o s sab er o que a lâmp a d a ac e s a<br />

significa. Entretanto, quan d o o corp o expres s a dolor o s o s sinais<br />

de alar m a, muitas pes s o a s tenta m subjug á- los co m<br />

co m pri mid o s se m aprofund ar- se e m busc a <strong>da</strong>s caus a s . Por<br />

que justa m e nt e os sinais do corp o não significaria m na<strong>da</strong>?<br />

Nossa saúd e já estaria aten di<strong>da</strong> se tratás s e m o s o corpo de<br />

man eira tão con s ci e nt e co m o o faze m o s co m qualqu er<br />

má q uin a.<br />

O exe m pl o seguinte pod e es clar e c e r a relaç ã o entre a<br />

m e di cin a científica e a m e dicin a interpretativa. Suponh a m o s<br />

que, ao ser perguntad o so br e a última peç a de teatro, um<br />

con h e ci d o resp o n d a: "O palco tinha oito m etro s de largura por<br />

quatro de profundi<strong>da</strong>d e e dois m etro s de altura. Havia 14<br />

atore s, dentre eles oito mulh er e s e seis ho m e n s . Os figurino s<br />

fora m feitos co m 86 m etro s de linho e 45 m etro s de se<strong>da</strong>, o<br />

palc o estav a iluminad o por 35 holofote s [...], etc.". Nós<br />

ficaría m o s bastant e insatisfeitos co m es s a resp o st a, ma s<br />

valoriza m o s muito um m é dic o que, apó s o exa m e , nos<br />

co m u nic a uma série de <strong>da</strong>d o s e fatos so br e noss o corpo. Esse<br />

m é di c o , que flutua no âm bito form al, deixa que seus pacient e s<br />

fique m igual m e nt e boian d o no ar. Som e nt e ao final, após to<strong>da</strong><br />

a enu m e r a ç ã o <strong>da</strong>s m e di<strong>da</strong> s e dos resultad o s obtido s, quan d o<br />

ele diz, por exe m pl o, que "tudo isso cha m a - se pneu m o n i a", é<br />

que o pacient e se sent e um pouc o m ais es clar e cid o . Agora o<br />

m é di c o interpretou seus núm er o s e seus resultad o s , e aquilo<br />

que expres s a m imediata m e n t e adquire sentido para o afetad o.<br />

Neste ponto, noss o princípio unica m e n t e dá mais algun s<br />

pas s o s adiante. Pois naturalm e nt e é pos sív el pros s e g uir um<br />

pouc o m ais nesta direç ã o significativa co m a pergunta: o que<br />

significa pneu m o ni a? O local nos dá o resp e ctivo plan o<br />

afetad o . Os pulm õ e s são o órg ã o <strong>da</strong> troca de gas e s , co m sua<br />

aju<strong>da</strong> nós tam b é m nos co m u ni c a m o s , pois a lingua g e m surg e<br />

21


atrav é s <strong>da</strong> m o dulaç ã o do fluxo respiratório. Todo s nós<br />

respira m o s o m e s m o ar e, portanto, esta m o s e m contato uns<br />

co m os outros atrav é s dos pulm õ e s . No corp o, os dois pulm õ e s<br />

liga m o lado es qu er d o e o direito, assi m co m o a respiraç ã o<br />

tam b é m liga a con s ci ê n ci a co m o incon s ci e nt e. Nenhu m a outra<br />

funçã o orgânic a tem ac e s s o ao s dois plan o s de m an eir a tão<br />

equival e nt e. Com o órgã o pulm ã o é enun ciad o tam b é m o plano<br />

do probl e m a e o tem a do contato, <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o . Tal co m o<br />

de m o n s tr a m insistent e m e n t e os resultad o s <strong>da</strong> m e di cin a<br />

ac ad ê m i c a , um a inflam a ç ã o é um conflito bélico, um a guerra.<br />

Os anticorp o s lutam contra o ag e nt e caus a d o r, que é arm a d o ,<br />

co m b a tid o, m orto e ven cid o. Cons e q ü e nt e m e n t e , co m um a<br />

pneu m o n i a [inflam a ç ã o dos pulm õ e s] nós en c arn a m o s um<br />

conflito no âm bito <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o . Após es s a interpreta ç ã o ,<br />

que já vai um pouc o m ais long e, pod e- se pros s e g uir e<br />

continuar interpretan d o : por que justa m e n t e co mi g o ,<br />

justa m e nt e isso, justa m e n t e ag or a? O que é que isso impe d e , a<br />

que m e força?<br />

De qualqu er m an eira, interpreta ç õ e s real m e nt e ac ertad a s<br />

resulta m so m e n t e quan d o o contexto individual é delimitad o e a<br />

sinto m átic a, se m pr e esp e cifica, e levad a e m con sid er a ç ã o . A<br />

interpreta ç ã o de diagnósticos e m proc e di m e n t o s sum ário s, tal<br />

co m o já ac o nt e c e u , é tão ineficaz co m o o próprio diagn ó stic o.<br />

Ain<strong>da</strong> assi m faz sentido interpretar diagn ó stic o s , e m b o r a isso<br />

contribua ap en a s co m algu m a s pedrinha s na co m p o s i ç ã o do<br />

grand e m o s ai c o que é o quadr o <strong>da</strong> do e n ç a . Seja m eles<br />

con stituído s de voc á b ul o s latinos ou, m ais rec e nt e m e n t e , e m<br />

inglês, a prim eira cois a que se rec o m e n d a é a traduç ã o . A<br />

traduç ã o do diagn ó stic o se m pr e joga algu m a luz so br e o<br />

sinto m a . Alguns diagn ó stic o s simples m e n t e implod e m ,<br />

perd e n d o assi m pelo m e n o s sua cap a ci<strong>da</strong>d e de assu star.<br />

Paciente s abalad o s pod e m rec o br ar o ânim o , por exe m pl o,<br />

atrav é s <strong>da</strong> traduç ã o do "veredicto" PCP 4 : Poli (muitas) Artrite<br />

(inflam a ç ã o <strong>da</strong> articulaç ã o) Crônica (de evoluç ã o lenta)<br />

P rimária (desd e o inicio). Não é precis o m é di c o algu m para tal<br />

22


diagn ó stic o. O próprio paci ent e sab e que des d e o principio<br />

muitas articulaç õ e s co m e ç a r a m lenta m e n t e a se inflam ar.<br />

Confrontar form a e conteúd o pod e aju<strong>da</strong>r a es clar e c e r o<br />

quanto am b o s são importante s. Nenhu m a peç a de teatro faz<br />

sentido se m um palco e se m atore s, ela no míni m o caus aria<br />

uma impre s s ã o pen o s a cas o não houv e s s e figurinos, se m<br />

ilumina ç ã o o sentido per m a n e c e ri a nec e s s a ri a m e n t e ob s c ur o.<br />

To<strong>da</strong> s es s a s cois a s são importante s , ma s elas não são tudo. A<br />

situaç ã o é análo g a e m relaç ã o ao s diagn ó stic o s e <strong>da</strong>d o s<br />

m étrico s do corp o. Eles são indisp e n s á v ei s para a des criç ã o<br />

dos asp e ct o s form ais, e nós obvia m e n t e tam b é m os usa m o s<br />

co m o ponto de parti<strong>da</strong>. Eles pos sibilitam o prim eiro pas s o e<br />

torna m- se co m isso condiç ã o nec e s s á ri a para o se gund o ,<br />

en c o ntrar o sentido, ou seja, a interpreta ç ã o . Mas eles<br />

natural m e nt e não a sub stitue m .<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a , portanto, forne c e uma bas e<br />

importante, e a m e dicin a interpretativa não a torna sup érflua,<br />

am pliand o- a su b st a n cia lment e. Não há portanto qualqu er<br />

ataqu e fun<strong>da</strong> m e n t al a ela de nos s a parte. De fato, am b a s as<br />

tend ê n ci a s têm a m e s m a bas e, o corpo hum a n o , m a s seus<br />

âm bito s principais de ativi<strong>da</strong>d e estã o e m plano s diferent e s .<br />

A m e dicin a ac ad ê m i c a restringiu- se ao corp o, e no âm bito<br />

<strong>da</strong>s rec o n stituiçõ e s realiza muitas vez e s ver<strong>da</strong> d eir o s milagr e s.<br />

Mais rec e nt e m e n t e , ela deixou a preo c up a ç ã o co m a alm a para<br />

a psicolo gi a, e a teolo gia há muito enc arr e g o u- se do espírito.<br />

Quem atac a a m e dicin a ac ad ê m i c a por não curar sua alm a faz<br />

co m o aqu el e que visita uma piscina pública e se queixa porqu e<br />

não tem vista para o m ar. Não lhe pro m et er a m isso, assi m<br />

co m o a m e di cin a hoje não pro m et e m ais a cura do corp o, <strong>da</strong><br />

alm a e do espírito, limitand o- se m o d e s t a m e n t e a um bo m<br />

trabalh o de repara ç ã o no âm bito do corp o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a co m p artilha a retira<strong>da</strong> do plan o<br />

interpretativo co m a m ai oria <strong>da</strong>s práticas naturalistas 5 . Ambas<br />

são mais se m e l h a nt e s do que e m geral se supõ e, pois parte m<br />

<strong>da</strong> m e s m a visão m e c â ni c a do mun d o . Elas procura m as<br />

caus a s no pas s a d o e co m p et e m para ver qual enc o ntra a mais<br />

23


profun<strong>da</strong> e elimina os sinto m a s <strong>da</strong> m an eir a mais efetiva. Elas<br />

são m ais pare cid a s 6 do que ad mite m até m e s m o na es c olh a<br />

<strong>da</strong>s arm a s . Quem sai o ca m p o contra os sinto m a s precis a de<br />

arm a s e evid e nt e m e n t e defen d e o ponto de vista alop átic o, que<br />

visa o opon e nt e e tenta neutralizá- lo co m os m elh or e s<br />

antídoto s.<br />

Quando m é di c o s naturalistas atac a m a m e dicin a aca d ê m i c a<br />

porqu e ela utiliza a cortiso n a co m de m a si a d a freqü ê n ci a,<br />

dev er- se- ia pen s ar que a cortiso n a é um hor m ô ni o fabricad o<br />

pelo próprio corpo, e que, por con s e q ü ê n c i a, perten c e<br />

ine quivo c a m e n t e à naturez a, mais esp e cifica m e n t e à noss a<br />

própria naturez a. O prep ar a d o para o cora ç ã o preferido pela<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , digitalis , não é outra cois a que um a<br />

planta cuja naturali<strong>da</strong>d e não pod e ser conte sta d a. Por trás até<br />

m e s m o do prim eiro e mais utilizado antibiótico, a penicilina,<br />

está o As p e r gillus penicillinum , um cogu m e l o . Por outro lado, a<br />

ho m e o p a tia não é ab s oluta m e n t e natural. Jamais oc orr e<br />

natural m e nt e um a con c e ntr a ç ã o tal co m o um a C 30 ou uma D<br />

20 0. A ho m e o p a ti a é uma prática artificial, e os antigo s<br />

m é di c o s ho m e o p a t a s não se ac anha m e m caract erizá- la e<br />

praticá- la co m o arte.<br />

6. Homeopatia<br />

A ho m e o p a tia e sua co m pr e e n s ã o do mun d o opõ e- se<br />

diam etr al m e n t e tanto à m e di cin a aca d ê m i c a co m o à m e dicin a<br />

natural, form an d o a bas e espiritual para uma m e di cin a<br />

real m e nt e alternativa que tam b é m está co m pr o m e tid a co m<br />

noss o principio. Não se trata aqui de co m b a t er um sinto m a co m<br />

seu contrário, m a s sim de aliar- se ao sinto m a e e m última<br />

instância até m e s m o apoiá- lo e m sua tentativa de trazer um<br />

principio car en ci al à vi<strong>da</strong> do do e nt e.<br />

O sím b ol o <strong>da</strong> m e di cin a, a serp e nt e que so b e pelo bastã o de<br />

Esculápio, de m o n s tr a que original m e nt e a m e di cin a estav a<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e enraiza<strong>da</strong> nes s a m an eira de pens ar. Escolhido<br />

24


co m o sím b ol o m é dic o obrigatório pela Organizaç ã o Mundial de<br />

Saúde so m e n t e nos ano s 50, es s e sím b ol o tem um a história<br />

que rem o nt a ao s prim órdio s <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e . No Paraís o é a<br />

serp e nt e que, co m o um prolon g a m e n t o do braç o do de m ô ni o ,<br />

leva o ho m e m ao ca min h o do des e n v olvi m e nt o . Ela é o<br />

sím b ol o do mun d o polar dos opo st o s e serp e nt ei a pelo s dois<br />

pólos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e para seguir adiante. Ela está pres a à terra<br />

co m o nenhu m outro anim al, tanto devido ao bani m e nt o divino<br />

oc a si o n a d o pelo pec a d o original co m o por sua form a. O filósofo<br />

<strong>da</strong> religião Herman Weidelen er diz que to<strong>da</strong> ela é pé 7 . Ela<br />

en g ol e suas vitima s inteiras, co m o o reino dos m orto s, do qual<br />

tam b é m é sím b ol o. Além de seus dois dente s que injeta m<br />

ven e n o , ela tem tam b é m a língua bifurcad a, um sím b ol o <strong>da</strong><br />

desl e ald a d e , <strong>da</strong> disc órdia e <strong>da</strong> desuniã o . Ela tem ain<strong>da</strong> a<br />

cap a cid a d e de deixar radical m e n t e para trás o velho e o já<br />

vivido e a cad a ano, ao trocar de pele, esta b el e c e um início<br />

totalm e nt e novo. Mas ela tem aci m a de tudo o ven e n o , que<br />

pod e matar e curar. A palavra ingles a gift [ven en o], que<br />

tam b é m quer dizer pres e nt e, do m, repres e nt a muito be m es s a<br />

relaç ã o contraditória de significad o s .<br />

Tal co m o na Antigui<strong>da</strong>d e, quan d o a serp e nt e era m anti<strong>da</strong> no<br />

templ o sagr ad o de Esculápio (Asklepios, e m greg o), a miss ã o<br />

mais caract erística e nobr e do m é dic o é transfor m ar o ven e n o 8<br />

<strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e m um pres e nt e, co m o qual o paci ent e pod e<br />

cres c e r e curar- se. A m e di cin a ho m e o p á tic a se g u e es s e<br />

ca min h o des d e o início e m sua man eira de pen s ar e agir e até<br />

m e s m o na produç ã o de seus m e di c a m e n t o s . A ho m e o p a tia<br />

fabrica rem é di o s a partir de ven e n o s tais co m o ars ê nic o e<br />

Lache sis 9 , livrand o- os pouc o a pouc o de sua m at eriali<strong>da</strong>d e<br />

atrav é s <strong>da</strong> agitaç ã o . Essa assi m cha m a d a poten cia ç ã o não é<br />

uma diluiçã o, m a s um a agitaç ã o ou dina miz a ç ã o , tal co m o<br />

enfatiza m os ho m e o p a t a s . Dess a m an eir a, a cad a etap a de<br />

dina miz a ç ã o a sub stân ci a ou tintura original é reduzi<strong>da</strong> a um<br />

déci m o (potên cia D para deci m al) ou um cent é si m o (potên cia C<br />

para cente si m al) e a cad a etap a transfer e seu padrã o para o<br />

solvent e atrav é s <strong>da</strong> dina miz a ç ã o 1 0 . Através dest e m ét o d o ,<br />

25


potên ci a s sup erior e s a D 23 já não contê m na<strong>da</strong> <strong>da</strong> sub stân ci a<br />

original, con s erv a n d o sua inform a ç ã o totalm e nt e livre <strong>da</strong><br />

toxici<strong>da</strong>d e original. Essa inform a ç ã o perten c e ao plan o<br />

espiritual, tend o sup er a d o o plano mat erial, que tem um a<br />

freqü ê n ci a de vibraç ã o m ais baixa. Liberad a de sua<br />

mat eriali<strong>da</strong>d e e transp ortad a a um plano sup erior, ela pod e agir<br />

co m o um ver<strong>da</strong>d eir o rem é di o. Ela dá ao paci ent e um a<br />

inform a ç ã o que lhe falta, tornan d o - o assi m mais são.<br />

Os m e dic a m e n t o s ho m e o p á tic o s são des c o b e rt o s atrav é s<br />

<strong>da</strong>s provas m é dic a s já m e n ci o n a d a s . Nelas, m é di c o s são s<br />

tom a m os m e dic a m e n t o s e m potên cia s baixas, e que portanto<br />

contê m a substânci a, registra m os sinto m a s provo c a d o s por<br />

eles. Caso um pacient e tenha os m e s m o s sinto m a s , ou<br />

sinto m a s se m el h a nt e s , ele na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s tom a o<br />

m e di c a m e n t o e m um a potên cia mais alta, livre <strong>da</strong> sub stân ci a.<br />

Com o inform a ç ã o pura, ela pod e ag or a contribuir para sua<br />

cura, contanto que o quadr o do m e dic a m e n t o corresp o n d a ao<br />

quadr o de sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> sinto m a é a expr e s s ã o de uma idéia que afundou no<br />

corp o, sen d o portanto um padrã o que falta à con s ci ê n ci a. Ele<br />

pod e ser tratado co m um a inform a ç ã o m e dic a m e n t o s a ou<br />

espiritual se m e l h a nt e. No prim eiro cas o falam o s de<br />

ho m e o p a tia, no segun d o , de con s ci e ntizaç ã o do padrã o ou<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s . De ac ord o co m sua naturez a, a<br />

inform a ç ã o está e m um plano de vibraç ã o sup erior ao do<br />

probl e m a corpor al. Quando se con s e g u e levar a proble m átic a a<br />

es s e plano sup erior, o ven e n o se transfor m a e m pres e nt e. A<br />

manife staç ã o <strong>da</strong> so m b r a na sinto m átic a leva à sua ilumina ç ã o ,<br />

a do e n ç a transfor m a- se em ca min h o de auto- con h e ci m e n t o .<br />

7. O jogo <strong>da</strong>s causas<br />

O con c eito de caus ali<strong>da</strong>d e esta no ca minh o <strong>da</strong> m e dicin a<br />

tanto no que se refer e ao conteúd o co m o à m e n s a g e m<br />

trans miti<strong>da</strong> pelo s sinto m a s . Assim co m o as ciên cias naturais,<br />

26


ela ch e g o u à con clus ã o de que tudo tem um a caus a que se<br />

en c o ntra no pas s a d o . Seu objetivo é enc o ntrá- la e eliminá- la.<br />

Defens or e s de outros princípios costu m a m atac ar a m e dicin a<br />

ac ad ê m i c a por não ser científica, uma crítica que se volta<br />

contra eles m e s m o s , co m o se verá.<br />

O que mais cha m a a aten ç ã o nes s e con c eito de caus ali<strong>da</strong> d e<br />

é sua limitaç ã o . Ele só pod e investigar e m um a direç ã o , ou<br />

seja, no pas s a d o , e a pergunta stand ard , “Por quê?", so m e n t e<br />

pod e ser feita um a ou no máxi m o duas vez e s . Naturalm e nt e se<br />

pod eria pes q uis ar e m outras direç õ e s continuar perguntan d o<br />

tanto quanto se queira. Por que tenh o um resfriado? Uma<br />

resp o st a ac ad ê m i c a ac eitáv el pod eria ser: “Porqu e contrai o<br />

ag e nt e caus a d o r há dois dias". Mas por que contraí o ag e nt e<br />

caus a d o r? - "Por que m eu siste m a imun oló gi c o estav a<br />

debilitado". Aqui tam b é m pod e- se continuar perguntan d o : Por<br />

que o siste m a imun ol ó gic o estav a debilitado? Em algu m<br />

m o m e n t o a resp o st a se referirá à heranç a gen étic a, seguind o o<br />

refrão: "Porqu e eu herd ei es s e siste m a de defe s a de m e u s<br />

pais". Mas por que meus pais m e trans mitira m exata m e n t e este<br />

equipa m e n t o imun ol ó gi c o ? A resp o st a entã o dirige- se ao s<br />

avô s, que nova m e n t e o her<strong>da</strong>r a m de seus pais, etc. Ao final<br />

ch e g a- se a Adão e Eva e à pergunta: "Por que os prim eiro s<br />

ser e s hum a n o s incorp or ar a m um tal siste m a imun ol ó gic o?"<br />

Com a m e s m a técnic a de pergunta s, pod ería m o s ch e g ar<br />

"cientifica m e n t e" ao Big Bang. De qualqu er man eira, a resp o sta<br />

à pergunta se guinte per m a n e c e e m ab erto: Por que - pelo<br />

am or de Deu s- houv e es s a explos ã o inicial?<br />

O principio de caus ali<strong>da</strong>d e so m e n t e ag e de m an eira tão<br />

convinc e nt e à prim eira vista, m o strand o fraqu ez a s evid e nt e s a<br />

um olhar m ais atento. Sua m ai or fraqu ez a é que ele<br />

co m pr o v a d a m e n t e não se ajusta à reali<strong>da</strong>d e , co m o nos<br />

de m o n s tr a a física m o d e r n a. Sendo a ciên cia natural mais<br />

avan ç a d a , ela ultrapas s o u as fronteiras de uma visão de<br />

mund o m e c a ni cista bas e a d a no principio <strong>da</strong> caus ali<strong>da</strong>d e e o<br />

refuta.<br />

Os físico s ch e g ar a m a este ponto de transiç ã o , decisivo não<br />

27


apen a s para a m e di cin a, pes q uis a n d o as minús c ulas partículas<br />

no interior do áto m o . Eles des c o b rira m que to<strong>da</strong>s as partículas,<br />

até m e s m o o fóton de luz, pos s u e m um a imag e m e m esp el h o<br />

no pólo opo st o 1 1 . Para cad a partícula existe portanto um a<br />

partícula gê m e a , que lhe é exata m e n t e contrária e m tudo. O<br />

m ét o d o de exp eri m e nt a ç ã o segun d o o qual um a <strong>da</strong>s duas<br />

partículas gê m e a s resultante s é estimulad a en quant o a outra é<br />

deixad a e m paz rem et e a Albert Einstein. O des c o n c e rt a nt e é<br />

que se co m pr o v o u que no m o m e n t o <strong>da</strong> mud a n ç a de estad o <strong>da</strong><br />

partícula estimulad a a outra, não- estimulad a, tam b é m se<br />

m o dificav a, de tal m an eira que am b a s continuava m e m pólo s<br />

opo st o s . Mais ass o m b r o s o ain<strong>da</strong> é que am b a s as m o difica ç õ e s<br />

oc orria m no m e s m o m o m e n t o , des c artand o assi m qualqu er<br />

form a de trans mi s s ã o de inform a ç õ e s co m o explicaç ã o .<br />

Finalm e nt e o inglês John Bell pôd e provar mat e m a tic a m e n t e<br />

que partículas de um a deter min a d a fonte, cha m a d a s partículas<br />

de fase fecha d a, estã o liga<strong>da</strong>s para se m pr e, sen d o que isso<br />

ac o nt e c e de um a man eira não caus al, que não pod e ser<br />

con c e b i d a logica m e n t e . O teor e m a de Bell dá ain<strong>da</strong> mais um<br />

pas s o e prova que isto não é válido so m e n t e para as<br />

minús c ulas partículas sub atô m i c a s , sen d o um a lei geral. Com<br />

isso, o princípio <strong>da</strong> caus ali<strong>da</strong>d e foi refutad o e reb aixad o a um<br />

m o d el o de explicaç ã o que so m e n t e per mite um a ab ord a g e m<br />

aproxi m a d a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e .<br />

Consider a n d o que, de ac ord o co m a ciên cia, noss o univers o<br />

surgiu de uma explo s ã o , o cha m a d o Big Bang, ele<br />

nec e s s a ria m e n t e tem que se con stituir de partículas<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong>s um a s às outras. E é exata m e n t e diss o<br />

que trata m as es crituras sagr ad a s do Oriente. Os Ve<strong>da</strong>s hindus<br />

e os Sutras do Budism o des cr e v e m a reali<strong>da</strong>d e co m o estan d o<br />

per m a n e n t e m e n t e liga<strong>da</strong> e m todo s os seus asp e ct o s a todo s<br />

os seus outros asp e ct o s . Emb or a hoje e m dia os físico s<br />

apres e nt e m resultad o s que pare c e m igualm e nt e m etafísic o s,<br />

não se trata de uma aproxim a ç ã o do con h e ci m e n t o m o d e r n o<br />

ao antigo, tal co m o se co stu m a afirmar, ma s de um a<br />

aproxi m a ç ã o unilateral por parte <strong>da</strong>s ciên cias naturais ao<br />

28


con h e ci m e n t o ate m p o r al contido nos tratad o s de sab e d o ri a.<br />

Mas se a caus ali<strong>da</strong>d e é refuta<strong>da</strong>, per m a n e c e a pergunta: por<br />

que continuar atend o- se a ela? Não con s e g ui m o s viver<br />

totalm e nt e se m a caus ali<strong>da</strong> d e , de qualqu er form a não nesta<br />

soci e d a d e 1 2 , porqu e nos s o pens a m e n t o está impre g n a d o de<br />

caus ali<strong>da</strong>d e até na lingua g e m (co m o de m o n s tr a por exe m pl o<br />

esta fras e). Entretanto, não há nen hu m a razão para aferrar- se<br />

a um a form a inferior e limita<strong>da</strong> de pen s a m e n t o caus al, tal co m o<br />

o siste m a cientifico. Na melh or <strong>da</strong>s hipótes e s , pod e m o s am pliar<br />

a caus ali<strong>da</strong> d e para utilizá- la co m o m ei o de aproxi m a ç ã o ao<br />

univers o que “ac o nt e c e " sincronic a m e n t e , tal co m o já o fez<br />

Aristóteles. A vantag e m de sua co m pr e e n s ã o mais ampla <strong>da</strong><br />

caus ali<strong>da</strong>d e torna- se evident e assi m que colo c a m o s<br />

cientifica m e n t e so b a lupa um fenô m e n o simple s tal co m o um<br />

ac o nt e ci m e n t o esp ortivo. Até m e s m o a corri<strong>da</strong> de ce m m etro s<br />

raso s ain<strong>da</strong> é long a de m ai s, e precis a m o s portanto rec ortar<br />

uma pequ e n a se ç ã o , talvez a larga<strong>da</strong>. À pergunta cientifica<br />

padrã o: qual é a caus a para que os esp ortistas se ponh a m a<br />

correr rep entina m e n t e ? ha um a resp o st a cientifica m e n t e<br />

ac eitáv el: o tiro de largad a. Ele atua do pas s a d o para o<br />

pres e nt e, se m pr e ac o nt e c e e pod e ser repro duzid o.<br />

Entretanto, qualqu er um que enten d a um pouc o de atletis m o<br />

ficará pouc o satisfeito co m es s a explicaç ã o . Ele entã o indicará<br />

que a caus a real para a parti<strong>da</strong> dos esp ortistas é seu des ej o de<br />

gan h ar uma m e d al h a de ouro. Mas um a ev e ntual vitória<br />

en c o ntra- se ain<strong>da</strong> no futuro, não sen d o portanto ac eitáv el<br />

co m o caus a pela ciên cia. Segund o a con c e p ç ã o de Aristóteles,<br />

tam b é m existe uma caus a- padrã o por trás de cad a<br />

ac o nt e ci m e n t o . Na corri<strong>da</strong> de ce m m etro s ras o s, seria m as<br />

regras do jogo. Estas, por exe m pl o, proíb e m que se use um a<br />

bicicleta ou outro mei o de auxilio não per mitido. Na ver<strong>da</strong>d e , os<br />

esp ortistas so m e n t e sab e m e m que direç ã o dev e m largar<br />

graç a s ao padrã o "ce m m etro s ras o s", que existe há muito<br />

temp o. Finalm e nt e, há ain<strong>da</strong> a bas e m at erial ou caus a s que se<br />

en c o ntra m nas raias, nos mús c ul o s, etc., e que tam b é m são<br />

ac eitas pela ciên cia. Com quatro caus a s e m vez de um a, ain<strong>da</strong><br />

29


não faze m o s justiça à reali<strong>da</strong>d e , mas esta m o s mais perto. E se<br />

de qualqu er m an eira não existe caus a algu m a e m última<br />

instância, dev e- se per mitir que se co m pl et e um a co m três<br />

outra;. Caso e m pr e g u e m o s es s a s quatro caus a s para a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s , aqu el a apre s e nt a d a pela m e dicin a<br />

ac ad ê m i c a não se torna errad a, sen d o so m e n t e co m pl etad a e<br />

am pliad a.<br />

Devido ao hábito e à ce gu eira de si mes m o , ac o nt e c e muitas<br />

vez e s que a pes s o a se refugie nos braç o s <strong>da</strong> mon o c a u s ali<strong>da</strong>d e<br />

habitual justa m e n t e quan d o se trata de importante s sinto m a s<br />

próprios. A pneu m o ni a própria é entã o atribuí<strong>da</strong> unica m e n t e ao<br />

ag e nt e caus a d o r, e a partir <strong>da</strong>í não se pergunta m ais na<strong>da</strong>. Em<br />

cad a cas o de pneu m o ni a há natural m e nt e ag e nt e s caus a d o r e s<br />

e m jogo, eles fornec e m a caus a que atua a partir do pas s a d o .<br />

Talvez o fato de que a maioria <strong>da</strong>s pes s o a s sas abrigu e m e m<br />

seus pulm õ e s os ag e nt e s corresp o n d e n t e s se m que por isso<br />

ado e ç a m co m pr o v e que eles não são os únicos resp o n s á v ei s .<br />

Caso a pes s o a seja isolad a e m um a uni<strong>da</strong>d e de terapia<br />

intensiva devido, por exe m pl o, a um grav e acident e de carro,<br />

os m e s m o s ag e nt e s pod e m tornar- se subita m e n t e ativo s. O<br />

perig o de contrair uma pneu m o ni a e m um a uni<strong>da</strong>d e de terapia<br />

intensiva não é tão grand e pelo fato de hav er tantos ag e nt e s ,<br />

ao contrário, e m nenhu m outro lugar eles são tão pers e g uid o s<br />

e dizim ad o s . A ver<strong>da</strong>d eir a razã o está no conflito de<br />

co m u nic a ç ã o que se esta b el e c e assi m que todo contato<br />

so m e n t e oc orr e atrav é s de tubo s de plástico. Assim co m o<br />

se m pr e se en c o ntra um a caus a funcion al, se m pr e surgirá<br />

tam b é m uma caus a de objetivo ou de significad o, be m co m o<br />

um padrã o e m que todo o ac o nt e ci m e n t o oc orr e.<br />

8. Analogia e simbolismo<br />

Ain<strong>da</strong> que rec orra m o s às quatro caus a s de Aristóteles, a<br />

filosofia de A Do e n ç a co m o Ca minh o está bas e a d a muito m ais<br />

no pens a m e n t o analó gic o que no pen s a m e n t o caus al.<br />

30


Nova m e nt e, é a física que pod e abrir- nos o ca min h o para es s a<br />

visão de mund o . Os físico s colo c ar a m a sim etria no lugar <strong>da</strong><br />

caus ali<strong>da</strong>d e , explican d o que as últimas leis que pod e m ser<br />

con c e b i d a s por nós são teor e m a s sim étric o s. O pen s a m e n t o<br />

analó gic o <strong>da</strong> m e di cin a antiga, tal co m o expres s o na propo siç ã o<br />

de Parac els o "micro c o s m o s = m a cr o c o s m o s " ou na tes e<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al de todo o es ot eris m o "assi m e m cim a co m o<br />

e m b aix o e assi m dentro co m o fora", aproxim a- se des s a<br />

con c e p ç ã o sim étrica. Estam o s m ais próxim o s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e<br />

quan d o ve m o s form a e conteú d o , corp o e alm a 13 , ser hum a n o e<br />

mund o de m an eira análo g a do que bus c a n d o caus a s , pois a<br />

física prova que o mun d o não está con stituído de fatos que se<br />

suc e d e m , ma s de fatos sincrô nic o s justap o st o s .<br />

A chav e para esta co m pr e e n s ã o do mund o não está na<br />

analis e, m a s no sim b olis m o . Este tam b é m se en c o ntra no<br />

centro <strong>da</strong> interpreta ç ã o dos sinto m a s . Sinto m a s são imag e n s<br />

<strong>da</strong> do e n ç a ; assi m co m o outras imag e n s , eles não pod e m ser<br />

co m pr e e n di d o s atrav é s <strong>da</strong> anális e do m at erial, ma s por m ei o<br />

<strong>da</strong> ob s erv a ç ã o cont e m pl ativa 14 de sua totali<strong>da</strong>d e. A expr e s s ã o<br />

de um a imag e m nos es c a p a quan d o tenta m o s en c o ntrá- la na<br />

anális e do m at erial, por mais refina<strong>da</strong> que esta seja. Ao final<br />

obte m o s algun s <strong>da</strong>d o s num éric o s so br e a co m bin a ç ã o de<br />

pigm e nt o s , ma s perd e m o s o am bi e nt e outon al. Este está mais<br />

no sim b olis m o <strong>da</strong>s cor e s que e m sua quí mic a. Para que<br />

pos s a m o s interpretar um a imag e m , todo s os detalh e s dev e m<br />

unir-se e m um a impre s s ã o geral. O todo é mais que a so m a de<br />

suas partes.<br />

Nossa palavra "sím b ol o" deriva <strong>da</strong> palavra greg a sy m b allein,<br />

que significa algo co m o juntar, reunir. Para co m pr e e n d e r a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s do ser hum a n o e m sua totali<strong>da</strong>d e é<br />

nec e s s á ri o juntar to<strong>da</strong> s as impre s s õ e s individuais e m um<br />

padrã o, ou seja, reunir todo s os pequ e n o s sím b ol o s e m um<br />

único sím b ol o abran g e nt e.<br />

Apesar <strong>da</strong> legitima ç ã o obti<strong>da</strong> graç a s à física m o d e r n a, o<br />

pen s a m e n t o analó gic o pas s a facilm e nt e ao segun d o plan o e m<br />

relaç ã o ao pen s a m e n t o analítico. Ain<strong>da</strong> assi m, ele impregn a<br />

31


noss a s vi<strong>da</strong>s e m muito maior m e di<strong>da</strong> que a que esta m o s<br />

dispo st o s a ad mitir. Quando en c o ntra m o s uma pes s o a pela<br />

prim eira vez, form a m o s uma imag e m dela que se apóia e m<br />

uma co m pr e e n s ã o sim b ólic a e analó gic a. Ain<strong>da</strong> que o intelecto<br />

nos queira sug erir que a prim eira impres s ã o é en g a n o s a ,<br />

sab e m o s que não é assi m . Caso nos fiem o s <strong>da</strong> razão,<br />

precis a m o s freqü e nt e m e n t e de muito temp o para che g ar à<br />

con clus ã o de que tudo já estav a lá des d e o Inicio. Assim que<br />

visita m o s algu é m e m sua cas a, form a m o s uma imag e m <strong>da</strong><br />

cas a e <strong>da</strong> pes s o a , o m e s m o ac o nt e c e n d o quan d o ele sai de<br />

seu carro. Tudo isso bas ei a- se e m um a co m pr e e n s ã o<br />

sim b ólic a m ais ou m e n o s con s ci e nt e. To<strong>da</strong> s as refer ên ci a s<br />

religios a s tam b é m estã o bas e a d a s no sim b olis m o e na<br />

analo gia. Som e nt e des s a man eira pod e- se enten d e r as<br />

co m p ar a ç õ e s . Quando, no pai- nos s o , reza m o s "Seja feita a<br />

Sua vontad e , assi m na Terra co m o no céu", utilizam o s um a<br />

outra formulaç ã o para o "assi m e m cim a co m o e m b aix o";<br />

esta m o s nos mov e n d o so br e o solo <strong>da</strong> analo gia.<br />

A um olhar m ais atento, até m e s m o as ciên cias naturais<br />

bas ei a m - se no pen s a m e n t o co m p ar ativo, já que qualqu er<br />

fenô m e n o m e n s ur á v el é um a co m p ar a ç ã o e um proc e s s o de<br />

esta b el e c e r relaç õ e s , ou seja, de criar analo gi a s. Tanto faz se<br />

m e di m o s um a distância, a temp er atura ou a pres s ã o , so m o s<br />

se m pr e rem etid o s à co m p ar a ç ã o co m um a es c al a de aferiçã o.<br />

Com o as m e did a s são a bas e <strong>da</strong>s ciên cias naturais, e m última<br />

instância elas tam b é m estã o bas e a d a s no pen s a m e n t o<br />

co m p ar ativo.<br />

Pode- se rec o n h e c e r ain<strong>da</strong> mais clara m e n t e o quanto a<br />

m e di cin a está próxim a do pen s a m e n t o co m p ar ativo no âm bito<br />

<strong>da</strong> estatística, um a de suas disciplinas preferi<strong>da</strong> s. Estam o s<br />

se m pr e nos dep ar an d o co m tentativas de extrair provas de<br />

estatística s. Trata- se de um m ét o d o con h e ci d o e tentad or.<br />

Pergunta- se a 100 heroin ô m a n o s se eles ante s tinha m<br />

con s u mi d o produto s derivad o s <strong>da</strong> Canna bi s tais co m o o haxixe<br />

e a ma c o n h a . Quando 90 % resp o n d e m co m um "sim", produzse<br />

a "prova" de que a Canna bi s é a drog a de iniciaç ã o ao<br />

32


con s u m o de heroín a. O que so a tão lógic o não prova<br />

entretanto ab s oluta m e n t e na<strong>da</strong>. Mu<strong>da</strong>ndo- se a pergunta, pod ese<br />

"provar" estatistica m e n t e que o leite é a drog a de iniciaç ã o<br />

mais perigo s a do mund o, já que 10 0 % dos heroin ô m a n o s e<br />

todo s os alco ól atras co m e ç a r a m co m ele. Não se trata aqui de<br />

man eira algu m a de distorc er as estatística s e sim, ao contrário,<br />

de reabilitar o pen s a m e n t o co m p ar ativo que está e m sua bas e.<br />

A estatística pod e expres s ar cois a s sub stan ci ais, ma s jam ais<br />

pod er á provar algo, pois suas correla ç õ e s não têm na<strong>da</strong> a ver<br />

co m a caus ali<strong>da</strong>d e . Tanto os fenô m e n o s m e n s ur á v ei s co m o as<br />

estatística s m o stra m co m o o pen s a m e n t o analó gic o está<br />

difundido. O fato de que não o queira m o s perc e b e r não mud a<br />

muita cois a.<br />

O sim b olis m o continua tend o um significad o decisivo para a<br />

própria m e dicin a m o d er n a. Tal co m o ain<strong>da</strong> se m o strará, hoje,<br />

tanto quanto antiga m e n t e , os sím b ol o s e os rituais que se<br />

org aniza m a partir deles des e m p e n h a m na sani<strong>da</strong>d e um pap el<br />

do min a nt e que, entretanto, pas s a e m grand e parte<br />

des p er c e b i d o . Isso está be m já por es s a m e s m a razão, pol que<br />

os sinto m a s tam b é m se co m p õ e m de sím b ol o s e co m p el e m a<br />

autêntic o s rituais.<br />

9. Campos formativos<br />

Com o não existe nenhu m a cultura antiga ne m tamp o u c o<br />

qualqu er so ci e d a d e m o d e r n a se m rituais, pod e- se deduzir que<br />

eles forço s a m e n t e faze m pan e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> hum a n a. Em prop orç ã o<br />

à sua diss e m i n a ç ã o , a m an eir a co m o atua m ain<strong>da</strong> é pouc o<br />

con h e ci d a. Som e nt e na última déc a d a en c o ntrou- se um<br />

principio es clar e c e d o r , co m a teoria de Sheldrak e so br e<br />

ca m p o s m orfo g e n é tic o s ou form ativo s. Através de<br />

exp eri m e nt o s , Sheldrak e confirm o u que há relaç õ e s entre<br />

distintos ser e s vivos que es c a p a m a explicaç õ e s lógica s. Ele<br />

postulou os cha m a d o s ca m p o s form ativo s, que serv e m de<br />

m e di a d or e s para es s a s ligaç õ e s se m a nec e s s i d a d e de<br />

33


trans mitir mat éria ou inform a ç õ e s . Várias exp eriên ci a s<br />

co m pr o v a m que ser e s vivos e m um ca m p o co m u m estã o<br />

ligad o s uns ao s outros de m an eir a inexplicáv el, de man eira<br />

muito se m el h a nt e às partículas gê m e a s dos físico s atô mi c o s .<br />

Eles vibra m ao m e s m o temp o no m e s m o plano de vibraç ã o e<br />

co m p o rta m - se quas e co m o se foss e m um ser, co m p ar á v el<br />

talvez a um grand e cardu m e de peixes ou um ca m p o de trigo<br />

so br e o qual o vento sopra. Nas situaç õ e s que fora m<br />

ob s erva<strong>da</strong>s , não havia ne m m e s m o temp o para que se<br />

co m u nic a s s e m entre si no sentido tradicion al.<br />

O am eric a n o Conden pôd e des c o b rir algo se m el h a nt e entre<br />

ser e s hum a n o s . Ele filmou de perfil e e m câ m ar a lenta pes s o a s<br />

que se co m u ni c a v a m . Com isso con statou- se que tanto a<br />

pes s o a que fala co m o o ouvinte estã o ligad o s no m e s m o<br />

instante por m o vi m e n t o s minús c ulo s, cha m a d o s<br />

micro m o vi m e n t o s . Este vibrar um co m o outro está pres e nt e<br />

e m todo s os ser e s hum a n o s , co m exc e ç ã o <strong>da</strong>s crianç a s<br />

autistas. Está- se aqui na pista de um a con e x ã o que, no âm bito<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> org ânic a, corresp o n d e aqu el a inexplicáv el e<br />

caract erística con e x ã o <strong>da</strong>s partículas físicas ele m e n t ar e s .<br />

Qualquer um pod e fazer um exp eri m e nt o de tais ca m p o s<br />

indep e n d e n t e s no tem p o e no esp a ç o e m uma sala de<br />

con c ert o s, ond e reina uma har m o ni a inexplicáv el segun d o<br />

critérios tradicion ais. Com o é pos sív el, pod e- se perguntar<br />

ingenu a m e n t e , que tantos músic o s diferent e s co m tem p o s de<br />

reaç ã o tão diferente s toqu e m todo s no m e s m o an<strong>da</strong> m e n t o ?<br />

Eles naturalm e nt e estã o todo s olhan d o para o m e s m o reg e nt e,<br />

ma s devido ao s temp o s de reaç ã o individuais, cad a um deles<br />

dev eria transp or os sinais para seu instrum e nt o e m temp o s<br />

diferent e s . A razã o de isso não ser assi m está no padrã o<br />

vinculante <strong>da</strong> músic a. Em lugar do cao s que logica m e n t e seria<br />

de esp er ar, pod e resultar um a sinfonia, um so ar conjunto,<br />

porqu e os músic o s torna m- se um no padrã o e atua m co m o um<br />

único ser. Os ouvintes tam b é m pod e m introduzir- se nes s e<br />

padrã o e tornar- se um na músic a, co m o reg e nt e, os músic o s e<br />

os outros ouvintes. Esse é um mistério que ne m m e s m o a<br />

34


m elh or repro du ç ã o técnic a pos sív el do con c eito pod e sub stituir.<br />

Experiên cias práticas co m es s e s ca m p o s que não pod e m<br />

ser co m pr e e n di d o s logica m e n t e , ne m vistos, ma s que pod e m<br />

ser sentido s, per mite m tam b é m a m e ditaç ã o . Em quas e todo s<br />

os m o st eiro s havia salas de oraç ã o que era m manti<strong>da</strong> s<br />

exclusiva m e n t e co m es s e prop ó sito, para não perturb ar a<br />

atm o sf er a. Quem já m e ditou e m um claustro ond e so m e n t e a<br />

m e ditaç ã o foi praticad a nos último s mil ano s con h e c e a<br />

exp eriên ci a. Aqui, entra- se e m estad o de m e ditaç ã o m ais<br />

facilm e nt e e m ais profun<strong>da</strong> m e n t e que no dor mitório de cas a ou<br />

até m e s m o viajand o de avião. Grand e s grupos que estã o e m<br />

uníss o n o tam b é m cria m um ca m p o que pod e ser sentido. No<br />

Tai-Chi, uma antiga m e ditaç ã o chin e s a feita atrav é s de<br />

m o vi m e nt o s , ele é esp e ci al m e n t e perc e ptív el. Surge uma<br />

en or m e en er gi a quan d o um grupo se m o vi m e n t a co m o se<br />

foss e um único ser. Uma antiga exp eriên ci a militar afirma que é<br />

mais fácil m ar c h ar ao m e s m o temp o. Pode- se ver quã o grand e<br />

a en er gi a do uníss o n o , <strong>da</strong> ress o n â n ci a pod e se tornar quan d o<br />

se sab e do perigo (de des a b a m e n t o) que as coluna s e m<br />

marc h a repres e nt a m para as ponte s.<br />

Para ilustrar co m o es s e s ca m p o s pod e m se form ar ao<br />

m e s m o temp o a grand e s distâncias, tem o s o fato de que<br />

freqü e nt e m e n t e as des c o b e rt a s são feitas ao mes m o temp o em<br />

diferent e s partes do mund o e que as mes m a s idéias surg e m no<br />

m e s m o instante e m lugare s diferent e s . Essa exp eri ên ci a pod e<br />

precipitar- se até m e s m o na política. A en er gi a de um ca m p o de<br />

padrã o vigent e ficou de m o n s tr a d a na que d a quas e sincrônic a<br />

dos regi m e s do bloc o europ e u oriental. Seu temp o tinha se<br />

es g ot a d o e até m e s m o os tanqu e s , que durante déc a d a s<br />

tinha m pres erv a d o a paz dos ce mitério s, rep e ntina m e n t e não<br />

podia m fazer m ais na<strong>da</strong>. Emb or a o intelecto, m o v e n d o - se por<br />

ca min h o s estreito s, ain<strong>da</strong> pos s a procurar outras explicaç õ e s<br />

para todo s es s e s exe m pl o s , há um a exp eriên ci a drástica que<br />

nes s e sentido repres e nt a para ele um probl e m a insolúv el.<br />

Separou- se um a cad el a poodl e de seus filhotes que fora m<br />

levad o s a milhar e s de quilô m etr o s de distân cia e m um<br />

35


sub m a rin o atô mic o . À m e di<strong>da</strong> e m que eles iam sen d o<br />

sacrificad o s a esp a ç o s de temp o deter min a d o s , a m ã e "reagia"<br />

de man eira m e n s ur á v el. A palavra "reagir" não é de fato<br />

apropriad a para este cas o, pois não havia qualqu er razã o para<br />

que a m ã e reagis s e a qualqu er cois a; ela na ver<strong>da</strong>d e estiva<br />

liga<strong>da</strong> a seus filhote s e m um ca m p o . A reaç ã o requ er tem p o ,<br />

sen d o que aqui tudo suc e di a simultan e a m e n t e .<br />

Enquanto ain<strong>da</strong> acr edita m o s que são as mais divers a s<br />

caus a s que mant ê m o mund o e m m o vi m e nt o , a física m o d e r n a<br />

prova justa m e n t e o contrário. na reali<strong>da</strong>d e, so m o s regido s por<br />

uma sincronici<strong>da</strong>d e inexplicáv el, não pas s a n d o a caus ali<strong>da</strong>d e<br />

de um equív o c o , ain<strong>da</strong> que plausív el. Os fenô m e n o s que<br />

e m e r g e m nos ca m p o s form ativo s oc orr e m de m an eir a<br />

sincrô nic a e não pod e m mais ser explicad o s de man eira<br />

caus al. Estam o s co m e ç a n d o a susp eitar que a física e a<br />

biolo gia estã o na pista <strong>da</strong>qu el a reali<strong>da</strong>d e m ais profun<strong>da</strong> que<br />

nas es crituras sagra d a s do Oriente é des crita co m o um grand e<br />

padrã o oc orr e n d o de man eira sincrô nic a e m plano s diferent e s ,<br />

ond e tudo tem seu lugar, está relacion a d o entre si, ma s não<br />

está de m o d o algu m relacion a d o de man eira caus al. A doutrina<br />

analó gic a é a que mais coincid e co m as noç õ e s dos ca m p o s<br />

form ativo s. Neste sentido é co m pr e e n s í v el que en sin a m e n t o s<br />

antigo s tais co m o de Parac el s o , de que o ho m e m e o mund o<br />

são um 1 5 , volte m a ser levad o s e m con sid er a ç ã o .<br />

Falta pouc o para que se relacion e o efeito dos rituais co m os<br />

ca m p o s form ativo s. Os rituais são o ca min h o m ais direto para<br />

con struir es s e s ca m p o s e anc or á- los na reali<strong>da</strong>d e. A susp eita<br />

transfor m a- se e m certez a quan d o se con sid er a os antigo s ritos<br />

de iniciaç ã o e de cura. Nos rituais <strong>da</strong> pub erd a d e não se explica<br />

ao s adol e s c e n t e s o mund o dos adultos e suas regras, m a s<br />

atrav é s <strong>da</strong> exe c u ç ã o dos proc e di m e n t o s rituais eles se torna m<br />

parte do m e s m o se m precis ar enten d er coisa algu m a . Uma vez<br />

introduzido s no ca m p o <strong>da</strong> nova esfer a, to<strong>da</strong>s as suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s abr e m - se para ele auto m atic a m e n t e . Nós, que<br />

não acr edita m o s mais e m rituais e por es s a razã o tamp o u c o<br />

con struí m o s ca m p o s fortes, mal pod e m o s imagin ar algo<br />

36


se m el h a nt e.<br />

37


2<br />

<strong>Doença</strong> e Ritual<br />

1. Rituais em nossa socie<strong>da</strong>de<br />

As antigas culturas que con h e c e m o s tinha m , se m exc e ç ã o ,<br />

uma cois a e m co m u m : a partir de sím b ol o s , elas criava m rituais<br />

não só para as principais fase s de transiç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, m a s<br />

tam b é m para o dia- a- dia e suas exig ê n ci a s . Som e nt e o ho m e m<br />

m o d e r n o acredita pod er se guir adiante se m rituais,<br />

con sid er a n d o - os cren dic e s já sup er a d a s . Contra este pan o de<br />

fundo, é de ad mirar ain<strong>da</strong> m ais o grand e núm er o de rituais que<br />

fora m con s er v a d o s e m noss a es clar e cid a ép o c a.<br />

Desp er c e b i d o s ou prop o sitad a m e n t e ignorad o s , eles continua m<br />

do min a n d o a imag e m <strong>da</strong> so ci e d a d e . Ao lado dos pouc o s rituais<br />

que perdurara m con s ci e nt e m e n t e , tais co m o o batis m o , a<br />

prim eira co m u n h ã o , a cris m a, o m atrim ô ni o e o sepulta m e n t o ,<br />

há inúm er a s aç õ e s se mi c o n s ci e nt e s e incon s ci e nt e s que vive m<br />

de seu caráter ritual. Pequ e n o s rituais obrigatório s preen c h e m<br />

o cotidian o, co m o se rep entina m e n t e pes s o a s adultas não<br />

pudes s e m , se m eles, des e n v o l v er se qü ê n ci a s de pas s o s<br />

próprias dentro do padrã o <strong>da</strong> m ar c h a diária, seja a co m p uls ã o<br />

de contar as coluna s que pas s a m rapi<strong>da</strong> m e n t e pela janela<br />

en qu a nt o viaja m o s de m etrô, quan d o se tem que verificar cinc o<br />

vez e s se o carro está real m e nt e fecha d o , se a porta <strong>da</strong> cas a<br />

está tranc a d a, se os apar elh o s estã o desliga d o s <strong>da</strong> tom a d a e<br />

assi m por diante. Todo s es s e s proc e di m e n t o s não têm<br />

qualqu er sentido lógic o apre e n s í v el, tratand o- se unica m e n t e ,<br />

tal co m o é típico dos rituais, <strong>da</strong> aç ã o por si m e s m a . Ao lado<br />

des s e s rituais cotidian o s e apar ent e m e n t e secun d ári o s, há<br />

tam b é m grand e núm er o de rituais importante s .<br />

Nossa justiça ergu e- se so br e o pres s up o st o de que os<br />

m e m b r o s <strong>da</strong> so ci e d a d e rec o n h e c e m e acr edita m nes s e antigo<br />

ritual que é a jurisdiçã o . Em cad a proc e di m e n t o , o caráter ritual<br />

38


torna- se claro e m sua ev oluç ã o rigi<strong>da</strong> m e n t e ritualiza<strong>da</strong>. A<br />

jurisdiçã o corresp o n d e quas e a um a orde m , seja ela religios a<br />

ou laical. As toga s dos m a gi strad o s , dos pro m ot or e s e dos<br />

adv o g a d o s de defe s a são hábito s rituais chei o s de significad o.<br />

Por que outra razã o dev eria um jurista adulto usar um vestido e<br />

uma peruc a se não para servir ritualm e nt e à deus a Justiça? Tal<br />

co m o os sac erd ot e s , o juiz exerc e seu carg o se m levar e m<br />

con sid er a ç ã o sua própria pes s o a ou a do acus a d o . Enquanto<br />

ocup a seu carg o, só está sub m e tid o às regra s do ritual <strong>da</strong><br />

justiça e deixa de ser um a pes s o a individual particular co m<br />

opiniõ e s próprias até o final do julga m e n t o . Caso não con sig a<br />

isso, estan d o co m pr o m e ti d o co m outras cois a s que não<br />

exclusiva m e n t e os livros <strong>da</strong> lei, ele é recus a d o por ser parcial.<br />

O fech a m e n t o de um contrato, o rec o n h e c i m e n t o con s ci e nt e<br />

dos fatos atrav é s <strong>da</strong> assinatura do próprio punho, preen c h e os<br />

critérios de um ritual. Precis a m e n t e , não é pos sív el <strong>da</strong>tilografar<br />

ou carim b ar o no m e na folha de pap el, ain<strong>da</strong> que assi m ele<br />

foss e mais legív el. Nos ac ord o s político s, a cel e br a ç ã o <strong>da</strong><br />

ratificaç ã o co m o ritual de rec o n h e c i m e n t o cha m a<br />

esp e ci al m e n t e a aten ç ã o . As relaç õ e s usuais entre as pes s o a s<br />

tam b é m estã o sub m e tid a s a regras rituais que têm pouc o<br />

sentido se con sid er a d a s do ponto de vista funcion al. Por que,<br />

ao cumpri m e nt ar algué m , se dá justa m e nt e a m ã o direita<br />

ab erta e não o punh o es qu er d o fecha d o ? Nossa vi<strong>da</strong> está<br />

deter min a d a por sím b ol o s e sinais, <strong>da</strong>s cor e s <strong>da</strong>s roupa s até<br />

os sinais de trânsito. Todo s os proc e di m e n t o s rituais des s e tipo<br />

so m e n t e sub siste m porqu e são rec o n h e c i d o s e se g uid o s .<br />

Regras e sinais de trânsito não têm qualqu er sentido e m si<br />

m e s m o s m a s, resp eitad o s por todo s, regula m e n t a m as mais<br />

difíceis situaç õ e s . Rituais não são lógic o s, mas sim b ólic o s. eles<br />

são o padrã o op er a nt e. Sem eles, a vi<strong>da</strong> e m soci e d a d e seria<br />

impo s sív el.<br />

O probl e m a está em que rituais incon s ci e nt e s não funcion a m<br />

tão be m quanto aqu el e s que são con s ci e nt e s , e na so ci e d a d e<br />

industrial m o d er n a pred o m i n a um a forte tend ê n ci a à<br />

incon s ci ê n ci a. De man eira cad a vez mais durad o ur a, o<br />

39


significad o dos rituais perd e seu e m b a s a m e n t o na con s ci ê n ci a<br />

e m er g ulh a na so m b r a. Na sup erfície social, as form a s<br />

esv aziad a s de sentido deg e n e r a m e m costu m e s . Estes são<br />

manife sta m e n t e persistent e s devido ao fato de tere m suas<br />

raízes profun<strong>da</strong> s no padrã o que um dia foi con s ci e nt e. Ain<strong>da</strong><br />

que o sentido original tenha sido es qu e ci d o há muito, os<br />

costu m e s sub siste m e continua m <strong>da</strong>nd o à soci e d a d e uma<br />

m oldura. As tentativas de eliminá- los atrav é s de refor m a s<br />

muitas vez e s naufrag a m devido a seu profund o enraiza m e n t o .<br />

Por muito brio que os revolucion ário s franc e s e s de 178 9<br />

tenha m posto na tentativa de transfor m ar a se m a n a de 7 dias<br />

e m um ritmo deci m al m ais lógic o e produtivo, o ritmo seten ário<br />

estav a profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad o na reali<strong>da</strong>d e e so br e viv e u à<br />

Revoluç ã o .<br />

Até m e s m o quan d o não con h e c e m o s m ais as raízes,<br />

continuan d o ain<strong>da</strong> assi m vigent e s as regra s que delas se<br />

originara m , per m a n e c e m o s na se gur an ç a do padrã o. O único<br />

perig o está e m que a carg a aní mic a es m o r e ç a junto co m a<br />

con s ci ê n ci a. Caso as regra s so m e n t e seja m cumpri<strong>da</strong> s<br />

m e c a ni c a m e n t e , se m con s ci ê n ci a, elas se trivializa m. Quando<br />

seu sentido não é mais rec o n h e c i d o , elas nos pare c e m<br />

ab surd a s . Por es s a razão, nós não as interpreta m o s mais, e<br />

elas nec e s s a ri a m e n t e perd e m significad o.<br />

2. Rituais de passagem<br />

As etap a s de transiç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> exig e m rituais e eles<br />

estivera m pres e nt e s em to<strong>da</strong> s as ép o c a s . Enquanto as culturas<br />

arcaic a s confiava m na en er gi a iniciática dos ritos <strong>da</strong><br />

pub erd a d e , nós desv al oriza m o s e m grand e m e di<strong>da</strong> as últimas<br />

relíquias dest e s último s, a prim eira co m u n h ã o e a confirm a ç ã o .<br />

Não estan d o suficiente m e n t e carre g a d o s de con s ci ê n ci a, eles<br />

deg e n e r ar a m e m co stu m e s que pratica m e n t e já não pod e m<br />

mais cumprir sua funçã o. É difícil para um jove m de hoje<br />

cres c e r pois faltam- lhe rituais de pas s a g e m con s ci e nt e s que o<br />

40


prend a m co m se gur an ç a no nov o padrã o do mund o dos<br />

adultos, co m suas regras e sím b ol o s totalm e nt e diferent e s. Alí<br />

ond e acr editáv a m o s estar- lhes poup and o dos horror e s <strong>da</strong>s<br />

mais so m b rias sup er stiç õ e s , na ver<strong>da</strong> d e lhes roub a m o s<br />

substanci ais oportuni<strong>da</strong>d e s de am a d ur e ci m e n t o . Por mais<br />

duro s e sinistros que pos s a m ser os ritos corresp o n d e n t e s <strong>da</strong>s<br />

culturas arcaic a s, des d e pas s ar dias a fio ao relento no mato<br />

ou e m es c ur a s cav er n a s até san gr e nta s provas de cora g e m e<br />

en c o ntro s co m espíritos que caus a m ver<strong>da</strong> d eir o terror, tratavase<br />

de etap a s viáv eis para pas s ar ao nov o plano.<br />

Com o é impo s sí v el fazê- lo se m rituais, os adol e s c e n t e s de<br />

hoje têm de se esforç ar para en c o ntrar sub stitutos. O prim eiro<br />

cigarro, fumad o quas e ritualm e nt e no círculo de<br />

correligion ários, é um a tentativa corresp o n d e n t e . Sab en d o<br />

muito be m que ain<strong>da</strong> não são adultos, eles ous a m antecip ar- se<br />

e m um dos ain<strong>da</strong> proibido s privilégio s do mun d o dos adultos.<br />

Quebran d o es s e tabu, eles incon s ci e nt e- m e nt e esp er a m forçar<br />

a entrad a no novo padrã o. A angú stia está pres e nt e, de<br />

man eira similar ao s rituais de pub erd a d e arcaic o s . O nov o<br />

plan o é perig o s o , e o prim eiro cigarro o de m o n s tr a. A maioria<br />

dos participante s do ritual sent e m a corre s p o n d e n t e diarréia,<br />

um sinal do quanto eles têm as calça s ch eia s. Mas tossind o<br />

corajo s a e agre s siv a m e n t e , eles des afia m es s a s dificul<strong>da</strong>d e s<br />

iniciais.<br />

O exa m e para a obte n ç ã o <strong>da</strong> carteira de m ot orista é um<br />

ritual sub stitutivo ain<strong>da</strong> mais importante. É precis o rec e b e r a<br />

corre s p o n d e n t e legitim a ç ã o para tornar- se m e m b r o de um a<br />

soci e d a d e m otorizad a. Após a sup er a ç ã o des s a ver<strong>da</strong> d eir a<br />

prova de m aturi<strong>da</strong>d e, têm inicio as prova s de cora g e m nas<br />

ruas. O núm er o e o tipo de acid e nt e s que oc orr e m no prim eiro<br />

ano de carta de m ot orista de m o n s tr a m que corresp o n d e<br />

so br etud o ao s ho m e n s joven s aprend er a con h e c e r o m e d o<br />

des s a man eir a.<br />

O proble m a de tais proc e di m e n t o s substitutivo s é que eles<br />

não ofer e c e m nenhu m a segur an ç a no novo plano devido à falta<br />

de con s ci ê n ci a e, so br etud o, devido à falta de um a mã o auxiliar<br />

41


do outro lado, nes s e cas o do lado adulto. Dess a man eira, os<br />

adol e s c e n t e s aca b a m ficand o dep e n d e n t e s dos rituais<br />

substitutivo s, tornan d o- se fumant e s inveter a d o s e m otoristas<br />

furios o s e fantas m a g ó ri c o s , ma s não adultos.<br />

Antiga m e nt e, os joven s profission ai s era m enviad o s e m<br />

pere grina ç ã o e até há pouc o s ano s as m o ç a s au- pair viajava m<br />

ao estran g eir o para gan h ar exp eriên ci a e "cortar as garras". A<br />

soci e d a d e ain<strong>da</strong> tinha con s ci ê n ci a do quanto os joven s<br />

ignorant e s podia m tornar- se perig o s o s cas o suas garras não<br />

foss e m cortad a s . Hoje e m dia, é freqü e nt e que principal m e nt e<br />

crianç a s burgu e s a s , legitima d a s pelo s regula m e n t o s<br />

educ a ci o n ai s profun<strong>da</strong> m e n t e refor m a d o s , per m a n e ç a m e m<br />

cas a, tornand o- se ver<strong>da</strong>d eir o s ap ên dic e s do am or patern o ou<br />

mat ern o . As ruas repres e nt a m portanto um a saí<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que<br />

perig o s a. Os filmes de terror, cujo boo m pod e ser explicad o<br />

pelo déficit de m e d o , terror e aventura que existe entre os<br />

joven s, não pod e m pre e n c h e r o vácu o, eles apen a s o ilustra m.<br />

3. Rituais <strong>da</strong> medicina moderna<br />

Na Antigui<strong>da</strong>d e, a vi<strong>da</strong> co m e ç a v a co m um ritual de<br />

nas ci m e nt o e terminav a co m um ritual de m orte. Hoje e m dia,<br />

am b o s fora m transferido s e m grand e parte para as clínica s,<br />

transfor m a n d o - as assi m e m refúgio s de ritos incon s ci e nt e s . Os<br />

rituais pred o m i n a nt e s na m e di cin a pod e m aju<strong>da</strong>r- nos a<br />

entrev er o valor geral <strong>da</strong> ritualística para os proc e s s o s de cura,<br />

dev e n d o portanto ser con sid er a d o s de m an eira mais<br />

minucio s a.<br />

Com o nec e s s á ri o olhar aguç a d o , pod e- se en c o ntrar nas<br />

clínicas m o d er n a s um a des c o n c e rt a nt e quanti<strong>da</strong>d e de má gic a,<br />

à altura de qualqu er curand eir o. Em temp o s arcaic o s , quan d o<br />

os pacient e s se entre g a v a m ao s cui<strong>da</strong>d o s dos curand eir o s,<br />

precis a n d o confiar inteira m e nt e no outro mund o dest e s último s,<br />

eles perdia m todo s os direitos de autod et er mi n a ç ã o e<br />

entreg a v a m - se a Deus e, portanto, ao s xam ã s que o<br />

42


epre s e nt a v a m . Hoje e m dia nós enc e n a m o s um efeito<br />

se m el h a nt e de man eira ain<strong>da</strong> mais ostento s a. O pacient e<br />

m o d e r n o tam b é m abdic a de seu direito à autod et er mi n a ç ã o ,<br />

e m geral já na rec e p ç ã o . Esta continua sen d o um lugar<br />

es s e n ci al de qualqu er clínica, guar<strong>da</strong>nd o o limiar do outro<br />

mund o assi m co m o o fazia m antiga m e n t e as portas do tem plo.<br />

Devido à sua invisibili<strong>da</strong>d e e à tem átic a <strong>da</strong> do e n ç a , senti<strong>da</strong> por<br />

trás de tudo, o mun d o que está alé m <strong>da</strong> rec e p ç ã o provo c a<br />

angústia. De man eira corresp o n d e n t e , não é raro que os<br />

pacient e s se sinta m oprimid o s por to<strong>da</strong> s as cois a s que vê m até<br />

eles e que eles não co m pr e e n d e m . Os antigo s devia m sentir- se<br />

de man eira se m el h a nt e ao entrar e m um templ o de Esculápio<br />

e m busc a de cura, co m a diferen ç a de que o fazia m de form a<br />

mais con s ci e nt e.<br />

Após ser e m registrad o s se gund o um es qu e m a rígido, os<br />

pacient e s são enviad o s para a ca m a o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

pos sív el. Ain<strong>da</strong> que esteja m totalm e nt e são s e ch e g u e m na<br />

noite anterior a um exa m e ou um a interven ç ã o , no hospital os<br />

pacient e s dev e m deitar- se, Aqui a cab e ç a , que repre s e nt a o<br />

co m a n d o central, não pod e ser m anti<strong>da</strong> ergui<strong>da</strong>, dev e n d o por<br />

princípio reclinar- se. Dess a m an eir a ass e g ur a- se tam b é m que<br />

os pacient e s esteja m ao s pés dos m é di c o s , ao m e n o s<br />

fisica m e n t e, manifestand o - se co m clarez a que discus s õ e s de<br />

igual para igual estã o fora de questã o . Para eles, não resta<br />

muito para conv er s ar e pratica m e n t e na<strong>da</strong> que pos s a m decidir.<br />

Tanto e m relaç ã o à form a quanto ao conteúd o , eles são<br />

transfor m a d o s o m ais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el e m pacient e s . Faz<br />

parte des s e ritual ser colo c a d o na ca m a por um a enfer m eir a tal<br />

co m o se foss e m crianç a s , isso dep ois de ob e d e c e r à orde m de<br />

se des pir, assi m co m o o fato de que não pod e m m ais decidir<br />

por si m e s m o s quan d o dev e m ir para a ca m a e quan d o dev e m<br />

se levantar. Te m início o retroc e s s o ao nível de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e de um a crianç a. Na m ai oria <strong>da</strong>s clinicas<br />

pas s a- se a m ai or parte do temp o no quarto, exata m e n t e co m o<br />

na ép o c a <strong>da</strong> infância. Isso ac arreta ain<strong>da</strong> o efeito adicion al de<br />

que a enfer m eira dev e decidir quan d o é hora de dor mir, isso<br />

43


des ej a n d o o m elh or para as "queri<strong>da</strong> s crianç a s", naturalm e nt e:<br />

apag ar a luz, fech ar os olho s! Na man h ã seguinte, apó s a<br />

ord e m de lavar- se, não há na<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que os paci ent e s<br />

gosta m de co m e r no café <strong>da</strong> m anhã. Nova m e n t e , são outros<br />

que decid e m o que é m elh or para eles. E quan d o não co m e m<br />

tudo, são brand a m e n t e repre e n di d o s e rec e b e m os olhar e s<br />

corre s p o n d e n t e s . Muitas enfer m eir a s ain<strong>da</strong> caricatura m es s a<br />

situaç ã o incon s ci e nt e m e n t e ao rec air e m um a esp é ci e de<br />

tatibitate infantil que, ain<strong>da</strong> que a intenç ã o seja carinh o s a,<br />

indica ain<strong>da</strong> mais univo c a m e n t e ao pacient e o pap el que lhe<br />

corre s p o n d e .<br />

Celebr a- se aqui um grandio s o ritual co m o único objetivo de<br />

transfor m ar ser e s hum a n o s e m pacient e s , m ais propria m e n t e<br />

transfor m a n d o - os de nov o e m crianç a s . Muitos detalh e s<br />

con c orr e m para a con s e c u ç ã o des s e proc e s s o : cas o os<br />

pacient e s queira m pas s e a r, têm de fazê- lo de pijam a, ca mis ol a<br />

ou roupã o de ban h o , ma s nunc a co m o adultos e m a n cip a d o s<br />

nor m ai s. Eles não pod e m estar tão saud á v ei s a ponto de não<br />

ter de deitar- se na ca m a quan d o o m é dic o os visita,<br />

aguard a n d o pacient e m e n t e as m anife staç õ e s dos se mi d e u s e s .<br />

Estes, de fato, decid e m e m grand e m e di<strong>da</strong> o destino dos<br />

pacient e s , os quais são inform a d o s apen a s dos resultad o s . Os<br />

m é di c o s , quan d o discute m entre si, utilizam um a lingua g e m<br />

secr eta pratica m e n t e inco m pr e e n s í v el, co m p ar a n d o curvas,<br />

gráficos e m e did a s que pare c e m um cofre fech a d o a sete<br />

chav e s .<br />

As visitas do m é dic o ao leito do do e nt e reg e m - se por regras<br />

rituais rígi<strong>da</strong>s. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s , cele br a- se uma lição de<br />

hierarquia. Hierarquia, traduzido literalm e nt e do greg o , quer<br />

dizer "gov er n o do que é sagr ad o". Trata- se, portanto, so m e n t e<br />

de um a con s e q ü ê n c i a quan d o o chefe, na ponta <strong>da</strong> hierarquia,<br />

gov er n a e deixa gov er n ar co m o se foss e um sac er d ot e do Sol.<br />

Certas liber<strong>da</strong> d e s , que são pos sív ei s co m a infantaria de<br />

enfer m eir o s , estã o obvia m e n t e fora de questã o no que a ele se<br />

refer e. Ele dá a impres s ã o de sab er tudo e não precis a<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ar na<strong>da</strong>. Pode m aflorar na m e nt e dos paci ent e s<br />

44


lem br a n ç a s de um pai sev er o, do ch ef e de família. Quando não<br />

se instala m por si m e s m o s , o resp eito e a con sid er a ç ã o são<br />

impo st o s co m ênfas e . Nestes tem p o s de m o c r átic o s , as<br />

tentativas de ab olir hierarquia s en c o ntra m resistên ci a s<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad a s , esp e ci al m e n t e na medicin a.<br />

Todo o ritual de regr e s s ã o , cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e plan ejad o , tem<br />

tam b é m suas faceta s agrad á v ei s para os paci ent e s que, por<br />

exe m pl o, são levad o s e m suas ca m a s a to<strong>da</strong> parte, ain<strong>da</strong> que<br />

pos s a m ca min h ar até lá se m qualqu er probl e m a . Mas eles não<br />

dev e m se can s ar e não dev e m pen s ar muito. Calma para o<br />

corp o, para a alm a e para o espírito é rec o m e n d a d a e aju<strong>da</strong> na<br />

cura. É portanto um a m er a con s e q ü ê n c i a que os m é dic o s , já<br />

que não os próprios pacient e s , deci<strong>da</strong> m quan d o eles pod e m<br />

ca min h ar por si m e s m o s e, entã o, quan d o pod e m voltar para<br />

cas a. Caso os pacient e s não rec o n h e ç a m os sinais e<br />

des e n v olva m idéias próprias, eles são posto s e m seus devido s<br />

lugare s e en qu a dr a d o s dentro <strong>da</strong>s regras previstas atrav é s de<br />

san ç õ e s . “O do nº 17 é difícil", registra m os enfer m eir o s ,<br />

ev e ntual m e n t e inform a n d o ao s sup erior e s. Caso ele seja muito<br />

difícil, o próprio ch ef e se dirigirá ao difícil, de prefer ê n ci a no<br />

plural maje st átic o: "Qual é entã o o proble m a que tem o s aqui...”<br />

À m e dicin a, naturalm e nt e, oc orr e m divers a s razõ e s para<br />

to<strong>da</strong>s es s a s m e di<strong>da</strong>s, e m b o r a a palavra ritual jam ais seja<br />

utiliza<strong>da</strong>. Um olhar é suficiente para que to<strong>da</strong> s elas se rev el e m<br />

co m o racion alizaç õ e s . Diz-se que os m é di c o s precis a m<br />

apren d er latim suficiente para fazer- se enten d er tam b é m<br />

interna ci o n al m e n t e . Em 20 ano s de estud o e de prática eu<br />

jam ais en c o ntr ei um m é di c o que tives s e conv er s a d o e m latim<br />

co m um coleg a ou que pelo m e n o s estive s s e e m condiç õ e s de<br />

fazê- lo. Caso algu é m tentas s e , certa m e n t e seria con sid er a d o<br />

louc o pelo s coleg a s . O latim é suficiente apen a s para pod er<br />

mant er o club e fecha d o . Isto é, as palavra s decisiva s são<br />

manti<strong>da</strong> s fora do alcan c e dos pacient e s , ao s quais, co m o às<br />

crianç a s , não se pod e dizer to<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>d e .<br />

Algo se m e l h a nt e ac o nt e c e co m o branc o "estéril" usad o pelo<br />

pes s o al clínico, ao qual não pod e hav er nen hu m a exc e ç ã o .<br />

45


Razõ e s higiênic a s não falam mais e m favor do bran c o que,<br />

diga m o s , do am ar el o. Por que, entã o, o branc o univers al? Será<br />

que isso, talvez, tenha algo a ver co m o fato de o Papa usar<br />

branc o , tal co m o de resto a maioria dos gurus? Será que os<br />

se mid e u s e s tam b é m precis a m de roupa s rituais para seus<br />

rituais secr et o s e simpl e s m e n t e não quer e m ad miti- lo? Será<br />

que a vivên cia <strong>da</strong> m e dicin a é impe n s á v e l se m o bran c o porqu e<br />

ele contê m e m si to<strong>da</strong>s as outras cor e s e é, portanto, a cor <strong>da</strong><br />

integri<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> perfeiç ã o?<br />

Muitas coisa s, assi m co m o talvez a m a gi a que cerc a a<br />

higien e, falam e m favor des s a s razõ e s mais profun<strong>da</strong> s.<br />

Original m e nt e, impo n d o o branc o imaculad o contra violenta<br />

opo siç ã o <strong>da</strong> arte m é dic a, a higien e criou para si uma pátria<br />

natal na ritualística sub stitutiva. Hoje e m dia ela é defendid a <strong>da</strong><br />

man eira igual m e nt e violenta e, às vez e s , irracion al, co m que foi<br />

original m e nt e atac a d a. Tais carga s alta m e nt e e m o ci o n ai s são<br />

e m geral um sinal de que algo mais oculta- se por trás de um<br />

tem a. Neste cas o pod e- se entrev er, brilhand o nas profund ez a s ,<br />

pres criç õ e s rituais de limp ez a e cerim ô ni a s de purificaç ã o .<br />

Pode- se ob s erv ar a higienic a m e n t e significativa purificaç ã o a<br />

que se sub m e t e m os cirurgiõ e s quan d o se prep ar a m para um a<br />

op er a ç ã o . Eles lava m as m ã o s pol alguns minuto s so b água<br />

corrent e quent e en qu a nt o as friccion a m agr e s siva m e n t e co m<br />

sabã o liquido e es c o v a s . A duraç ã o des s a lavag e m está<br />

pres crita co m exatidã o, sen d o pen o s a m e n t e se guid a co m o<br />

auxílio de cron ô m e tr o s . Após es s e proc e di m e n t o , as mã o s<br />

continua m “sujas”, já que finalm e nt e precis a m ser outra vez<br />

lavad a s long a m e n t e co m álco ol de alta con c e ntra ç ã o . Em<br />

seguid a, e m situaç ã o ain<strong>da</strong> extre m a m e n t e prec ária do ponto de<br />

vista higiênic o, elas dev e m ser enfia<strong>da</strong>s e m luvas de borracha<br />

esteriliza<strong>da</strong> s. Não há ritual m ais disp en di o s o para a purificaç ã o<br />

<strong>da</strong>s mã o s ne m m e s m o e m cultos con s ci e nt e m e n t e mági c o s .<br />

Desd e este ponto de vista, os muitos pequ e n o s exer cício s<br />

de purificaç ã o que perpa s s a m o dia- a- dia de um a clinica<br />

pod e m ser rec o n h e c i d o s co m o rituais, já que e m sua m ai oria<br />

não traze m qualqu er ben efício higiênic o. Até o dia de hoje, o<br />

46


m é di c o se m pr e lava as mã o s até que e st eja m livre s de culpa.<br />

Ele tam b é m desinfeta a pele do local ond e aplicará uma<br />

injeç ã o , de um a man eira que, tal co m o se provou há muito, não<br />

tem qualqu er sentido do ponto de vista higiênic o. Mas os<br />

m é di c o s , co m razão, não quer e m abdic ar des s e ritual, ao qual<br />

se afeiç o ar a m . Eles prefer e m en c o ntrar as racion alizaç õ e s<br />

mais estran h a s para, à m an eira dos xam ã s , preparar de<br />

ante m ã o o local do ferim e nt o co m traço s funcion al m e n t e se m<br />

sentido ma s que atua m ma gic a m e n t e . Neste cas o , o álco ol<br />

pre e n c h e talvez a funçã o des e m p e n h a d a pela água benta à<br />

entrad a <strong>da</strong> igreja. Nenhu m dos dois purifica do ponto de vista<br />

higiênic o, ma s am b o s purifica m e ab e n ç o a m des d e um ponto<br />

de vista mais profund o. Os m é di c o s , co m razão, aferra m- se a<br />

es s e ritual, e os pacient e s , co m razão, o esp er a m , pois <strong>da</strong><br />

m e s m a m an eir a co m o e m outras áre a s, os rituais são<br />

extre m a m e n t e nec e s s á ri o s para a m e di cin a. Ain<strong>da</strong> que às<br />

vez e s as razõ e s aleg a d a s para defend er antigo s rituais contra<br />

refor m a s seja m algo peculiar e s, o fun<strong>da</strong> m e n t o básic o esta<br />

correto.<br />

A prática m é di c a nor m al tam b é m está impregn a d a de rituais<br />

totalm e nt e incon s ci e nt e s . Após ser e m legitima d o s e m form a de<br />

ficha por forças auxiliares sub ordin a d a s , os pacient e s faze m<br />

jus ao no m e por m ei o de um a long a esp er a. Em una atm o sf er a<br />

carre g a d a de tens ã o e m m ei o ao s outros do e nt e s , eles<br />

esp er a m ansio s a m e n t e o m o m e n t o e m que serã o atendid o s.<br />

Eles o esp er a m e o tem e m na m e s m a m e did a e m que há mil<br />

ano s um pacient e o fazia e m relaç ã o ao en c o ntro co m<br />

Esculápio, o deus <strong>da</strong> cura. Finalm e nt e ad mitido ao s mistério s<br />

do m é dic o , este s de fato rev ela m - se co m o sen d o be m<br />

misterio s o s . O sentido e o objetivo dos apar elh o s que são<br />

trazido s per m a n e c e m e m grand e m e di<strong>da</strong> ob s c ur o s para o<br />

pacient e. De qualqu er man eira, eles se tranqüiliza m ao ver que<br />

o doutor está be m apar elh a d o para todo s os cas o s , co m o que<br />

as m á q uin a s e ap etre c h o s cumpr e m co m seu objetivo ain<strong>da</strong><br />

que não ch e g u e m a entrar e m açã o. O doutor m e s m o tem,<br />

natural m e nt e, pouc o tem p o ; não é para m e n o s , sen d o ele tão<br />

47


importante! Som e nt e a idéia de fazê- lo esp er ar um minuto, a<br />

ele, que nos exigiu um a hora de paci ên ci a, é impe n s á v e l.<br />

Finalm e nt e, ele dirige a palavra ao "pacient e" durante um<br />

m o m e n t o ínfimo. Tend o- lhe sido dito que estav a do e nt e ante s,<br />

ele ag or a é inform a d o do fato por es crito. Ao m e s m o tem p o ,<br />

decr et a- se um ver e dicto so br e a do e n ç a . Ela rec e b e um temp o<br />

de duraç ã o e um rem é di o, dep oi s diss o dev e ced er. Com a<br />

rec eita o Senh or Doutor, pelo pod er de seu carg o, esta b el e c e<br />

um prazo para o paci ent e e seu sinto m a . Caso este<br />

des a p ar e ç a , o afetad o volta auto m atic a m e n t e a ser decr et a d o<br />

saud á v el. Essa am e a ç a é docu m e n t a d a (por m ei o do atestad o<br />

de incap a ci<strong>da</strong>d e para o trabalh o), e, co m um se gund o<br />

atesta d o , o pacient e volta a ser liberad o , e m geral rapi<strong>da</strong> m e n t e .<br />

Esses pap éis são dupla m e nt e cifrado s, por um lado porqu e a<br />

letra do m é dic o é ilegív el, e por outro porqu e as palavra s e<br />

sinais prov ê m de outro plan eta. Mas o farm a c ê utic o,<br />

igual m e nt e vestido de bran c o e, portanto, perten c e nt e à<br />

m e s m a corp ora ç ã o de iniciad o s, decifra habilm e nt e a rec eita 16<br />

e entreg a as gotas ou pastilhas salvad or a s . O padrã o é tão<br />

antigo quanto eficaz.<br />

Em m ei o a to<strong>da</strong> es s a ma gi a, os m é dic o s esta b el e c e r a m um a<br />

posiç ã o resp eitáv el que é con sid er a d a co m o sen d o<br />

esp e ci al m e n t e importante e decisiva. Enquanto , na ver<strong>da</strong>d e ,<br />

so m e n t e Deus decid e so br e a vi<strong>da</strong> e a m orte, nest e cas o to<strong>da</strong><br />

uma corpor a ç ã o man o b r o u para colo c ar- se nas suas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s . Quando se con sid er a todo s os critérios que<br />

faze m extern a m e n t e um xam ã, o resultad o é se m pr e um<br />

m é di c o . A vesti m e nt a cha m ativa é co m u m a am b o s e vai muito<br />

alé m <strong>da</strong>s cor e s. As diferen ç a s hierárquic a s estã o con s oli<strong>da</strong> d a s<br />

até m e s m o no padrã o do corte do so br etud o. Hoje e m dia os<br />

enfer m eir o s pod e m até m e s m o tirar as touca s, ma s ai <strong>da</strong>qu el e<br />

que vestir um so br etud o co m colarinh o alto, tentand o assi m<br />

co m p artilhar tal privilégio m é dic o . Os ver<strong>da</strong>d eir o s xam ã s quas e<br />

nunc a renun cia m a dispor seus amul et o s curativo s ao redor<br />

dos que o procura m . Os m é di c o s , e m lugar <strong>da</strong>qu el e s , usa m<br />

esteto s c ó pi o s , que e m pr e g a m so br e o cora ç ã o e outros ponto s<br />

48


importante s do paci ent e. Os xam ã s freqü e nt e m e n t e utilizam<br />

uma linguag e m inco m pr e e n s í v el para os não iniciado s e<br />

exe c uta m aç õ e s rituais cujo significad o profund o so m e n t e eles<br />

m e s m o s con h e c e m . Em am b o s os cas o s , os m é di c o s<br />

m o d e r n o s não fica m atrás. A digni<strong>da</strong>d e do curand eiro<br />

expr e s s a - se co m freqü ê n ci a e m um co m p o rta m e n t o que dá<br />

pouc a importân ci a as cois a s dest e mund o. Eles pod e m<br />

per mitir-se deixar os pacient e s esp er a n d o e tratá- los de ac ord o<br />

co m a pirâmid e hierárquic a, de cim a para baixo. No grau e m<br />

que se enc o ntra m , eles natural m e nt e não têm na<strong>da</strong> a ver co m<br />

fatos mat eriais; outros co br a m os e m olu m e n t o s . Os m é di c o s<br />

até hoje utilizam intens a m e n t e es s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s , e m<br />

prim eiro lugar co m os paci ent e s e seu dinh eiro, e e m se g un d o<br />

lugar co m solícitas e m pr e s a s de produto s farm a c ê utic o s . E<br />

co m o se m pr e, eles têm aju<strong>da</strong>nt e s que des e m p e n h a m as<br />

tarefas m e n o s digna s 17 . Pois, afinal, os curand eir o s tam b é m se<br />

cerc a m de sím b ol o s m á gi c o s que impõ e m resp eito,<br />

impres si o n a m os não- iniciado s e até m e s m o os am e dr o nt a m . É<br />

neste contexto que entra a relaç ã o que se des e n v olv e u ao<br />

long o <strong>da</strong> história entre os m é dic o s e a serp e nt e, aqu el a víbor a<br />

de Esculápio que se enro s c a perigo s a m e n t e no bastã o do<br />

m e s m o no m e . Esculápio, o m o d el o dos m é di c o s , tinha pod er<br />

so br e as serp e nt e s e seu reino, a polari<strong>da</strong>d e . Os ver<strong>da</strong>d eir o s<br />

curand eir o s se distingu e m pela en er gia que irradia m, que se<br />

manife sta <strong>da</strong> m an eir a m ais evid e nt e na form a de um a auré ol a<br />

ao redor <strong>da</strong> cab e ç a . Neste sentido, os m é di c o s m o d er n o s<br />

so m e n t e pod e m ofer e c e r um substituto. Mas é notáv el co m o<br />

seu protótipo é repre s e nt a d o de múltiplas man eira s pelo<br />

oftalm o s c ó pi o dos otorrinolaring ol o gi sta s, que pelo m e n o s imita<br />

a auréol a e exib e adiante, na testa, um brilhante sím b ol o solar,<br />

aqu el e esp elh o que, junta m e nt e co m os raios de luz, atrai para<br />

si a aten ç ã o de todo s os não- iniciado s .<br />

Mais do que a des criç ã o e m tom irônic o que vai <strong>da</strong> luz dos<br />

santo s ao atesta d o m é di c o , trata- se aqui de relíquias <strong>da</strong> luta<br />

dos m é di c o s pelo pod er ou até m e s m o de sua m e g al o m a n i a,<br />

que nec e s s ita m urgent e m e n t e de refor m a s . Tal avaliaç ã o ,<br />

49


entretanto, con sid er a apen a s um lado <strong>da</strong> m o e d a . Quando se<br />

ob s erva o outro, trata- se do padrã o central e, tanto ante s co m o<br />

ag or a, eficaz, de um a m e dicin a que não sab e ela m e s m a<br />

porqu e funcion a.<br />

A do e n ç a continua sen d o tam b é m regr e s s ã o , e<br />

auto m atic a m e n t e leva as pes s o a s a um a postura de entre g a e<br />

de impotên ci a. A posiç ã o horizontal do corp o volta a regular<br />

algo que antes era evident e m e n t e um pouc o louc o: não é a<br />

vi<strong>da</strong> que está a nos s o s pés, ma s nós que esta m o s prostrad o s<br />

frente a ela. Neste cas o , qualqu er form a de do e n ç a dignifica. A<br />

postura de humil<strong>da</strong>d e co m bi n a d a co m a calm a que se instaura<br />

e a co a ç ã o para a<strong>da</strong>ptar- se ao padrã o "Seja feita a Sua<br />

vontad e!" tem efeito s curativo s. A do e n ç a , portanto, per mite<br />

que se tire férias <strong>da</strong> extenu a nt e e gen er alizad a postura<br />

hum a n a de "Seja feita a minha vontad e!". Quanto m ais<br />

con s ci e nt e é a instauraç ã o do estad o de entre g a e o<br />

con s e q ü e n t e cas o ideal de humil<strong>da</strong>d e, m ais eficaz é o ritual de<br />

cura.<br />

Por en qu a nt o, to<strong>da</strong> s as tentativas de con c e d e r igual<strong>da</strong>d e de<br />

direitos e e m a n cip ar os pacient e s , ain<strong>da</strong> que be m -<br />

intencion a d a s , continua m sen d o contrapr o du c e n t e s , tend o e m<br />

vista o padrã o curativo propria m e n t e dito. Isso se torna<br />

esp e ci al m e n t e evid e nt e e m clínicas priva<strong>da</strong> s, ond e um<br />

trata m e nt o de prim eira clas s e não resulta de form a algu m a e m<br />

uma m elh or cura. Justam e nt e, não se trata de que o pacient e<br />

pros sig a na situaç ã o de do e n ç a , ac eitan d o- se seu jogo de<br />

pod er e suas exig ê n ci a s. O que ele precis a é ter a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de tornar- se con s ci e nt e <strong>da</strong> situaç ã o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e des pr ot e gid a e m que se enc o ntra. Até<br />

m e s m o os m o d e r n o s e incon s ci e nt e s rituais de hospital o<br />

aju<strong>da</strong> m nes s e sentido.<br />

Não é ne m a organiza ç ã o hierárquic a <strong>da</strong> clinica ne m o jogo<br />

de end e u s a m e n t o que nela tem lugar que colo c a m real m e nt e<br />

e m perigo as chanc e s de cura do pacient e, m a s sim as<br />

fantasias de onipotên ci a de m é dic o s ce g o s para a reali<strong>da</strong>d e ,<br />

que dão a enten d e r que ele s têm tudo so b controle. Na<br />

50


eali<strong>da</strong>d e, ape s ar <strong>da</strong>s resp eitáv ei s contribuiç õ e s para a<br />

con struç ã o <strong>da</strong> torre <strong>da</strong> ciên cia m é di c a, são justa m e n t e es s e s<br />

m é di c o s que jam ais en c o ntra m a ver<strong>da</strong>d eir a ponta <strong>da</strong><br />

hierarquia, o sagr ad o . Ain<strong>da</strong> que hoje con strua m co m marfim,<br />

eles e m algu m m o m e n t o co m p artilharã o o destino de seus<br />

igual m e nt e ativos pred e c e s s o r e s no canteiro de obras <strong>da</strong> Torre<br />

de Babel.<br />

O efeito plac e b o 18 , visto co m des c o nfian ç a por m é dic o s que<br />

pen s a m cientifica m e n t e , e o "m é dic o de drog a s", são partes<br />

integrant e s do m o d e r n o ritual <strong>da</strong> m e di cin a. Quanto mais os<br />

pacient e s estiver e m e m con diç õ e s de rec o n h e c e r o pred o m í ni o<br />

do sagr ad o na hierarquia, ao m e n o s sim b olic a m e n t e , m ai or e s<br />

serã o as suas chan c e s de cura. Neste cas o , o m é dic o é um a<br />

sup erfície de projeç ã o para a nostalgia de direç ã o e orienta ç ã o<br />

que vê m do alto, do mais alto. Um m é dic o que deixe Deus, isto<br />

é, o principio <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e, fora do jogo, precis ar á se m pr e de<br />

deus e s substitutos, ou entã o a cura lhe es c a p ar á totalm e nt e. O<br />

se mid e u s vestido de bran c o é so m e n t e um a caricatura, m a s<br />

ain<strong>da</strong> assi m é m elh or do que nenhu m deus. Até m e s m o a<br />

m e di cin a naturalista, que tenta mant er seus proc e di m e n t o s o<br />

mais objetivo s pos sív el e livres <strong>da</strong>s impon d e r a bili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong><br />

alm a, não pod e renun ciar a Deus, so m e n t e que para ela seu<br />

no m e e “Ciência". Por es s a razã o, a cren ç a e m uma m e dicin a<br />

onipot ent e e infalível conté m e m si um a chanc e de<br />

resta b el e ci m e n t o para as pes s o a s que acredita m na m e di cin a.<br />

No entanto, tend o e m vista o que stion a m e n t o e a busc a <strong>da</strong><br />

dúvi<strong>da</strong> que faz parte <strong>da</strong> religião cientifica, esta é um a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de cura ver<strong>da</strong>d eira m e n t e des e s p e r a d a .<br />

4. Rituais <strong>da</strong> medicina antiga<br />

A m e di cin a dos antigo s nos m o stra o quanto os ca m p o s<br />

form a d o s por rituais são eficaz e s no âm bito m é di c o . Os<br />

hospitais <strong>da</strong>qu el a ép o c a era m os templo s do deus Esculápio.<br />

Os do e nt e s e os que precis av a m de aju<strong>da</strong> vinha m de long e,<br />

51


e m pr e e n d e n d o long a s jornad a s . Após a che g a d a , eles<br />

pas s a v a m por rituais preparatório s de am bi e nt a ç ã o e<br />

purificaç ã o exe c utad o s por servidor e s do tem plo. A m e di cin a,<br />

no sentido que lhe <strong>da</strong> m o s hoje, não oc orria. Não se fazia m<br />

op er a ç õ e s ne m se aplicav a m m e dic a m e n t o s eficaz e s tal co m o<br />

o enten d e m o s atual m e nt e. Das áre a s que nos são familiare s,<br />

so m e n t e a higien e e dietética des e m p e n h a v a m um pap el.<br />

Por outro lado, es s a s era m co m pr e e n di d a s de man eira muito<br />

mais abran g e nt e que hoje e m dia.<br />

No centro des s a m e di cin a, co m o esp a ç o m e s m o ,<br />

en c o ntrav a- se o templ o de Esculápio. Através de muitos rituais<br />

surgi- aqui um ca m p o ond e a cura podia ac o nt e c e r. O pacient e<br />

era prep ar a d o durante se m a n a s para viven ci ar a noite decisiva<br />

de sua estadia, o pern oite no tem plo, assi m cha m a d a<br />

incub a ç ã o . Nesta noite esp e ci al, e m um lugar esp e ci al do<br />

templ o, ele se deitava en q u a nt o a atm o sf er a era prepara d a por<br />

m ei o <strong>da</strong> luz e <strong>da</strong>s es s ê n ci a s odoríficas corresp o n d e n t e s , e<br />

finalm e nt e ador m e c i a. O decisivo ac o nt e ci a durante o estad o<br />

de son o, segun d o o ditado de que ”O Senhor dá a cad a um o<br />

que lhe corre s p o n d e durante o son o". O paci ent e son h a v a co m<br />

a soluç ã o de seu proble m a . Ou ele via direta m e n t e imag e n s<br />

que surgia m diante de si, ou Esculápio apar e ci a diante dele e<br />

lhe <strong>da</strong>va a enten d e r para ond e seu ca min h o se dirigia.<br />

Isso so a ingênu o para nos s o m o d e r n o enten di m e n t o , ma s<br />

ain<strong>da</strong> assi m dev eria ficar claro que tal m e di cin a obtinha êxitos<br />

e enc a minhava curas. Segund o nos s a atual visã o psicoló gic a,<br />

diría m o s que foi criado um esp a ç o ond e a soluç ã o podia<br />

e m e r gir do incon s ci e nt e. Quando se enten d e a cura e m um<br />

sentido profund o, não se vend o nela so m e n t e um a repara ç ã o<br />

ou um con s ert o, torna- se desn e c e s s á ri o ocultar es s a m e di cin a<br />

atrás <strong>da</strong> atual. Ao contrário, ela tinha con s ci ê n ci a de proc e s s o s<br />

que so m e n t e ag or a esta m o s red e s c o b rin d o . À m e di<strong>da</strong> que<br />

apren d e m o s a tornar con s ci e nt e s os ca m p o s que são<br />

pred o m i n a nt e s para nós e a li<strong>da</strong>r co m eles, pas s a m o s tam b é m<br />

a ter resp eito pela m e di cin a dos antigo s. Ela se apoiav a na<br />

sab e d o ria conti<strong>da</strong> nos rituais.<br />

52


Há muito faland o e m favor de que os ca m p o s<br />

m orfo g e n é tic o s repre s e nt a m as próprias estruturas nas quais<br />

se con s u m a m des e n v o l vi m e n t o s e, tam b é m , curas. Até m e s m o<br />

o m ai or dos des e n v olvi m e nt o s a ev oluç ã o , pod e ser assi m<br />

explicad o . Os ca m p o s esta b el e c e m a m oldura dentro <strong>da</strong> qual<br />

oc orr e o des e n v o l vi m e n t o . Entretanto, so m e n t e certo s quadr o s<br />

a<strong>da</strong>pta m - se a um a m oldura esp e c ífica, e portanto ne m tudo é<br />

pos sív el na evoluç ã o , ma s so m e n t e aquilo que se ad e q u a à<br />

m oldura pre e st a b el e c i d a. Por esta razão, a cura no sentido de<br />

um resta b el e ci m e n t o co m pl et o não é alcan ç á v el e m todo s os<br />

cas o s , m a s so m e n t e naqu el e s que estã o previsto s na naturez a<br />

do afetad o, ou seja, e m seu padrã o 19 . A cura no sentido de<br />

red e n ç ã o ou res g at e do próprio padrã o é, ao contrário, se m pr e<br />

pos sív el.<br />

5. <strong>Doença</strong> e padrão<br />

Sinto m a s repre s e nt a m ca m p o s . Ca<strong>da</strong> sinto m a conté m não<br />

apen a s sua form a corp or al ma s tam b é m um ca m p o<br />

circund a nt e dos padrõ e s de co m p o rta m e n t o e <strong>da</strong>s estraté gi a s<br />

de (sobr e)vivênci a corre s p o n d e n t e s . No quadr o de um a<br />

do e n ç a , uma certa quanti<strong>da</strong>d e de en er gi a fluiu pai a uma<br />

estrutura rígi<strong>da</strong> que está profun<strong>da</strong> m e n t e gravad a no<br />

incon s ci e nt e so b a form a de padrã o. Som e nt e o asp e ct o form al<br />

ch e g a a ser visível, tal co m o a ponta de um ice b e r g. Isso fica<br />

muito claro se torna m o s co m o exe m pl o as manias. O probl e m a<br />

aqui não são os sinto m a s corp or ais, que por subtraç ã o pod e m<br />

ser sup er a d o s e m pouc o s dias, m a s o padrã o, profund o e<br />

imun e, do qual o dep e n d e n t e não pod e livrar- se. To<strong>da</strong> s as<br />

terapias be m - intencion a d a s que não ch e g a m a atingir o plan o<br />

do padrã o fun<strong>da</strong> m e n t al traze m pouc o s ben efício s a long o<br />

prazo. É um a questã o de temp o; e m algu m m o m e n t o o padrã o<br />

trará o afetad o de volta a seu ca m p o de atraç ã o . Justam e nt e<br />

para os pacient e s m aní a c o s , é importante es clar e c e r que este<br />

53


padrã o não pod e ser m o dificad o , que a única chan c e con siste<br />

e m vivê- lo de outra form a.<br />

O ca m p o form ativo alim e nta- se do padrã o profund o. Este<br />

pod e ser co m p ar a d o a um a m oldura que ad mite divers a s<br />

imag e n s que a ela se a<strong>da</strong>pta m , ma s de m o d o algu m to<strong>da</strong> s<br />

elas. A m oldura esta b el e c e o principio que pod e expres s ar- se<br />

e m seu ca m p o . Em um deter min a d o tipo de solo, por exe m pl o,<br />

pod e m des e n v olv e m - se várias plantas, ma s não to<strong>da</strong>s.<br />

Asparg o s, pinheiro s e palm eiras cres c e m e m solo s aren o s o s ;<br />

já os ab et o s, não. To<strong>da</strong> s as plantas que m e dr a m no m e s m o<br />

tipo de solo dev e m refletir o princípio que está e m sua bas e ,<br />

que na areia pod eria ser o <strong>da</strong> m o d er a ç ã o .<br />

Contrair um a do e n ç a quer dizer o se guinte: um a tem átic a<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al co m o , por exe m pl o, um probl e m a de agre s s ã o ,<br />

esta b el e c e a moldura no plan o do padrã o. Na sup erfície pod e m<br />

form ar- se quadr o s apar e nt e m e n t e muito diferent e s , talvez<br />

alergias, pres s ã o alta, cálculo s biliares ou a co m p uls ã o de roer<br />

as unha s. Com isso, entretanto, so m e n t e se des cr e v e a<br />

sup erfície do plano corp or al. No plan o do co m p o rta m e n t o há<br />

igual m e nt e uma paleta de pos sibili<strong>da</strong>d e s nas quais o m e s m o<br />

padrã o pod e expres s ar- se. Ataques de fúria freqü e nt e s , um a<br />

relaç ã o en ér gic a co m a própria impulsivi<strong>da</strong>d e ou um a<br />

aproxi m a ç ã o ofen siva de tem a s so m b ri o s seria m algu m a s<br />

des s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s . Além diss o, o padrã o tam b é m pod e<br />

assu mir form a s diferen ciad a s no plan o do pen s a m e n t o :<br />

fantasias sexuais agre s siv a s ofer e c e m um a pos sibili<strong>da</strong>d e, ma s<br />

tam b é m o pen s a m e n t o radical pura e simples m e n t e , que por<br />

principio tem suas raízes volta<strong>da</strong> s para um âm bito es cur o. No<br />

plan o aní mic o, sentim e nt o s de auto- agre s s ã o seria m um a<br />

variante, ou fantasias de auto- flag elaç ã o e até depr e s s õ e s ,<br />

ma s tam b é m um a vi<strong>da</strong> de e m o ç õ e s e sentim e nt o s radicais.<br />

Nos diferent e s plan o s existe m as m ais diferent e s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de repre s e nt a ç ã o , per m a n e c e n d o to<strong>da</strong> s elas<br />

entretanto dentro do quadr o de pos sibili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong>d a s de<br />

ante m ã o pelo padrã o básic o. Som e nt e um a investig a ç ã o m ais<br />

detalhad a do padrã o profund o per mite esp e cificar a tem átic a.<br />

54


Caso, por exe m pl o, se trate m de agr e s s õ e s que se inflam a m<br />

co m os es c ur o s tem a s “sujos" <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a es c ol h a resu m e - se às<br />

alergias. Mas mes m o assi m há ain<strong>da</strong> muitas pos sibili<strong>da</strong>d e s que<br />

se reflete m no grand e núm er o e rico sim b olis m o dos<br />

alerg ê ni c o s .<br />

Nossa vi<strong>da</strong> está impre g n a d a de padrõ e s que esta b el e c e m<br />

as condiç õ e s <strong>da</strong> m oldura. Segund o a con c e p ç ã o es ot éric a,<br />

eles são trazido s a vi<strong>da</strong> para ser e m viven ci ad o s co m o pas s ar<br />

do tem p o . O auto- con h e ci m e n t o é, e m última anális e, a<br />

con s ci e ntizaç ã o do padrã o, a auto- realizaç ã o <strong>da</strong>quilo que ele<br />

supõ e e libera. Cons e q ü e nt e m e n t e , o ca m p o de trabalh o do<br />

auto- con h e ci m e n t o vai des d e os plano s sup erficiais, o corp o e<br />

o co m p o rta m e n t o , até o cern e do ser divino, o “si m e s m o ”<br />

[self]. Estar pres o a padrõ e s incon s ci e nt e s ved a o ac e s s o ao<br />

ver<strong>da</strong>d eir o ser.<br />

O ca minh o perc orrido e m A Doe n ç a co m o Ca minh o co m e ç a<br />

na sup erfície e vai desd e os sinto m a s corp or ais visíveis e<br />

perc e ptív eis até as estruturas aní mic a s profun<strong>da</strong> s . A gen étic a<br />

fornec e outro m ei o de ac e s s o ao padrã o que é ac eito de<br />

man eira geral 20 . O códig o gen étic o do DNA conté m to<strong>da</strong> a<br />

inform a ç ã o so br e nós. Aqui estã o não so m e n t e as condiç õ e s<br />

<strong>da</strong> m oldura corp or al m a s tam b é m as que esta b el e c e m o<br />

co m p o rta m e n t o . Em con s e q ü ê n c i a, os padrõ e s prim ordiais<br />

tam b é m dev e m pod er ser en c o ntrad o s aqui, e m b o r a a<br />

pes q uis a ain<strong>da</strong> não tenha avan ç a d o tanto.<br />

Segund o nos s o ponto de vista a pergunta <strong>da</strong> m e di cin a:<br />

"contraíd o ou her<strong>da</strong>d o ", é ocio s a. O probl e m a está nas<br />

alternativas apar e nt e s que se revela m co m o ilusõ e s a um a<br />

ob s erva ç ã o m ais atenta. Tudo foi contraíd o algu m a vez e m<br />

algu m m o m e n t o e tudo está esta b el e ci d o no padrã o. As<br />

alternativas des a p ar e c e m quan d o ob s erva m o s co m algu m<br />

distancia m e n t o . Mesm o no estági o atual de con h e ci m e n t o s <strong>da</strong><br />

gen étic a, muita coisa é esta b el e ci d a na con c e p ç ã o . Com es s e<br />

ac o nt e ci m e n t o , fornec e- se um a m oldura bastant e clara. Assim,<br />

e m todo s os cas o s , um ser hum a n o surg e <strong>da</strong> fertilizaçã o de um<br />

óvulo hum a n o . Ness e m o m e n t o , as pos sibili<strong>da</strong>d e s cão ou<br />

55


can guru não estã o m ais conti<strong>da</strong>s na m oldura pre e st a b el e ci d a.<br />

Ain<strong>da</strong> que de início não haja extern a m e n t e qualqu er diferen ç a<br />

de um futuro cão ou can guru, no que se refer e a isso os <strong>da</strong>d o s<br />

já fora m lanç ad o s . O padrã o está lá, e as pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

viven ci á- lo são adquiri<strong>da</strong>s ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Elas ocorr e m<br />

regular m e n t e co m o temp o, dentro <strong>da</strong> moldura <strong>da</strong>quilo que está<br />

previsto.<br />

Um outro plan o e m que o padrã o se torna rec o n h e c í v el é o<br />

dos arqu étipo s tal co m o definido s por C. G. Jung. Eles são<br />

muito se m el h a nt e s ao s princípio s prim ordiais que se<br />

en c o ntra m , por exe m pl o, na bas e <strong>da</strong> astrolo gia 2 1 . Os princípio s<br />

primordiais são única e exclusiva m e n t e arqu étipo s muito puros.<br />

Emb or a exista m na ver<strong>da</strong>d e muitíssi m o s arqu étipo s, na maioria<br />

dos cas o s trabalha- se so m e n t e co m sete ou dez 22 princípio s<br />

primordiais que rec e b e m o no m e dos plan etas. As tarefas de<br />

apren dizad o que o ser hum a n o tem de levar a cab o ao long o<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> estã o esta b el e ci d a s e m padrõ e s . Os padrõ e s , por sua<br />

vez, são con struído s a partir de princípio s prim ordiais e <strong>da</strong>s<br />

relaç õ e s e existent e s entre eles.<br />

Não é obrigatório dedic ar- se à co m pr e e n s ã o <strong>da</strong><br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s até o plano dos princípios<br />

primordiais. Por outro lado este pas s o , difícil e fascinant e ao<br />

m e s m o temp o, pod e facilitar muita cois a, tal co m o exp eriên ci a s<br />

e m se min ário s de sinto m a s o de m o n s tr a m . No âm bito dest e<br />

livro, so m e n t e é pos sív el lanç ar um brev e olhar so br e es s e<br />

pen s a m e n t o 23 .<br />

6. Pensamento vertical e princípios primordiais<br />

Segund o nos s a visã o de mun d o , há plano s horizontais e<br />

verticais que atrav e s s a m a reali<strong>da</strong>d e. Os princípios prim ordiais<br />

corre s p o n d e m ao s princípios de ord en a ç ã o verticais,<br />

co m p ar á v ei s talvez ao s ele m e n t o s quí mic o s <strong>da</strong> tab ela<br />

periódic a. Com o tudo con sist e de ele m e n t o s , eles participa m<br />

<strong>da</strong>s várias form a s de m anife staç ã o . Tanto o carvã o co m o o<br />

56


diam a nt e são con stituído s de carb o n o , estan d o assi m<br />

“vertical m e nt e" ligado s um ao outro por m ei o des s e ele m e n t o ,<br />

e m b o r a de m o n s tr e m pouc a se m el h a n ç a no plano <strong>da</strong>s<br />

manife staç õ e s . O trabalh o co m os “plano s verticais" é um<br />

do mínio <strong>da</strong>s disciplinas es ot éric a s , sen d o que a orden a ç ã o nos<br />

"plan o s horizontais" des critivo s é um a tarefa cumpri<strong>da</strong> pela<br />

ciên cia.<br />

O diagra m a es qu e m a tiz a d o ab aixo pod e ilustrar o caráter<br />

distinto de am b a s as man eira s de pen s ar por m ei o de um a<br />

pequ e n a divisã o e m três cad ei a s de asp e ct o s verticais e vários<br />

asp e ct o s horizontais, e <strong>da</strong>r um a bas e mais profun<strong>da</strong> para a<br />

co m pr e e n s ã o de fenô m e n o s tais co m o o deslo c a m e n t o , a<br />

elab or a ç ã o e o resg at e de sinto m a s .<br />

57


Princípio<br />

Primordial<br />

Princípio<br />

Plano<br />

Anímico<br />

Plano<br />

Corporal<br />

Ativi<strong>da</strong>de<br />

Típica<br />

Ambiente<br />

Social<br />

Regiões,<br />

Órgãos do<br />

Corpo<br />

Tendências<br />

a <strong>Doença</strong>s<br />

Vênus Marte Saturno<br />

União,<br />

har m o ni a,<br />

equilíbrio<br />

Energia<br />

Conc e ntraç ã o ,<br />

cons oli<strong>da</strong>ç ã o<br />

Amor Corag e m Pers ev e r a n ç a<br />

Sensu ali<strong>da</strong>d e Força mus cular Ossos<br />

Sabor e ar,<br />

co m e r<br />

Hotel de luxo,<br />

bord el<br />

Pele(contat o),<br />

nerv o s, lábios<br />

Diabet e,<br />

acn e,<br />

ob e sid a d e<br />

Lutar, avan ç ar Resistir<br />

Arena, quadra de<br />

esp ort e s, ca m p o de<br />

batalhas<br />

Músculos, san gu e ,<br />

testa, pênis<br />

Ferim e nt o s, infecç õ e s<br />

agud a s<br />

Prisão, hospital,<br />

m o st eiro<br />

Pele (fronteira),<br />

joelho s, es qu el et o<br />

Cálculos,<br />

psorías e , artros e<br />

Comi<strong>da</strong>s Doces Comi<strong>da</strong> s cruas, carn e Grãos, noz e s<br />

O pen s a m e n t o "horizontal", nas cate g o rias usuais, está<br />

muito mais próxim o de noss a ép o c a orientad a cientifica m e n t e,<br />

en qu a nt o o pen s a m e n t o "vertical" ou analó gic o , apoiad o nos<br />

princípio s primordiais, é mais difícil de apre e n d e r, pois se opõ e<br />

à lógica co m a qual esta m o s ac o stu m a d o s . Ele pen etrou<br />

so m e n t e no ca m p o <strong>da</strong> psicot er apia. O mun d o <strong>da</strong> psiqu e não e<br />

co m p o rta ne m lógica ne m cron ol o gic a m e n t e ; aqui pred o m i n a m<br />

a sincronici<strong>da</strong>d e e a analo gia, co m o nos de m o n s tr a m os<br />

son h o s a cad a noite.<br />

Não faz tanto temp o assi m, todo s os ser e s hum a n o s<br />

co m p artilhav a m esta co m pr e e n s ã o "psíquic a" do mund o . Mas<br />

inclusive a porç ã o minoritária <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e que aba n d o n o u<br />

es s a visã o de mun d o e à qual perten c e m o s está, devid o às<br />

antigas raízes, intuitiva e secr eta m e n t e muito m ais liga<strong>da</strong> a ela<br />

do que ad mite. O sim b olis m o primitivo está vivo. Nós talvez<br />

tenha m o s verg o n h a dele e o denun ci e m o s co m o prec o n c eito e<br />

sup er stiçã o, ma s não o aba n d o n a m o s . Nem m e s m o os<br />

58


grand e s jornais pod e m se per mitir pres cindir de um horó s c o p o ,<br />

e quanta s não são as pes s o a s que o lêe m se m jam ais ad mitilo<br />

24 . Nós continua m o s co m p ar e c e n d o ao s enterro s vestido s de<br />

preto, e m b o r a não tenha m o s qualqu er explicaç ã o razo á v el<br />

para isso. Tudo se torna ver m el h o quan d o esta m o s irado s, e<br />

não am ar el o. Vemo s tudo negr o quan d o não tem o s mais<br />

esp er a n ç a . Quando ach a m o s que algu é m está louc o, nós lhe<br />

m o stra m o s um pás s ar o e não um jum e nt o, e se m pr e o<br />

faze m o s indican d o a cab e ç a , e não o joelho. O joelho<br />

repre s e nt a a humil<strong>da</strong>d e e não idéias (maluc a s). Nós ve m o s a<br />

tenacid a d e repres e nt a d a pelo pes c o ç o de um touro, en qu a nt o<br />

o pes c o ç o de um cisn e repre s e nt a a ele g â n ci a e a arrog â n ci a.<br />

To<strong>da</strong> s esta s e muitas outras relaç õ e s são usuais para nós e,<br />

entretanto, disp en s a m qualqu er explicaç ã o caus al. Elas<br />

disp en s a m a lógica usual, m a s não to<strong>da</strong> lógica; elas estã o<br />

bas e a d a s na analo gia.<br />

Sinto m a s são a expres s ã o de padrõ e s que têm raízes<br />

forte m e nt e anc or a d a s na matriz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e. Eles en c o ntra m<br />

sua expres s ã o mais ab strata no padrã o dos princípios<br />

primordiais e suas relaç õ e s mútua s. Para influenciar os<br />

sinto m a s de m an eir a durad o ur a não basta proc e d e r a<br />

m o dificaç õ e s co s m é tic a s na sup erfície. Além diss o, um sinto m a<br />

não pod e ser jam ais eliminad o se m que oc orra um a<br />

substituiçã o, pois o padrã o que se en c o ntra e m sua bas e não<br />

des a p ar e c e simples m e n t e . Na m elh or <strong>da</strong>s hipótes e s , os<br />

sinto m a s são interc a m b i á v ei s dentro de sua resp e ctiva<br />

m oldura. No proc e di m e n t o alop átic o <strong>da</strong> m e di cin a ac ad ê m i c a , e<br />

tam b é m no assi m cha m a d o pen s a m e n t o positivo, o perigo está<br />

e m co brir o padrã o profund o co m m e di c a m e n t o s ou afirma ç õ e s<br />

be m - intenci o n a d a s aplicad o s e m plan o s mais sup erficiais.<br />

A ver<strong>da</strong>d eira cura requ er uma alternativa na m oldura do<br />

padrã o pre e sta b el e ci d o . Simples m e n t e opor- se a ele co m seu<br />

contrário pod e de fato lograr um alívio a curto prazo, ma s no<br />

long o prazo termina por agrav ar o proble m a . O co m b at e faz<br />

co m que o co m b a tid o se torne involuntaria m e n t e mais forte, de<br />

form a que co m o temp o é precis o ergu er muro s cad a vez m ais<br />

59


ma ci ç o s para contê- lo. Quem co m b a t e seu ecz e m a co m<br />

cortison a, real m e nt e o elimina <strong>da</strong> pele co m o por arte de m a gi a,<br />

e m p urran d o a en er gia corre s p o n d e n t e mais para o fundo,<br />

quas e se m pr e para os pulm õ e s , nos s o se g un d o órg ã o de<br />

contato junta m e nt e co m a pele. Quanto mais se co m b a t e o<br />

ecz e m a na pele, mai or se torna o poten cial <strong>da</strong> do e n ç a no plan o<br />

profund o, que cres c e na m e s m a prop orç ã o <strong>da</strong>s m e did a s de<br />

defe s a. Algo se m e l h a nt e ac o nt e c e quan d o se co m b a t e a<br />

tristeza co m palavra s alegr e s . O poten ci al depr e s siv o au m e nt a<br />

co m a ca m a d a sup erficial <strong>da</strong>s assi m cha m a d a s afirma ç õ e s<br />

positivas. Após m elh orias de curta duraç ã o , interpretad a s<br />

erron e a m e n t e co m o curas, o tem a reprimido volta a e m er gir<br />

mais tarde em outro lugar.<br />

Sinto m a s de do e n ç a s pod e m de fato ser interc a m b i a d o s por<br />

conteú d o s aní mic o s ou padrõ e s de co m p o rta m e n t o , m a s este s<br />

têm de estar de ac ord o des d e o ponto de vista dos princípio s<br />

primordiais, ou seja, as alternativa s não pod e m originar- se no<br />

pólo contrário, dev e n d o estar inseri<strong>da</strong> s na m e s m a cad ei a<br />

sim b ólic a. No que se refer e a seu padrã o prim ordial, elas<br />

dev e m ser o m ais se m e l h a nt e s pos sív el ou, dito de outra<br />

form a, ser ho m e o p á tic a s . Para pod er con duzir a en er gia para<br />

um outro ca m p o , ain<strong>da</strong> que de imag e n s corresp o n d e n t e s , é<br />

nec e s s á ri o portanto avalizar o sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

Com o cad a sinto m a cura o afetad o, este não pod e eliminar<br />

ou m o dificar à vontad e nenhu m deles. Sem seu sinto m a, o<br />

pacient e está enfer m o e des e q uilibrad o . Caso seja tratad o<br />

alopatica m e n t e , ou seja, co m seu contrário, o equilíbrio que se<br />

esta bilizou co m a aju<strong>da</strong> do sinto m a é perturb ad o .<br />

Isso pod e ficar mais claro e m um exe m pl o: que m sofre um<br />

des g o s t o des e n v olv e um sinto m a que cumpr e a funçã o de<br />

mant er seu equilíbrio. Visto co m o um todo, trata- se de<br />

ob e sid a d e , que lhe prop orci o n a uma certa ca m a d a protetor a<br />

contra um am bi e nt e rude e lhe pos sibilita um a satisfaç ã o<br />

substitutiva ao co m e r, evident e m e n t e m elh or que, talvez,<br />

co m e t e r suicídio devid o a um sofrim e nt o am or o s o incontroláv el.<br />

Quando entã o se ac o n s el h a um trata m e nt o alopátic o a es s e<br />

60


pacient e, um a dieta rígi<strong>da</strong>, colo c a- se o pacient e e m perig o no<br />

que se refer e a seu equilíbrio. Ele perd e sua ca m a d a de<br />

gordura se m obter um sub stituto e se m con s e g uir um outro tipo<br />

de satisfaç ã o . Ele, so br etud o , não con s e g u e aquilo que lhe<br />

seria impre s cin dív el, ou seja, am or. Naturalm e nt e, o tipo de<br />

am or co m o qual ele se nutre, so b a form a de doc e s , que tão<br />

óbvia e exclusiva m e n t e pas s a pelo estô m a g o , não é um a<br />

soluç ã o ideal, m a s ain<strong>da</strong> assi m trata- se de um a elab or a ç ã o do<br />

tem a. Com doc e s e outras "coisa s bo a s" não se prop orci o n a na<br />

ver<strong>da</strong>d e ao afetad o aquilo de que real m e nt e se trata, m a s<br />

ain<strong>da</strong> assi m prop orci o n a- se algu m a cois a. Uma dieta rígi<strong>da</strong>, em<br />

seu cas o, não contribui e m na<strong>da</strong> para solucion ar o probl e m a .<br />

Um indicaç ã o ho m e o p á tic a teria por objetivo ofer e c e r ao<br />

pacient e algo de um princípio se m el h a nt e ao <strong>da</strong> co mid a. No<br />

plan o aní mic o, se ofer e c e ria imediata m e n t e o am or co m to<strong>da</strong>s<br />

as suas corresp o n d ê n c i a s no que se refer e à satisfaç ã o do<br />

des ej o. O pacient e precis aria portanto voltar a en c o ntrar, se<br />

não um a pes s o a , pelo m e n o s algo que pudes s e satisfaz er sua<br />

nec e s si d a d e de am or. Quando ele tives s e apren did o a tornar<br />

con s ci e nt e seu des ej o de co m e r e a co m e r co m ver<strong>da</strong>d eir o<br />

prazer, isso ain<strong>da</strong> teria m ais sentido que a renún cia total.<br />

Com er doc e s de man eira incon s ci e nt e ou se mi c o n s ci e nt e é<br />

unica m e n t e um a elab or a ç ã o do tem a, e ain<strong>da</strong> por cim a e m um<br />

plan o não apropriad o. O resultad o m ais significativo e de mais<br />

long o alcan c e seria aprend er a am ar a si m e s m o .<br />

O ho m e m nas c e co m seu padrã o, que con siste de divers o s<br />

padrõ e s sub ordin ad o s . Ele pod e ser rec o n h e c i d o na heran ç a<br />

gen étic a, nos arqu étipo s, no horós c o p o , nos sinto m a s ou e m<br />

outros níveis de projeç ã o . No dec orr er <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> es s e padrã o<br />

torna- se atual e m seus diferent e s asp e ct o s Ningué m pod e<br />

evitá- lo, ele precis a ser realizad o, ou seja, pre e n c hi d o co m<br />

vi<strong>da</strong>. Caso se tenha, por exe m pl o, rec o n h e c i d o e visto até o<br />

fundo parte de sua estrutura, seja por m ei o de exp eriên ci a s ou<br />

<strong>da</strong> terapia, as alternativas de realiza ç ã o tom a m - se pos sív ei s.<br />

Esse interc â m b i o , dentro dos níveis verticais, é a chanc e que<br />

resulta <strong>da</strong> filosofia conti<strong>da</strong> em A Doe n ç a co m o Ca minh o.<br />

6 1


Os sinto m a s surg e m quan d o tem a s aní mic o- espirituais<br />

desliza m do plan o con s ci e nt e para o corp o. No sentido<br />

contrário, pod e- se tam b é m voltar a filtrar os tem a s aní mic oespirituais<br />

a partir dos sinto m a s . A pas s a g e m pelas imag e n s<br />

puras dos princípios primordiais facilita os pas s o s<br />

subs e q ü e n t e s por outros níveis de repres e nt a ç ã o des s e<br />

principio. É uma situaç ã o co m p ar á v el ao apren dizad o de<br />

idio m a s . Caso se queira apren d er italiano, esp a n h ol e franc ê s ,<br />

o m ais simpl e s é aprend er latim antes. Todo s os outros pas s o s<br />

torna m- se mais fác eis a partir des s a bas e co m u m .<br />

Trabalhar tenaz m e n t e e m parc eria e m vez de ter nódulos<br />

nervo s o s seria um a rec o m e n d a ç ã o terap êutic a bas e a d a na<br />

idéia dos princípio s prim ordiais. Os nervo s , be m co m o a<br />

parc eria, dep e n d e m do princípio de Vênus, nódulos e pedra s<br />

dep e n d e m do princípio de Saturno, ao qual se atribui tam b é m o<br />

trabalh o tenaz. Os nódulos nervo s o s sim b oliza m no plan o<br />

corp or al a areia na en gr e n a g e m <strong>da</strong> parc eria. Os afetad o s<br />

precis a m enten d e r- se co m am b o s os princípio s que deslizara m<br />

para a corp orali<strong>da</strong>d e, pod e n d o es c ol h er unica m e n t e o plano<br />

e m que o farão.<br />

As sug e st õ e s terap ê utica s que se g u e m es s a linha de<br />

pen s a m e n t o são des afiad or a s , m a s elas, justa m e n t e , força m<br />

de volta para a sup erfície <strong>da</strong> con s ci ê n ci a os princípios que<br />

fora m rep elido s. Quando não se ofer e c e qualqu er resistên ci a a<br />

um tem a, ele não é e m p urrad o para a so m b r a. Mas cas o se<br />

tenha forçad o o tem a a corpor alizar- se co m o probl e m a , as<br />

corre s p o n d ê n c i a s aní mic a s tam b é m serã o des a gr a d á v e i s.<br />

Caso não o seja m , dev e- se ter cui<strong>da</strong>d o . Existe a susp eita de<br />

que as corresp o n d ê n c i a s não seja m con c o r d e s .<br />

Sobre a bas e dos princípios primordiais, tam b é m se torna<br />

mais fácil a significaç ã o dos órg ã o s e <strong>da</strong>s área s corpor ais.<br />

Pode- se perc e b e r de man eira muito direta que o pes c o ç o tem a<br />

ver co m a incorp or a ç ã o a partir de sua funçã o e <strong>da</strong>s<br />

corre s p o n d e n t e s indicaç õ e s idio m átic a s tais co m o Geizkra g e n<br />

ou Gier- e Geizhal s [= avar e nto. Geiz = avar ez a; Krag e n =<br />

colarinho; Gier = avidez; Hals = pes c o ç o]. Nota- se que os<br />

62


joelho s estã o ligado s à humil<strong>da</strong>d e atrav é s <strong>da</strong>s funçõ e s de<br />

dobrar os joelho s e ajo elh ar- se, ma s pod e- se perc e b e r mais<br />

facilm e nt e que os nervo s estã o ligad o s à parc eria a partir do<br />

con h e ci m e n t o dos princípios primordiais. Isso tam b é m pod e ser<br />

deduzido a partir <strong>da</strong> funçã o dos nervo s, m a s para isso já é<br />

nec e s s á ri o algu m con h e ci m e n t o de m e dicin a.<br />

7. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> ritual<br />

A do e n ç a é a corp oralizaçã o proble m átic a de um padrã o.<br />

Por m ei o dela, o paci ent e é forçad o a pas s ar por es s e padrã o<br />

ao qual resiste e que não ac eita con s ci e nt e m e n t e . A vivên ci a<br />

con s ci e nt e de um padrã o é um ritual. Um ac o nt e ci m e n t o<br />

patoló gic o é, con s e q ü e n t e m e n t e , um ritual incon s ci e nt e, ou<br />

seja, que m er g ulh o u na so m b r a. O prim eiro pas s o em direç ã o à<br />

cura é ir bus c ar es s e ritual na con s ci ê n ci a. lima aju<strong>da</strong><br />

substanci al para isso é fazer aquilo que o sinto m a de qualqu er<br />

man eira nos força a fazer, ma s con s ci e nt e m e n t e e de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e . No exe m pl o <strong>da</strong> ob e si d a d e tratava- se, por<br />

exe m pl o, de petisc ar con s ci e nt e m e n t e . A m e di<strong>da</strong> que se<br />

incorp or a des p erta e atenta m e n t e todo s os doc e s e<br />

gulos ei m a s , surg e um sentim e nt o e m relaç ã o ao praz er<br />

implícito. Isso pod eria resultar e m um ritual de petisc ar divertido<br />

e prazer o s o . O important e é não per mitir que surja nen hu m<br />

sentim e nt o de culpa. O sentim e nt o de culpa ve m do pólo<br />

alopátic o e, nest e cas o , so m e n t e pod eria prejudic ar.<br />

Quando, e m vez de se abarrotar de senti m e nt o de culpa,<br />

co m e ç a - se a praticar rituais con s ci e nt e s de praz er, a pres s ã o<br />

do sinto m a ced e . Por um lado, co m o praz er con s ci e nt e já não<br />

é precis o co m e r tanto; por outro, ac eita- se m elh or o au m e nt o<br />

de pes o resultante. Agora se sab e o que se con s e g uiu co m<br />

aquilo. Quando se m er g ulh a na corrent e do praz er, outros<br />

plan o s de prazer tam b é m se abr e m co m o que por si m e s m o s .<br />

No Reino de Vênus há, ao lado <strong>da</strong> gula, outras pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

corre s p o n d e n t e s . O praz er atrav é s de outros sentido s alivia o<br />

63


estô m a g o so br e c a rr e g a d o se m ab and o n ar o tem a <strong>da</strong><br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e . O praz er atrav é s dos olho s, dos ouvido s, do<br />

nariz e <strong>da</strong> pele pre e n c h e mais ou m e n o s o m e s m o padrã o.<br />

Com o órgã o de Vênus, a pele, nes s e âm bito, é se m dúvi<strong>da</strong> o<br />

mais apropriad o, ao lado do pala<strong>da</strong>r. A m elh or alternativa para<br />

co m e r seria portanto o praz er sen s u al do tato. Beijar pod e<br />

substituir de m an eira bastant e ade q u a d a a avidez por doc e s , já<br />

que o praz er aqui parte <strong>da</strong> m e s m a muc o s a . Carícias<br />

trans mite m um sentim e nt o de be m - estar, de m an eir a<br />

se m el h a nt e a quan d o se acaricia a barriga após um a bo a<br />

refeiç ã o .<br />

Criar um ritual con s ci e nt e a partir do padrã o incon s ci e nt e do<br />

sinto m a é o prim eiro pas s o . O pas s o seguinte tem por objetivo<br />

trocar os tristes plan o s de elab or a ç ã o por plan o s de res g at e<br />

plen o s de des e n v olvi m e nt o . Isso resulta m ais fácil na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que este s último s se ajusta m ao padrã o, ou seja,<br />

ao princípio primordial afetad o . O padrã o não se deixa<br />

m o dificar, mas sim o plan o de sua elaboração ou resgate .<br />

Existe um ver<strong>da</strong> d eir o abis m o sep ar a n d o es s e s dois<br />

con c eito s. A elab ora ç ã o é so br etud o labor, ou trabalh o,<br />

en qu a nt o o resg at e tem a vantag e m <strong>da</strong> soluç ã o a seu favor<br />

[em ale m ã o Einlö s u n g = res g at e / Lö s u n g = soluç ã o]. No<br />

exe m pl o anterior de ob e si d a d e , a elab or a ç ã o do tem a, nest e<br />

cas o natural m e nt e um a elab or a ç ã o prazer o s a, seria talvez um<br />

progra m a de ma s s a g e n s de que se desfruta para ade q u ar- se<br />

às exig ê n ci a s do princípio de Vênus. Massag e n s can s ativa s ou<br />

dolor o s a s não seria m apropriad a s ao princípio venusian o . O<br />

am or, que inclui o corp o, a alm a e a m e nt e seria, ao contrário,<br />

um resg at e e até m e s m o a red e n ç ã o do tem a.<br />

Resg at e s não alm eja m um objetivo, eles não ac o nt e c e m<br />

para que se con sig a algu m a cois a, ma s parte m de um a<br />

nec e s si d a d e interior e afeta m a pes s o a e m sua totali<strong>da</strong>d e. Por<br />

es s a razão, eles pre e n c h e m o principio de man eira abran g e nt e<br />

e fun<strong>da</strong> m e n t al. A elab or a ç ã o con s ci e nt e está sujeita ao perigo<br />

de destap ar ap en a s âm bito s isolad o s . A mas s a g e m , <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira que petisc ar, afeta so m e n t e o plano do praz er<br />

64


corp or al. A elab or a ç ã o incon s ci e nt e tam b é m pod e se m dúvi<strong>da</strong><br />

abran g e r to<strong>da</strong> a pes s o a , m a s ela tocará o tem a de um a<br />

man eira m e n o s profun<strong>da</strong>.<br />

Caso se tenha um probl e m a não con s ci e nt e co m o principio<br />

primordial de Marte, pod e- se por exe m pl o elab or ar sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e co m o esp e ct a d o r nos ca m p o s de futeb ol. Mas<br />

m e s m o estan d o lá de corp o e alm a, o tem a não se deixa<br />

solucion ar por m ei o de gritos de batalha. Quem, ao contrário,<br />

elab or a seu tem a de m an eir a con s ci e nt e, tem a vantag e m de<br />

con h e c ê - lo. Faz sentido que o afetad o, por exe m pl o, deci<strong>da</strong><br />

praticar uma varied a d e de luta para <strong>da</strong>r vazã o à sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e ; o perigo esta poré m e m que ele participe<br />

apen a s co m o corp o, m a s não co m a alm a. Um resg at e seria<br />

que ele se deixas s e arreb atar, tom a s s e sua vi<strong>da</strong> de ass alto, se<br />

confrontas s e corajo s a m e n t e co m as tarefas pend e nt e s e<br />

vives s e sua vi<strong>da</strong> de man eir a res oluta.<br />

Faz parte de um ritual a con s ci ê n ci a de todo s os plan o s<br />

env olvido s . Além diss o, os rituais são tanto mais eficaz e s<br />

quanto m ais plano s co m pr e e n d e m . Disso resulta tam b é m a<br />

pouc a eficácia relativa <strong>da</strong> do e n ç a para o res g at e de um tem a 25 .<br />

Na maioria <strong>da</strong>s vez e s os sinto m a s so m e n t e leva m à<br />

elab or a ç ã o , já que falta a con s ci ê n ci a aní mic o- espiritual. Caso<br />

esta seja trazi<strong>da</strong> para o sinto m a e se transfor m e na sinto m átic a<br />

<strong>da</strong> do e n ç a e m um ritual con s ci e nt e que abranja todo s os<br />

plan o s implicad o s , aum e nt a m as chan c e s de se res g at ar o<br />

tem a.<br />

Esta é tam b é m a chav e para se fazer resg at e s a partir de<br />

tentativas de elab or a ç ã o . No exe m pl o aci m a, seria pos sív el<br />

dedic ar- se de m an eir a tão con s ci e nt e à varied a d e de luta<br />

es c ol hi<strong>da</strong> que ela ch e g a s s e a abran g e r tam b é m a alm a e a<br />

m e nt e e se tornass e arte marcial, que a partir de sua filosofia<br />

abran g e to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> sup erfície às raízes. A partir <strong>da</strong>í<br />

cres c e r á, co m o que por si m e s m a , um a ab ertura e m relaç ã o ao<br />

tem a <strong>da</strong> agre s s ã o que termin a por abrir ca minh o para a<br />

en er gi a marciana tam b é m e m outros âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e leva o<br />

afetad o a ous ar viver de m an eir a corajo s a. Onde os sinto m a<br />

65


incitam a <strong>da</strong>r caráter ritual à vi<strong>da</strong>, eles colab or a m não so m e n t e<br />

para o auto- con h e ci m e n t o , ma s tam b é m para a autorealizaç<br />

ã o , já que o objetivo do ca min h o do des e n v olvi m e nt o é<br />

transfor m ar to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> e m um ritual con s ci e nt e.<br />

66


3<br />

Indicaçõe s Práticas para a Elaboração dos Sintomas<br />

1 - Nosso vocabulário<br />

No centro <strong>da</strong> interpretaç ã o está o co m o – e esp e ci al m e n t e a<br />

linguag e m dos sinto m a s . Com o todo s os ser e s hum a n o s têm<br />

sinto m a s , ela é de long e a lingua g e m m ais difundi<strong>da</strong> do<br />

plan eta. Emb or a fala<strong>da</strong> à perfeiçã o por todo s, são pouc o s os<br />

que a co m pr e e n d e m con s ci e nt e m e n t e . Quanto mais<br />

intelectualizad a s as pes s o a s se tom a m , m e n o s resta, de<br />

man eira geral, <strong>da</strong> co m pr e e n s ã o intuitiva des s a form a de<br />

expr e s s ã o . É por es s a razão que os assi m cha m a d o s povo s<br />

primitivos estã o muito avan ç a d o s e m relaç ã o a nós no que a<br />

isso se refer e, assi m co m o as crianç a s são sup erior e s a seus<br />

pais.<br />

A lingua g e m verb al, juntam e nt e co m a linguag e m do corp o,<br />

tam b é m pod e ser muito útil. Pois não é so m e n t e o corp o que<br />

fala, a lingua g e m tam b é m é corp or al. Um grand e núm er o de<br />

expr e s s õ e s psico s s o m á ti c a s ilumina significativa m e n t e o corp o<br />

e a alm a. Uma pes s o a ob stinad a [versto c kt] não está [ste c kt]<br />

ch eia de co á g ul o s; e m sentido figurad o, seu próprio fluido vital<br />

está ficand o con g e s ti o n a d o [in Sto c k e n raten]; algué m tenaz<br />

[verbis s e n] não finca seus dente s con cr et o s e m na<strong>da</strong> [beis s e n<br />

= m ord er], ne m um teim o s o [hartnä c kig] tem os mús c ul o s do<br />

pes c o ç o [Nack e n] duros [hart]. Som e nt e quan d o tais posturas<br />

interna s não são mais con s ci e nt e s para seus pos suid or e s é<br />

que elas tend e m a se corp or alizar. Portanto, não é tão<br />

surpre e n d e n t e que noss o co m o re s p o n d a não apen a s ao<br />

trata m e nt o ma s tam b é m ao significad o.<br />

A lingua g e m colo quial expres s a ain<strong>da</strong> mais clara m e n t e os<br />

contexto s corre s p o n d e n t e s , esp e ci al m e n t e lá ond e é gros s eira<br />

e pouc o so ciáv el. As expr e s s õ e s idio m átic a s e os prov ér bi o s<br />

67


ev ela m muitas vez e s um profund o con h e ci m e n t o <strong>da</strong><br />

interd ep e n d ê n c i a do corp o e <strong>da</strong> alm a. O ditado já sabia há<br />

muito tem p o que o am or pas s a pelo estô m a g o , muito ante s que<br />

os psicólo g o s pude s s e m provar que a crianç a obtê m mais do<br />

que calorias no seio mat ern o . Expres s õ e s co m o Kum m e r s p e c k<br />

[= do br a s de gordura] [Kum m e r = aflição, des g o s t o / Sp e c k =<br />

toucinh o] deixa m entrev er que mais tarde o am or ain<strong>da</strong> pod e<br />

regr e dir ao plan o infantil.<br />

A sab e d o ria <strong>da</strong> linguag e m é muito mais confiáv el do que<br />

geral m e n t e supo m o s . Os sinto m a s e m trata m e n t o resp o n d e m<br />

no sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Uma palavra co m o<br />

Krãnkun g [= ofen s a, agrav o] nos m o stra que ofen s a s , ao long o<br />

do tem p o , faze m co m que se ado e ç a , isso muito antes que<br />

estud o s psico s s o m á ti c o s o co m pr o v a s s e m .<br />

A aju<strong>da</strong> m ais substanci al por parte d;i linguag e m do corp o,<br />

no que se refer e ao con h e ci m e n t o , à co m pr e e n s ã o do<br />

significad o dos sinto m a s , prov é m de sua hon e sti<strong>da</strong>d e . Esta vai<br />

muito alé m do que se supõ e, razão pela qual as pes s o a s<br />

m o d e r n a s não deixa m de tentar na<strong>da</strong>, de co s m é tic o s e<br />

ses s õ e s de bronz e a m e n t o artificial a interven ç õ e s cirúrgica s,<br />

para retoc ar a impre s s ã o exc e s si v a m e n t e hon e st a que sua<br />

pele trans mite. Por esta razão “um a pele hon e st a" [eine<br />

ehrlich e Haut ] é um a expr e s s ã o para pes s o a s crédulas,<br />

ingênu a s , que hon e st a e "sup erficial m e nt e" de m o n s tr a m tudo o<br />

que sent e m na própria pele. Na psicot er apia nós utilizam o s<br />

es s e ca minh o hon e st o e, e m fase s difíceis, nos co m u nic a m o s<br />

co m a epid er m e e tam b é m co m a resistên ci a epid ér mi c a dos<br />

pacient e s . Todo s os jogo s de dissi m ula ç ã o e de oculta m e n t o<br />

que seu proprietário pos s a ter des e n v olvid o são estran h o s à<br />

hon e st a pele.<br />

2. Mitos e contos de fa<strong>da</strong>s<br />

Imag e n s do âm bito <strong>da</strong> mitolo gia ou <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e s destac a d a s que se tornara m mito pod e m ser de<br />

68


grand e aju<strong>da</strong> para a interpreta ç ã o , des d e que apre s e nt e m<br />

similari<strong>da</strong>d e s co m o próprio padrã o. Os conto s de fa<strong>da</strong>s<br />

tam b é m nos confronta m co m m otivo s arqu etípic o s, sen d o que<br />

não raras vez e s , e m roupag e m m o d er n a, e m e r g e m na<br />

en c e n a ç ã o <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>. Esse s padrõ e s ate m p o r ai s, tal<br />

co m o apar e c e m freqü e nt e m e n t e tam b é m na po e si a, não<br />

pas s a m <strong>da</strong> es s ê n ci a po etizad a de exp eri ên ci a s de vi<strong>da</strong>. Um<br />

dos objetivo s <strong>da</strong> terapia <strong>da</strong> reen c arn a ç ã o é procurar es s e s<br />

padrõ e s para entã o tornar con s ci e nt e o mito do paci ent e.<br />

Reconh e c e r o mito <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong> e des c o b rir que pap el o<br />

padrã o <strong>da</strong> do e n ç a des e m p e n h a nele é igual m e nt e útil para a<br />

interpreta ç ã o dos sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> ser hum a n o tem tam b é m seu conto de fa<strong>da</strong>s, sen d o<br />

indiferent e se ele son h a con s ci e nt e m e n t e co m suas imag e n s<br />

ou não. Desc o brir es s e conto pod e ser de grand e aju<strong>da</strong> no<br />

ca min h o para a interpreta ç ã o do padrã o <strong>da</strong> do e n ç a , assi m<br />

co m o para a co m pr e e n s ã o do significad o de todo o padrã o <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Pode- se enten d e r o m o d el o de ca m a d a s do padrã o a<br />

partir dos conto s de fa<strong>da</strong>s. Os conto s de reis e de m a gi a, tais<br />

co m o os coletad o s . pelo s irmã o s Grim m, repre s e nt a m na<br />

ver<strong>da</strong>d e um grand e padrã o, o ca min h o <strong>da</strong> alm a rum o à<br />

perfeiç ã o . O her ói precis a ir e m b o r a de cas a, o que às vez e s<br />

lhe É facilitado por m adr a st a s antipáticas ou nec e s s i d a d e s<br />

mat eriais. A seguir, ele dev e sup er ar as provas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no<br />

mund o antes de finalm e nt e enc o ntrar sua outra m etad e , unir-se<br />

a ela e m um cas a m e n t o místic o 26 e tornar- se imortal. Este<br />

padrã o básic o é co m u m à maioria dos conto s de fa<strong>da</strong>s e<br />

repre s e nt a o ca min h o aní mic o co m u m a todo s os ser e s<br />

hum a n o s . O significad o de muitos conto s está nos muitos e<br />

variad o s arqu étipo s individuais que se so br e p õ e m ao padrã o<br />

básic o e repre s e nt a m ca minh o s de vi<strong>da</strong> pes s o ai s.<br />

3. O caminho do reconhecimento sobre o pólo oposto<br />

O ca minh o de trata m e n t o so br e o pólo opo st o tal co m o é<br />

69


tentad o na alop atia não pod e, a long o prazo, levar à soluç ã o de<br />

uma probl e m átic a se tenta tam b é m gan h ar temp o no curto<br />

prazo. Na interpreta ç ã o , ao contrário, <strong>da</strong>r um a olha<strong>da</strong> no pólo<br />

opo st o, no outro extre m o , provou ser muito útil. Os opo st o s<br />

estã o muito mais próxim o s um do outro do que noss a man eira<br />

de pens ar usual perc e b e . Nova m e nt e, a sab e d o ria popular<br />

pod e nos <strong>da</strong>r indicaç õ e s partindo, por exe m pl o, de que “os<br />

psiquiatras estã o louc o s", sen d o que no imagin ário burgu ê s<br />

ideal eles justa m e n t e dev eria m ser as pes s o a s mais saud á v ei s,<br />

m e ntal m e nt e faland o. Quando se pens a que um psiquiatra<br />

decidiu por livre e esp o nt â n e a vontad e pas s ar m etad e de sua<br />

vi<strong>da</strong> e m um a instituiçã o para do e nt e s m e ntais, a sab e d o ri a<br />

popular pod eria muito be m ter razão. Uma pes s o a precis a<br />

sentir um en or m e fascínio pelo s tortuos o s desvio s <strong>da</strong> alm a<br />

para es c ol h er es s a profiss ã o . Mas de ond e viria es s a<br />

predileç ã o , sen ã o do fato de estar a própria pes s o a afetad a?<br />

Isso não é nenhu m a des v a nta g e m , ma s a garantia m e s m a <strong>da</strong><br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de realizaç ã o do m é di c o de alm a s .<br />

Por es s a razão, tamp o u c o é de surpre e n d e r que muitos<br />

m é di c o s exiba m traço s de hipo c o n dria. Eles, de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e , pas s a m m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m um hospital<br />

ou e m um con s ultório. Eles, exata m e n t e co m o as outras<br />

pes s o a s , o faze m porqu e têm m e d o de estar do e nt e s e ter que<br />

m orr er. É justa m e nt e um a sorte que a m otiva ç ã o para a<br />

profiss ã o de m é di c o surja do des ej o de livrar de um a vez por<br />

to<strong>da</strong>s o mund o e principal m e nt e a si m e s m o <strong>da</strong> do e n ç a . Dess a<br />

man eira, o co m pr o m i s s o não es m o r e c e ne m m e s m o so b as<br />

condiç õ e s mais difíceis.<br />

Outros padrõ e s profission ai s tam b é m exib e m es s a à<br />

prim eira vista surpre e n d e n t e união de posiç õ e s opo sta s. Caso<br />

o criminalista não pen s a s s e de man eira tão crimin o s a co m o o<br />

crimin o s o , jam ais pod eria apan h á- lo. Caso o mission ário<br />

tives s e en c o ntrad o Deus e m seu cora ç ã o , não precis aria<br />

inculcá- lo e m outras pes s o a s de man eira tão ob stinad a. No<br />

fundo de seu cora ç ã o ele é um des cr e nt e e, ao conv ert er os<br />

outros, tenta conv ert er a si m e s m o .<br />

70


No que se refer e ao s sinto m a s , as posiç õ e s contrárias<br />

tam b é m se iguala m . Trata- se de um único e m e s m o tem a,<br />

exata m e n t e co m o criminalista e crimin o s o . As pes s o a s que<br />

sofre m de prisão de ventre e os pacient e s co m diarréia<br />

elab or a m e m seus intestino s a tem átic a prend er/s oltar. Quando<br />

sofre m o s de pres s ã o arterial alta, pacient e s co m pres s ã o baixa<br />

pod e m nos eluci<strong>da</strong>r muita cois a a resp eito de nos s o próprio<br />

probl e m a . No centro de am b o s os cas o s está a que st ã o de<br />

qual é o esp a ç o ocup a d o pela própria en er gi a vital.<br />

Isso se torna ain<strong>da</strong> m ais evid e nt e no tem a conflitante<br />

co m p artilhad o por alco ólic o s e abstin ent e s 27 . Um ag arra<br />

avi<strong>da</strong> m e n t e todo s os cop o s que vê, o outro cen s ur a todo s os<br />

que o faze m . A vi<strong>da</strong> de am b o s gira ao redor de um tem a: o<br />

álco ol. Quanto à sua saúd e aní mic o- espiritual, o abstin e nt e se<br />

en c o ntra igual m e nt e am e a ç a d o . É ver<strong>da</strong>d e que muitas vez e s o<br />

alco ólic o colo c a a culpa de suas mis érias nos outros, ma s e m<br />

geral ele ain<strong>da</strong> tem con s ci ê n ci a de sua situaç ã o pouc o<br />

saud á v el. Isso é mais difícil no que se refer e ao abstin e nt e e ao<br />

seu am bi e nt e. Geralm e nt e ele está m er g ulh a d o tão<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e na projeç ã o , está tão conv e n ci d o <strong>da</strong> culpa dos<br />

outros que não pod e m ais rec o n h e c e r seu próprio proble m a .<br />

Perdido e m sublim e s teorias so br e livrar a hum a ni<strong>da</strong>d e do vicio<br />

ou algo do m e s m o estilo, ele não pod e mais ver seu próprio<br />

extre mi s m o .<br />

Neste último exe m pl o pod e ficar claro que qualqu er carg a<br />

extre m a e m relaç ã o a um tem a deter min a d o é susp eita. Na<br />

maioria dos cas o s é justa m e nt e aí, ond e m e n o s se presu m e ,<br />

que nos enc o ntra m o s próxim o s do pólo opo st o.<br />

71


4<br />

Resum o<br />

1. Pontos de parti<strong>da</strong><br />

1. Não se trata e m nen hu m cas o de avaliaçã o, ma s de<br />

interpreta ç ã o.<br />

2. Todo s têm sinto m a s , porqu e tudo na vi<strong>da</strong> enc o ntra- se na<br />

polari<strong>da</strong>d e , sep ar a d o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e, e portanto não está são.<br />

3. Todo sinto m a é a expr e s s ã o de uma falta, m o strand o<br />

algo que falta para a integri<strong>da</strong>d e .<br />

4. Na<strong>da</strong> pod e des a p ar e c e r definitiva m e nt e, razão pela<br />

qual, e m todo s os cas o s , so m e n t e é pos sív el o desl o c a m e n t o<br />

de sinto m a s .<br />

5. Form a e conteú d o corresp o n d e m ao corp o e à alm a e<br />

estã o relacion a d o s . A form a (o corpor al) é o nec e s s á ri o ponto<br />

de contato co m o conteú d o (anímic o), <strong>da</strong> m e s m a man eira<br />

co m o o palc o é o ponto de contato co m a peç a de teatro.<br />

6. Não existe m caus a s e m última instân cia. Entretanto,<br />

quan d o nos referim o s a elas, para aproxi m ar- nos e m<br />

pen s a m e n t o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, tem sentido partir <strong>da</strong>s quatro caus a s<br />

clás sic a s dos antigo s: Cau s a efficien s (que atua a partir do<br />

pas s a d o), Cau s a finalis (que visa um objetivo), Cau s a formalis<br />

(caus a- padrã o), Cau s a materialis (caus a m at erial, ou seja, co m<br />

bas e mat erial).<br />

7. A reali<strong>da</strong>d e con sist e de plano s sim étrico s. O<br />

pen s a m e n t o analó gic o corre s p o n d e a ela de man eira mais<br />

ver<strong>da</strong>d eira que o pen s a m e n t o caus al.<br />

8. Todo s os plano s se relacio n a m de man eira sincrônic a, e<br />

não caus al, e tamp o u c o logica m e n t e no sentido usual, ma s<br />

analo gic a m e n t e .<br />

9. Os rituais form a m o suporte básic o <strong>da</strong> conviv ê n ci a<br />

hum a n a, seja de man eira con s ci e nt e ou incon s ci e nt e m e n t e ,<br />

co m o um padrã o- so m b r a.<br />

72


10. Sinto m a s são rituais- so m b r a que m ant ê m as pes s o a s<br />

e m equilíbrio e que pod e m ser substituído s por rituais<br />

con s ci e nt e s do mes m o padrã o primordial.<br />

73


2. Instruções e perguntas básicas<br />

As quatro "caus a s" pod e m contribuir para decifrar o ritual ao<br />

qual o sinto m a nos força. Para isso, o ca m p o e m que o afetad o<br />

vive dev e ser son d a d o . As pergunta s caus ai s seria m:<br />

1. De ond e ve m o sinto m a? Qual é sua bas e funcion al?<br />

Respo sta para o exe m pl o “gripe": situaç ã o dois dias ante s,<br />

quan d o o afetad o se resfriou, contraind o o vírus <strong>da</strong> gripe.<br />

2. De que bas e mat erial parte o sinto m a e o que rev ela o<br />

órg ã o afetad o ?<br />

Exemplo: os órgã o s do esp a ç o nas ofarín g e o e os órg ã o s<br />

dos sentido s. Trata- se de troca e tom a d a de contato co m o<br />

mund o exterior.<br />

3. Em que m oldura o sinto m a se expand e ? Quais são as<br />

regras de seu jogo?<br />

Exemplo: a pes s o a não quer mais abrir- se, entusias m a r- se<br />

pela resp e ctiva situaç ã o , está ch eia, não quer m ais es c utar,<br />

ne m ver. O contato co m o exterior é recus a d o so m e n t e para<br />

ser resta b el e ci d o de form a agr e s siva. Ela toss e (algo para o<br />

outro), espirra, funga e co sp e.<br />

4. Qual o objetivo do sinto m a ? Para ond e ele quer levar o<br />

afetad o?<br />

Exemplo de resp o st a: ele dev e ad mitir que já está chei o e<br />

quer livrar- se <strong>da</strong>s agr e s s õ e s .<br />

A evoluç ã o do resfriad o “nor m al” m o stra o ritual que força<br />

seu direito à vi<strong>da</strong> acim a dos sinto m a s individuais. O ato de<br />

fechar- se é en c e n a d o no palco do corpo: os órg ã o s dos<br />

sentido s e <strong>da</strong> respiraç ã o - ou seja, os can ais de co m u nic a ç ã o -<br />

são bloqu e a d o s , as agre s s õ e s reprimi<strong>da</strong> s são viven ci ad a s<br />

corp or al m e n t e . O am bi e nt e rec o n h e c e este s sinais e m and a o<br />

afetad o , tossind o e ofeg a nt e, para cas a. Te m início um ritual de<br />

retira<strong>da</strong> de co m b at e , sen d o que o co m b at e se des e n r ol a<br />

so br etud o nos tecido s, en qu a nt o a retira<strong>da</strong> se realiza<br />

principal m e nt e no am bi e nt e social.<br />

74


O ritual prev ê que os gripad o s não serã o m ais agr edid o s ,<br />

pod e n d o retirar- se de man eira ord en a d a . Caso os outros<br />

participante s não rec o n h e ç a m os sinais imediata m e n t e , os<br />

afetad o s se impõ e m de man eira amisto s a m e n t e direta: "Não se<br />

aproxi m e de mi m, estou resfriado!" Os gripad o s ad mite m co m<br />

to<strong>da</strong> a candura o quanto es s e ritual é nec e s s á ri o quan d o<br />

confe s s a m que pe g ar a m a gripe. Naturalm e nt e, so m e n t e se<br />

peg a aquilo de que se precis a.<br />

P er g u nta s so br e o ritual <strong>da</strong> do e n ç a e sua moldura:<br />

1. Com o foi que eu arranjei es s e probl e m a ?<br />

2. Por que foi ac o nt e c e r justa m e n t e ag or a? Em proc e s s o s<br />

crônic o s : quan d o isso m e afetou pela prim eira vez? Quando de<br />

man eira esp e ci al m e n t e intens a?<br />

3. Por que justa m e nt e este quadr o me afetou?<br />

4. A qual padrã o rep etitivo de minha vi<strong>da</strong> o ritual <strong>da</strong> do e n ç a<br />

faz alusã o ?<br />

3. <strong>Doença</strong> <strong>como</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

Os sinto m a s se m pr e pod e m ser con sid er a d o s so b um duplo<br />

asp e ct o. Em prim eiro lugar, eles se co m p o rta m hon e st a m e n t e<br />

e nos m o stra m aquilo que até entã o não quis e m o s perc e b e r.<br />

Uma paralisia pod e, por exe m pl o, <strong>da</strong>r a enten d e r ao afetad o o<br />

quanto ele é (se tornou) aleijad o e imóv el no âm bito aní mic oespiritual.<br />

Em se gund o lugar, cad a sinto m a tem um sentido e<br />

rev ela um a tarefa. A paralisia pod eria talvez deixar entrev er<br />

que vale a pen a afrouxar os control e s con s ci e nt e s e entre g arse<br />

ao des c a n s o . O axio m a "a do e n ç a torna a pes s o a hon e st a"<br />

m o stra o plano do padrã o ain<strong>da</strong> não res g at a d o , en qu a nt o<br />

atrav é s de “a do e n ç a m o stra a tarefa" torna- se claro aqu el e<br />

padrã o que já o foi.<br />

De ac ord o co m o prim eiro ponto de vista, m anife sta- se um<br />

padrã o de sofrim e nt o e um a evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a que não<br />

estã o pres e nt e s na con s ci ê n ci a. A ac eitaç ã o des s e padrã o e<br />

75


sua m e n s a g e m pod e levar ao se gund o plano e transfor m ar a<br />

exp eriên ci a doloro s a e m um ritual que torne pos sív el o<br />

cres ci m e n t o .<br />

Algué m desinter e s s a d o , ob s ervando de fora, não pod e<br />

jam ais afirmar e m que plan o e e m que fase os afetad o s já<br />

estã o. Uma exub er â n ci a corp or al apar e nt e é freqü e nt e m e n t e a<br />

co m p e n s a ç ã o para um a falta de realizaç ã o interna, segun d o o<br />

m oto: “assi m dentro co m o fora". Mas “assi m dentro co m o fora"<br />

ela pod eria tam b é m refletir a realizaç ã o interna. Ain<strong>da</strong> que este<br />

último cas o seja mais raro, ne m por isso deixa de ser pos sív el.<br />

Quando pen s a m o s no Bu<strong>da</strong>, inclina m o - nos a supor que a<br />

abun d â n ci a extern a, as alm ofa d a s de gordura so br e as quais<br />

ele repous a, são expres s ã o de sua realizaç ã o interna. E veja<br />

be m , o Budism o parte do princípio de que todo ser hum a n o traz<br />

e m si a naturez a do Bu<strong>da</strong>. Isso co m o nova adv ertên ci a para<br />

que um maravilho s o m e c a ni s m o de auto- con h e ci m e n t o não<br />

deg e n e r e e m m ei o de distribuiçã o de culpas atrav é s <strong>da</strong><br />

valora ç ã o , <strong>da</strong> emis s ã o de juízos de valor.<br />

76


Segun<strong>da</strong> Parte<br />

1<br />

O Esque ma Cabeça- Pé<br />

Tradicion al m e n t e a m e di cin a subdivid e o organis m o e m<br />

uni<strong>da</strong>d e s funcion ais, para as quais há se m pr e um m é di c o<br />

co m p et e nt e. Assim, o gastro e nt er ol o gi sta está esp e ci alizad o no<br />

trato gastrointe stinal, o nefrolo gista nos rins e o neurolo gista<br />

nos nervo s. O paci ent e, ao contrário, viven ci a o org anis m o<br />

co m o um a uni<strong>da</strong>d e. Trata- se de um a só cois a, se g un d o sua<br />

man eira de ver, pois a rigor as uni<strong>da</strong>d e s funcion ais não se<br />

deixa m sep ar ar, tudo está de m a s i a d o relacio n a d o co m todo o<br />

resto. Os nervo s e os vas o s san g üín e o s estã o e m pratica m e n t e<br />

todo o corp o, e órg ã o s individualizad o s tais co m o o fígad o ou<br />

os rins atua m se m pr e e m todo o org anis m o A visã o integrad or a<br />

está portanto mais próxim a do leigo, já que ele viven cia seus<br />

ach a q u e s co m o perturba ç õ e s do be m - estar co m o um todo.<br />

Muitas vez e s ele so m e n t e pod e perc e b e r de m an eir a vag a de<br />

qual regiã o parte o incô m o d o . A divisã o, tanto e m ciclos<br />

funcion ais co m o e m regiõ e s apres e nt a vantag e n s , m a s<br />

con sid er ar os sinto m a s des d e um ponto de vista region al<br />

provou ser m ais produtivo para a avaliaç ã o integral dos<br />

sinto m a s . Quando interpreta m o s os sinto m a s a partir de sua<br />

regiã o, co m e ç a m o s co m sua bas e , ou seja, o palco so br e o<br />

qual tom a corp o o dra m a aní mic o- espiritual. Na pneu m o ni a, os<br />

pulm õ e s m o stra m o plano e m que se des e nr ol a o conflito. No<br />

enfis e m a pulm o n ar, o m e s m o plano de co m u ni c a ç ã o está<br />

afetad o , m a s co m o exc e s s o de ventilaç ã o dos alvé ol o s e <strong>da</strong><br />

form a ç ã o de um peito inchad o , é outra a peç a que está tend o<br />

lugar nes s e m e s m o palco. Proble m a s co m pl et a m e n t e<br />

diferent e s pod e m portanto ter uma bas e co m u m a partir <strong>da</strong><br />

m e s m a regiã o.<br />

77


Para tornar isso m ais claro, a partir de ag or a os probl e m a s<br />

esp e c ífic o s serã o tratado s de cim a para baixo, se m pr e<br />

focalizan d o e m prim eiro lugar a regiã o afetad a. Os sinto m a s<br />

que assi m e m er g e m serã o entã o interpretad o s de ac ord o co m<br />

seu significad o e freqü ê n ci a, des d e que isso não tenha sido<br />

feito antes.<br />

Muitas culturas co m pr e e n d e r a m e indicara m à sua man eira<br />

os centro s do corpo e suas resp e ctiva s relaç õ e s . Aquilo que os<br />

chin e s e s des cr e v e m co m o m eridian o s é cha m a d o de nadis<br />

pelo s hindus. Muitos povo s arcaic o s tam b é m des e n v o l v er a m<br />

um impre s si o n a nt e con h e ci m e n t o so br e os ca min h o s de<br />

co m u nic a ç ã o de en er gia do corp o. Lugare s ond e a en er gia<br />

está con c e ntra d a, con h e ci d o s co m o chakra s pela cultura<br />

indian a, são m e n ci o n a d o s e m divers a s tradiçõ e s . No Oriente,<br />

tem- se sete des s e s chakras principais co m o ponto de parti<strong>da</strong>.<br />

Os dois sup erior e s enc o ntra m - se na cab e ç a , os inferiores na<br />

pelve, o terc eiro está na pas s a g e m <strong>da</strong> regiã o <strong>da</strong> pelve para a<br />

regiã o do ventre, o quinto na regiã o do pes c o ç o , sen d o que o<br />

quarto, central, é o chakra do cora ç ã o . Desta man eira, do<br />

ponto de vista en er g étic o existe m três ponto s principais no<br />

org anis m o : a cab e ç a co m o pólo opo st o <strong>da</strong> pelve e entre os<br />

dois, no m ei o, o peito co m a área do cora ç ã o . Embor a o<br />

con h e ci m e n t o so br e es s e s três centro s principais pos s a ser<br />

en c o ntrad o e m pratica m e n t e todo o mund o , os ponto s<br />

principais são dispo st o s de m an eira muito diferent e. Ao long o<br />

de seu des e n v o l vi m e n t o , os pov o s ger m â ni c o s do norte<br />

apren d er a m a enfatizar a cab e ç a , en qu a nt o os povo s<br />

m e diterrân e o s vive m m ais a partir do coraç ã o ; já as<br />

am e a ç a d a s culturas orientais <strong>da</strong> Índia ab and o n a m - se à<br />

sen s a ç ã o que prov é m do ventre. Em co m p ar a ç ã o co m o êxito<br />

de outras culturas, eles en c o ntra m - se de fato e m situaç ã o de<br />

ver<strong>da</strong>d eir o aban d o n o. Apoiado s e m suas instituiçõ e s , eles não<br />

puder a m fazer frente ne m ao s povo s de san g u e quent e <strong>da</strong><br />

Espanh a e de Portugal ne m à razão agre s siv a <strong>da</strong>s culturas<br />

nórdic a s.<br />

Se no inicio <strong>da</strong> história rec o n h e c i d a por nós a hum a ni<strong>da</strong>d e ,<br />

78


as e a n d o - se na sen s a ç ã o do ventre e seus instintos, vivia e m<br />

estreita relaç ã o co m a Mãe Terra, o centro do coraç ã o pas s o u<br />

a ser pred o m i n a nt e a partir do do mí ni o do mun d o por<br />

esp a n h ói s e portugu e s e s para ser finalm e nt e sub stituído pelo<br />

pod er intelectual <strong>da</strong> cab e ç a . Com o instân cia sup erior do corp o,<br />

ao long o <strong>da</strong> história a cab e ç a aprend e u a do min ar os outros<br />

centro s. As culturas que enfatiza m a cab e ç a subjug ar a m a<br />

Terra. Mas aquilo que ac o nt e c e u no mun d o teve lugar tam b é m ,<br />

paralela m e n t e , no corpo e na alm a. A cab e ç a sub m e t e u o<br />

coraç ã o e o ventre e teve início um impied o s o do mí ni o <strong>da</strong><br />

razã o. Com olho s, ouvido s, nariz e papilas gustativas, ela<br />

dispõ e de um m o n o p óli o pratica m e n t e ab s oluto <strong>da</strong><br />

inform a ç ã o 28 ; alé m diss o, tend o o cér e br o no centro, ad ministra<br />

es s e fluxo de inform a ç ã o a seu bel- prazer. Desd e que o ho m o<br />

erectus ergu e u a cab e ç a , ele pas s o u a ter não ap en a s os<br />

m e m b r o s anterior e s livres para cui<strong>da</strong>r de seus intere s s e s , ele<br />

pôd e tam b é m transfor m ar seu cér e br o e m um órgã o m ai or.<br />

Este, e m con s e q ü ê n c i a, transfor m o u- se na maior potên cia<br />

decisiva do corp o, tom a n d o a iniciativa de do min ar e<br />

do m e s tic ar todo s os outros órg ã o s . "O pé dev e (segun d o o<br />

ditado) ir para ond e a cab e ç a quer". Sendo o lugar ond e<br />

oc orr eu tal con c e ntra ç ã o de pod er, a cab e ç a tom o u- se cap o,<br />

ch ef e principal, a cois a capital (do latim capita = cab e ç a) <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Tal co m o a capital de um pais centralista, ela reg e as<br />

província s do corp o. Conc eito s co m o cab e c ilha e capit ão o<br />

co m pr o v a m . Da m e s m a man eira co m o o capitão reg e o navio,<br />

o capital, que reg e o mun d o , é outra de m o n s tr a ç ã o de que m é<br />

o sen h or <strong>da</strong> cas a. Os rom a n o s gov ern a v a m seu império<br />

mundial a partir do Capit ólio, e os am eric a n o s reg e m a maior<br />

parte do mun d o a partir de Washingto n, que eles tam b é m<br />

cha m a m de "capital".<br />

Construindo co m diligên cia (indu stria e m latim) e razã o, os<br />

ho m e n s <strong>da</strong>s culturas industriais per mitira m ain<strong>da</strong> que a cab e ç a<br />

utilizass e seu m o n o p ólio so br e os órgã o s dos sentido s para<br />

reprimir a sen s u ali<strong>da</strong> d e . O olfato, original m e nt e do min a nt e já<br />

que assu mi a, entre outras, a funçã o de perc e b e r o aro m a <strong>da</strong><br />

79


co mi d a, foi o prim eiro a ser banido. O palad ar lhe está<br />

esp e ci al m e n t e próxim o, e con s e q ü e n t e m e n t e tam b é m perd eu<br />

significad o. O grand e e antigo rino e n c éf al o, que co m o siste m a<br />

límbic o está ag or a relacio n a d o à elab or a ç ã o <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s ,<br />

ain<strong>da</strong> hoje é teste m u n h a des s e pas s a d o . A audiç ã o tam b é m<br />

teve de pas s ar a um se gund o plano e m relaç ã o ao s olho s que,<br />

a partir do m o m e n t o e m que o ho m e m se ergu e u so br e as<br />

perna s tras eiras, pas s ar a m a ocup ar o lugar mais elev a d o de<br />

todo s os órg ã o s dos sentido s e fora m os único s que saíra m<br />

gan h a n d o co m a adquiri<strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de visão geral. Os<br />

outros sentido s, na ver<strong>da</strong> d e , sofrera m des v a nt a g e n s , já que<br />

ficara m m ais afastad o s de suas fontes de inform a ç ã o . Os<br />

olho s, no entanto, des c o b rira m um a torrente de inform a ç õ e s de<br />

long o alcan c e e, assi milan d o - as, seu asp e ct o sen s u al foi<br />

diminuind o progr e s siva m e n t e .<br />

O estad o e m que hoje se enc o ntra a Terra subjug a d a é tão<br />

co m o v e n t e co m o o estad o e m que se en c o ntra o corp o,<br />

tam b é m subjug a d o e m sua m ai or parte, indican d o que o<br />

do mínio unilateral <strong>da</strong> cab e ç a pod eria ser tam b é m um be c o se m<br />

saí<strong>da</strong>. Apesar <strong>da</strong> inteligên ci a alta m e nt e des e n v o l vi<strong>da</strong> dos<br />

cap o s, os probl e m a s cres c e m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e que as<br />

soluç õ e s , já que não conta co m o se ntid o co m u m e m suas<br />

fileiras.<br />

Pess o a s sen s u ai s estã o mais ab ertas para os m o vi m e nt o s<br />

do cora ç ã o , que por sua vez am e a ç a m a m o n ar q ui a <strong>da</strong> cab e ç a .<br />

Quando, por exe m pl o, e m estad o de paixão, a fria cab e ç a só<br />

pod e ob s erv ar impot e nt e co m o o quent e cora ç ã o assu m e o<br />

pod er. Mas ela não pod e simpl e s m e n t e ac eitar este fato e<br />

co m e ç a imediata m e n t e a distribuir culpa, afirmand o que outro<br />

teria virad o a cab e ç a de seu proprietário, que este ficou ce g o e<br />

entã o perd e u a cab e ç a . Isso não pod eria ac o nt e c e r cas o a<br />

cab e ç a estives s e funcion a n d o nor m al m e n t e . Antes que o<br />

afetad o perc a co m pl eta m e n t e a razão, ou seja, antes que esta<br />

perc a sua primazia, o intelecto tratará de con struir as<br />

afirma ç õ e s m ais estran h a s para pôr fim a este divino estad o<br />

que para ele é tão am e a ç a d o r . Quase se m pr e, são seus<br />

80


argu m e n t o s racion ais que perturb a m e destro e m o am or,<br />

termin and o co m o pas s ei o pelo reino do coraç ã o . Ain<strong>da</strong> que a<br />

cab e ç a tenha de sofrer algu m a s derrota s no front do cora ç ã o ,<br />

ela certa m e n t e m ant é m a intuição do ventre firme m e n t e so b<br />

control e. Som e nt e o irracion al sentim e nt o popular é con h e ci d o<br />

ain<strong>da</strong> por per mitir-se ver co m o cora ç ã o e viver de ac ord o co m<br />

as sen s a ç õ e s do ventre. Em ditado s tais co m o "am or e razão<br />

rara m e n t e ca minha m juntos" ou "quan d o o coraç ã o quei m a , a<br />

cab e ç a precis a bus c ar água", expres s a- se a rivali<strong>da</strong>d e entre a<br />

cab e ç a , o coraç ã o e as sen s a ç õ e s . A "m e dicina" popular sab e<br />

que "o fogo do coraç ã o es q u e nt a a cab e ç a ", e uma cab e ç a<br />

que nt e, natural m e nt e, dói.<br />

Muitas vez e s os intelectuais não con s e g u e m decidir se a<br />

cab e ç a é don a <strong>da</strong> pes s o a e m que st ã o ou se é esta que é don a<br />

<strong>da</strong> própria cab e ç a . Seja lá co m o for, para os ho m e n s mod er n o s<br />

ela é a regiã o sup erior e mais important e, co m a qual nos<br />

ocup a m o s e preo c up a m o s <strong>da</strong> man eira mais intens a. A m ai oria<br />

<strong>da</strong>s pes s o a s e m pr e g a m mais temp o disp en s a n d o - lhe cui<strong>da</strong>d o s<br />

que co m todo o resto do corp o. No trabalh o e no temp o livre,<br />

nós nos servi m o s principal m e nt e <strong>da</strong> cab e ç a , confiand o no<br />

co m a n d o central de seu cér e br o.<br />

De sua elev a d a posiç ã o , que é por assi m dizer co m o a coro a<br />

<strong>da</strong> coluna vertebr al ereta, nota- se que o pap el de ch ef e de fato<br />

lhe cai be m . Sua form a redond a, próxim a <strong>da</strong> esfera ideal,<br />

indica tam b é m a posiç ã o esp e ci al que ocup a. Apesar diss o,<br />

dev ería m o s perguntar se o típico ho m e m - cab e ç a de nos s a<br />

cultura ain<strong>da</strong> tem con s ci ê n ci a de que os outros centro s<br />

tam b é m são de importân cia vital e de que à cab e ç a cab e<br />

so m e n t e o pap el de "prim eiro entre iguais". Basta ob s ervar a<br />

linguag e m para ouvir que a cab e ç a so m e n t e pod e afirmar<br />

[be haupt en / Haupt = cab e ç a], m a s não apre e n d e r. Para isso<br />

ela precis a <strong>da</strong>s mã o s . Até m e s m o suas afirma ç õ e s ficam no ar<br />

en qu a nt o não fore m fun<strong>da</strong> m e n t a d a s [begründ et / Grund =<br />

chã o]. O prim eiro lugar corre s p o n d e à cab e ç a , tal co m o<br />

de m o n s tr a a anato mi a, m a s ela não seria na<strong>da</strong> se m a bas e do<br />

corp o so br e a qual se apóia. A voz popular sab e que "o<br />

81


coraç ã o sec a quan d o só a cab e ç a do min a". Sendo assi m, não<br />

é de estran h ar que as do e n ç a s coron ária s e, desta s,<br />

esp e ci al m e n t e o infarto do coraç ã o , assu m a m co m folga o<br />

prim eiro lugar nas estatística s de m ortali<strong>da</strong>d e . No infarto, tratase<br />

de uma falta de irrigaç ã o san g üín e a do cora ç ã o - é co m o se<br />

este morr e s s e de fom e.<br />

Apesar dos muitos coraç õ e s que gritam de dor e bate m<br />

des c o ntr olad a m e n t e , a central <strong>da</strong> cab e ç a é que rec e b e , de<br />

long e, a m ai oria de nos s a s aten ç õ e s . Nós nos afirma m o s co m<br />

a cab e ç a , noss o objetivo m ais elev a d o é m ant ê- la alta na luta<br />

pelo pod er que tem lugar na soci e d a d e . Na<strong>da</strong> pod e pa s s a r por<br />

cima de no s s a s ca b e ç a s , e ai <strong>da</strong>qu el e que <strong>da</strong>n ç a so br e noss a s<br />

cab e ç a s . "Manter a cab e ç a ergui<strong>da</strong>!", anim a m o s a nós mes m o s<br />

quan d o algu m a cois a não dá certo, ou: "Não pod e m o s nos<br />

reb aixar!" Não quer e m o s ter nen hu m contato co m as zona s<br />

inferiores. E quan d o esta m o s co m a cab e ç a pes a d a, muitas<br />

vez e s lem br a m o s uns ao s outros que é precis o não ab aixar a<br />

cab e ç a ", prev e nind o- nos assi m contra um a recaíd a nos<br />

(bons?) velho s tem p o s e m que a cab e ç a não era o nº 1<br />

ab s oluto. Conven cid o s de ser a coro a ç ã o <strong>da</strong> criaç ã o , dirigim o s<br />

prefer e n ci al m e nt e o olhar à nos s a coro a. A freqü ê n ci a e a<br />

diss e m i n a ç ã o <strong>da</strong> enxa q u e c a deixa m entrev er que es s a<br />

insistên ci a exc e s si v a não é muito saud á v el.<br />

Em con s e q ü ê n c i a de nos s a am bi ç ã o , que enfatiza a cab e ç a ,<br />

muita cois a nos subiu a ca b e ç a , transfor m a n d o - a e m um a<br />

dolor o s a caixa troante que muitas vez e s pare c e que vai<br />

arreb e nt ar. Aquilo que se m et e na ca b e ç a per m a n e c e na<br />

cab e ç a , e não é raro que atrav é s do acú m ul o a pes s o a se<br />

torne entã o um ver<strong>da</strong>d eir o cab e ç a - dura. Não há pratica m e n t e<br />

mais nenhu m a pes s o a e m nos s a so ci e d a d e que não con h e ç a a<br />

sen s a ç ã o de ter um a cab e ç a dura; <strong>da</strong> m e s m a m an eira, não há<br />

um só m e m b r o de um a <strong>da</strong>s culturas cha m a d a s de primitivas<br />

que pos s a imagin ar algo parecid o. Embora não seja m o s<br />

ca b e ç a s oca s, muitas vez e s não sab e m o s m ais ond e e sta m o s<br />

co m a cab e ç a . Pess o a s que não estã o o temp o todo<br />

que brando a cab e ç a , que não têm a tend ê n ci a de bater co m a<br />

82


ca b e ç a na pared e , que não precis a m afirmar- se [sich<br />

be haupt en / Haupt = cab e ç a] ou ch e g ar à con clus ã o de que o<br />

mund o so m e n t e se des e n v olv e correta m e n t e quan d o tudo<br />

oc orr e de acord o co m a sua ca b e ç a , es s a s pes s o a s não<br />

sab e m o que é um a dor de cab e ç a . Abrigad o s pela con s ci ê n ci a<br />

de que de qualqu er man eira a criaç ã o se des e n v o lv e de ac ord o<br />

co m o plano de Deus, eles não têm um a tábua diante <strong>da</strong> testa<br />

[Brett vor m Hirn hab e n = ser obtus o, parvo], coisa que<br />

dolor o s a m e n t e adquire m tantos ser e s hum a n o s m o d er n o s . A<br />

pres s ã o que colo c a m o s so br e nós m e s m o s ao assu mir m o s o<br />

pap el de sen h o r e s des s a criaç ã o , pres si o n a- nos muitas vez e s<br />

naqu el a regiã o co m cuja aju<strong>da</strong> nos afirma m o s . A m an eira pela<br />

qual a m ai oria dos sinto m a s une resulta m des s a situaç ã o de<br />

des e q uilíbrio afeta m o corp o oprimido expr e s s a - se não<br />

so m e n t e no interior <strong>da</strong> cab e ç a ma s tam b é m fora, no rosto.<br />

Provav el m e n t e dev e m o s à exc e s si v a enfatizaç ã o <strong>da</strong> cab e ç a<br />

não só as dor e s lancinant e s co m o tam b é m a maior parte de<br />

to<strong>da</strong>s as m ol é stias psico s s o m á ti c a s , que são totalm e nt e<br />

des c o n h e c i d a s pelas assi m cha m a d a s culturas arcaic a s , que<br />

vive m próxim a s à naturez a e pres cind e m de to<strong>da</strong><br />

intelectuali<strong>da</strong>d e. Apesar dest e con h e ci m e n t o , faz pouc o sentido<br />

ab aixar a cab e ç a , é mais saud á v el interpretar os próprios sinais<br />

de alar m e e de so br e c ar g a e prop orci o n ar a outras regiõ e s do<br />

corp o o significad o que lhes corre s p o n d e .<br />

Antes de <strong>da</strong>r inicio a esta tarefa e des c e r m o s até noss a s<br />

raízes dentro do es qu e m a cab e ç a - pé, dev e m o s ab ord ar o tem a<br />

do cân c er. Significativa m e n t e , isso oc orr e fora do es qu e m a<br />

cab e ç a - pé, porqu e o cân c er pod e afetar pratica m e n t e todo s os<br />

órg ã o s e tecido s. Tam b é m nest e cas o se rec o m e n d a estu<strong>da</strong>r a<br />

regiã o afetad a antes de dedic ar- se ao capitulo seguinte, que<br />

ab ord a o cân c er de man eir a geral 29 .<br />

83


2<br />

Câncer<br />

1. A imagem do câncer em nossa época<br />

Por trás do diagn ó stic o “cân c er" oculta- se um grand e padrã o<br />

que pod e se expres s ar e m uma grand e varied a d e de sinto m a s .<br />

Ca<strong>da</strong> um deles afeta to<strong>da</strong> a existên cia <strong>da</strong> pes s o a , não<br />

importan d o e m qual órgã o tenha se originad o . Neste ponto, o<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er é de m a si a d o co m pl ex o para estar<br />

relacion a d o apen a s co m o órg ã o afetad o. Sua tend ê n ci a de<br />

propa g ar- se por todo o corpo m o stra que se trata de to<strong>da</strong> a<br />

pes s o a . O cân c er, so b a form a de fantas m a que ass o m b r a<br />

noss a ép o c a , toca não apen a s aqu el e s que são direta m e n t e<br />

afetad o s , ma s to<strong>da</strong> a so ci e d a d e , que o transfor m o u e m tabu<br />

co m o nenhu m outro sinto m a. Anualm e nt e m orr e m 20 0 mil<br />

pes s o a s de cân c er na Alem anha, e para 199 1 esp er a v a m - se<br />

33 0 mil novo s do e nt e s . Mais <strong>da</strong> m etad e dos afetad o s m orr e m ,<br />

e a taxa e m núm er o s ab s oluto s de m ortes por cân c er continua<br />

subind o, ape s ar dos êxitos con s e g ui d o s pela m e dicin a.<br />

Até a des c o b e rt a dos hunza , não se con h e ci a nen hu m a<br />

cultura que tives s e sido inteira m e n t e poup ad a do cân c er.<br />

Admite- se que so m e n t e este pequ e n o povo m o ntan h ê s do<br />

Himalaia, até o contato co m a civilizaç ã o m o d e r n a, e m m e a d o s<br />

dest e século, jam ais soub e o que era o c ânc er. Os traç o s<br />

des s e sinto m a enc o ntra m - se hoje por to<strong>da</strong> parte, pod e n d o ser<br />

detectad o s até no pas s a d o graç a s ao s m o d e r n o s<br />

proc e di m e n t o s de pes q uis a. A pres e n ç a de tum or e s foi<br />

co m pr o v a d a até m e s m o e m mú mi a s incas co m 500 ano s de<br />

i<strong>da</strong>d e. Apesar des s a diss e m i n a ç ã o univers al, o cân c er tornouse<br />

um a marc a distintiva <strong>da</strong>s naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s m o d er n a s .<br />

Ele não gan h o u terren o de man eira tão fulminant e e m nen hu m<br />

outro lugar. O argu m e n t o de que ele so m e n t e é m ais freqü e nt e<br />

nas naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s devido ao fato de que as pes s o a s<br />

84


que nelas vive m ating e m uma i<strong>da</strong>d e mais avan ç a d a é correto<br />

no que se refer e a algu m a s culturas, ma s não se sustenta por<br />

principio, pod e n d o ser reb atido e m vários ponto s. Por um lado,<br />

há tipos de cân c er que ating e m o ápic e nos ano s de juventud e,<br />

por outro a própria m e dicin a tradicion al de m o n s tr a que<br />

deter min a d o s tipos d< cân c er, tal co m o o cân c er dos pulm õ e s ,<br />

estã o relacion a d o s de man eira unívo c a co m hábitos e ven e n o s<br />

de noss a civilizaç ã o . Mas, so br etud o , havia culturas antigas<br />

que pos sibilitava m um a long a exp e ct ativa de vi<strong>da</strong> co m um<br />

baixo risco de cân c er. Na cultura chin e s a de orienta ç ã o taoísta,<br />

o cân c er era extre m a m e n t e raro, e m b o r a a exp e ct ativa m é di a<br />

de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pes s o a s foss e a m e s m a <strong>da</strong> China atual Viver ce m<br />

ano s era con sid er a d o nor m al.<br />

Sab e- se que antes de ser e m sub m e tid o s , os indíg e n a s que<br />

habitava m original m e nt e a América vivia m m ais que nas<br />

ép o c a s "civiliza<strong>da</strong>s" posterior e s. Eles pratica m e n t e não<br />

con h e ci a m o cân c er antes, ma s a partir de entã o pas s ar a m a<br />

pag ar tam b é m es s e tributo. Uma outra prova de quanto o<br />

cân c er tornou- se uma desta c a d a am e a ç a à saúd e e m noss a<br />

ép o c a é o fato de ser ele, dentre to<strong>da</strong> s as do e n ç a s , a que nos<br />

infund e m ai or terror. A des criç ã o <strong>da</strong> do e n ç a já traz o selo de<br />

noss a avaliaç ã o : m align o. O infarto do coraç ã o , que ceifa m ais<br />

vi<strong>da</strong>s e confronta as pes s o a s co m a m ais pavor o s a dor que se<br />

con h e c e , não des p erta se m e l h a nt e horror. O cân c er<br />

nec e s s a ria m e n t e nos confronta co m um tem a que esta<br />

m er gulha d o ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e na so m b r a que a dor e<br />

que a própria m orte. Além diss o, nen hu m outro sinto m a torna<br />

tão clara a relaç ã o entre corp o, alm a, m e nt e e soci e d a d e co m o<br />

o cân c er. Quer parta m o s do nível celular, <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong><br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e ou <strong>da</strong> situaç ã o so cial, por to<strong>da</strong> parte<br />

en c o ntra m o s padrõ e s se m e l h a nt e s que con h e c e m o s muito<br />

be m , que nos cho c a m e que não pod e m ser eliminad o s porqu e<br />

são os próprios padrõ e s primordiais.<br />

2. O câncer no nível celular<br />

85


A m an eira m ais se gur a de diagn o stic ar o cân c er enc o ntrad a<br />

pela m e di cin a é nos grupo s de células. Células can c erí g e n a s<br />

diferen cia m - se <strong>da</strong>s células saud á v ei s por seu cres ci m e n t o<br />

des ord e n a d o e caótic o. Na célula individual, impres si o n a o<br />

grand e tam a n h o do núcleo. Tal co m o se foss e a cab e ç a do<br />

e m pr e e n di m e n t o célula, ele contê m to<strong>da</strong> a inform a ç ã o<br />

nec e s s á ria para seu co m plic a d o funcion a m e n t o . Ele controla o<br />

m eta b olis m o , o cres ci m e n t o e a divisã o. A perv er sid a d e que<br />

gan h a expres s ã o no núcle o sup erdi m e n si o n a d o tem sua caus a<br />

na en or m e ativi<strong>da</strong>d e divisória <strong>da</strong> célula, que não mais<br />

des e m p e n h a suas tarefas e m conjunto co m as outras células e<br />

pas s a a atuar so br etud o na multiplicaç ã o de si m e s m a .<br />

Enquanto o núcle o é na ver<strong>da</strong>d e pequ e n o no m eta b olis m o<br />

nor m al, co m a caótica divisã o celular do ev e nt o can c erí g e n o<br />

ele cres c e para alé m de si m e s m o no mais puro sentido <strong>da</strong><br />

palavra, forne c e n d o um projeto atrás do outro para sua<br />

des c e n d ê n c i a. Até m e s m o os proc e s s o s de reg e n e r a ç ã o no<br />

interior do corp o celular são deixad o s para trás e m favor <strong>da</strong><br />

ince s s a nt e produç ã o de nova s gera ç õ e s de células.<br />

Este co m p o rta m e n t o lem br a as células joven s, ou seja, e m<br />

estad o e m bri o n ário, quan d o o objetivo é aci m a de tudo o<br />

cres ci m e n t o e a multiplicaç ã o . As células <strong>da</strong> m órula, aqu el e<br />

aglo m e r a d o de células e m que a vi<strong>da</strong> hum a n a se con c e ntra a<br />

princípio, não têm ain<strong>da</strong> que des e m p e n h a r qualqu er tarefa<br />

esp e ci alizad a, cui<strong>da</strong>n d o so m e n t e de sua multiplicaç ã o . Elas<br />

faze m isso atrav é s de anim a d a s divisõ e s e do resp e ctivo<br />

cres ci m e n t o . Ain<strong>da</strong> assi m, isso oc orr e de m an eira mais ord eira<br />

que co m as des c o n si d er a d a s células can c erí g e n a s . Além dos<br />

núcleo s celulare s sup erdi m e n si o n a d o s e sua exag er a d a<br />

tend ê n ci a à divisã o, a indiferen ci a ç ã o <strong>da</strong>s células tam b é m<br />

lem br a as form a s <strong>da</strong> prim eira etap a, ain<strong>da</strong> não ma dur a s. Em<br />

seu delírio de propa g a ç ã o elas des c uid a m muitas outras<br />

cois a s, perd e n d o muitas vez e s a cap a ci<strong>da</strong>d e de exe c utar<br />

co m plica d o s proc e s s o s m eta b ólic o s tais co m o a oxi<strong>da</strong>ç ã o .<br />

Enquanto, por um lado, regride m à primitiva etap a prepar atória<br />

86


<strong>da</strong> ferm e nt a ç ã o , por outro elas recup er a m a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

produzir sub stân ci a s que so m e n t e células e m bri o n ária s e fetais<br />

pos su e m . A m e di cin a cha m a es s e novo des p ertar e es s a<br />

reativaç ã o de gen e s <strong>da</strong>s prim eiras fas e s do des e n v o l vi m e n t o<br />

de anaplasia. O que extern a m e n t e se supõ e ser um cao s faz<br />

sentido do ponto de vista do cân c er. Ele recup er a cap a ci<strong>da</strong>d e s<br />

primordiais e para isso elimina a esp e ci alizaç ã o . Até m e s m o<br />

es s a elimina ç ã o apres e nt a um a vantag e m . É ver<strong>da</strong>d e que a<br />

oxi<strong>da</strong>ç ã o , por exe m pl o, é m ais eficient e que a ferm e nt a ç ã o ,<br />

ma s esta é e m grand e m e di<strong>da</strong> indep e n d e n t e de forne c e d o r e s .<br />

Enquanto as células nor m ai s dep e n d e m <strong>da</strong> respiraç ã o para o<br />

forneci m e n t o , via san gu e fresc o , de oxig êni o, um a célula que<br />

se limita à ferm e nta ç ã o é e m grand e m e did a autôn o m a .<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , a célula can c erí g e n a tem m e n o s<br />

nec e s si d a d e de co m u nic ar- se co m suas vizinha s, o que é<br />

vantajo s o se con sid er a m o s suas pés si m a s relaç õ e s de<br />

vizinhan ç a. Enquanto as células nor m ai s têm o que se cha m a<br />

de inibidor de contato, que susp e n d e seu cres ci m e n t o quan d o<br />

en c o ntra m outros corn o s celular e s, as células can c erí g e n a s se<br />

co m p o rta m exata m e n t e ao contrário. Não tend o fronteiras para<br />

resp eitar, elas invad e m territórios estran g eir o s co m brutali<strong>da</strong>d e.<br />

É co m pr e e n s í v el que, co m isso, elas des p ert e m a hostili<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong> vizinhan ç a. Desc o briu- se há pouc o que as células<br />

can c erí g e n a s não se acanha m ne m m e s m o e m<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e es cr avizar outras células. Com o são<br />

de m a s i a d o primitivas para exe c utar proc e s s o s m eta b ólic o s<br />

diferen ciad o s , elas utilizam células nor m ai s e as priva m dos<br />

frutos de seu trabalh o. A célula can c erí g e n a não tem<br />

es crúpulo s e so m e n t e se preo c up a, <strong>da</strong> m an eir a m ais eg oí sta,<br />

co m seu cres ci m e n t o , e isso até m e s m o e m relaç ã o à sua<br />

própria prog ê ni e, form a d a exata m e n t e à sua imag e m . Muitas<br />

vez e s , tam b é m , os próprios pais fica m no ca min h o , sup er a d o s<br />

pelo des e n v o lvi m e nt o furios o e privad o s de provis ório s.<br />

Encontra m - se, freqü e nt e m e n t e , células m ortas, necr o s a d a s , no<br />

interior dos tum or e s , indican d o sim b olic a m e n t e que a<br />

m e n s a g e m central des s e novo cres ci m e n t o é a m orte.<br />

87


A regr e s s ã o <strong>da</strong> célula can c erí g e n a a um padrã o de vi<strong>da</strong><br />

anterior m o stra- se tam b é m e m sua atitude parasita. Ela tom a<br />

tudo aquilo que pod e con s e g uir e m alim e nta ç ã o e en er gi a se m<br />

estar dispo sta a <strong>da</strong>r algo e m troca ou a participar <strong>da</strong>s tarefas<br />

sociais que oc orr e m e m qualqu er org anis m o . Ela, assi m,<br />

exa g er a um tipo de co m p o rta m e n t o que ain<strong>da</strong> é apropriad o<br />

para células e m bri o n árias. Evidente m e n t e , no entanto, aquilo<br />

que se tolera e m um a crianç a pequ e n a torna- se um proble m a<br />

e m um adulto.<br />

Ao ignorar to<strong>da</strong>s as fronteiras, rev ela. se um outro pas s o<br />

atrás. Assim co m o as crianç a s apren d e m pouc o a pouc o a<br />

resp eitar limites, e m seu proc e s s o de am a d ur e ci m e n t o e<br />

diferen cia ç ã o as células tam b é m aprend e m a resp eitar<br />

estruturas <strong>da</strong>d a s e a per m a n e c e r dentro <strong>da</strong> m oldura prevista<br />

para elas. As células can c erí g e n a s , ao contrário, sa e m <strong>da</strong><br />

m oldura e deixa m para trás tudo o que apren d er a m ao long o<br />

<strong>da</strong> ev oluç ã o . Elas não pod e m controlar ne m fronteiras vitais,<br />

ne m as grand e s estruturas do corp o. Elas perd e m totalm e nt e<br />

aqu el e padrã o para o qual fora m destinad a s original m e nt e.<br />

Uma célula secr et or a <strong>da</strong> muc o s a nor m al do intestino se dividirá<br />

uma e outra vez para aten d er às nec e s si d a d e s de um<br />

org anis m o m ai or, o intestino, m a s não es c a p ar á <strong>da</strong> m oldura<br />

prevista para ela e suas iguais, esp alhando - se pelo intestino. A<br />

célula intestinal que deg e n e r a e m cân c er real m e nt e se<br />

deg e n e r a, mud a de esp é ci e, ab and o n a tudo o que é esp e cifico<br />

do intestino e segu e seu próprio ca minh o eg oísta. O padrã o<br />

intestino que foi <strong>da</strong>d o de ante m ã o tom a- se de m a si a d o restrito<br />

para ela, que entã o salta so br e suas fronteiras de m an eira tão<br />

revolucion ária co m o destrutiva.<br />

À m e di<strong>da</strong> que os ca m p o s m orfo g e n é ti c o s m e n ci o n a d o s<br />

antes fore m sen d o pes quis a d o s , pos siv el m e n t e se che g ar á a<br />

uma co m pr e e n s ã o m ais profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> proble m á tic a do cân c er.<br />

Assim co m o ver o probl e m a - no plan o gen étic o - e m urna<br />

mutaç ã o , tem igualm e nt e sentido ab ord á- lo a partir do ângulo<br />

cintilante dos ca m p o s form ativo s. O proble m a entã o pas s a a<br />

estar no ab and o n o <strong>da</strong> m oldura pree sta b el e ci d a. Com isso, o<br />

88


probl e m a se esten d eri a para alé m <strong>da</strong> célula individual,<br />

tornan d o- se um probl e m a do tecido ou órg ã o afetad o, que não<br />

esta mais e m posiç ã o de impor seu padrã o a to<strong>da</strong> s as células<br />

individuais. Este principio pod eria co m pl etar a explicaç ã o<br />

gen étic a, já que e m am b o s os cas o s expres s a- se na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> o tem a <strong>da</strong> eva s ã o <strong>da</strong>s nor m a s esta b el e ci d a s . De fato, o<br />

cân c er é tanto um probl e m a do m ei o co m o <strong>da</strong> célula<br />

individual 30 .<br />

As tend ê n ci a s de regr e s s ã o a que nos referim o s apar e c e m<br />

até m e s m o no no m e , já que cân c er é aqu el e anim al con h e ci d o<br />

principal m e nt e por an<strong>da</strong>r para trás. O caran g u ej o, que tam b é m<br />

é acus a d o co m o sen d o resp o n s á v el pelo batis m o , tamp o u c o se<br />

m o vi m e nt a para a frente, e sim de lado. As expr e s s õ e s<br />

“krab b e ln" e "heru m kr e b s e n" [= arrastar- se], utiliza<strong>da</strong> s para<br />

aqu el e s pen o s o s esforç o s que não leva m adiante, den ot a m<br />

tipos de m o vi m e n t o para a frente que não são des s e m e l h a n t e s<br />

dos m o vi m e n t o s executa d o s pelo s pacient e s ante s <strong>da</strong> erupç ã o<br />

do cân c er. Não se pod e explicar a orig e m do no m e "cânc er" de<br />

man eira inequív o c a . Mas até m e s m o a derivaç ã o apre s e nt a d a<br />

pela m e dicin a, a de um a form a de cân c er <strong>da</strong> ma m a cujas<br />

células dev or a m o tecido co m p o n d o a form a de uma pinça,<br />

m e s m o isso apo nta para um a direç ã o se m e l h a nt e 31 . Quem<br />

quer que tenha cunh a d o es s e no m e , enc o ntr ou a es s ê n ci a <strong>da</strong><br />

imag e m <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

3. A gênese do câncer<br />

No que se refer e à gên e s e do cân c er no nível celular,<br />

atual m e nt e os pes q uis a d o r e s são pratica m e n t e unâni m e s e m<br />

rec o n h e c e r que as mutaç õ e s ocup a m o prim eiro plan o 32 . A<br />

palavra ve m do latim e significa m o dificaç ã o . Caso um a célula<br />

seja estimulad a durante temp o suficiente, pod e sofrer<br />

m o dificaç õ e s drástica s que têm orige m no nível do m at erial<br />

gen étic o. Os estí m ul o s que prep ar a m es s e ca minh o pod e m ser<br />

os mais variad o s: m e c â ni c o s , quí mic o s ou físico s. Press ã o<br />

89


prolon g a d a , o alcatrão dos cigan o s ou radiaç ã o pen e trant e são<br />

algu m a s <strong>da</strong>s pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

As células do tecido corresp o n d e n t e pod e m con s e g uir<br />

suportar a estimula ç ã o continua por muito tem p o , ma s e m<br />

algu m m o m e n t o um a delas é sup er e sti m ulad a e deg e n e r a . Ela,<br />

no mais puro sentido <strong>da</strong> palavra, m o difica seus gen e s e se gu e<br />

seu próprio ca minh o que, no entanto, leva na ver<strong>da</strong>d e a um a<br />

eg o- trip. Ela co m e ç a algo totalm e nt e nov o para suas<br />

circunstânci a s, dedic a n d o - se ao cres ci m e n t o e à autorealizaç<br />

ã o . Um dos no m e s m é di c o s para o cân c er é<br />

ne o plas m a . Ele expres s a es s e "novo cres ci m e n t o". Aquilo que<br />

para corp o repres e nt a um perig o de vi<strong>da</strong> é, para a célula<br />

martiriza<strong>da</strong> por tanto temp o, um ato de libertaç ã o . Agora tudo<br />

de pend e de o corp o dispor de suficiente esta bili<strong>da</strong>d e e pod er<br />

de defe s a para derrotar a insurreiç ã o <strong>da</strong>s células. Hoje e m dia<br />

os pes q uis a d o r e s parte m do principio de que células<br />

deg e n e r a m co m relativa freqü ê n ci a, m a s torna m - se inofen siva s<br />

graç a s a um bo m siste m a de defe s a. A fraqu ez a <strong>da</strong>s defe s a s<br />

do org anis m o tem portanto um significad o decisivo para o<br />

surgim e nt o do cân c er. De fato, é freqü e nt e en c o ntrar e m<br />

retrosp e ct o um colap s o <strong>da</strong>s defe s a s justa m e nt e na ép o c a e m<br />

que se presu m e que o tum or tenha surgido. De qualqu er<br />

man eira, ne m se m pr e é fácil es clar e c e r es s e ponto. A rapidez<br />

do des e n v o l vi m e n t o dep e n d e na ver<strong>da</strong> d e do tipo de tum or, ma s<br />

por outro lado flutua tam b é m e m tum or e s do m e s m o tipo,<br />

dep e n d e n d o <strong>da</strong> situaç ã o geral. Muitas vez e s , um tum or já<br />

existe há ano s no m o m e n t o e m que é des c o b e rto, tend o um<br />

pes o de cerc a de um gra m a e con sistindo de milhõ e s de<br />

células. Deste ponto de vista, ningu é m pod e sab er co m certez a<br />

se tem cân c er ou não. Nós provav el m e n t e esta m o s se m pr e<br />

tend o cân c er, só que o siste m a imun oló gi c o continua sen d o<br />

sen h o r <strong>da</strong> situaç ã o . Isto tam b é m pod e ser um a razã o para o<br />

terror inaudito que o tem a cân c er infunde.<br />

90<br />

4. Os níveis de significação do evento cancerígeno


O co m p o rta m e n t o <strong>da</strong> célula can c erí g e n a m o stra uma<br />

problemática de crescimento co m o tem a de fundo. Após<br />

muita con sid er a ç ã o e cautela, a célula decid e fazer o contrário.<br />

Cresci m e nt o caótic o e trans b or d a nt e se m cui<strong>da</strong>d o e se m<br />

con sid er a ç ã o que não poupa ne m territórios estran h o s ne m a<br />

própria bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Em con s e q ü ê n c i a, as leis do cres ci m e n t o<br />

saud á v el são ignorad a s . A célula can c erí g e n a se colo c a acim a<br />

<strong>da</strong>s regra s de conviv ê n ci a nor m al dentro <strong>da</strong> ass o ci a ç ã o de<br />

células e, se m pudor, romp e tabus de importân cia vital. Em<br />

lugar de assu mir o lugar que lhe foi desig n a d o e cumprir co m<br />

seu dev er, ela sai perig o s a m e n t e dos limites e <strong>da</strong> esp é ci e.<br />

Dedican d o - se a uma se]vag e m e eg o c ê n tric a ativi<strong>da</strong>d e<br />

divisória, ela se divide para todo s os lado s. A vizinhan ç a e até<br />

m e s m o as regiõ e s mais afastad a s do corp o co m e ç a m a sentir<br />

sua agr e s s ã o brutal. A eg o- trip form a- se devid o a um a ênfas e<br />

exc e s siv a na cab e ç a <strong>da</strong>s células, es s e s núcle o s<br />

sup erdi m e n si o n a d o s , es s e s centro s hidro c ef álic o s co m sua<br />

ativi<strong>da</strong>d e fren étic a. De fato, tudo tem de ac o nt e c e r na cab e ç a<br />

<strong>da</strong> célula can c erí g e n a , to<strong>da</strong> sua des c e n d ê n c i a é form a d a<br />

exata m e n t e à sua imag e m . Assim, ela é totalm e nt e autárquic a<br />

e cria seus filhotes se m aju<strong>da</strong> extern a, virge m por assi m dizer.<br />

Com es s a prole, ela vai de cab e ç a contra a pared e , no mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o sentido <strong>da</strong> palavra. Nem m e s m o as m e m b r a n a s<br />

basai s, os mais importante s muro s fronteiriço s entre os tecido s,<br />

pod e m resistir às suas agre s s õ e s .<br />

A célula can c erí g e n a de m o n s tr a <strong>da</strong> m e s m a m an eir a crua<br />

seu en or m e problema de comunicação, reduzind o to<strong>da</strong> s as<br />

relaç õ e s de vizinhan ç a a um a política <strong>da</strong> cotov el a d a<br />

agre s siv a m e n t e reprimi<strong>da</strong>. Com a en er gia nas ci<strong>da</strong> de sua<br />

imaturi<strong>da</strong>d e virginal, ela não tem es crúpulos em fazer valer a lei<br />

do mais forte e, espr e m e n d o seus vizinho s mais frág eis contra<br />

a pared e, ela os destrói ou os transfor m a e m es cr av o s . Ela<br />

sacrifica o ac e s s o ao padrã o <strong>da</strong>s estruturas adultas e m favor<br />

<strong>da</strong> indep e n d ê n c i a. Ela desistiu <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o co m o ca m p o<br />

de des e n v olvi m e nt o para o qual unha sido destinad a e m favor<br />

91


do eg oí s m o e de reivindic a ç õ e s de onipot ên ci a e imortali<strong>da</strong>d e.<br />

O proble m a de co m u nic a ç ã o ganh a expr e s s ã o sim b ólic a na<br />

respiraç ã o celular destruí<strong>da</strong>, já que a respiraç ã o repre s e nt a o<br />

inter- câ m bi o e o contato.<br />

5. Fases de desenvolvimento do sintoma<br />

A imag e m deline a d a até ag or a parec e fazer justiça so m e n t e<br />

a uma pequ e n a parte dos paci ent e s de cân c er pois este s, de<br />

uma man eira geral, apre s e nt a m um padrã o de co m p o rta m e n t o<br />

que parec e antes o contrário. Isso se dev e a que o padrã o<br />

reprimido do cân c er quas e se m pr e, por um lado, co m p e n s a , e<br />

por outro des cr e v e tais perfis de pers o n ali<strong>da</strong>d e na ép o c a<br />

anterior ao surgi m e nt o do sinto m a . Mas nesta fas e o corp o<br />

tam b é m apres e nt a um a imag e m muito diferente. É o estági o <strong>da</strong><br />

excitaç ã o contínua, que os tecido s e suas células tolera m se m<br />

reagir. Elas tenta m se proteg er e ergu er barreiras na medi<strong>da</strong> do<br />

pos sív el para, atrav é s <strong>da</strong> imo bili<strong>da</strong>d e, so br e viv er, ou seja,<br />

suportar a des a gr a d á v e l situaç ã o . Caso uma célula<br />

exp eri m e nt e reb el ar- se contra a estimula ç ã o prolon g a d a e<br />

tente seguir seu próprio ca min h o , deg e n e r a n d o , saind o <strong>da</strong><br />

esp é ci e, es s a insurreiç ã o é imediata m e n t e reprimi<strong>da</strong> pelo<br />

siste m a imun ol ó gic o .<br />

Neste padrã o, que corresp o n d e à prim eira fas e <strong>da</strong> do e n ç a ,<br />

fica caract eriza<strong>da</strong> a pers o n ali<strong>da</strong>d e típica do cân c er. São<br />

pes s o a s extre m a m e n t e a<strong>da</strong>ptad a s que tenta m viver <strong>da</strong> man eira<br />

mais desp er c e b i d a pos sív el, ade q u a n d o - se às nor m a s e jam ais<br />

inco m o d a n d o algué m co m as próprias exig ê n ci a s. Elas e m<br />

grand e m e di<strong>da</strong> ignora m os des afio s para cres c e r<br />

espiritual m e nt e e para o des e n v olvi m e nt o aní mic o , já que de<br />

man eira algu m a quer e m se exp or. Sua vi<strong>da</strong> é pouc o<br />

estimulant e e m um duplo sentido: por um lado elas evita m,<br />

se m pr e que pos sív el, exp eriên ci a s novas que pod eria m<br />

m o vi m e nt ar sua vi<strong>da</strong>, já que mal se atrev e m a aproxi m ar- se de<br />

suas fronteiras. Elas trata m de ignorar os pouc o s estí mulo s que<br />

92


omp e m sua couraç a defen siva. A repres s ã o <strong>da</strong>s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de exp eriên ci a s- limite reflete- se<br />

imp er c e ptiv el m e n t e na interrupç ã o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e defen siva do<br />

corp o, que m ant ê m tudo se g ura m e n t e so b control e.<br />

Experiên cias que ultrapas s a m os limites ou simpl e s m e n t e<br />

algu m a inofen siva pula<strong>da</strong> de cerc a são sufoc a d a s ain<strong>da</strong> e m<br />

gér m e n para, a qualqu er preç o, mant er a situaç ã o co stu m eir a<br />

co m o se m pr e.<br />

O degr au seguinte <strong>da</strong> es c al a d a m o stra co m o es s e preç o<br />

pod e ser alto: é quan d o a corrent e de impuls o s de cres ci m e n t o<br />

estan c a d a durante ano s romp e o dique <strong>da</strong> repre s s ã o e goza<br />

des c o ntr olad a m e n t e a vi<strong>da</strong> até o es g ota m e n t o . Após o<br />

rompi m e nt o do dique, não há ne m volta ne m parad a. O corp o<br />

lanç a- se àqu el e outro extre m o que até entã o tinha reprimido<br />

abn e g a d a m e n t e . Freqü e nt e m e n t e o fenô m e n o <strong>da</strong> repres s ã o<br />

m o stra- se tanto na história aní mic a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m o na história<br />

<strong>da</strong>s do e n ç a s do corp o. Não é raro en c o ntrar as cha m a d a s<br />

ana m n e s e s vazias, ou seja, que o afetad o não apre s e nt a v a o<br />

m e n o r sinto m a ano s e até déc a d a s ante s do surgim e nt o do<br />

cân c er. O que à prim eira vista pare c e um a saúd e imaculad a,<br />

rev ela- se co m o rigoros a repre s s ã o a um olhar mais atento. Não<br />

so m e n t e os des vi o s aní mic o s <strong>da</strong> nor m a, os des vi o s corp or ais<br />

tam b é m fora m totalm e nt e reprimido s . Ness e contexto, o psicoonc<br />

ol o gi sta Wolf Büntig fala de "nor m o p atia" quan d o o ater- se<br />

rígi<strong>da</strong> e inflexivel m e nt e às nor m a s transfor m a- se e m do e n ç a . O<br />

que pod eria pare c e r co m o contenç ã o simp átic a ou nobr e, pod e<br />

ser na ver<strong>da</strong>d e repres s ã o de impuls o s vitais e, e m última<br />

instância, vi<strong>da</strong> não vivi<strong>da</strong>. Assim co m o a célula so b<br />

estimulaç ã o forte e con sta nt e faz tudo o que pod e para<br />

continuar des e m p e n h a n d o seu dev er co m o célula do intestino<br />

ou do pulm ã o , os pacient e s tam b é m tenta m pers e v e r ar no<br />

cumpri m e nt o satisfatório de seus dev er e s co m o filha, filho,<br />

mã e, pai, sub ordin a d o , etc., e m detrim e nt o de suas<br />

nec e s si d a d e s individuais. O próprio des e n v olvi m e nt o dev e ficar<br />

para trás, co m o ac o nt e c e co m a célula martiriza<strong>da</strong>.<br />

De man eira corresp o n d e n t e , a tend ê n ci a fun<strong>da</strong> m e n t al des s a<br />

93


vi<strong>da</strong> "não vivi<strong>da</strong>" é tam b é m reprimi<strong>da</strong>. Muitas vez e s o afetad o<br />

não tem con s ci ê n ci a de sua dispo siç ã o depr e s siva latente, <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira co m o não é con s ci e nt e <strong>da</strong> repres s ã o <strong>da</strong>s<br />

tentativas de insurreiç ã o do corp o. O m ei o am bi e nt e não<br />

perc e b e na<strong>da</strong>, já que ele não m o stra nenhu m a inclinaç ã o a<br />

participar diss o, de m o n s tr a n d o m e n o s ain<strong>da</strong> qualqu er<br />

dispo siç ã o a real m e nt e co m p artilhar sua vi<strong>da</strong> co m outros. É<br />

so m e n t e quan d o o dique é rompid o e a vi<strong>da</strong> reprimi<strong>da</strong> irromp e<br />

que a dispo siç ã o de participar ve m à língua de m an eira livre e<br />

ve e m e n t e .<br />

Na fase do surgim e nt o do sinto m a, os afetad o s já são de<br />

fato "pacient e s", eles são sofred or e s ass o m b r o s a m e n t e<br />

pacient e s . Indep e n d e nt e s e m grand e m e di<strong>da</strong> do m ei o que os<br />

cerc a e e m prol <strong>da</strong>s bo a s relaç õ e s de vizinhan ç a, eles o temp o<br />

todo dão m o stra s de amig á v el con sid er a ç ã o . Além diss o, eles<br />

são pes s o a s confiáv eis co m que m se pod e contar, e m b o r a<br />

esteja m rep elind o os impuls o s de mud a n ç a ain<strong>da</strong> e m gér m e n .<br />

Em seu esforç o para não inco m o d a r e não ser um fardo para<br />

ningu é m , não é difícil para os pacient e s fazer amig o s . Mas isso<br />

imp e d e que se form e m amizad e s profun<strong>da</strong> s, já que eles não<br />

con h e c e m ne m a si m e s m o s e m sua individuali<strong>da</strong>d e e não<br />

pod e m ne m m e s m o m o strar- se real m e nt e . Com o eles não<br />

apóia m a si m e s m o s , pare c e fácil ao s outros estar a seu lado.<br />

Então, quan d o no dec orr er <strong>da</strong> do e n ç a apar e c e m traç o s de<br />

caráter m ais profund o s, porqu e eles co m e ç a m a afirmar sua<br />

própria vi<strong>da</strong>, não é fácil ne m para os pacient e s ne m para o<br />

m ei o circund a nt e ac eitar es s a s faceta s totalm e nt e inesp er a d a s .<br />

Os pacient e s nor m o p at a s têm freqü e nt e m e n t e a seu redor<br />

pes s o a s que estã o e m dívi<strong>da</strong> para co m eles. Com o eles<br />

se m pr e se esforç ar a m para fazer tudo direito e deixara m para<br />

trás o próprio cres ci m e n t o , pes s o a s co m um a ress o n â n ci a<br />

corre s p o n d e n t e pas s a m a estar ag or a a seu lado.<br />

O co m p o rta m e n t o social dos pacient e s pod e ser des crito<br />

exe m pl ar m e n t e a partir do co m p o n e n t e social a que cha m a m o s<br />

"maioria silencio s a", à qual eles m e s m o s perten c e m muitas<br />

vez e s . Com razã o eles se con sid er a m pilares <strong>da</strong> soci e d a d e .<br />

94


Entretanto, por trás des s a fachad a de orde m m o d el ar<br />

espr eita m to<strong>da</strong>s aqu el a s caract erística s contrárias que se<br />

tom a m evid e nt e s no nível substituto, no corpo, quan d o o<br />

segun d o está gi o do surgi m e nt o do cân c er se instaura. O que<br />

jam ais foi ventilad o na con s ci ê n ci a en c o ntra ag or a seu palc o,<br />

um palco ond e ac o nt e c e m so br etud o dra m a s , ou seja, “jogo s<br />

de so m b r a".<br />

Os impuls o s de mud a n ç a que fora m rep elido s ao long o dos<br />

ano s se estend e m pelo corpo so b a form a de mutaç õ e s .<br />

Esque c e - se o que se faz ou se deixa de fazer, ag or a a única<br />

cois a que interes s a é a própria eg o- trip. A perfeita a<strong>da</strong>pta ç ã o<br />

social transfor m a- se e m parasitis m o eg oí sta que não resp eita<br />

ne m a tradiçã o ne m os direitos alheio s. E se ante s a pes s o a<br />

não se per mitiu uma única opinião própria, e m e r g e ag or a <strong>da</strong>s<br />

so m b r a s a long a m e n t e reprimi<strong>da</strong> preten s ã o de <strong>da</strong>r form a a<br />

todo o mund o (corpo) segun d o a própria imag e m . O org anis m o<br />

é saturad o de filiae , as filhas portad or a s <strong>da</strong> m orte. A<br />

se m e n t eira aní mic a reti<strong>da</strong> por long o temp o e m e r g e ag or a<br />

corp or al m e n t e e m temp o rec ord e e m o stra co m o era forte o<br />

des ej o até entã o não vivido de auto- realizaç ã o e de impo siç ã o<br />

dos próprios interes s e s .<br />

A erupç ã o do sinto m a pod e tom ar visível um a grand e parte<br />

<strong>da</strong>s reivindic a ç õ e s reprimi<strong>da</strong>s do eg o, e m contrast e co m o<br />

co m p o rta m e n t o do pacient e. Quando es s e s co m p o n e n t e s<br />

so m b ri o s sa e m à sup erfície, é principal m e nt e o m ei o<br />

circund a nt e que fica ad mirad o . Pess o a s até entã o pac ata s<br />

exig e m rep entina m e n t e que tudo gire e m turno delas e de "sua<br />

do e n ç a ". Tend o o diagn ó stic o co m o álibi, elas ag or a se<br />

atrev e m a virar a m e s a e deixar que os outros <strong>da</strong>n c e m<br />

segun d o sua músic a. A conten ç ã o e, literalm e nt e, o co m p a s s o<br />

pod e m ag or a ser atirado s so br e a amura d a para ser e m<br />

substituído s por son s totalm e nt e novo s. Pess o a s ideal m e nt e<br />

a<strong>da</strong>ptad a s rep entina m e n t e sa e m <strong>da</strong> raia e pula m a cerc a. Por<br />

mais des a g r a d á v el que tal atitude pos s a ser para o m ei o<br />

circund a nt e, há niss o um a grand e oportuni<strong>da</strong>d e para o afetad o .<br />

Caso a partir de ag or a os princípio s de transfor m a ç ã o , de auto-<br />

95


ealizaç ã o e de con s e c u ç ã o pas s e m a ser vivido s no plano<br />

aní mic o- espiritual e se torne m visíveis no nível social, o plano<br />

corp or al é aliviado. Entretanto, muitos pacient e s fora m tão<br />

long e no pap el de cumpridor <strong>da</strong>s nor m a s que che g a m a mant er<br />

o pap el de m ártir m e s m o e m fac e <strong>da</strong> m orte. Sem o alívio do<br />

plan o aní mic o, o princípio do eg o per m a n e c e voltad o<br />

exclusiva m e n t e para o palc o do corp o. As chan c e s de aca b ar<br />

co m o cân c e r são muito m elh or e s quan d o to<strong>da</strong> a pes s o a<br />

ad mite o confronto e não envia unica m e n t e o corpo co m o seu<br />

repre s e nt a nt e na batalha. Para ac a b ar real m e nt e co m algo, é<br />

nec e s s á ri o prim eiro ad miti- lo.<br />

Após a prim eira fas e de conten ç ã o e a sub s e q ü e n t e erupç ã o<br />

do cân c er, fase que muitas vez e s dura déc a d a s , confronta o<br />

pacient e a última etap a, de caquexia, co m um terc eiro padrã o.<br />

O co m o se entreg a à dev or a ç ã o de suas en er gias pelo cân c er.<br />

No sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, ele se deixa dev or ar<br />

se m ofer e c e r resistên ci a. A dev o ç ã o e a entre g a ao curs o do<br />

destino são vivido s sub stitutiva m e nt e pelo corp o. Ao final, todo<br />

pacient e viven cia este tem a. con s ci e nt e m e n t e , quan d o<br />

con s e g u e trazer a tem átic a de volta ao nível espiritual, ou<br />

incon s ci e nt e m e n t e cas o o corp o seja ab and o n a d o e m sua<br />

atitude de entre g a e o pacient e continu e lutand o contra o<br />

inevitáv el. Parec e hav er aqui um a contradiç ã o , já que<br />

imputa m o s ao afetad o o fato de ele não lutar o suficiente,<br />

deixand o- se con duzir pela vontad e dos outros. Neste ponto há<br />

um enc o ntr o de dois plan o s, dos quais nos ocup ar e m o s no<br />

próxim o capitulo. Por um lado, o pacient e de fato luta muito<br />

pouc o, por outro lado ele luta e m de m a si a. Em relaç ã o a seu<br />

am bi e nt e, que o degr a d a a deter min a d a s funçõ e s , ele<br />

decidi<strong>da</strong> m e n t e luta pouc o. Para isso ele se defend e tanto m ais<br />

de suas tarefas vitais, seu ca min h o e seu destino. Ele pod eria<br />

ab and o n a r es s a resistên ci a co m to<strong>da</strong> a confianç a. Em qualqu er<br />

cas o , seu sinto m a o força a isso, pois tanto ven c e n d o o cân c er<br />

co m o sen d o ven cid o por ele, a fase de rendiç ã o oc orr er á 33 .<br />

96


6. Regressão e religião<br />

Paralela m e n t e àquilo que foi dito até ag or a, torna- se claro na<br />

regr e s s ã o um outro m otivo básic o do ado e ci m e n t o por cân c er<br />

que, igualm e nt e m er g ulh a d o nas so m b r a s , é vivido de man eira<br />

substitutiva pelo corp o. Regres s ã o é a volta ao s inícios, à<br />

orig e m . Os afetad o s perd er a m o contato co m sua orige m<br />

primária, as células do tum or têm de viver o tem a e m si<br />

m e s m a s e o faze m corpor al m e nt e à sua m an eir a letal. A<br />

pes s o a evid e nt e m e n t e precis a do relacion a m e n t o vivo co m<br />

suas raízes, a re- ligio.<br />

Mas isso não significa ap en a s o pas s o atrás m a s tam b é m<br />

uma reto m a d a . Som e nt e o pas s o atrás que se tom a um a<br />

religaç ã o torna o progr e s s o real pos sív el. Essa apar e nt e<br />

contradiç ã o é expres s a tam b é m na imag e m do cân c er. Por um<br />

lado as células dão um pas s o atrás e retroc e d e m às primitivas<br />

form a s juvenis e por outro, co m a tend ê n ci a à onipot ên ci a e à<br />

imortali<strong>da</strong>d e , progride m furios a m e n t e .<br />

Tal contradiç ã o so m e n t e pod e ser res olvi<strong>da</strong> pelo sentido<br />

primário <strong>da</strong> religião. Religio quer dizer religaç ã o co m a orige m ,<br />

co m a uni<strong>da</strong>d e. Por outro lado, esta uni<strong>da</strong>d e cha m a d a de<br />

Paraís o pela cristand a d e , é tam b é m o objetivo do ca minh o de<br />

des e n v olvi m e nt o cristão. Segund o a Bíblia, os ho m e n s prov ê m<br />

do Paraís o e um dia dev e m voltar para lá. É o ca min h o que vai<br />

<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e incon s ci e nt e para a uni<strong>da</strong>d e con s ci e nt e. A expulsã o<br />

do Paraís o é co m pl et a d a pelo retorn o do filho pródig o à cas a<br />

de seu pai. Pode m o s ver quã o profun<strong>da</strong> m e n t e este padrã o<br />

arqu etípic o está enraizad o no ser hum a n o pelo fato de a<br />

religião hindu des cr e v e r o ca minh o de m an eir a bastant e<br />

análo g a: “Daqui para aqui”. O antigo sím b ol o do urob or o, a<br />

serp e nt e que m ord e a própria caud a, é a imag e m mais<br />

oportuna dest e padrã o ver<strong>da</strong>d eir a m e n t e abran g e n t e . As<br />

religiõ e s se m pr e des cr e v e m o ca minh o rum o à ilumina ç ã o , ou<br />

seja, rum o à imortali<strong>da</strong>d e , co m uma ca minhad a para a frente<br />

e m direç ã o à saí<strong>da</strong>, e o ca minh o co m o um m o vi m e n t o circular,<br />

ou seja, e m espiral. Consider a ç ã o e cui<strong>da</strong>d o são igual m e nt e<br />

97


nec e s s á ri o s e visa m o mes m o objetivo, a uni<strong>da</strong>d e.<br />

Nos pacient e s de cân c er, a recup er a ç ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a <strong>da</strong><br />

orig e m co m a pergunta "De ond e venh o?", assi m co m o a<br />

persp e ctiva futura, co m a pergunta "Para ond e vou?", saíra m<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a para m er g ulh ar nas so m b r a s , pas s a n d o a ser<br />

repre s e nt a d a s corp or al m e n t e . O cui<strong>da</strong>d o e con sid er a ç ã o<br />

exa g er a d o s co m que os afetad o s se m ant ê m nos estreito s<br />

limites <strong>da</strong> vizinhan ç a e do futuro con cr et o s m o stra m co m o eles<br />

se tom ar a m míop e s para o significad o direto <strong>da</strong>s perguntas.<br />

Eles têm tanta con sid er a ç ã o para co m as outras pes s o a s , sua<br />

m or al e suas regra s de vi<strong>da</strong> e vão ao en c o ntro do am a n h ã e de<br />

tudo o que é nov o e distante co m tanto cui<strong>da</strong>d o, que não so br a<br />

esp a ç o algu m para as grand e s que st õ e s do pas s a d o e do<br />

futuro. O proc e s s o can c erí g e n o , co m sua regr e s s ã o ao abis m o<br />

e seu avan ç o des e s p e r a d o , É um esp el h o tão terrível co m o fiel<br />

<strong>da</strong> situaç ã o .<br />

O reto m o con s ci e nt e ao inicio, co m suas pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

ilimita<strong>da</strong> s, e a bus c a de valor e s etern o s , são ca minh o s<br />

totalm e nt e valido s. O deslo c a m e n t o para o incon s ci e nt e, ao<br />

contrário, leva à “do e n ç a co m o ca minh o". E tam b é m es s e<br />

ca min h o é se m pr e um ca min h o que, m e s m o sen d o terrível, traz<br />

e m si a pos sibili<strong>da</strong>d e de <strong>da</strong>r frutos. É algo assi m co m o um a<br />

última sacudid a para que se desp ert e para as próprias<br />

nec e s si d a d e s .<br />

É aí que se enc aixa a exp eriên ci a psicot er ap ê utic a de que<br />

freqü e nt e m e n t e os pacient e s de cân c er são profun<strong>da</strong> m e n t e<br />

"arreligio s o s ". E ain<strong>da</strong> que muitos perfis de pers o n ali<strong>da</strong> d e<br />

pareç a m contradiz er isso e enfatize m a religiosi<strong>da</strong>d e e a<br />

dev o ç ã o ao destino, trata- se na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s <strong>da</strong>qu el a<br />

crendic e de igreja que não tem nenhu m ponto de contato co m<br />

a religio, ma s que deixa que a vi<strong>da</strong> seja ad ministrad a e<br />

regula m e n t a d a pela autori<strong>da</strong>d e ecle siá stic a. Aferrar- se a<br />

pres criç õ e s religios a s é na ver<strong>da</strong> d e o contrario <strong>da</strong> religio e<br />

deixa o cora ç ã o frio e vazio. O que parec e um a impres si o n a nt e<br />

vi<strong>da</strong> religios a para o exterior, evid e nt e m e n t e pod e ser oc o no<br />

íntimo. A falta de vi<strong>da</strong> no centro de uma ativi<strong>da</strong>d e extern a<br />

98


exa g er a d a é repres e nt a d a anato mi c a m e n t e por muitos tum or e s<br />

que têm seus centro s necr o s a d o s (= partes m ortas). De<br />

man eira se m el h a nt e, a dev o ç ã o , a entreg a ao destino<br />

des c o b e rta pelo s so ci ólo g o s <strong>da</strong> m e dicin a não dev e ser<br />

confundi<strong>da</strong> co m a postura religios a do "Seja feita a Sua<br />

vontad e!". Na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s , trata- se de resign a ç ã o e m<br />

relaç ã o a um destino sentido co m o sup erior, ma s que não se<br />

ac eita. No m ais profund o intimo, a bas e <strong>da</strong> entreg a não é a<br />

confian ç a na criaç ã o de Deus, ma s sim o des e s p e r o e a<br />

impotênci a. Em vez de entre g ar- se à vi<strong>da</strong> e às suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s , os pacient e s poten ci ais de cân c er estã o<br />

entregu e s a seus cui<strong>da</strong>d o s e con sid er a ç õ e s a curto prazo e a<br />

um m e d o fun<strong>da</strong> m e n t al <strong>da</strong> existên cia.<br />

7. O câncer <strong>como</strong> caricatura de nossa reali<strong>da</strong>de<br />

Relatos so br e pes s o a s co m cân c er que fora m<br />

«ine s p er a d a m e n t e ceifad o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pela pérfi<strong>da</strong> do e n ç a na flor<br />

<strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e, no aug e de suas carreiras e de suas<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s " pare c e m contradiz ê- lo dia m etral m e nt e.<br />

Quando se ob s erva m as histórias de vi<strong>da</strong> que estã o ocultas por<br />

trás diss o, tal form a de falar reflete um a ass o m b r o s a cegu eira<br />

para tem a s so m b ri o s. Um olhar mais atento revela que o<br />

ac o nt e ci m e n t o não se deu de form a assi m tão rep entina e se m<br />

prévio s sinais de alar m e . Justam e nt e a falta de qualqu er<br />

reaç ã o corpor al e qualqu er sinto m a é um sinal de "nor m o p atia".<br />

A ênfas e nas grand e s resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s , quan d o exa min a d a<br />

co m precis ã o , revela que o afetad o cumpria co m o seus<br />

dev er e s se m se queixar. Respon s a bili<strong>da</strong>d e, ao contrário,<br />

significa a cap a cid a d e de <strong>da</strong>r um a resp o st a às nec e s s i d a d e s<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> 34 . Mas os paci ent e s poten ciais de cân c er não pos su e m<br />

es s a cap a ci<strong>da</strong>d e . Com o eles não pod e m impor limites e m al<br />

pod e m dizer não, eles facilm e nt e se deixa m so br e c arr e g a r co m<br />

obriga ç õ e s . Por outro lado, eles as assu m e m de bo m grad o,<br />

para <strong>da</strong>r um sentido extern o a suas vi<strong>da</strong>s - na falta de um<br />

99


sentido interno. Os logro s e êxitos obtido s são portanto bons<br />

disfarc e s - por trás dos quais pulula m sentim e nt o s de falta de<br />

sentido e depr e s s õ e s .<br />

A psiquiatria con h e c e co m o depr e s s ã o larval aqu el a s<br />

depr e s s õ e s por trás <strong>da</strong>s quais se oculta m sinto m a s físico s. Por<br />

oc a si ã o do ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , não é raro en c o ntrar<br />

depr e s s õ e s ocultas atrás do êxito extern o. Aqui, a larva é ti<strong>da</strong><br />

e m tão alta con sid er a ç ã o pela soci e d a d e que não se pod e ne m<br />

m e s m o pen s ar e m um sinto m a. Sob muitos ponto s de vista, a<br />

típica pers o n ali<strong>da</strong> d e can c erí g e n a é con sid er a d a m o d el ar. Ela é<br />

valent e e não agre s siv a, quieta e pacient e, atua de man eira<br />

equilibrad a e tão simp átic a porqu e não é eg oí sta, alé m diss o é<br />

desinter e s s a d a e solicita, pontual e m et ó dic a não lhe falta<br />

pratica m e n t e nen hu m dos ideais desta so ci e d a d e , e portanto<br />

não é de ad mirar que esteja intima m e n t e liga<strong>da</strong> a es s e<br />

sinto m a . O êxito so cial, ape s ar ou justa m e nt e devid o à rigidez<br />

interna, perten c e ao âm bito dos típico s ideais secun d ário s, mas<br />

se ajusta perfeita m e nt e à imag e m ideal do ho m e m m o d e r n o .<br />

Tamp o u c o se pod e neg ar que o cân c er obtê m um êxito<br />

impres si o n a nt e no plan o sup erficial. Pratica m e n t e nen hu m a<br />

outra do e n ç a pod e subjug ar um org anis m o e ajustá- lo a seu<br />

próprios desí g ni o s tão rapi<strong>da</strong> m e n t e , nenhu m a é tão tenaz e<br />

resistent e às medi<strong>da</strong>s defen siva s e terap êutic a s.<br />

Não é de ad mirar que tenha m o s tanto m e d o do cân c er, já<br />

que nen hu m outro sinto m a está mais equipad o para nos<br />

m o strar o esp el h o . O cân c er pers o nifica a transfor m a ç ã o dos<br />

digno s ideais secun d ário s no pólo opo st o, o principio do eg o<br />

total. A caricatura física des s e ideal costu m a ser levad a a m al,<br />

co m o to<strong>da</strong> caricatura. Mas se m pr e que tal oc orr e co m o um a<br />

caricatura des s e destino, isso não ac o nt e c e porqu e ela é falsa,<br />

ao contrário: ela se ajusta a ele e até m e s m o o sup er a.<br />

1 0<br />

0


8. Câncer e defesa<br />

Dos diagn ó stic o s e sinto m a s m e n ci o n a d o s , o cân c er<br />

repre s e nt a um proc e s s o de cres ci m e n t o e regr e s s ã o<br />

m er gulha d o no corp o. A este s dois so m a- se ain<strong>da</strong> um terc eiro<br />

co m p o n e n t e , a defe s a. A situaç ã o básic a do cân c er pod e criarse<br />

ao long o dos ano s se m che g ar à form a ç ã o de um tum or. A<br />

m e di cin a, e principal m e nt e a m e di cin a natural, con h e c e m es s a<br />

situaç ã o a cha m a m de pré- can c er o s a . Os pres s up o st o s<br />

aní mic o s des critos pod e m estar pres e nt e s há muito temp o,<br />

assi m co m o os pres s up o st o s físico s so b a form a dos estad o s<br />

carcin o g ê ni c o s e de estimulaç ã o corresp o n d e n t e s , e ain<strong>da</strong><br />

assi m o cân c er pod e ser disparad o so m e n t e apó s a oc orr ên ci a<br />

de deter min a d o s estí mulo s. Até entã o, é co m o se ele estive s s e<br />

pres o e subjug a d o por um siste m a imun ol ó gic o do min a d o r.<br />

Som e nt e o colap s o <strong>da</strong>s defe s a s do corp o lhe dá um a chan c e<br />

de form ar um tum or primário. O colap s o do siste m a de defe s a<br />

é detectad o por muitos paci ent e s , sen d o caract erizad o<br />

retrosp e ctiva m e n t e co m o uma ép o c a de estad o s de tens ã o e<br />

de angústia.<br />

A estreita relaç ã o entre o cân c er e o siste m a imun ol ó gic o é<br />

m o strad a ain<strong>da</strong> pelo fato de o cân c er utilizar o siste m a de<br />

defe s a que na ver<strong>da</strong>d e dev eria co m b a t ê- lo para esp alh ar- se.<br />

Ele é atac a d o e expuls o dos gân glio s linfático s pelo s linfócitos<br />

e utiliza os can ais linfático s para se guir adiante. Os gân glio s<br />

linfático s são lugar e s favoritos para o ataqu e. Ocupan d o as<br />

cas ern a s do equipa m e n t o militar do corpo e avan ç a n d o por<br />

suas estrad a s , o cân c er de m o n s tr a co m o seu ataqu e é<br />

corajo s o e que está dispo st o a ous ar tudo e m um confronto<br />

total. Por outro lado, lá m o stra- se tam b é m a fraqu ez a <strong>da</strong><br />

defe s a. Ela está literalm e nt e de mã o s ata<strong>da</strong> s. O cân c er<br />

con s e g u e ficar e m tal situaç ã o graç a s a um a ca m uflag e m<br />

perfeita. Assim co m o está e m posiç ã o de des ativar os “gen e s<br />

alterad o s" de suas células, o cân c er con s e g u e tam b é m deixar<br />

se m en er gia o siste m a que per mite rec o n h e c e r as células<br />

1 0<br />

1


des d e o exterior. Por trás des s a ca m uflag e m , as células<br />

can c erí g e n a s pod e m m et e m - se direta m e n t e na cova do leão,<br />

no centro de defe s a, se m ser e m rec o n h e c i d a s e, so br etud o ,<br />

impun e m e n t e . E nest e ponto que existe a chan c e de um a<br />

terapia m é dic o- bioló gic a no nível funcion al. Quando se<br />

con s e g u e des ar m a r as células can c erí g e n a s<br />

imun ol o gic a m e n t e , elas pas s a m a correr grand e perig o.<br />

A questã o do que, e m um nível m ais profund o, leva ao nãofuncion<br />

a m e n t o do siste m a de defe s a e à corre s p o n d e n t e<br />

situaç ã o de humilha ç ã o , pod e ser resp o n di<strong>da</strong> de man eira geral<br />

e não se limita ao proc e s s o can c erí g e n o . O fenô m e n o apar e c e<br />

e m cad a resfriad o: assi m que um a pes s o a está até o nariz e se<br />

fecha animic a m e n t e , o corp o, substitutiva m e n t e, abr e- se ao s<br />

ag e nt e s irritantes corre s p o n d e n t e s e o nariz con cr et o se fech a.<br />

Expres s o m e dic a m e n t e , uma fraqu ez a <strong>da</strong>s defe s a s deixa o<br />

afetad o sus c etív el. Quando a con s ci ê n ci a se fecha para os<br />

tem a s irritantes, o corpo precis a se abrir sub stitutiva m e n t e para<br />

os irritantes corresp o n d e n t e s . A defe s a imun ol ó gic a tom a- se<br />

entã o cad a vez m ais fraca na m e di<strong>da</strong> e m que a defe s a no nível<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a é exag er a d a .<br />

Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , o ser hum a n o está equipad o co m um a<br />

defe s a saud á v el e m am b o s os níveis. Evidente m e n t e , frente a<br />

um mund o estran h o ch ei o de perig o s, é importante proteg er as<br />

fronteiras do corp o co m a aju<strong>da</strong> de um siste m a imun oló gi c o<br />

vital. Nós precis a m o s igual m e nt e de um a certa defe s a aní mic a,<br />

para não ser m o s inun<strong>da</strong>d o s por impres s õ e s de m a si a d o fortes<br />

que nos fariam cair na psico s e . O objetivo, e m am b o s os<br />

níveis, é o ponto m é di o entre a ab ertura total e o fech a m e n t o 35<br />

ab s oluto. Caso se vá long e de m ai s e m um dos níveis, o outro é<br />

des e q uilibrad o na direç ã o contrária. Quem se fecha de m ai s na<br />

con s ci ê n ci a, sen d o portanto de m a s i a d o ave s s o ao s conflitos,<br />

força a ab ertura para as so m b r a s , e ela entã o e m er g e no corp o<br />

so b a form a de sus c etibili<strong>da</strong>d e ao s ag e nt e s patoló gic o s .<br />

O estad o ideal caract eriza- se por um a am pla ab ertura<br />

aní mic a ass e nt a d a so br e uma bas e de força. Pode- se deixar<br />

entrar tudo o que se imagin e se m precis ar tem er pela própria<br />

1 0<br />

2


saúd e aní mic a. Isso é pos sív el so br e a bas e de uma defe s a<br />

poten ci al m e n t e forte, que alé m diss o não entra e m açã o<br />

pratica m e n t e nunc a. Caso isso seja nec e s s á ri o, seu<br />

proprietário pod e confiar e m seu pod er de pen etraç ã o .<br />

Justam e nt e porqu e pod e dizer não de man eira decidi<strong>da</strong> e<br />

assi m proteg er seu esp a ç o vital, ele rara m e n t e a nec e s s ita. A<br />

defe s a que lhe corresp o n d e , graç a s a seu bo m treina m e n t o ,<br />

elimina qualqu er ag e nt e patoló gic o e está à altura de qualqu er<br />

exig ê n ci a. Exata m e nt e por não ser poup ad a, confrontan d o- se<br />

co m muitos des afio s e m um a vi<strong>da</strong> corajo s a, ela está se m pr e<br />

pronta para a luta e segur a <strong>da</strong> vitória. A principal razão de ela<br />

não correr o ris o de sucu m bir ao s ag e nt e s patoló gic o s dev e- se<br />

a que ela não é enfraqu e ci d a pelo plano aní mic o. Quem se<br />

deixa atac ar na con s ci ê n ci a e se defen d e lá m e s m o , não<br />

precis a e m p urrar o tem a para o corp o.<br />

O fecha m e n t o exag er a d o na con s ci ê n ci a e a con s e q ü e n t e<br />

ab ertura grand e de m ai s no corp o é muito m ais freqü e nt e e m<br />

um mun d o que obté m a maior parte de sua cultura e de sua<br />

civili<strong>da</strong>d e evitand o os conflitos. Quando o não- pod er- dizer- não<br />

que evita os conflitos m er gulha no corp o, volta a tornar- se<br />

visível so b a form a de incap a ci<strong>da</strong>d e de limitar- se. A exp eriên ci a<br />

de vi<strong>da</strong> cotidian a confirm a este principio. Uma pes s o a que<br />

enfrenta a vi<strong>da</strong> ab erta m e n t e (vital) dispõ e de um a defe s a<br />

corp or al saud á v el, sen d o portanto m e n o s prop e n s a a<br />

infecç õ e s . Uma pes s o a estreita, m e dr o s a , "peg ar á" mais<br />

ag e nt e s patoló gic o s e cultivará os resfriad o s corresp o n d e n t e s<br />

mais freqü e nt e m e n t e devido a seu m al equipa m e n t o de defe s a.<br />

Ao contrário, um a pes s o a entusias m a d a , que se inflam a co m<br />

um tem a, pratica m e n t e não pod e se resfriar, não e m um a<br />

situaç ã o tão ab erta. Todo s tivera m a exp eriên ci a de um a coriza<br />

fulminant e que des a p ar e c e por si m e s m a apó s a pes s o a<br />

pas s ar duas horas assistind o co m entusias m o um filme de<br />

susp e n s e . Som e nt e ao final do filme, quan d o se lem br a que o<br />

nariz estav a es c o rr e n d o , é que o nariz volta a se en c h er.<br />

É nec e s s á ri o que o bloqu ei o e o fech a m e n t o seja m muito<br />

profund o s para que o colap s o <strong>da</strong> defe s a seja tão co m pl et o a<br />

1 0<br />

3


ponto de per mitir o surgi m e nt o de um tum or. Tais con st el a ç õ e s<br />

aflora m quan d o um a pes s o a não se abr e mais para um<br />

asp e ct o es s e n ci al de sua vi<strong>da</strong>. Caso es s e contato já esteja por<br />

um fio e este se romp a brusc a m e n t e , é co m o se o fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

se romp e s s e . Caso um a pes s o a depr e s siva que pratica m e n t e<br />

não se co m u ni c a m ais co m o m ei o circund a nt e perc a a única<br />

pes s o a co m que m se relacion a, isso pod e real m e nt e<br />

ac o nt e c e r. Com o não participa mais do fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se m es s a<br />

pes s o a , ela pod e se recus ar a ac eitar um a per<strong>da</strong> tão<br />

des pr o p o sitad a. Sua defe s a aní mic a au m e nt a na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que ela fecha sua con s ci ê n ci a para a per<strong>da</strong> e a<br />

defe s a corp oral entra e m colap s o . Assim, o siste m a<br />

imun ol ó gic o pas s a a ser um anún ci o de ab ertura e vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Em pacient e s que sofre m algu m tipo de depr e s s ã o , tudo o<br />

que torna real es s a situaç ã o tão volátil pod e levar a um<br />

enfraqu e ci m e n t o decisivo do siste m a imun oló gi c o . A de mi s s ã o<br />

de um e m pr e g o que tinha se transfor m a d o no próprio conteúd o<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pod e bastar, ou um a dec e p ç ã o definitiva co m um sócio<br />

apó s ano s de eng a n o . Partindo de seu padrã o interno, o típico<br />

pacient e de cân c er costu m a se env olv er e m tais situaç õ e s . Sei<br />

ser a<strong>da</strong>ptad o e, alé m diss o, oprimid o, volta um a e outra vez a<br />

se colo c ar so b pres s ã o para arrisc ar um a nova tentativa de<br />

revivificaç ã o . Ca<strong>da</strong> um a des s a s tentativa pod e tom ar real a<br />

sen s a ç ã o de ab surd o m anti<strong>da</strong> so b controle a tão duras pen a s ,<br />

e um novo fecha m e n t o rep entin o pod e des e n c a d e a r a erupç ã o<br />

<strong>da</strong> do e n ç a . Os paci ent e s de cân c er que têm êxito tam b é m<br />

en c o ntra m inúm er a s pos sibili<strong>da</strong>d e s para fech ar- se à en er gi a <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Qualquer cois a que colo q u e e m que st ã o a m á s c ar a de<br />

sua depr e s s ã o , o suc e s s o , está apta para isso.<br />

9. O câncer no plano social<br />

A célula can c erí g e n a quer tom ar todo o mun d o (corpo) de<br />

ass alto e fazer tudo à sua m an eir a. É por es s a razã o que ela<br />

pen etra e m to<strong>da</strong> parte, envian d o seus agre s siv o s<br />

1 0<br />

4


"mission ários" até os rec anto s m ais afastad o s do país (corpo).<br />

A m e di cin a as cha m a de filiae (latim: filhas) ou m etá st a s e s .<br />

Esta última palavra é greg a e quer dizer transfor m a ç ã o ,<br />

transplant e ou migraç ã o . A preten s ã o de pod er "m et er- se” até<br />

m e s m o nas partes mais afastad a s do corp o está feita so b<br />

m e di<strong>da</strong> para a célula e m bri o n ária, que e m sua indiferen cia ç ã o<br />

ain<strong>da</strong> traz e m si to<strong>da</strong> s as pos sibili<strong>da</strong>d e s . No entanto,<br />

des e n v olvi m e nt o significa, entre outras cois a s, limitaç ã o e<br />

esp e ci alizaç ã o . A célula can c erí g e n a sup er o u ou perd e u de<br />

vista a am b a s .<br />

A co m p ar a ç ã o do co m p o rta m e n t o adulto e infantil revela a<br />

imaturi<strong>da</strong>d e de tal postura. A crianç a ain<strong>da</strong> tem o direito de verse<br />

e m to<strong>da</strong> s as profiss õ e s e to<strong>da</strong>s as form a s de vi<strong>da</strong> e de<br />

acr editar que seu papai, sen d o um au m e nt o de seu próprio eu,<br />

pod e tudo. Ela pod e son h ar que viaja por todo o mun d o se m<br />

precis ar preo c up ar- se co m que st õ e s con cr eta s tais co m o a<br />

obte n ç ã o dos m ei o s nec e s s á ri o s. Sua reivindic a ç ã o de brincar<br />

e m todo s os brinqu e d o s do playground e, alé m diss o, participar<br />

de todo s os jogo s pod e irritar os pais, ma s não che g a a ser um<br />

probl e m a nes s a fas e. Um adulto que fizess e es s a s exig ê n ci a s,<br />

ao contrário, che g aria rapi<strong>da</strong> m e n t e a um impa s s e co m o m ei o<br />

circund a nt e, deixan d o ap en a s duas alternativas: ou ele ou o<br />

m ei o circund a nt e. Ele é conv e n ci d o ou obriga d o pelo m ei o a<br />

a<strong>da</strong>ptar- se a suas exig ê n ci a s , o que o força a um a esp é ci e de<br />

am a d ur e ci m e n t o prec o c e , que corresp o n d e à tentativa de<br />

ress o ci alizaç ã o no cumpri m e nt o <strong>da</strong>s pen a s, ou entã o ele é<br />

confinad o definitiva m e n t e .<br />

A segun d a pos sibili<strong>da</strong>d e, a de que es s a pes s o a preval e ç a<br />

so br e seu m ei o e imponha sua vontad e, é m ais rara. No plan o<br />

aní mic o- espiritual, as tentativas corresp o n d e n t e s são<br />

con sid er a d a s m e g al o m a n i a, quas e se m pr e subjug a d a s e<br />

confinad a s "co m êxito" e m um a instituiçã o psiquiátrica. E<br />

relativa m e n t e raro que um "louc o" con sig a real m e nt e tom ar o<br />

pod er. No âm bito político, as tentativas corre s p o n d e n t e s são<br />

co m b a ti<strong>da</strong> s co m o terroris m o e quas e se m pr e sub m e tid a s por<br />

m ei o <strong>da</strong> violên ci a, e só muito rara m e nt e atrav é s do pod er de<br />

1 0<br />

5


persua s ã o . Os terroristas cha m a m a si m e s m o s de<br />

revolucion ário s, às vez e s tam b é m falam de célula s<br />

revolucion ária s, ma s para o estad o afetad o são con sid er a d o s<br />

crimin o s o s que não dev e m esp er ar ne m de m ê n c i a ne m<br />

con sid er a ç ã o . Caso ven ç a m , seu pod er será resp eitad o, pois<br />

eles serã o os nov o s sen h o r e s do pais.<br />

No âm bito ec o n ô m i c o , os repres e nt a nt e s <strong>da</strong> atitude<br />

corre s p o n d e n t e são aplaudid o s des d e o inicio, já que o cân c er<br />

evid e n ci a a atitude que faz o êxito e m pr e s arial. O<br />

e m pr e e n d e d o r típico <strong>da</strong> prim eira fase do capitalis m o ultrapas s a<br />

as fronteiras esta b el e ci d a s e atac a a con c orr ê n ci a se m<br />

co m p aixã o , expulsand o - a <strong>da</strong> áre a, já que co m o pod er de seus<br />

cotov el o s pres si o n a- a contra a pared e e a tira do neg ó ci o, mina<br />

o seu terren o ou pelo m e n o s se infiltra e m seus m er c a d o s . Em<br />

lugar de m etá st a s e s , sucurs ais, filiae torna m - se aqui filiais,<br />

e m pr e s a s afilia<strong>da</strong>s são fun<strong>da</strong>d a s . No principio a matriz, co m o o<br />

tum or corresp o n d e n t e , cres c e para alé m de si m e s m a , entã o<br />

ela se infiltra na vizinhan ç a para finalm e nt e tornar- se ativa por<br />

todo o pais e, ideal m e n t e , no mun d o todo. Estar pres e nt e e m<br />

to<strong>da</strong> parte e ter tudo so b control e. Este é o cred o do<br />

capitalis m o e o co m p o rta m e n t o tradicion al <strong>da</strong>s grand e s<br />

e m pr e s a s . Evidente m e n t e , proc e d e - se de man eira agr e s siva e<br />

des c o n si d er a d a .<br />

As m etá st a s e s do cân c er e as sucurs ais <strong>da</strong>s e m pr e s a s têm<br />

objetivo s análo g o s . Elas se esforç a m para colo c ar o m áxi m o<br />

pos sív el de seu próprio progra m a se m <strong>da</strong>r a m e n o r chan c e às<br />

forças locais. O m o d el o ideal do cân c er tom a- se explícito no<br />

mapa- múndi e m um es critório e m pr e s a rial. Um gros s o círculo<br />

ver m el h o no m ei o assin ala a localizaç ã o <strong>da</strong> e m pr e s a m atriz,<br />

que se infiltra nas regiõ e s circund a nt e s co m pequ e n a s filiais<br />

marc a d a s tam b é m e m ver m el h o , poré m m e n o r e s . Estas<br />

m etá st a s e s diminu e m e m núm er o à m e di<strong>da</strong> e m que nos<br />

aproxi m a m o s <strong>da</strong> periferia. Alguns país e s ain<strong>da</strong> estã o livres,<br />

en qu a nt o e m outros há grand e s colônia s que por sua vez<br />

diss e m i n a m filiais a seu redor. Os m ap a s assinalad o s des s a<br />

man eira são ass o m b r o s a m e n t e se m el h a nt e s às imag e n s de<br />

1 0<br />

6


corp o s tom a d o s pelo cân c er obti<strong>da</strong>s por proc e di m e n t o s de<br />

diagn ó stic o tais co m o a cintilografia.<br />

Há um outro paralelo ao ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , m e n o s<br />

carre g a d o de e m o ç ã o porqu e já sup er a d o pela história, que é o<br />

do colonialis m o . A form a ç ã o de colônias fora do próprio pais,<br />

con sid er a d a do ponto de vista de cad a imp ério, era um a<br />

estraté gi a can c erí g e n a . Na m e di<strong>da</strong> do pos sív el, quer er- se- ia<br />

colo c ar o mund o inteiro so b a própria influência e eles. de<br />

form a algu m a sentia m- se con stran gid o s e m invadir<br />

violenta m e n t e as fronteiras e atac ar brutal m e nt e culturas e m<br />

sua maioria intactas, so m e n t e que m e n o s agre s siv a s . As<br />

condiç õ e s de vi<strong>da</strong> não era m ne m resp eita<strong>da</strong> s ne m poup ad a s , e<br />

as pes s o a s que se en c o ntrav a era m declara d a s min orias e<br />

es cr a vizad a s . Ca<strong>da</strong> império estav a de tal man eira conv e n cid o<br />

<strong>da</strong> própria m e g al o m a n i a a ponto de quer er lançar e m todo o<br />

mund o grand e s ou pequ e n a s ediç õ e s <strong>da</strong> Inglaterra, <strong>da</strong><br />

Espanh a, de Portugal, <strong>da</strong> Franç a ou <strong>da</strong> Alemanha. Som e nt e os<br />

outros imp ério s, igualm e nt e can c er o m o rf o s , colo c a v a m limites<br />

a seu cres ci m e n t o invasivo. Tal co m o seu pen d a nt anatô mi c o ,<br />

os rem o s coloniais freqü e nt e m e n t e tinha m probl e m a s de<br />

ab a st e ci m e n t o , ma s tratava- se so br etud o de expan s ã o , e muito<br />

m e n o s <strong>da</strong> falta de infra- estrutura nec e s s á ria para tal. Assim<br />

co m o nos tum or e s , pod e- se en c o ntrar nos resto s, diga m o s , do<br />

imp ério colonial portugu ê s , um a notáv el carên ci a de infraestrutura.<br />

Com es s a esp é ci e de cres ci m e n t o indiferen ci a d o ,<br />

muito veio abaixo tanto nas colônia s m eta st átic a s co m o na<br />

matriz <strong>da</strong>s num er o s a s filhas m alvad a s . Em um deter min a d o<br />

m o m e n t o , tum or e s matrize s minús c ulo s tais co m o Portugal ou<br />

a Inglaterra tinha m pend e nt e s de si imp ério s gigant e s c o s , que<br />

continuav a m a se expan dir e a con s u mir en er gia. A Inglaterra<br />

aproxi m o u- se esp e ci al m e n t e <strong>da</strong> imag e m do cân c er co m suas<br />

colônias totalm e nt e e m a n cip a d a s do “tum or m atriz" (EUA,<br />

Canad á, Austrália, Rodésia ou África do Sul). A história <strong>da</strong><br />

ép o c a colonial deixa claro que, no que se refer e ao s tum or e s<br />

nacio n ai s, tratava- se muito m ais de expans ã o e ostentaç ã o de<br />

pod er que de co m é r ci o e interc a m b i o . De m an eir a se m el h a nt e<br />

1 0<br />

7


a cab e ç a s hidro c ef álica s, ad ministraç õ e s coloniais infla<strong>da</strong> s<br />

parasitava m país e s ec o n o m i c a m e n t e indigent e s cuja estrutura<br />

própria tinha sido saqu e a d a , apoian d o - se nas costa s de<br />

"primitivo s" es cr a vizad o s cujo caráter certa m e n t e jam ais atingiu<br />

o grau de primitivis m o <strong>da</strong>qu el e s que os colonizav a m . As<br />

células can c erí g e n a s , co m seus núcle o s sup erdi m e n si o n a d o s<br />

exib e m , e m relaç ã o a seu entorn o, um exc e s s o de primitivis m o<br />

se m el h a nt e.<br />

O padrã o do cân c er não confirm a o de nos s o mund o ap en a s<br />

e m grand e s traço s, pod e n d o ser seguid o e m detalh e para<br />

aqu el e s que têm olho s para vê- lo. O cres ci m e n t o <strong>da</strong>s grand e s<br />

ci<strong>da</strong>d e s m o d er n a s ofer e c e um a imag e m explícita de ânsia de<br />

expan s ã o de tipo can c er o m o rf o. As fotos bra<strong>da</strong> s por satélites<br />

m o stra m co m o elas dev or a m e ulcera m a paisa g e m<br />

circund a nt e. Tal co m o um tum or can c er o s o , elas confia m no<br />

cres ci m e n t o des al ojad o r e infiltrante, en qu a nt o ao m e s m o<br />

temp o e mis s ário s isolad o s são enviad o s so b a form a de<br />

ci<strong>da</strong>d e s - satélites, ci<strong>da</strong>d e s - dor mitório, zona s industriais e outras<br />

ativi<strong>da</strong>d e s meta stática s.<br />

Quando se con sid er a a Terra co m o um todo, a m an eira<br />

co m o por to<strong>da</strong> parte ela é can c erig e n a m e n t e dev or a d a ,<br />

saqu e a d a impied o s a m e n t e e priva<strong>da</strong> de sua cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

reaç ã o , a imag e m corresp o n d e àqu el a de um corp o que<br />

sucu m biu ao cân c er. Quanto à avaliaç ã o do está gi o e m que ela<br />

se en c o ntra, se ain<strong>da</strong> pod e lutar para defen d e r- se ou se já está<br />

e m estad o termin al, os ec o n o m i st a s , biólo g o s , teólo g o s e<br />

outros “istas" e "ólog o s" não ch e g ar a m a um ac ord o. O<br />

corre s p o n d e n t e estad o de resign a ç ã o do corp o frente à en er gi a<br />

vital juvenil do cân c er cha m a - se caqu exia. Ele se entreg a à<br />

con s u m a ç ã o , de m o n s tr and o e m sua atitude de entre g a que<br />

está ab erto para pas s ar ao outro mun d o . Com o a nos s a Terra<br />

continua tentand o reg e n e r ar- se e se defen d e en er gic a m e n t e do<br />

pululante gên er o hum a n o , ain<strong>da</strong> há esp er a n ç a para ela.<br />

Mas não so m e n t e os princípios de nos s a m an eira de pens ar<br />

no que se refer e à Terra ass e m e l h a m - se àqu el e s <strong>da</strong> célula<br />

can c erí g e n a , nós co m p artilha m o s tam b é m um laps o decisivo,<br />

1 0<br />

8


ou seja, não m e di m o s as con s e q ü ê n c i a s de noss o<br />

co m p o rta m e n t o : a m orte de todo o organis m o implica<br />

inevitav el m e n t e na m orte de to<strong>da</strong> s as suas células, inclusive as<br />

células do cân c er. Som e nt e o co m e ç o de todo o<br />

e m pr e e n di m e n t o é pro mis s o r para as células do cân c er. Elas<br />

con s e g u e m liberar- se de seu am bi e nt e e aproxim ar- se do ideal<br />

de autarquia, onipot ên ci a e onipre s e n ç a . Tal co m o um<br />

org anis m o unicelular, que dep e n d e unica m e n t e de si m e s m o ,<br />

con c e ntrand o to<strong>da</strong> s as funçõ e s e m um único corpo, elas se<br />

transfor m a m e m um guerr eiro solitário pratica m e n t e<br />

indep e n d e n t e e m m ei o à co m u ni<strong>da</strong>d e celular. Elas troca m suas<br />

habili<strong>da</strong>d e s altam e nt e esp e ci alizad a s pela imortali<strong>da</strong>d e<br />

poten ci al, tal co m o pos sui o org anis m o unic elular. Os<br />

org anis m o s unicelular e s e as células can c erí g e n a s<br />

per m a n e c e m vivos en quant o há alim e nt o suficiente. To<strong>da</strong> s as<br />

outras células organizad a s estã o liga<strong>da</strong> s a um a exp e ct ativa de<br />

vi<strong>da</strong> natural, esta b el e ci d a e m seu mat erial gen étic o. As células<br />

do cân c er des ativara m es s a limitaç ã o e não m o stra m nenhu m a<br />

tend ê n ci a ao env elh e ci m e n t o , co m o o de m o n s tr a um<br />

exp eri m e nt o ma c a b r o . As células de um tum or cujo proprietário<br />

m orr eu nos ano s 20, justa m e n t e devid o a es s e tum or, vive m e<br />

se divide m até hoje e m um a soluç ã o nutriente se m m o strar<br />

qualqu er sinal de env elh e ci m e n t o ou can s a ç o . O fato de as<br />

células can c erí g e n a s nor m al m e n t e m orr er e m log o apôs a<br />

m orte de seu hosp e d e ir o dev e- se ao es g ota m e n t o do<br />

suprim e nt o de alim e nt o e en er gi a. Enquanto o organis m o<br />

unicelular real m e nt e perdura indep e n d e n t e e imortal e m seu<br />

mund o aquátic o de sup er a b u n d â n ci a, a célula can c erí g e n a não<br />

perc e b e que é ap en a s poten ci al m e n t e imortal e já não pod e<br />

tornar- se indep e n d e n t e . Exatam e nt e co m o o ser hum a n o no<br />

mund o, seu destino estará se m pr e ligad o ao corp o e m que<br />

vive.<br />

A caricatura de noss o s ideais repres e nt a d a pelo cân c er<br />

deixa claro que nos s o plan eta já atingiu a fase de erupç ã o <strong>da</strong><br />

do e n ç a . Mais dec e p ci o n a nt e ain<strong>da</strong>, no entanto, é o incô m o d o<br />

con h e ci m e n t o de que nós m e s m o s so m o s o cân c er <strong>da</strong> Terra.<br />

1 0<br />

9


Do m e s m o m o d o , o cres ci m e n t o de noss a ciên cia é tão<br />

de m e n t e co m o o do cân c er. Os índic e s de cres ci m e n t o são<br />

en or m e s , ma s o e m pr e e n di m e n t o não tem nenhu m objetivo<br />

que pos s a ser alcan ç a d o . O objetivo do progr e s s o é m ais<br />

progr e s s o e assi m, por principio, ca min h a rum o ao futuro e<br />

para fora de nos s o alcan c e . O cân c er tam b é m tem um objetivo<br />

pouc o realista. Este se enc o ntra e m sua so m b r a e é a ruína do<br />

org anis m o . Se fôss e m o s mais hon e st o s , tería m o s de ad mitir<br />

que o objetivo final de nos s o progr e s s o é igual m e nt e a ruína do<br />

org anis m o Terra. Bastaria que os piedo s o s des ej o s dos<br />

político s se tom a s s e m reali<strong>da</strong>d e e os pais e s e m<br />

des e n v olvi m e nt o saís s e m do atras o tecn ol ó gic o e m que se<br />

en c o ntra m para que a já am e a ç a d a ec ol o gi a dest e plan eta<br />

rec e b e s s e um golp e m ortal. Em todo cas o, pod e- se ficar<br />

tranqüilo e m relaç ã o a isso, já que es s e s des ej o s não são<br />

levad o s co m muita seried a d e . Entretanto, aqu el e s des ej o s que<br />

insiste m e m um progr e s s o linear para nos s a parte do mund o o<br />

são totalm e nt e, e eles têm algo de deg e n e r a d o , já que colo c a m<br />

a esp é ci e e m risco. Sem a con s ci ê n ci a de noss a orig e m na<br />

naturez a e se m ter um objetivo no âm bito espiritual, corre m o s o<br />

perig o de nos tornar m o s um cân c er que não pod e m ais ser<br />

controlad o. Nós já pre e n c h e m o s todo s os pré- requisitos<br />

nec e s s á ri o s para tal.<br />

Quando es s a do e n ç a malign a m o stra sua face terrível, nos<br />

assusta m o s porqu e rec o n h e c e m o s a nós m e s m o s . Não<br />

quer e m o s ver- nos de man eira tão hon e st a, recus a m o s um<br />

esp elh o tão nítido. A hum a ni<strong>da</strong>d e tem isso e m co m u m co m<br />

todo s os pacient e s .<br />

1 1<br />

0


10. Solução (redenção) do problema do câncer<br />

Com bas e e m noss a perplexi<strong>da</strong>d e por um lado, e noss a<br />

valora ç ã o por outro, é difícil ver ain<strong>da</strong> um a (dis)soluç ã o na<br />

repre s e nt a ç ã o do cân c er. Com o co m u nid a d e , tem o s muito<br />

m e d o <strong>da</strong>s nos s a s próprias forças e <strong>da</strong>s en er gi a s que estã o<br />

ador m e c i d a s e m nós. Amparad o s por inúm er o s álibis sociais,<br />

nós as e m p urra m o s para a so m b r a. Emb or a a so ci e d a d e tenha<br />

estilizad o a livre manife staç ã o do individuo e a livre e m pr e s a<br />

co m o sen d o o objetivo m áxi m o a ser atingido, a maioria de<br />

seus m e m b r o s individuais é ator m e nt a d a por m e d o s e<br />

angústias con sid er á v ei s no que a isso se refer e. Os índic e s de<br />

cres ci m e n t o aní mic o- espiritual continua m sen d o muito m ais<br />

baixo s que os índic e s de cres ci m e n t o científico. A long o prazo,<br />

noss o grandio s o produto nacion al bruto não pod e co m p e n s a r a<br />

falta de cres ci m e n t o interior. Com o apoio <strong>da</strong> soci e d a d e , ma s<br />

por iniciativa própria, muitas pes s o a s con s e g u e m bloqu e ar a<br />

manife staç ã o de seu eu, en c aixand o - se e m estruturas<br />

pred et er min a d a s co m facili<strong>da</strong>d e ou, muitas vez e s tam b é m à<br />

força. Gratificaç õ e s ex- ternas aliviam a renún cia ao<br />

des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>d e e pro m o v e m a<br />

ma s sifica ç ã o <strong>da</strong> pes s o a . Apenas um pequ e n o pas s o sep ar a o<br />

indivíduo ma s sificad o do "nor m o p at a".<br />

Com o a auto- realizaç ã o é parte do ca minh o de<br />

des e n v olvi m e nt o do ser hum a n o , ela não pod e ser eliminad a<br />

do mund o , pod e n d o no máxi m o ser posta de lado. Quando<br />

e m p urrad a para o lado, ela aterriss a na so m b r a. Esta tem duas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de expr e s s ã o no mund o mat erial: o mun d o<br />

corp or al interior (micro c o s m o s ) e o mun d o (meio am bi e nt e)<br />

exterior (macr o c o s m o s ). Cons e q ü e n t e m e n t e , o ca minh o dos<br />

proc e s s o s de cres ci m e n t o reprimido s vai <strong>da</strong> con s ci ê n ci a para o<br />

mund o de so m b r a s do incon s ci e nt e, e <strong>da</strong>li para o plano<br />

corp or al ou para o mun d o exterior. Com o o princípio é<br />

con s erv a d o a cad a pas s o e precis a a<strong>da</strong>ptar suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de expr e s s ã o ao plan o e m que se manifesta, ele<br />

1 1<br />

1


pod e ser enc o ntrad o por to<strong>da</strong> parte, seja e m sua m anife staç ã o<br />

redimi<strong>da</strong> ou e m sua form a não- redi mi<strong>da</strong>. Quanto m ais ele é<br />

reprimido, men o s redi mid o ele se apres e nt a, mas mes m o so b a<br />

form a m e n o s redi mi<strong>da</strong> dev e ser pos sív el vislum br ar ain<strong>da</strong> o<br />

plan o redimid o.<br />

Nós e m geral con sid er a m o s o plano mat erial co m o nãoredimid<br />

o, e o plano aní mic o- espiritual co m o redimid o. No<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er, nós con sid er a m o s malign o aquilo<br />

que e m sentido figurad o nos parec e totalm e nt e des ej á v el: o<br />

princípio de expan s ã o . O cân c er ultrapas s a to<strong>da</strong> s as fronteiras<br />

e ob stá c ul o s, estend e - se por tudo, pen etra e m tudo, participa<br />

de tudo, une- se a tudo, até a estruturas alheias, não se deté m<br />

diante de na<strong>da</strong>, não pod e ser detido por pratica m e n t e na<strong>da</strong>, é<br />

quas e imortal e não tem e ne m m e s m o a m orte. O cân c er é a<br />

expan s ã o que m er g ulh o u nas so m b r a s (do corpo).<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , trata- se de expandir a con s ci ê n ci a, de<br />

des c o b rir a infinitude e a imortali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> alm a. Não<br />

dev ería m o s nos ad mirar que o principio m ais elev a d o apar e ç a<br />

por inter m é di o do mais m align o de todo s os sinto m a s . A<br />

so m b r a m ais es cur a se m pr e e mite a luz m ais brilhante. Com a<br />

auto- realizaç ã o , no cân c er, o que m er g ulh o u nas so m b r a s é o<br />

tem a que procura atingir o objetivo final de todo<br />

des e n v olvi m e nt o: o"si mes m o ”.<br />

Emb or a o m ei o seja o objetivo final, no início do ca min h o é<br />

nec e s s á ri o confiar e m si m e s m o e ir para os extre m o s . Quando<br />

Cristo diz: "Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei", ele está<br />

faland o so br e um a etap a do ca min h o . É o m ei o co m o<br />

co m pr o m i s s o podr e que dev e ser aba n d o n a d o . Aqui está a<br />

tarefa mais difícil do aprendizad o do paci ent e de cân c er. Ness e<br />

sentido, o tranqüilo m ei o- term o no qual o nor m o p at a se<br />

ac o m o d o u não é de form a algu m a um lugar definitivo. Em lugar<br />

<strong>da</strong> har m o ni a do m ei o, o que imp er a é um a har m o ni a apar e nt e.<br />

As ("malign a s") en er gias do eg o não são visíveis, ma s sua vi<strong>da</strong><br />

nas so m b r a s é tanto mais intens a. O nor m o p at a jam ais ferirá<br />

algué m co m um não eg oísta e des c o m p r o m i s s a d o , ma s<br />

tamp o u c o fará algu é m feliz co m um sim incondicion al. Ele se<br />

1 1<br />

2


des culpa per m a n e n t e m e n t e por sua existên ci a, m a s não se<br />

livra <strong>da</strong> culpa primordial (a sep ar a ç ã o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e). Para ele, a<br />

apar ê n ci a é m ais importante que o ser. Entretanto, trata- se e m<br />

última instân cia do ser, e ele portanto não en c o ntra a paz final<br />

no cô m o d o m ei o, um ca min h o to long o do qual ele enc o ntra<br />

pouquís si m a resistên ci a, ou seja, a paz que ele p de en c o ntrar<br />

aqui não é real m e nt e a paz definitiva.<br />

A prim eiríssi m a coisa que ele dev e fazer é co m e ç a r a se<br />

m o v er, a cres c e r, a se transfor m ar e a se des e n v olv er. Faz<br />

parte, tam b é m , aprend er a dizer não, detectar e viver seus<br />

des ej o s eg oísta s, exp eri m e nt ar reb el ar- se contra regra s<br />

rígi<strong>da</strong>s, es c a p ar de estruturas de m a s i a d o estreitas, che g ar<br />

perto e perto de m ai s dos outros, pular fronteiras, ignorar<br />

limitaç õ e s , viver to<strong>da</strong>s as cois a s que, cas o contrário, oc orr e m<br />

nas so m b r a s co m o ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o . Em vez de<br />

mutaç õ e s no nível celular, pod eria hav er m eta m o rf o s e s nos<br />

âm bito s aní mic o, espiritual e so cial; e m vez de sair <strong>da</strong> esp é ci e<br />

(deg e n e r ar), ele pod eria pular a cerc a (de m a si a d o opres s o r a).<br />

Trata- se de travar con h e ci m e n t o co m o próprio eg o, ain<strong>da</strong>, e<br />

principal m e nt e, quan d o ele não é um desta c a d o<br />

conte m p o r â n e o e, por es s a razão, não traz muita distinçã o ao<br />

m ei o circund a nt e. Em vez de sair <strong>da</strong> esp é ci e, trata- se de<br />

en c o ntrar a própria esp é ci e. Em vez de sep ar a ç ã o , o que se<br />

procura é continui<strong>da</strong>d e e resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e por si m e s m o .<br />

A orienta ç ã o terap êutic a do radiolo gista am eric a n o Carl<br />

Simonto n vai nes s a direç ã o de uma m an eir a muito corp oral.<br />

Simonto n, co m bastant e suc e s s o , deixa que seus pacient e s<br />

entre m diaria m e nt e e m um a guerra múltipla. Em m e ditaç õ e s<br />

dirigi<strong>da</strong>s, eles co m b at e m o cân c er no nível celular co m sua<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e que aca b a de ser red e s c o b e rta. O siste m a<br />

imun ol ó gic o é apoiad o e m sua luta pela existên cia co m<br />

imag e n s interna s e fantasias cria<strong>da</strong>s pela imagin a ç ã o , e assi m<br />

a agr e s s ã o tão long a m e n t e reprimi<strong>da</strong> ass a a ser vivi<strong>da</strong>. À<br />

prim eira vista, m a s so m e n t e à prim eira vista, o con s el h o de<br />

co m b a t er o cân c er a todo custo pare c e estar e m contradiç ã o<br />

co m o princípio ho m e o p á tic o. Com o agre s siv o cân c er, é<br />

1 1<br />

3


justa m e nt e a agr e s s ã o que é ho m e o p á tic a pois trata- se de um<br />

rem é di o se m el h a nt e.<br />

Emb or a estas prim eiras etap a s do desp ertar para as<br />

próprias nec e s si d a d e s seja tam b é m muito importante e não<br />

pos s a ser sub stituí<strong>da</strong>, o ca minh o não pára ai. O “seja quent e<br />

ou frio..." cristão é inevitáv el, m a s o des e n v o l vi m e n t o continua,<br />

e entã o, finalm e nt e trata- se de: "Se algu é m golp eia sua fac e<br />

es qu er d a, ofer e c e - lhe a direita". Essas duas fras e s<br />

contraditórias já criara m muita perplexi<strong>da</strong>d e , porqu e se refer e m<br />

a diferent e s etap a s do ca min h o . É justa m e nt e nest e ponto que<br />

é perigo s o continuar a es cr e v e r, pois se gund o ti<strong>da</strong>s as<br />

exp eriên ci a s, justa m e n t e aqu el e s pacient e s que ain<strong>da</strong> têm de<br />

li<strong>da</strong>r muito e por muito temp o co m os pas s o s des crito s até<br />

ag or a, de ass er ç ã o agr e s siva de si m e s m o s , tend e m a refugiarse<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e nos "plan o s mais elev a d o s ". Por trás diss o está<br />

a supo siç ã o equivo c a d a de que a realizaç ã o de um tem a tão<br />

sublim e co m o o am or levará facilm e nt e à libertaç ã o do eg o,<br />

juntam e nt e co m suas en er gias agre s siv a s . Mas quan d o se<br />

salta ou se ab and o n a co m de m a si a d a rapidez um plan o<br />

anterior, o plan o se guinte não tem a m e n o r chanc e . Não se<br />

gan h a na<strong>da</strong> se algu é m "morn o", por pura covardia, ofer e c e a<br />

face direita após lhe tere m golp e a d o a es qu er d a. O am or entã o<br />

se transfor m ar á e m um sentim e nt o m orn o, e a salva ç ã o e m<br />

hipocrisia. Um pacient e de cân c er não pod e se <strong>da</strong>r ao luxo de<br />

co m e t e r tais erro s, dos quais a la<strong>da</strong>inha de "luz e am or <strong>da</strong> cen a<br />

ne w ag e se aproxi m a muito.<br />

Apesar do perigo de se incorrer e m m al- enten did o s , é<br />

nec e s s á ri o já ter e m vista um objetivo, ain<strong>da</strong> que esteja muito<br />

distante. Mas os pas s o s e tarefas seguinte s pres s up õ e m o<br />

do mínio dos pas s o s anterior e s, pois cas o contrário eles se<br />

trans- form a m facilm e nt e e m um bum er a n g u e , tal co m o<br />

de m o n s tr ar a m as exp eriên ci a s co m o capitulo so br e cân c er do<br />

prim eiro volu m e .<br />

Por mais importante que seja a exibiçã o <strong>da</strong>s en er gi a s do eg o<br />

durante o percurs o, ela não pod e ser o objetivo final. O<br />

ca min h o a seguir e o seu objetivo estã o se m pr e implícitos no<br />

1 1<br />

4


próprio ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o . Em vez de cres ci m e n t o<br />

corp or al, trata- se de cres ci m e n t o aní mic o- espiritual. O ser<br />

hum a n o cres c e fisica m e n t e durante cerc a de vinte ano s; dep ois<br />

diss o ele precis a continuar cres c e n d o aní mic a e<br />

espiritual m e nt e, ou entã o o cres ci m e n t o afun<strong>da</strong> na so m b r a.<br />

Esse cres ci m e n t o pod e se <strong>da</strong>r no mun d o exterior durante muito<br />

temp o, pod e n d o , por exe m pl o, aprov eitar as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

corre s p o n d e n t e s de um neg ó ci o e m expan s ã o . Mas e m algu m<br />

m o m e n t o ele terá por objetivo a auto- realizaç ã o e m um sentido<br />

mais elev a d o . Em última instância, trata- se de tornar- se um<br />

co m o todo, retorn ar ao Paraís o, ou seja, deixar que o eu e as<br />

so m b r a s aflore m no self . Esse estad o , que rec e b e tantos<br />

no m e s diferent e s e m diferent e s culturas e que m e s m o assi m<br />

quer dizer se m pr e a m e s m a coisa, não pod e ser repre s e nt a d o<br />

co m exatidã o a partir do mund o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e. Palavras co m o<br />

eterni<strong>da</strong>d e , nirvan a, reino dos céus, reino de Deus, paraís o, ser<br />

ou m ei o são so m e n t e aproxi m a ç õ e s . O proble m a , não só dos<br />

pacient e s de cân c er ma s de todo s os ser e s hum a n o s , são os<br />

pas s o s que leva m a es s e objetivo e à sua se qü ê n ci a.<br />

A regr e s s ã o retratad a pelo proc e s s o can c erí g e n o , que<br />

corp or aliza a bus c a <strong>da</strong> orig e m , indica o ca minh o . Em vez de<br />

regr e s s ã o no corp o, trata- se de religio no âm bito aní mic oespiritual.<br />

O cres ci m e n t o deg e n e r a d o e caótic o e m to<strong>da</strong> s as<br />

direç õ e s mostra o perig o, que o progr e s s o se m objetivo termin a<br />

na m orte. Morrer, tam b é m , que paira am e a ç a d o r a m e n t e so br e<br />

o ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o , é um a form a de retira<strong>da</strong> do<br />

mund o polar para a uni<strong>da</strong>d e. To<strong>da</strong> s as indicaç õ e s aponta m<br />

para um único ponto, a uni<strong>da</strong>d e. Mas isso não pod e ser<br />

realizad o co m as forças do eg o. Assim co m o é important e para<br />

o pacient e des c o b rir seu eg o, mais tarde será igualm e nt e<br />

importante cres c e r para alé m dele. Depois que ele tiver<br />

apren did o a se impor, ch e g a- se ao pólo opo st o do plan o de<br />

apren dizad o : aprend er a inserir- se na uni<strong>da</strong>d e m ai or. Primeiro<br />

pod e ser importante prote star contra as regra s estritas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

labor al ou so cial, rec o n h e c e r que o próprio ch ef e não é<br />

nen hu m deus. Mas quan d o o eg o está des e n v o l vid o e e m<br />

1 1<br />

5


plen a pos s e s s ã o do pod er pelo qual lutou, é precis o<br />

rec o n h e c e r que o ca min h o do eg o leva à catástrofe tanto co m o<br />

sua repress ã o . Depois que a pequ e n a ord e m <strong>da</strong>s regra s<br />

m e s q uinha s foi salta<strong>da</strong>, é precis o en c o ntrar a grand e e ac eitála.<br />

“Seja feita a Sua vontad e", diz o pai- noss o , e isso não quer<br />

dizer, co m o antes, o sup erior hierárquic o ou o sócio ou o eu,<br />

ma s Deus, ou seja lá co m o se queira cha m a r a uni<strong>da</strong>d e.<br />

É nest e ponto que está o principal en g a n o do cân c er, e ele<br />

volta a ser um esp elh o perfeito do principal en g a n o <strong>da</strong><br />

hum a nid a d e m o d er n a. A célula can c erí g e n a tenta alcan ç ar a<br />

imortali<strong>da</strong>d e por si m e s m a e à custa do resto do corpo.<br />

Fazen d o isso, ela não vê que es s e ca minh o , e m última<br />

instância, a m atar á junta m e nt e co m o corp o, assi m co m o a<br />

hum a nid a d e não viu até ag or a que sua eg o- trip à custa do<br />

mund o so m e n t e pod e terminar co m o naufrágio conjunto. Não<br />

existe qualqu er indep e n d ê n ci a <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e m ai or à qual se<br />

perten c e . As justas am biç õ e s de auto- realizaç ã o e imortali<strong>da</strong>d e<br />

so m e n t e pod e m culminar no con h e ci m e n t o espiritual de que o<br />

único objetivo é o si m e s m o , a uni<strong>da</strong>d e co m tudo. Esta não<br />

exclui na<strong>da</strong> ne m ningu é m , e por si m e s m a não se deixa<br />

con q uistar pes s o al m e n t e de man eira eg oí sta. Ela conté m tanto<br />

a individuali<strong>da</strong>d e co m o a orde m mais elev a d a. Ela se en c o ntra<br />

no próprio m ei o, no de cad a célula e no de cad a ser hum a n o e<br />

ain<strong>da</strong> assi m é so m e n t e o um. Não existe ne m o m eu self ne m o<br />

seu self, so m e n t e o s elf.<br />

É precis o enc o ntrar a uni<strong>da</strong>d e, a imortali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> alm a e m si<br />

m e s m o , e rec o n h e c e r que o todo já esta e m nós m e s m o s<br />

assi m co m o nós m e s m o s esta m o s no todo. Este, entretanto, é<br />

o ponto final. ou m elh or, o ponto do m ei o, que so m e n t e pod e<br />

ser ab erto pelo am or. E isso tam b é m já está sim b olizad o no<br />

ac o nt e ci m e n t o do cân c er. Assim co m o o am or, o cân c er<br />

tam b é m ultrapas s a to<strong>da</strong> s as fronteiras, co br e to<strong>da</strong>s as<br />

distância s, atrav e s s a to<strong>da</strong>s as barreiras, sup er a todo s os<br />

ob stácul o s assi m co m o o am or ele não se deté m diante de<br />

na<strong>da</strong>, estend e - se por tudo, pen etra e m todo s os âm bito s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, do min a to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>; assi m co m o o am or, o cân c er busc a a<br />

1 1<br />

6


imortali<strong>da</strong>d e e nes s a bus c a, assi m co m o o am or, não tem e<br />

ne m m e s m o a m orte. O cân c er, portanto, tam b é m é de fato um<br />

am or que m er g ulh o u nas so m b r a s .<br />

1 1<br />

7


11. Princípios terapêuticos<br />

A m elh or terapia co m e ç a ced o , co m a co m pr e e n s ã o de que<br />

o quadr o de nor m o p atia já é um sinto m a , ain<strong>da</strong> que se<br />

aproxi m e do ideal de nos s a ép o c a. Ao contrário, <strong>da</strong>i se con clui<br />

que esta ép o c a son h a um son h o que fom e nt a o cân c er. Os<br />

ag e nt e s can c erí g e n o s des c o b e rt o s diaria m e n t e , quan d o<br />

co m p ar a d o s a este con h e ci m e n t o , são inofen siv o s. Quando se<br />

co m e ç a a ca minhar e m direç ã o à individua ç ã o já nes s e s<br />

prim eiros está gi o s, pod er- se- ia usar de fato a palavra<br />

prev e n ç ã o se m deturpá- la co m o sentido usual de diagn ó stic o<br />

prec o c e 36 . Nesta etap a, ain<strong>da</strong> seria pos sív el <strong>da</strong>r os pas s o s<br />

nec e s s á ri o s se m de m a s i a d a pres s ã o . Quando o diagn ó stic o já<br />

con statou a do e n ç a , a pres s ã o é m o n struo s a . Mas ela pod e<br />

não ap en a s oprimir, pod e tam b é m <strong>da</strong>r cora g e m e pro m o v e r o<br />

des e n v olvi m e nt o . Entretanto, muitos pacient e s viven cia m a<br />

enun ciaç ã o do diagn ó stic o “cânc er" co m o se foss e a<br />

decr et a ç ã o de uma sent e n ç a de m orte. Seu ca minh o de volta<br />

está entã o na resign a ç ã o , eles por assi m dizer não sub s cr e v e m<br />

mais esta vi<strong>da</strong>. Alguns falam até m e s m o de um certo alívio,<br />

pois co m isso to<strong>da</strong>s as resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s lhes são retira<strong>da</strong> s.<br />

Outros pacient e s tom a m o des afio segun d o o lem a "co m e ç a r a<br />

fazer as cois a s certas". O diagn ó stic o atua para eles co m o a<br />

iniciaç ã o para uma nova etap a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que dev e trans c orr er de<br />

ac ord o co m outras leis. Aquilo que para o prim eiro grupo é o<br />

fim de tudo, para eles é o co m e ç o . E não é raro que aí esteja o<br />

principio de um a nova vi<strong>da</strong>. Segund o a exp eriên ci a <strong>da</strong> própria<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , o progn ó stic o m é dic o exer c e muito<br />

m e n o s influên cia so br e a exp e ct ativa de vi<strong>da</strong> que a atitude<br />

interna. Trata- se decidi<strong>da</strong> m e n t e de sab er se os afetad o s ain<strong>da</strong><br />

esp er a m algo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, pois quan d o es s e é o cas o eles tam b é m<br />

esp er a m um pouc o mais. Ao cumprir seus 1 2 trabalh o s , que<br />

corre s p o n d e m às tarefas arqu etípic a s do zodíac o , Hércules é<br />

m ordid o por um terrível caran g u ej o quan d o está lutand o contra<br />

a Hidra. Em vez de recuar assu stad o , ele luta e o aniquila<br />

1 1<br />

8


antes de ven c er a Hidra.<br />

Após a con stataç ã o do diagn ó stic o, é precis o rec ortar tantos<br />

pas s o s quanto for pos sív el do âm bito <strong>da</strong>s so m b r a s . Aquilo que<br />

é se m pr e mantido e viven ci ad o na con s ci ê n ci a não precis a ser<br />

repre s e nt a d o no palco do corp o. Um pres s up o st o para isso é<br />

olhar hon e st a m e n t e para a própria situaç ã o até che g ar à<br />

co m pr e e n s ã o de que na<strong>da</strong> ac o nt e c e por aca s o , m a s que tudo<br />

faz sentido, m e s m o e m um sinto m a tão horrível. O des e s p e r o<br />

que o diagn ó stic o "cân c er" libera so m e n t e pod e ser viven ci ad o<br />

co m bas e nes s e fun<strong>da</strong> m e n t o . Por duro que isso pos s a so ar,<br />

trata- se de algo es s e n ci al para que se pos s a <strong>da</strong>r outros<br />

pas s o s . Uma m e dicin a que oculta o diagn ó stic o do pacient e e<br />

lhe m e nt e "para seu próprio be m " pod e parec er m ais hum a n a.<br />

Por outro lado, ela bloqu ei a to<strong>da</strong> s as chan c e s de<br />

des e n v olvi m e nt o que ain<strong>da</strong> pos s a m existir.<br />

Entre as pos sibili<strong>da</strong>d e s de retirar do corp o o que na ver<strong>da</strong>d e<br />

é tarefa <strong>da</strong> alm a, está todo o esp e ctr o de imag e n s às quais o<br />

cân c er força o organis m o , des d e saltar a cerc a até a agr e s s ã o<br />

mais selva g e m , pas s a n d o pelo cres ci m e n t o vital. Trata- se de<br />

trocar a posiç ã o m orn a pelas alturas e profund ez a s <strong>da</strong> própria<br />

vi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> a criativi<strong>da</strong>d e des e nfr e a d a que se expr e s s a no<br />

ac o nt e ci m e n t o can c erí g e n o dev e ser leva<strong>da</strong> para o esp a ç o vital<br />

con s ci e nt e, do âm bito corp or al para o âm bito aní mic oespiritual.<br />

As mutaç õ e s estã o à esp er a, e requ er e m corag e m .<br />

Elas têm m ais sentido e m qualqu er outro lugar que não seja o<br />

corp o. Enquanto a ev oluç ã o bioló gic a oc orr eu atrav é s de<br />

mutaç õ e s corpor ais, a evoluç ã o individual dev e ser levad a por<br />

um ca minh o de transfor m a ç õ e s aní mic o- espirituais. Assim<br />

co m o a célula do cân c er faz algo de si m e s m a , os pacient e s<br />

dev e m fazer algo de suas vi<strong>da</strong>s. E é precis o que seja algo<br />

próprio - que se aproxi m e <strong>da</strong>s preten s õ e s autárquic a s do<br />

cân c er. O próprio pacient e dev e viver a fertili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s células<br />

can c erí g e n a s . Em tudo isso, m o stra- se con sid er a ç ã o pelas<br />

próprias raízes - talvez seja literalm e nt e nec e s s á ri o renun ciar à<br />

funçã o alta m e nt e esp e ci alizad a que se assu miu na so ci e d a d e ,<br />

na firma ou na família, para voltar a se tornar um ser hum a n o<br />

1 1<br />

9


co m nec e s si d a d e s próprias e idéias maluc a s .<br />

Todo s os pacient e s que, por um a vez ain<strong>da</strong>, virara m a<br />

página, conta m que suas vi<strong>da</strong>s mud ar a m radical m e nt e atrav é s<br />

<strong>da</strong> do e n ç a . Em vez do con s e nti m e n t o dos outros, pas s a a<br />

hav er auto- afirma ç ã o , e m lugar <strong>da</strong> sub mi s s ã o do sub altern o, a<br />

reb eliã o declarad a. Com os pacient e s social m e n t e be m -<br />

suc e did o s , pod e ac o nt e c e r que a eg o- trip vivi<strong>da</strong> ma s não vista<br />

pelo próprio pacient e tenha de ser integrad a à con s ci ê n ci a.<br />

Constata- se entã o que há outra coisa muito mais es s e n ci al.<br />

Os critérios apres e nt a d o s , de man eira bastant e análo g a, são<br />

válido s tam b é m para as terapias dirigi<strong>da</strong>s ao corp o, dos<br />

exer cíci o s bio e n e r g étic o s que m o biliza m a en er gia vital às<br />

injeç õ e s . Sempr e que as terapias assu m e m os princípio s que o<br />

cân c er vive de fato, suas chan c e s aum e nt a m<br />

con sid er a v el m e n t e . Assim, a m e dicin a antrop o s ófic a, por<br />

exe m pl o, utiliza o visc o 37 para colo c ar e m jogo um a<br />

excr e s c ê n c i a que corresp o n d e parcial m e nt e ao cres ci m e n t o do<br />

tum or. Além diss o, as injeç õ e s leva m a um a estimula ç ã o do<br />

org anis m o que o incita à luta. O já m e n ci o n a d o tipo de<br />

psicot er apia praticad o por Simonto n 38 tam b é m se enc aixa aqui,<br />

se be m que ela mata dois co elh o s co m uma só cajad a d a, já<br />

que leva os pacient e s a viven ci ar suas agre s s õ e s e co m isso,<br />

ao m e s m o temp o, mina o terren o do tum or. Entretanto, ao lutar<br />

contra as células can c erí g e n a s é precis o ter cui<strong>da</strong>d o para que<br />

a luta contra as células can c erí g e n a s não se transfor m e e m<br />

uma luta contra o próprio destino. Antes de cad a cura há um a<br />

etap a, nec e s s á ria, de ac eitaç ã o ; brigar co m o destino leva à<br />

direç ã o contrária 39 .<br />

Em última instância, trata- se de <strong>da</strong>r uma aju<strong>da</strong> à vitali<strong>da</strong>d e e à<br />

criativi<strong>da</strong>d e do pacient e, e não mais ou m e n o s soterrá- las atrav é s<br />

de "aço, raios e quí mic a". Quando, ain<strong>da</strong> assi m, es s a s cois a s<br />

dev a m ser usad a s, faça m sentido ou não, tais m e did a s dev eria m<br />

ser con sid era d a s unica m e nt e um ganh o de temp o pelo qual se<br />

paga muito caro, sen d o as m e di<strong>da</strong> s que au m e nt a m a vitali<strong>da</strong>d e<br />

introduzi<strong>da</strong> s ao m e s m o temp o e, principal m e nt e , dep ois. Método s<br />

co m o o de Simonto n, por exe m pl o, são tam b é m ótim o s subsídios<br />

para apoiar uma quimiot er apia ou uma radioterapia. De qualqu er<br />

1 2<br />

0


man eira, o contrário não é ver<strong>da</strong>d eir o. A respiraç ã o é um ponto<br />

es s e n ci al. Respiraç ã o é co m u nic a ç ã o e esta, no cânc e r, foi<br />

atira<strong>da</strong> para um plano primitivo e radical. Até este ponto, uma<br />

terapia respiratória radical é uma bo a pos sibili<strong>da</strong>d e , tanto mais<br />

que a cad a se s s ã o o corp o é inun<strong>da</strong> d o de oxigêni o. Isso já se<br />

tornou um m ét o d o de trata m e nt o de cânc e r adotad o pela m e dicin a<br />

alternativa. Além diss o, e m muitos pacient e s de cânc e r a<br />

respiraç ã o , send o uma expre s s ã o do fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, está limita<strong>da</strong> e<br />

prejudicad a . Há na cres c e nt e libera ç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o uma grand e<br />

oportuni<strong>da</strong> d e de voltar a abrir- se para o fluxo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

A mutaç ã o no nível celular enc o ntra corre sp o n d ê n c i a na<br />

m eta m o rf o s e do nível aní mic o- espiritual. Encontra- se nest e<br />

ca min h o tudo o que reforç a a relaç ã o co m a religio e que per mite<br />

o ac e s s o dos afetad o s a seu s níveis mais profund o s. Após to<strong>da</strong> a<br />

nec e s s á ri a reb eliã o contra seu oportunista jogo social, tend o<br />

enc o ntrad o seu s ver<strong>da</strong>d eir o s lugare s e tend o- os assu mid o de<br />

corp o e alm a ele s, e m qualqu er cas o, venc e r a m . Isso entã o<br />

significa nova m e n t e o fim de to<strong>da</strong> s as tentativa s de ser algo<br />

esp e ci al, o fim de todo o eg oí s m o . Eles rec o n h e c e m que estã o no<br />

lugar certo e que sã o um co m tudo. Isso seria tam b é m a<br />

(dis)soluç ã o para a célula canc e ríg e n a : não assu mir seu lugar<br />

co m resign a ç ã o e por falta de alternativa s, ma s assu mi- lo<br />

con s ci e nt e m e n t e e rec o n h e c e r sua uni<strong>da</strong>d e co m todo o corp o.<br />

Psicoterapias revela d or a s pod e m ser de valor decisivo nes s e<br />

ca min h o , desd e que env olv a m os níveis do corp o e dos<br />

sentim e nt o s e não se limite m aos "pens a m e n t o s <strong>da</strong> cab e ç a ". A<br />

grand e oportuni<strong>da</strong>d e está e m decifrar o padrã o de vi<strong>da</strong> no qual o<br />

cânc e r tornou- se nec e s s á ri o. A outra é uma quest ã o de humil<strong>da</strong> d e<br />

e de de m ê n c i a. Pois o am or que tudo abran g e , sen d o a chav e <strong>da</strong><br />

imortali<strong>da</strong>d e , não pod e ser co m pr o v a d o e ne m m e s m o ser de fato<br />

utilizado terap eutica m e n t e . Pode- se unica m e n t e preparar algu é m<br />

para que esteja alerta quand o isso lhe aco nt e ç a . Em to<strong>da</strong> s as<br />

épo c a s alguns pacient e s de cânc e r aprov eitara m a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

ofere cid a pelo fato de estar e m m ortal m e nt e do e nt e s para abrir- s e<br />

para ess e grand e pass o . Embor a tam b é m tenh a m co m e ç a d o<br />

co m o nor m o p at a s eles, so b a pres s ã o de seu sinto m a ,<br />

transfor m ar a m - se e m ser e s hum a n o s que impre s si o n a v a m os<br />

outros unica m e nt e co m sua pres e n ç a .<br />

1 2<br />

1


P ergunt a s<br />

1. Vivo minh a vi<strong>da</strong> ou deixo que ela seja deter min a d a do<br />

exterior?<br />

2. Eu arrisc o perd er minh a cab e ç a ou assu m o todo tipo de<br />

co m pr o m i s s o para ficar em paz?<br />

3. Deixo esp a ç o para minh a s en er gias ou se m pr e as<br />

sub ordin o a regra s e deter min a ç õ e s pre e st a b e l e cid a s ?<br />

4 Eu m e per mito expres s ar as agre s s õ e s ou guard o tudo<br />

para mim me s m o e co mi g o m e s m o ?<br />

5. Que pap el des e m p e n h a m as transfor m a ç õ e s e m minh a<br />

vi<strong>da</strong>? Tenh o a cora g e m de estend e r- m e e m nov o s ca m p o s ? Sou<br />

frutífero e criativo?<br />

6. A co m u nic a ç ã o e um vivo intercâ m b i o ocup a m um lugar de<br />

desta q u e e m minh a vi<strong>da</strong>, ou eu m e entend o m elh or co mi g o<br />

m e s m o ?<br />

7 Eu m e per mito pular a cerc a de vez e m quan d o , ou para<br />

mim o melh or é a<strong>da</strong>ptar- m e a tudo?<br />

8. Minhas defe s a s aní mic a s e física s estã o e m har m o ni a, ou<br />

será que a defe s a corp or al está enfraqu e cid a e m favor <strong>da</strong> defe s a<br />

anímic a?<br />

9 Que papel des e m p e n h a m e m minh a vi<strong>da</strong> as duas<br />

pergunta s fun<strong>da</strong> m e nt ais: De ond e venh o? Para ond e vou?<br />

10 Será que o grand e am or que tudo abran g e tem algu m a<br />

chan c e e m minh a vi<strong>da</strong>?<br />

1 1 . Que papel des e m p e n h a e m minh a vi<strong>da</strong> o ca minh o que<br />

se gu e o se guinte lem a: "CONHECE A TI MESMO – PARA QUE<br />

POSSAS CONHECER A DEUS"?<br />

1 2<br />

2


3<br />

A Cabe ça<br />

1. Os cabelos<br />

Vistos anato mi c a m e n t e , os cab el o s localiza m- se na parte<br />

mais alta do corp o e co br e m o lado so m b ri o ou noturno de<br />

noss o glob o terrestr e pes s o al. Nossa força e nos s o brilho<br />

reflete m - se e m sua força e e m seu brilho. Quando esta m o s e m<br />

form a e saud á v ei s, eles tam b é m o estã o. Sua lingua g e m<br />

sim b ólic a rev ela muitos tem a s ca b elu d o s . Eles fizera m história<br />

co m o sím b ol o <strong>da</strong> liber<strong>da</strong> d e . A ép o c a hippie, co m suas len<strong>da</strong>s<br />

surgi<strong>da</strong> s e m torno <strong>da</strong> Era de Aquário e do music al "Hair",<br />

de m o n s tr a plastica m e n t e a relaç ã o entre o orgulho capilar e a<br />

reivindica ç ã o de liber<strong>da</strong>d e . O pólo opo st o dos hippie s <strong>da</strong> Era<br />

de Aquário con stituído pelo s sol<strong>da</strong> d o s de to<strong>da</strong> s as ép o c a s e de<br />

todo s os país e s . Por m ais antag ô ni c a s que as ideolo gi a s<br />

pos s a m ser, elas lutam, e ao fazê- lo se m pr e sacrifica m algo<br />

[Haar = cab el o / Haare las s e n mü s s e n = sacrificar algo contra a<br />

vontad e] – tanto literalm e nt e co m o e m sentido figurad o. Todo s<br />

os exér cito s regular e s são unâni m e s e m rapar o cab el o de<br />

seus recrutas. Pois assi m, juntam e nt e co m seus cab el o s , cortase<br />

sim b olic a m e n t e tam b é m sua liber<strong>da</strong> d e . Encontra- se o<br />

m e s m o fenô m e n o nos m o n g e s zen, e m b o r a renun ci e m ao s<br />

cab el o s e à liber<strong>da</strong>d e extern a que eles sim b oliza m por livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e con s ci e nt e m e n t e . Seu objetivo é aqu el a<br />

liber<strong>da</strong> d e interna m ais profun<strong>da</strong> no âm bito espiritual, para cuja<br />

realizaç ã o as liber<strong>da</strong>d e s extern a s seria m so m e n t e um estorv o.<br />

Mas ob s ervand o co m distancia m e n t o , os m o n g e s zen dev e m<br />

renun ciar à própria vontad e de man eira tão estrita co m o os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . A ob e di ê n ci a ve m e m prim eiro lugar, e para isso os<br />

próprios cach o s [Lock e n ] e as sedu ç õ e s [Lockun g e n ] do<br />

mund o, sim b olic a m e n t e , atrapalharia m . Para os guerr eiro s <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong> d e , indivíduo s resp o n s á v ei s por si m e s m o s que lutam<br />

1 2<br />

3


por seu país e por sua indep e n d ê n ci a, os cab el o s não<br />

atrapalha m de form a algu m a . Eles bus c a m expres s a m e n t e a<br />

liber<strong>da</strong> d e extern a, ou seja, política. Aos serv o s, ao contrário,<br />

estav a ved a d o o uso de um a orgulho s a cab el eira. Eles era m<br />

"rapad o s ", tal co m o o de m o n s tr a até hoje a expres s ã o bávar a<br />

corre s p o n d e n t e . Ela explícita ain<strong>da</strong> a depr e ci a ç ã o que as<br />

pes s o a s "se m" cab el o s tinha m de suportar na ép o c a , e que<br />

muitos "carec a s " sofre m até hoje.<br />

Os cab el o s são um dos ca m p o s de batalha favoritos para as<br />

lutas sim b ólic a s pela liber<strong>da</strong>d e . Na China, erigiu- se to<strong>da</strong> um a<br />

ord e m social, literalm e nt e, co m as tranç a s. Ain<strong>da</strong> hoje nós<br />

corta m o s sim b olic a m e n t e as velha s tranç a s. Em sua<br />

ord en a ç ã o estrita, a existên ci a <strong>da</strong> tranç a dep e n d e de que cad a<br />

m e c h a tenha e mant e n h a exata m e n t e o seu lugar. O próprio<br />

ato de fazer a tranç a já é um ato de disciplina. Caso se co m e c e<br />

todo s os dias co m es s a autodis ciplina sim b ólic a, a vi<strong>da</strong> adquire<br />

uma m oldura ord en a d a , m a s tam b é m doloro s a m e n t e<br />

controlad a. Nenhu m fio de cab el o pod e se g uir seu próprio<br />

ca min h o , cad a m e c h a está firme m e n t e so b controle. Ness e<br />

sentido, cortar as tranç a s é até hoje para muitas m e nin a s um<br />

ato de libertaç ã o e de e m a n cip a ç ã o . Em ép o c a s mais antigas,<br />

os cab el o s long o s não era m tanto um sím b ol o de liber<strong>da</strong>d e<br />

para as mulh er e s , pois era m um a obvied a d e . Por esta razão,<br />

que br ar es s a regra era um ato de e m a n cip a ç ã o , e co m isso a<br />

mulh er queria de fato libertar- se do típico pap el feminino, que<br />

se por um lado a livrava <strong>da</strong>s preo c up a ç õ e s co m a subsist ên ci a,<br />

por outro livrava- a tam b é m de qualqu er resp o n s a bili<strong>da</strong>d e<br />

social.<br />

O selva g e m cres ci m e n t o dos cab el o s <strong>da</strong> gera ç ã o de Aquário<br />

pod e ter sido so m e n t e um brev e relâ m p a g o se o co m p ar a m o s<br />

co m a torm e nt a que se des e n c a d e o u quan d o as prim eiras<br />

mulh er e s ab and o n ar a m suas long a s e orden a d a s cab el eira s<br />

para, co m pente a d o s pag e m e à Ia garç o n, assu mir as<br />

liber<strong>da</strong> d e s do mund o dos ho m e n s . Em am b o s os cas o s ,<br />

tratava- se de impor a própria cab e ç a e não m ais <strong>da</strong>nç ar de<br />

ac ord o co m a músic a dos outros. Por trás do lem a: “O cab el o é<br />

1 2<br />

4


m e u” está, de m an eira ain<strong>da</strong> m ais decidi<strong>da</strong>: "Eu tenh o minha<br />

própria cab e ç a e pos s o deter min ar de man eira indep e n d e n t e o<br />

que cres c e so br e ela e o que ac o nt e c e dentro dela!”.<br />

Os pente a d o s reflete m posturas intelectuais. Assim, os<br />

artistas freqü e nt e m e n t e tend e m a usar pente a d o s<br />

extrava g a nt e s en quant o as pes s o a s que estã o co m pr o m e tid a s<br />

co m as nor m a s <strong>da</strong> soci e d a d e tend e m a usar pente a d o s<br />

uniform e s , nor m ai s e pouc o fantasio s o s . Os “coqu e s ", que<br />

pod e m ser enc o ntrad o s rara m e n t e no ca m p o , são um cas o<br />

ain<strong>da</strong> m ais extre m o que o <strong>da</strong>s tranç a s . Tudo está <strong>da</strong>d o de<br />

ante m ã o na form a rígi<strong>da</strong>, ne m um único fio de cab el o pod e<br />

levantar- se, não há lugar ne m para a liber<strong>da</strong> d e ne m para a<br />

criativi<strong>da</strong>d e, seja na cab e ç a ou na vi<strong>da</strong>. No pólo opo st o, os<br />

pente a d o s dos punk s são um sinal <strong>da</strong>d o con s ci e nt e m e n t e de<br />

que eles assu m e m to<strong>da</strong> s as liber<strong>da</strong> d e s e não quer e m ter m ais<br />

na<strong>da</strong> a ver co m a disciplina e a orde m sim b olizad a s pelos<br />

pente a d o s usuais.<br />

Sendo assi m, a pele <strong>da</strong> cab e ç a é um bo m palco para a<br />

con stataç ã o do pap el que se está des e m p e n h a n d o nesta vi<strong>da</strong>.<br />

Entretanto, hoje é precis o pen s ar ain<strong>da</strong> na pos sibili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

co m p e n s a ç ã o . Na ép o c a de Luís XV, um op er ário não tinha a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de m elh or ar exterior m e nt e sua posiç ã o so cial<br />

usan d o um a peruc a de cac h o s e m p o a d o s . Hoje e m dia, ao<br />

contrário, qualqu er um pod e enc e n a r o son h o de sua vi<strong>da</strong><br />

so br e a cab e ç a se m que isso corresp o n d a nec e s s a ri a m e n t e à<br />

sua vi<strong>da</strong> con cr eta. Quem agü e nt a um a vi<strong>da</strong> de rato cinzento<br />

e m um es critório cinzento pod e, co m um a louc a cab el eira de<br />

cac h o s ver m el h o s , indicar que outros tem a s muito diferent e s<br />

esp er a m ser des c o b e rt o s . Mesm o que isso ain<strong>da</strong> seja um<br />

son h o distante, os sinais corresp o n d e n t e s já fora m <strong>da</strong>d o s . A<br />

selva g e ria dos cac h o s pod e ser entã o co m p e n s a ç ã o para um a<br />

vi<strong>da</strong> m o n ót o n a, claro que pod e n d o estar anun ciand o tam b é m<br />

as corre s p o n d e n t e s reivindic a ç õ e s e m relaç ã o ao futuro. O<br />

son h o não vivido torna- se esp e ci al m e n t e cha m a tivo e<br />

sinto m átic o quan d o tanto a cor co m o a form a são produzi<strong>da</strong> s<br />

artificialm e nt e. Neste cas o , quer- se real m e nt e con q uistar nova s<br />

1 2<br />

5


terras. Caso a po m p a seja, ao contrário, autêntica, é prováv el<br />

que se esteja indican d o âm bito s que vê m naturalm e nt e à<br />

pes s o a e que, nest e cas o , tam b é m se irão co m a m e s m a<br />

facili<strong>da</strong>d e.<br />

Um outro nível de significad o dos cab el o s gira ao redor do<br />

tem a poder. Pode- se pen s ar aqui na história bíblica de<br />

Sansã o , que ao perd er seus formidáv ei s cab el o s perd eu<br />

tam b é m a Energia e o pod er corresp o n d e n t e s , ou nos reis<br />

franc o s <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média. Seu pod er ilimitado e sua<br />

invulnera bili<strong>da</strong>d e dep e n di a, não por ac a s o , de long o s cab el o s<br />

que jam ais tives s e m sido tocad o s por um a faca. Pess o a s <strong>da</strong>s<br />

mais varia<strong>da</strong> s culturas tend e m a entrete c e r porç õ e s<br />

suple m e n t ar e s de cab el o para realçar sua apar ên ci a. Para as<br />

culturas que pen s a m sim b olic a m e n t e , não é nec e s s á ri o ne m<br />

m e s m o que se trate m de cab el o s ver<strong>da</strong>d eir o s, tais co m o<br />

noss a s peruc a s e apliqu e s, as pes s o a s tam b é m gosta m de<br />

adorn ar- se co m mat eriais e plum a s alheia s. Os co c ar e s dos<br />

índios se g u e m o exe m pl o <strong>da</strong> plum a g e m dos pás s ar o s . A<br />

cab e ç a de um chefe e m oldura d a por um formidáv el co c a<br />

expr e s s a força, pod er e digni<strong>da</strong>d e , be m co m o proximi<strong>da</strong>d e do<br />

céu.<br />

Na batalha, os guerr eiro s celtas confiava m in seus<br />

pente a d o s de guerra, nos quais os cab el o s assu mi a m form a s<br />

altíssi m a s e impres si o n a nt e s . Com o se foss e um a esp é ci e de<br />

fixador primitivo, eles usav a m lam a. Com os cab el o s assi m<br />

transfor m a d o s e m m o ntan h a s , eles m o strav a m ao s inimig o s<br />

que alé m de ter cab el o s na cab e ç a , não tinha m pêlo s na<br />

língua. Com o a de m o n s tr a ç ã o de pod er está se m pr e liga<strong>da</strong> ao<br />

m e d o , fica claro neste cas o que co m tal esp et á c ul o os cab el o s<br />

dos inimig o s tam b é m fica s s e m e m pé. Os pás s ar o s arrepia m<br />

as plum a s e os anim ai s eriça m os pêlos quan d o de m o n s tr a m<br />

pod er e quan d o têm bo a s razõ e s para sentir m e d o . Em<br />

situaç õ e s corresp o n d e n t e m e n t e difíceis os ser e s hum a n o s<br />

arranc a m os próprios cab el o s , o que por um lado expres s a<br />

des e s p e r o por outro confer e um a apar ê n ci a m ais<br />

impres si o n a nt e. Quando não se toca “ne m em fio de cab el o" de<br />

1 2<br />

6


uma pes s o a , deixa- se intacto s seu pod er e sua digni<strong>da</strong>d e.<br />

Quando, ao contrário, duas pes s o a s se agarra m pelo s cab el o s,<br />

o objetivo de cad a um humilhar e sup er ar o outro. O opon e nt e<br />

dev e ser de p e n a d o , e para isso tira- s e pêlo <strong>da</strong> cara dele. Isso<br />

pod e levar à discus s ã o por caus a de minúcia s [Haar s palterei /<br />

Haar = cab el o / Sp alt = fen<strong>da</strong>] e, alé m diss o, faz co m que e m<br />

todo cas o se enc o ntr e um cab el o na so p a [Ein Haar in der<br />

Sup p e finden = dep ar ar- se co m algo des a gr a d á v e l].<br />

O pólo opo st o do pod er m o stra- se na per<strong>da</strong> de cab el o. As<br />

reclus a s e as mulh er e s que tinha m dor mid o co m sol<strong>da</strong> d o s<br />

inimig o s tinha m suas cab e ç a s rapad a s , o que lhes retirava<br />

tanto a liber<strong>da</strong> d e co m o seu pod er e en er gia feminino s, para<br />

marc á- las e puni- las. Antiga m e nt e , o m e s m o trata m e nt o era<br />

disp en s a d o às “bruxas", já que seus cab el o s prefer e n ci al m e nt e<br />

ruivos era m um sinal do pod er feminin o co m o qual elas fazia m<br />

co m que "ho m e n s inoc e nt e s " perd e s s e m a cab e ç a .<br />

Uma variante mais suav e des s a violaç ã o é o “puxar os<br />

cab el o s", co m u m até os dias de hoje. Além do asp e ct o de<br />

puniçã o, co m isso indica- se tam b é m dolor o s a m e n t e a m ais<br />

ab s oluta impotên ci a. Quando o profes s o r ergu e o aluno de seu<br />

ass e nt o puxand o- o por seu sím b ol o de pod er, digni<strong>da</strong>d e e<br />

liber<strong>da</strong> d e , ele de m o n s tr a co m isso o próprio pod er e a<br />

impotênci a de sua vítima. Quando algo é "puxad o pelos<br />

cab el o s"' [etwa s an den Haaren herb eizie h e n / puxar algo pelo s<br />

cab el o s = distorc er a ver<strong>da</strong>d e de ac ord o co m a própria<br />

conv e ni ê n ci a] a ver<strong>da</strong> d e é viola<strong>da</strong> e torci<strong>da</strong> até ficar do jeito<br />

que se quer.<br />

Os pente a d o s altos de so b er a n a s no estilo de Nefertiti une m<br />

o tem a do pod er co m o tem a <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de. Um pente a d o alto<br />

e sen h oril frisa ain<strong>da</strong> mais o berç o nobr e. De m an eira<br />

corre s p o n d e n t e , e e m con s o n â n ci a co m suas portad or a s , os<br />

pente a d o s até hoje tend e m a alcan ç ar alturas cad a vez m ais<br />

elev a d a s . Quem erig e seus cab el o s e m um a form a<br />

impres si o n a nt e, sacrifican d o para isso temp o e dinh eiro, pen s a<br />

alto e esp er a que tanto seu orna m e n t o co m o seu investi m e nt o<br />

valha m a pen a. Assim, o alto nas ci m e n t o e as altas am biç õ e s<br />

1 2<br />

7


estã o próxim o s , e não é raro que pente a d o s altos repre s e nt e m<br />

objetivo s corre s p o n d e n t e s . O au m e nt o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a de si<br />

m e s m o tam b é m des e m p e n h a um pap el no contexto do pod er e<br />

<strong>da</strong> digni<strong>da</strong>d e , o que é perc e bid o por qualqu er adol e s c e n t e que<br />

cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e lava ou penteia seu topete ante s <strong>da</strong> festa para<br />

apar e c e r um pouquinh o mais.<br />

Sendo um ap ên dic e <strong>da</strong> pele, os cab el o s tam b é m colo c a m<br />

e m jogo quali<strong>da</strong>d e s venusian a s , talvez quan d o eles, tingido s<br />

co m a própria cor de Vênus, transfor m a m a cab e ç a e m um<br />

farol ou exib e m um a selva g e m juba de leão sedutor a m e n t e<br />

ma ci a. Os cach o s [Lock e n ] têm algo de enc a ntad o r [lock end],<br />

atraind o [lock e n = atrair] outros participante s de m an eira<br />

relaxad a [lock er = frouxo, fofo, relaxad o). Os cab el o s<br />

cac h e a d o s [Lock e n kopf / kopf = cab e ç a] repre s e nt a m a<br />

indep e n d ê n c i a no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra já que<br />

cad a cac h o , contra qualqu er orde m esta b el e ci d a, segu e seu<br />

próprio ca minh o criativo. Jubas não pod e m ne m precis a m ser<br />

pente a d a s , agitá- las é suficiente. Caso algu é m ous e tentar<br />

do m ar um tal gato pre<strong>da</strong> d o r e selva g e m , os long o s cab el o s<br />

cac h e a d o s pod e m rev elar- se tam b é m m eig o s e insinuante s .<br />

Seu brilho sed o s o expr e s s a sua vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Entretanto, uma bela e cheia cab el eira pod e tam b é m<br />

apo ntar na direç ã o contrária quan d o os cab el o s , dividido s ao<br />

m ei o co m m o d é s tia de Madona, ca e m lisos so br e os o m br o s . A<br />

en er gi a e a digni<strong>da</strong>d e tam b é m estã o evid e n ci a d a s aqui, m a s o<br />

ca min h o ord en a d o que elas segu e m e a divisã o equilibrad a do<br />

caud al faz co m que seja m con sid er a d a s do ponto de vista <strong>da</strong><br />

har m o ni a. E para impre s si o n ar co m es s e cab el o, é nec e s s á ri o<br />

e m todo cas o um en or m e volu m e , já que os cac h o s , por sua<br />

própria naturez a, ocup a m m ais esp a ç o . No pólo opo st o, a<br />

renún cia voluntária ao adorn o dos cab el o s deixa claro co m o a<br />

pes s o a faz pouc o <strong>da</strong> impres s ã o que exerc e so br e o sexo<br />

opo st o. Ela dev eria ser indiferent e para os m o n g e s , e outras<br />

cois a s estã o progra m a d a s para os sol<strong>da</strong> d o s , m e s m o que se<br />

trate de um oficial. Durante o serviç o militar eles serv e m a sua<br />

pátria, e para isso o eg o precis a ser obliterad o e a liber<strong>da</strong>d e<br />

1 2<br />

8


pes s o al e o efeito que se exer c e dev e m pas s ar para o segun d o<br />

plan o.<br />

A proble m á tic a do enc a n e c i m e n t o dos cab el o s será trata<strong>da</strong><br />

no final, junta- m e nt e co m OS sinto m a s <strong>da</strong> velhic e. Som e nt e os<br />

próprios afetad o s pod e m decidir se o cinzento extern o reflete o<br />

cinza interno ou se a brancur a dos cab el o s reflete sab e d o ria ou<br />

apen a s a simula. O que é decisivo é sab er se eles sofre m so b<br />

o efeito des s a colora ç ã o . O sofrim e nt o se m pr e nos diz que algo<br />

saiu <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e foi e m p urrad o para o corp o para entã o<br />

tornar- se incô m o d o lá. Quanto ao s cab el o s tingidos<br />

artificialmente, esta m o s m ais próxim o s do plano <strong>da</strong><br />

co m p e n s a ç ã o . Os punk s, de man eira muito evid e nt e, leva m<br />

para seus pente a d o s as cor e s de que sent e m falta na vi<strong>da</strong>.<br />

Quem acre s c e n t a um pai de m e c h a s a seus cab el o s de cor<br />

uniform e quer evid e nt e m e n t e um pouc o de variaç ã o na<br />

m o n ót o n a uniformi<strong>da</strong>d e de suas cab e ç a s . Isso pod e se <strong>da</strong>r<br />

co m o co m p e n s a ç ã o , ma s tam b é m de m an eir a progra m á tic a,<br />

sen d o entã o ac o m p a n h a d o <strong>da</strong>s tentativas corre s p o n d e n t e s de<br />

tam b é m expr e s s ar es s a variaç ã o e m outros plano s.<br />

No jogo <strong>da</strong>s cor e s, o que m e n o s se ped e é a médi a. Cab el o s<br />

es c ur o s são tingido s de prefer ê n ci a de negr o azevic h e ,<br />

en qu a nt o para o castanho - claro prefer e- se o m ais lumino s o<br />

louro. O anjo louro- ourop el e a misterio s a noite es c ura são<br />

co m p a dr e s . A tend ê n ci a ao s extre m o s extern o s não raro<br />

contrasta m co m um a dispo siç ã o m orn a no interior. A fras e de<br />

Cristo: “Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei" refer e- se<br />

bastant e univo c a m e n t e à alm a, m a s é m ais simpl e s e cô m o d o<br />

aplicá- la extern a m e n t e .<br />

Finalm e nt e os cab el o s , co m o ap ên dic e <strong>da</strong> pele, funcion a m<br />

tam b é m co m o anten a s a serviç o <strong>da</strong> perc e p ç ã o extern a e <strong>da</strong><br />

vigilância. Ness e cas o, pen s a m o s nos bigod e s dos gato s e nos<br />

pêlo s m ais finos do corp o hum a n o . Uma pes s o a se m pêlo s,<br />

portanto, não tem anten a s volta<strong>da</strong> s para fora. Entre os<br />

sol<strong>da</strong> d o s , o isola m e n t o sim b ólic o do mun d o exterior é<br />

des ej á v el expres s a n d o - se tam b é m no interna m e n t o <strong>da</strong><br />

cas ern a. Já entre os m o n g e s zen, o retraim e nt o <strong>da</strong>s anten a s<br />

1 2<br />

9


extern a s por m ei o do rec olhi m e nt o na solidã o do m o st eiro tem<br />

um significad o ain<strong>da</strong> mais profund o.<br />

Pêlos no peito e nas perna s, por fim, per mite m entrev er um<br />

sim b olis m o hum a n o - anim al e s c o , evo c a n d o o pas s a d o <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong> ev oluç ã o , ch ei o de en er gia exub er a nt e e selva g e ria<br />

anim al. Os pêlo s de barb a nas fac e s e no queixo, por sua vez,<br />

são con sid er a d o s adorn o s clas sic a m e n t e ma s c ulino s. Um<br />

cavan h a q u e pod e ac e ntuar o asp e ct o <strong>da</strong> força de vontad e e <strong>da</strong><br />

cap a cid a d e de se impor, en q u a nt o um a barb a cheia pod e<br />

tam b é m natural m e nt e ocultá- las, ou seja, deixá- las no es cur o.<br />

Enquanto os ho m e n s que lem br a m noss o peludo pas s a d o<br />

primordial gosta m de se van gloriar, os ac e s s ó ri o s<br />

corre s p o n d e n t e s são insup ortáv ei s para as mulh er e s . Pêlos de<br />

barb a e cab el o s no peito arruína m a aura feminina e são<br />

arranc a d o s um a um. A hon e st a naturez a, entretanto, é<br />

teim o s a , e as ex cr e s c ê n c i a s ma s c ulina s se m pr e volta m a<br />

cres c e r. As expres s õ e s plen a s de significad o corresp o n d e n t e s<br />

equival e m à cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a do organis m o .<br />

Hirsutismo<br />

O surgi m e nt o de pêlo s corp or ais gros s o s tipica m e nt e<br />

ma s c ulino s e m mulh er e s produz um sofrim e nt o con sid er á v el.<br />

Este sinto m a nos per mite rec o n h e c e r co m clarez a que<br />

co m p o n e n t e s ma s c ulino s fora m forçad o s para a so m b r a e, de<br />

lá, tenta m tornar- se do min a nt e s no corpo. A situaç ã o hor m o n al,<br />

co m um a prep o n d e r â n ci a de co m p o n e n t e s ma s c ulino s, m ais<br />

reflete o fenô m e n o que o explica. As mulh er e s afetad a s vive m<br />

e des c o b r e m suas preten s õ e s e co m p o n e n t e s aní mic o s<br />

ma s c ulino s incon s ci e nt e s na sup erfície <strong>da</strong> sinc er a pele. De<br />

fato, to<strong>da</strong> s as mulh er e s têm a obriga ç ã o de des c o b rir e<br />

des e n v olv er seu pólo ma s c ulino, cha m a d o de animu s por Jung.<br />

Mas isso dev eria oc orr er na con s ci ê n ci a, e não no corp o. É<br />

esp e ci al m e n t e nos ano s de pub erd a d e que es s a tem átic a<br />

aflora, e es s a ép o c a está pred e stin ad a para a m anife staç ã o<br />

1 3<br />

0


física <strong>da</strong> m a s c ulini<strong>da</strong>d e quan d o não se dá nen hu m a chan c e<br />

para a mas c ulini<strong>da</strong>d e aní mic o- espiritual.<br />

A erupç ã o <strong>da</strong> en er gia ma s c ulina no cres ci m e n t o <strong>da</strong> barb a<br />

rev ela a reivindica ç ã o incon s ci e nt e de força de vontad e e<br />

cap a cid a d e de se impor. Uma pelug e m esp e s s a no corp o deixa<br />

entrev er um co m p o n e n t e anim al. Caso os afetad o s sofra m co m<br />

es s e s sinto m a s , há muito faland o e m favor de que eles vive m<br />

muito pouc o seu lado de anim al hum a n o , tend o que expres s álo<br />

no corp o. Caso não haja nen hu m sofrim e nt o e m jogo, coisa<br />

co m u m entre os ho m e n s , o exterior reflete o interior. O cas o<br />

extre m o , que não se limita às mulh er e s , seria o dos cha m a d o s<br />

"homens- cão ", e m que a integra ç ã o <strong>da</strong> parte anim al adquire<br />

primazia. Quando um ho m e m torna- se cão, isso quer dizer que<br />

ele che g o u ao ponto mais baixo. No que se refer e à hierarquia<br />

<strong>da</strong> evoluç ã o , isso tam b é m é válido para os ho m e n s peludo s<br />

que são confrontad o s co m seu pas s a d o anim al. Quando, no<br />

hirsutis m o , esta b el e c e - se um padrã o de pêlo s púbic o s<br />

ma s c ulino s, a veia fálica agre s siv a não declar ad a é ac e ntuad a.<br />

Os sinais de “machificaç ã o " (virilizaçã o , do latim vir = ho m e m )<br />

que muitas vez e s se so br e p õ e m ao cres ci m e n t o de pêlo s<br />

apo nta m na m e s m a direç ã o . Para os outros, torna- se<br />

imediata m e n t e claro que es s a mulh er é uma “mulh er- m a c h o ",<br />

ou seja, um a pes s o a que não se pod e tratar assi m de qualqu er<br />

man eira e que ela não está para brinca d eira s. O sinto m a quer<br />

que ela m e s m a o perc e b a .<br />

A tarefa de apren dizad o não con siste e m lutar contra o<br />

ma s c ulino e sim, ao contrário, e m sua realizaç ã o na própria<br />

vi<strong>da</strong>. Em vez de ac e ntuar o queixo co m um a barb a, trata- se de<br />

prop orci o n ar um a via de manifesta ç ã o para a própria vontad e.<br />

Em vez de env olv er- se e m um a den s a pelug e m , teria m ais<br />

sentido bus c ar proteç ã o por mei o do resp eito. Em lugar de um a<br />

apar ê n ci a extern a m e n t e ma s c ulina, que surja do íntimo um a<br />

irradiaç ã o de en er gia e pod er. Em vez de ocultar- se do mund o<br />

so b a form a de um ser peludo, trata- se justa m e n t e de deixar<br />

todo o mund o sab er que tamp o u c o a mulh er recua diante de<br />

situaç õ e s cab elud a s , que tamp o u c o tem pêlos na língua e que<br />

1 3<br />

1


tam b é m pod e esp et ar. Um certo contra- eriça m e n t o é uma <strong>da</strong>s<br />

liçõ e s a ser e m apren di<strong>da</strong> s . Renitên cia e a cap a cid a d e de<br />

eriçar- se ac e ntua m a própria vontad e e a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

ofer e c e r resistên ci a de man eira m ais eficaz e durad o ur a que<br />

um cavanh a q u e . O ma s c ulino é um dos dois pólos <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e, não há a m e n o r chan c e de eliminá- lo do mund o co m<br />

uma pinça. A única pos sibili<strong>da</strong>d e con siste e m rec o n ciliar- se<br />

co m ele.<br />

A per<strong>da</strong> de todos o pêlos do corpo<br />

Em pacient e s que sofre m dest e sinto m a, o organis m o torna<br />

explícita de m an eira radical um a forte tend ê n ci a incon s ci e nt e<br />

de desistênci a <strong>da</strong> tarefa cumpri<strong>da</strong> pelas anten a s extern a s. Os<br />

pêlo s m orr e m a partir <strong>da</strong> raiz se m qualqu er razão apar e nt e e<br />

deixa m o afetad o literalm e nt e car e c a e pelad o. Com o eles se<br />

env er g o n h a m de apar e c e r e m público se m pêlo s, o sinto m a<br />

muitas vez e s leva a um isola m e n t o total. Com isso, entretanto,<br />

efetua- se a desistên ci a que os pacient e s não têm cora g e m de<br />

levar a cab o con s ci e nt e m e n t e . No sinto m a, o corp o m o stra- lhes<br />

sim b olic a m e n t e o prop ó sito incon s ci e nt e de rec olh er as<br />

anten a s e interro m p e r os contato s co m o m ei o circund a nt e e<br />

realiza es s e des ej o. Há muito já que eles se sent e m de fato<br />

nus, des pr ot e gid o s e exp o st o s , se m no entanto ad miti- lo para<br />

si m e s m o s . O sinto m a m o stra a verg o n h a dos pacient e s e m<br />

duplo sentido. A per<strong>da</strong> do rosto senti<strong>da</strong> incon s ci e nt e m e n t e<br />

tam b é m está implícita, pois alé m dos pêlo s púbic o s e <strong>da</strong>s<br />

axilas eles perd e m tam b é m is so br a n c el h a s e os cílios. Quando<br />

eles aprend e m a sup er ar a carên ci a co m a aju<strong>da</strong> de peruc a s e<br />

ma q uia g e m , o sinto m a perd e significad o e, quan d o na<strong>da</strong><br />

ac o nt e c e interna m e n t e , a angústia aum e nt a co m o retorn o à<br />

vi<strong>da</strong> e m so ci e d a d e .<br />

A tarefa de apren dizad o é evid e nt e: trata- se de retirar- se<br />

para dentro de si m e s m o e rec olh er as anten a s . O que está<br />

sen d o exigido é a hon e sti<strong>da</strong>d e nua e a ab ertura despr ot e gi d a,<br />

co m o as de um be b ê . Tentativas de en c o b ri m e n t o cos m é ti c o<br />

1 3<br />

2


contribu e m co m o tentativa de deixar pas s ar inadv erti<strong>da</strong> a<br />

m e n s a g e m do sinto m a e não para sua cura. Juntam e nt e co m<br />

os cab el o s é retira<strong>da</strong> tam b é m a liber<strong>da</strong>d e , por exe m pl o a<br />

liber<strong>da</strong> d e de m o v er- se e m m ei o a outras pes s o a s de man eira<br />

livre e desi m p e di d a. Sendo assi m, perd e- se tam b é m parte do<br />

ma g n e tis m o e, portanto, do pod er que se exer c e so br e outras<br />

pes s o a s , esp e ci al m e n t e so br e o sex o opo st o. A pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de enc a ntar co m os cab el o s fica des c arta d a, já que pestan a s<br />

que não estã o mais disponív ei s não pod e m pisc ar.<br />

O sinto m a rem et e- se à verg o n h a natural e m o stra a própria<br />

situaç ã o de des a m p a r o . Ele interliga vários jogo s sociais e<br />

so br etud o o jogo <strong>da</strong> autoc o nfian ç a. Ele é igual m e nt e o pólo<br />

opo st o do hirsutis m o . Enquanto este sug eria impor- se por m ei o<br />

<strong>da</strong> en er gia e do pod er para assi m des o b rig ar o corpo des s a<br />

tarefa, a co m pl et a per<strong>da</strong> de pêlos força ain<strong>da</strong> m ais<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e a um estad o de des a m p a r o infantil.<br />

Que<strong>da</strong> de cabelos<br />

Quando as anten a s tão ch eias de significad o, adorn o s<br />

valios o s , sím b ol o s de pod er, liber<strong>da</strong>d e e vitali<strong>da</strong>d e são<br />

perdi<strong>da</strong> s atrav é s <strong>da</strong> vil sinto m átic a <strong>da</strong> qued a de cab el o s , dev ese<br />

pen s ar e m todo s os tem e s citado s acim a. Além diss o,<br />

so m a m - se a eles to<strong>da</strong>s as situaç õ e s nas quais é precis o<br />

sacrificar algo [Haare lars e n = deixar cab el o s]. Caso se deixe<br />

de notar a nec e s si d a d e de um a mud a n ç a aní mic o- espiritual, o<br />

org anis m o é forçad o a incorp or ar o tem a substitutiva m e n t e.<br />

Com o os cab el o s são ap ên dic e s <strong>da</strong> pele, nest e contexto seria<br />

o cas o de se pen s ar tam b é m no sim b olis m o <strong>da</strong> mud a,<br />

esp e ci al m e n t e se qued a de cab el o s ve m ac o m p a n h a d a <strong>da</strong><br />

form a ç ã o de casp a. A serp e nt e ab and o n a sua pele velha<br />

quan d o está ma dur a para uma nova. Portanto, colo c a- se a<br />

seguinte que st ã o : Será que eu neglig e n ci ei despir minha velha<br />

pele e per mitir o cres ci m e n t o de um a nova?<br />

Expres s õ e s tais co m o "deixar cab el o s" ou "pen a s" [ver<br />

aci m a: Haare Iars e n] e “sentir- se dep e n a d o " dão a enten d er<br />

1 3<br />

3


que foi precis o pag ar algo, ou seja, fazer um sacrifício que não<br />

se queria fazer de livre e esp o ntân e a vontad e. Não se saiu<br />

iles o des s a situaç ã o , m a s bastant e dep e n a d o e vulnerá v el.<br />

Aqui surg e a questã o : Onde e quan d o eu deixei de pag ar, ou<br />

seja, de lazer o sacrifício nec e s s á ri o?<br />

A tarefa de apren dizad o oculta so b este asp e ct o <strong>da</strong> que d a<br />

de cab el o s é, con s e q ü e n t e m e n t e , livrar- se de man eira<br />

con s ci e nt e <strong>da</strong>quilo que é velho e que foi sup er a d o pelo temp o<br />

para abrir esp a ç o para o nov o. Trata- se es s e n ci al m e n t e de <strong>da</strong>r<br />

es s e pas s o de m an eira con s ci e nt e, para assi m liberar o corp o<br />

<strong>da</strong> tarefa substitutiva de despr e n di m e n t o . Além diss o, impõ e- se<br />

a indicaç ã o de que muito pouc o nov o volta a cres c e r. A qued a<br />

total exig e que se livre radical m e n t e , real m e nt e até as raízes<br />

(dos cab el o s), dos velho s tem a s já sup er a d o s .<br />

A outra pos sibili<strong>da</strong>d e é ad mitir e ac eitar a per<strong>da</strong> de liber<strong>da</strong> d e<br />

que se instaurou. O corp o entã o tamp o u c o irá apre s e nt ar o<br />

tem a nova m e n t e so br e o trave s s eir o a cad a man h ã. Quem<br />

enten d e que sua liber<strong>da</strong>d e con sist e e m fazer con s ci e nt e m e n t e<br />

e de livre e esp o ntân e a vontad e aquilo que dev e ser feito não<br />

precis a tem er por seus sím b ol o s de liber<strong>da</strong>d e . Isso é<br />

esp e ci al m e n t e important e e m per<strong>da</strong>s de liber<strong>da</strong> d e inevitáv eis<br />

tais co m o , por exe m pl o, o tornar- se adulto. Pacient e s. q u e<br />

co m e ç a m a perd er cab el o s já na adol e s c ê n c i a de m o n s tr a m<br />

que não estã o suficiente m e n t e con ciliad o s co m o fato de<br />

tornar- se adultos. A care c a prec o c e , portanto, m o stra um rosto<br />

duplo. Por um lado os afetad o s , extern a m e n t e , pare c e m<br />

prec o c e m e n t e "env elh e ci d o s ”, já que a car e c a é um sinal dos<br />

ano s “madur o s". Por outro lado, um olhar treinad o<br />

sim b olic a m e n t e rec o n h e c e tam b é m a falta de cab el o s do<br />

rec é m - nas cid o, esp e ci al m e n t e se e m vez de voltare m a cres c e r<br />

nov o s cab el o s , form a- se um a suav e pelug e m A expr e s s ã o<br />

"carec a co m o a bund a de um be b ê " traz à tona es s e duplo<br />

asp e ct o. Quando a care c a já e mite reflexo s, a soluç ã o está<br />

entã o no am a d ur e ci m e n t o aní mic o- espiritual. Nunca é tarde<br />

de m ai s para livrar- se <strong>da</strong> pelug e m <strong>da</strong> infância, ou seja, de<br />

red e s c o b rir o próprio infantilism o e m um nível mais elev a d o .<br />

1 3<br />

4


Outras ép o c a s típicas para a qued a de cab el o s são o<br />

períod o que antec e d e o m atrim ô ni o, ante s de assu mir um<br />

posto fixo, ante s de uma no m e a ç ã o , etc. Aqui dev e- se pens ar<br />

no m e s m o principio: não é a desistên ci a con s ci e nt e <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong> d e e <strong>da</strong> indep e n d ê n c i a que colo c a m e m perigo os<br />

adorn o s <strong>da</strong> cab e ç a m a s c ulina ma s, e m deter min a d a s<br />

circunstânci a s, a incon s ci ê n ci a que a ac o m p a n h a e a tentativa<br />

de não pag ar pelas vantag e n s que são reivindic ad a s . Quem se<br />

torna funcion ário público co m intenç ã o e paixão e, por isso,<br />

abdic a de bo m grad o de deter min a d a s liber<strong>da</strong>d e s , tem seus<br />

cab el o s se g ur o s . Muito mais am e a ç a d o esta que m se sent e<br />

artista e son h a son h o s de alto vôo ma s, devido ao m e d o não<br />

ad mitido que sente diante <strong>da</strong> existên cia, entra para o<br />

funcion alis m o público. É precis o pag ar por um tal pas s o e m<br />

falso, por exe m pl o, sen d o sim b olic a m e n t e dep e n a d o .<br />

As mud a n ç a s no cres ci m e n t o dos cab el o s durante a<br />

gravid ez e apó s o nas ci m e nt o ilumina m o m e s m o tem a a partir<br />

de um outro ponto de vista. Muitas mulh er e s obtê m um cab el o<br />

den s o e vital durante a gravid ez, ma s algu m a s volta m a perd er<br />

es s e acré s ci m o log o após o nas ci m e nt o . O asp e ct o do<br />

sacrifício é nítido no nas ci m e n t o . Para pre s e nt e a r uma criança<br />

co m a vi<strong>da</strong> a mulh er precis a sep ar ar- se dela, e ela alé m diss o<br />

dá um pres e nt e, ou seja, ela dá algo de si m e s m a . Uma forte<br />

que d a de cab el o s apó s o nas ci m e n t o oc orr e esp e ci al m e n t e<br />

co m mulh er e s que têm probl e m a s co m o des e m p e n h o do pap el<br />

de m ã e e seu asp e ct o de sacrifício. Por um lado, elas leva m<br />

para a cab e ç a o sacrifício que não foi feito esp o nt an e a m e n t e , e<br />

por outro elas tam b é m vive m no corp o o asp e ct o de<br />

transfor m a ç ã o que suas vi<strong>da</strong>s dev e m sofrer após o nas ci m e nt o<br />

<strong>da</strong> crianç a.<br />

Na que d a de cab el o s circular, a cha m a d a Alopecia areata ,<br />

trata- se <strong>da</strong> m e s m a tem átic a referind o- se a um âm bito m ais<br />

circuns crito. A tarefa aqui é des c o b rir es s e âm bito restringido,<br />

livrar- se de estruturas sup er a d a s e per mitir que um novo<br />

impulso surja e m seu lugar.<br />

Deve- se fazer um a distinçã o co m a qued a dos cab el o s<br />

1 3<br />

5


ma s c ulino s naqu el e lugar típico que lem br a a tonsura de um<br />

m o n g e . Será que se trata de aproxim ar- se do arqu étipo do<br />

m o n g e , que co m a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua tonsura no lugar do chakra<br />

sup erior tenta sinalizar para o alto? Será que há aqui um<br />

convite para fazer co m o o m o n g e e livrar- se tend e n ci o s a m e n t e<br />

do mun d o exterior para abrir- se m ais para os mund o s<br />

sup erior e s?<br />

As cha m a d a s "entra<strong>da</strong> s" dão a enten d e r algo se m el h a nt e ao<br />

conferir um a fronte de pen s a d o r e, assi m, ac e ntuar o asp e ct o<br />

filosófic o do ho m e m . Neste cas o tam b é m pod e- se ap en a s<br />

presu mir se algo que foi neglig e n ci a d o do ponto de vista<br />

aní mic o- espiritual é expr e s s o no plano corp or al, ou se a fronte<br />

de pen s a d o r distingu e o pen s a d o r.<br />

P er g u nta s<br />

1. Estou m e punindo por algo, ou eu m e deixo punir?<br />

2. Estou sacrificand o m eu s cab el o s , sinal de m eu pod er e<br />

de minh a digni<strong>da</strong>d e , e m penitên ci a? Em cas o afirmativo, para<br />

quê?<br />

3. Esqueci de pag ar pela liber<strong>da</strong> d e , digni<strong>da</strong>d e e pod er<br />

desfrutad o s ?<br />

4. Onde fiquei pend e nt e de con c e p ç õ e s de liber<strong>da</strong> d e<br />

infantis e imaturas?<br />

5. Será que neglig e n ci ei desfaz er- m e de velha s estruturas<br />

de pod er já caduc a s ?<br />

6. Será que eu quis fazer perdurar por de m a s i a d o temp o<br />

estruturas de digni<strong>da</strong>d e e con sid er a ç ã o já sup er a d a s ?<br />

7 Será que ao aferrar- m e a velha s estruturas eu, se m<br />

perc e b e r, perdi a liber<strong>da</strong>d e real, o ver<strong>da</strong>d eir o pod er e a<br />

corre s p o n d e n t e digni<strong>da</strong>d e?<br />

8. Onde foi que eu deixei de per mitir que nov o s impuls o s e<br />

nova s en er gias foss e m injetad o s e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

1 3<br />

6<br />

2. O rosto


O rosto é não apen a s a parte de noss o corp o co m a qual<br />

ve m o s o mund o, ele é so br etud o a parte de nós que ante s de<br />

todo o resto vê o mun d o pela prim eira vez. Imag e m e<br />

apar ê n ci a tam b é m faze m parte do jogo. Qualquer tom a d a de<br />

contato co m e ç a co m o sentido <strong>da</strong> visã o, co m noss o s olho s.<br />

Eles são hoje nos s o s órg ã o s sen s oriais m ais importante s . Os<br />

term o s de avaliaç ã o ficam claro s quan d o , para algo caríssi m o ,<br />

dize m o s que custa "os olho s <strong>da</strong> cara". Nos prim órdio s <strong>da</strong><br />

hum a nid a d e , um bo m nariz era ain<strong>da</strong> mais important e; de<br />

form a corresp o n d e n t e , a parte do cér e br o resp o n s á v e l pelo<br />

olfato é maior e m ais antiga. Um ouvido apurad o tam b é m era<br />

importante para a so br e viv ê n ci a, já que o ho m e m era<br />

am e a ç a d o por perigo s naturais. Até m e s m o o pala<strong>da</strong>r, que no<br />

entrete m p o tornou- se pratica m e n t e um sentido de luxo, podia<br />

decidir entre a vi<strong>da</strong> e a m orte quan d o era precis o sep ar ar os<br />

alim e nt o s estrag a d o s dos co m e s tív ei s. A vista é o que m ais<br />

cha m a nos s a aten ç ã o . Nós avalia m o s o mun d o a olho. Apesar<br />

diss o, a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> audiçã o é ain<strong>da</strong> m ais grav e para o be m - estar<br />

aní mic o que a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão, o que de m o n s tr a que nas<br />

profund ez a s <strong>da</strong> alm a pred o m i n a m outros valor e s.<br />

Não so m e n t e os sentido s mais importante s estã o localizad o s<br />

no rosto, nos s a sen s u ali<strong>da</strong> d e tam b é m se esp elh a nele, assi m<br />

co m o nele expr e s s a m - se noss o s estad o s de ânim o . É,<br />

portanto, co m pr e e n s í v el que prest e m o s a ele noss a máxi m a<br />

aten ç ã o . Nós tenta m o s pres er v ar o rosto pratica m e n t e a<br />

qualqu er preç o, e tem o s m e d o de perd ê- lo. Emb or a, e m noss o<br />

âm bito cultural, seja a única parte do corpo que revela m o s<br />

des c o b e rta ao mund o, aqu el e rosto que m o stra m o s só<br />

rara m e n t e é nos s o ver<strong>da</strong>d eir o rosto. No curs o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

adquirim o s um se m - núm er o de má s c ar a s para não term o s de<br />

ab and o n a r nos s a posiç ã o na vi<strong>da</strong>. Uma <strong>da</strong>s m á s c ar a s mais<br />

difundi<strong>da</strong> s goz a de grand e apreç o entre nós, ap e s ar do no m e<br />

norte- am eric a n o : é o ke e p- s miling. Aconteç a o que ac o nt e c e r,<br />

se sorri. "Fazer bo a cara a um mau jogo", diz a voz popular<br />

des s a repres e nt a ç ã o des o n e s t a, <strong>da</strong> am a bili<strong>da</strong>d e e cov ardia de<br />

um cas a m e n t o apar e nt e m e n t e feliz m a s que é totalm e nt e<br />

1 3<br />

7


insatisfatório para a vi<strong>da</strong> intima. E assi m sorrim o s<br />

ator m e nt a d o s o dia todo, m e s m o que não tenha m o s nen hu m a<br />

razã o para sorrir. Essa discr ep â n ci a entre nos s o ver<strong>da</strong>d eir o<br />

rosto e o rosto que m o stra m o s é resp o n s á v e l por inúm er a s<br />

tens õ e s mus c ular e s . No que a isso se refer e, os asiático s<br />

leva m outra vantag e m so br e nós. Som e nt e um esp e ci alista<br />

pod e dizer o que real m e nt e se es c o n d e por trás <strong>da</strong> radiante<br />

facha d a de seus rosto s per m a n e n t e m e n t e sorrident e s . O<br />

rev ers o <strong>da</strong> facha<strong>da</strong> sorrident e é a má s c ar a circunsp e c t a de<br />

que m arca co m grand e s resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s que os político s<br />

gosta m tanto de usar.<br />

Muitas pes s o a s utilizam suas diferent e s m á s c ar a s co m<br />

grand e facili<strong>da</strong>d e, pas s a n d o de um sorriso char m o s o a um<br />

co m p a s s i v o , de um olhar significativo a um a elo qü e nt e<br />

seried a d e de ac ord o co m a nec e s s i d a d e . Outros troca m a<br />

má s c ar a inteira e, de ac ord o co m a oc a si ã o , m o stra m um rosto<br />

feliz ou, se for nec e s s á ri o, triste. Pode- se guiar até mes m o pelo<br />

calen d ário e voltar a mo strar a cara de segun d a- feira de manhã<br />

apó s ter usad o a do feriado de do min g o . Com a pergunta "por<br />

que voc ê está co m es s a cara hoje?” so m o s lem br a d o s , e m<br />

certas circunstân ci a s, que co m tanta sinc eri<strong>da</strong> d e se foi long e<br />

de m ai s. Um sac er d ot e m e diss e que tinha um rosto de<br />

batizad o, um rosto de cas a m e n t o e um rosto de enterro. Essas<br />

má s c ar a s profission ai s estã o pelo m e n o s tão difundi<strong>da</strong>s quanto<br />

os uniform e s profission ai s. O sorriso faz parte do uniform e de<br />

aer o m o ç a s e garç o n s , en qu a nt o para juizes e cov eiro s es s a<br />

má s c ar a teria pouc a utili<strong>da</strong>d e. Os atore s, por outro lado,jo g a m<br />

o jogo, e m si des o n e s t o , de man eira hon e st a, quan d o entra m<br />

"na má s c ar a" ante s <strong>da</strong> cen a e se caract eriza m para subir ao<br />

palc o. O rosto m o stra o quanto atua m o s e co m o enc o b ri m o s<br />

noss a ver<strong>da</strong>d eir a expr e s s ã o . Há, portanto, muitas razõ e s para<br />

não mo strar no s s o rosto verd a d eiro.<br />

Em um a so ci e d a d e que m e n o s pr e z a a i<strong>da</strong>d e, muitas<br />

pes s o a s sente m - se inco m o d a d a s quan d o o rosto co m e ç a a<br />

esp elh ar os traç o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O ideal seria op er ar as marc a s<br />

deixad a s pelo temp o, e algun s cirurgiõ e s plástico s leva m uma<br />

1 3<br />

8


o a vi<strong>da</strong> bas e a d a nes s e m e d o <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e. A pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

e m b el e z ar a reali<strong>da</strong>d e cirurgica m e n t e pod e ser nova, m a s a<br />

idéia é antiqüís si m a. Com mét o d o s parcial m e nt e se marciais, já<br />

na cinzenta pré- história se tentava m correç õ e s <strong>da</strong> testa, do<br />

nariz e até mes m o <strong>da</strong> cab e ç a .<br />

E e m nenhu m a outra parte se disfarça tanto co m o no rosto,<br />

pois e m nenhu m a outra parte há tanto para en c o b rir. Quando<br />

se ous a levantar a má s c ar a, para rasp ar o verniz e ver o que<br />

há so b a tinta, a sinc eri<strong>da</strong>d e é posta a des c o b e rt o. Há to<strong>da</strong><br />

uma indústria viven d o diss o, fingindo o que não é co m<br />

cos m é ti c o s , bronz e a m e n t o artificial, etc., e ocultand o o que é.<br />

Apesar de tudo isso, os reto qu e s não dev e m sei des c artad o s<br />

radical m e n t e (co m o des o n e s t o s). Depen d e <strong>da</strong> intenç ã o .<br />

Quando uma pes s o a assu m e a posiç ã o do lótus, as reali<strong>da</strong>d e s<br />

interna e extern a, de m an eira geral, não coincid e m<br />

inteira m e nt e. A perfeita form a extern a en c o b r e algo que (ain<strong>da</strong>)<br />

não existe interna m e n t e . Apesar diss o, faz sentido praticar<br />

es s e s antiqüís si m o s exer cíci o s, na esp er a n ç a de que co m o<br />

temp o o interior se iguale ao exterior. Vistas des s a man eira,<br />

algu m a s tentativas cos m é ti c a s con s ci e nt e s tam b é m adquire m<br />

significad o.<br />

O estud o <strong>da</strong>s fision o mi a s deriva imag e n s do caráter a partir<br />

<strong>da</strong>s indicaç õ e s <strong>da</strong> form a do rosto. Parte des s e con h e ci m e n t o<br />

surg e nova m e n t e na sab e d o ria e expres s õ e s popular e s,<br />

fazend o parte do ac erv o de exp eriên ci a s do con h e ci m e n t o<br />

hum a n o subjac e nt e, quas e incon s ci e nt e, m a s que é utilizado<br />

por quas e to<strong>da</strong> s as pes s o a s . Muitas pes s o a s sab e m e todo s<br />

sent e m que lábios gros s o s reflete m uma sen s u ali<strong>da</strong>d e<br />

esp e ci al, e que um queixo pro e mi n e nt e deixa entrev er um a<br />

vontad e equival e nt e. A testa estreita m o stra m e n o s intelecto<br />

que uma fronte alta, olho s pequ e n o s e profund o s den ot a m<br />

rec olhi m e nt o , en qu a nt o os saliente s olho s dos que sofre m do<br />

mal de Based o w têm algo de indiscr eto s e, ao m e s m o tem p o ,<br />

assustad or. A interpreta ç ã o incon s ci e nt e dos padrõ e s do rosto<br />

é utiliza<strong>da</strong> am pla m e n t e na vi<strong>da</strong> cotidian a. Ela decid e se um a<br />

pes s o a é simp átic a ou antipática. O estad o de ânim o tam b é m<br />

1 3<br />

9


se manife sta de form a esp o nt â n e a na expres s ã o do rosto e,<br />

nova m e n t e , não sab e m o s co m o isso ac o nt e c e .<br />

Com tanta sinc eri<strong>da</strong>d e e m um único lugar e tantas tentativas<br />

de e m b e l e z á- la, não é de ad mirar que os sinto m a s frustre m<br />

níti<strong>da</strong> e algo doloro s a m e n t e o oculta m e nt o dos fatos. É<br />

tam b é m no rosto que o org anis m o ag e m ais ativa m e nt e e m<br />

relaç ã o ao tem a <strong>da</strong> sinc eri<strong>da</strong>d e . Quando tenta m o s ocultar co m<br />

truque s o que está es crito e m nos s a cara, o destino utiliza um<br />

buril mais duro para traçar seus risco s na matriz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e,<br />

neste cas o a pele de noss a fac e.<br />

Ruborização<br />

O destino tem sinais mais suav e s à dispo siç ã o , dos quais se<br />

serv e antes de rec orr er a m e di<strong>da</strong> s doloro s a s e desfigurad or a s .<br />

A ruborizaç ã o , freqü e nt e m e n t e , é um fenô m e n o que quer trazer<br />

um tem a à con s ci ê n ci a do afetad o e que este bloqu ei a. A<br />

situaç ã o tem algo de teatral. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s, trata- se de<br />

um tem a m alicio s o que, env olvido e m um a pia<strong>da</strong>, por exe m pl o,<br />

impregn a o ar <strong>da</strong> sala. Os afetad o s tenta m ignorar o tem a e<br />

ag e m , por exe m pl o, co m o se não tives s e m enten did o a pia<strong>da</strong> e<br />

de qualqu er form a não tives s e m na<strong>da</strong> a ver co m isso. Apesar<br />

de que eles adoraria m que o chã o se abriss e so b seus pés<br />

para que pudes s e m tornar- se invisíveis, a sinc er a pele (do<br />

rosto) anuncia, atrav é s <strong>da</strong> ruborizaç ã o , que eles sim têm algo a<br />

ver co m isso. A "cara cor de tom at e" atrai ma gic a m e n t e a<br />

aten ç ã o para si. Quanto m ais seu proprietário resiste a es s e<br />

con h e ci m e n t o e tenta ac al m ar- se, m ais ver m el h o e m ais<br />

quent e vai se tornan d o seu rosto. Com o um farol, ele anun cia a<br />

pen o s a ver<strong>da</strong>d e . O próprio tem a é aludido até m e s m o pelas<br />

"luzes ver m e lhas" que, no mund o exterior, trans mite m a<br />

m e s m a m e n s a g e m quan d o colo c a d a s diante dos<br />

esta b el e ci m e n t o s corresp o n d e n t e s . A pele do rosto faz co m<br />

que seja impo s sív el deixar de ver aquilo que os afetad o s não<br />

quer e m perc e b e r .<br />

14<br />

0


A lição a ser aprendid a está clara. A lâmp a d a ver m el h a<br />

so m e n t e se apag a quan d o a pes s o a se dispõ e a rec o n h e c e r o<br />

tem a ao qual não prestou a devi<strong>da</strong> aten ç ã o e ad mite sua<br />

relaç ã o co m ele. Aquilo que viven cia m o s de man eira nor m al e<br />

natural não pod e ac e n d e r a luz <strong>da</strong> verg o n h a e m noss a cara.<br />

Quando for real m e nt e pos sív el contar um a pia<strong>da</strong><br />

corre s p o n d e n t e se m m orr er de verg o n h a , isso significa que o<br />

tem a foi integrad o , e a luz de alar m a fica apa g a d a . O m ais<br />

importante é que o âm bito que ante s era des a g r a d á v el e<br />

estav a carreg a d o de angú stia pod e ag or a ser viven ciad o<br />

ab erta m e n t e , co m alegria, e ser integrad o à vi<strong>da</strong>. Até m e s m o<br />

um sinto m a apar ent e m e n t e tão pequ e n o e inofen siv o esta e m<br />

condiç õ e s de revelar grand e s tarefas de apren dizad o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Quais âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> são pen o s o s para mi m? De que<br />

eu me env er g o n h o ?<br />

2. Quais são os sentim e nt o s e sen s a ç õ e s pelo s quais não<br />

pos s o resp o n d e r?<br />

3. Quais são as situaç õ e s que eu se m pr e evito?<br />

4. O que eu pod eria e dev eria aprend er justa m e nt e co m<br />

es s a s situaç õ e s ?<br />

5. O que significa para mi m expor- m e ao público e ser o<br />

centro <strong>da</strong>s aten ç õ e s ?<br />

6. Com o pod eria transferir o tem a do erotis m o <strong>da</strong> cab e ç a<br />

para o cora ç ã o e a regiã o genital?<br />

Neuralgia do trigêmeo ou dores nervosa s no rosto<br />

O trigê m e o é o quinto dos doz e nervo s cer e br ai s e é<br />

resp o n s á v e l, entre outras cois a s, pelas delicad a s sen s a ç õ e s do<br />

rosto. Ele tem três ramificaç õ e s . A ramificaç ã o sup erior ocup ase<br />

<strong>da</strong> testa, a do m ei o é resp o n s á v e l pela regiã o do m axilar<br />

sup erior e a inferior pela regiã o do maxilar inferior. A palavra<br />

neuralgia significa sen s a ç ã o dolor o s a no trajeto de um nervo e<br />

suas ramificaç õ e s ; as caus a s <strong>da</strong> neuralgia do trigê m e o não<br />

14<br />

1


estã o claras para a m e di cin a. De fato, a açã o do fenô m e n o<br />

so br e a vi<strong>da</strong> do afetad o é sen s a ci o n al - no sentido m ais<br />

des a gr a d á v e l <strong>da</strong> palavra. No inicio, as dore s surg e m quas e<br />

se m pr e so b a form a de ataqu e e, muitas vez e s ,<br />

unilateral m e nt e. Elas pod e m afetar ramificaç õ e s isolad a s do<br />

nervo, ma s tam b é m várias delas ao m e s m o temp o , e pod e m<br />

des e n v olv er- se até se tornar um a dor prolon g a d a crônic a. Com<br />

as dor e s violentas, o rosto do pacient e é trazido à sua<br />

con s ci ê n ci a de m an eira instantân e a ou con sta nt e. Des env olv ese<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e um a hipers e n si bili<strong>da</strong>d e (ou hiper e st e si a) <strong>da</strong><br />

pele do rosto, sen d o que os ponto s de parti<strong>da</strong> dos nervo s<br />

torna m- se esp e ci al m e n t e dolorido s. Os paci ent e s sent e m o<br />

mal- estar não so m e n t e na pele, eles têm vontad e de gritar por<br />

trás <strong>da</strong> m á s c ar a. Para eles é indizivel m e nt e difícil mant er a<br />

expr e s s ã o do rosto. Às vez e s, a cois a ch e g a a tal ponto que os<br />

traç o s nor m al m e n t e con s erv a d o s des a p ar e c e m para <strong>da</strong>r lugar<br />

a um a car eta corroí<strong>da</strong> pela dor. Em tais situaç õ e s , quan d o a<br />

mus c ulatura tam b é m reag e e os traç o s do rosto do pacient e<br />

são eliminad o s , a m e dicin a fala de tique doloro s o . Som a- se a<br />

isso um a intens a ruborizaç ã o do rosto, suor e s e fluxo de<br />

lágrim a s . Os pacient e s dão a impre s s ã o de quer er uivar, gritar<br />

e vociferar ao m e s m o tem p o , co m o se estive s s e m preste s a ter<br />

um ataqu e de fúria ou algu m outro tipo de ataqu e aterrorizante.<br />

Quem am e a ç a perd er o control e devid o à dor não pod e olhar<br />

de m an eira des c o ntraí<strong>da</strong> para a cara de outras pes s o a s e, e m<br />

última instân cia, do mun d o . Ele se contorc e de dor e a form a<br />

que assu m e é mais a de um ver m e que a de um ser hum a n o . A<br />

postura retorci<strong>da</strong> e o rosto dev or a d o pela dor indica m algo que<br />

esta no plan o de fundo. No fundo, algo não faz sentido, as<br />

cois a s não estã o mais direitas e sim curva<strong>da</strong> s e retorci<strong>da</strong>s.<br />

O tem a <strong>da</strong> agre s s ã o não pod e estar muito long e quan d o as<br />

dore s des e m p e n h a m um pap el tão central A pes s o a afetad a<br />

pela neuralgia do trigê m e o sente- se golp e a d a , e a situaç ã o e m<br />

que se enc o ntra é de fato a de algu é m que está sen d o<br />

es b of et e a d o pelo destino. A irrupçã o de dor co m a qual o<br />

afetad o está se m pr e am e a ç a d o co m pr o v a igual m e nt e a<br />

14<br />

2


probl e m á tic a agr e s siva. Medica m e n t e não faz sentido sab er<br />

até que ponto a sinto m átic a <strong>da</strong> dor m elh or aria atrav é s <strong>da</strong> açã o<br />

de estí m ul o s agre s siv o s . Simb olic a m e n t e , entretanto, a relaç ã o<br />

entre dor e agr e s s ã o é evid e nt e, já que o m e s m o deus <strong>da</strong><br />

guerra, Marte, está por trás de am b a s . Muitos pacient e s têm a<br />

sen s a ç ã o de que <strong>da</strong>r golp e s lhes traria algu m alívio.<br />

Em uma tal situaç ã o , seria terap eutic a m e n t e intere s s a nt e<br />

sab er e m que direç ã o eles seria m <strong>da</strong>d o s . Quem m er e c e ri a os<br />

sop ap o s m ais do que eles? Golpes contido s termin a m de fato<br />

por golp e ar a própria pes s o a e m algu m m o m e n t o . Quem<br />

se m pr e se contê m e mant é m a m e s m a cara, dev e contar co m<br />

que a situaç ã o se volte contra ele e provo q u e contrag olp e s .<br />

Tudo o que é retido per m a n e c e , naturalm e nt e, na própria<br />

pes s o a . Ness e sentido, é extre m a m e n t e des a gr a d á v e l reter<br />

algo tão des a g r a d á v el co m o golp e s. Pode- se ver co m o es s e<br />

estad o cai m al ao pacient e quan d o ele se arrasta pelas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s co m o um cão esp a n c a d o e afirma que já não<br />

agü e nta m ais. Isso quer dizer que ele não suporta m ais es s a s<br />

dore s, ou seja, es s a s agr e s s õ e s . A soluç ã o está lá ond e ele<br />

não con s e g u e m ais se conter. Seu rosto dolorido arde por<br />

alívio e relaxa m e n t o . Muitas vez e s isso se nota pouc o<br />

extern a m e n t e , os mús c ul o s do rosto m ant ê m a form a e ain<strong>da</strong><br />

faze m boa cara a um mau jogo. Mas o pacient e não pod e m ais<br />

suportar a sen s a ç ã o que está no fundo, por trás des s a<br />

má s c ar a. Durante o ataqu e, que se m pr e é tam b é m um a<br />

insolên ci a, a facha<strong>da</strong> se que br a diante dos olho s de todo s e ele<br />

não pod e fazer outra cois a que exibir sua dor.<br />

Ao m e s m o temp o, o sinto m a o impe d e de agü e ntar ain<strong>da</strong><br />

mais e con s er v ar a form a para o exterior, ele o força a ser<br />

insole nt e e gritar ao s quatro vento s a dor que no fundo sente.<br />

Ele precis a co m u nic ar ao entorn o o torm e nt o infernal que<br />

sent e. Deve tornar- se alto e público o torm e nt o que a vi<strong>da</strong><br />

significa por trás <strong>da</strong> má s c ar a e que ele não vai continuar assi m,<br />

porqu e ele não pod e agü e nt ar m ais se m co m e ç a r a distribuir<br />

golp e s a seu redor. É precis o con front ar aqu el e s a que m seus<br />

golp e s dev eria m real m e nt e atingir, é isso que sua dolor o s a<br />

14<br />

3


fronte des ej a ardent e m e n t e .<br />

Em todo cas o , partir para a aç ã o so m e n t e traz alívio quan d o<br />

oc orr e co m um a certa con s ci ê n ci a. A irritaçã o m al- hum or a d a<br />

que se m anifesta à m e n o r oportuni<strong>da</strong>d e e que muitas vez e s se<br />

des e n v olv e co m o con s e q ü ê n c i a do sinto m a não é uma<br />

soluç ã o . Ela so m e n t e m o stra co m mais sinc eri<strong>da</strong>d e que m na<br />

reali<strong>da</strong>d e m or a por trás <strong>da</strong> fachad a. A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

pele do rosto e a irrupçã o de ataqu e s de dor ao men o r estí m ul o<br />

rev ela m a mi m o s a , um a planta que se fecha ao m e n o r toqu e;<br />

mais do que eles m e s m o s , sua mí mic a é que está ator m e nt a d a<br />

por agr e s s õ e s incon s ci e nt e s . A ruborizaç ã o do rosto, a<br />

su<strong>da</strong>ç ã o , as lágrim a s e o fato de que é precis o tão pouc o para<br />

provo c ar as dor e s reforç a m a impre s s ã o de que se trata de<br />

uma pes s o a que foi provo c a d a e irrita<strong>da</strong> até o extre m o e que<br />

não rec o n h e c e sua situaç ã o . Em vez diss o, seu rosto dev e<br />

incorp or ar a situaç ã o explo siva. O próprio pacient e diz<br />

clara m e n t e o que está ac o nt e c e n d o : ele precis a de to<strong>da</strong> s as<br />

suas forças para conter- se e não sair gritand o, e às vez e s eles<br />

afrouxa m no des e m p e n h o des s a fatigante tarefa.<br />

O fato de que a cha m a d a form a es s e n ci al do sinto m a afete<br />

co m maior freqü ê n ci a mulh er e s co m mais de 50 ano s de i<strong>da</strong>d e<br />

ajusta- se be m a es s a imag e m . Em um a so ci e d a d e de<br />

resultad o s do min a d a pelo s ho m e n s , é mais difícil para as<br />

mulh er e s m o strar e m seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto e distribuir as<br />

agre s s õ e s que elas real m e nt e não pod e m eng olir. Com m e d o<br />

de ser e m elas próprias eng oli<strong>da</strong> s ou ser e m posta s de lado,<br />

elas tend e m ao ke e p- s miling até m e s m o nas situaç õ e s e m que<br />

interna m e n t e têm vontad e de urrar. Com a i<strong>da</strong>d e mais<br />

avan ç a d a , quan d o a pres s ã o se torna insup ortáv el elas, e m<br />

vez de ter ataqu e s extern o s de fúria, têm ataqu e s interno s de<br />

dor que só muito rara m e nt e che g a m a ser visíveis.<br />

A desig n a ç ã o m é dic a es s e n ci al'', que muitas vez e s<br />

ac o m p a n h a diagn ó stic o s cujas caus a s não estã o claras, be m<br />

co m o a corre s p o n d e n t e hiperten s ã o (press ã o alta do san gu e)<br />

colo c a, se m quer er, uma certa sinc eri<strong>da</strong>d e e m jogo. A<br />

sinto m átic a é de fato es s e n ci al para os afetad o s , já que de fato<br />

14<br />

4


é sua única chanc e de expres s ar o que eles de outra form a<br />

reprimiria m.<br />

O local <strong>da</strong> dor reforç a ain<strong>da</strong> m ais a expres s ã o : a fronte é o<br />

local natural <strong>da</strong> confrontaç ã o e <strong>da</strong> auto- afirma ç ã o . Quando a<br />

própria cab e ç a quer se impor, es s a é a parte exigi<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que<br />

seja para investir de cab e ç a contra o muro. As m axilas têm os<br />

dent e s e, quan d o nec e s s á ri o, estã o e m condiç õ e s de m ord er e<br />

m o strar os dente s. Quando, na neuralgia do trigê m e o , a área<br />

dos m axilares apres e nt a dor e s lancinant e s, colo c a- se e m<br />

que st ã o a m ord e d ur a e a mord a ci d a d e . Não o en c arniç a m e n t o ,<br />

ma s a agr e s s ã o que m o stra os dente s, os m axilares ped e m a<br />

gritos para m o v er- se. Em vez de deixar que lhe “que br e m a<br />

cara", rec o m e n d a - se m ord er e "botar para que br ar". Mas isso<br />

dev e ac o nt e c e r con s ci e nt e m e n t e e nos lugar e s certo s, pois<br />

cas o contrário con s e g u e - se um a elab or a ç ã o na m elh or <strong>da</strong>s<br />

hipóte s e s , m a s não a (dis)soluç ã o <strong>da</strong> sinto m átic a e do conflito<br />

de fundo.<br />

As pres criç õ e s terap êutic a s <strong>da</strong> m e di cin a aca d ê m i c a , de<br />

man eira caract erística, não são m e n o s agr e s sivas. Elas<br />

procura m unica m e n t e dirigir as agr e s s õ e s para dentro, ou seja,<br />

ain<strong>da</strong> mais contra o próprio pacient e, e m um a form a m a c a b r a<br />

de prote ç ã o ao meio am bi e nt e. A repres s ã o <strong>da</strong> dor co m a aju<strong>da</strong><br />

de analg é si c o s pes a d o s vai nes s a direç ã o . Com o e m pr e g o de<br />

psicofár m a c o s a psiqu e, que de qualqu er m an eir a já está<br />

am ord a ç a d a , vê- se ain<strong>da</strong> m ais restringi<strong>da</strong>, para que o pacient e<br />

não cha m e a aten ç ã o e ningu é m se es c a n d aliz e co m ele. É a<br />

tentativa des e s p e r a d a de evitar a m anifesta ç ã o de um a<br />

situaç ã o que ped e sinc eri<strong>da</strong> d e a gritos. A cirurgia, co m o último<br />

recurs o, é mais sinc er a ain<strong>da</strong>. Seccio n a n d o de fato o nervo, a<br />

cruez a e m e s m o a violên cia e m pr e g a d a s torna m- se palpáv ei s<br />

A eletro c o a g ul a ç ã o do ganglion ga s s e ri vai m ais long e ain<strong>da</strong>.<br />

Em um pas s o terap êutic o m arcial, es s e centro nervo s o , de<br />

ond e o trigê m e o parte, é obliterad o eletrica m e n t e . A lingua g e m<br />

científica m ais refinad a não pod e ocultar o tem a e m questã o :<br />

trata- se de agre s s ã o que, co m dor e s lancinant e s , cla m a ao s<br />

céus para irromp er, exigindo um corte radical ou assu mir<br />

14<br />

5


corajo s a m e n t e a própria vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que dor está es crita na minha cara? Onde minh a<br />

sen si bili<strong>da</strong>d e está perturb ad a?<br />

2. O que imp e d e que eu m e sinta be m dentro de minha<br />

própria pele?<br />

3. Qual defor mi<strong>da</strong>d e , que defeitos eu tenh o que ocultar?<br />

4. Com o se cha m a o mau jogo ao qual eu faço bo a cara?<br />

O que m e irrita e m e provo c a mais profun<strong>da</strong> m e n t e ?<br />

5. A que m estã o destinad o s os golp e s contido s que arde m<br />

na minh a cara? O que me imp e d e de desf eri- los?<br />

6. O que vale confrontar- se? Onde m e falta a autoafirma<br />

ç ã o , ond e m e falta a nec e s s á ri a cap a cid a d e de mord er?<br />

7. O que é que a minha en er gi a repres a d a quer assu mir e<br />

e m pr e e n d e r e m segui<strong>da</strong>?<br />

Paralisia facial ou paralisia nervosa do rosto<br />

O nervo facial é o sétim o nervo cer e br al, sen d o resp o n s á v e l<br />

pela ativi<strong>da</strong>d e m otor a <strong>da</strong> mus c ulatura do rosto. Sua tarefa é<br />

pos sibilitar noss o s gesto s faciais, de franzir o cen h o a fechar os<br />

olho s, torc er o nariz ou a bo c a. O que o trigê m e o é para as<br />

sen s a ç õ e s , o nervo facial é para os m o vi m e n t o s e a expr e s s ã o<br />

do rosto. Com sua paralisia, a área afetad a é a m e s m a <strong>da</strong><br />

neuralgia do trigê m e o , m a s e m lugar de sen s a ç õ e s interna s, o<br />

centro focal é ag or a a apar ên ci a extern a. Ain<strong>da</strong> assi m, há uma<br />

transiç ã o continua. Assim co m o o pico de um ataqu e de dor na<br />

neuralgia do trigê m e o pod e levar a um a convuls ã o dos<br />

mús c ul o s do rosto, muitas vez e s a paralisia facial provo c a<br />

tam b é m perturb a ç õ e s <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s , principal m e nt e na área<br />

dos pô m ul o s faciais e dos ouvido s. Isso pod e provo c ar<br />

hiperacu si a, um a extre m a sen sibili<strong>da</strong>d e ao s ruído s.<br />

Para fora, o que mais impres si o n a é a ab oliç ã o <strong>da</strong> sim etria<br />

<strong>da</strong>s m etad e s do rosto. Há um a diferen ç a entre as m etad e s do<br />

rosto de to<strong>da</strong>s as pes s o a s , ma s ela é pratica m e n t e<br />

14<br />

6


imp er c e ptív el a um prim eiro olhar. Som e nt e quan d o se<br />

rec o n str ói o rosto fotografica m e n t e co m duas m etad e s<br />

es qu er d a s ou duas m etad e s direitas é que se pod e ad mirar<br />

co m o a m etad e es qu er d a, feminina, é m ais suav e e m ei g a e m<br />

co m p ar a ç ã o co m a m etad e direita, m a s c ulina. Ness e sentido,<br />

to<strong>da</strong> pes s o a tem duas caras. Na paralisia facial isso se torna<br />

visível de m an eir a assustad or a, já que o lado afetad o cai <strong>da</strong><br />

m oldura de man eira tão evid e nt e. A paralisia eviden ci a um a<br />

profun<strong>da</strong> fissura <strong>da</strong> alm a. De um lado os afetad o s têm tudo so b<br />

control e, co m o de costu m e , e mant ê m a facha<strong>da</strong> alta, en qu a nt o<br />

do outro eles estã o caldo s, derrotad o s . O colap s o <strong>da</strong> facha<strong>da</strong><br />

extern a anun cia um colap s o intern o. Essa cisã o não ad miti<strong>da</strong> é<br />

en c arn a d a por m ei o do sinto m a. É esp e ci al m e n t e o asp e ct o de<br />

estar caíd o, que con diz tão pouc o co m seu lado intacto e co m a<br />

parte de seu ser volta<strong>da</strong> para fora, que des ej a vir a público, e o<br />

con s e g u e co m o sinto m a. Duas alm a s vive m e m seu seio e<br />

rep entina m e n t e tam b é m estã o olhan d o para fora a partir de<br />

seu rosto. O lado rigoro s a m e n t e arrum a d o , que até entã o tinha<br />

podido repres e nt ar o todo, gan h o u um parc eiro abs oluta m e n t e<br />

malcriad o, que não tem mais nen hu m tipo de con sid er a ç ã o<br />

para co m a bo a impre s s ã o geral.<br />

Trata- se de um lado bastant e caíd o que apar e c e aqui e m<br />

prim eiro plano e de m o n s tr a sua ser e nid a d e e m relaç ã o ao<br />

rígido lado opo st o. Raram e nt e as so m b r a s aflora m na<br />

sup erfície co m tanta nitidez. Quem não se per mite satisfaz er a<br />

nec e s si d a d e básic a de ser e nid a d e e relaxa m e n t o dev e ter e m<br />

conta que es s a nec e s si d a d e m er g ulh a nas so m b r a s e é<br />

repre s e nt a d a no palco do corp o. Ela entã o, de todo s os<br />

esp elh o s , olha irrem e di a v el m e n t e para a pes s o a . O<br />

relaxa m e n t o está caricaturad o na paralisia, a des c uid a d a<br />

ser e nid a d e transfor m a- se e m pálpe br a s caí<strong>da</strong> s, <strong>da</strong>nd o ao rosto<br />

uma apar ê n ci a algo ab ati<strong>da</strong>, des arru m a d a . O lado do e nt e<br />

de m o n s tr a um a sen s a ç ã o de total indiferen ç a que é visível<br />

para todo s: “Por mi m voc ê s pod e m fazer o que be m<br />

enten d e r e m !" Dentre as fórmulas de expr e s s ã o bávar a s há um<br />

gesto que expres s a isso co m exatidã o: puxar a pálpe br a<br />

14<br />

7


inferior de um olho para baixo co m o ded o . Pacient e s co m<br />

paralisia facial vive m per m a n e n t e m e n t e e m um dos lado s<br />

des s a expr e s s ã o . As marc a s de expres s ã o entre o nariz e os<br />

canto s <strong>da</strong> bo c a, que e m paci ent e s que sofreu mal e s<br />

esto m a c ai s de m o n s tr a m des g o s t o e o rem o e r interno de<br />

e m o ç õ e s , na paralisia facial reflete m o quanto es s e lado dos<br />

pacient e s desistiu de continuar se esforç a n d o . Ajusta- se<br />

tam b é m a isso o fato de a testa não mais franzir- se. Essa parte<br />

<strong>da</strong> pers o n ali<strong>da</strong>d e já se can s o u de cis m ar. Finalm e nt e, o canto<br />

<strong>da</strong> bo c a caído quer dizer que já basta, que o estad o de ânim o<br />

oscila entre o rabug e nt o e o ofendid o e que todo s dev e m ver<br />

isso. O pólo opo st o do ke e p- s miling foi alcan ç a d o . Este canto<br />

<strong>da</strong> bo c a não mais se ergu er á para fazer cara alegr e para um a<br />

situaç ã o triste. O olho não se abr e m ais totalm e nt e, co m o se<br />

não houv e s s e na<strong>da</strong> de substanci al para ser visto e que<br />

m er e c e s s e tal ab ertura. Mas ele tamp o u c o se fecha direito,<br />

co m o se o pacient e assi m m e s m o não en c o ntra s s e paz.<br />

Frouxo e relaxad o , ele se imo biliza em um ponto médi o, m orn o.<br />

Há risco de lesã o <strong>da</strong> córn e a por ress e c a m e n t o , razã o pela qual<br />

a medi cin a fech a o olho afetad o co m um tapa- olho e, pens a n d o<br />

sinc er a m e n t e e m proteg er o pacient e, deixa- o caolh o. Com o<br />

ress e c a m e n t o <strong>da</strong> córn e a, a per<strong>da</strong> definitiva de um olho provo c a<br />

a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão esp a ci al e, co m isso, <strong>da</strong> dim e n si o n ali<strong>da</strong>d e . A<br />

visão ficaria ach atad a.<br />

A expres s ã o triste é res s altad a ain<strong>da</strong> mais pela lágrim a que<br />

pend e indecis a <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> pálpe br a. Este lado do pacient e<br />

anun cia que tem vontad e de gritar. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> sen s a ç ã o do<br />

palad ar mo stra que ele não tem mais go sto pela vi<strong>da</strong>. Tudo tem<br />

o m e s m o gosto para que m não sent e m ais go sto. A<br />

hipers e n si bili<strong>da</strong>d e auditiva indica que os ruído s do am bi e nt e<br />

são de m a si a d o pen etrant e s e, portanto, m ol e st o s . O todo<br />

resulta e m um a imag e m de resign a ç ã o . Uma <strong>da</strong>s m etad e s não<br />

quer mais. Ela desistiu de fazer qualqu er esforç o para<br />

continuar mant e n d o - se apru m a d a , e deixa que os traço s<br />

des c arrile m e que a apar ê n ci a se desfaç a. Por trás diss o,<br />

am e a ç a d o r , está o fantas m a de um a pers o n ali<strong>da</strong> d e esfac el a d a.<br />

14<br />

8


Na discr ep â n ci a entre os lado s, es s e fantas m a apar e c e de<br />

form a ain<strong>da</strong> m ais sinc er a co m o um terc eiro. A m á s c ar a que<br />

durara até entã o transfor m a- se e m car eta. O olho se mi c err a d o<br />

confer e ao rosto algo do caolh o, en qu a nt o a conten ç ã o<br />

dec orr e nt e <strong>da</strong> tentativa de ain<strong>da</strong> obter o m elh or resultad o<br />

pos sív el co m os traç o s des a p ar e ci d o s dão um a apar ê n ci a de<br />

astúcia. A saliva gotejant e lem br a avidez, co biç a, des ej o s<br />

inconfes s á v ei s . O sorriso m ais char m o s o transfor m a- se e m um<br />

es g ar franc a m e n t e satânic o. Satã, o Senhor <strong>da</strong> Duali<strong>da</strong>d e,<br />

expr e s s a - se de man eira muito evid e nt e nes s e s traço s dividido s<br />

e des e s p e r a d o s , fazen d o caretas para a existên cia de bo m<br />

burgu ê s do afetad o .<br />

A lição a ser aprendid a está es crita na cara do paci ent e. Ele<br />

tem so m e n t e que lê- la no esp elh o e ad mitir para si m e s m o que<br />

tem dois lado s diferent e s. É precis o rec o n h e c e r e integrar à<br />

vi<strong>da</strong> o lado que foi até entã o ignorad o . A discr ep â n ci a surgi<strong>da</strong><br />

entre a apar ê n ci a extern a e a reali<strong>da</strong>d e interna quer ser<br />

ad miti<strong>da</strong> pela desuniã o incon s ci e nt e. Isso não é fácil e m um a<br />

ép o c a de crítica interna tão violenta, m a s tamp o u c o dev e ser<br />

contorn a d o . Aquele cuja cara se desfaz sente- se, no todo,<br />

dilac er a d o e denun ci ad o . Pois um a crítica dilac er a nt e so m e n t e<br />

é des a g r a d á v el e doloro s a quan d o contê m algo de ver<strong>da</strong>d e . A<br />

des ar m o ni a do rosto é um a co m p e n s a ç ã o para a har m o ni a<br />

apar e nt e que se exib e para con s u m o extern o. É esp e ci al m e n t e<br />

difícil para o afetad o ad mitir que a ver<strong>da</strong> d eir a har m o ni a resulta<br />

<strong>da</strong> guerra e <strong>da</strong> paz. Estar prep ar a d o para o conflito é que<br />

pos sibilita a cap a cid a d e para a paz. Além diss o, dev e- se<br />

ob s ervar qual lado foi afetad o pela paralisia, se o es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino.<br />

Os sinto m a s eluci<strong>da</strong> m os asp e ct o s individuais <strong>da</strong>s tarefas<br />

que se tem pela frente. Os tecido s pendura d o s são a<br />

so m atiza ç ã o <strong>da</strong> nec e s si d a d e do relaxa m e n t o e <strong>da</strong> atitude de<br />

deixar ac o nt e c e r. Em vez de se m pr e dirigir e controlar tudo,<br />

seria importante deixar por uma vez que as cois a s siga m seu<br />

curs o. A paralisia frouxa não pas s a de um a per<strong>da</strong> de controle.<br />

A express ã o triste do rosto fala <strong>da</strong> nostalgia dos lado s m ais<br />

14<br />

9


es c ur o s <strong>da</strong> pers o n ali<strong>da</strong> d e , que dev e m ser levad o s igualm e nt e<br />

a sério. O jogo expres siv o so m e n t e des a p ar e c e u do lado<br />

e m p e n h a d o e m m ant er o ke e p- s miling. Foi-se o temp o de<br />

brincar de es c o n d e - es c o n d e por trás de uma facha<strong>da</strong> intacta.<br />

Trata- se de m o strar seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto tam b é m e m sentido<br />

figurad o e per mitir a participaçã o dos ver<strong>da</strong>d eir o s traço s dos<br />

outros lado s <strong>da</strong> alm a. Com o os mús c ul o s mi m étic o s<br />

ab and o n a r a m o trabalh o de disfarc e, trata- se de en c o ntrar a<br />

nota sinc er a tam b é m no plan o aní mic o, ain<strong>da</strong> que nest e cas o<br />

se trate de um a músic a co m pl et a m e n t e diferent e. A<br />

mus c ulatura do rosto so m e n t e relaxa quan d o é rec o n h e c i d a e<br />

ac eita. Até m e s m o o de m ô ni o perd e pod er ao ser identificad o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a tem pouc o s recurs o s terap êutic o s<br />

para lutar contra es s e autêntic o dra m a. Na fase agud a inicial,<br />

aplica- se cortison a rep eti<strong>da</strong> m e n t e para reprimir o proc e s s o ,<br />

sen d o que na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s não está na<strong>da</strong> claro de que<br />

proc e s s o se trata. Neste cas o , a form a mais freqü e nt e não é<br />

cha m a d a de es s e n ci al, m a s de idiopática. Isto, no entanto,<br />

significa algo co m o "que sofre de si m e s m o ”. Fora isso,<br />

rec o m e n d a - se tranqüili<strong>da</strong>d e, repous o e ativi<strong>da</strong>d e s anti-stre s s ,<br />

e m outras palavra s, simpl e s m e n t e relaxar. Dess a form a, o<br />

des a m p a r o <strong>da</strong> m e dicin a termin a resultand o e m um a pres criç ã o<br />

terap êutic a útil.<br />

O sinto m a atua de man eira a colo c ar o progra m a terap êutic o<br />

e m an<strong>da</strong> m e n t o já que, de m an eir a bastant e enfática, faz co m<br />

que o afetad o não tenha vontad e de apar e c e r e m público.<br />

Todo s vão lhe perguntar o que ac o nt e c e u e ningu é m vai<br />

acr editar quan d o ele afirm ar que "não é na<strong>da</strong> de m ais". Sob<br />

es s a pres s ã o , o progn ó stic o pas s a a ser bo m na m ai oria dos<br />

cas o s e os surtos de paralisia vão diminuind o na m e s m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que o pacient e des o b rig a o corp o do dra m a que<br />

está sen d o repres e nt a d o e o transfer e para a alm a.<br />

Entretanto, pod e m surgir proble m a s durante a fas e de<br />

reg e n e r a ç ã o quan d o as en er gias libera<strong>da</strong> s são levad a s na<br />

direç ã o erra<strong>da</strong>. O fenô m e n o <strong>da</strong>s lágrim a s de croc o dilo, que<br />

surg e so b a form a de ataqu e s , é esp e ci al m e n t e<br />

1 5<br />

0


impres si o n a nt e. Em seus esforç o s de reg e n e r a ç ã o apó s a<br />

paralisia, fibras do nervo facial pen etra m nas glândulas<br />

lacrim ais e m vez de fazê- lo nas glândulas salivar e s, e a cad a<br />

bo c a d o os olho s dos pacient e s se enc h e m de lágrim a s. Em<br />

situaç õ e s de <strong>da</strong>r água na bo c a, form a m - se e m vez diss o<br />

grand e s lágrim a s de croc o dilo. Ao co m e r, que é um ato de<br />

incorp or a ç ã o do mund o, o pacient e se põ e a chorar, isto é, sua<br />

tristeza não vivi<strong>da</strong> e, principal m e nt e , a nec e s s i d a d e de<br />

extravas ar sua alm a mistura m- se co m a ingestã o cotidian a de<br />

alim e nt o s. Fica de m o n s tr a d o que ele continua estan d o cheio<br />

do mund o, pois mal ele o deixa entrar e já se põ e a chorar.<br />

A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e auditiva seria um bo m indicad or para<br />

evitar es s e s ca minh o s equivo c a d o s . Ela faz co m que o afetad o<br />

con sid er e o volum e do entorn o insup ortav el m e n t e alto e assi m<br />

reforç a suas tend ê n ci a s de rec olhi m e nt o. Ao m e s m o temp o, ela<br />

aguça sua audiçã o e, co m isso, sug er e que ele es cut e mais<br />

atenta m e n t e e des p ert e. A ép o c a de rec olhi m e nt o é um a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e ideal para per mitir que a própria voz interna se<br />

torne alta e para enc o ntrar e m si uma nova har m o ni a.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual lado de minha vi<strong>da</strong> eu estou neglig e n ci a n d o ?<br />

2. Onde na vi<strong>da</strong> eu m e resign ei e m e curvei? Onde eu<br />

estou desistind o de algo?<br />

3. Onde eu brinqu ei de m e es c o n d e r por trás de um a<br />

facha d a apar e nt e m e n t e intacta? Até que ponto eu distorç o a<br />

reali<strong>da</strong>d e?<br />

4. O que me imp e d e , a que me força seu colap s o ?<br />

5. Onde eu sofro de perturb a ç õ e s e ab erra ç õ e s do gosto?<br />

Para ond e eu não quer o olhar direito?<br />

6. Onde eu controlo de m ai s para mant er a har m o ni a?<br />

7. Onde eu cai na parciali<strong>da</strong>d e , ond e minh a vi<strong>da</strong> am e a ç a<br />

des c arrilar e m razão de um a divisã o interna?<br />

8. O que na vi<strong>da</strong> m e ofend e? Com que eu ofend o a vi<strong>da</strong>?<br />

9. Até que ponto care ç o de ser e nid a d e , relaxa m e n t o e<br />

entreg a?<br />

1 5<br />

1


10. Que outro lado se ab at e e m minh a cara?<br />

Erisipela facial<br />

Entend e- se por este sinto m a um surto de herp e s- zoster no<br />

rosto. A ele estã o liga<strong>da</strong> s dor e s intens a s , co m o na neuralgia do<br />

trigê m e o , e tam b é m sinais extern o s niti<strong>da</strong> m e nt e visíveis, se<br />

be m que de um tipo muito diferent e dos sinais <strong>da</strong> paralisia<br />

facial. Trata- se de um a segun d a infec ç ã o co m o vírus <strong>da</strong><br />

varic ela zoster, que por oc a si ã o <strong>da</strong> prim eira infec ç ã o provo c o u<br />

a catap or a. Pratica m e n t e to<strong>da</strong>s as pes s o a s são portad or a s do<br />

vírus, já que uma porc e nta g e m próxim a a 100 % <strong>da</strong> populaç ã o<br />

está infecta<strong>da</strong>. A catap or a é um a do e n ç a infantil inofen siva,<br />

ma s extre m a m e n t e conta gi o s a. A conta mi n a ç ã o se dá não<br />

so m e n t e por gotículas, m a s tam b é m pelo ar. Os ag e nt e s<br />

patoló gic o s flutua m e m um a áre a de até dois m etro s ao redor<br />

do do e nt e e pod e m ser esp alhad o s pelo vento.<br />

Quase se m pr e o sinto m a é suportad o bastant e be m<br />

extern a m e n t e , ma s os ag e nt e s patoló gic o s não m ais<br />

ab and o n a m o corp o, instaland o- se nas raízes dos nervo s <strong>da</strong><br />

m e d ul a dors al. Som e nt e no âm bito <strong>da</strong> cab e ç a existe m 24<br />

des s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s de esta b el e ci m e n t o , que corresp o n d e m<br />

ao s 1 2 pare s de nervo s cer e br ais, razã o pela qual a infecç ã o ,<br />

teorica m e n t e , pod eria e m e r gir e m qualqu er parte. O vírus, na<br />

prática, tem prefer ê n ci a s decidi<strong>da</strong> m e n t e claras, e no rosto é<br />

so br etud o a pele que é afetad a, m ais rara m e n t e os ouvido s e<br />

mais rara m e nt e ain<strong>da</strong> os olho s. A ép o c a e m que oc orr e m a<br />

maioria dos cas o s situa- se entre os 50 e os 70 ano s de i<strong>da</strong>d e,<br />

ma s um a pes s o a pod e ser ac o m e ti<strong>da</strong> pelo mal e m qualqu er<br />

outra i<strong>da</strong>d e.<br />

A evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a é típica de uma inflam a ç ã o . O surto<br />

de erupç õ e s cutân e a s é prec e di d o de dore s e ardor e s<br />

violento s. Em segui<strong>da</strong>, des e n v o l v e m - se pequ e n a s bolha s que<br />

se limita m estrita m e nt e à áre a de difusã o do nervo afetad o e<br />

quas e se m pr e de um só lado. É raro que am b o s os lado s<br />

seja m afetad o s ou que as bolhas se esp alh e m por dois ou mais<br />

1 5<br />

2


seg m e n t o s de nervo. Finalm e nt e, as bolhas cheias de líquido<br />

sec a m e form a m um a crosta, quas e se m pr e se m deixar<br />

cicatrizes. Mas a questã o não dev e ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por enc erra d a<br />

co m isso, o vírus continua <strong>da</strong>nd o prova s de sua persistên ci a.<br />

Às vez e s são m e n ci o n a d a s dor e s e extre m a sen si bili<strong>da</strong>d e até<br />

um ou dois ano s apó s o des a p ar e ci m e n t o <strong>da</strong> manifesta ç ã o<br />

cutân e a <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

Com o to<strong>da</strong> a sup erfície <strong>da</strong> pele está provi<strong>da</strong> de nervo s, o<br />

sinto m a pod e es c ol h er e atac ar o ponto m ais sen sív el e m cad a<br />

pes s o a . As situaç õ e s típicas para ado e c e r são aqu el a s e m que<br />

a cap a ci<strong>da</strong>d e de defe s a está diminuí<strong>da</strong> e m con s e q ü ê n c i a de<br />

infecç õ e s grav e s tais co m o pneu m o ni a, tuberculo s e ou tam b é m<br />

diab et e s , alé m de do e n ç a s que con s o m e m tais co m o cân c er e<br />

tam b é m intoxicaç õ e s grav e s ou um colap s o do siste m a<br />

imun ol ó gic o devido à AIDS, leuc e m i a ou terapias m o d er n a s<br />

que ag e m na inibiçã o do siste m a imun oló gi c o , co m o por<br />

exe m pl o e m transplant e s de órg ã o s . Cerca de m etad e dos<br />

pacient e s que requ er e m transplante s de m e d ul a óss e a para o<br />

trata m e nt o <strong>da</strong> leuc e m i a adquire m um a infec ç ã o por herp e s<br />

zoster. Ness e cas o , a m e di cin a m o d er n a colab or o u bastant e<br />

para sua difusã o.<br />

A m e di cin a ac ad ê m i c a rec o n h e c e u que alé m do<br />

enfraqu e ci m e n t o <strong>da</strong>s forças de defe s a corp or ais, a situaç ã o<br />

aní mic a tam b é m des e m p e n h a um pap el decisivo nes s e<br />

sinto m a . O exc e s s o de stre s s é con sid er a d o culpad o. O<br />

acú m ul o de exig ê n ci a s que con stitui o stre s s é se m pr e<br />

perig o s o . Ness e sentido o stre s s exig e na ver<strong>da</strong>d e muito <strong>da</strong>s<br />

forças de defe s a. Entretanto, co m o exc e s s o de exig ê n ci a s o<br />

pacient e tenta se prote g e r do am bi e nt e que o aflige. Dess a<br />

man eira, ele colo c a o corpo co m o repres e nt a nt e e mina sua<br />

cap a cid a d e de resistên ci a.<br />

O pacient e de erisipela facial é algu é m marc a d o por seu<br />

sinto m a . A flor que des a b r o c h a no m ei o de sua cara [erisipela<br />

facial = Ge si c ht sr o s e = rosa facial] anuncia para ele e para o<br />

am bi e nt e que algo aqui irromp e u. O vírus que, de tocaia,<br />

estav a pacient e m e n t e a espr eita, aprov eita a situaç ã o de<br />

1 5<br />

3


fraqu ez a geral para exp or suas exig ê n ci a s. O tem a se cha m a<br />

conflito, pois a bas e do herp e s- zoster, que repre s e nt a ele<br />

m e s m o um conflito, é nova m e n t e um conflito, tal co m o m o stra<br />

o historial do ado e ci m e n t o de fundo. Um conflito adiad o por<br />

muito temp o atrai a aten ç ã o para si co m a aju<strong>da</strong> de tropas<br />

estran g eir a s, <strong>da</strong>s quais dep e n d e . Assim co m o na neuralgia do<br />

trigê m e o , a proble m á tic a <strong>da</strong> agr e s s ã o é declara d a, e a<br />

desfiguraç ã o , ou seja, a repres e nt a ç ã o de um a reali<strong>da</strong>d e muito<br />

diferent e prov e ni e nt e <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a, é se m e l h a nt e<br />

ao que ac o nt e c e na paralisia facial. Juntam e nt e co m o caráter<br />

de bo m b a - relógio, estã o ac e ntuad a s as probl e m átic a s <strong>da</strong><br />

defe s a e <strong>da</strong> resistên ci a.<br />

Uma alta resistên ci a aní mic a já sug er e a do e n ç a de fundo. A<br />

m e di cin a aca d ê m i c a , cas o não rec o n h e ç a nen hu m a à prim eira<br />

vista, busc ar á algu m a que esteja oculta, tal co m o um foco<br />

infeccio s o ou um carcin o m a que ain<strong>da</strong> não foi detectad o . Caso<br />

não se enc o ntr e na<strong>da</strong> diss o, pod e- se deduzir que a resistên ci a<br />

aní mic a contra um âm bito central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é muito forte e<br />

suficiente para enfraqu e c e r as defe s a s corp or ais a ponto de<br />

des e n c a d e a r um ataqu e de herp e s- zoster e m b o s c a d o . O<br />

sinto m a de m o n s tr a que algo afetou os nerv o s e se met e u na<br />

pele de algu é m por muito temp o e ag or a quer voltar à tona. O<br />

mais doloro s o e o mais difícil é o surto e a erupç ã o . A<br />

resistên ci a contra es s e proc e s s o e a angú stia que produz<br />

so m atiza m - se e m um a dor agud a que quei m a e um a sen s a ç ã o<br />

de tolhed or a tens ã o . Quando a barreira se romp e , as bolhas,<br />

na m ai oria dos cas o s , sec a m e se cura m e m duas ou três<br />

se m a n a s . O ataqu e ating e a pes s o a justa m e n t e e m seu ponto<br />

mais fraco naqu el e m o m e n t o ; no cas o <strong>da</strong> erisipela facial,<br />

direta m e n t e na cara. Assim co m o ac o nt e c e co m um a bofetad a,<br />

so m e n t e a face atingi<strong>da</strong> arde. Mas tam b é m se pod e levar um<br />

tapa no nariz, na orelha ou no olho. Os últimos golp e s,<br />

esp e ci al m e n t e, são tão duro s que se perd e a visã o e a audiç ã o<br />

dest e lado. Enquanto o afetad o se sente "apen a s " desfigurad o ,<br />

marc a d o e golp e a d o na testa e nas face s, o herp e s <strong>da</strong> córn e a,<br />

extre m a m e n t e perig o s o , pod e deixá- lo ceg o , e o do ouvido,<br />

1 5<br />

4


surdo. O pior é talvez que es s e s ataqu e s oc orra m quan d o o<br />

pacient e, e m outro sentido, já foi sev er a m e n t e golp e a d o<br />

(do en ç a de fundo). Há se m pr e um a certa perfídia niss o tudo<br />

quan d o se tem e m conta que o vírus esp er o u durante ano s por<br />

es s e m o m e n t o de fraqu ez a de sua vítima para, deixand o seu<br />

es c o n d e rijo nas raízes dos nervo s, atac ar.<br />

Antes es s e sinto m a rec e bi a o no m e de ignis sa c e r, fogo<br />

sagra d o ou fogo selva g e m . Ele era tratad o co m rem é di o s<br />

má gic o s porqu e se vislum br a v a ali um sinal de um plano mais<br />

elev a d o . Ele é de fato um sinal de outro plano, se be m que<br />

próprio e interno. A ira selva g e m que jam ais se manifestou até<br />

entã o arde na cara. Tal ira flam ejant e pod e naturalm e nt e ce g ar<br />

e en surd e c e r , se m pr e de man eira mes q uin h a.<br />

Pode ficar claro que e m tais ép o c a s existe tam b é m a chan c e<br />

de transfor m a ç ã o pelo fato de existir tam b é m a ira sagr ad a,<br />

que a mar c a de Caim não é so m e n t e um a marc a, m a s tam b é m<br />

uma m ar c a de distinçã o, tend o levad o aqu el e que lhe dá o<br />

no m e para o ca minh o do des e n v olvi m e n t o . Na expres s ã o "ros a<br />

facial" [Ge si c ht sr o s e = erisipela facial] am b a s as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

estã o lado a lado: o flores ci m e n t o <strong>da</strong> rosa co m o imag e m <strong>da</strong><br />

bel ez a, que se sedi m e nt a na rosa flam ejant e do gótico tardio, e<br />

no sim b olis m o <strong>da</strong> própria rosa ver m el h a, que co m seus<br />

espinh o s , sím b ol o de Marte, deus <strong>da</strong> guerra, pod e ferir nos s a<br />

carn e, m a s, que está liga<strong>da</strong> tam b é m a Vênus, a deus a do<br />

am or. Por trás dos ac e s s o s de ira pod e m estar as labar e d a s do<br />

entusias m o flam ejant e e do am or tórrido, ma s tam b é m a fúria<br />

mitigad a.<br />

A tarefa de aprendizad o do afetad o está e m real m e nt e sair,<br />

romp er m e s m o , deixar des a b r o c h a r o outro cern e de seu ser,<br />

igual m e nt e ver<strong>da</strong>d eir o, e extern ar se m floreio s o que se m o v e<br />

no m ais íntim o de seu ser. Aquilo que eles até entã o<br />

contiver a m e deixara m ador m e c i d o nas profund ez a s quer ser<br />

ag or a liberad o. Seja a ira sagr ad a ou profan a, a vingan ç a<br />

rec e nt e ou antiqüís si m a , reto m a a nec e s si d a d e de extern á- la.<br />

É justa m e nt e es s e abrir e es s e irromp er que pod e m colo c ar e m<br />

m o vi m e nt o a en er gia nec e s s á ri a para atac ar aqu el a outra<br />

1 5<br />

5


probl e m á tic a de defe s a que surg e à luz <strong>da</strong> sinto m átic a de<br />

fundo. Trata- se de reduzir a resistên ci a aní mic a ao espinh o s o<br />

tem a, e não às defe s a s do organis m o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual conflito esta es crito em minh a cara?<br />

2. O que me atac a os nervo s, o que m e enfurec e ?<br />

3. Que m e d o torna minha alm a tão estreita para que eu<br />

tenha de m e abrir tanto corpor al m e nt e?<br />

4. Qual o âm bito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, qual o tem a que exig e de m ai s de<br />

mi m?<br />

5. O que aflora em minha cara que eu não pos s o expres s ar<br />

se m res erv a s? O que dev o abrir e deixar que saia para fora de<br />

mi m?<br />

6. O que me marc a? O que me distingu e?<br />

7. Que bo m b a s - relógio ficara m no ca m p o <strong>da</strong> minha alm a?<br />

8. O que minh a erisipela diz a resp eito de minha s<br />

fraqu ez a s aní mic a s ? Há algo que aflora e m m e u s lábio s que eu<br />

não queria dizer? Minhas face s arde m devido às bofetad a s que<br />

não dei?<br />

9. Que pap el des e m p e n h a a perfídia em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

10. É feita justiça à ira flam ejant e e ao entusias m o em minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

Herpes labial<br />

O vírus zoster que aca b a m o s de des cr e v e r é apen a s um dos<br />

repre s e nt a nt e s des s a num er o s a família que abran g e mais de<br />

90 vírus. Eles são resp o n s a bilizad o s por to<strong>da</strong> uma série de<br />

atroci<strong>da</strong>d e s , inclusive de favor e c e r o surgim e nt o do cân c er. Do<br />

ponto de vista dos vírus, trata- se de um a <strong>da</strong>s famílias mais<br />

be m - suc e di<strong>da</strong> s . Sua m an eir a de agir é se m el h a nt e à <strong>da</strong> Máfia.<br />

Eles se esp e ci alizara m e m diferent e s ram o s parcial m e nt e<br />

vizinho s e divide m hon e st a m e n t e entre si o ca m p o de trabalh o,<br />

no cas o o corpo hum a n o , e m b o r a sua m an eir a de trabalhar<br />

seja abs oluta m e n t e "des o n e s t a".<br />

1 5<br />

6


No rosto, alé m do zoster, o vírus do herp e s simpl e x é<br />

esp e ci al m e n t e significativo. Ele englo b a dois tipos, sen d o que o<br />

prim eiro se esp e ci alizou na regiã o aci m a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura,<br />

mo strando- s e resp o n s á v el pelo herp e s labial. O tipo II, ap en a s<br />

leve m e n t e diferent e, en c arr e g a - se <strong>da</strong> m etad e do corp o que<br />

está ab aixo <strong>da</strong> cintura e form a a bas e <strong>da</strong> mais difundi<strong>da</strong><br />

do e n ç a ven ér e a <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>d e , o herp e s genital.<br />

O tipo 1, que é o ag e nt e caus a d o r do herp e s labial, é<br />

benign o , m a s está m ais difundido justa m e nt e por es s a razão:<br />

99 % dos ser e s hum a n o s o abriga m e m seu apar elh o digestivo.<br />

Pratica m e n t e to<strong>da</strong>s as crianç a s entrara m e m contato co m ele<br />

durante os ano s de es c ol arizaç ã o . Embor a o vírus pos s a ser<br />

en c o ntrad o por to<strong>da</strong> parte, so m e n t e um de cad a ce m<br />

portad or e s preo c up a- se co m a m ol é stia, tipica m e n t e<br />

rec orr ent e.<br />

Com dor e s agud a s , irritantes, estirante s ou provo c a n d o<br />

co mi c h õ e s , des e n v o l v e m - se pequ e n a s bolha s nos lábios e<br />

muito m ais rara m e n t e tam b é m e m outros lugar e s, co m o por<br />

exe m pl o à entrad a do nariz. Elas estã o cheias de um liquido<br />

claro no início, m a s que vai se turvand o co m o tem p o ,<br />

en qu a nt o o tecido e m volta fica inchad o e aver m el h a d o . Nos<br />

dias se g uintes, as bolhas arreb e nt a m e sec a m e no máxi m o<br />

e m um a se m a n a e m ei a a ass o m b r a ç ã o volta a des a p ar e c e r.<br />

Muito rara m e nt e, no entanto, há ev oluç õ e s grav e s que afeta m<br />

a muc o s a <strong>da</strong> bo c a e, mais rara m e nt e ain<strong>da</strong>, as m e nin g e s .<br />

Com o caus a s , assi m co m o ac o nt e c e co m o herp e s genital, a<br />

m e di cin a aca d ê m i c a indica várias situaç õ e s que reduz e m a<br />

cap a cid a d e de defe s a. A proximi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s situaç õ e s que<br />

dispara m o ataqu e é natural m e nt e se m el h a nt e à proximi<strong>da</strong>d e<br />

sim b ólic a dos lábios sup erior e inferior. Os gatilho s são os raios<br />

do Sol, a febre ou o nervo sis m o . Até m e s m o as mud a n ç a s<br />

hor m o n ai s que oc orr e m no períod o <strong>da</strong> m e n struaç ã o pod e m ser<br />

suficiente s. Mas são so br etud o as co m o ç õ e s aní mic a s e muito<br />

esp e ci al m e n t e as que estã o liga<strong>da</strong> s a sen s a ç õ e s de<br />

repugn â n ci a ou de des ej o “reprimid o" não ad mitido que<br />

prov o c a m o herp e s .<br />

1 5<br />

7


Na febre, alé m do calor e <strong>da</strong> dispo siç ã o para a luta do corp o,<br />

são liberad o s tam b é m fantasias e son h o s e o des ej o febril de<br />

alívio. O nervo si s m o evid e n ci a clara m e n t e um a contradiç ã o<br />

interna: procura- se co m prazer um a situaç ã o que atrai e ao<br />

m e s m o temp o am e dr o nt a. Deseja- se o rec o n h e c i m e n t o e a<br />

aten ç ã o justa m e nt e <strong>da</strong>qu el a s pes s o a s <strong>da</strong>s quais se tem m e d o .<br />

A febr e de viag e m tam b é m pod e levar ao herp e s, evid e n ci an d o<br />

igual m e nt e uma situaç ã o de dois gum e s . Por um lado se está<br />

ard e n d o para viajar, por outro o há um m e d o não ad mitido que<br />

se expres s a e m tens ã o e pod e quei m ar os lábio s. Não é raro<br />

que a fras e não declara d a “Que tal deixar m o s a viag e m para<br />

lá?" aflore ao s lábio s so b a form a de bolha s de herp e s e m vez<br />

de palavras.<br />

Ao be b er do m e s m o cop o usad o por outra pes s o a m e s cl a m -<br />

se a repugn â n ci a e o m e d o de perd er a proximi<strong>da</strong>d e e a<br />

aten ç ã o des s a pes s o a . A pes s o a não se atrev e a recus ar a<br />

intimi<strong>da</strong>d e do cop o co m u m e por es s a razã o não per mite que<br />

sua sen s a ç ã o de repugn â n ci a se m anife st e. O herp e s entã o,<br />

substitutiva m e n t e, traz ao s lábio s aquilo que a própria pes s o a<br />

não ous o u expres s ar. Ele enc arn a a aver s ã o não declara d a de<br />

seu portad or nas bolhas repulsivas. O contá gi o físico pelo cop o<br />

não des e m p e n h a qualqu er pap el, já que de qualqu er man eir a o<br />

vírus está disponív el e m todo s os participante s.<br />

Para muitas pes s o a s basta ver algu é m que tem herp e s .<br />

Elas, de nojo, viram as costa s interna m e n t e , fech a m - se<br />

animic a m e n t e para es s a pes s o a e e m vez diss o têm que abrirlhe<br />

as muc o s a s de seus lábios. O herp e s labial (de m an eir a<br />

se m el h a nt e à úlcera de estô m a g o , e m b o r a m ais inofen siv o) de<br />

fato explicita um a despr o p or ç ã o entre a muc o si d a d e protetora<br />

e a agre s siv a en er gi a <strong>da</strong> perturba ç ã o (destruidora). O que<br />

jam ais aflorou ao s lábios do afetad o verb al m e n t e , expr e s s a - se<br />

assi m m e s m o no herp e s . As muc o s a s são a áre a pred e stin ad a<br />

para as sen s a ç õ e s de repug n â n ci a, já que e m nos s a cultura o<br />

muc o provo c a repugn â n ci a. Para os indian o s, ao contrário, ele<br />

é valios o e sim b oliza a resid ê n ci a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, porqu e eles<br />

tom ar a m con s ci ê n ci a de que ele é importante para a criaç ã o de<br />

1 5<br />

8


vi<strong>da</strong> nova. É por isso que os indian o s pod e m m a stig ar<br />

previa m e n t e o alim e nt o para suas crianç a s ou do e nt e s , por<br />

exe m pl o, se m a m e n o r sen s a ç ã o de repugn â n ci a. O herp e s<br />

labial não des e m p e n h a qualqu er pap el entre eles.<br />

O Sol é o sím b ol o do princípio m a s c ulin o e <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>d e,<br />

razã o pela qual sua proximi<strong>da</strong>d e é bus c a d a co m des ej o, muito<br />

e m b o r a não seja raro que ele se porte m al e m relaç ã o a seus<br />

ador a d o r e s . Isso se dá de man eira esp e ci al m e n t e explosiva<br />

nas altas montan h a s , quan d o esta m o s esp e ci al m e n t e próxim o s<br />

a ele devid o à pureza do ar e ond e ele, de prefer ê n ci a, faz sair<br />

o herp e s simpl e x. Tal co m o ensin a o exe m pl o de Ícaro, suas<br />

quei m a d ur a s pod e m até m e s m o colo c ar a vi<strong>da</strong> e m perig o.<br />

Quem quei m a os próprios lábios co m o princípio físico de<br />

vitali<strong>da</strong>d e sentirá, de man eir a corresp o n d e n t e , um a repulsa não<br />

ad miti<strong>da</strong> e m relaç ã o a es s e principio na con s ci ê n ci a. Aquele s<br />

que, se guind o o rastro de Ícaro, aproxi m a m - se do Sol<br />

es c al a n d o gel eiras e m o ntan h a s e assi m libera m seu herp e s<br />

so b a form a de quei m a d ur a s , apres e nt a m traç o s am bival e nt e s .<br />

Eles dev eria m que stion ar sua vitali<strong>da</strong>d e de heróis do Sol e pelo<br />

m e n o s bus c ar seu lado rev er s o . Isso pod eria fazer surgir algu m<br />

tipo de calor ab afad o na fria clari<strong>da</strong>d e do ar puro <strong>da</strong> monta n h a .<br />

Com o ç õ e s aní mic a s no início <strong>da</strong> m e n struaç ã o pod e m trair<br />

uma divisã o não ad miti<strong>da</strong> e m relaç ã o ao des ej o de ter filhos.<br />

Além diss o, o san gr a m e n t o m e n s al de muitas mulh er e s é<br />

con sid er a d o co m o algo impuro que as enc h e de repulsa e<br />

asc o .<br />

Consider a d o do ponto de vista <strong>da</strong> m e di cin a, o herp e s labial é<br />

con sid er a d o um sinto m a inofen siv o que mal requ er algu m<br />

trata m e nt o. A carg a que existe por trás do tem a tem sua<br />

orig e m na valoraç ã o . Os afetad o s sent e m - se desfigurad o s e,<br />

e m seu nojo e repulsa, expo st o s a todo o mund o. Muitos<br />

evita m sair a público co m os lábio s tão sujos para não ter que<br />

m o strar sua impurez a. As úlceras benign a s nas fronteiras de<br />

suas muc o s a s deixa m entrev er algo de exc e s si v a m e n t e<br />

explo siv o e m suas alm a s. Seus portõ e s de entrad a sup erior e s<br />

estã o incan d e s c e n t e s e, co m isso, arde m e m conflito. Os lábios<br />

1 5<br />

9


apar e c e m niti<strong>da</strong> m e nt e mais gros s o s , indican d o uma<br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e que extrap ola a m oldura prevista. A am bival ê n ci a<br />

tam b é m des e m p e n h a um pap el aqui: por um lado, os lábios<br />

ch ei o s de bolha s aum e nt a m e atrae m a aten ç ã o para si, e por<br />

outro eles ao m e s m o temp o sinaliza m: “Não m e toqu e m , sou<br />

repulsivo e nojento". Uma simulaç ã o torna- se visível na<br />

desfiguraç ã o . O corp o sinc er o evid e n ci a algo que seu<br />

proprietário não quer ad mitir. O que se desta c a ali é algo sujo<br />

que ve m do próprio interior.<br />

Agora as pes s o a s têm nojo do afetad o, e ele sente repulsa<br />

do outro lado. Aquilo que se m pr e lhe quei m o u os lábios e que<br />

não aflorou ao s lábios devid o ao dec or o e a um apar e nt e<br />

desinter e s s e ganh a vi<strong>da</strong> não na fala, ma s nas bolhas de<br />

herp e s. A apar ê n ci a extern a é arruinad a pelas bolha s ardent e s<br />

que lem br a m a bab a, a purulenta franqu e z a exag er a d a e as<br />

crosta s de sujeira de um a crianç a. As críticas e as bron c a s , as<br />

palavras cáustic a s, os co m e n t ário s "sujos" e a franqu e z a ferina<br />

que fora m retido s por lábios cerrad o s torna m - se ag or a sua<br />

oportuni<strong>da</strong>d e . O herp e s labial é a repulsa so m atizad a diante<br />

dos próprios abis m o s . Ele é a form a corp oral de to<strong>da</strong> s as<br />

sujeiras que não fora m ditas. Basta pen s ar e m beijar lábio s<br />

co b erto s por herp e s para se ter uma idéia do quanto a tem átic a<br />

é repugn a nt e para a pes s o a .<br />

Neste ponto surg e a chan c e de co m pr e e n d e r m ais<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e o princípio do contá gi o. O fenô m e n o do<br />

contágio existe de m an eir a inequív o c a no herp e s labial, e<br />

neste cas o, de man eira igual m e nt e inequív o c a , o fenô m e n o<br />

não tem pratica m e n t e na<strong>da</strong> a ver co m o ag e nt e caus a d o r. Isso<br />

não precis a ser assi m, co m o herp e s genital viven ciar e m o s<br />

co m o a transfer ê n ci a do ag e nt e físico des e m p e n h a um pap el<br />

mais importante. O principio do contá gi o, no entanto, continua<br />

sen d o o m e s m o . Nós acredita m o s que algo extern o e<br />

conta gi o s o entra e m nós e entã o ado e c e m o s . Na reali<strong>da</strong>d e ,<br />

so m e n t e pod e m o s en c o ntrar algo conta gi o s o quan d o isso já se<br />

en c o ntra e m nos s a alm a. Na<strong>da</strong> prov e ni e nt e do exterior pod e<br />

nos am e dr o nt ar se não existe e m nós so b a form a de padrã o.<br />

1 6<br />

0


No herp e s labial, es s e padrã o já está disponív el não ap en a s na<br />

con s ci ê n ci a ma s tam b é m fisica m e n t e. Neste sentido, o<br />

contá gi o físico não des e m p e n h a qualqu er pap el aqui, so m e n t e<br />

o aní mic o é decisivo. Ambivalên ci a, repugn â n ci a e m e d o do<br />

contá gi o, ao e m b ar al h ar o equilíbrio aní mic o, pod e m fazer co m<br />

que os vírus mantido s so b control e no corp o perc a m o controle.<br />

Os vírus mais pérfido s não pod e m tornar- se perig o s o s se m ser<br />

ativad o s pelo padrã o interno. A vi<strong>da</strong> e a ativi<strong>da</strong>d e de m é di c o s<br />

fam o s o s que tratava m de epide mi a s , tais co m o Nostra<strong>da</strong> m u s , o<br />

corro b o r a m . Eles não tinha m m e d o , ao contrário, sentia m- se<br />

interna m e n t e con ciliad o s co m o sinto m a , e assi m ne m os<br />

ag e nt e s mais am e a ç a d o r e s podia m lhes fazer mal algu m.<br />

Em se tratand o de herp e s, o perig o de cair e m um círculo<br />

vicios o está esp e ci al m e n t e próxim o quan d o as valora ç õ e s<br />

substitue m as interpreta ç õ e s . Quem con c e b e o herp e s não<br />

co m o express ã o <strong>da</strong> repugn â n ci a que sent e e sim co m o<br />

puniçã o por pen s a m e n t o s “sujos" continuará fazen d o des s a<br />

área tabu e, co m isso, a e m p urrará ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e<br />

para a so m b r a. A reaç ã o sinc er a do corp o será m ais herp e s<br />

labial.<br />

Pelo contrário, a tarefa de aprendizad o con siste e m<br />

rec o n h e c e r , ac eitar co m o próprios e expres s ar a sen s u ali<strong>da</strong> d e<br />

e os outros tem a s discr ep a nt e s . Externar verb al m e n t e os<br />

pen s a m e n t o s corre s p o n d e n t e s e m vez de fazê- lo so b a form a<br />

de bolhas de herp e s proteg e os lábios. Caso contrário o risco<br />

de se quei m ar (no cas o, a bo c a) é alto. A seu favor está a<br />

atraent e oportuni<strong>da</strong>d e de se tornar um a pes s o a m ais ab erta e<br />

e m a n cip a d a.<br />

Em um sentido mais con cr et o, os lábio s herp étic o s san gr a m<br />

e form a m crosta de form a muito pare cid a a lábios mordid o s .<br />

Trata- se de sup er ar a repugn â n ci a para ch e g ar à<br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e e, alé m do lado repugn a nt e do muc o , rec o n h e c ê -<br />

lo e desfrutá- lo co m o doa d o r de vi<strong>da</strong>. A vi<strong>da</strong> surgiu do es cur o<br />

pântan o prim ordial e todo s os ser e s hum a n o s rastejara m para<br />

fora do es c ur o útero, a m e n struaç ã o co m seus suc o s es cur o s é<br />

1 6<br />

1


o pré- requisito para a criaç ã o de vi<strong>da</strong> nova e dev e ser ac eita<br />

co m o parte substanci al <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Os pen s a m e n t o s ácido s pod eria m conferir agud e z a e<br />

temp er o à própria vi<strong>da</strong>, impuls o s de falar mal ou espu m ar de<br />

raiva pod eria m ser exprimid o s so b a form a de crítica<br />

con strutiva ou até mes m o ferina. Em um nicho so cial, o cabar é,<br />

havia até m e s m o a pos sibili<strong>da</strong>d e de levá- la direta m e n t e ao s<br />

lábio s e fazê- la tanto ao ho m e m co m o à mulh er. O que se fazia<br />

ali é exata m e n t e servir co qu et éi s verb ais temp er a d o s que<br />

eleg a nt e m e n t e ultrapas s a v a m certas fronteiras e que podia m<br />

ser leve m e n te susp eito s e, às vez e s , até m e s m o ofen siv o s. A<br />

pia<strong>da</strong> seria um a outra form a de per mitir que es s a tem átic a<br />

aflore, liberan d o - a de um a man eir a ain<strong>da</strong> toleráv el.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual tem a e m b a r alh a m eu equilíbrio aní mic o e abr e<br />

ca min h o para o herp e s?<br />

2. O que m e dá nojo? O que m e rep el e? De que m an eira<br />

dou asc o ao s outros?<br />

O que m e inspira aver s ã o ? O que con sid er o es c ória? Até<br />

que ponto a repugn â n ci a que sinto está liga<strong>da</strong> ao des ej o?<br />

3. Que relaç ã o tenh o co m o muc o (e as muc o s a s)? Poss o<br />

desfrutá- lo quan d o é o cas o ?<br />

4. Com quais pen s a m e n t o s sujos eu m e es c o n d o ,<br />

deixand o que m e u s lábio s trans b o r d a nt e s os expr e s s e m ? Que<br />

expr e s s õ e s eu jam ais per mitiria que m e vies s e m ao s lábios?<br />

5. Será que eu m e desfiguro para não ter de configurar os<br />

tem a s e parc eiro s e m questã o ? Eu imp e ç o beijos ou outro tipo<br />

de contato co m lábio s rep el e nt e s ?<br />

6. A idéia de expres s ar m e u s proble m a s m e dá m e d o , e eu<br />

con sig o isso justa m e nt e co m m eu sinto m a ? O que existe de<br />

indizivel m e nt e indizível em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

7. Que dile m a m e dá trabalh o? De qual ferro<br />

incan d e s c e n t e eu não ous o real m e nt e m e aproxim ar, e m b o r a<br />

pretend a fazê- lo?<br />

1 6<br />

2


Vista e visão<br />

No prim eiro volum e , trata m o s por m e n o riza d a m e n t e dos<br />

probl e m a s mais freqü e nt e s dos olho s e m e n o s exten s a m e n t e<br />

dos proble m a s dos ouvido s, sen d o que a per<strong>da</strong> do olfato e do<br />

palad ar não foi ab ord a d a . Isso corresp o n d e co m bastant e<br />

exatidã o à es c al a de valor e s liga<strong>da</strong> ao s mal e s que nos afeta m ,<br />

expr e s s a n d o uma valoraç ã o tipica m e n t e cultural na qual vale a<br />

pen a aprofund ar- se. Por sua apar ê n ci a extern a, os olho s<br />

corre s p o n d e m ao Sol e ao princípio ma s c ulino 40 . Na formulaç ã o<br />

de Goeth e. "Se o olho não foss e solar, o Sol jam ais pod eria vêlo".<br />

Já o órgã o auditivo, ao contrário, impres si o n a extern a m e n t e<br />

atrav é s do pavilhã o auricular, que sim b olic a m e n t e está próxim o<br />

<strong>da</strong> Lua e do princípio feminino.<br />

Os olho s são a única parte de nos s o corpo ond e o cér e br o<br />

se torna visível, já que eles, de ac ord o co m a história <strong>da</strong><br />

ev oluç ã o e junta m e nt e co m o nervo ocular e a retina, são parte<br />

do siste m a nervo s o central. Devido à sua própria naturez a,<br />

visão e con s ci ê n ci a estã o natural m e nt e liga<strong>da</strong>s. A pro m o ç ã o<br />

dos olho s a órgã o dos sentido s de prim eira clas s e oc orr eu<br />

juntam e nt e co m a primazia con q uistad a pelo cér e br o. O<br />

pen s a m e n t o impregn a noss a visã o, m a s a visã o tam b é m<br />

impregn a o pen s a m e n t o . Um corresp o n d e ao outro e m suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s e fontes de erro e se pro m o v e r a m mutua m e n t e .<br />

O pen s a m e n t o , eleg a nt e m e n t e , supriu várias deficiên cias <strong>da</strong><br />

visão. Enquanto, por exe m pl o, pod e m o s ouvir e ch eirar e m<br />

to<strong>da</strong>s as direç õ e s , nós per m a n e n t e m e n t e ve m o s apen a s<br />

m etad e do mun d o . Apenas algun s deus e s co m muitos olho s e<br />

o pastor Argos pod e m ad mirar a totali<strong>da</strong>d e.<br />

A visã o é orientad a pela luz do Sol, cujos raios pare c e m<br />

tom ar se m pr e o ca minh o reto e, portanto, m ais curto.<br />

Corresp o n d e n t e m e n t e , nós tenta m o s pen s ar e plan ejar<br />

linear m e nt e e se m rod ei o s. Nós orienta m o s noss o am bi e nt e<br />

artificial por linhas e ângulo s retos en quant o a naturez a, ao<br />

contrário, vive e m curvas e esfer a s e des c o n h e c e as linhas e<br />

1 6<br />

3


ângulo s retos. Noss o pens a m e n t o não só está atrelad o ao<br />

ca min h o mais curto, to<strong>da</strong> s as nos s a s con c e p ç õ e s e<br />

exp e ctativa s refer e nt e s ao des e n v o l vi m e n t o são projeç õ e s<br />

linear e s no futuro. Mas co m o a reali<strong>da</strong>d e não dec orr e<br />

linear m e nt e , algu m a cois a nes s e s plan o s se m pr e talha. Há<br />

muitos fatores indican d o que a violaç ã o de noss o m ei o<br />

am bi e nt e natural tem muito a ver co m a igualm e nt e violenta<br />

impo siç ã o <strong>da</strong> lineari<strong>da</strong>d e . Esta, entretanto, tem a ver co m um<br />

equív o c o de racio cínio ligado à visão.<br />

Expres s õ e s tais co m o luz do espírito, iluminaç ã o , claro<br />

enten di m e n t o , cab e ç a clara, a I<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Treva s, etc.,<br />

de m o n s tr a m co m o a con s ci ê n ci a, pas s a n d o pela visã o, está<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong> à luz. Nós falam o s <strong>da</strong> luz do<br />

con h e ci m e n t o co m o sen d o algo totalm e nt e óbvio, e não de seu<br />

so m , go sto ou ch eiro. O so m , ao m e n o s , dev eria ter m ais<br />

direito a es s a honra pois se g un d o os mitos dos m ais variad o s<br />

pov o s, no princípio houv e um so m , e to<strong>da</strong> a criaç ã o co m e ç o u<br />

co m ele. "No princípio era o verb o", en sin a a Bíblia, e<br />

deduzi m o s dos Ve<strong>da</strong>s que tudo surgiu a partir <strong>da</strong> sílab a<br />

primordial OM, en qu a nt o na con c e p ç ã o dos ab orígin e s <strong>da</strong><br />

Austrália, Deus cantou o mun d o . Até m e s m o e m noss o mun d o<br />

des e n c a n t a d o a física en sina que o univers o surgiu a partir de<br />

um estrond o prim ordial.<br />

Não enten d e n d o es s a situaç ã o , nós favor e c e m o s a visão em<br />

prejuízo <strong>da</strong> audiçã o e colo c a m o s nos s a razão cristalina e m<br />

prim eiro lugar. A prim eira cois a que nos suc e d e é ver a luz do<br />

mund o, e m b o r a saib a m o s que se es c uta o batim e nt o cardía c o<br />

mat ern o muito ante s que a luz do mund o seja visível e que e m<br />

fase s decisiva s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> o m elh or é es cutar a voz do coraç ã o .<br />

A estrutura do olho rev ela um a outra propried a d e de nos s a<br />

visão e tam b é m , portanto, de noss a con s ci ê n ci a, que não deixa<br />

de ser proble m á tic a. Nós não ve m o s igual m e nt e be m e co m a<br />

m e s m a nitidez e m to<strong>da</strong> a sup erfície <strong>da</strong> retina. A cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

visão é m ais fraca nas bor<strong>da</strong> s, e a sen s a ç ã o <strong>da</strong>s cor e s<br />

deficiente, m elh or a n d o à m e di<strong>da</strong> que se aproxim a do ponto<br />

central. A visã o tornou- se para nós um ato de con c e ntra ç ã o ,<br />

1 6<br />

4


pois nós fixam o s o olhar e m um ponto per mitindo, assi m, que o<br />

resto fique auto m atic a m e n t e fora de foco. De man eira<br />

corre s p o n d e n t e , con c e ntra m o s noss a con s ci ê n ci a no que é<br />

mais important e, co m o que as cois a s m e n o s importante s são<br />

muitas vez e s es qu e ci d a s . Escolh er tem um duplo caráter,<br />

con sistindo de um a es c ol h a para dentro e um a es c olh a para<br />

fora. Presu m e - se que a visã o não foi se m pr e tão centrad a.<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, "outros m a m íf er o s" tais co m o os caval o s enx er g a m<br />

igual m e nt e be m e m todo o ca m p o de visão. Noss o olho tem<br />

ain<strong>da</strong> um ponto ceg o próxim o ao ponto e m que a visã o é m ais<br />

aguçad a , o local ond e o nervo ocular pen etra na retina. A<br />

con s ci ê n ci a, treinad a para es c ol h er e para adotar ponto s de<br />

vista unívo c o s e a seguir racion al m e n t e o ca min h o m ais curto,<br />

tem igual m e nt e outros tantos ponto s ce g o s . To<strong>da</strong> con c e ntra ç ã o<br />

e o con s e q ü e n t e proc e s s o de es c ol h a que se se g u e estã o<br />

bas e a d o s na avaliaç ã o e pres s up õ e m proc e s s o s de<br />

pen s a m e n t o .<br />

A exp eriên ci a <strong>da</strong> persp e ctiva ensin a co m o é importante o<br />

pap el des e m p e n h a d o pela avaliaç ã o , tanto no proc e s s o <strong>da</strong><br />

visão co m o no do pen s a m e n t o . Distorc e n d o a reali<strong>da</strong>d e, nós<br />

perc e b e m o s co m o grand e o que esta próxim o e Com o<br />

pequ e n o o que está long e. Neste ponto já se nota e m nos s o<br />

tipo de visão o eg o c e n tris m o que impregn o u nos s o<br />

pen s a m e n t o ao long o <strong>da</strong> história. Som e nt e aquilo que está<br />

pes s o al m e n t e próxim o a nós rec e b e esp a ç o e m noss o<br />

pen s a m e n t o c na ótica corre s p o n d e n t e . A espinh a que tem o s<br />

no nariz está mais próxim a e, portanto, é mais importante que a<br />

epide mi a de cólera na América Latina.<br />

Existe, por outro lado, o efeito apar ent e m e n t e contraditório<br />

<strong>da</strong> projeç ã o , que está ligad o ao olho de m an eira igual m e nt e<br />

substanci al. Enquanto intencion al m e n t e não veja m o s a viga no<br />

próprio olho, rec o n h e c e m o s niti<strong>da</strong> m e nt e o cisc o no olho dos<br />

outros. Nós nos co m pr o m e t e m o s a ver tudo do lado de fora,<br />

e m b o r a o olho nos prov e o contrário o tem p o todo. To<strong>da</strong> s as<br />

imag e n s se m pr e se form a m so m e n t e so br e a retina, que<br />

inequivo c a m e n t e está dentro. As imag e n s que se form a m a<br />

1 6<br />

5


po st erior ? deixa m isso muito claro: quan d o se olha para a<br />

clari<strong>da</strong>d e do Sol e e m se guid a se fecha os olho s, o que se vê<br />

co m os olho s fecha d o s é um a man c h a es cur a, um neg ativo do<br />

Sol que certa m e n t e não existe do lado de fora.<br />

To<strong>da</strong> s as noites os son h o s nos m o stra m que a retina não é<br />

ne m m e s m o nec e s s á ri a para ver. To<strong>da</strong> s as imag e n s , aqu el a s<br />

que nós apar e nt e m e n t e obte m o s de fora para dentro e<br />

so br etud o as imag e n s oníricas propria m e n t e ditas são na<br />

reali<strong>da</strong>d e imag e n s interna s. Não existe nenhu m a outra e, por<br />

princípio, não pod e hav er nen hu m a outra. Apesar diss o,<br />

con sid er a m o s noss o s olho s co m o sen d o apar elh o s<br />

fotográfico s, e deduzi m o s que aquilo que é fotografad o do lado<br />

de fora está real m e nt e lá fora. Nós m o stra m o s no prim eiro<br />

volu m e co m o es s a supo siç ã o tão óbvia para nós é<br />

probl e m á tic a. Na reali<strong>da</strong>d e, nós ve m o s tudo interna m e n t e e o<br />

explica m o s co m o sen d o o mund o exterior. Este, entretanto, é o<br />

m e c a ni s m o <strong>da</strong> projeção , co m cuja aju<strong>da</strong> e m p urra m o s para<br />

fora tudo aquilo que não pod e m o s supor tar e m nós.<br />

O olho, portanto, forne c e a bas e tanto para a racion alizaç ã o<br />

co m o para a projeç ã o , favor e c e n d o nos s a s valoraç õ e s e<br />

pro m o v e n d o a es c olh a e, co m ela, a limitaç ã o do mun d o . Com o<br />

ele faz tudo isso a serviç o do pen s a m e n t o e sua visão de<br />

mund o linear, racion al e avaliad or a, a con s ci ê n ci a se vinga<br />

co m um artifício ous a d o : ela sug er e que to<strong>da</strong> s as perc e p ç õ e s<br />

de nos s o s olho s são objetivas, ou seja, que aquilo que nós<br />

imagina m o s lá fora corre s p o n d e à reali<strong>da</strong>d e.<br />

Nossa visão de mund o e o pred o m í ni o do intelecto estã o<br />

bas e a d o s nes s e truque. Em última instância, isso se dev e ao s<br />

olho s e seus esforç o s de endireitar artificialm e nt e o mun d o<br />

redond o . Sua própria form a redo n d a m o stra quanta neg a ç ã o<br />

de si m e s m o é nec e s s á ri a para isso. Hoje nós sab e m o s que na<br />

reali<strong>da</strong>d e na<strong>da</strong> nest e mund o oc orr e linear m e nt e. Aquilo que e m<br />

pequ e n a es c al a parec e ser um a reta é na reali<strong>da</strong>d e uma curva,<br />

co m o pod e ser co m pr o v a d o a qualqu er m o m e n t o pela<br />

curvatura <strong>da</strong> Terra. Até m e s m o os raios de luz não vê m do Sol<br />

e m linha reta, e sim e m grand e s espirais. Ness e entrete m p o<br />

1 6<br />

6


fica m o s sab e n d o tam b é m que nos s o s olho s pod e m perc e b e r<br />

so m e n t e um a parte ínfima do esp e ctr o de ond a s<br />

eletro m a g n é ti c a s e, portanto, de noss a "reali<strong>da</strong>d e". Ness a<br />

situaç ã o probl e m átic a, que am e a ç a v a seu do mínio ilimitado, o<br />

olho e o intelecto se ass o ci ar a m ain<strong>da</strong> mais estreita m e n t e e o<br />

intelecto apar elh o u o olho co m o não o fez co m nenhu m outro<br />

sentido. Com recurs o s técnic o s, ele ajudou a am pliar as<br />

limita<strong>da</strong> s cap a cid a d e s do olho, co m micro s c ó pi o s para o<br />

mund o do muito pequ e n o e co m lunetas e teles c ó pi o s para o<br />

am plo esp a ç o do infinito. Todo s os truque s e m ei o s pos sív ei s<br />

sug er e m que noss a visão não vai tão m al co m o os nova m e n t e<br />

sinc er o s olho s individuais m o stra m . Os óculo s deixa m muito<br />

claro que a mai oria dos intelectuais so m e n t e pod e ver o mund o<br />

atrav é s de seus próprios óculo s. A funçã o <strong>da</strong>s lente s de<br />

contato é imp e dir que a vertig e m se torne evid e nt e. O fato de<br />

que mais <strong>da</strong> m etad e <strong>da</strong> populaç ã o <strong>da</strong>s cha m a d a s naç õ e s<br />

des e n v olvid a s m al pod e enx er g ar se m a aju<strong>da</strong> de m ei o s<br />

artificiais pod eria <strong>da</strong>r o que pen s ar. Nem m e s m o os<br />

exp eri m e nt o s co m lente s fixas per m a n e n t e s pod e m m o dificar<br />

isso.<br />

A to<strong>da</strong>s es s a s exp eri ên ci a s doloro s a m e n t e sinc er a s so m ase<br />

a física m o d e r n a que, co m o princípio <strong>da</strong> incertez a de<br />

Heisen b er g prova que nós, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , não esta m o s<br />

jam ais e m con diç õ e s de perc e b e r objetiva m e n t e porqu e o<br />

ob s ervad o r subjetivo se m pr e participa do proc e s s o de<br />

perc e p ç ã o . Deve m o s rec o n h e c e r o quanto noss a visã o é<br />

relativa e quã o facilm e nt e ela pod e ser induzi<strong>da</strong> ao eng a n o . A<br />

perc e p ç ã o é o m o d el o de to<strong>da</strong> m e diç ã o científica ma s, assi m<br />

co m o esta, está se m pr e bas e a d a e m co m p ar a ç õ e s e é,<br />

portanto, relativa. A figura ab aixo ilustra o dile m a:<br />

1 6<br />

7


Os dois círculo s intern o s têm o m e s m o tam a n h o m a s,<br />

cerc a d o por círculo s m e n o r e s , o <strong>da</strong> es qu er d a pare c e maior,<br />

en qu a nt o seu irmã o gê m e o <strong>da</strong> direita, cerc a d o por círculo s<br />

maior e s , dá a impre s s ã o de ser pequ e n o . Aquilo que<br />

impres si o n a co m o um a ilusão de ótica corresp o n d e à<br />

exp eriên ci a cotidian a, a ponto de se procurar o am bi e nt e mais<br />

quadriculad o pos sív el para que o efeito seja esp e ci al- m e nt e<br />

grandio s o .<br />

Mas noss a visão não é so m e n t e relativa, ela é tam b é m<br />

en g a n o s a . A cad a filme que assistim o s , viven ci a m o s co m o<br />

imag e n s fixas nos dão a ilusão de m o vi m e nt o , co m o nos filmes<br />

antigo s as ro<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s diligên cia s rep e ntina m e n t e giram para<br />

trás, etc.<br />

A imag e m ab aixo ilustra aqu el e que é talvez o asp e ct o m ais<br />

probl e m á tic o de nos s a visão, a es c ol h a e a avaliaç ã o :<br />

Figura de W. E. Hill<br />

Naturalm e nt e, a velha e a jove m estã o se m pr e e ao m e s m o<br />

temp o lá. Entretan to , atrav é s <strong>da</strong> es c olh a pod e m o s perc e b e r<br />

apen a s um a delas e m um prim eiro m o m e n t o , aqu el a co m a<br />

qual tem o s m ais afini<strong>da</strong>d e. Até m e s m o quan d o , finalm e nt e,<br />

des c o b ri m o s as duas, é impo s sí v el vê- las ao m e s m o tem p o ,<br />

e m b o r a saib a m o s que elas estã o lá simultan e a m e n t e . Aquilo<br />

que pod e parec er divertido e m um que br a- cab e ç a visual<br />

adquire um a quali<strong>da</strong>d e muito diferente quan d o nos <strong>da</strong> m o s<br />

conta co m o , ao long o de to<strong>da</strong> a nos s a vi<strong>da</strong>, perc e b e m o s<br />

atrav é s de um des s e s retículos que deixa m pas s ar apen a s<br />

1 6<br />

8


deter min a d a s cois a s que são agradáv ei s para nós, tapand o o<br />

resto. Nós não dirigim o s nos s o olhar ao mun d o a noss o belprazer;<br />

ve m o s algu m a s cois a s nele, e deixa m o s de ver outras.<br />

Na express ã o de Schop e n h a u e r "O mun d o co m o vontad e e<br />

repre s e nt a ç ã o ”, es s a exp eriên ci a é posta e m uso <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira que na opinião de Herman Weidel en er, para que m<br />

olhar é tam b é m se m e a r . Dess a m an eira, abr e m - se as portas<br />

para a esp e c ul a ç ã o (do latim sp e c ular e = espiar), tam b é m<br />

liga<strong>da</strong> à visão, e a visão torna- se ain<strong>da</strong> mais susp eita. Uma<br />

aula de visã o nos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela política, ond e repres e nt a nt e s de<br />

uma m alha so cial pod e m reunir- se co m os adepto s de um<br />

partido con s er v a d o r ou liberal so m e n t e para sep ar ar- se se m<br />

que se che g u e a nen hu m resultad o. Tanto optica m e n t e co m o<br />

e m pen s a m e n t o , so m e n t e pod e m o s con c e ntrar- nos e m um<br />

único ponto de vista e m um deter min a d o m o m e n t o . Quando<br />

nos inclina m o s a fazer des s e ponto de vista o único a ser<br />

defendid o, os probl e m a s con h e ci d o s estã o sen d o préprogra<br />

m a d o s .<br />

Os olho s nos m o stra m co m o esta m o s pres o s à polari<strong>da</strong>d e .<br />

Eles transfor m a m a simultan eid a d e e m um a se qü ê n ci a de<br />

ev e nt o s e garant e m a lineari<strong>da</strong>d e . Eles transfor m a m a uni<strong>da</strong>d e<br />

e m duali<strong>da</strong>d e e, des s a man eira, des e m p e n h a m um pap el<br />

central na des e s p e r a d a situaç ã o e m que nos en c o ntra m o s . O<br />

con h e ci m e n t o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e por m ei o dos dois olho s físico s é, por<br />

princípio, impo s sív el.<br />

Sendo assi m, não é de ad mirar, e sim típico, que tenha m o s<br />

probl e m a s nos olho s co m tanta freqü ê n ci a. O fato de que nós,<br />

de m an eira gen er alizad a, tenha m o s a tend ê n ci a de forçar<br />

de m ai s a vista resulta <strong>da</strong>s exig ê n ci a s de nos s o mun d o<br />

primaria m e n t e óptico. Pois os probl e m a s so m e n t e surg e m<br />

quan d o não quer e m o s perc e b e r con s ci e nt e m e n t e as coisa s<br />

perc e bid a s . Não olhar para isso, não quer er perc e b ê - lo, é<br />

so m atizad o nas form a s e sinto m a s mais divers o s . O fato de as<br />

culturas cha m a d a s de “primitivas", m e n o s unilateral e<br />

visual m e nt e orientad a s , sup er ar e m a juventud e se m miopia e a<br />

velhic e se m pres bi o pia, m o stra co m o ap e s ar de sua<br />

1 6<br />

9


freqü ê n ci a, es s e s fenô m e n o s têm a ver esp e cifica m e n t e<br />

con o s c o .<br />

Ouvido e audição<br />

A orelha, que é a parte extern a do ouvido. tem um a form a<br />

e min e nt e m e n t e feminina. Enquanto o olho tem ac e s s o a um<br />

control e ativo, a lei que reg e o ouvido o sub m e t e a um a maior<br />

pas sivi<strong>da</strong>d e . Ele per m a n e c e ab erto m e s m o durante a noite,<br />

que é a m etad e feminina do dia, não se deixa dirigir ou<br />

controlar e, de man eira corresp o n d e n t e , tem m e n o r cap a cid a d e<br />

de con c e ntr a ç ã o . Naturalm e nt e não existe, portanto, um ponto<br />

e m que a audiç ã o é mais aguç a d a. Enquanto o olho, por<br />

princípio, pod e fech ar- se e está limitad o a um a m etad e <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e, aqu el a para a qual o rosto está voltad o, o ouvido não<br />

pod e ser desliga d o e por es s a razão está se m pr e sen d o<br />

inform a d o de man eira abran g e nt e. Ain<strong>da</strong> que se durm a so br e<br />

um dos ouvido s, o outro continua desp erto. Na es c al a de ond a s<br />

eletro m a g n é ti c a s , a faixa de freqü ê n ci a s perc e bid a pelo ouvido<br />

ultrapas s a e m muito a do olho. Contraria m e n t e às pálpe br a s, a<br />

aus ê n ci a de m o bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s orelhas ac e ntua igual m e nt e a<br />

quali<strong>da</strong>d e pas siva do sentido <strong>da</strong> audiç ã o , já que não se<br />

en c o ntra m no centro co m o os olho s m a s, tipica m e n t e, na<br />

periferia do rosto. Nós e m p r e s t a m o s noss o s ouvido s a algu é m<br />

ou <strong>da</strong> m o s uma ouvi<strong>da</strong> no que ele tem a dizer, e m b o r a so m e n t e<br />

lanc e m o s olhar e s ao nos s o redor. O fato de que os anim ais<br />

seja m cap az e s de m o v er as orelha s e de que algu m a s pouc a s<br />

pes s o a s tam b é m tenha m a pos sibili<strong>da</strong>d e de executar<br />

ativa m e nt e co m elas alguns m o vi m e nt o s rudim e nt ar e s per mite<br />

presu mir que es s a cap a ci<strong>da</strong>d e foi sen d o perdi<strong>da</strong> por desl eixo.<br />

É so m e n t e e m sentido figurad o que nós ain<strong>da</strong> pod e m o s ficar<br />

co m as orelhas e m pé. O ponto a que ch e g a m o s pod e ser<br />

co m pr o v a d o pelo fato de ach ar m o s que orelhas m ó v ei s são<br />

cô mi c a s , en qu a nt o olho s imóv ei s nos pare c e m trágic o s. A<br />

diferent e valora ç ã o de am b o s os sentido s m o stra- se tam b é m<br />

17<br />

0


no fato de nós confiar m o s con stant e m e n t e e m noss a ótica,<br />

ma s só muito rara m e nt e se é todo ouvido s, já que nós<br />

pratica m e n t e nos es qu e c e m o s de ouvir co m aten ç ã o .<br />

A có cl e a, o órg ã o <strong>da</strong> audiçã o propria m e n t e dito, que está<br />

situad o no interior do ouvido, é um sinal ain<strong>da</strong> m ais importante<br />

que o pavilhã o auricular. A imag e m <strong>da</strong> espiral é um sím b ol o<br />

primordial que, ao contrário <strong>da</strong>s linhas retas, está muito m ais<br />

próxim a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . No âm bito do infinitam e nt e pequ e n o , os<br />

físico s atô mi c o s en c o ntrara m sua marc a no local de form a ç ã o<br />

de mat éria nova, assi m co m o o fizera m os astrofísic o s nas<br />

gigante s c a s dim e n s õ e s do univers o, so b a form a de nebul o s a s<br />

e m espiral, en qu a nt o os biólo g o s m ol e c ular e s se guira m seu<br />

rastro no mat erial gen étic o do DNA; já os psicot er ap e uta s a<br />

con h e c e m co m o aqu el e red e m o i n h o co m que o ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

tem inicio, na con c e p ç ã o , e co m o qual se fecha ao final <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, quan d o a alm a volta a deixar o corp o.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , a perc e p ç ã o do ouvido aproxi m a- se mais<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, so br etud o quan d o pens a m o s que tudo na criaç ã o<br />

foi con stituído a partir do so m . "Na<strong>da</strong>- Brahm a, o mun d o é<br />

so m” 41 . C. G. Carus diss e: "O ouvido interno pod e ser<br />

con sid er a d o o órg ã o m ais importante e significativo do<br />

des e n v olvi m e nt o psíquic o"” Schop e n h a u e r e Kant refer e m - se à<br />

relaç ã o entre o ouvido e o temp o, que nós m e di m o s de ac ord o<br />

co m o curs o <strong>da</strong>s estrela s des d e temp o s ime m o ri ais. Suas<br />

"órbitas" são na reali<strong>da</strong>d e espirais. Rudolf Steiner rec o n h e c e u<br />

que a vi<strong>da</strong> é ritmo, e por tam b é m dec orr er ritmica m e n t e 42 , o<br />

temp o está intima m e n t e ligad o à nos s a vi<strong>da</strong>. Nós ve m o s co m<br />

os olho s a sup erfície do mun d o , os fenô m e n o s . Com nos s o s<br />

ouvido s, entretanto, es cuta m o s as profund ez a s , as raízes de<br />

noss a vi<strong>da</strong>. Ness e sentido, os olho s "feno m e n ai s" contrap õ e m -<br />

se ao s ouvido s radicais (do latim radix = raiz). Isso não faz co m<br />

que os ouvido s seja m fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e m elh or e s que os<br />

olho s, so m e n t e m o stra que nós os utilizam o s de outra m an eira,<br />

mais profun<strong>da</strong>.<br />

A relaç ã o dos dois m ais importante s órg ã o s dos sentido s<br />

fica evid e nt e nos relacion a m e n t o s interp e s s o a i s. Nós ve m o s e<br />

17<br />

1


ouvim o s uns ao s outros. Primeiro entra m o s e m contato e por<br />

último, ev e ntual m e nt e, apren d e m o s a nos enten d e r<br />

mutua m e n t e . As reaç õ e s à cegu eira e à surdez de m o n s tr a m<br />

co m o a audiçã o nos toca profun<strong>da</strong> m e n t e . Devido à valora ç ã o<br />

do min a nt e, con sid er a m o s a ce gu eira co m o sen d o muito pior,<br />

ma s a prática de m o n s tr a que ela é m ais fácil de suportar. Com<br />

a audiç ã o , perd e m o s o vibrar junta m e nt e co m o mun d o e,<br />

assi m, a sen s a ç ã o de ser parte dele, o que resulta e m<br />

perturba ç õ e s psíquic a s que che g a m até à depr e s s ã o . A surd ez<br />

ac arreta a aus ê n ci a de sen s a ç õ e s . Quando a m ã o está sur<strong>da</strong><br />

[em ale m ã o = dor m e nt e] não pod e sentir mais na<strong>da</strong>. O ditado<br />

ale m ã o m o stra que ouvir e sentir pod e m substituir um ao outro:<br />

"Aquele que não quer ouvir dev e sentir."<br />

Quando nos priva m <strong>da</strong> audiç ã o , vive m o s e m um mun d o se m<br />

so m . E a sen s a ç ã o de ser expuls o, de ser um estran h o no pior<br />

sentido, o que animic a m e n t e é quas e insup ortáv el. Assim co m o<br />

no início <strong>da</strong> criaç ã o há um so m , to<strong>da</strong> criatura ouv e des d e o<br />

princípio o batim e nt o do cora ç ã o mat ern o . To<strong>da</strong> s as mã e s<br />

sent e m co m o es s e cordã o umbilical acústic o é important e ao<br />

estreitar o filho inquieto contra o peito de m an eir a intuitiva e<br />

esp o nt â n e a . É es s e so m tão con h e ci d o que, e m última<br />

instância, ac al m a a crianç a. Qualquer família de patos mo stra o<br />

fenô m e n o . A mã e gras n a ininterrupta m e n t e e en quant o os<br />

patinho s a es c uta m , tudo está e m orde m . Assim que os<br />

gras nid o s enfraqu e c e m , é hora de retornar.<br />

No en surd e ci m e n t o , ou seja, quan d o se co m e ç a a ter<br />

dificul<strong>da</strong>d e e m ouvir, a indicaç ã o é parar, dirigir a es c uta para<br />

fora e esp er ar que as resp o st a s ven h a m de lá. Não é m ais o<br />

cas o de es cutar o exterior, m a s a voz interna, à qual,<br />

unica m e n t e , se está sen d o rem etid o pelo sinto m a. O ritmo<br />

interno quer ser en c o ntrad o . De ac ord o co m a naturez a, esta é<br />

uma tarefa <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e ma dur a, razão pela qual o sinto m a<br />

tam b é m afeta prefer e n ci al m e n t e es s a faixa etária. Quem, e m<br />

i<strong>da</strong>d e avan ç a d a , continua voltad o ap en a s para o exterior, pod e<br />

contar co m que o destino o corrigirá. Mas isso pod e oc orr er<br />

atrav é s do fech a m e n t o do ouvido extern o. A própria voz<br />

17<br />

2


interna, assi m co m o a voz de Deus, pod e ser ouvi<strong>da</strong><br />

indep e n d e n t e m e n t e dos ouvido s físico s e, e m cas o s extre m o s ,<br />

termin a m sen d o a única con ex ã o . Isso pod e ser sentido co m o<br />

dra m a ou oportuni<strong>da</strong>d e . Neste ponto, dev er- se- ia se pen s ar<br />

tam b é m nos co m p o sitor e s Beetho v e n e Smetan a, que ape s ar<br />

<strong>da</strong> surdez extern a co m p u s e r a m músic a divina e tam b é m<br />

ouvira m interna m e n t e .<br />

Tinnitus ou ruído nos ouvido s<br />

Aquilo que à prim eira vista pod e parec er um sinto m a<br />

pequ e n o e inofen siv o ator m e nt a m ais de seis milhõ e s de<br />

pes s o a s só na Alem anha, tend o assi m alcan ç a d o o grau de<br />

epide mi a. Tinnitus ve m do latim tinnire, que quer dizer,<br />

evid e nt e m e n t e , tinir. Freqü e nt e m e n t e ele é des crito co m o<br />

mur m úrio, bra mid o, zunido, so m de sino s, sussurro, son s<br />

sibilante s, bati<strong>da</strong>s, ass o bi o s , tinidos e até m e s m o uivos. Não<br />

todo s, m a s a grand e m ai oria dos afetad o s sofre co m o ruído<br />

interno, sentindo- se inco m o d a d o s e até incap a citad o s .<br />

A m e dicin a ac ad ê m i c a parte do princípio de que o ruído é a<br />

caus a e m mais <strong>da</strong> m etad e dos pacient e s . Há um a relaç ã o co m<br />

o exc e s s o de stre s s e m pratica m e n t e todo s os pacient e s . Em<br />

última instância, os ruído s nos ouvido s são ruídos intern o s<br />

levad o s para dentro, os afetad o s inco m o d a m a si m e s m o s . Há<br />

muito faland o e m favor de que eles, perturba d o s pelo “ruído"<br />

extern o, não se defend e m e sim incorp or a m , internaliza m a<br />

agre s s ã o .<br />

Em vez de li<strong>da</strong>r co m o stre s s de m an eira con strutiva e ir ao<br />

en c o ntro <strong>da</strong>s exig ê n ci a s no exterior, eles tend e m a res olv er<br />

tudo interna m e n t e , sozinh o s . Não é de ad mirar que algo<br />

ac o nt e ç a interna m e n t e . Os son s no interior (co m o todo s os<br />

sinto m a s) dev e m ser enten did o s co m o sinais que quer e m<br />

trans mitir uma m e n s a g e m . O tipo de m e n s a g e m resulta do tipo<br />

de ruído, que geral m e n t e conté m algo de ad m o nitório ou, pelo<br />

m e n o s , que tenta cha m a r a aten ç ã o . O des p erta d or so and o<br />

quer ac ord ar, a siren e assu star, o uivo de um a bóia, <strong>da</strong> m e s m a<br />

17<br />

3


man eira que um alar m a, avisa que um a tem p e s t a d e se<br />

aproxi m a, que m bate à porta ped e entrad a e aten ç ã o , apitos<br />

avisa m ou e mite m sinais. Tais son s pod e m não ser agrad á v ei s,<br />

ma s são se m pr e significativo s. O bra mid o de um a torm e nt a, o<br />

zunido de um enxa m e de ab elhas ou o rugido de um urso não<br />

pres s a gi a m na<strong>da</strong> de bo m , naturalm e nt e, m a s são muito úteis<br />

quan d o algu é m os es cuta, leva os aviso s a sério e se co m p o rta<br />

de man eira condiz ent e.<br />

Os pacient e s de tinnitus internalizara m a torrente de stre s s e<br />

ag or a ele so a neles a partir de dentro e avisa <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong> d e<br />

mais próxim a, já que sinais mais distan ciad o s não são<br />

es c utad o s . O ponto <strong>da</strong> história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m que os avis o s<br />

prov e ni e nt e s do interior co m e ç a r a m m o stra quan d o o cop o<br />

rec e b e u a última gota. A partir de entã o o silênci o interno é<br />

impo s sív el para os paci ent e s , que des s a m an eir a apren d e m a<br />

con h e c e r sua profun<strong>da</strong> nec e s s i d a d e de tranqüili<strong>da</strong>d e. O<br />

silênci o intern o, no entanto, so m e n t e pod e surgir quan d o o<br />

nec e s s á ri o for feito extern a m e n t e . Ness e ponto eles se<br />

co m p ar a m à nos s a so ci e d a d e m o d er n a, que faz co m que o<br />

silênci o seja cad a vez mais impo s sí v el e confronta as pes s o a s<br />

co m cad a vez mais ruído (stre s s ). Mas justa m e nt e assi m ela<br />

des p erta uma nec e s si d a d e cres c e nt e de silêncio. A poluiçã o<br />

son or a cres c e n t e corre s p o n d e ao s ruído s no ouvido cad a vez<br />

mais altos, sen d o que aqui os ruído s dev e m ser<br />

co m pr e e n di d o s de form a muito mais abran g e nt e e não<br />

so m e n t e m e did o s e m decib éi s. Ain<strong>da</strong> que os do e nt e s de<br />

tinnitus seja m tam b é m produto de um a so ci e d a d e que<br />

pratica m e n t e não con h e c e mais o silêncio, eles estã o sen d o<br />

cha m a d o s por seu sinto m a a posicion ar- se frente ao ruído para<br />

assi m apren d er a contorn á- lo. Antes de che g ar a ponto de<br />

co m b a t er o ruído alopatica m e n t e , a tarefa e m mã o s seria<br />

es c utá- los para sab er o que têm a dizer. Na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

trata- se <strong>da</strong> exig ê n ci a de falar m ais alto não só interna ma s<br />

tam b é m extern a m e n t e .<br />

Por um lado, os pacient e s estã o be m a<strong>da</strong>ptad o s às<br />

nec e s si d a d e s <strong>da</strong> soci e d a d e , por outro eles estã o muito mal<br />

17<br />

4


a<strong>da</strong>ptad o s às <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m suas exig ê n ci a s se m pr e mutante s .<br />

Eles levara m para dentro o stre s s , que pod eria vivificar e pôr<br />

para fora as en er gi a s vitais, e levantara m barricad a s internas<br />

para que a vi<strong>da</strong> extern a continua s s e funcion a n d o be m . Com<br />

freqü ê n ci a, es s a situaç ã o se dá de form a simultân e a co m<br />

proc e s s o s de arterios cl er o s e . O asp e ct o de endur e ci m e n t o e<br />

falta de a<strong>da</strong>pta ç ã o às vicissitud e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> evid e n ci a m - se<br />

acustic a m e n t e e m vários ruído s auditivo s: ao caráter<br />

des p erta d or dos ruído s so m a- se o tilintar, o rang er <strong>da</strong>s<br />

estruturas endur e ci<strong>da</strong> s e solidificad a s .<br />

Enquanto os son s repres e nt a m um vibrar har m ô ni c o de<br />

en er gi a, os ruído s se caract eriza m por suas vibraç õ e s<br />

des ar m ô ni c a s . Entretanto, en er gia é libera<strong>da</strong> e m cad a so m .<br />

Neste ponto é pos sív el diferen ciar dois grupo s de afetad o s , o<br />

grand e grupo dos mole sta d o s e o pequ e n o grupo de pes s o a s<br />

que sent e m seu tinnitus co m o so m e pod e m li<strong>da</strong>r co m ele.<br />

Pass ar o pacient e do prim eiro para o segun d o grupo já seria<br />

uma aju<strong>da</strong> substanci al, sen d o o objetivo <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s<br />

terapias.<br />

A exp eriên ci a m o stra que um a ac eitaç ã o relaxad a dos<br />

ruídos transfor m a o barulho selva g e m e torm e nt o s o e m son s<br />

ac eitáv ei s que pod e m indicar o ca min h o . Trata- se de voltar a<br />

rec o n h e c e r e confrontar do lado de fora o stre s s internalizad o.<br />

E pod e ser que os sino s esteja m anun ciand o um a temp e st a d e<br />

no sentindo mais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong> palavra, e que se esteja sen d o<br />

cha m a d o à ord e m co m apitos, bra mid o s e rugido s. Em m ei o ao<br />

cao s extern o, um a tarefa substanci al do afetad o é não só<br />

en c o ntrar m a s tam b é m defen d e r e mant er a posiç ã o frente ao<br />

ass alto de am e a ç a s prov e ni e nt e do exterior. Som a- se a isso o<br />

fato de muitos pacient e s de tinnitus tere m tam b é m proble m a s<br />

de equilíbrio. O órg ã o do equilíbrio en c o ntra- se na m e s m a<br />

cavi<strong>da</strong>d e do os s o tem p or al que o ouvido intern o e está ligad o<br />

ao m e s m o nervo, o stato- acu sticu s. Em última instân cia, é a<br />

partir <strong>da</strong>qui que todo s os mús c ul o s são dirigido s, o que nos<br />

per mite fazer frente à força <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>d e . Os probl e m a s<br />

auditivo s que tam b é m se apres e nt a m co m freqü ê n ci a são<br />

17<br />

5


explicad o s pelo perturba d or ruído de fundo interno. Eles<br />

m o stra m co m o o tem a ouvir, es cutar e ob e d e c e r é difícil<br />

quan d o se leva tudo o que está fora para dentro de si m e s m o e<br />

não se tem mais esp a ç o para o que é intern o.<br />

Agora, a tarefa primária de aprendizad o não é desligar- se <strong>da</strong><br />

man eira mais efetiva pos sív el do trans mi s s o r de perturba ç õ e s<br />

interno, tal co m o muitas indicaç õ e s de terapia do<br />

co m p o rta m e n t o pretend e m e sim, ao contrário, es cutá- lo.<br />

Quando os ruído s provo c a m ira, eles estã o indican d o as<br />

próprias agre s s õ e s ; cas o perturb e m a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

con c e ntra ç ã o , indica m probl e m a s e m ater- se ao que é<br />

es s e n ci al; m a s eles, so br etud o , dize m se m pr e que a raiz está<br />

no próprio interior. O ruído extern o não tem culpa, o<br />

resp o n s á v e l é própria m an eir a de li<strong>da</strong>r co m ele. Ele é<br />

internalizad o e por es s a razão o próprio mun d o interior é<br />

des c uid a d o e per mite que o ruído transfor m e a orde m interna<br />

e m um cao s. A tarefa é obter paz do en erv a nt e exterior e m voz<br />

alta para aprend er a es c utar para dentro. A intuiçã o co m o<br />

ca min h o para a própria orde m e para a própria ver<strong>da</strong>d e voltará<br />

a ser vivifica<strong>da</strong>. A exp eri ên ci a de m o n s tr a que, na m e di<strong>da</strong> e m<br />

que es s a sep ar a ç ã o se dá junta m e nt e co m um voltar- se para o<br />

interior, a caricatura <strong>da</strong> voz interior, o tinnitus, pára de gritar .<br />

Quando o paci ent e apren d e a ouvir co m aten ç ã o de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e, não é mais nec e s s á ri o que lhe grite m. O<br />

ruído perturb ad o r pod e ser transfor m a d o no fam o s o<br />

“ho m e n zinh o no ouvido", que pod e ser muito útil co m o<br />

con s el h eir o e ad m o e s t a d o r. Os pacient e que leva m a cab o<br />

es s a co m uta ç ã o relata m co m o seus son s serv e m de<br />

instrum e nt o indicad or sutil e confiáv el se m e l h a nt e a um<br />

des p erta d or e m b utido que os imp e d e de m er g ulh ar nova m e n t e<br />

na incon s ci ê n ci a. O desp ertad or desp erta e sinaliza o que<br />

neste m o m e n t o se está sen d o exigido. Caso os afetad o s<br />

am e a c e m perd er seu equilíbrio interno, os son s torna m - se mais<br />

altos, eles volta m a internalizar as agre s s õ e s , torna m - se m ais<br />

agre s siv o s , etc.<br />

17<br />

6


Com o voz interna despr ez a d a e m er gulha d a nas so m b r a s , o<br />

tinnitus está e m ord e m e, assi m co m o o príncip e- sap o dos<br />

conto s de fa<strong>da</strong>s, pod e ser retran sfor m a d o . A variaç ã o redimi<strong>da</strong><br />

dos son s intern o s é aqu el a músic a interna des crita pelo s<br />

místico s, a músic a <strong>da</strong>s esfera s do univers o interior. Várias<br />

tradiç õ e s espirituais dão grand e valor à es c uta de tais son s,<br />

interpretand o- a co m o sinal de progr e s s o no ca min h o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o lido co m o stre s s , ou seja, co m as exig ê n ci a s e<br />

requ eri m e nt o s de m eu entorn o, assi m co m o co m o exc e s s o de<br />

exig ê n ci a s?<br />

2. O que ac o nt e c e u quan d o os son s falara m co mi g o pela<br />

prim eira vez?<br />

3. O que é que eu não quer o mais ouvir, a que m não quer o<br />

mais es cutar e ob e d e c e r ?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> o equilíbrio, a firmez a, a auton o m i a e a<br />

cap a cid a d e de m e impor? Estou pisan d o terren o firme?<br />

5. O que é que os son s interno s têm a me dizer? E a minha<br />

voz interna? Que pap el des e m p e n h a m a intuiçã o e o insight na<br />

minh a vi<strong>da</strong>?<br />

Órgão do equilíbrio e estabili<strong>da</strong>de<br />

Assim co m o a có cl e a, no ouvido intern o. corresp o n di a à<br />

espiral do temp o , o labirinto co m seus con duto s serv e para<br />

noss a orientaç ã o no esp a ç o . Três conduto s estã o colo c a d o s<br />

e m ângulo reto entre si e corre s p o n d e m as três dim e n s õ e s de<br />

noss o siste m a de co ord e n a d a s esp a ci ais. Seguind o seu<br />

próprio pes o , as cha m a d a s pedrinha s auditivas m o stra m ao<br />

org anis m o sua posiç ã o no esp a ç o e m relaç ã o à gravi<strong>da</strong> d e e m<br />

um deter min a d o m o m e n t o . Tanto os con duto s co m o a có cl e a<br />

en c o ntra m - se no ouvido interno, am b o s estã o ch ei o s co m o<br />

m e s m o líquido e estã o con e ct a d o s um co m o outro. Ligado s ao<br />

m e s m o nervo cer e br al, o 8 o ou estato- acústic o, os órgã o s do<br />

17<br />

7


sentido do esp a ç o e do tem p o estã o tão estreita m e n t e<br />

relacion a d o s co m o os próprios esp a ç o e tem p o . Não é à toa<br />

que falam o s de um esp a ç o de tem p o , e a física m o d e r n a<br />

des c o b riu no entret e m p o o esp a ç o - temp o. A anato mi a fornec e<br />

o m o d el o des d e temp o s ime m o ri ais. Com a aju<strong>da</strong> dos órgã o s<br />

do ouvido intern o pod e m o s m ant er o prum o, apru m ar as coisa s<br />

e equilibrar- nos.<br />

A vertigem<br />

Não há muito que interpretar na vertige m [Sc h wind el =<br />

vertige m e m ale m ã o , e tam b é m m e ntira, eng a n o]: No m e n est<br />

om e n. A vertig e m se rem et e a um en g a n o mais profund o. Ela<br />

pod e ser entrevista no protótipo do sinto m a , o enjô o que se<br />

sent e e m um navio ou quan d o se viaja. Emb or a seja muito<br />

freqü e nt e durante viag e n s por mar, ela surg e e m viag e n s de<br />

carro ou ônibus, e m parqu e s de divers õ e s e até m e s m o e m<br />

elev a d o r e s . As condiç õ e s para seu apar e ci m e n t o são, e m<br />

princípio, se m pr e idênticas. Uma situaç ã o típica se dá m ais ou<br />

m e n o s <strong>da</strong> se g uinte man eira: a pes s o a está viajand o de navio e<br />

senta- se no conv é s para co m e r. Os olho s vê e m um a m e s a<br />

posta diante de si, firme m e n t e ass e nt a d a no chã o e imóv el. Em<br />

seguid a, eles anuncia m à Central: “Tudo e m paz e e m ord e m ".<br />

Ao m e s m o temp o, entretanto, o órg ã o do equilíbrio, lá de<br />

dentro do ouvido intern o, avisa: "Movim e nt o s de balan ç o".<br />

Surge entã o um a esp é ci e de situaç ã o doubl e- bind 43 , a qual não<br />

tem soluç ã o para a Central. Ou pred o m i n a a calm a ou o<br />

m o vi m e nt o , am b o s ao m e s m o tem p o não são evid e nt e m e n t e<br />

pos sív ei s. Ness a situaç ã o , o org anis m o incorp or a o en g a n o<br />

evid e nt e para co m isso m o strá- lo à con s ci ê n ci a. Aqui fica<br />

esp e ci al m e n t e explícito co m o a do e n ç a o torna hon e st o. O<br />

sinto m a reproduz no próprio corp o do afetad o aquilo que ele<br />

não pod e rec o n h e c e r fora, ou seja, que o chã o está os ciland o<br />

so b seus pés.<br />

No enjõ o que oc orr e durante as viag e n s es s a inform a ç ã o é<br />

inofen siva, porqu e de fato é o chã o con cr et o que se m o v e . Em<br />

17<br />

8


sinto m a s co m o a es cl er o s e múltipla, o sinto m a m o stra<br />

igual m e nt e que o chã o so br e o qual se está oscila. Neste cas o ,<br />

entretanto, isso é enten did o e m sentido figurad o, o que é m ais<br />

am e a ç a d o r . No enjô o <strong>da</strong>s viag e n s , o corpo ao m e s m o temp o<br />

indica co m o mal- estar que ele está a ponto de vo mitar e que<br />

gostaria de sair des s a situaç ã o o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el.<br />

Os do e nt e s , no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, não se<br />

sent e m e m seu ele m e n t o . Ao contrário, eles estã o entre<br />

ele m e n t o s , vive m na ilusão de ain<strong>da</strong> estar pisan d o a confiáv el<br />

e tranqüila terra en qu a nt o há muito estã o balan ç a n d o ao sab or<br />

<strong>da</strong>s ond a s do m ar. Eles dev eria m ad mitir es s a situaç ã o<br />

inteira m e nt e, isto é, co m todo s os sentido s, e entreg ar- se<br />

totalm e nt e ao ele m e n t o aquátic o que os está levan d o , e<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e voltaria m a se sentir be m . Caso eles, vo mitan d o ,<br />

não entre g a s s e m tanto de si con cr et a m e n t e , pod eria m<br />

entreg ar- se à situaç ã o e m sentido figurad o.<br />

O sinto m a conté m a soluç ã o e m si m e s m o e força o afetad o<br />

a vo mitar so br e a amur ad a. Lá seus olho s vê e m os<br />

m o vi m e nt o s <strong>da</strong> água e do navio, e as inform a ç õ e s volta m a<br />

coincidir totalm e nt e co m as do ouvido intern o. A vertig e m e o<br />

mal- estar pod e m pas s ar. Caso, e m um veleiro, se entre g u e o<br />

timã o nas mã o s <strong>da</strong> pes s o a que sofre de vertig en s, a<br />

hon e sti<strong>da</strong>d e volta a se esta b el e c e r imediata m e n t e : ele precis a<br />

con c e ntrar- se na água e os olho s perc e b e m seu en g a n o . Esta<br />

é tam b é m a razão pela qual na<strong>da</strong>r jam ais caus a enjô o. E o<br />

m otorista de um carro não é jam ais ele m e s m o afetad o , m a s<br />

se m pr e so m e n t e os pas s a g e ir o s. São so br etud o as crianç a s<br />

que tend e m a enjo ar. Ao contrário do m ot orista elas e m geral<br />

não ficam olhan d o para a rua, mant e n d o os olho s nas<br />

brinca d eira s que estã o fazend o no interior do carro. É<br />

justa m e nt e es s a situaç ã o que per mite o surgim e nt o do duplo<br />

sentido. As m e n s a g e n s dos órgã o s dos sentido s afetad o s são<br />

inco m p atív ei s. Com o m al- estar que sente m , as crianç a s<br />

natural m e nt e m o stra m tam b é m que não estã o exata m e n t e e m<br />

seu ele m e n t o no carro. Uma soluç ã o simpl e s seria m o v ê - las,<br />

fazend o co m que olhe m para diante m o strand o- lhes algu m a<br />

17<br />

9


cois a interes s a nt e. Um outro m ét o d o , utilizado e m todo s os<br />

cas o s corresp o n d e n t e s , con sist e e m deslig ar tem p or aria m e n t e<br />

as m e n s a g e n s en g a n o s a s simpl e s m e n t e fech a n d o os olho s.<br />

Então, os m o vi m e n t o s que estav a m provo c a n d o o<br />

des a gr a d á v e l enjô o torna m- se agrad á v ei s e faze m co m que a<br />

pes s o a ador m e ç a . Ela está nova m e n t e e m seu ele m e n t o , pois<br />

a vi<strong>da</strong> co m e ç o u exata m e n t e assi m na bols a m at ern a, razão<br />

pela qual muitos adultos gosta m de ser e m b al a d o s co m o<br />

crianç a s . O important e é fech ar os olho s, aba n d o n a r o controle<br />

e entreg ar- se a es s a situaç ã o prim ordial.<br />

O m e s m o princípio é valido para todo s os tipos de vertige m ,<br />

até mes m o para a muito mais freqü e nt e vertige m de circulaç ã o ,<br />

que surpre e n d e as pes s o a s co m pres s ã o baixa quan d o elas se<br />

levanta m rápido de m ai s. Sua vertige m está no "rápido de m ai s".<br />

Elas ag e m co m o se quis e s s e m colo c ar- se e m um nov o dia ou<br />

e m um a nova situaç ã o co m impuls o e en er gia. Quando isso<br />

não é sustenta d o tam b é m por um a postura interna, o corp o<br />

precis a rev elar es s e eng a n o , enc arn a n d o - o. Os afetad o s<br />

volta m a sentar- se e têm um a nova chanc e na velo cid a d e que<br />

lhes corresp o n d e , mais lenta ma s tam b é m mais hon e st a.<br />

Mal de Ménière<br />

Não se trata aqui tanto de um sinto m a circuns crito e sim de<br />

um co m pl ex o de sinto m a s centrad o e m torno de ataqu e s de<br />

vertige m co m vô mito s, suor e s e palidez. Som a m - se a isso<br />

per<strong>da</strong> de audiçã o e/ou zunido s nos ouvido s e, quanto ao s<br />

olho s, um fenô m e n o cha m a d o nysta g m u s . A orig e m <strong>da</strong> palavra<br />

é greg a e quer dizer trem or ou m o vi m e n t o s dos olho s. Ele<br />

surg e e m vários m al e s dos nervo s tais co m o a es cl er o s e<br />

múltipla (EM) e tam b é m , freqü e nt e m e n t e , e m do e n ç a s do<br />

ouvido interno. Entre elas dev e- se incluir tam b é m o Morbus<br />

Ménière, em b o r a muito provav el m e n t e trate- se de um probl e m a<br />

de pres s ã o no siste m a de conduto s do labirinto. O sinto m a<br />

surg e rep entina m e n t e , co m o um raio surgido do céu azul, e<br />

ating e o afetad o so b a form a de ataqu e s ; os intervalo s e m que<br />

1 8<br />

0


o afetad o não sent e nenhu m mal- estar pod e m ter as duraç õ e s<br />

mais varia<strong>da</strong> s.<br />

Tal co m o na EM, aqui a vertige m dev e ser levad a muito a<br />

sério. Por um lado, o corp o dá a enten d er ao afetad o que ele<br />

se enc o ntra so br e um solo os cilante. Às vez e s ele trans mite a<br />

sen s a ç ã o de que o chã o rep e ntina m e n t e lhe foi retirado de so b<br />

os pés. Por outro, ele não co m u ni c a m o vi m e nt o s que<br />

real m e nt e têm lugar no am bi e nt e. O chã o so br e o qual está<br />

bas e a d o tornou- se inse g ur o e ele ag or a tam b é m não pod e<br />

mais estar segur o de seu am bi e nt e. A indep e n d ê n ci a e a<br />

auton o m i a se vê e m per m a n e n t e m e n t e am e a ç a d a s , a firmez a é<br />

colo c a d a em que st ã o .<br />

Durante a bus c a terap ê utica do entorn o aní mic o- espiritual,<br />

des c o b r e - se freqü e nt e m e n t e que os pacient e s subira m a<br />

altura s vertigino s a s co m resp eito à ética, à m or al, à religião ou<br />

à am bi ç ã o . A extrava g â n ci a e o exag er o de suas preten s õ e s<br />

e m si m e s m a s imp ed e m que eles enc o ntr e m um solo vital para<br />

sustentar suas con c e p ç õ e s de alto vôo. Eles precis a m<br />

esforç ar- se per m a n e n t e m e n t e e termin a m por so br e s s air- se<br />

graç a s à férrea cap a ci<strong>da</strong>d e de pers e v e r ar, e m b o r a este jam<br />

se m pr e voltad o s para o rec o n h e c i m e n t o extern o. Quando este<br />

não ac o nt e c e , ch e g a- se às típicas situaç õ e s de<br />

des e n c a d e a m e n t o , que muitas vez e s têm a ver co m um a per<strong>da</strong><br />

de conteú d o vital. Quando se perd e es s e apoio, to<strong>da</strong> a<br />

inse g ur an ç a e o des a m p a r o torna m - se evident e s - se não na<br />

con s ci ê n ci a, entã o no chã o oscilante. Os pacient e s não estã o<br />

mais segur o s de sua vi<strong>da</strong>. Em tais situaç õ e s , e mais inse g ur o s<br />

ain<strong>da</strong> devido à sinto m átic a, não é raro que eles caia m e m um<br />

circulo vicios o. Com o m o vi m e nt o s extern o s des e n c a d e i a m<br />

suas oscilaç õ e s internas, eles se co m p o rta m de man eira quas e<br />

imóv el, afasta m - se de tudo e se isola m do mun d o . A<br />

dificul<strong>da</strong>d e auditiva que se so m a ao s outros sinto m a s reforç a<br />

ain<strong>da</strong> mais o isola m e n t o . Esta imag e m <strong>da</strong> imo bili<strong>da</strong>d e total e m<br />

um pequ e n o mun d o am e a ç a d o por tem p e s t a d e s de m o vi m e n t o<br />

extern o é um a reprodu ç ã o deprim e nt e m e n t e fiel <strong>da</strong> situaç ã o . A<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é tão estreita, tão pequ e n a , que eles não pod e m<br />

1 8<br />

1


mais apoiar- se so br e a terra co m am b a s as perna s. Mas eles<br />

não se apóia m co m segur an ç a co m uma <strong>da</strong>s perna s, a de seus<br />

ideais, pois eles se colo c a m tão acim a <strong>da</strong>s cois a s profan a s<br />

dest e mund o, tais co m o a sexuali<strong>da</strong>d e co m o expres s ã o <strong>da</strong><br />

polari<strong>da</strong>d e , que é impo s sí v el evitar a vertige m . O fato de que o<br />

corp o precis e en c e n ar o dra m a m o stra que os pacient e s não<br />

estã o con s ci e nt e s de sua situaç ã o .<br />

A caus a m é di c a para a dificul<strong>da</strong>d e auditiva, que surg e de<br />

golp e ou paulatina m e n t e , dev e ser procurad a igual m e nt e no<br />

ouvido intern o, nas ca m a d a s profun<strong>da</strong> s <strong>da</strong> audiçã o, portanto. O<br />

org anis m o explicita que os afetad o s não pod e m mais ne m<br />

es c utar ne m ob e d e c e r . Suspeita- se que aqu el e que não quer<br />

ouvir dev e sentir. Pois quan d o os ouvido s se fecha m , surg e m<br />

de fato m al- estar e s extre m a m e n t e des a g r a d á v ei s , tal co m o a<br />

náus e a , que m o stra m ao do e nt e que ele não quer eng olir algo<br />

que para ele é indige st o e do qual quer se livrar atrav é s do<br />

vô mito. O trem or dos olho s e o olhar inquieto que ac arreta são<br />

sinais evid e nt e s de perig o (de cair?). A soluç ã o está no<br />

sinto m a principal: o afetad o sent e vertigen s de algo refer ent e à<br />

bas e de sua vi<strong>da</strong>. Esta é os cilante e pouc o confiáv el, a<br />

qualqu er m o m e n t o o chã o am e a ç a ser retirado rep entina m e n t e<br />

de so b seus pés.<br />

A tarefa de aprendizad o expres s a nos sinto m a s é: entreg arse<br />

às oscilaç õ e s até o ponto e m que se torne claro que a vi<strong>da</strong><br />

con sist e de altos e baixo s e que é m elh or apoiar- se so br e duas<br />

perna s que so br e uma só. O sinto m a justa m e n t e força os<br />

afetad o s a busc ar para si um apoio mat erial, cas o contrário<br />

eles des a b a r ã o . Eles co m pr e e n d e r ã o que teria mais sentido<br />

provid e n ci ar sustento e so br etud o conteúd o para as próprias<br />

vi<strong>da</strong>s. A oscilaç ã o indica quanto para isso será nec e s s á ri o<br />

abdic ar do controle exa g er a d o . Em relaç ã o à dificul<strong>da</strong>d e<br />

auditiva, trata- se de não mais ouvir o exterior, não m ais<br />

ob e d e c e r às orden s extern a s, m a s es c utar para dentro, es cutar<br />

a própria voz interna, es cutand o - a tam b é m no que se refer e a<br />

um ca min h o próprio. O enjô o e o vô mito estã o prest e s a<br />

expuls ar tudo o que é estran h o , que não é útil e que não pod e<br />

1 8<br />

2


ser elab or a d o co m o cois a própria, se nec e s s á ri o até mes m o de<br />

man eira agr e s siva. Trata- se muito m ais de busc ar um a bas e<br />

para a própria vi<strong>da</strong> e rend er- se a ela. Os inquieto s m o vi m e nt o s<br />

dos olho s indica m que há pres s a e que não há temp o a perd er.<br />

A soluç ã o está indica<strong>da</strong> no fundo dos sinto m a s . Quando a<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é segur a, o delírio dos sentido s pod e abrir as<br />

as a s e es qu e c e r o temp o e o esp a ç o . Os altos e baixo s dos<br />

sentim e nt o s pod e m ser sentido s no delírio de am or, e quan d o<br />

nos atiram o s e m um a aventura vertigino s a, o equilíbrio corp oral<br />

per m a n e c e estáv el e confiáv el e a <strong>da</strong>n ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> transfor m a- se<br />

e m prazer.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde não pos s o mais confiar na bas e de minha vi<strong>da</strong>?<br />

Com o and o de conteú d o e de sustento vital?<br />

2. Por que não quer o ouvir o que minha voz interna quer<br />

dizer?<br />

3. O que não pos s o mais usar para m eu ca min h o de vi<strong>da</strong> e<br />

de que precis o m e desfaz er rapi<strong>da</strong> m e n t e ?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> minha orientaç ã o no temp o e no esp a ç o , no<br />

siste m a de co ord e n a d a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Em que pod eria apoiar- m e?<br />

5. Onde está aquilo que é firme e m minh a vi<strong>da</strong>, que é<br />

confiáv el? Há algo e m m e u mun d o os cilante que m e mant é m<br />

firme?<br />

6. Com o pos s o ab and o n ar- m e à <strong>da</strong>n ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é,<br />

incorp or ar- m e a ela?<br />

Nariz e olfato<br />

O nariz é o m ais pro e m i n e nt e de nos s o s órg ã o s dos<br />

sentido s e é con sid er a d o o m ais sinc er o. Em cas o de dúvi<strong>da</strong>,<br />

pod e- se ler a ver<strong>da</strong>d e na ponta do nariz. Devido à sua posiç ã o<br />

expo st a, ele tornou- se um âm bito significativo e prenh e de<br />

significad o s . Com o o ca minh o se m pr e segu e a direç ã o do<br />

nariz, um nariz torto pod e naturalm e nt e levar a um ca min h o<br />

1 8<br />

3


torto. Um nariz e m form a de gan c h o indica um caráter "delator",<br />

outro co m uma curva eleg a nt e repres e nt a a eleg â n ci a<br />

corre s p o n d e n t e , um nariz aristocrátic o repres e nt a o arrojo, um<br />

nariz gros s eir o e se m form a repre s e nt a a gros s e ria. O nariz<br />

es c o rr e n d o den ota desl eixo e a tristeza que o ac o m p a n h a , o<br />

nariz desfigurad o por verrug a s lem br a a bruxa e o perig o que<br />

repre s e nt a en qu a nt o o nariz arrebitad o indica o indiscr et o<br />

caráter infantil que, curios o e esp erto, go sta de estar um pas s o<br />

adiante de seu entorn o. Este "nariz asc e n d e n t e" faz parte do<br />

es qu e m a de criancinh a que está profun<strong>da</strong> m e n t e gravad o e m<br />

nós e que deter min a m ais nos s o co m p o rta m e n t o do que pod e<br />

parec er correto ao intelecto racion al. A voz popular pres s up õ e<br />

que um nariz long o e pontudo se m et er á indiscr eta m e n t e por<br />

to<strong>da</strong> parte, en qu a nt o o bulb o redond o e lumino s a m e n t e<br />

ver m el h o do palhaç o é um sím b ol o de seu des c ar a m e n t o .<br />

Enquanto o mund o inteiro tenta m a q ui ar o nariz para torná- lo<br />

discr eto, tirando seu brilho co m pó ou bas e para tornar mais<br />

dec e nt e e inofen siva a nitidez de seu contorn o, os palhaç o s e<br />

os bo b o s o desta c a m esp e ci al m e n t e, assi m co m o go sta m de<br />

trazer à luz as cois a s mais susp eitas e fazer graç a a resp eito.<br />

O que esta e m jogo aqui é esp e ci al m e n t e a refer ê n ci a sexual<br />

do nariz, que popular m e nt e é co m p ar a d o ao órg ã o sexual<br />

ma s c ulino. A sab e d o ria popular volta a de m o n s tr ar muita<br />

agud e z a, pois de fato há nas muc o s a s <strong>da</strong>s narinas zona s<br />

reflexas para os órg ã o s sexuais. Assim, cad a foss a nas al<br />

torna- se um a esp é ci e de zona de manipulaç ã o dos reflexo s<br />

des s a delicad a área. Essa é tam b é m a razão pela qual m et er o<br />

ded o no nariz é con sid er a d o inde c e nt e e é um costu m e tão<br />

difícil de imp edir. Isso evid e nt e m e n t e trans mite grand e des ej o<br />

àqu el e s que o faze m . Som e nt e quan d o o des ej o sexual se<br />

deslo c a para a áre a genital, ao long o do des e n v o lvi m e nt o , é<br />

que a co m p uls ã o para es c a v ar o nariz ced e .<br />

Em noss a es c al a de valor e s, o olfato e tam b é m o palad ar<br />

estã o ain<strong>da</strong> mais e m segun d o plano que a audiç ã o .<br />

Comp ar a d o co m o cér e br o, bastant e mais jove m , o rinenc éf al o<br />

é antiqüís si m o .Junta m e n t e co m o nariz, ele perten cia<br />

1 8<br />

4


original m e nt e a um órgã o dos sentido s relativa m e n t e<br />

autó cto n e . O nariz farejante era algo ain<strong>da</strong> totalm e nt e anim al,<br />

algo para o qual, hoje, torc e m o s o nariz. Nós orgulho s a m e n t e<br />

nos ergu e m o s do chã o, pas s a m o s a ter o nariz e m pin a d o e<br />

perd e m o s e m grand e parte nos s o bo m olfato, co m o que as<br />

narinas continua m apo ntand o para baixo, para o reino <strong>da</strong>s<br />

mã e s e do mun d o material. Som e nt e quan d o esfre g a m o s<br />

cois a s no nariz ou as tem o s deb aixo do nariz é que pod e m o s<br />

perc e b ê - las co m certez a. Enquanto o olho está con struído<br />

co m o um a câ m ar a e o ouvido co m o um instrum e nt o music al, o<br />

olfato está bas e a d o e m algo mais simples, no princípio de<br />

chav e e fech a d ur a do contato físico diferen ciad o . A muc o s a<br />

olfativa, localizad a no pavilhã o nas al sup erior, está form a d a por<br />

cinc o milhõ e s de células olfativas provi<strong>da</strong> s de cílios sen sív ei s<br />

que são estimulad a s atrav é s do contato. Elas funcion a m co m o<br />

fecha dur a, a m at éria olfativa co m o chav e. Para pod er perc e b e r<br />

o aro m a de uma rosa, algu m a s m ol é c ula s- chav e do “perfum e<br />

de rosa" precis a m en c o ntrar sua fecha dur a no nariz. Lá, entã o,<br />

elas nos rev ela m o aro m a . Uma grand e parte <strong>da</strong> perc e p ç ã o de<br />

sab or e s tam b é m se gu e es s e ca minh o , já que nós tam b é m<br />

perc e b e m o s o aro m a <strong>da</strong>s co mid a s por m ei o <strong>da</strong> muc o s a<br />

olfativa. A coriza nos dá uma co m pr o v a ç ã o prática, quan d o<br />

tudo se torna igual e não tem gosto de na<strong>da</strong>.<br />

Enquanto a visã o oc orr e por m ei o de on<strong>da</strong> s<br />

eletro m a g n é ti c a s , a audiçã o requ er as on<strong>da</strong> s son or a s<br />

mat eriais; já o olfato exig e o contato físico direto entre o<br />

e mis s o r e o rec e pt or. Se co m p ar ar m o s a visão e a audiçã o<br />

co m diferent e s idio m a s alfab étic o s , o olfato e o pala<strong>da</strong>r<br />

corre s p o n d e ri a m à s linguag e n s de figuras, mais antiga s, que<br />

utilizam um sím b ol o próprio para cad a con c eito. O olfato é<br />

portanto um a form a de perc e p ç ã o ain<strong>da</strong> m ais direta é primitiva,<br />

que pen etra mais profun<strong>da</strong> m e n t e não só no âm bito físico ma s<br />

tam b é m no aní mic o. A cap a cid a d e de ch eirar corre s p o n d e ao<br />

grau de intensi<strong>da</strong>d e de nos s a vivên cia aní mic a. Através dos<br />

olho s se dá o prim eiro contato, aprend e m o s a nos con h e c e r<br />

por m ei o do so m <strong>da</strong> voz, atrav é s do ch eiro os corp o s se toca m<br />

1 8<br />

5


pela prim eira vez. Em um grupo estran h o os m e m b r o s se<br />

ch eira m co m cui<strong>da</strong>d o a princípio, até que tenha m confian ç a<br />

uns nos outros, tal co m o noss o s antep a s s a d o s faziam há<br />

milhõ e s de ano s. Quando não quer e m o s mais ver algué m ,<br />

trata- se de um distancia m e n t o relativa m e n t e sup erficial, ma s a<br />

avers ã o é profun<strong>da</strong> quan d o não pod e m o s mais ch eirá- lo. Nas<br />

prim eiras fas e s de nos s a história o olfato atingia o âm bito<br />

intuitivo; ain<strong>da</strong> hoje muitas pes s o a s sente m o cheiro do perigo.<br />

Elas tem faro para situaç õ e s co m plic a d a s . Ness e sentido,<br />

perd e m o s muito de noss o , olfato e m co m p ar a ç ã o co m os<br />

anim ais. Os anim ais sent e m não só o cheiro do perig o, ma s<br />

tam b é m o <strong>da</strong> co mi d a e o do co m p a n h e ir o. Os cha m a d o s<br />

primitivos an<strong>da</strong> hoje são cap az e s de sentir o cheiro <strong>da</strong> água no<br />

des erto. Nós m o d er n o s , no máxi m o sentim o s o mau ch eiro e m<br />

sentido figurad o. Apesar diss o, o nariz ain<strong>da</strong> des e m p e n h a um<br />

pap el muito mais importante do que muitas vez e s ad mitim o s na<br />

busc a de co m p a n h e ir o e de alim e nt o. É coisa sabi<strong>da</strong> que o<br />

gour m e t nec e s s ita principal m e nt e de um nariz sutil. Já a<br />

en or m e abran g ê n c i a <strong>da</strong> indústria de perfum e s pod e es clar e c e r<br />

co m o o ch eiro do co m p a n h eir o é importante. Ela trabalha<br />

quas e que exclusiva m e n t e co m aro m a s de flores e<br />

esp e ci al m e n t e de botõ e s , porqu e este s nos leva m m ais<br />

segur a m e n t e para alé m do intelecto, até os âm bito s arcaic o s<br />

do incon s ci e nt e. Emerg e m sen s a ç õ e s primav eris e imag e n s do<br />

paraís o arm az e n a d a s no nível de padrõ e s ; não por aca s o , o<br />

paraís o é repres e nt a d o co m o um jardim em muitas culturas.<br />

Nós gosta m o s de acr editar que o sexo opo st o exala es s e s<br />

aro m a s . Só muito rara m e n t e ain<strong>da</strong> ach a m o s o olor corp oral<br />

típico <strong>da</strong>s pes s o a s atraent e. Ele é hon e st o de m ai s para nós. É<br />

aqui que os perfumistas intervê m e m nos s o auxilio, quan d o o<br />

ch eiro natural deg e n e r a- se e m odor des a g r a d á v el ou até<br />

m e s m o e m fedor. Não pod e m o s m ais cheirar- nos, e assi m<br />

torna- se forços o o des e n v o l vi m e n t o e m direç ã o a mat eriais<br />

aro m átic o s cad a vez m ais artificiais. No entrete m p o , eles não<br />

são m ais utilizado s so m e n t e pelas mulh er e s , que geral m e n t e<br />

têm narizes mais eficiente s, m a s tam b é m pelo s ho m e n s . Ca<strong>da</strong><br />

1 8<br />

6


um tem seu perfum e e o con sid er a sua marc a pes s o al. Apesar<br />

diss o, é óbvio que se trata m de artigo s fabricad o s e m ma s s a<br />

que, co m no m e s son or o s e preç o s altos, tenta m unica m e n t e<br />

ven d er- nos individuali<strong>da</strong>d e e exclusivi<strong>da</strong>d e. Para que não<br />

note m o s quã o pouc o originais nós m e s m o s so m o s , eles nos<br />

são apre s e nt a d o s propa g a n di stica m e n t e por pes s o a s muito<br />

esp e ci ais. Com o que, um delicios o perfum e pod e naturalm e nt e<br />

valorizar ain<strong>da</strong> mais um a pes s o a , pois se não serv e para<br />

en c o b rir a própria transpiraç ã o , serv e para fortalec er o aro m a<br />

próprio.<br />

Te m o s nos s a s próprias glândulas odorífera s na áre a co b erta<br />

por pêlo s <strong>da</strong>s axilas e do púbis. Há várias razõ e s para que já<br />

não de m o s m ais valor a esta marca de perfum e , que marc a<br />

noss o próprio cheiro. Boa parte dev e- se provav el m e n t e ao fato<br />

de que nós real m e nt e deixa m o s de ter um cheiro agrad á v el.<br />

Costum a- se dizer na Índia que um corp o está puro e inoc e nt e<br />

quan d o tem o aro m a <strong>da</strong> fruta rec é m - colhi<strong>da</strong>. O agradáv el<br />

aro m a dos be b ê s lem br a ain<strong>da</strong> es s e estad o quas e paradisíac o .<br />

No que a isso se refer e, perd e m o s nos s a inoc ê n ci a<br />

paradisíac a, ain<strong>da</strong> que evite m o s co m e r alho. Os indian o s<br />

des cr e vi a m os prim eiro s cab el o s branc o s co m o as fac e s<br />

páli<strong>da</strong>s que fede m na bo c a. Noss o tipo de vi<strong>da</strong> e so br etud o<br />

noss a alim e nta ç ã o exer c er a m m á influên cia so br e noss a<br />

transpiraç ã o . Nós, e m con s e q ü ê n c i a, reagi m o s e m noss a<br />

própria man eira de funcion ar. Encobri m o s aquilo que fede e m<br />

nós co m os mais variad o s spra y s líquido s. A purificaç ã o a partir<br />

de dentro e do fundo é ain<strong>da</strong> m ais extenu a nt e. Quem a arrisca,<br />

talvez so b a form a de um a cura atrav é s do jejum 44 ,<br />

exp eri m e nt ar á o sortim e nt o de detritos co m os resp e ctivo s<br />

olore s que são extraíd o s <strong>da</strong>s profund ez a s de seu corp o.<br />

Por outro lado, e m noss o am bi e nt e industrial so m o s<br />

confrontad o s co m um a tal torrente de olor e s fortes e não<br />

naturais que a sen si bili<strong>da</strong>d e e a cap a cid a d e de diferen ci a ç ã o<br />

se viram con sid er a v el m e n t e reduzi<strong>da</strong> s. Finalm e nt e, nos s a<br />

individuali<strong>da</strong>d e não tem m ais um go sto esp e ci al porqu e nós, de<br />

fato, nos torna m o s ser e s hum a n o s m a s sificad o s . Em vez de<br />

1 8<br />

7


usar a nota perfum a d a individual, nos ate m o s a alguns<br />

m o d el o s pro e mi n e nt e s e assu mi m o s sua m ar c a de perfum e .<br />

Entretanto, não con s e g uir e m o s de todo uniformizar- nos<br />

odorifera m e n t e , o co m p o n e n t e próprio é tão forte que até<br />

m e s m o os perfum e s industriais têm um aro m a diferent e e m<br />

cad a pele.<br />

As borb ol et a s en c o ntra m seus parc eiro s exclusiva m e n t e<br />

atrav é s de partículas odorífera s, e e m noss a bus c a de<br />

co m p a n h eir o o aro m a des e m p e n h a um pap el relev a nt e. As<br />

pes q uis a s de m o n s tr a m que os aro m a s atua m de man eira m ais<br />

erótica que as impre s s õ e s óticas. A atraç ã o irresistível dos<br />

apaixon a d o s , o contá gi o do am or pod e enc o ntrar aqui um a<br />

explicaç ã o adicion al. Irradiaç ã o é tam b é m , sub stan ci al m e n t e ,<br />

exalaç ã o . Podería m o s obter muito m ais do olfato se o<br />

levás s e m o s a sério e não tratás s e m o s so m e n t e de co m b a t ê- lo<br />

e subjug á- lo. Quando cheira m o s mal, esta m o s m al e fed e m o s<br />

diferent e. Quando não suporta m o s sentir o ch eiro de algu é m ,<br />

es s a pes s o a não é bo a para nós. Caso nos s o suor ch eire mal,<br />

noss o corp o está se livrand o de algo que não pod e assi milar,<br />

ele se desintoxic a atrav é s <strong>da</strong> pele. Os m é dic o s antigo s <strong>da</strong>va m<br />

grand e valor a seu órgã o olfativo no esta b el e ci m e n t o de<br />

diagn ó stic o s . Eles não cheirav a m ap en a s secr e ç õ e s isolad a s ,<br />

fazend o- o intens a m e n t e co m to<strong>da</strong> a pes s o a . Dess a m an eir a, o<br />

nariz lhes podia indicar a pista correta e, muitas vez e s , o<br />

ca min h o correto.<br />

O fato de que nós, hoje, confie m o s principal m e nt e no<br />

sentido <strong>da</strong> visã o, ligado às sup erfícies, m o stra o quanto nos<br />

torna m o s sup erficiais. O olfato tam b é m oc orr e exclusiva m e n t e<br />

e m nós, m a s ele pre e n c h e m elh or a exig ê n ci a de perc e p ç ã o<br />

real. O m ét o d o chav e- fecha dur a é m ais primitivo e m e n o s<br />

sujeito a erro s que o co m plic a d o siste m a eletro m a g n é ti c o<br />

visual. Por es s a razão, "con h e c e r algu é m pelo cheiro” diz muito<br />

mais, e m última instância, que ach ar algu é m bonito. É um a<br />

atraç ã o exer ci<strong>da</strong> e m um nível m ais profund o. Neste cas o algo<br />

se ajusta entre duas pes s o a s co m o a chav e e a fecha dur a.<br />

1 8<br />

8


Visto a partir de fora, o aba n d o n o de nos s a cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

olfativa pod e parec er não ser nenhu m probl e m a , hoje e m dia<br />

pod e m o s pres cindir dela perfeita m e n t e . Há algun s milhar e s de<br />

ano s, entretanto, ela era crucial para a so br e viv ê n ci a de<br />

noss o s antep a s s a d o s . Por outro lado, o pod er incon s ci e nt e que<br />

o nariz continua exerc e n d o so br e nós e noss a s decis õ e s<br />

m o stra co m o esta m o s profun<strong>da</strong> m e n t e enraizad o s e m nos s o<br />

pas s a d o . O sinto m a <strong>da</strong> hiperosmia , um a perc e p ç ã o olfativa<br />

exa c er b a d a , que pod e apar e c e r co m o aura na epilep sia, e m<br />

histéric o s e durante a gravid ez, m o stra um retorn o a ép o c a s<br />

arcaic a s , quan d o um olfato sutil ain<strong>da</strong> tinha algo a dizer.<br />

Caso nós, m o d er n o s , voltás s e m o s a viver de ac ord o co m<br />

noss o nariz e a valorizar o olfato, algu m a s cois a s seria m m ais<br />

simpl e s e mais fáceis. Criaríam o s para nós mes m o s um mund o<br />

diferent e do nos s o “mund o óptico". A alien a ç ã o do nariz reflete<br />

um mun d o e m que vasta s área s ch eira m mal, e que portanto<br />

ch eira mal para nós. Ter faro para algo significa ter um a<br />

sen s a ç ã o se g ura e m relaç ã o a esta situaç ã o ; seria des ej á v el,<br />

para nós e para noss o mund o, que reapr en d ê s s e m o s a confiar<br />

mais no nariz.<br />

Nós, entã o, certa m e n t e con stataría m o s tam b é m que o ar<br />

que inspira m o s con stant e m e n t e não é so m e n t e um insulto ao<br />

noss o órg ã o olfativo, m a s tam b é m ao noss o siste m a<br />

respiratório, pois afinal o nariz não deixa de ser o co m e ç o <strong>da</strong>s<br />

vias respiratórias. Em relaç ã o a isso, sua funçã o é a de<br />

prim eira esta ç ã o purificad or a do ar, já que apan h a as grand e s<br />

partículas de sujeira e m sua red e de pequ e n o s pêlo s. Além<br />

diss o, ele pré- aqu e c e o ar antes que atingir as vias<br />

respiratórias mais profun<strong>da</strong> s, para o que dispõ e de um long o<br />

siste m a de tubulaç õ e s .<br />

Inflamação dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite<br />

Não é por ac a s o , ne m desd e o princípio, que noss a cab e ç a<br />

fica be m no alto. Na m arc h a primitiva, so br e quatro patas, ela<br />

estav a à mes m a altura do peito e <strong>da</strong>s costa s. Ao m e s m o tem p o<br />

1 8<br />

9


e m que a sua asc e n s ã o con c e d e u ao s olho s um ca m p o de<br />

visão mais ampl o, ela afastou o nariz <strong>da</strong> Mãe Terra, colo c a n d o -<br />

o e m um a situaç ã o difícil. Criou- se a pos sibili<strong>da</strong>d e de um<br />

estan c a m e n t o crônic o e m suas profund ez a s e, co m isso, a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e para a inflam a ç ã o dos seios <strong>da</strong> face ou sinusite.<br />

Por naturez a, as saí<strong>da</strong>s des s a s cavi<strong>da</strong>d e s estã o dispo stas<br />

de m an eira a que a secr e ç ã o pos s a fluir se m pr e para baixo,<br />

co m a con diç ã o de que a pes s o a ca min h e so br e quatro patas.<br />

Eretos, as saí<strong>da</strong>s pas s a m ocup ar a posiç ã o mais alta e as<br />

secr e ç õ e s não pod e m mais ser exp eli<strong>da</strong> s se g uind o a gravi<strong>da</strong> d e<br />

natural. Eventual m e nt e, precis a m o s entã o apren d er a fungar<br />

mais, para expulsar as secr e ç õ e s elev a n d o a pres s ã o . Quando<br />

isso não ac o nt e c e na hora certa e suficiente m e n t e , a<br />

con s e q ü ê n c i a é uma sinusite.<br />

A situaç ã o aní mic a de fundo, não ad miti<strong>da</strong>, que es s e dra m a<br />

corp or al tom a nec e s s á ria, resulta de nos s a lingua g e m<br />

psico s s o m á ti c a. É precis o estar chei o até o nariz e não<br />

en c o ntrar nen hu m a m an eira de expres s ar es s a situaç ã o<br />

des a gr a d á v e l para que o nariz entre e m açã o. Caso, alé m<br />

diss o, surja a angú stia diante do conflito que se instaura e não<br />

se realize a elab or a ç ã o do tem a e m que st ã o , este m er gulha no<br />

corp o. As cavi<strong>da</strong> d e s nas ais e seus seio s faciais se en c h e m e<br />

en c arn a m o estan c a m e n t o co m o qual os afetad o s sofre m . O<br />

conflito inerent e à situaç ã o reprimi<strong>da</strong> torna- se explícito na<br />

inflam a ç ã o . Muitos pacient e s ac o stu m a m - se, esp e ci al m e n t e<br />

co m a form a latente. O sinto m a m o stra que s e e stá cheio até o<br />

nariz e seu seio facial, e que se m pr e se está ao m e n o s um<br />

pouc o con stipad o . Enquanto eles m e s m o s muitas vez e s<br />

ignor e m o mal, quan d o falam ouv e- se a voz anas al a d a dizer<br />

que não respira m ar suficiente.<br />

As amplas cavi<strong>da</strong>d e s na áre a do crânio são nec e s s á ri a s<br />

para <strong>da</strong>r à cab e ç a sua form a se m e m pr e g a r de m a si a d o<br />

mat erial ós s e o . Elas, con s e q ü e n t e m e n t e , ec o n o m i z a m pes o e<br />

serv e m alé m diss o co m o câ m ar a s de ress o n â n ci a e<br />

timbrística s. Em um nível mais elev a d o , elas corresp o n d e m às<br />

cavi<strong>da</strong>d e s do intestino* e repres e nt a m as câ m ar a s de<br />

19<br />

0


con s ci ê n ci a do mund o inferior, tal co m o a es c uridã o e o<br />

incon s ci e nt e. Exerc en d o funçã o se m e l h a nt e à <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong> d e s<br />

inferiores do intestino gros s o , é difícil co m pr e e n d e r para que<br />

serv e m os seio s faciais sup erior e s. O incon s ci e nt e es c a p a à<br />

co m pr e e n s ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a. Eles corre s p o n d e m ao inferno no<br />

nível sup erior, assi m co m o o terc eiro olho no alto <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong> d e<br />

frontal está próxim o do céu. No estad o bloqu e a d o pela sinusite,<br />

perd e- se a levez a no âm bito <strong>da</strong> cab e ç a e a fala adquire um<br />

caráter nas al que lem br a o franc ê s . A perturb a ç ã o aní mic a<br />

torna- se explícita na m e did a e m que falta res s o n â n ci a à fala.<br />

Quem tem o nariz ch ei o e não vibra mais e m con s o n â n ci a,<br />

perd e um co m p o n e n t e sub stan ci al do intercâ m b i o interp e s s o al.<br />

Os resp e ctivo s seio faciais diferen cia m a imag e m ain<strong>da</strong><br />

mais. Uma inflam a ç ã o crônic a <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong> d e s frontais dá a<br />

imag e m de um a pes s o a tapad a, ac e ntuan d o a ob struç ã o do<br />

pen s a m e n t o . O dolor o s o bloqu ei o <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong>d e s m axilares<br />

m o stra co m o é dolor o s o para o afetad o m ord er<br />

agre s siv a m e n t e . Em todo s os cas o s , a cap a ci<strong>da</strong>d e olfativa é<br />

limita<strong>da</strong>. Possivel m e n t e, cheirav a tão m al para o afetad o que<br />

ele anulou to<strong>da</strong> perc e p ç ã o olfativa Com isso, ele tem<br />

natural m e nt e de agü e nt ar a per<strong>da</strong> do "bo m faro" tam b é m e m<br />

outros ca m p o s . Quem está tão central m e nt e bloqu e a d o<br />

bloqu ei a tam b é m sua intuiçã o e sua cap a cid a d e de<br />

co m pr e e n s ã o . Muitas culturas localiza m na áre a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>d e<br />

frontal o Terc eiro Olho ou sexto chakra, Ajna, que está ligad o à<br />

intelig ên ci a, e m um sentido profund o.<br />

A tarefa de aprendizad o con siste e m tornar- se con s ci e nt e do<br />

bloqu ei o. Maxilares dolorido s indica m a dolor o s a agr e s s ã o ao<br />

corp o e m um duplo sentido: o m axilar sim b oliza a cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

de m ord er, e a dor fala a língua cortante e ferina de Marte. O<br />

próprio sinto m a já sug er e as m e di<strong>da</strong>s a ser e m tom a d a s , pois<br />

força a pes s o a a fungar co m freqü ê n ci a para que pos s a obter<br />

alívio por um m o m e n t o . Trata- se na ver<strong>da</strong>d e de bufar de raiva<br />

para voltar a ter a con s ci ê n ci a livre, apó s os corresp o n d e n t e s<br />

golp e s libertad or e s . Estand o tapad o, é m elh or deter- se e<br />

reorientar- se. A tarefa é des c e r nova m e n t e ao inferno e<br />

19<br />

1


des c o b rir o que ain<strong>da</strong> está pres o no incon s ci e nt e, para entã o<br />

e m e r gir nova m e n t e à luz do con h e ci m e n t o . O ânim o tem diante<br />

de si, ou seja, é pres si o n a d o a um a luta pela con s ci ê n ci a de si<br />

m e s m o . Exige- se tanto cora g e m para o con front o co m o<br />

persistên ci a em uma tal situaç ã o crônic a.<br />

Terapias eficaz e s colo c a m os co m p o n e n t e s<br />

corre s p o n d e n t e s e m jogo, ao m e n o s sim b olic a m e n t e . A luz e o<br />

Sol des e m p e n h a m um pap el sub stan ci al na luta pelo<br />

con h e ci m e n t o . A ca m o m il a, cujos vapor e s dão alívio, traz e m si<br />

a marc a do Sol. Um jejum prolon g a d o , finalm e nt e, é a m elh or<br />

terapia para as cavi<strong>da</strong> d e s do org anis m o entupi<strong>da</strong> s<br />

cronic a m e n t e . Por m ei o de seu efeito purificad or, ele ilumina a<br />

es c uridã o do incon s ci e nt e e per mite que as m a s s a s<br />

bloqu e a d a s fluam con cr et a m e n t e e e m sentido figurad o.<br />

Obs erva d o mais atenta m e n t e , o que pod e pare c e r um<br />

pequ e n o probl e m a periférico na história de nos s o<br />

des e n v olvi m e nt o eviden ci a- se co m o sinto m a típico. O resfriad o<br />

agud o, que tam b é m faz co m que o nariz se enc h a, é o sinto m a<br />

mais difundido mundial m e n t e e, por esta razã o, o mais<br />

importante que tem o s diante de nós. Não é por ac a s o que ele<br />

esteja relacio n a d o co m o nariz. Esse órgã o ven er a n d o foi<br />

neglig e n ci a d o pelo des e n v o l vi m e n t o vertiginos o e, por es s a<br />

razã o, nos mo stra o seu e tam b é m o noss o estad o do e nt e mais<br />

freqü e nt e: con stipad o , ou seja, insultad o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Há e m minha vi<strong>da</strong> um conflito que incha de man eira<br />

crônic a?<br />

2. Há um falso co m pr o m i s s o , que eu talvez cumpr a<br />

extern a m e n t e , mas que não mant e n h o interna m e n t e ?<br />

3. Em que âm bito s tend o a ter reaç õ e s ofendi<strong>da</strong> s?<br />

4. De que cois a s e m minha vi<strong>da</strong> eu não pos s o ne m quer o<br />

mais sentir o cheiro?<br />

5. Consig o ar suficiente, tenh o esp a ç o suficiente?<br />

19<br />

2


6. Tenh o intercâ m b i o suficiente co m m eu am bi e nt e?<br />

Encontro ress o n â n ci a suficiente nas pes s o a s co m que m<br />

convivo?<br />

7. Onde eu m e bloqu ei o, bloqu ei o minha intuição, m e u<br />

sexto sentido?<br />

8. Onde eu dev eria m ord er, ond e con s e g uir m ais ar para<br />

mi m?<br />

Pólipos<br />

Os pólipos, que é tam b é m um a gíria e m ale m ã o para<br />

desig n ar a polícia, faze m parte do siste m a linfático de defe s a.<br />

Eles são cha m a d o s tam b é m de amíd al a s, e estã o localizad o s<br />

na cavi<strong>da</strong> d e co m u m ao nariz e à garg a nta. Quando se está<br />

env olvido e m um a luta de defe s a que não se torna<br />

animic a m e n t e con s ci e nt e, os órgã o s linfático s entra m e m aç ã o<br />

e, de m an eira sub stitutiva, parte m para a guerra. Nos tecido s<br />

trava- se a batalha entre os ag e nt e s agr e s s o r e s e as células de<br />

defe s a, às quais os linfócitos tam b é m perten c e m . Estes, por<br />

sua vez, são um sub grup o <strong>da</strong>s células bran c a s do san gu e, a<br />

mais importante tropa policial do corpo.<br />

Os pólipo s, junta m e nt e co m a ca m p ain h a palatina, estã o<br />

entre os lugare s m ais co m b a tid o s no âm bito <strong>da</strong> defe s a do<br />

org anis m o , inchand o de m an eir a corresp o n d e n t e quan d o a<br />

batalha se des e n c a d e i a. Quando o resultad o do conflito agud o<br />

é uma "dor de garg a nta" prolon g a d a , a inflam a ç ã o se torna<br />

crônic a e co m o todo falso co m pr o m i s s o , con s o m e muita<br />

en er gi a. Nesta situaç ã o , ve m o s niti<strong>da</strong> m e n t e co m o as crianç a s<br />

são frág eis e bloqu e a d a s . O nariz entupido leva à respiraç ã o<br />

crônic a pela bo c a. A bo c a per m a n e n t e m e n t e ab erta e as<br />

pálpe br a s leve m e n t e caí<strong>da</strong> s de es g ota m e n t o reflete m um a<br />

situaç ã o de falta de en er gi a e dão muitas vez e s à crianç a um a<br />

expr e s s ã o facial atontad a, sinal do bloqu ei o e m divers o s níveis.<br />

O tem a em que st ã o tem a ver co m a cap a cid a d e de defe s a e<br />

a dispo siç ã o para a luta e co m a co m u nic a ç ã o con duzi<strong>da</strong> por<br />

um can al equivo c a d o , já que o ar é inspirad o por um ca minh o<br />

19<br />

3


imprevisto e pouc o apropriad o, a bo c a. Trata- se de levar es s a<br />

tem átic a para a con s ci ê n ci a e aliviar o corp o. Com o, ao falar de<br />

amí<strong>da</strong>l a s, esta m o s faland o e m grand e parte de probl e m a s<br />

infantis, exig e- se que os pais forne ç a m um a bas e cap az de<br />

suportar tam b é m os conflitos. Enquanto o des e nt e n di m e n t o<br />

circula pelas amíd ala s ao eng olir, o tem a gira ao redor de estar<br />

farto e ser exigido e m de m a si a. A crianç a ag e co m ob stina ç ã o .<br />

Em relaç ã o à co m u ni c a ç ã o que tom o u um ca minh o<br />

equivo c a d o , dev e- se pen s ar em desvi o s e em "cortar ca minh o",<br />

quan d o isso for vantajo s o , e tam b é m e m pretexto s.<br />

Muitas vez e s, nesta situaç ã o , a agr e s s ã o e m que st ã o é<br />

dele g a d a ao cirurgião que, co m o bisturi, con duz a luta de<br />

man eira san gr e nta e simpl e s m e n t e extirpa o ca m p o de batalha.<br />

Os resultad o s são variad o s . Uma parte <strong>da</strong>s crianç a s con s e g u e ,<br />

dep ois <strong>da</strong> op er a ç ã o , levar o des e nt e n di m e n t o de volta para a<br />

con s ci ê n ci a, já que não há mais lugar para ele no lugar<br />

costu m eir o do corpo. De man eira corresp o n d e n t e , elas<br />

co m e ç a m a ir m elh or e não é raro que os pais expliqu e m que<br />

por m ei o <strong>da</strong> op er a ç ã o a crianç a deu um salto e m seu<br />

des e n v olvi m e nt o . Outra parte <strong>da</strong>s crianç a s não con s e g u e <strong>da</strong>r<br />

es s e pas s o , e a luta de defe s a continua sen d o corp or al. Ela<br />

entã o muitas vez e s desl o c a- se para um outro âm bito <strong>da</strong>s<br />

defe s a s próprias do org anis m o para ai continuar a inchar,<br />

en qu a nt o a crianç a continua ado e c e n d o e sinaliza a seu<br />

entorn o que não pod e des e n v olv er- se correta m e n t e . A<br />

agre s s ã o é um tem a tão grav e que não se pod e tratá- la de<br />

man eira abr eviad a. É típico que durante a infância as<br />

inflam a ç õ e s oc orra m esp e ci al m e n t e nos órgã o s de defe s a do<br />

siste m a linfático, os vários gân glio s e o apên dic e . A batalha de<br />

defe s a que a crian ça não con s e g u e travar con s ci e nt e m e n t e<br />

tom a form a no corp o. Com seu nariz bloqu e a d o e a bo c a<br />

etern a m e n t e ab erta, ela é uma imag e m <strong>da</strong> ob stinaç ã o ,<br />

bloqu e a n d o as vias de co m u ni c a ç ã o co m as amí<strong>da</strong>l a s inchad a s<br />

e tentand o per m a n e c e r mud a. E sua m an eir a des aj eitad a de<br />

defend er- se de abus o s e exig ê n ci a s exag er a d a s .<br />

19<br />

4


Reconh e c e m o s noss a postura e m relaç ã o ao tem a <strong>da</strong><br />

agre s s ã o pelo fato de que quas e nenhu m de nos s o s joven s<br />

alcan ç a m a adol e s c ê n c i a co m todo s os seus órgã o s linfático s<br />

de defe s a. Muitas vez e s , os três m ais important e s têm de ser<br />

retirado s, tal co m o preferi m o s dizer co m candur a. Não há<br />

nen hu m pais nest e mun d o , alé m dos Estado s Unidos, ond e<br />

tantos "apên dic e s " são op er a d o s co m o entre nós [ou seja, na<br />

Alemanha]. Poder- se- ia presu mir que nós os caç a m o s . Isso,<br />

entretanto, volta a eviden ci ar o quanto so m o s n a reali<strong>da</strong>d e<br />

agre s siv o s .<br />

P er g u nta s para pais e filhos<br />

1. Há um conflito que arde continua e incon s ci e nt e m e n t e ?<br />

2. Em que disputa estou imo bilizad o, ond e não pos s o m ais<br />

progr e dir e que so m e n t e con s o m e minha en er gi a?<br />

3. Há na família plano s de confianç a cap az e s de suportar<br />

conflitos, ond e se pod e lutar?<br />

4. Em que âm bito s che g a- se à exig ê n ci a exc e s siv a e à<br />

con s e q ü e n t e resign a ç ã o ?<br />

5. Que estruturas imp ed e m o des e n v olvi m e nt o na família?<br />

Desvio de septo nasal<br />

Este sinto m a está bas e a d o e m um a form a ç ã o nas al<br />

assi m étric a. Assim co m o a coluna verte br al, o septo nas al pod e<br />

inclinar- se para um lado, que nes s e cas o é mais ou m e n o s<br />

estreitad o. O significad o des s e sinto m a torna- se<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e claro quan d o dirigim o s noss o olhar para o<br />

Oriente. No siste m a <strong>da</strong> yog a indian a o prana, a en er gi a vital<br />

que fluí co m o ar, des e m p e n h a um pap el central. No<br />

pranaya m a , um exercí cio respiratório esp e ci al dá- se grand e<br />

importân cia a que o fluxo respiratório seja distribuído<br />

igual m e nt e entre as duas narinas. Uma pes s o a que so m e n t e<br />

rec e b e ar por um dos lado s tem de fato um interc â m b i o parcial<br />

e deficiente co m o mun d o . Neste ponto dev e- se ob s ervar ain<strong>da</strong><br />

19<br />

5


se está sen d o estreitad o o pólo feminino, repre s e nt a d o pela<br />

narina es qu er d a, ou o ma s c ulino, repre s e nt a d o pela direita.<br />

Li<strong>da</strong>r co m este sinto m a propor cion a um exp eriên ci a váli<strong>da</strong><br />

tam b é m para outras área s . Quando se tenta a violên ci a,<br />

forçan d o para que a m e s m a quanti<strong>da</strong>d e de ar que flui pela<br />

ab ertura larga pas s e pela outra, m ais estreita, o proble m a<br />

so m e n t e se agrav a. A m elh or cois a é a<strong>da</strong>ptar- se à situaç ã o e,<br />

co m suavi<strong>da</strong>d e , so m e n t e deixar pas s ar pelo conduto estreito a<br />

quanti<strong>da</strong>d e de ar que pod e ser inspira<strong>da</strong> co m facili<strong>da</strong>d e. Dess a<br />

form a, tam b é m , indica- se ao plano aní mic o que o pólo reduzido<br />

seja des c arr e g a d o , e m vez de ser posto so b pres s ã o . É entã o<br />

que ele se abr e real m e nt e. Quando, desta man eira, instaura- se<br />

a disten s ã o e m refer ên ci a ao s dois pólo s, de form a que cad a<br />

lado é ac eito e m sua situaç ã o totalm e nt e diferente, é pos sív el<br />

finalm e nt e atingir tam b é m de ver<strong>da</strong> d e o equilíbrio do mei o.<br />

O sinto m a m o stra um a unilaterali<strong>da</strong>d e e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>,<br />

quas e se m pr e inata, pois a respiraç ã o é o sím b ol o de noss a<br />

vi<strong>da</strong> na polari<strong>da</strong>d e. Em qualqu er cas o , o fluxo <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o<br />

tam b é m se tom a unilateral. É precis o ac eitar es s a<br />

unilaterali<strong>da</strong>d e antes que se pos s a ter esp er a n ç a s de um<br />

retorn o ao m ei o. A op er a ç ã o pod e aju<strong>da</strong>r nest e cas o, se m pr e<br />

que ac o m p a n h a d a <strong>da</strong> nec e s s á ria interven ç ã o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a.<br />

Caso se trate so m e n t e de um a correç ã o funcion al, que não<br />

está rech e a d a de vi<strong>da</strong>, o org anis m o terá ain<strong>da</strong> várias outras<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de apres e nt ar um des e q uilíbrio subsistent e<br />

co m o tarefa de apren dizad o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual de m e u s lado s é apertad o, o lado es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino?<br />

2. Com o an<strong>da</strong> o fluxo de minha en er gia vital? Com o<br />

pod eria propiciar seu livre fluxo?<br />

3. Com o lido co m a polari<strong>da</strong>d e?<br />

4. O que pod eria aprum ar minh a vi<strong>da</strong> e levar- m e ao mei o?<br />

19<br />

6<br />

Rinofima ou nariz bulbos o ou nariz de bêbado


Este sinto m a desfigurad or já está des crito co m to<strong>da</strong> a nitidez<br />

e alcan c e por seu no m e . Rino quer dizer nariz, e fima significa,<br />

e m greg o , tum or ou excr e s c ê n c i a. Na África, um "rino" é um<br />

rinoc er o nt e. As expres s õ e s nariz bulb o s o ou nariz de tubérculo<br />

tamp o u c o deixa m na<strong>da</strong> a des ej ar quanto à clarez a.<br />

Freqü e nt e m e n t e o sinto m a é agrav a d o ain<strong>da</strong> mais por um<br />

segun d o sinto m a , a cha m a d a Rosácea . A rosá c e a são<br />

man c h a s de colora ç ã o aver m el h a d a que surg e m no rosto e<br />

que m ais tarde es c a m a m e form a m abs c e s s o s e pústulas.<br />

Assim co m o o rinofim a, ela surg e freqü e nt e m e n t e so br e a bas e<br />

de um a con stituiçã o cha m a d a de se b o rr éic a, ou seja, um a<br />

tend ê n ci a a proble m a s nas glândulas se b á c e a s . Às vez e s o<br />

rinofim a é des crito co m o uma subfor m a de rosá c e a , a cha m a d a<br />

rosá c e a hipertrófica, já que am b o s surg e m a partir de<br />

excr e s c ê n c i a s <strong>da</strong>s células se b á c e a s e do tecido conjuntivo.<br />

Trata- se de excr e s c ê n c i a s no m ei o <strong>da</strong> cara, no nariz, que<br />

nas c e m a partir <strong>da</strong>s glândulas <strong>da</strong> pele Estas são resp o n s á v e i s<br />

pela secr e ç ã o <strong>da</strong>qu el a ca m a d a de ole o si<strong>da</strong>d e que rec o br e<br />

noss a pele. Na rosá c e a e no rinofim a, as glândulas exag er a m<br />

e m sua funçã o de form a des m e di d a, e os afetad o s na<strong>da</strong> m , por<br />

assi m dizer, na gordura. Neste quadr o de sup erpro du ç ã o , as<br />

glândulas se b á c e a s tend e m a se entupir, e a partir diss o<br />

surg e m inflam a ç õ e s .<br />

Evidente m e n t e , o sinto m a quer atrair a aten ç ã o de todo s<br />

para o rosto e, e m esp e ci al, para o nariz. O fato <strong>da</strong> graxa do<br />

corp o ser se cr et a d a e m quanti<strong>da</strong>d e s exa g er a d a s leva à<br />

susp eita de que um a deficiente cap a ci<strong>da</strong>d e deslizante <strong>da</strong> alm a<br />

esteja sen d o co m p e n s a d a . Os tem a s pelo s quais ela não<br />

"es c orr e g a" tão be m estã o m ais do que so m e n t e aludido s.<br />

Popular m e nt e, o nariz den ota o falo de man eira sim b ólic a.<br />

Essa relaç ã o é co m pr o v a d a mais seria m e n t e pelas zona s<br />

reflexas dos órg ã o s sexuais nos pavilhõ e s nas ais. Esfreg ar o<br />

nariz e m público não é be m visto, e enfiar o ded o nu nariz é<br />

tabu. Que outras razõ e s hav eria para tal alé m <strong>da</strong>s sim b ólic a s?<br />

Além diss o, so m a- se ao rinofim a o flam eja nt e rubor, que pod e<br />

19<br />

7


sim b o lizar tanto a verg o n h a co m o a ira, tanto a excitaç ã o<br />

sexual co m o a agr e s sivi<strong>da</strong>d e . As pústulas e os muitos<br />

pequ e n o s "vulcõ e s " inflam a d o s lem br a m a acn e <strong>da</strong> pub erd a d e ,<br />

que igualm e nt e m e dr a no solo de uma con stituiçã o seb orr éi c a.<br />

Há muito faland o e m favor de que aqui se trata de um a última<br />

tentativa des e s p e r a d a de pas s ar pela pub erd a d e e tom ar- se<br />

adulto. Entretanto, aqui é a sexuali<strong>da</strong>d e genital, e m vez <strong>da</strong><br />

sexuali<strong>da</strong>d e púb er e, que sim b olic a m e n t e força sua entrad a na<br />

con s ci ê n ci a. O pico de oc orr ê n ci a <strong>da</strong> do e n ç a está na quinta<br />

déc a d a de vi<strong>da</strong>, e os ho m e n s são afetad o s de m an eira quas e<br />

exclusiva. O nariz, co m suas excr e s c ê n c i a s , pod e m anifestar<br />

sua exc e s siv a relaç ã o co m a sexuali<strong>da</strong>d e fálica, e não anun ciar<br />

o res g at e de uma reivindic a ç ã o ao cres ci m e n t o antes que<br />

definitiva m e n t e seja tarde de m ai s. Justa m e nt e na m e did a e m<br />

que a en er gia fálica do afetad o não é um tem a formidáv el para<br />

ele, o nariz que a substitui sim b olic a m e n t e torna- se um nariz<br />

formidáv el e m o stra a importân cia assu mi d a pela tem átic a que<br />

está sen d o aludi<strong>da</strong>,<br />

Essa tem átic a pod e expres s ar- se de man eira varia<strong>da</strong> na<br />

vi<strong>da</strong> do afetad o , ma s se m pr e se rem et e à falta de con s ci ê n ci a.<br />

Por um lado, o rinofim a pod e reproduzir a situaç ã o vital<br />

con cr et a des d e um ponto de vista sexual, por outro pod e<br />

indicar fantasias não vivi<strong>da</strong>s ou, e m terc eiro lugar, pod e ain<strong>da</strong><br />

aludir àquilo que oc orr e no incon s ci e nt e se m ser notad o . Ain<strong>da</strong><br />

que seja m viven ci ad a s , as ex cr e s c ê n c i a s e a depra v a ç ã o no<br />

âm bito sexual não são con s ci e nt e s . Os pequ e n o s vulcõ e s<br />

evid e n ci a m a pres s ã o so b a qual o afetad o se en c o ntra. Os<br />

co m p o n e n t e s agre s siv o s e venusian o s ca minha m de m ã o s<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> s . O nariz bulb o s o lem br a um libertino. Pode- se assu mir<br />

uma posiç ã o sup erficial e m relaç ã o a tal padrã o e usar o bulbo<br />

ver m e lh o de man eira provo c ativa, co m o um clown [palhaç o],<br />

pod e- se tam b é m sentir verg o n h a ou entã o reprimir to<strong>da</strong> a<br />

refer ê n ci a de conteú d o e não quer er sab er na<strong>da</strong> a resp eito dos<br />

próprios son h o s e fantasias des m e s u r a d a s . O surto de<br />

cres ci m e n t o que, e m sentido figurad o, foi muito curto, é<br />

so m atizad o e m seu devido lugar. Todo o líquido fértil que foi<br />

19<br />

8


dissipad o con cr et a m e n t e ou e m fantasias é ag or a se gr e g a d o<br />

substitutiva m e n t e pelas glândulas seb á c e a s e m quanti<strong>da</strong>d e s<br />

ab s oluta m e n t e des a gr a d á v e i s. O asp e ct o de fertili<strong>da</strong>d e é<br />

igual m e nt e anun ciad o pelo notáv el cres ci m e n t o do tecido do<br />

septo nas al. Bate- se co m o nariz no próprio probl e m a , por<br />

assi m dizer, e todo o mun d o pod e vê- lo.<br />

O sinto m a está freqü e nt e m e n t e ass o ci a d o a um a<br />

probl e m á tic a de alco olis m o que colo c a e m jogo o nariz<br />

avermelhado de bêbado . O álcool é a drog a de evas ã o<br />

clás sic a de noss a so ci e d a d e . Justa m e nt e ond e a propa g a n d a<br />

sug er e o contrário, é evid e nt e que são esp e ci al m e n t e as<br />

pes s o a s que não pod e m suportar o ho m e m que têm e m si e m<br />

nen hu m sentido, porqu e são muito m ol e s, que tend e m à<br />

be bid a. Enquanto os be b ê s têm o direito de ficar ag arrad o s à<br />

ma m a d e ir a, nos adultos o que isso m o stra é a dep e n d ê n c i a e a<br />

tend ê n ci a à regr e s s ã o , à fuga. Os outros sinto m a s do<br />

alco olis m o tam b é m ac e ntua m es s a tend ê n ci a: a pes s o a<br />

ca m b al ei a co m o um a crianç a que ain<strong>da</strong> não apren d e u a an<strong>da</strong>r<br />

co m segur an ç a, e balbucia, co m o se ain<strong>da</strong> não do min a s s e a<br />

fala. O fato de que o álco ol seja um forte narc ótic o evid e n ci a<br />

ain<strong>da</strong> que algu é m não quer ad mitir para si m e s m o , e sim<br />

en c o b rir e an e st e si ar a dor caus a d a pelo fraca s s o . Essa<br />

imag e m pare c e contradiz er totalm e nt e aqu el a m ais corriqu eira<br />

do alco ólic o brutal, durão e exc e s siv a m e n t e m a s c ulin o.<br />

Entretanto, es s a s de m o n s tr a ç õ e s sup erficiais de m a s c ulini<strong>da</strong>d e<br />

violen ta , be m co m o de potên cia osten siv a, não pas s a m de<br />

tentativas ofen siva s de co m p e n s a ç ã o <strong>da</strong> própria inse g ur an ç a e<br />

fraqu ez a.<br />

O típico círculo vicios o pod e entã o des e n v olv er- se<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e: o álco ol é a drog a <strong>da</strong> impot ê n ci a e m todo s os<br />

níveis, afog a- se a preo c up a ç ã o co m a própria incap a ci<strong>da</strong>d e .<br />

Por outro lado, pouc a s cois a s caus a m a impotên ci a co m tanta<br />

rapidez co m o a ingestã o regular de álco ol. Não se trata<br />

portanto de ho m e n s fortes, ma s de ho m e n s co m o rabo entre as<br />

perna s. Tam p o u c o dev ería m o s deixar- nos en g a n ar por<br />

tentativas de be b er para criar cora g e m , ach a n d o que a<br />

19<br />

9


covardia é a mã e <strong>da</strong> cautela, ain<strong>da</strong> que o todo resulte e m uma<br />

impon ê n ci a estéril. Seu pai é o des ej o de se atordo ar para não<br />

ter de ver a situaç ã o e m que se está real m e nt e , ou justa m e n t e<br />

e m que não se está. O ver m el h o lumino s o do nariz m o stra a<br />

todo s o que de fato está ac o nt e c e n d o , está na cara, no sentido<br />

mais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong> palavra. Por um lado, pod e tratar- se de<br />

uma adv ertênci a, para não m et e r o nariz e m to<strong>da</strong> parte e<br />

so br etud o para não m et ê- lo muito fund o no cop o, m a s por<br />

outro pod e ser tam b é m a exig ê n ci a de tornar- se don o do<br />

próprio nariz e enfrentar os tem a s que o destino es cr e v e u co m<br />

tinta lumino s a, m ais propria m e n t e co m san gu e, no próprio<br />

rosto.<br />

Em se tratand o do rinofim a e do nariz de bê b a d o , a tarefa de<br />

apren dizad o gira e m torno do rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>d e<br />

impulsiva e sua liberaç ã o definitiva. Trata- se de "rec o n h e c e r" a<br />

mulh er, o que so m e n t e é pos sív el e m b e b e n d o - se e m todo s os<br />

níveis do am or sexual. A en er gi a fálica desl o c a- se para o ponto<br />

central e é do min a d a . Trata- se de potên cia, e não <strong>da</strong> variante<br />

de m o n s tr a d a ao s gritos, que não pas s a de um a m á s c ar a para<br />

a fraqu ez a; trata- se de força e de pod er e m níveis m ais<br />

profund o s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde e m minha vi<strong>da</strong> as coisa s não desliza m tal co m o eu<br />

gostaria?<br />

2. (Com o) Ter min ei minha pub erd a d e ? Quão ma dur a é<br />

minh a sexuali<strong>da</strong>d e ?<br />

3. O que falta para que eu seja um adulto?<br />

4. Com o pod eria e pos s o confiar e m minha ma s c ulini<strong>da</strong>d e ?<br />

Por que eu a exag er ei? Ou a copiei?<br />

5. O que quer e dev e cres c e r ain<strong>da</strong> e m minh a vi<strong>da</strong>? Quão<br />

frutífero foi até ag or a?<br />

6. O que a fuga repres e nt a para mi m? Onde e quan d o<br />

deixei de reg er minha vi<strong>da</strong> de ac ord o co m m eu próprio nariz?<br />

20<br />

0<br />

Fratura do vômer


O vô m e r é o oss o do nariz, e co stu m a- se dizer que um nariz<br />

que br a d o não é assi m tão grav e. Pode- se viver co m isso, não é<br />

precis o ne m m e s m o en g e s s á - lo e fica- se so m e n t e um<br />

pouquinh o desfigurad o . A fratura do vô m e r m o stra que se foi<br />

um pouc o long e de m ai s e se deu um tiro na proa. Esse tiro de<br />

adv ertên ci a na proa <strong>da</strong> nav e do corp o pretend e deter a pes s o a ,<br />

imp e dir que pros sig a ce g a m e n t e no ca minh o que está sen d o<br />

trilhado. O nariz, sen d o a parte mais pro e mi n e nt e do corp o –<br />

tanto aci m a co m o e m b aix o – tem um a relaç ã o sim b ólic a direta<br />

co m aqu el e m e m b r o inferior que, e m deter min a d a s situaç õ e s ,<br />

torna- se igual m e nt e pro e mi n e nt e. Ele repre s e nt a a força, a<br />

en er gi a tipica m e n t e ma s c ulina, que arre m e t e para a frente.<br />

Essa en er gi a é niti<strong>da</strong> m e nt e am ort e cid a pela fratura. Quando se<br />

golp eia o nariz de algué m , es s a pes s o a é degr a d a d a nes s e<br />

ponto sen sív el. A fratura do vô m e r, entã o, adquire algu m<br />

significad o no ca m p o <strong>da</strong> anato mi a sim b ólic a. Quando se<br />

segur a o nariz, o m o vi m e n t o para a frente é fread o. Quando se<br />

dá de nariz contra algo, rec e b e - se o mes m o sinal do destino de<br />

form a ain<strong>da</strong> m ais direta. A sab e d o ria popular tam b é m vai<br />

nes s a direç ã o , prev e nind o contra enfiar o nariz e m to<strong>da</strong> parte.<br />

Os curios o s que br a m o nariz co m facili<strong>da</strong>d e.<br />

Os rapaz e s joven s, principal m e nt e, vê e m nes s e sim b olis m o<br />

a chanc e de exibir- se e m público, m o strand o co m o se atrev e m<br />

a pen etrar e m âm bito s perigo s o s e co m o arrisc a m tudo. Quem<br />

quer tornar- se box e a d o r assu m e o nariz que br a d o co m o um a<br />

obvi ed a d e , tend o até orgulho diss o, assi m co m o os estu<strong>da</strong>nt e s<br />

de um a fraterni<strong>da</strong>d e freqü e nt e m e n t e se orgulha m de suas<br />

roupa s.<br />

O sinto m a ilustra con cr eta m e n t e que, e m deter min a d o s<br />

âm bito s, uma certa conten ç ã o seria mais ac o n s el h á v el e<br />

m e n o s doloro s a. A tarefa de apren dizad o não pretend e levar a<br />

pes s o a a ter exp eriên ci a s- limite e m relaç ã o à própria corag e m<br />

e à en er gi a fálica, e sim m o strar que a pes s o a está se<br />

exer citan d o e m um terren o pouc o apropriad o e está indo long e<br />

de m ai s e m âm bito s que mais provav el m e n t e são<br />

20<br />

1


que stion á v ei s. Está be m arriscar algu m a cois a de vez e m<br />

quan d o e levar algu m golp e, ma s seria precis o exp eri m e nt ar se<br />

não seria m elh or exer c er os esforç o s corre s p o n d e n t e s e m<br />

sentido figurad o.<br />

O fato de que a continui<strong>da</strong>d e do próprio os s o do nariz é<br />

interro m pi<strong>da</strong> co m pr o v a igual m e nt e que o ca minh o de vi<strong>da</strong> que<br />

está sen d o trilhad o - se m pr e seguind o o próprio nariz precis a<br />

de um a correç ã o de curs o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Aonde eu fui long e de m ai s?<br />

2. Onde e e m relaç ã o a que precis ei de um am ort e c e d o r , e<br />

co m o con s e g ui um?<br />

3. Até que ponto m e m eti e m cois a s que não serv e m para<br />

mi m?<br />

4. Onde a direç ã o <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> nec e s sita correç ã o ?<br />

5. Com o pod eria ab ord ar novo s âm bito s de man eira que<br />

fizess e mais sentido?<br />

Pala<strong>da</strong>r<br />

O palad ar, ao lado <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e sup erficial <strong>da</strong> pele, é<br />

noss o sentido mais direto. As papilas gustativas, localizad a s na<br />

língua, gen giva s , epiglote e na muc o s a <strong>da</strong> garg a nta, precis a m<br />

do contato direto dos rec e pt or e s quí mic o s co m a co mid a para<br />

que a perc e p ç ã o se efetu e. Existe m unica m e n t e quatro<br />

quali<strong>da</strong>d e s de perc e p ç ã o : doc e, azed o , salg ad o e am ar g o . O<br />

grand e esp e ctr o de sab or e s resulta do aro m a , que é perc e bid o<br />

pela muc o s a olfativa do nariz. A per<strong>da</strong> do palad ar não é<br />

perig o s a co m o sinto m a, e por es s a razão se atribui a ela pouc o<br />

valor co m o do e n ç a .<br />

O grand e núm er o de fumant e s já são sinal suficiente de que<br />

não an<strong>da</strong> m o s be m no que se refer e ao s noss o s nervo s do<br />

palad ar. Enquanto a propa g a n d a apre g o a o fino sab or de cad a<br />

tipo de taba c o , é exata m e n t e o contrário que é ver<strong>da</strong>d eir o.<br />

20<br />

2


Na<strong>da</strong> prejudica tanto noss o pala<strong>da</strong>r co m o o fumo. De ce m<br />

fumant e s, so m e n t e um ain<strong>da</strong> está e m con diç õ e s de rec o n h e c e r<br />

sua marc a por seu sab or caract erístico. A falta de palad ar dos<br />

outros já é grand e de m ai s. Esta é tam b é m a razã o pela qual os<br />

fumant e s rara m e nt e go sta m de frutas. Eles não estã o m ais e m<br />

condiç õ e s de perc e b e r suas delicad a s nuan ç a s de sab or e<br />

prefer e m um a alim e nta ç ã o m ais rude, co m condi m e nt o s mais<br />

fortes. Quando con sid er a m o s o aum e nt o do uso de<br />

condi m e nt o s e aro m atizant e s ao long o dos último s 20 0 ano s, o<br />

resultad o é uma so br e e x citaç ã o que, por outro lado,<br />

corre s p o n d e à per<strong>da</strong> de noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de perc e p ç ã o do<br />

gosto. Com o to<strong>da</strong> ép o c a de restaura ç ã o , to<strong>da</strong> cura atrav é s do<br />

jejum implica tam b é m e m um nov o co m e ç o , e m o stra co m o<br />

so m e n t e um a pequ e n a quanti<strong>da</strong>d e de mat erial gustativo é<br />

nec e s s á ria quan d o se tem a cap a cid a d e de perc e p ç ã o intacta.<br />

O exc e s s o de condi m e nt o s a que esta m o s ac o stu m a d o s<br />

corre s p o n d e ao nos s o estad o nor m al de so br e e x cita ç ã o e à<br />

tentativa convulsiva de <strong>da</strong>r à vi<strong>da</strong> um pouc o m ais de temp er o<br />

por es s e m ei o. Por outro lado, os aro m atizant e s artificiais<br />

corre s p o n d e m a um a nec e s si d a d e genuín a, pois até m e s m o o<br />

palad ar mais e m b o t a d o dev e perc e b e r co m o tudo se tornou<br />

insípido. Basead o s e m noss a cultura de adub o artificial e<br />

estufa, fizem o s co m que a Mãe Natureza se m o v e s s e e ag or a<br />

ela se m pr e nos forne c e tudo aquilo que quer e m o s e m qualqu er<br />

m o m e n t o . Mas ela nos dá so m e n t e o corp o de suas plantas,<br />

con s erv a n d o a alm a 45 . Externa m e n t e , os m or a n g o s e tom at e s<br />

são m ai or e s e mais bonitos do que nunc a, so m e n t e o sab or<br />

diminuiu de m an eira ass o m b r o s a . Nós nos ac o stu m a m o s e<br />

co m p e n s a m o s a per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>d e co m m ais quanti<strong>da</strong>d e ou<br />

co m sab or artificial. Noss o s nervo s do pala<strong>da</strong>r a<strong>da</strong>ptara m - se a<br />

isso. Agora são nec e s s á ria s “coisa s fortes" e grand e s<br />

con c e ntra ç õ e s para agra<strong>da</strong>r minim a m e n t e . Noss o sentido do<br />

palad ar mo stra que tem o s cad a vez m e n o s de cad a vez mais.<br />

Isso é confirm a d o tam b é m por nos s o entorn o. O que fizem o s<br />

de nós e de nos s o mund o não é abs oluta m e n t e co m p atív el<br />

co m o bo m go sto e corresp o n d e na ver<strong>da</strong>d e a um a per<strong>da</strong> de<br />

20<br />

3


gosto. Herman Weidelen er rem et e a catástrofe do Ocidente ao<br />

fato de que sep ar a m o s o idio m a do gosto, e m b o r a am b o s<br />

esteja m unido s insep ar a v el m e n t e na língua. A bo c a dos<br />

ocid e ntais dev eria estar na testa, já que é quas e se m pr e seu<br />

cér e br o e quas e nunc a seu gosto que fala. Ain<strong>da</strong> assi m,<br />

rec eita m o s para noss o idio m a a m e s m a cura de gros s e ria que<br />

rec o m e n d a m o s para nos s a s papilas gustativas. Visto des s e<br />

m o d o , um aperfeiç o a m e n t o <strong>da</strong> sen s a ç ã o do idio m a e do<br />

palad ar seria um a terapia para nos s a cultura <strong>da</strong> língua e do<br />

gosto.<br />

20<br />

4


4<br />

O Sistema Nervos o<br />

O cér e br o é o cern e do nos s o siste m a nervo s o central.<br />

Ain<strong>da</strong> que seus sinto m a s afete m todo o organis m o , eles dev e m<br />

ser tratado s e m contexto co m a central, que está localizad a na<br />

cab e ç a . O siste m a nervo s o é o siste m a básic o de inform a ç ã o e<br />

de co m u nic a ç ã o do corp o. Ele regula m e n t a as relaç õ e s entre<br />

os mais variad o s níveis de e mis s ã o de orden s <strong>da</strong> central e a<br />

rec e p ç ã o <strong>da</strong>s orden s na periferia. Juntam e nt e co m o siste m a<br />

hor m o n al, ele é resp o n s á v el por to<strong>da</strong> s as trans mi s s õ e s de<br />

inform a ç ã o 46 . Entretanto, as fronteiras entre as red e s de<br />

co m u nic a ç ã o do corpo não são rígi<strong>da</strong>s. Elas se interp en etr a m ,<br />

form a n d o um siste m a multidim e n si o n al. Dess a man eira, por<br />

exe m pl o, o siste m a nervo s o utiliza, e m seus ponto s de ligaç ã o ,<br />

substânci a s se m e l h a nt e s a hor m ô ni o s , tais co m o a adren alina,<br />

a ac etilcolina, a dop a m i n a, etc., para transp ortar a inform a ç ã o<br />

atrav é s des s a s ponte s, cha m a d a s de sinap s e s . Pode- se<br />

imagin ar as sinap s e s co m o se foss e m tom a d a s nas quais<br />

estã o ligado s divers o s circuitos elétrico s. O siste m a nervo s o<br />

trabalha so br etud o co m eletrici<strong>da</strong>d e , en quant o o siste m a<br />

hor m o n al pod e ser co m p ar a d o a um siste m a de m e n s a g e ir o s<br />

que transp orta a inform a ç ã o so b a form a de sub stân ci a s<br />

quí mic a s . Ness e sentido, os nervo s são os m ais rec e nt e s e<br />

repre s e nt a m a variante que traz e m si o futuro.<br />

Diferen cia- se um siste m a nervo s o voluntário ou sen s o m o t o r<br />

de um involuntário, ou autôn o m o . A parte que pod e ser<br />

controlad a pela vontad e englo b a , por exe m pl o, o padrã o de<br />

m o vi m e nt o s delib er a d o s <strong>da</strong> mus c ulatura do es qu el et o. A parte<br />

involuntária é resp o n s á v el pelo s nervo s dos órg ã o s interno s,<br />

que não dep e n d e m <strong>da</strong> vontad e. Esse siste m a nervo s o <strong>da</strong>s<br />

vísc er a s , cha m a d o de veg et ativo, conté m por seu lado dois<br />

pólos antag ô ni c o s : o simp átic o, que pod eria ser cha m a d o<br />

tam b é m de pólo m a s c ulin o arqu etípic o, já que é resp o n s á v e l<br />

20<br />

5


pelo s m o d o s de co m p o rta m e n t o dirigido s para o exterior tais<br />

co m o a luta, a fuga, o trabalh o e a con c e ntr a ç ã o , e seu<br />

opon e nt e, o parassi m p átic o ou vag o, que é resp o n s á v el por um<br />

lequ e de ativi<strong>da</strong>d e s , dos proc e s s o s reg e n e r ativo s <strong>da</strong> digestã o à<br />

sexuali<strong>da</strong>d e , e que portanto pod e ser con sid er a d o co m o<br />

repre s e nt a nt e do pólo feminino arqu etípic o. Os dois pólo s do<br />

siste m a nervo s o veg et ativo dispõ e m de diferente s substânci a s<br />

quí mic a s transp ortad or a s que são resp o n s á v e i s pela<br />

trans mi s s ã o de inform a ç õ e s entre fibras nervo s a s individuais.<br />

As substânci a s transp ortad or a s cha m a d a s de adren er g ê ni c a s ,<br />

tais co m o a adren alina e a noradr e n alin a, perten c e m ao<br />

siste m a nervo s o dos órg ã o s interno s ma s c ulin o ou simp átic o;<br />

no âm bito do cér e br o , terno s a dop a mi n a. No siste m a feminin o<br />

ou parassi m p átic o pred o m i n a m as substânci a s colinérgic a s,<br />

so br etud o a ac etilcolina.<br />

Caso se faça um a divisã o polar geral, o siste m a nervo s o<br />

voluntário corresp o n d e ri a ao pólo ma s c ulino ou Yang,<br />

en qu a nt o o siste m a nervo s o veg et ativo ou involuntário seria<br />

atribuído ao pólo feminin o ou Yin. O simp átic o é entã o a parte<br />

ma s c ulina des s e âm bito que é e m si fe minino, sen d o o<br />

parassi m p átic o o feminino do feminino.<br />

Ao lado <strong>da</strong> subdivisã o de ac ord o co m o conteú d o , utiliza- se<br />

tam b é m um a subdivisã o cha m a d a de topo gr áfica, de ac ord o<br />

co m a localizaç ã o esp a ci al. Esta diferen cia o siste m a nervo s o<br />

central, co m p o s t o pelo cér e br o e a m e d ula espinh al, do<br />

siste m a nervo s o periférico, que con siste <strong>da</strong>s sen sív ei s vias<br />

nervo s a s voluntárias e involuntárias que atrav e s s a m todo o<br />

corp o. O siste m a periférico trans mite ao central to<strong>da</strong>s as<br />

inform a ç õ e s que rec e b e do corp o e do entorn o e realiza to<strong>da</strong>s<br />

as reaç õ e s que delas resulta m. O siste m a central, portanto, é<br />

resp o n s á v e l por tudo, ma s e m todo s os cas o s conta co m a<br />

colab o r a ç ã o dos nervo s periférico s. Sem es s e trabalh o <strong>da</strong><br />

periferia, a central estaria, por um lado, des c o n e c t a d a do fluxo<br />

de inform a ç õ e s , e por outro, seria incap az de expres s ar suas<br />

ord en s .<br />

20<br />

6


1. Do nervosismo ao colapso nervoso<br />

Com o a co m u ni c a ç ã o é a tarefa central &!o siste m a nervo s o ,<br />

os proble m a s nervo s o s se m pr e oculta m probl e m a s de<br />

co m u nic a ç ã o atrás de si. Quem se sente co m os nerv o s e m<br />

frangalh o s, fraca s s o u e m sua co m u ni c a ç ã o . A voz popular fala<br />

de um nó no s nerv o s. Os próprios afetad o s , entretanto, busc a m<br />

refúgio na projeç ã o e con clu e m que são proprietários de um a<br />

roupa g e m nervo s a muito sen sív el e que os outros ac a b a m co m<br />

seus nervo s. A expr e s s ã o “voc ê me dá nos nervo s” o expres s a .<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m to<strong>da</strong> s as outras funçõ e s do corp o,<br />

so m e n t e tom a m o s con s ci ê n ci a dos nervo s quan d o eles<br />

caus a m proble m a s . Quem m o stra os nervo s deixa claro que<br />

não está be m , agind o de man eira nervo s a e sentind o o entorn o<br />

e suas exig ê n ci a s co m o en erv a nt e s . Quem, ao contrário, tem<br />

nervo s co m o ara m e s , pod e se <strong>da</strong>r ao luxo de viver de ac ord o<br />

co m o temp o, ou seja, mant er- se e m contato co m os tem a s do<br />

pres e nt e. Para ele, as exig ê n ci a s são um estimulo nervo s o<br />

be m - vindo e e m vez de ser e m m ol e st a s, propicia m um a<br />

sen s a ç ã o de vitali<strong>da</strong>d e. Uma tal “pes s o a se m nervo s” é algué m<br />

que não tem nec e s s i d a d e de m o strar os nervo s porqu e está<br />

segur o de seu funcion a m e n t o até m e s m o e m situaç õ e s de<br />

perig o. Ele tem real m e nt e nerv o s de aço. É precis o sep ar ar<br />

aqui aqu el a s pes s o a s que não m o stra m os nervo s porqu e<br />

este s, am ort e cid o s e insen sív ei s, já não perc e b e m o que<br />

real m e nt e ac o nt e c e à sua volta. A força nervo s a típica resid e<br />

e m sua auto c o nfian ç a, e não e m poupar os nervo s ou<br />

tranqüilizá- los con stant e m e n t e . Eles estã o relaxad o s e cal m o s ,<br />

até que são exigido s. Então, a tens ã o propicia um a oc a si ã o<br />

para co m u nic ar- se co m o interior e tam b é m co m o exterior. A<br />

pes s o a nervo s a é muito diferent e. Em um a situaç ã o nor m al ela<br />

já está niti<strong>da</strong> m e nt e tens a, e ao ser exigi<strong>da</strong> che g a rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

ao limite de seus nervo s.<br />

Os biólo g o s sab e m que o nervo si s m o oc orr e igual m e nt e no<br />

reino anim al, e não so m e n t e e m caval o s de corri<strong>da</strong>,<br />

20<br />

7


indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong>s exig ê n ci a s naturais de sua vi<strong>da</strong>.<br />

Quando um a deter min a d a esp é ci e ating e a sup erp o pulaç ã o e,<br />

co m isso, tem seu esp a ç o vital limitado, os anim ais individuais<br />

des e n v olv e m nítidos sinais de nervo si s m o , a co m u nic a ç ã o<br />

entra e m colap s o e oc orr e m surtos de agre s s ã o se m qualqu er<br />

m otivo. A falta de esp a ç o produz a angú stia (do latim angu st u s<br />

= estreito) que faz co m que os fusíveis quei m e m . De m an eir a<br />

análo g a, não é de ad mirar que cad a vez mais pes s o a s sofra m<br />

de mal e s nervo s o s e angústia, esp e ci al m e n t e nos aglo m e r a d o s<br />

<strong>da</strong>s grand e s ci<strong>da</strong>d e s .<br />

Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , o tem a <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o está por trás<br />

dos proble m a s nervo s o s , unica m e n t e que nos m al e s nervo s o s<br />

ele m er gulh o u m e n o s profun<strong>da</strong> m e n t e na corp or ali<strong>da</strong>d e que nus<br />

cas o s neuroló gic o s . Uma pes s o a nervo s a não tem confian ç a<br />

e m pod er conv e n c e r o entorn o de si m e s m a e de seu valor. Ela<br />

está inse g ur a e busc a con stant e m e n t e sinais que a<br />

reass e g ur e m . Isso se torna esp e ci al m e n t e claro quan d o se<br />

está diante de um a prova esp e ci al m e n t e des g a s t a nt e para os<br />

nervo s, quan d o parec e que os nervo s vão arreb e nt ar de tão<br />

tens o s ante s m e s m o que tudo tenha co m e ç a d o . Tais situaç õ e s<br />

são senti<strong>da</strong>s co m o m ortais pelas pes s o a s de nerv o s delica d o s .<br />

A agitaç ã o nervo s a ating e o aug e pouc o ante s do resultad o<br />

decisivo, e os afetad o s ag e m de man eir a totalm e nt e en er v a nt e.<br />

Antes <strong>da</strong> prova dos nervo s, o m e n o r ruído ou um atras o<br />

míni m o , qualqu er cois a lhes dá nos nervo s. Justa m e nt e nest e<br />

m o m e n t o , e m que tudo dep e n d e do bo m funcion a m e n t o de<br />

seus circuitos, este s parec e m não estar à altura <strong>da</strong> tarefa e dão<br />

a sen s a ç ã o de que vão saltar para fora <strong>da</strong> pele. Isso pod e<br />

explicitar a des pr ot e ç ã o que se sent e e m o stra co m o se está<br />

próxim o de usar os nervo s co m o des c ulp a.<br />

No co m p o rta m e n t o tipica m e n t e nervo s o , impregn a d o de<br />

incon stân ci a e inquieta ç ã o , m o stra- se o des ej o de estar e m<br />

co m u nic a ç ã o co m tudo ao m e s m o temp o. Na maioria <strong>da</strong>s<br />

vez e s , entã o, a hierarquia que existe nas estruturas de<br />

co m u nic a ç ã o entra e m colap s o e cois a s relativa m e n t e pouc o<br />

importante s pas s a m para o prim eiro plan o en quant o outras<br />

20<br />

8


cois a s mais sub stan ci ais ca e m vitima <strong>da</strong> pers e g uiç ã o fren étic a.<br />

A pes s o a nervo s a corre atrás dos ac o nt e ci m e n t o s e não é raro<br />

que se sinta atrop elad a e sup er a d a por eles. Ela, co m seu eg o<br />

e sua nec e s s i d a d e de que tudo gire a seu redor, en c o ntra- se<br />

no m ei o des s e circulo vicios o. Ness a situaç ã o de inse g ur a n ç a<br />

e co m os nervo s totalm e nt e hiperten s o s , os afetad o s ro<strong>da</strong> m e<br />

sofre m um colap s o nervo s o .<br />

E entã o tudo, de fato, gira e m tom o deles. Eles atingira m seu<br />

objetivo, ain<strong>da</strong> que so m e n t e no nível m é di c o , à bas e de<br />

extors ã o física. A terapia simples e efetiva tenta m ant ê- los<br />

afastad o s de to<strong>da</strong> s as cois a s às quais eles atribue m<br />

de m a s i a d a importân cia para que obten h a m paz no exterior e,<br />

so br etud o, no íntim o.<br />

O diagn ó stic o de colap s o nervo s o corresp o n d e a um colap s o<br />

do trânsito no horário de pico. Os antec e d e n t e s , a evoluç ã o e o<br />

resultad o são co m p ar á v ei s. Quando todo s os auto m ó v e i s<br />

quer e m ir a to<strong>da</strong> parte, rapi<strong>da</strong> m e n t e e ao m e s m o temp o ,<br />

des o b e d e c e n d o por es s a razão às regra s do trânsito, log o<br />

ningu é m vai m ais a parte algu m a. É prováv el que todo s os<br />

m otoristas, individual m e nt e , tenha m razõ e s de pes o . Mas<br />

quan d o o cruza m e n t o foi bloqu e a d o , o trânsito não an<strong>da</strong> mais.<br />

Instaura- se a calm a, ain<strong>da</strong> que so br e um nível altíssi m o de<br />

stre s s . A tentativa de auto- aju<strong>da</strong> do corp o transc orr e de<br />

man eira se m el h a nt e, já que ele igualm e nt e trata de con s e g uir<br />

paz quan d o ating e o ápic e <strong>da</strong> torm e nt a nervo s a. Esta cal m a<br />

força<strong>da</strong> tranqüiliza as estruturas so br e c arr e g a d a s , contribuind o<br />

assi m, substanci al m e n t e , para o con s e q ü e n t e des e m b a r a ç o do<br />

e m ar a n h a d o que se havia instaurad o. Nem as ma s ne m as vias<br />

nervo s a s fora m seria m e n t e <strong>da</strong>nificad a s co m es s e colap s o . Em<br />

am b o s os níveis, o colap s o do trânsito ass e m e l h a - se à quei m a<br />

dos fusíveis e m um curto- circuito elétrico. Mas isso imp e d e<br />

tam b é m <strong>da</strong>n o s mais profund o s no âm bito nervo s o .<br />

Neste sentido, o colap s o nervo s o é a própria terapia. Ele põ e<br />

fim a um estad o forçad o, colap s a n d o as co m u nic a ç õ e s co m o<br />

entorn o e isoland o o pacient e. Ao che g ar ao estági o de e m er gir<br />

para o mun d o exterior, ele sinaliza de man eira expr e s siv a que<br />

20<br />

9


isso não pod e continuar assi m e m sua vi<strong>da</strong>. Ele não pod e<br />

mant er tal quanti<strong>da</strong>d e de contato s extern o s e obriga ç õ e s . Aqui,<br />

a tarefa torna- se muito níti<strong>da</strong>: trata- se de ab and o n ar a luta no<br />

exterior, enc o ntrar- se de novo con sig o m e s m o e esta b el e c e r<br />

contato co m o próprio centro. Só entã o tem sentido reto m ar<br />

lenta m e n t e o contato co m o exterior.<br />

O estad o prec e d e n t e de des e q uilíbrio nervo s o devid o à<br />

angústia de estar perd e n d o algo e não estar participan d o de<br />

algo e m algu m lugar m o stra, àqu el e s que quer e m <strong>da</strong>nç ar e m<br />

todo s os cas a m e n t o s , seus limites, ma s tam b é m<br />

oportuni<strong>da</strong>d e s . A tarefa de apren dizad o é, aqui, esta b el e c e r<br />

contato s não so m e n t e co m o exterior ma s tam b é m , e<br />

so br etud o, co m o íntimo. Se o afetad o está per m a n e n t e m e n t e<br />

à procura <strong>da</strong>quilo que é m ais important e no exterior e m um<br />

deter min a d o m o m e n t o , sua tarefa é contatar aquilo que é mais<br />

importante no interior, co m o próprio coraç ã o , portanto. Os<br />

sinto m a s - <strong>da</strong> taquicardia à sínc o p e - que surg e m nes s e<br />

contexto, aponta m nes s a direç ã o . Mais contato co m o<br />

co m a n d o central <strong>da</strong> con s ci ê n ci a tam b é m pod eria ser<br />

nec e s s á ri o, tal co m o o co m pr o v a m os bons resultad o s obtido s<br />

pelas excurs õ e s guia<strong>da</strong> s . Dess a man eira, os pacient e s têm<br />

ac e s s o à paz e à calm a que reina no centro de cad a ser<br />

hum a n o . Eles con stata m que a busc a de contato refleti<strong>da</strong> no<br />

nervo sis m o é um a caricatura <strong>da</strong> busc a de união interna co m o<br />

próprio centro. A fren étic a bus c a de rec o n h e c i m e n t o é<br />

substituí<strong>da</strong> pela am a bili<strong>da</strong>d e interna, e a partir <strong>da</strong>i des e n v olv ese<br />

um a sen s a ç ão de centrali<strong>da</strong>d e e co m u nic a ç ã o genuín a.<br />

Esta, entretanto, não tem so m e n t e um a proximi<strong>da</strong>d e idio m átic a<br />

co m a co m u n h ã o , a ligaç ã o de m ei o co m m ei o, ou seja, de<br />

coraç ã o co m cora ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Meu padrã o de co m u ni c a ç õ e s tem res erv a s ou eu estou<br />

à beira de um colap s o nervo s o devid o à so br e c ar g a contínua?<br />

2. Eu mant e n h o contato co m os tem a s cand e nt e s de minha<br />

vi<strong>da</strong>? Ou uso justa m e nt e os "nervo s fraco s” para es quivar- m e<br />

21<br />

0


deles?<br />

3. Em que circunstân ci a s sinto m e u s nervo s? O que m e dá<br />

nos nervo s? A que m eu per mito pas s e ar por eles?<br />

4. Tenh o esp a ç o suficiente para m e abrir ou sinto- m e<br />

apertad o ?<br />

5. Com o an<strong>da</strong> m minha auto c o nfian ç a e a se g ura n ç a e m<br />

mi m m e s m o ? Eu dispon h o delas ou tenh o de de m o n s tr á- las o<br />

temp o todo?<br />

6. Eu enc o ntr o/sup orto tranqüili<strong>da</strong>d e dentro de mim? Eu a<br />

pres erv o suficiente m e n t e ?<br />

7. Os objetivo s que tenh o diante dos olho s são m eu s<br />

m e s m o , e são realizáv eis? Ou minha vi<strong>da</strong> se dirige a um<br />

colap s o devido à so br e c ar g a ?<br />

2. Comoção cerebral<br />

Tanto no que se refer e ao surgi m e nt o co m o tam b é m e m<br />

relaç ã o à interpreta ç ã o , este sinto m a tem um a certa<br />

se m el h a n ç a co m a fratura do vô m e r. O afetad o foi long e<br />

de m ai s e rec e b e u um golp e na proa. Com o o no m e indica, o<br />

cér e br o é abalad o , so br etud o o <strong>da</strong>qu el a s pes s o a s a que m<br />

na<strong>da</strong> mais pod e abalar. A cab e ç a registra a co m o ç ã o que os<br />

afetad o s não ad mite m no âm bito aní mic o- espiritual. O traum a<br />

está <strong>da</strong>d o de ante m ã o , quas e se m pr e um a que d a. Ain<strong>da</strong> nos<br />

ocup ar e m o s de seu sim b olis m o profund o quan d o tratarm o s <strong>da</strong>s<br />

fraturas de braç o e de perna. Expres s õ e s tais co m o "quanto<br />

mais alto, maior a qued a" mo stra m que se trata freqü e nt e m e n t e<br />

de corrigir um rum o errad o, no qual o afetad o "leva na cab e ç a ”.<br />

Eles quis er a m subir alto de m ai s e são retido s rude m e n t e .<br />

Os sinto m a s individuais <strong>da</strong> <strong>como</strong>ção cerebral (Commotio)<br />

falam uma linguag e m clara. A dor de cab e ç a é teste m u n h a de<br />

tentativas agre s siv a s de ir de cab e ç a contra a pared e. A<br />

tontura sub s e q ü e n t e fala se m rodei o s que se pres s up ô s algo,<br />

que se partiu de pres s up o st o s equivo c a d o s ou que houv e um a<br />

sup erv al orizaç ã o de si m e s m o . Enjôos e vô mito s m o stra m que<br />

21<br />

1


o corp o dev e voltar a se livrar o mais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el <strong>da</strong><br />

probl e m á tic a que quer pôr para fora. Na lingua g e m do<br />

estô m a g o e do intestino, isso quer dizer que não é pos sív el<br />

assi milar a última exp eri ên ci a que se viven ci ou. Uma per<strong>da</strong> de<br />

con s ci ê n ci a, ain<strong>da</strong> que curta, é parte <strong>da</strong> co m o ç ã o cer e br al e <strong>da</strong><br />

a enten d er que algu é m , por um curto esp a ç o de temp o,<br />

ab and o n a a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e pela própria vi<strong>da</strong>. A cha m a d a<br />

am n é si a retrógr ad a indica quã o pouc o o afetad o se lem br a <strong>da</strong><br />

marc h a dos ac o nt e ci m e n t o s que levara m ao acident e. To m a- se<br />

evid e nt e ai ain<strong>da</strong> um a am pla neg a ç ã o <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e<br />

pelas próprias aç õ e s . A pes s o a se furta à resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e,<br />

expr e s s a n d o assi m, que é m elh or que outro assu m a o volante.<br />

Trata- se de uma tática facilm e nt e dete ctáv el que transc orr e<br />

aqui de form a incon s ci e nt e.<br />

No degr au seguinte <strong>da</strong> es c al a d a, a contusão cerebral<br />

(Contusio), os sinto m a s são ain<strong>da</strong> mais fortes, e outros nov o s ,<br />

bastant e grav e s , so m a m - se a eles. O cér e br o , env olvido por<br />

um líquido aqu o s o que am ort e c e os golp e s <strong>da</strong> m elh or man eira<br />

pos sív el, é ab alad o tão forte m e n t e que os am ort e c e d o r e s<br />

falha m e san gr a m e n t o s e co m pr e s s ã o de tecido s surg e m no<br />

local do golp e ou cho q u e , e tam b é m do lado opo st o. A per<strong>da</strong><br />

de con s ci ê n ci a é profun<strong>da</strong> e pod e che g ar ao co m a . Ede m a s<br />

co m a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pres s ã o cefálica, ataqu e s epiléptic o s e<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> regulaç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o e <strong>da</strong> temp er atura são<br />

algu m a s <strong>da</strong>s co m plica ç õ e s pos sív ei s. Som a m - se a isso<br />

divers a s deficiên cia s tais co m o agn o si a, a incap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

rec o n h e c e r , apraxia, a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>d e, e afasia, a per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> linguag e m , perturb a ç õ e s <strong>da</strong> m e m ó ri a e do sentido de<br />

orienta ç ã o be m co m o deficiên cia s psíquic a s, de perturb a ç õ e s<br />

<strong>da</strong> m otivaç ã o à per<strong>da</strong> de sen s a ç õ e s , <strong>da</strong> tend ê n ci a a falar<br />

sozinh o até às alucinaç õ e s . Esses sinto m a s , por um lado,<br />

arranc a m o afetad o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidian a, e por outro força m à luz<br />

<strong>da</strong> con s ci ê n ci a conteúd o s até entã o reprimido s. Suas<br />

m e n s a g e n s falam por si m e s m a s . Tend ê n ci a s reprimi<strong>da</strong>s e não<br />

viven ci ad a s aprov eita m o m o m e n t o favoráv el, o colap s o <strong>da</strong>s<br />

defe s a s por m ei o do violento abalo, para cha m a r a aten ç ã o<br />

21<br />

2


so br e si.<br />

Evidente m e n t e , os afetad o s se dep ar ar a m co m um limite<br />

definitivo, que eles não pod e m ultrapas s ar assi m se m m ais<br />

ne m m e n o s . Ao contrário, eles termin ar a m sen d o contundido s<br />

ao tentá- lo, precis a n d o aprend er nova m e n t e desd e o co m e ç o e<br />

progr e s siva m e n t e , co m o crianç a s , a ocup ar- se dos afaz er e s<br />

cotidian o s e a assu mir a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e so br e si m e s m o s . O<br />

sinto m a os atirou de volta ao nível <strong>da</strong> infância, m o stran d o co m<br />

isso a tend ê n ci a de regr e s s ã o dos afetad o s . Mas ele tam b é m<br />

ofer e c e a oportuni<strong>da</strong>d e de um novo co m e ç o . A audácia, que<br />

muitas vez e s levou ao s acid e nt e s , ve m muito a prop ó sito no<br />

âm bito aní mic o- espiritual.<br />

A tarefa de aprendiza g e m é viver e m sentido figurad o tudo<br />

aquilo pelo qual o corpo pas s o u. Dess a man eira, outros<br />

traum a s físico s se m e l h a nt e s torna m- se sup érfluo s. No cas o de<br />

uma qued a, trata- se de des m o n t ar do alto corc el e deixar- se<br />

co m o v e r e m sentido figurad o, viver a cora g e m de m o n s tr a d a<br />

fisica m e n t e no âm bito aní mic o- espiritual e, aqui, ous ar ain<strong>da</strong><br />

mais. É válido ad mitir a própria impotên ci a e per<strong>da</strong> de<br />

con s ci ê n ci a e por um a vez abdic ar <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e para<br />

voltar a assu mi- la pouc o a pouc o con s ci e nt e m e n t e . Na nova<br />

orienta ç ã o que se apres e nt a está a oportuni<strong>da</strong>d e de um nov o<br />

co m e ç o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde eu bloqu ei o co m o ç õ e s aní mic o- espiritual?<br />

2. De que ca minh o o acident e m e tirou?<br />

3. Onde eu de m o n s tr o a corag e m extern a e a prontidã o<br />

para o risco que me faltam interna m e n t e ?<br />

4. Onde eu m e eng a n ei, ou seja, ond e m e contundi? Onde<br />

minh a corrent e de vi<strong>da</strong> precis a de um a nova orienta ç ã o , um<br />

nov o co m e ç o ?<br />

5. A resp eito de que eu dev eria baixar a bola e pisar<br />

terren o que eu pos s a ver?<br />

6. Onde eu dev eria abdic ar <strong>da</strong> resp o n s a bili<strong>da</strong>d e exterior<br />

para assu mi- la interior m e nt e?<br />

21<br />

3


3. Meningite<br />

Na m e nin gite inflam a m - se as m e m b r a n a s que env olv e m<br />

protetor a m e n t e o cér e br o. Ela con stitui portanto um a guerra, no<br />

nível m ais elev a d o , contra as forças femininas de pres erv a ç ã o .<br />

Não é raro que o suc e s s o termin e afetan d o o cér e br o e se<br />

transfor m e e m um a meningo-encefalite. Tanto a m e nin g e<br />

m ol e (pía mater ) co m o a m e nin g e dura (dura mater ) são<br />

atingi<strong>da</strong> s. Várias bact érias, be m co m o vírus, pod e m participar<br />

<strong>da</strong> enc e n a ç ã o do conflito que se esta b el e c e ao redor <strong>da</strong> central<br />

de co m a n d o . Agente s infiltrado s e m pr e e n d e m um a violenta<br />

batalha contra o siste m a de defe s a do corp o que, co m o e m<br />

to<strong>da</strong> inflam a ç ã o , é travad a se m levar as per<strong>da</strong>s e m conta e<br />

co m as arm a s m ais pérfi<strong>da</strong>s. Neste cas o, trata- se certa m e n t e<br />

de um a guerra para salvar a própria cab e ç a , no sentido mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Os sinto m a s , ampla m e n t e subjetivo s e<br />

não- esp e cific o s, indica m que se trata de um quadr o m e n o s<br />

individual. Trata- se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> so br e viv ê n ci a e m si mes m a s .<br />

São principal m e nt e os rec é m - nas cid o s e as crianç a s<br />

pequ e n a s que são afetad o s pela do e n ç a primária, <strong>da</strong>nd o a<br />

impres s ã o de que ain<strong>da</strong> estã o lutando para sua entrad a<br />

definitiva nesta vi<strong>da</strong>. A cab e ç a , sup erdi m e n si o n a d a nes s a<br />

i<strong>da</strong>d e tão tenra, torna- se, pela se g un d a vez apó s o nas ci m e n t o<br />

o cen ário de um a luta que põ e e m perig o a própria vi<strong>da</strong>. Assim<br />

co m o um posicion a m e n t o transv er s al ante s do nas ci m e n t o<br />

indica que es s a crianç a está atrav e s s a d a e não participa co m<br />

tanta facili<strong>da</strong>d e do jogo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aqui tam b é m ganh a expres s ã o<br />

uma certa resistên ci a. A cab e ç a <strong>da</strong> crianç a, já e m si<br />

sup erdi m e n si o n a d a , incha ain<strong>da</strong> mais, já que a pres s ã o<br />

en c ef álica aum e nt a devid o ao maior influxo de água. A ma ci a<br />

m ol eira fica ab aulad a. A long o prazo, há a am e a ç a de uma<br />

hidroc efalia, trágic o sím b ol o <strong>da</strong> ultra- enfatizaç ã o do pólo<br />

ma s c ulino sup erior. Presu mir um proble m a de eg o ou de<br />

cab e ç a em um está gi o tão prec o c e , tal co m o en c arn a d o por um<br />

21<br />

4


"cab e ç a - dura", parec e que é ir long e de m ai s. Mas no ca m p o<br />

<strong>da</strong>s exp eriên ci a s co m a terapia <strong>da</strong> reen c ar n a ç ã o , incluído s o<br />

nas ci m e nt o rotineiro e as fas e s pré- natais, tais resistên ci a s tão<br />

prec o c e s e des e nt e n di m e n t o s agr e s siv o s quanto à entrad a na<br />

vi<strong>da</strong> que se apres e nt a são ab s oluta m e n t e cotidian a s.<br />

Simb olic a m e n t e , a crianç a ofer e c e m ais resistên ci a e m relaç ã o<br />

à nova vi<strong>da</strong> que e m relaç ã o à ob s c ur a m ã e primordial, de cujo<br />

útero ela ac a b a de liberar- se. Ela transfer e para o palco do<br />

corp o a luta contra as forças <strong>da</strong> mã e prim ordial que a quer e m<br />

reter. Hécate na mitolo gia greg a, Kali na indian a, es s a deus a<br />

san guin ária se vale de recurs o s típico s e m seu trabalh o. O<br />

influxo de líquido provo c a d o pela inflam a ç ã o pres si o n a o tenro<br />

cér e br o contra a dura pared e do crânio. Caso o os s o ain<strong>da</strong><br />

pos s a ced er, há a am e a ç a de hidro c ef alia, e cas o seja tarde<br />

de m ai s para isso, os tecido s do cér e br o são atingido s, co m<br />

con s e q ü ê n c i a s que vão de lesõ e s cer e br ais à debili<strong>da</strong>d e<br />

m e ntal.<br />

Ao contrário de outras inflam a ç õ e s que oc orr e m em esp a ç o s<br />

corp or ais que têm a cap a cid a d e de se expan dir, o acú m ul o de<br />

água que oc orr e e m qualqu er proc e s s o inflam at ório<br />

des e m p e n h a aqui um pap el tão desta c a d o porqu e, co m a<br />

i<strong>da</strong>d e, o duro crânio esta b el e c e fronteiras rígi<strong>da</strong>s que não<br />

ced e m co m a pres s ã o . O e m b at e entre o volu m e cres c e n t e de<br />

água, que exerc e pres s ã o so br e o cér e br o e ao m e s m o temp o<br />

o co m pri m e , e a resistên ci a ofer e cid a pelo s oss o s do crânio, é<br />

viven ci ad o pelo pacient e co m o dor de cab e ç a .<br />

Em adultos, o sinto m a surg e principal m e nt e co no do e n ç a<br />

secun d ária. Quando, por exe m pl o, um a tuberculo s e se esten d e<br />

pelas m e nin g e s , a luta fun<strong>da</strong> m e n t al sofre um a es c al a d a ao<br />

nível m ais alto e transfor m a- se e m luta pela so br e viv ê n ci a. Nos<br />

último s ano s pas s o u- se a falar <strong>da</strong> m e nin g o- enc efalite co m o<br />

uma perig o s a co m plic a ç ã o e m cas o s de ze ck e n bi s s e n<br />

(traduç ã o ao pé <strong>da</strong> letra, “picad a de carrap ato”), tend o feito<br />

co m que muitas pes s o a s perd e s s e m o go sto pela naturez a. Os<br />

minús c ulo s parasitas sug a d o r e s de san g u e , inofen siv o s há até<br />

algu m a s déc a d a s , pod eria m ser vistos co m o a pérfi<strong>da</strong> resp o st a<br />

21<br />

5


<strong>da</strong> naturez a às violaç õ e s que sofre. A Mãe Natureza faz co m<br />

que sinta m o s seu pod er, já que dispõ e de bilhõ e s des s a s<br />

pequ e n a s tropas na terra, na água e no ar e pod e,<br />

apar e nt e m e n t e , despr o v ê - las de seu caráter inofen siv o a seu<br />

bel- prazer, transfor m a n d o - os e m inimig o s do ser hum a n o .<br />

Os sinto m a s <strong>da</strong> m e nin gite gira m ao redor <strong>da</strong> cab e ç a e suas<br />

dore s, sen d o afetad a s tam b é m as m e m b r a n a s <strong>da</strong> m e d ul a,<br />

surgind o freqü e nt e m e n t e mal e s se m e l h a nt e s ao s <strong>da</strong> gripe. No<br />

que se refer e ao s sinto m a s gerais surg e, por um lado,<br />

irritabili<strong>da</strong>d e, e por outro, falta de motiva ç ã o que ch e g a à apatia<br />

e à son ol ê n ci a. A irritabili<strong>da</strong>d e explicita a agre s siv a situaç ã o<br />

básic a e m que o corp o se en c o ntra, freqü e nt e m e n t e ilustra<strong>da</strong><br />

pelo cha m a d o opistóton o , o ergui m e nt o do pacient e en quant o<br />

está deitad o. O pacient e é sacudid o, co m o se um a grand e<br />

força quis e s s e des p ertá- lo para que lute pela vi<strong>da</strong>. A mandí b ula<br />

travad a m o stra a incap a cid a d e de se defen d e r e revi<strong>da</strong>r. O<br />

m e c a ni s m o de agre s s ã o repres e nt a d o pela m andí b ula está<br />

paralisad o no mais alto nível de tens ã o . A hipers e n si bili<strong>da</strong>d e,<br />

cha m a d a de hiper e st e si a, deixa entrev er co m o a pele, e m seu<br />

pap el de fronteira extern a, está irrita<strong>da</strong>. Enquanto a batalha é<br />

travad a ao redor do es cu d o protetor do cér e br o, no mais alto<br />

nível <strong>da</strong> cab e ç a , a ca m a d a protetora do corp o está no míni m o<br />

e m estad o alerta máxi m o .<br />

Por outro lado, sinto m a s co m o a apatia m o stra m quã o pouc o<br />

os pacient e s estã o dispo sto s a conduzir con s ci e nt e m e n t e a luta<br />

pela sua própria vi<strong>da</strong>. Ao contrário, a son ol ê n ci a de m o n s tr a, no<br />

mais profund o sentido, co m o eles pas s a m a própria vi<strong>da</strong><br />

dor mind o. O son o, co m o irmã o caçula <strong>da</strong> m orte, parec e levar a<br />

m elh or e m relaç ã o ao s esforç o s de libertaç ã o <strong>da</strong> m ã e<br />

primordial. A cab e ç a , capital do corpo, precis a deitar- se, e o<br />

cér e br o , seu co m a n d o central, am e a ç a voltar a m er g ulhar nas<br />

águas do mar prim ordial. A total falta de ap etite indica que o<br />

afetad o perd eu ou nunc a teve ap etite pela vi<strong>da</strong>, e talvez<br />

tam b é m quã o pouc o sab or o s a é a atual situaç ã o de sua vi<strong>da</strong>.<br />

Os delírios disp en s a m interpreta ç õ e s , expr e s s a n d o de m an eira<br />

muito direta a tem átic a incon s ci e nt e que até entã o ficara para<br />

21<br />

6


trás. A quali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s torturantes dore s de cab e ç a vão do<br />

latejar e <strong>da</strong>s pontad a s até a sen s a ç ã o de que a cab e ç a vai<br />

rach ar. Elas quas e se m pr e são de um a intensi<strong>da</strong>d e tal que os<br />

pacient e s ach a m que não vão pod er agü e ntá- las e tem e m<br />

pere c er devid o a elas. Parec e que a cab e ç a vai explodir.<br />

Tal am e a ç a surg e quan d o o proprietário adiou por um temp o<br />

de m a s i a d o long o ou nunc a estev e dispo sto a con quistar seu<br />

esp a ç o vital, m o strand o co m o este ficou estreito. Isso é válido<br />

tam b é m para os rec é m - nas cid o s , que têm de decidir entre a<br />

vi<strong>da</strong> neste mun d o ou o reto m o à Grande Mãe. O esp et á c ul o<br />

infernal no co m a n d o central sup erior reflete a situaç ã o não<br />

ad miti<strong>da</strong> <strong>da</strong> con s ci ê n ci a. A expr e s s ã o "eu pod eria arreb e nt ar<br />

de..." a explicita. Muitos pacient e s têm real m e nt e a sen s a ç ã o<br />

de que seus crânio s vão rachar a qualqu er m o m e n t o , de que a<br />

cab e ç a tem de se abrir para cim a de m an eir a a livrar- se <strong>da</strong><br />

insuportáv el pres s ã o . De fato, aqui já estã o refleti<strong>da</strong>s as<br />

alternativas do pacient e. eles pod e m es c a p ar para cim a e<br />

ab and o n a r o corpo ou ven c er a es cur a e es m a g a d o r a torrente<br />

e livrar- se de seu cerc o. O dec orr er <strong>da</strong> sinto m átic a m o stra as<br />

derrota s que se estã o prepar and o na guerra pela autoafirma<br />

ç ã o . Os paci ent e s não têm con diç õ e s de mant er a<br />

cab e ç a alta e dev e m deitar- se ou, de algu m a m an eira, prostrar<br />

o corp o. No cha m a d o opistóto n o , a hiper exten s ã o <strong>da</strong> coluna<br />

vertebr al, eles certa m e n t e enc arn a m um a última reb eliã o.<br />

Curvar ain<strong>da</strong> que minim a m e n t e a cab e ç a ou o joelho lhes é<br />

dolor o s o . Eles entã o per m a n e c e m deitad o s co m a cab e ç a<br />

enterrad a no pes c o ç o , o queixo esticad o para cim a,<br />

ator m e nt a d o s , ma s ain<strong>da</strong> assi m arrog a nt e s . A postura revela<br />

pouc a humil<strong>da</strong>d e e a inflam a ç ã o , quã o pouc o eles por outro<br />

lado estã o prepar ad o s para lutar con s ci e nt e m e n t e . Seu olhar<br />

dirige- se para cim a, para o teatro <strong>da</strong> guerra ou, por cim a dele,<br />

para o céu, para aqu el e âm bito e m direç ã o ao qual eles<br />

am e a ç a m es c a p ar. Há uma bo a chan c e para sua vi<strong>da</strong> a partir<br />

do mo m e n t o e m que eles decid e m lutar por ela. Som e nt e entã o<br />

a luta física pod e es m o r e c e r .<br />

O sinto m a está ass o ci a d o a febres altas, que m o stra m co m o<br />

21<br />

7


neste conflito se está jogan d o tudo e teve lugar um a<br />

m o bilizaç ã o geral. A cap a cid a d e de defe s a do organis m o m ais<br />

que duplica a cad a grau de febre, en q u a nt o a apatia aní mic a<br />

aum e nt a. Os pen s a m e n t o s co m e ç a m a se torc er, che g a n d o a<br />

delírios febris, e não é raro que os pacient e s viven ci e m sua luta<br />

infernal co m o se estives s e m no cine m a , ilustra<strong>da</strong> por imag e n s<br />

interna s de um a força sim b ólic a impre s si o n a nt e. Protegid o s por<br />

este velar <strong>da</strong> con s ci ê n ci a, eles pod e m ob s ervar co m<br />

distancia m e n t o interno aquilo que lhes seria insup ortáv el e m<br />

seu estad o de con s ci ê n ci a nor m al.<br />

Sinto m a s co m o a pres s ã o cer e br al au m e nt a d a m o stra m as<br />

tens õ e s a que a central está sen d o sub m e tid a e co m o sua<br />

co m u nic a ç ã o apres e nt a- se ab afad a. Nem os adultos ne m os<br />

pequ e n o s pacient e s pod e m impor- se e <strong>da</strong>r aten ç ã o a suas<br />

vontad e s . Segund o o padrã o, to<strong>da</strong> inflam a ç ã o leva a incha ç o s<br />

devido ao influxo de água dos tecido s, só que aqui não há<br />

saí<strong>da</strong> para o fluxo de água. Nos adultos des e n v olv e m - se as<br />

cha m a d a s papilas con g e s tio n a d a s , um a incha ç ã o no ponto de<br />

saí<strong>da</strong> do nervo óptico na retina do olho, o que e m cas o s<br />

extre m o s leva à ce g u eira pelo estran g ula m e n t o do nervo<br />

óptico. Nos be b ê s , a m ol eira, um a regiã o na parte anterior do<br />

crânio que ain<strong>da</strong> não está rec o b e rta por oss o s , torna- se<br />

ab o b a d a d a . As am e a ç a d o r a s co m plica ç õ e s são o ed e m a<br />

cer e br al no prim eiro cas o , e a hidroc efalia no segun d o . No<br />

bra mir <strong>da</strong> guerra, tanto relativo à alm a (água) ficou pelo<br />

ca min h o que am e a ç a sufoc ar as estruturas centrais de<br />

co m u nic a ç ã o . De form a se m e l h a nt e a co m o as m e nin g e s<br />

previstas co m o prote ç ã o transfor m a m - se e m am e a ç a , o líquido<br />

en c ef álic o tam b é m se conv ert e e m um perig o. Condicion a d o<br />

pela inflam a ç ã o , ele au m e nt a cad a vez mais e literalm e nt e<br />

espr e m e o cér e br o.<br />

Quando a guerra se alastra <strong>da</strong> m e nin g e protetor a para a<br />

própria mat éria enc efálica, so b a form a de inflamação<br />

cerebral ou encefalite, repres e nt a quas e se m pr e um a luta de<br />

vi<strong>da</strong> ou m orte. O objetivo final desta guerra é a coro a <strong>da</strong><br />

criaç ã o , o cér e br o. As baixas m ais ou m e n o s elev a d a s<br />

21<br />

8


apo nta m para a direç ã o am e a ç a d o r a . A turvaç ã o m e ntal, que<br />

ch e g a à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> con s ci ê n ci a, já confronta o afetad o co m a<br />

sen s a ç ã o de ser ou não ser Ness e estági o, a ligaç ã o co m o<br />

corp o tom a- se m ais frouxa e há fas e s e m que a con s ci ê n ci a<br />

pod e liberar- se do corp o. Essa guerra pod e destruir a bas e de<br />

co m u nic a ç õ e s e deixar baixas atrás de si.<br />

No que se refer e às m e nin g e s , trata- se <strong>da</strong> proteç ã o <strong>da</strong> bas e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, en qu a nt o co m o fluxo cres c e n t e de liquor e o cér e br o<br />

que recua tem o s a luta <strong>da</strong>s polari<strong>da</strong>d e s . De um lado a m at ériaprima<br />

de nos s o intelecto, do outro a feminina água (<strong>da</strong><br />

inflam a ç ã o). Em to<strong>da</strong> s as fas e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, trata- se aqui de<br />

en c o ntrar o único rem é di o co m o qual a vi<strong>da</strong> é co m p atív el. O<br />

sinto m a m o stra e m prim eiro lugar co m o o muro protetor ao<br />

redor do centro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é inse g ur o e disputad o e, e m segun d o<br />

lugar, que se atingiu um ponto de des e q uilíbrio entre as<br />

en er gi a s feminin o- aquátic a s e as ma s c ulin o- fogo s a s . A guerra<br />

cand e nt e pelo do mí ni o do corp o bra m e , por um lado, entre<br />

ag e nt e s caus a d o r e s e defe s a, e por outro entre as en er gi a s<br />

regr e s sivas <strong>da</strong> es cur a m ã e e as lumino s a s en er gias m e ntais,<br />

cujo ímp et o as leva m para diante e para cim a.<br />

Nos adultos, o aum e nt o do influxo de líquido é<br />

freqü e nt e m e n t e um a co m p e n s a ç ã o para um a situaç ã o<br />

aní mic o- espiritual invers a, um intelecto sec o e do min a nt e.<br />

Neste sentido, a tarefa de liberaç ã o estaria e m um<br />

“pens a m e n t o sen sív el” que ligas s e a en er gi a feminin o- aquátic a<br />

do sentim e nt o co m a se c a espirituali<strong>da</strong>d e do intelecto<br />

pen s a nt e. Em rec é m - nas cid o s , a interpreta ç ã o natural é a que<br />

vê o aum e nt o de líquido co m o sen d o a repres e nt a ç ã o <strong>da</strong> luta<br />

primordial entre o es c ur o reino <strong>da</strong>s mã e s e as am bi ci o s a s<br />

en er gi a s espirituais. De ac ord o co m nos s a naturez a, polarizad a<br />

para a so br e viv ê n ci a, apoia m o s o ardent e e febril lado<br />

ma s c ulino que ans ei a por um a soluç ã o e des ej a m o s ao s<br />

rec é m - nas cid o s que e m pr e e n d a m uma luta enc arniç a d a contra<br />

as forças es c ura s e ven ç a m .<br />

Destac a- se nos sinto m a s um a dupla tarefa de aprendizad o<br />

para os adultos. As m ortais dore s de cab e ç a , e m que pare c e<br />

21<br />

9


que a cab e ç a vai arreb e nt ar, expres s a m a inco m p atibili<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong>s soluç õ e s . Por um lado, as en er gi a s femininas quer e m<br />

saltar para a vi<strong>da</strong> co m o au m e nt o do fluxo de líquido en c ef álic o.<br />

Por outro lado, o agr e s siv o- m a s c ulin o impõ e- se ain<strong>da</strong> mais.<br />

Trata- se de travar a guerra na instân cia mais alta, de explodir<br />

ond e é nec e s s á ri o, de resp o n d e r pelo próprio ca min h o , de<br />

assu mir aquilo que nos oprim e. Trata- se naturalm e nt e <strong>da</strong> água<br />

feminina, que oprim e o afetad o de man eira muito con cr et a. A<br />

hiper ext en s ã o <strong>da</strong>s costa s expres s a a exig ê n ci a de aprum ar- se,<br />

de des e n v olv er o orgulho e a con s ci ê n ci a de si m e s m o e olhar<br />

para a frente. No que a isso se refer e, pouc a s cois a s são tão<br />

apropriad a s co m o os impuls o s dos próprios pen s a m e n t o s e<br />

seu livre fluxo criativo, tal co m o se dá de form a não redimi<strong>da</strong><br />

nas fantasias dos delírios febris. A mistura de pen s a m e n t o s ,<br />

imag e n s , e m o ç õ e s e sen s a ç õ e s reivindica seu direito à vi<strong>da</strong><br />

con s ci e nt e.<br />

"A guerra é o pai de to<strong>da</strong>s as cois a s" se gund o a formulaç ã o<br />

de Heráclito. Ele evid e nt e m e n t e tinha e m m e nt e o deus <strong>da</strong><br />

guerra, Marte, e seu principio primordial. Exige- se do pacient e<br />

co m m e nin gite ou en c ef alite que faça valer e m sua vi<strong>da</strong> es s e<br />

con h e ci m e n t o ime m o ri al. Marte repres e nt a to<strong>da</strong>s as form a s de<br />

en er gi a e pod e ser liberad o , por exe m pl o, por mei o <strong>da</strong> cora g e m<br />

e de uma postura dinâ mi c a. Aqui seria o cas o de ter a corag e m<br />

para assu mir os prim eiros pas s o s que se dá na vi<strong>da</strong> e de<br />

defend er co m ferro e fogo os ideais que <strong>da</strong>í surg e m . Abor<strong>da</strong>r<br />

inflam a d a m e n t e os tem a s centrais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m vez de per mitir<br />

uma guerra infernal na central. Melhor es qu e nt ar o inferno do<br />

entorn o que fazer <strong>da</strong> cab e ç a palc o para um a cand e nt e guerra<br />

infernal. E é m elh or abrir- se para os tem a s cand e nt e s , excitarse<br />

interna m e n t e e até m e s m o deixar- se provo c ar que abrir- se<br />

para ag e nt e s caus a d o r e s perigo s o s , deixar seu órg ã o central<br />

ser provo c a d o por eles e transfor m á- lo e m ca m p o de batalha.<br />

Em qualqu er cas o, a luta é e m torno de estruturas centrais e o<br />

objetivo é o todo.<br />

To<strong>da</strong> s as cois a s, entretanto, precis a m de uma mã e, que<br />

pod e m o s rec o n h e c e r facilm e nt e na grand e deus a que do a to<strong>da</strong><br />

22<br />

0


a vi<strong>da</strong> e que um dia a recla m ar á de volta. Sem dúvi<strong>da</strong>, é<br />

precis o levar e m conta seu pod er feminin o e m nos s a s vi<strong>da</strong>s,<br />

cas o contrário ela au m e nt ar á seus fluxos ou enc o ntrar á outros<br />

m ei o s de obter resp eito e rec o n h e c i m e n t o para si. Mãe e pai<br />

dev e m estar juntos, e no cas o <strong>da</strong> m e nin g o e n c e f alite trata- se<br />

muito esp e ci al m e n t e de unir es s a s polari<strong>da</strong>d e s fun<strong>da</strong> m e n t ai s<br />

na própria vi<strong>da</strong>: pod e ser um a luta cand e nt e e totalm e nt e<br />

intelectual pelo próprio mun d o feminino dos sentim e nt o s ou o<br />

des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong>qu el e pen s a m e n t o sen sív el que se<br />

en c o ntra no m ei o, entre a mã e e o pai, e que faz justiça a<br />

am b o s . Finalm e nt e, e não so m e n t e co m os rec é m - nas cid o s ,<br />

ma s tam b é m co m os adultos, trata- se ain<strong>da</strong> de um novo<br />

nas ci m e nt o , e este é se m pr e um a sep ar a ç ã o entre as en er gias<br />

feminina s con s erv a d o r a s e as progr e s siva s en er gias<br />

ma s c ulina s. E aqui m o stra- se entã o tam b é m a soluç ã o que<br />

dev e levar à vitória <strong>da</strong>s en er gi a s lumino s a s so br e a es c uridã o.<br />

O ventre m at ern o dev e ser finalm e nt e ab and o n a d o , não<br />

neg a n d o suas reivindica ç õ e s , m a s atend e n d o - as e m um nível<br />

mais elev a d o .<br />

P er g u nta s 47<br />

1. Que pas s o s na vi<strong>da</strong> tenh o por diante? Onde tenh o de<br />

deixar para trás o feminino primordial para des c o b ri- lo e m<br />

nov o s níveis?<br />

2. Que conflito de vi<strong>da</strong> ou m orte eu recus ei?<br />

3. Que tem a relacio n a d o ao s senti m e nt o s m e colo c a so b<br />

pres s ã o e am e a ç a explodir o centro de m e u s pens a m e n t o s ?<br />

4. Até que ponto estou prepar ad o para ir con s ci e nt e m e n t e<br />

atrás do todo e lutar por ele? Poss o ver nele tam b é m o<br />

feminin o- sentim e nt al?<br />

5. Em que estou fun<strong>da</strong> m e n t a d o ? Sofro de teim o si a ou de<br />

pes o na cab e ç a ?<br />

6. Até que ponto pos s o e m pin ar minha espinh a, ergu er a<br />

cab e ç a e se guir m eu ca minh o ?<br />

7. Ain<strong>da</strong> tenh o entusias m o suficiente para, co m to<strong>da</strong> a<br />

en er gi a, assu mir a realizaç ã o de meu son h o de vi<strong>da</strong>?<br />

22<br />

1


4. Sintomas neurológicos<br />

Ao contrario dos sinto m a s de mal e s nervo s o s , a orige m aqui<br />

está e m modifica ç õ e s con cr et a s dos nervo s. Diferente m e n t e <strong>da</strong><br />

contus ã o cer e br al ou <strong>da</strong> m e nin gite, eles são de naturez a<br />

crônic a. Neste ponto, dev e- se con cluir que as perturba ç õ e s são<br />

mais profun<strong>da</strong> s e já vê m durand o mais tem p o . Além dos<br />

grand e s sinto m a s , a es cl er o s e múltipla e a epilep sia, é pos sív el<br />

diferen ciar dois sub grup o s : as perturb a ç õ e s <strong>da</strong> cha m a d a via<br />

piramid al, resp o n s á v e l pela co ord e n a ç ã o dos m o vi m e n t o s<br />

sub ordin a d o s à vontad e , e as perturb a ç õ e s <strong>da</strong>s vias<br />

extrapira mid ais. Sendo uma estrutura abran g e nt e, a via<br />

piramid al é resp o n s á v el tam b é m pela inibiçã o dos reflexo s<br />

mus c ular e s e pela reduç ã o de seu estad o de tens ã o . Dess a<br />

man eira ela, des d e cim a, m ant é m so b control e a vi<strong>da</strong> própria<br />

dos mús c ul o s. Caso haja um a interrupç ã o <strong>da</strong> via pirami<strong>da</strong>l,<br />

es s a inibiçã o des a p ar e c e e surg e m paralisias esp á stic a s. A<br />

maior parte <strong>da</strong>s fibras nervo s a s <strong>da</strong> via pirami<strong>da</strong>l cruza para o<br />

lado opo st o na altura <strong>da</strong> bas e do crânio. Por es s a razã o,<br />

perturba ç õ e s circulatórias ou co á g ul o s que oc orr e m e m seu<br />

âm bito, co m o e m um derra m e , por exe m pl o, caus a m<br />

probl e m a s no lado opo st o.<br />

O cha m a d o siste m a extrapira mid al é resp o n s á v el pela<br />

regulaç ã o <strong>da</strong> tens ã o dos mús c ul o s, por m o vi m e n t o s<br />

involuntários e co ord e n a d o s , pela regulaç ã o do equilíbrio e <strong>da</strong><br />

postura corp or al. Em cas o s de perturb a ç õ e s , pod e- se destac ar<br />

dois sub grup o s :<br />

a) As síndro m e s rígido- hipocin étic a s, que leva m à<br />

diminuiçã o dos m o vi m e nt o s e à rigidez, co m o por exe m pl o o<br />

mal de Parkins o n;<br />

b) As síndro m e s hipercin étic a s, co m seus padrõ e s<br />

caract erístico s de m o vi m e n t o s incontroláv ei s. Pode- se<br />

m e n ci o n ar aqui a cor éia e dois sinto m a s raros: a ateto s e , co m<br />

22<br />

2


contorç õ e s se m el h a nt e s às de um ver m e , e o balis m o , co m<br />

seus movi m e n t o s giratórios.<br />

Mal de Parkinson<br />

A do e n ç a de Parkins o n é o sinto m a neuroló gic o mais<br />

freqü e nt e <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e avan ç a d a . Afeta<strong>da</strong> s são as vias<br />

extrapira mid ais, que trabalha m indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong><br />

vontad e . Segund o foi co m pr o v a d o pela m e di cin a, trata- se <strong>da</strong><br />

deficiên cia de um a sub stân ci a trans mi s s o r a entre as con e x õ e s<br />

nervo s a s adren er g ê ni c a s , o neurotran s m i s s o r cha m a d o de<br />

dop a mi n a, no centro do cér e br o. Trata- se portanto de uma<br />

deficiên cia no pólo m a s c ulin o do siste m a nervo s o central. A<br />

con s e q ü ê n c i a é uma so br e c ar g a do pólo opo st o, do cha m a d o<br />

siste m a colinérgic o, que é atribuído ao pólo feminino.<br />

Os sinto m a s resultante s traça m um quadr o nítido e m que<br />

logo cha m a m a aten ç ã o a má s c ar a inexpres siva do rosto e a<br />

rigidez geral. Todo s os m o vi m e n t o s tom a m - se mais lentos, e<br />

estã o aus e nt e s os m o vi m e n t o s secun d ário s tais co m o o<br />

balan ç o dos braç o s quan d o se ca min h a. A fala é baixa<br />

entrec ortad a e m o n ót o n a . O típico trem or, que se manife sta<br />

esp e ci al m e n t e quan d o o pacient e está imóv el, contrasta co m a<br />

pobr ez a de m o vi m e nt o s . Assim que o paci ent e exe c uta um<br />

m o vi m e nt o e m direç ã o a um objetivo o trem or diminui ou ces s a<br />

co m pl et a m e n t e . O ca min h ar se dá, de m an eira caract erística,<br />

por mei o de pas s o s curtos e arrastad o s , o tronc o parec e quer er<br />

adiantar- se à parte inferior do corpo, o que form a um a<br />

tend ê n ci a de precipitar- se para diante e para o lado. A<br />

tend ê n ci a <strong>da</strong>s perna s de falhar inteira m e nt e de m an eir a<br />

abrupta reforç a o perigo e, co m o os outros sinto m a s , não pod e<br />

ser influen ciad o voluntaria m e n t e. To<strong>da</strong> a postura do pacient e é<br />

inclinad a, co m o a de algu é m curvad o, se não ab atido, pelo<br />

destino. Até m e s m o a caligrafia assu m e es s a form a, as linhas<br />

caind o para a direita e para baixo, as letras dentro <strong>da</strong>s linhas<br />

tornan d o- se cad a vez m e n o r e s , de tal m an eira que a m e di cin a<br />

fala de micro gr afia. Som a m - se a isso sinto m a s veg et ativo s tais<br />

22<br />

3


co m o salivaç ã o , surtos de suor e, ligado a isso, a típica "cara<br />

en g ordur a d a". Obs erv a m - se ain<strong>da</strong> perturb a ç õ e s <strong>da</strong> pele e um<br />

arrefe ci m e n t o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e sexual. No âm bito aní mic o, há um a<br />

oscilaç ã o entre a bo a dispo siç ã o e fase s melan c ólic a s .<br />

O sinto m a pratica m e n t e só surg e na i<strong>da</strong>d e avan ç a d a e<br />

esp e ci al m e n t e e m ho m e n s que vivera m suas vi<strong>da</strong>s de m an eira<br />

muito ativa e so b grand e s exig ê n ci a s, de prefer ê n ci a entre<br />

intelectuais. A m e dicin a diferen cia várias form a s, e m que a<br />

história <strong>da</strong> gên e s e <strong>da</strong> variante m ais freqü e nt e, o cha m a d o<br />

parkins o nis m o primário, tam b é m cha m a d o de Paraly si s<br />

agitan s, não tem explicaç ã o . O no m e "paralisia agitad a" deixa<br />

be m claro qual é o dile m a do afetad o: atrav é s <strong>da</strong> paralisia, seu<br />

co m pr o m i s s o nervo s o perd e o significad o. Há ain<strong>da</strong> os grupos<br />

m e n o r e s <strong>da</strong> síndro m e de Parkins o n secun d ária, que surg e m a<br />

partir de um a es cl er o s e cer e br al, de um a intoxica ç ã o , apó s<br />

uma enc efalite ou provo c a d a de man eira m e dic a m e n t o s a<br />

atrav é s de neurol éptic o s 48 . Uma variante m ais rara é a do e n ç a<br />

dos box e a d o r e s , evident e m e n t e provo c a d a pelas num er o s a s<br />

"co m o ç õ e s cer e br ais", tal co m o a que atingiu o ex- ca m p e ã o<br />

mundial dos pes o s pes a d o s Muham m e d Ali.<br />

Seguind o o lem a "a do e n ç a m o stra so m b r a s ", pod e- se<br />

con cluir que os afetad o s não vê e m a rigidez e m sua expres s ã o<br />

e e m seus m o vi m e n t o s por muito tem p o , até que o corp o faz<br />

co m que não pos s a m deixar de ser vistos. Eles vive m co m o se<br />

estive s s e m paralisad o s de susto, se m ad miti- lo para si<br />

m e s m o s . Eles não m o v e m um só mús c ul o <strong>da</strong> face. A m e di cin a<br />

fala de "ami mi a", a aus ê n ci a total <strong>da</strong> expres s ã o natural do<br />

rosto. O pacient e evident e m e n t e apren d e u a não per mitir que<br />

se note qualqu er reaç ã o sen sív el. Seu rosto con g el o u- se e m<br />

uma má s c ar a que, e m muitos asp e ct o s , lem br a uma má s c ar a<br />

m ortuária. Quando a isso se so m a a rigidez <strong>da</strong> parte sup erior<br />

do corp o, niti<strong>da</strong> m e nt e aproxim a n d o - se do típico rigor, tem o s a<br />

impres s ã o de estar diante de um m orto e m vi<strong>da</strong>, de um zum bi.<br />

Pelo m e n o s a reduç ã o de todo s os m o vi m e nt o s que<br />

ac o m p a n h a m a vi<strong>da</strong> natural deixa claro um des e n v olvi m e nt o<br />

e m direç ã o ao rigor mortis.<br />

22<br />

4


Rigidez cad a v éric a e m vi<strong>da</strong> - no cas o do estadista chin ê s<br />

Mao Tsé- Tung, es s a imag e m de horror tornou- se uma<br />

reali<strong>da</strong>d e ma c a b r a, sen d o transfor m a d o no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m um<br />

m o n u m e n t o político vivo pelo s que o cerc a v a m . Conden a d o à<br />

total imo bili<strong>da</strong>d e pelo m al de Parkins o n, ele ao final não podia<br />

ne m m e s m o falar. Mas m e s m o co m o estátua viva ele<br />

continuav a deter min a n d o a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> China, pres e nt e co m o<br />

m o d el o e m to<strong>da</strong> s as partes e e m to<strong>da</strong>s as bo c a s , ain<strong>da</strong> que<br />

sua bo c a há muito expr e s s a s s e so m e n t e a mud e z naqu el a<br />

posiç ã o ligeira m e n t e ab erta que é típica nos pacient e s do mal<br />

de Parkins o n.<br />

Além <strong>da</strong> voz que vai pouc o a pouc o falhand o , outras funçõ e s<br />

do corp o deixa m claro que se trata de um declínio, que as<br />

forças estã o sumind o. Pode- se m e n ci o n ar aqui a tend ê n ci a de<br />

precipitar- se para a frente, que se reflete tam b é m na es crita.<br />

Juntam e nt e co m a paralisia que tem por objetivo a m orte,<br />

expr e s s a - se ain<strong>da</strong> no sinto m a um m e d o profund o, que do min a<br />

o pacient e assi m que ele se con g el a na imo bili<strong>da</strong>d e . Eles não<br />

trem e m de um a man eira sen sív el, co m o folhas ao vento, são<br />

m o vi m e nt o s violento s. Esse trem or gros s eir o, co m o foi dito,<br />

so m e n t e diminui quan d o eles e m pr e e n d e m algu m a ativi<strong>da</strong>d e.<br />

Totalm e nt e rígido e inexpres siv o na cab e ç a e no corp o, os<br />

m o vi m e nt o s trêmul o s m o stra m co m o a inativi<strong>da</strong>d e é<br />

angustiante e probl e m a tic a m e n t e se m sentido. Aqui está a raiz<br />

para o no m e “paralisia trêmula”. Realm e nt e paralisad o e<br />

imóv el, é o m e d o que ain<strong>da</strong> busc a o m o vi m e n t o . É notáv el<br />

tratar- se e m sua maioria de pes s o a s que se impõ e a exig ê n ci a<br />

de m o v er algo no mun d o . O sinto m a m o stra a elas quã o pouc o<br />

elas se põ e m e m m o vi m e n t o e m sua reali<strong>da</strong>d e interna, e m<br />

co m p ar a ç ã o co m suas exig ê n ci a s , e so br etud o quã o pouc o<br />

m o vi m e nt a d a é sua vi<strong>da</strong> aní mic a, cuja rigidez e paralisia estã o<br />

ag or a enc arn a d a s . Além do m e d o , manifesta- se no trem or um a<br />

certa co m o ç ã o , e m que os pacient e s pod e m ser tam b é m<br />

totalm e nt e tom a d o s pelo m e d o . Ness e contexto, é intere s s a nt e<br />

lem br ar que o estudios o de psico s s o m á ti c a Georg Grodd e c k<br />

ob s erv o u um au m e nt o <strong>da</strong> incidên ci a de epilep sia durante os<br />

22<br />

5


ano s <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial.<br />

Coloc a- se a que stã o : por que es s a pes s o a é sacudi<strong>da</strong>, ou<br />

por que ela se sac o d e ? Nós, por exe m pl o, nos sacudi m o s<br />

involuntaria m e n t e quan d o saí m o s <strong>da</strong> água fria, para livrar- nos<br />

do frio e <strong>da</strong> umi<strong>da</strong>d e . Tre m e - se de m e d o e des s a man eira, por<br />

exe m pl o, tenta- se sacudir para long e de si a m orte próxim a ou<br />

outros pers e g uid or e s . Às vez e s trem e- se de horror, apó s ter- se<br />

viven ci ad o algo corresp o n d e n t e . Os afetad o s quer e m , evident e<br />

e incon s ci e nt e m e n t e , sacudir de si e livrar- se de algo que eles<br />

transfor m a m e m angú stia e m e d o . A princípio eles trem e m , no<br />

final eles se vê e m paralisad o s . Estu<strong>da</strong>nd o a história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

dos pacient e s de Parkins o n, tem- se a impre s s ã o de que eles<br />

quer e m livrar- se é <strong>da</strong> exp eriên ci a de sua própria reali<strong>da</strong>d e .<br />

Seus corpo s inertes e seu entorn o igualm e nt e inerte pare c e m -<br />

lhes ab s oluta m e n t e importun o s. Impõ e- se nova m e n t e a<br />

imag e m do "Presid e nt e Mao", que um a e outra vez viu<br />

naufrag ar seus grand e s e ous a d o s pen s a m e n t o s nas inertes<br />

ma s s a s <strong>da</strong> China.<br />

A paralisia co m o o opo st o de ser sacudid o é so m e n t e<br />

apar e nt e. Ela faz co m que o afetad o se torne con s ci e nt e de<br />

quã o imóv ei s e inflexíveis eles são no fundo de suas alm a s ,<br />

ape s ar de to<strong>da</strong> s as cois a s impre s si o n a nt e s que eles se m pr e se<br />

esforç ar a m por colo c ar e m m o vi m e nt o . O corp o os força ao<br />

con h e ci m e n t o de que são incap az e s de a<strong>da</strong>ptar- se às<br />

transfor m a ç õ e s m ais nec e s s á ri a s para a vi<strong>da</strong>. Quando ating e a<br />

respiraç ã o , a paralisia torna- se a caus a <strong>da</strong> m orte. A respiraç ã o<br />

paralisad a en c arn a a co m u nic a ç ã o paralisad a e m um duplo<br />

sentido já que, dep ois <strong>da</strong> pele, os pulm õ e s são nos s o segun d o<br />

órg ã o de co m u nic a ç ã o . Eles são resp o n s á v ei s pela ad mi s s ã o<br />

de en er gi a. Tenh a m o s e m vista o oxig êni o resp o n s á v e l pelo s<br />

proc e s s o s de oxi<strong>da</strong>ç ã o nec e s s á ri o s para a vi<strong>da</strong> ou, segun d o a<br />

con c e p ç ã o oriental, o prana, a en er gia vital: e m am b o s os<br />

cas o s a provis ã o de en er gia paralisa- se co m a paralisia <strong>da</strong><br />

respiraç ã o . O sinto m a deixa claro que não há mais nenhu m a<br />

en er gi a vital entrand o no corp o. A linguag e m está<br />

estreita m e n t e liga<strong>da</strong> ao s pulm õ e s co m o órgã o s de<br />

22<br />

6


co m u nic a ç ã o , já que ela se bas ei a na m o dulaç ã o do fluxo de ar<br />

expira do. Os proble m a s de lingua g e m que vão aum e nt a n d o<br />

co m a evoluç ã o <strong>da</strong> do e n ç a reflete m igual m e nt e a perturb a ç ã o<br />

<strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o . A voz não so m e n t e se tom a mais fraca, ma s<br />

tam b é m entrec orta d a. Quando as palavra s não estã o m ais<br />

liga<strong>da</strong> s, des c o n e c t a m - se de seu cont eú d o e a co m u ni c a ç ã o já<br />

não esta b el e c e mais nenhu m tipo de co m u nid a d e .<br />

O outro órgã o de co m u ni c a ç ã o , a pele, é igualm e nt e<br />

afetad o , basta pen s ar na cha m a d a se b o rr éi a e, e m<br />

con s e q ü ê n c i a, no rosto “eng ordura d o ". O suor de m e d o que<br />

co br e per m a n e n t e m e n t e o rosto dos paci ent e s pod e expres s ar<br />

o continuad o m e d o <strong>da</strong> m orte. Por outro lado, pod eria<br />

repre s e nt ar tam b é m o esforç o que eles, co m o suor de s e u s<br />

rosto s, fizera m para con s e g uir algu m a coisa nest e mun d o .<br />

Finalm e nt e, este rosto tem ain<strong>da</strong> algo de ungido e pod eria<br />

indicar uma relaç ã o co m o sagra d o . Christo s quer dizer o<br />

ungido, e antiga m e n t e os reis era m ungido s e m sinal de<br />

resp eito. Aqui tam b é m m o stra m - se preten s õ e s que<br />

m er gulhar a m nas so m b r a s . Os afetad o s dão um a impres s ã o<br />

brilhante, muito e m b o r a no plan o corp oral. O brilho m er gulh o u<br />

nas so m b r a s e obté m con sid er a ç ã o para si no corpo.<br />

Na história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de afetad o s en c o ntra- se freqü e nt e m e n t e<br />

um alto nível de exig ê n ci a por realizaç õ e s lograd a s co m o suor<br />

do próprio rosto, ma s junto a isso o m e d o de fracas s ar, de não<br />

con s e g uir na<strong>da</strong> substanci al. Muitas vez e s , de brilhante s feitos<br />

m e m o r á v e i s resta so m e n t e o suad o esforç o. Na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s o objetivo próprio mais profund o (anímic o) e ao m e s m o<br />

temp o m ais elev a d o (social) não é alcan ç á v el, e m e s m o<br />

quan d o obté m o brilho e a glória, no mais intimo de seus ser e s<br />

os afetad o s per m a n e c e m insatisfeitos. O resultad o de seus<br />

grand e s esforç o s no exterior está es crito e m suas caras, e aqui<br />

tam b é m está a chav e de sua situaç ã o . Eles não m o stra m seu<br />

ver<strong>da</strong>d eir o rosto, ma s um a má s c ar a "be m lubrificad a".<br />

De fato, justa m e n t e as pes s o a s que alcan ç a m posiç õ e s<br />

co biç a d a s , tal co m o alm eja m e muitas vez e s logra m os<br />

pacient e s de Parkins o n, rara m e nt e estã o e m condiç õ e s de<br />

22<br />

7


m o strar seu ver<strong>da</strong>d eir o rosto. O m é dic o , por exe m pl o, dev e<br />

estar se m pr e saud á v el e e m bo a form a, já que justa m e nt e faz<br />

parte de seu ideal estar se m pr e m o v e n d o - se co m o um raio e m<br />

prol <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e sofred or a. As próprias nec e s s i d a d e s<br />

pod e m não ser suficiente s para isso, ou seja, as imag e n s<br />

profission ais <strong>da</strong> so ci e d a d e pod e m ser utiliza<strong>da</strong> s para não<br />

m o strar o próprio rosto e para não cumprir co m a tarefa interna.<br />

Esta tem átic a está igualm e nt e diss e m i n a d a entre advo g a d o s ,<br />

político s, etc., e outros que estã o exp o st o s ao público.<br />

Juntam e nt e co m a tend ê n ci a à transpiraç ã o , as cha m a d a s<br />

perturba ç õ e s tróficas, ou seja, de alim e nta ç ã o <strong>da</strong> pele, tam b é m<br />

des e m p e n h a m um pap el. As deficiên cia s que surg e m rev ela m<br />

o quanto a sup erfície de contato con cr et a co m o am bi e nt e está<br />

perturba d a. A pele, co m o órg ã o que por um lado esta b el e c e<br />

relaç õ e s am á v ei s co m o am bi e nt e e por outro sep ar a dele, está<br />

sen d o mal ab a st e cid a e, co m isso, e m sentido figurad o,<br />

neglig e n ci a d a.<br />

As particulari<strong>da</strong>d e s do an<strong>da</strong>r corro b o r a m as interpretaç õ e s<br />

apres e nt a d a s até ag or a: co m o foi dito, os afetad o s , e m<br />

co m p ar a ç ã o co m suas exig ê n ci a s, so m e n t e avan ç a m co m<br />

pas s o s minús c ulo s. Eles, alé m diss o, têm a tend ê n ci a de cair<br />

para diante, pois avan ç a m mais rapi<strong>da</strong> m e n t e co m a parte<br />

sup erior do que con s e g u e m se guir a reali<strong>da</strong>d e ab aixo. O corp o<br />

de m o n s tr a a cad a pas s o a discr ep â n ci a entre o quer er e o<br />

pod er.<br />

Ain<strong>da</strong> que se trate de pes s o a s ativas, be m - suc e did a s<br />

segun d o critérios extern o s, pes s o a s que fizera m tudo para<br />

de m o n s tr ar a si m e s m a s e ao seu am bi e nt e o quanto tivera m<br />

de se esforç ar, per m a n e c e a susp eita de que eles não<br />

con s e g uira m resg atar suas elev a d a s exig ê n ci a s de progr e s s o<br />

no plano aní mic o- espiritual. O an<strong>da</strong>r, a postura curvad a e aflita<br />

são outros teste m u n h o s , assi m co m o a es crita, co m pr o v a n d o<br />

co m o palavra a palavra be m co m o pas s o a pas s o se des c e a<br />

ladeira. A voz cad a vez mais fraca m o stra que as forças de<br />

expr e s s ã o tam b é m estã o diminuind o. Em sua m o n ot o ni a, ela<br />

sublinha a ester e o tipia <strong>da</strong> expr e s s ã o , e e m seu caráter<br />

22<br />

8


es c o n di d o , sua falta de co m pr o m i s s o . Com o barô m e tr o do<br />

estad o de espírito, ela, no fundo, deixa entrev er algo <strong>da</strong><br />

resign a ç ã o cres c e n t e .<br />

A imag e m de des g a st e e es g ot a m e n t o c'infere co m as<br />

des c o b e rtas segur a s feitas até ag or a pela m e dicin a. É co m o se<br />

a dop a m i n a, aqu el a sub stân ci a transp ortad or a adren er g ê ni c a,<br />

se es g ota s s e devid o à hiperativi<strong>da</strong>d e . No âm bito <strong>da</strong> su b st a ntia<br />

nigra, uma áre a negra no cér e br o, con stata- se uma níti<strong>da</strong><br />

deg e n e r a ç ã o co m des c o r a m e n t o . A con s e q ü ê n c i a é uma<br />

prep o n d e r â n ci a relativa do pólo feminin o <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e cer e br al.<br />

O ma s c ulino, apô s ter sido exa g er a d o por um long o tem p o , se<br />

es g ot a. Os afetad o s são forçad o s ao pólo opo st o, não lhes<br />

resta outra cois a a fazer alé m de des c a n s a r graç a s à paralisia<br />

e à rigidez, ain<strong>da</strong> que elas provo q u e m m e d o e trem or e s . O<br />

pacient e so m e n t e se sent e real m e nt e be m e m ativi<strong>da</strong>d e,<br />

quan d o o trem or tam b é m diminui de form a imediata. Muitas<br />

<strong>da</strong>s tend ê n ci a s força<strong>da</strong> s pelo sinto m a têm por objetivo a<br />

reg e n e r a ç ã o , inclusive o aum e nt o do fluxo de saliva, que indica<br />

fom e e ativi<strong>da</strong>d e digestiva. Ain<strong>da</strong> que o afetad o fique co m água<br />

na bo c a à m e n o r oportuni<strong>da</strong>d e , é precis o ante s digerir a vi<strong>da</strong><br />

pas s a d a , cheia de hiperativi<strong>da</strong>d e. Neste contexto, a<br />

exp eriên ci a do neurop sic ól o g o norte- am eric a n o Oliver Sachs é<br />

interes s a nt e: "O pacient e de Parkins o n cap az de m o v er- se<br />

pod e cantar e <strong>da</strong>nç ar, e quan d o o faz, fica totalm e nt e livre dos<br />

imp e di m e n t o s caus a d o s por sua do e n ç a ...” 49 . As cap a ci<strong>da</strong>d e s<br />

do pólo feminin o, portanto, são e m grand e m e di<strong>da</strong> poupa d a s e<br />

per m a n e c e m ab erta s ao paci ent e.<br />

A decr e s c e n t e potên cia sexual é teste m u n h o <strong>da</strong> falta <strong>da</strong><br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de ad mitir o outro sex o e, co m isso, a polari<strong>da</strong>d e.<br />

A con s e q ü ê n c i a natural é a esterili<strong>da</strong>d e no âm bito con cr et o<br />

co m o express ã o <strong>da</strong> deficiên cia corresp o n d e n t e no sentido<br />

figurad o. É justa m e nt e nest e sentido que o pacient e queria<br />

de m o n s tr ar fertili<strong>da</strong>d e, muitas vez e s co m esforç o s exag er a d o s .<br />

Seu corp o lhe mo stra que es s a etap a se ac a b o u.<br />

Nos cas o s de Parkins o n evid e n ci a- se um proble m a de<br />

co ord e n a ç ã o e de co m u ni c a ç ã o , o que é típico e m um m al<br />

22<br />

9


nervo s o . A ligaç ã o entre o interno e o extern o se vê tão afetad a<br />

co m o a ligaç ã o entre o que está acim a e o que está ab aixo. O<br />

an<strong>da</strong>r proble m á tic o trai as dificul<strong>da</strong>d e s de co ord e n a ç ã o entre<br />

os plan o s sup erior e inferior, entre a reali<strong>da</strong>d e aní mic oespiritual<br />

e a reali<strong>da</strong>d e física. A ligaç ã o entre o mund o dos<br />

pen s a m e n t o s e a reali<strong>da</strong>d e é substanci al m e nt e mais<br />

probl e m á tic a do que os afetad o s ad mite m para si m e s m o s . A<br />

fala e a es crita, pos sibili<strong>da</strong>d e s clás sic a s de co m u nic a ç ã o ,<br />

m o stra m tend ê n ci a s ao colap s o igual m e nt e típicas.<br />

A discr ep â n ci a entre a exig ê n ci a interna e o êxito extern o<br />

não é tão níti<strong>da</strong> e m nen hu m outro pacient e de Parkins o n co m o<br />

e m Mao Tsé- Tung. Após a vitória militar so br e os nacio n alistas,<br />

ele deu inicio à sua prim eira grand e ca m p a n h a para<br />

ree struturar a China des d e os fun<strong>da</strong> m e n t o s , o “Grand e salto<br />

adiante". Ela transfor m o u- se e m um ino min áv el fiasc o que<br />

arruinou milhõ e s de pes s o a s e m vez de, co m o tinha pro m etid o,<br />

fazer ho m e n s nov o s e felizes. As idéias e con c e p ç õ e s<br />

revolucion ária s não tinha m qualqu er con ex ã o co m a reali<strong>da</strong>d e<br />

ca m p o n e s a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> rural chin e s a , retirand o os fun<strong>da</strong> m e n t o s de<br />

sua existên cia. O curs o <strong>da</strong> história chin e s a , decidi<strong>da</strong> m e n t e<br />

deter min a d a por Mao a partir des s e m o m e n t o , corre s p o n d e ao<br />

curs o do pacient e de Parkins o n Mao, ain<strong>da</strong> que naqu el a ép o c a<br />

a do e n ç a ain<strong>da</strong> não tives s e se m anifesta d o . O precipitar- se<br />

para diante <strong>da</strong> parte sup erior do corp o é um a caricatura de sua<br />

vi<strong>da</strong>. A cab e ç a cheia de son h o s de alto vôo precipita- se para a<br />

frente e perd e o contato co m a reali<strong>da</strong>d e mat erial sim b olizad a<br />

pelo corp o. As idéias de Mao marc ar a m o mund o espiritual <strong>da</strong><br />

China, ma s o indolent e corp o do povo não as ac o m p a n h o u , e<br />

assi m a ca m p a n h a “Grand e salto adiante" resultou e m um<br />

fraca s s o se m prec e d e n t e s . Planeja<strong>da</strong> co m a m elh or <strong>da</strong>s<br />

intenç õ e s , a gigant e s c a açã o já mal podia ser influen ciad a pela<br />

vontad e . Ela se enc a m i n h a v a direta m e n t e à catástrofe, assi m<br />

co m o o an<strong>da</strong>r dos pacient e s de Parkins o n leva m à que d a,<br />

contra sua vontad e. Os chin e s e s sofre m até hoje as<br />

con s e q ü ê n c i a s <strong>da</strong> última grand e ca m p a n h a de Mao, a<br />

Revoluç ã o Cultural. Nova m e n t e , a teoria revolucion ária só<br />

23<br />

0


podia ser impo sta à reali<strong>da</strong>d e con cr et a co m a mais extre m a<br />

violên cia. Ela não exerc e u qualqu er efeito nos coraç õ e s e<br />

cab e ç a s <strong>da</strong>s pes s o a s , que era m seu objetivo, porqu e estav a<br />

ain<strong>da</strong> m ais distan ciad a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real que o prim eiro "Grand e<br />

salto". E assi m a Revoluç ã o Cultural tam b é m redund o u e m um<br />

terrível e estrond o s o fracas s o .<br />

Mao exerc e u um a influên cia tão profun<strong>da</strong> so br e a China, ou<br />

seja, corresp o n di a a es s e gigante s c o país tão perfeita m e nt e<br />

co m o esp el h o , que até be m dep ois de sua morte devido ao mal<br />

de Parkins o n a China apres e nt a a marc a des s e sinto m a. O<br />

rígido e imóv el apar elh o de pod er, que Mao nunc a quis e que<br />

m e s m o assi m sim b olizav a de man eira tão expres siva e até<br />

m e s m o corp oral, faz fraca s s ar até hoje qualqu er tentativa de<br />

renovaç ã o espiritual. Com isso ele bloqu ei a o próprio des ej o de<br />

Mao, a revoluç ã o per m a n e n t e que m ant é m a soci e d a d e e m<br />

con sta nt e m o vi m e n t o . O patolo gista austríac o Hans Bankl<br />

es cr e v e so br e a atual República Popular <strong>da</strong> China: "Um total de<br />

9 milhõ e s de mulh er e s velha s estã o en c arr e g a d a s oficialm e nt e<br />

de vigiar seus con ci<strong>da</strong> d ã o s . Dess a m an eira, tudo é impe did o e<br />

aterrorizad o: as pes s o a s , as famílias e a soci e d a d e são rígi<strong>da</strong>s,<br />

sua postura é forço s a m e n t e curvad a, elas frem e m . A<br />

linguag e m tom o u- se inco m pr e e n s í v el, a co m u ni c a ç ã o co m o<br />

am bi e nt e sucu m biu. É uma trágica ironia <strong>da</strong> história que os<br />

suc e s s o r e s de Mao tenha m conta gi ad o todo o povo co m os<br />

sinto m a s de seu mal de Parkins o n” 50 .<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m outros sinto m a s , a síndro m e de<br />

Parkins o n, de man eira terrível, tam b é m per mite que aflore o<br />

ver<strong>da</strong>d eir o rosto, ou seja, o padrã o que está por trás dos<br />

sinto m a s e que franc a m e n t e se transfor m a e m caricatura. A<br />

rígi<strong>da</strong> má s c ar a ole o s a e m lugar <strong>da</strong> vivaci<strong>da</strong>d e espiritual<br />

de m o n s tr a d a para o exterior é um sím b ol o diss o.<br />

A tarefa con sist e na realizaç ã o libertad or a do padrã o<br />

expr e s s o nos sinto m a s . Ness e sentido, trata- se de <strong>da</strong>r<br />

pequ e n o s pas s o s , não ergu er muito a voz e prestar aten ç ã o<br />

ao s detalh e s que são exigido s. Antes <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>d e, dev e- se<br />

estar atento para a quali<strong>da</strong>d e , as sutileza s são de central<br />

23<br />

1


importân cia, afinal trata- se so br etud o de um a perturb a ç ã o dos<br />

m o vi m e nt o s sutis. A postura curvad a e a tend ê n ci a de cair<br />

so br e o próprio nariz des via m a aten ç ã o <strong>da</strong> frente para o chã o.<br />

Trata- se de mant er os olho s cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e na reali<strong>da</strong>d e<br />

física e se m pr e reto m ar a ela, ou seja, ao chã o dos fatos. A<br />

es crita que vai se tornand o cad a vez m e n o r des via a aten ç ã o<br />

para o fato de que todo ímp et o inicial arrefe c e no curs o <strong>da</strong><br />

aç ã o . A micro gr afia colo c a direta m e n t e a exig ê n ci a de<br />

expr e s s ar as coisa s de man eira m e n o r e m ais realista. O que<br />

no início do ca minh o co m e ç o u tão grand e termina bastant e<br />

m o d e s t o . É precis o ac eitar interna m e n t e es s e con h e ci m e n t o ,<br />

expr e s s o e m cad a linha es crita.<br />

A en or m e rigidez no corp o pod eria ser viven ci ad a de form a<br />

aní mic a na bus c a corresp o n d e n t e m e n t e estrita do es s e n ci al.<br />

As resistên ci a s que surg e m no âm bito físico dev e m ser<br />

incluí<strong>da</strong> s no alto vôo dos pens a m e n t o s . De ac ord o co m seu<br />

diagn ó stic o de trem or e s e paralisia, os pacient e s dev e m<br />

apren d er o m o vi m e nt o e o repous o . Em vez de rigidez e<br />

paralisia, o repous o dev eria introduzir- se e m seus con stant e s<br />

esforç o s para diante, e se m o straria m o vi m e nt o aní mic o e m<br />

vez de m o vi m e nt o s trêmulo s no corpo. Além do m e d o , vibra<br />

tam b é m no trem or o deixar- se tocar, co m o v e r , que falta no<br />

âm bito aní mic o. O m e d o e a falta de esp a ç o expr e s s o s no<br />

rosto ole o s o e no trem or pod e m ser realizad o s co m m ais<br />

con sist ê n ci a no âm bito <strong>da</strong>s idéias. O ele m e n t o de am plidã o de<br />

altos vôo s dev eria ser apan h a d o do chã o e as fronteiras <strong>da</strong><br />

própria reali<strong>da</strong>d e aní mic a dev eria m ser ultrapas s a d a s . A<br />

preten s ã o de fam a e honra, derrotad a no rosto ole o s o do<br />

pacient e, seria justiçad a por m ei o de brilhante s pas s o s no<br />

ca min h o do des e n v olvi m e nt o intern o. Christo s, o ungido, é<br />

propria m e nt e um título hon orífico que o Jesus histórico<br />

con q uistou ao long o de seu ca minh o . Ele repre s e nt a um<br />

des e n v olvi m e nt o que, alé m do corpo, inclui tam b é m a alm a e o<br />

espírito, que une sup erior co m o inferior e o interior co m o<br />

exterior. Ele foi destinad o àqu el e s ser e s cuja vi<strong>da</strong> tornou- se<br />

sinôni m o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e do ho m e m e do mun d o . Isso, entretanto,<br />

23<br />

2


é a preten s ã o e a tarefa secr et a s dos paci ent e s de Parkins o n.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que senti m e nt o s oculto por trás de minh a cara de<br />

pôqu er?<br />

2. Que susto pen etr ou e m m e u s m e m b r o s ? O que m e faz<br />

perd er a fala?<br />

3. O m e d o <strong>da</strong> m orte me deixa mortal m e nt e rígido?<br />

4. Que m e d o , que am biç ã o m e rem o v e por dentro e<br />

imp e d e a paz interior?<br />

5. Que objetivo elev a d o m e deixa tão inquieto e<br />

insatisfeito?<br />

6. Com o é que minh a co m u nic a ç ã o é tão<br />

des c o m p r o m i s s a d a a ponto de imp e dir a ver<strong>da</strong>d eira co m u n h ã o<br />

ao invés de criá- la?<br />

7. De que man eira gasto minh a s en er gi a s e qual objetivo<br />

m e resta?<br />

8. Onde eu exag er o o pólo ativo mas c ulin o? O que dev o ao<br />

pas sivo feminino? Com o an<strong>da</strong> a crianç a que há em mi m?<br />

9. O que so br o u de não digerido em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

10. Onde eu fui mais pela quanti<strong>da</strong>d e no exterior que pela<br />

quali<strong>da</strong>d e no interior?<br />

1 1. Com o é minh a relaç ã o co m a parte de cim a, co m o ela é<br />

co m a parte de baixo, co m m eu próprio sub m u n d o , co m o é a<br />

relaç ã o entre o mund o interno e o extern o?<br />

Coréia ou Dança de São Guido<br />

Este sinto m a , sub stan ci al m e n t e m ais raro e m co m p ar a ç ã o<br />

co m o m al de Parkins o n, perten c e às síndro m e s<br />

extrapira mid ais co m exc e s s o de m o vi m e n t a ç ã o . Tal qual um a<br />

esp a d a de Dâm o cl e s , ele paira co m o um destino so br e o<br />

afetad o desd e o nas ci m e n t o , m anifestand o - se entretanto entre<br />

o 30 o e o 50 o ano de vi<strong>da</strong>. Her<strong>da</strong>d a de man eira auto s s o m á ti c ado<br />

min a nt e 5 1 , qualqu er crianç a que tenha um dos pais afetad o<br />

será surpre e n did a pelo m e s m o destino. Durante um estad o de<br />

23<br />

3


dor m ê n ci a geral <strong>da</strong> mus c ulatura, surg e m rep e ntina m e n t e<br />

m o vi m e nt o s brusc o s e na maioria <strong>da</strong>s vez e s assi m étric o s,<br />

so br etud o nos m e m b r o s e nos mús c ul o s <strong>da</strong> face. Dai o no m e<br />

(do greg o chor eia = <strong>da</strong>nç a). Som a- se a isso um a per<strong>da</strong><br />

progr e s siva <strong>da</strong>s cap a ci<strong>da</strong>d e s con s ci e nt e s , ch e g a n d o até a<br />

de m ê n c i a. Labili<strong>da</strong>d e e m o ci o n al e perturb a ç õ e s espirituais são<br />

freqü e nt e s . É prováv el que bioqui mic a m e n t e , assi m co m o no<br />

mal de Parkins o n, a razã o básic a seja uma perturb a ç ã o no<br />

intercâ m b i o de neurotran s m i s s o r e s , aqu el a s substânci a s que<br />

trans mite m m e n s a g e n s entre as termin a ç õ e s nervo s a s .<br />

O sinto m a adquire sua esp e cifici<strong>da</strong>d e devid o à<br />

implac a bili<strong>da</strong>d e de seu surgim e nt o na segun d a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e o long o tem p o (de delib er a ç ã o) que con c e d e a suas vítima s.<br />

É co m o se ele quis e s s e ensin ar- lhes a ac eitar a inevitabili<strong>da</strong>d e<br />

do destino e a aprov eitar o tem p o con c e di d o . O futuro<br />

am e a ç a d o r aum e nt a a pres s ã o para que se desfrute o<br />

m o m e n t o e se viva no aqui e ag or a. Não é raro que es s e<br />

sinto m a leve por ca minh o s frutífero s justa m e n t e devid o à sua<br />

terrível implac a bili<strong>da</strong>d e . Afinal, os afetad o s não têm nen hu m a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de evitar o "Seja feita a Sua vontad e" do painoss<br />

o . Eles nas c er a m co m es s a tarefa e fica m sab e n d o diss o o<br />

mais tar<strong>da</strong>r quan d o o pai ou a m ã e ado e c e . Isso leva muitas<br />

vez e s a um question a m e n t o prec o c e quanto ao sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e a ocup ar- se co m a tem átic a <strong>da</strong> religio. A pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

en c o ntrar felici<strong>da</strong>d e no mund o mat erial é colo c a d a e m questã o<br />

des d e o princípio. A ligaç ã o do ho m e m co m sua orig e m e a<br />

relaç ã o co m a uni<strong>da</strong>d e alé m do mund o dos opo st o s pod e m<br />

surgir prec o c e m e n t e no ca m p o de visã o. As duas pergunta s<br />

centrais, “De ond e venh o?" e “Para ond e vou?" impõ e m - se<br />

mais ced o do que é usual e, co m elas, a tarefa de apren dizad o<br />

é evid e nt e m e n t e , e so br etud o , o tem a "destino", colo c a d o no<br />

berç o do afetad o.<br />

Quando a am e a ç a fatal não é ac eita, resta so m e n t e a fuga<br />

des e s p e r a d a diante <strong>da</strong> própria deter min a ç ã o . Isso pod e levar a<br />

uma incrível sed e de viver e à tentativa de viven ciar o m áxi m o<br />

pos sív el o m ais rapi<strong>da</strong> m e n t e pos sív el. Mas até m e s m o co m<br />

23<br />

4


isso se apren d e , no sentido <strong>da</strong> tarefa, co m o será de m o n s tr a d o .<br />

Ness e cas o, a própria juventud e significa tudo e os afetad o s<br />

torna m- se um a franc a caricatura desta so ci e d a d e , que sent e<br />

de man eira similar. O zang ar- se co m o duro destino tam b é m<br />

está próxim o, e so br etud o a projeç ã o <strong>da</strong> culpa nos pais. A<br />

acus a ç ã o de que teria sido m elh or eles não tere m posto<br />

nen hu m a crianç a no mun d o é uma <strong>da</strong>s mais brand a s e<br />

corre s p o n d e ao m e s m o tem p o à rec o m e n d a ç ã o <strong>da</strong> medicin a.<br />

A projeç ã o <strong>da</strong> culpa é a variante não resg ata s ia <strong>da</strong><br />

ocup a ç ã o co m a probl e m á tic a <strong>da</strong> heranç a familiar. Ness e cas o,<br />

a tarefa "trans miti<strong>da</strong>" e <strong>da</strong> qual a pes s o a se enc arr e g a<br />

involuntaria m e n t e tom a- se evid e nt e. Tanto a gen étic a co m o<br />

exp eriên ci a s <strong>da</strong> psicot er apia m o stra m o quanto so m o s os filhos<br />

de nos s o s pais. Ain<strong>da</strong> pod e m o s recus ar a heran ç a legal, ma s a<br />

heran ç a gen étic a e a aní mic a per m a n e c e m con o s c o e m todo s<br />

os cas o s 52 . Aqui e m er g e a pes a d a heran ç a dos pais e a<br />

maldiç ã o her e ditária dos antigo s, entrand o no jogo até m e s m o<br />

o kar m a familiar dos hindus. Nós, m o d er n o s , gostaría m o s tanto<br />

de ser nov o s e indep e n d e n t e s nest e mund o . E precis o entã o<br />

que um sinto m a co m o a cor éia infun<strong>da</strong> um terror des m e s u r a d o ,<br />

co m pr o v a n d o dura e clara m e n t e que seu contrário é<br />

ver<strong>da</strong>d eir o. Antiga m e nt e tam b é m havia sub stitutos, já que os<br />

afetad o s era m con sid er a d o s am aldiç o a d o s ou pos suíd o s . O<br />

m é di c o Georg e S. Huntington, de Nova York, teria decidido<br />

pes q uis ar o sinto m a quan d o um a mã e e sua filha, sofren d o um<br />

ataqu e e m público, fora m xingad a s por algun s trans e u nt e s<br />

co m o se foss e m diab o s .<br />

O des ej o co m pr e e n s í v el de, co m tal destino, colo c ar to<strong>da</strong> a<br />

en er gi a na juventud e e apa g ar o tem p o que co m e ç a na m etad e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> corresp o n d e não so m e n t e à valoraç ã o <strong>da</strong>s fase s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> feita por noss a cultura, m a s é tam b é m a expres s ã o não<br />

redimi<strong>da</strong> de um padrã o vital co m u m às religiõ e s e a muitas<br />

culturas: a saí<strong>da</strong> para o mund o e, a partir do m ei o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a<br />

volta, o retorn o para o próprio m ei o.<br />

Ness e sentido pod e- se interpretar tam b é m a de m ê n c i a que<br />

co m e ç a co m o surgim e nt o dos sinto m a s e au m e nt a<br />

23<br />

5


con sta nt e m e n t e . O cér e br o, e m seu pap el de co m a n d o central,<br />

vai lenta m e n t e abdic a n d o de suas funçõ e s até ab and o n ar o<br />

pod er. Os paci ent e s desiste m de to<strong>da</strong> e qualqu er<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e e m er gulh a m cad a vez m ais na apatia até<br />

que o contato cota o mun d o se romp e totalm e nt e. Através <strong>da</strong><br />

sinto m átic a corpor al não- redi mi<strong>da</strong>, que corresp o n d e a uma<br />

fuga total <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e, apar e c e seu lado redi mi- lo, ou<br />

seja, a tarefa de mud ar de orientaç ã o e dirigir-se para dentro<br />

apó s a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Pode- se rec o n h e c e r nes s a retira<strong>da</strong> do<br />

interes s e pelo am bi e nt e o princípio budista <strong>da</strong> indiferen ç a,<br />

Upekkha, tão valorizad a no Oriente para o ca minh o do<br />

des e n v olvi m e nt o . Tend o e m conta a inevitabili<strong>da</strong>d e do destino<br />

que rec ai so br e os pacient e s , seria se m dúvi<strong>da</strong> ben éfic o aterse<br />

a es s a s pos sibili<strong>da</strong>d e redimi<strong>da</strong> s des d e ante s do surgi m e nt o<br />

<strong>da</strong> sinto m átic a.<br />

O sinto m a m ais esp et a c ular, os m o vi m e nt o s involuntários<br />

se m el h a nt e s a uma <strong>da</strong>nç a, equival e m a des c ar g a s<br />

esp o nt â n e a s de en er gia repre s a d a . Os afetad o s sofre m de<br />

uma drástica falta de tens ã o até que um surto de m o vi m e nt o s<br />

co m p e n s a de man eira exag er a d a o que não foi feito. Eles, no<br />

sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, ex e c uta m uma <strong>da</strong>nç a.<br />

Impõ e- se a pergunta "O que deu e m voc ê?" A voz popular<br />

explica todo s os cas o s de pacient e s que vive m um surto co m o<br />

uma esp é ci e de pos s e s s ã o . De qualqu er m an eira, um a grand e<br />

porç ã o de en er gi a m er g ulh o u nas so m b r a s , abr e um ca min h o<br />

esp et a c ular no surto e, co m isso, colo c a o pacient e<br />

auto m atic a m e n t e no ponto central. Ao m e s m o tem p o ,<br />

des c arr e g a - se a en er gia de um a <strong>da</strong>nç a explosiva. Em última<br />

instância, um a <strong>da</strong>nç a é um a transp o si ç ã o de en er gia e a<br />

corre s p o n d e n t e aç ã o manife sta e m form a ritual. Os<br />

m o vi m e nt o s caract erístic o s de m ã o s e pés, esp e ci al m e n t e ,<br />

lem br a m posturas sim b ólic a s tais co m o os mudra s do siste m a<br />

<strong>da</strong> yog a. No contexto <strong>da</strong> pred et er mi n a ç ã o dos ac o nt e ci m e n t o s ,<br />

am pla m e n t e difundi<strong>da</strong> tam b é m entre os ocid e ntais, surg e a<br />

susp eita de que aqui fora m trazi<strong>da</strong>s para a vi<strong>da</strong> tarefas que<br />

precis a m ser vivi<strong>da</strong>s. Evidente m e n t e , os afetad o s têm<br />

23<br />

6


unica m e n t e a opç ã o de co m quanta con s ci ê n ci a eles irão ao<br />

en c o ntro do tem a propo st o. Possiv el m e n t e , e m um cas o<br />

isolad o, não se trata apen a s de relíquias de se qü ê n ci a s de<br />

<strong>da</strong>n ç a ritual que pod e m ser executad a s se m a con s ci ê n ci a do<br />

eu e se m exp e ctativa s, pois é exata m e n t e isso o que os<br />

pacient e s faze m . Evidente m e n t e exig e- se que eles colo qu e m<br />

sua en er gi a à dispo siç ã o para es s a s <strong>da</strong>nç a s rituais. Com o,<br />

entretanto, eles não têm ne m con s ci ê n ci a ne m co m pr e e n s ã o<br />

<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>d e des s e ac o nt e ci m e n t o , os padrõ e s não<br />

alcan ç a m m ais seu grau de efetivi<strong>da</strong>d e original e rep et e m - se a<br />

intervalo s se m obter um alívio real m e nt e durad o ur o. A<br />

impo s si bili<strong>da</strong>d e de imp e di- los m o stra o quanto eles são<br />

importante s ap e s ar diss o.<br />

Em lugar de imp e dir e conter es s a s explo s õ e s de<br />

m o vi m e nt o , o objetivo autentica m e n t e terap êutic o dev e ser<br />

anim ar os paci ent e s a ir de livre e esp o nt â n e a vontad e até os<br />

extre m o s <strong>da</strong> tens ã o e do relaxa m e n t o , entreg ar- se de co m o e<br />

alm a a <strong>da</strong>nç a s extáticas e a pos sibili<strong>da</strong>d e s profun<strong>da</strong> s de<br />

reg e n e r a ç ã o , a contorc er- se e a con s ol ar- se para <strong>da</strong>n ç ar to<strong>da</strong>s<br />

as contorç õ e s e con s ol a ç õ e s de sua alm a, a fazer caretas para<br />

a vi<strong>da</strong> e a deixar- se ir, enfim, a ced er ao torvelinh o e ao ímp et o<br />

do próprio mun d o intern o. Há um m o d el o ritual entre os índios<br />

norte- am eric a n o s , o costu m e de <strong>da</strong>nç ar ac ord a d o o próprio<br />

son h o .<br />

A história do cantor de can ç õ e s de protesto norte- am eric a n o<br />

Woodie Guthrie e seu filho Arlo m o stra co m o a reb eliã o<br />

inflam a d a e a dev o ç ã o estã o próxim a s e m tal destino. Woodie<br />

cantav a sua can ç ã o mais fam o s a , "This Iand is your land” 53 ,<br />

para sublev ar os faminto s ca m p o n e s e s californian o s . Sua vi<strong>da</strong><br />

foi um único prote st o contra a América esta b el e ci d a de seu<br />

temp o. Antes ain<strong>da</strong> de m orr er de Chorea Huntington, seu filho<br />

Arlo assu miu a tradiçã o do pai e tornou- se um a figura de culto<br />

na luta <strong>da</strong> juventud e am eric a n a contra a guerra do Vietnã, pela<br />

autod et er mi n a ç ã o e pela liberaç ã o <strong>da</strong>s drog a s que expand e m a<br />

con s ci ê n ci a. Mais tarde Arlo Guthrie, de cantor de protesto<br />

en g ajad o , transfor m o u- se e m en g ajad o pes q uis a d o r do<br />

23<br />

7


ca min h o para a auto- realizaç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde eu deixo a en er gia fluir? Onde eu tend o ao<br />

estan c a m e n t o e à des c ar g a explosiva?<br />

2. Em que ponto tend o a executar um a <strong>da</strong>n ç a que não tem<br />

nen hu m a relaç ã o co m a situaç ã o ?<br />

3. Em que m e did a enc o ntr o o m ei o- term o entre o repous o<br />

e a ativi<strong>da</strong>d e?<br />

4. Que pap el des e m p e n h a a que st ã o do sentido e m minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

5. Estou prepar ad o para assu mir a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e pelo<br />

m e u destino?<br />

6. Qual é minha relaç ã o co m as fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, juventud e e<br />

velhic e?<br />

7. Que “carg a her e ditária" dev o liberar do ponto de vista<br />

aní mic o?<br />

8. Quão con s ci e nt e é minh a relaç ã o co m os rituais? Em<br />

que m e did a minha vi<strong>da</strong> é um ritual?<br />

Derrame<br />

Ocorre no derra m e uma interrupç ã o de vias nervo as<br />

centrais no cér e br o que leva a uma paralisia lateral que, por<br />

sua vez, afeta um lado inteiro do corp o. Te m importân cia<br />

decisiva se o lado es qu er d o arqu etipica m e n t e feminino ou o<br />

lado direito m a s c ulin o é afetad o e se o paci ent e é um a mulh er<br />

ou um ho m e m . Isso gera quatro situaç õ e s básic a s diferent e s.<br />

A bas e para o ac o nt e ci m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a é forne cid a<br />

so br etud o pela alta pres s ã o san g uín e a , co m suas<br />

con s e q ü ê n c i a s . A situaç ã o aní mic a a ela liga<strong>da</strong> esta<br />

repre s e nt a d a por exten s o nos probl e m a s do cora ç ã o 54 . Em<br />

uma formulaç ã o exa g er a d a , trata- se de pes s o a s que assu m e m<br />

agrad e ci d a s to<strong>da</strong> s as lutas para não ter de enfrentar aqu el a<br />

que é a luta decisiva de suas vi<strong>da</strong>s. Um golp e so m e n t e pod e<br />

caus ar <strong>da</strong>n o s quan d o en c o ntra algo duro, rígido, que se<br />

23<br />

8


que br a. Na maioria dos cas o s de derra m e , trata- se de um<br />

proc e s s o de endur e ci m e n t o <strong>da</strong>s artérias. Eles bas ei a m - se no<br />

entupim e nt o de vas o s san g uín e o s por um co á g ul o ou no<br />

estreita m e n t o dos vas o s e m um proc e s s o arterio e s cl er ótic o, o<br />

que provo c a uma deficiên ci a no suprim e nt o do tecido do<br />

cér e br o , ou ain<strong>da</strong> no rompi m e nt o de vas o s co m a con s e q ü e n t e<br />

he m o rr a gi a. Tipica m e n t e, o derra m e ating e a pes s o a na ca m a<br />

ou no banh eir o, quan d o a pres s ã o acu m ulad a pelo esforç o<br />

diminui subita m e n t e . Quase to<strong>da</strong> s as funçõ e s pod e m ser<br />

afetad a s . Caso, por exe m pl o, o centro <strong>da</strong> respiraç ã o seja<br />

afetad o , en c o ntra- s e a morte. Ela freqü e nt e m e n t e se anuncia<br />

atrav é s <strong>da</strong> cha m a d a respiraç ã o Cheyn e- Stokes. A paus a s<br />

angustiante m e n t e long a s se g u e m - se inspiraç õ e s<br />

esp e ci al m e n t e profun<strong>da</strong> s. A direç ã o <strong>da</strong> respiraç ã o<br />

propria m e nt e dita já está falhand o e m e c a ni s m o s de<br />

e m e r g ê n c i a assu m e m o co m a n d o no último m o m e n t o a cad a<br />

vez.<br />

No derra m e típico, as vias de con du ç ã o centrais são<br />

afetad a s ante s de cruzar para o lado opo st o. Quando, por<br />

exe m pl o, ch e g a- se a um bloqu ei o no he mi sfério es qu er d o do<br />

cér e br o , o derra m e afeta o lado direito do corp o. Neste cas o, é<br />

se m pr e o pólo ma s c ulino que é sim b olic a m e n t e afetad o. A ele<br />

dev e- se atribuir o lado direito do corp o, co m o qual se leva a<br />

esp a d a do pod er, e ain<strong>da</strong> o he mi sfério es qu er d o do cér e br o. O<br />

sím b ol o do Tai-Chi nos dá um a imag e m des s a divisã o.<br />

A m etad e direita do corp o corresp o n d e ao ca m p o Yang<br />

23<br />

9


ma s c ulino e traz e m seu centro o ponto negr o do princípio<br />

contrário, o Yin feminin o, expres s o no corp o pelo he mi sfério<br />

direito feminino. Ao contrário, o lado Yin feminino (negr o), que<br />

se en c o ntra do lado opo st o, tem e m seu centro o ponto Yang<br />

branc o , m a s c ulin o. Ele corresp o n d e ri a ao he mi sf ério es qu er d o<br />

do cér e br o no m ei o do lado es q u er d o do corpo, feminino.<br />

Quando, portanto, a deficiên ci a caus a d a pelo derra m e oc orr e<br />

no he mi sfério direito (feminino) do cér e br o , é afetad o o lado<br />

es qu er d o (feminino) do corp o.<br />

O lado afetad o é inteira m e nt e retirado <strong>da</strong> pes s o a afetad a,<br />

ela não o sent e mais e não m ais o rec o n h e c e co m o<br />

perten c e n d o a si. Um pacient e afetad o por um derra m e durante<br />

a noite sentiu- se inco m o d a d o pela perna de sua esp o s a na<br />

ca m a e tentou expuls á- la de sua metad e <strong>da</strong> ca m a. Foi so m e n t e<br />

apó s várias tentativas inúteis que ele perc e b e u tratar- se de sua<br />

própria perna, co m a qual ele perd er a to<strong>da</strong> relaç ã o .<br />

Ness e sinto m a rep et e- se ao m e s m o temp o o dra m a <strong>da</strong><br />

criaç ã o , e m que Deus retirou um lado 55 do prim eiro ser<br />

hum a n o , Adão, para a partir dele <strong>da</strong>r form a a Eva, tend o<br />

nec e s s a ria m e n t e só um a m etad e à dispo siç ã o . Desd e entã o,<br />

os ser e s hum a n o s estã o partido s pela m etad e e têm a tarefa<br />

de reen c o ntrar sua outra “m etad e m elh or". Uma pes s o a e m<br />

cujo corp o o ato <strong>da</strong> criaç ã o volta a ac o nt e c e r é natural m e nt e<br />

afetad a e m sua totali<strong>da</strong>d e. Se lhe for retirado o lado es qu er d o ,<br />

feminin o, ou o direito, ma s c ulino, ela e m qualqu er cas o estará<br />

cond e n a d a ao des a m p a r o e à impot ê n ci a. O sinto m a e o trato<br />

diário co m ele m o stra m que ela, tornad a unilateral, tem ag or a<br />

am b o s os lado s por tarefa. Ela, no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong><br />

palavra, está pro stra d a na ca m a e afasta- se do lado afetad o,<br />

dirigindo auto m atic a m e n t e seu olhar para o outro lado e, co m<br />

isso, para o foco <strong>da</strong> do e n ç a e m seu cér e br o . Durante as<br />

m e di<strong>da</strong> s de reabilitaç ã o , quan d o o pacient e pen o s a m e n t e volta<br />

a colo c ar e m funcion a m e n t o o corp o e m que resid e, ele é<br />

rem etid o de m an eira reforç a d a para o lado saud á v el, dev e n d o<br />

entretanto dirigir to<strong>da</strong> sua aten ç ã o para o lado do e nt e.<br />

Aquele que foi afetad o por um derra m e tem a tarefa de<br />

24<br />

0


procurar sua outra m etad e , que es c orr e g o u no próprio corpo,<br />

estan d o , por isso m e s m o , repres e nt a d a de man eira ain<strong>da</strong> m ais<br />

expr e s siv a. Suspeita nos que ele não a trabalh o u ne m no<br />

âm bito <strong>da</strong> parc eria ne m e m sua alm a. Tal neglig ê n ci a co m uma<br />

m etad e pod e ser enc arn a d a na dec a d ê n ci a e, finalm e nt e, na<br />

elimina ç ã o des s e lado. O destino m o stra ao afetad o sua<br />

parciali<strong>da</strong>d e , e tam b é m que ele arrasta sua outra m etad e pela<br />

vi<strong>da</strong> so m e n t e co m o um ap ên dic e ou até m e s m o co m o lastro. A<br />

situaç ã o torna- se muito con s ci e nt e no sinto m a, já que o lado<br />

aus e nt e precis a ser reb o c a d o co m a aju<strong>da</strong> do lado saud á v el.<br />

Eles ag or a perc e b e m que não progrid e m na vi<strong>da</strong> sen d o tão<br />

unilaterais e não pod e m m ais controlá- la se m sua segun d a<br />

mã o . O canto <strong>da</strong> bo c a pendurad o do lado pendura d o do corp o<br />

deixa entrev er o estad o de ânim o e co m o os dois lado s do<br />

rosto são importante s para expr e s s ar- se ad e q u a d a m e n t e .<br />

O que é freqü e nt e m e n t e des crito co m o um golp e ou um raio<br />

e m céu claro nos confronta, na reali<strong>da</strong>d e , co m tem a s que<br />

fora m sen d o adiad o s . As "nuven s de temp e st a d e " <strong>da</strong>s quais o<br />

raio partiu juntara m- se há muito tem p o ; há muito os sinais <strong>da</strong><br />

torm e nt a podia m ser lidos no céu den s a m e n t e nublad o e m<br />

con s e q ü ê n c i a <strong>da</strong> unilaterali<strong>da</strong>d e. Entretanto, o afetad o não raro<br />

está tão aliena d o <strong>da</strong> probl e m átic a de seu lado neglig e n ci a d o<br />

que esta o en c o ntra subjetiva m e n t e des pr ep ar a d o ape s ar<br />

diss o. Às vez e s , o lado afetad o de seu corp o e de sua alm a<br />

participou tão pouc o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que eles jam ais enfrentara m<br />

real m e nt e sua dec a d ê n ci a. Com o típico afasta m e n t o do lado<br />

paralisad o eles expres s a m que não quer e m sab er na<strong>da</strong> dele.<br />

Seus olho s estã o dirigido s para o lado opo st o e olha m para o<br />

foco do ac o nt e ci m e n t o no cér e br o e, co m isso, para a raiz do<br />

probl e m a .<br />

Quando o derra m e atingiu o antigo ch ef e de estad o sulafrican<br />

o e deixou fora de co m b at e seu lado es qu er d o , feminino,<br />

ele e m nenhu m m o m e n t o con sid er o u isso razão suficiente para<br />

ab and o n a r o gov ern o . Com o repre s e nt a nt e do regi m e do<br />

aparth eid, ele era um a figura- sím b ol o na repre s s ã o do pólo<br />

feminin o (negr o). Quando este tam b é m foi eliminad o de sua<br />

24<br />

1


vi<strong>da</strong> pes s o al, ele evid e nt e m e n t e não tinha perdido muita cois a.<br />

Para seus coleg a s de partido, no entanto, a figura que ag or a<br />

podia ser rec o n h e c i d a co m o unilateral tam b é m extern a m e n t e<br />

na chefia de seu Estado tinha se tornad o ver<strong>da</strong>d eira de m ai s.<br />

Um nov o ho m e m precis a v a ser colo c a d o lá para <strong>da</strong>r<br />

pros s e g ui m e n t o à política unilateral. Talvez para es c a p ar ao<br />

destino de seus ante c e s s o r e s ou para prote g e r o país de<br />

rev e s e s e derra m e s político s, ele prec a vid a m e n t e pas s o u o<br />

timã o <strong>da</strong> nav e do Estado para a tend ê n ci a m o d er a d a .<br />

Não é so m e n t e na política que o derra m e pod e se<br />

transfor m ar e m um novo co m e ç o ; to<strong>da</strong>s as m e di<strong>da</strong> s<br />

terap êutic a s têm o m e s m o objetivo. Com o crianç a s pequ e n a s ,<br />

os pacient e s precis a m voltar a apren d er a li<strong>da</strong>r co m o lado<br />

afetad o . O ponto m ais important e <strong>da</strong> ginástic a terap ê utica é<br />

dirigir-s e ao lado deficient e. A cab e ç a é volta<strong>da</strong> uma e outra<br />

vez na direç ã o desd e n h a d a , despr ez a d a . Assim, e m i<strong>da</strong>d e<br />

avan ç a d a , eles aprend e m que têm dois lado s e que dois ser e s<br />

habita m seu peito.<br />

O derra m e , portanto, pod e ser rec o n h e c i d o co m o a<br />

exe c u ç ã o força<strong>da</strong> <strong>da</strong> tarefa formulad a por C. G. Jung de<br />

integrar o próprio lado de so m b r a. Segund o Jung, a parte<br />

feminina, a anima, está aus e nt e <strong>da</strong> con s ci ê n ci a de todo<br />

ho m e m , e sua parte ma s c ulina, o animu s, falta a to<strong>da</strong> mulh er.<br />

À m e di<strong>da</strong> que a vi<strong>da</strong> avan ç a, es s e s co m p o n e n t e s polare s<br />

opo st o s força m cad a vez m ais para realizar- se. No derra m e , o<br />

lado que já estav a paralisad o antes se retira,<br />

indep e n d e n tizan d o - se ao m e s m o tem p o do imp ério do corp o e<br />

opond o - se a to<strong>da</strong>s as orden s. Ele tamp o u c o anun cia o que<br />

quer que seja à central co m u m . Ele está e m grev e e se finge<br />

de m orto. Aqueles contra que m se faz a grev e têm ag or a de<br />

arrastar- se e fazer fisica m e n t e o que se m pr e se neg ar a m a<br />

fazer animic a m e n t e : co m o nunc a ante s, eles ag or a têm de<br />

preo c up ar- se co m sua outra m etad e .<br />

Com pequ e n o s exercí cio s eles aprend e m , pas s o a pas s o , a<br />

an<strong>da</strong>r nova m e n t e . Freqü e nt e m e n t e utiliza- se para isso um<br />

an<strong>da</strong>d o r, explicita m e nt e rec o m e n d a d o para auxiliar o an<strong>da</strong>r na<br />

24<br />

2


infância. No que se refer e à mã o, o rev é s é ain<strong>da</strong> mais<br />

abran g e n t e . O peg ar, co m o qual a crianç a já nas c e , precis a<br />

ser treinad o nova m e n t e pelo lado afetad o. Simb olic a m e n t e ,<br />

torna- se evident e aqui que os pacient e s dev e m tom ar<br />

nova m e n t e o control e de sua vi<strong>da</strong> e real m e nt e apren d er a<br />

co m pr e e n d ê - la. Nas situaç õ e s agud a s, eles são incap az e s de<br />

tom á- la co m as duas m ã o s . Familiares são mantido s junto ao<br />

leito do do e nt e para um a e outra vez, por m ei o de afag o s ,<br />

cha m a r a aten ç ã o do pacient e para o lado afetad o . Enquanto<br />

eles gostaria m de tê- los a seu lado saud á v el, o m é dic o lhes<br />

ped e que justa m e nt e fique m no lado opo st o <strong>da</strong> ca m a. Dess a<br />

form a, os pacient e s são forçad o s a dirigir-se à porç ã o de si que<br />

eles m e s m o s fora m deslig and o . As contorç õ e s<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e serp e ntina s que eles exe c uta m nes s e dile m a<br />

m o stra o quanto es s a exig ê n ci a lhes é difícil. Não é raro que<br />

eles ain<strong>da</strong> ag or a tente m des e m b a r a ç a r- se des s a posiç ã o<br />

des a gr a d á v e l so m e n t e para não ter de dirigir-se à m etad e<br />

des pr ez a d a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Os derra m e s oc orr e m quas e se m pr e no<br />

último terç o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, quan d o a tarefa de integra ç ã o do lado<br />

opo st o adquire um significad o central. Para curar- se, o que<br />

falta dev e ser integrad o . Essa tarefa adquire primazia e impõ ese<br />

ao ser hum a n o que ultrapas s o u a m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

so br etud o quan d o o que falta é m etad e de sua vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que é que m eu probl e m a de pres s ã o san guín e a ou<br />

vas cular quer me dizer?<br />

2. Que lado m e seria retirado, o es qu er d o feminino ou o<br />

direito mas c ulino?<br />

3. Em que sentido eu ignor ei, neglig e n ci ei ou m e s m o<br />

des pr ez ei o lado fraco de minh a vi<strong>da</strong>?<br />

4. Eu o delegu ei a um parc eiro e o deixo viver?<br />

5. Em que ponto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> eu estav a quan d o fui atingido pelo<br />

derra m e ? Em que direç ã o m e e m p urra esta mud a n ç a<br />

inesp er a d a?<br />

6. Que pap el des e m p e n h a v a até ag or a m e u pólo opo st o<br />

24<br />

3


que entrou e m grev e, m e u lado so m b r a? Que pap el lhe será<br />

ad e q u a d o no futuro?<br />

7. Com o esta outra m etad e pod e voltar a mov e r- se para<br />

participar?<br />

8. O que falta ain<strong>da</strong> e m minh a vi<strong>da</strong> para torná- la co m pl et a?<br />

O que m e per mitiria estar são e integr o?<br />

Esclerose múltipla<br />

Mais de 50 mil pes s o a s estã o afetad a s na Alemanha por<br />

es s e quadr o de sinto m a s ; no mund o, m ais de dois milhõ e s .<br />

Eles são e m m ai or núm er o nos país e s setentrion ais que nos<br />

m eridion ais e as mulh er e s são niti<strong>da</strong> m e nt e “preferi<strong>da</strong> s”. A<br />

irrupçã o oc orr e na m ai or parte <strong>da</strong>s vez e s entre o 20 o e o 40 o<br />

ano de vi<strong>da</strong> co m o que, con sid er a n d o e m retrosp e ctiva, os<br />

rastros do quadr o pod e m muitas vez e s ser traçad o s até a<br />

infância. Já o no m e es cl er o s e múltipla nos dá indicaç õ e s<br />

significativas. Esclero s e , traduzido do latim, significa<br />

endur e ci m e n t o . Esta expr e s s ã o <strong>da</strong> m e di cin a se refer e ao<br />

siste m a nervo s o , m a s define igual m e nt e be m o padrã o<br />

psíquic o básic o do afetad o. Este caract eriza- se por um a<br />

extraordinária durez a contra si m e s m o e contra o mun d o , que<br />

freqü e nt e m e n t e se expres s a e m falta de con sid er a ç ã o e m<br />

relaç ã o às próprias nec e s s i d a d e s e e m fun<strong>da</strong> m e n t o s e<br />

con c e p ç õ e s m or ais duros e, e m parte, precipitad o s. Não é raro<br />

que os endur e ci m e n t o s do siste m a nervo s o central en c arn e m o<br />

endur e ci m e n t o de tem a s centrais para a vi<strong>da</strong>. As con ex õ e s<br />

entre os nervo s <strong>da</strong>nificad a s e esp e ci al m e n t e às con e x õ e s dos<br />

nervo s para os mús c ul o s, corresp o n d e a falta de co m pr o m i s s o<br />

e a pouc a dispo siç ã o do pacient e para a m e di a ç ã o entre suas<br />

próprias nec e s s i d a d e s vitais e as exig ê n ci a s do mund o<br />

exterior. A m e di cin a não está se gur a do fun<strong>da</strong> m e n t o físico <strong>da</strong><br />

es cl er o s e múltipla. A única certez a é a deg e n e r a ç ã o <strong>da</strong> cap a<br />

de mielina que rec o br e os nervo s, o que a long o prazo leva à<br />

per<strong>da</strong> <strong>da</strong> cap a cid a d e de con du ç ã o nervo s a .<br />

A enfer mi<strong>da</strong>d e tem tantas face s e sinto m a s que a princípio é<br />

24<br />

4


freqü e nt e m e n t e m al diagn o stic a d a. Estab el e ci d o o diagn ó stic o,<br />

a m e di cin a aca d ê m i c a 56 se cala a resp eito, devido à<br />

implac a bili<strong>da</strong>d e e intratabili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> do e n ç a . Esse<br />

proc e di m e n t o , duvido s o e m si m e s m o , é esp e ci al m e n t e<br />

ab surd o co m pacient e s de es cl er o s e múltipla já que, devido a<br />

seu padrã o aní mic o, eles se vê e m e m um a situaç ã o<br />

des e s p e r a d a se m diagn ó stic o. Com o eles exig e m funcion ar<br />

mais do que be m e fazer tudo co m perfeiçã o , e alé m diss o<br />

tend e m a assu mir eles m e s m o s to<strong>da</strong> a culpa, suas múltiplas<br />

deficiên cias os colo c a m e m situaç õ e s des e s p e r a d o r a s . Isso<br />

ch e g a ao ponto de eles ac eitar e m o diagn ó stic o co m<br />

ver<strong>da</strong>d eir o alívio quan d o finalm e nt e o rec e b e m , já que este os<br />

libera definitiva m e n t e do ódio <strong>da</strong> simulaç ã o e <strong>da</strong> pres s ã o so br e<br />

si m e s m o s e finalm e nt e lhes dá um pretexto para relaxar ao<br />

m e n o s um pouquinh o o próprio perfecci o nis m o . Eles ag or a já<br />

não precis a m mais pod er tudo.<br />

A tend ê n ci a de rang er os dent e s e culpar- se a si m e s m o ,<br />

alia<strong>da</strong> a um a certa teim o si a, são tam b é m um perigo para as<br />

interpreta ç õ e s que se apres e nt a m . Indica- se aqui um a vez<br />

mais que nunc a se trata de avaliaç ã o , ain<strong>da</strong> que o idio m a faça<br />

co m que pareç a ser assi m, ma s se m pr e de interpreta ç ã o .<br />

Quando se interpreta a vi<strong>da</strong> do paci ent e co m todo s os seus<br />

fenô m e n o s , ela não se torna m elh or ou pior; ela se transfor m a<br />

e m significad o.<br />

Apesar de sua varied a d e , os sinto m a s circuns cr e v e m um<br />

padrã o básic o. A sen si bili<strong>da</strong>d e dolori<strong>da</strong> <strong>da</strong> coluna verte br al,<br />

muito freqü e nt e, dec orr e dos proc e s s o s inflam at ório s crônic o s<br />

que se des e n v o l v e m nas profund ez a s des s e âm bito. Muitos<br />

afetad o s queixa m - se de dore s nos pés, o que den ota co m o<br />

para eles é difícil o ca minh o , que na maioria <strong>da</strong>s vez e s não é o<br />

deles m e s m o s . As dor e s nos pés e nas perna s m o stra m co m o<br />

lhes é doloro s o agü e nt ar o ca min h o que está sen d o perc orrido.<br />

Elas força m à cond e s c e n d ê n c i a, a assu mir a própria doloro s a<br />

fraqu ez a. O fato de que se continue afirmand o que a do e n ç a<br />

trans c orr e se m dore s dev e so ar m a c a b r o ao s ouvido s <strong>da</strong>qu el e s<br />

que dela sofre m .<br />

24<br />

5


As perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e expres s a m que os<br />

afetad o s não m ais sent e m e, co m isso, não m ais perc e b e m e m<br />

muitos ca m p o s do corp o e <strong>da</strong> alm a. Eles não perc e b e m ne m<br />

m e s m o quan d o o m é di c o lhes toca o corp o co m um a agulha.<br />

Eles não perc e b e m m ais ne m m e s m o cois a s que os roça m e<br />

que am e a ç a m feri-los; eles se desligara m . Pode- se de fato<br />

falar de um deslig a m e n t o do mun d o exterior e de seus efeito s.<br />

Tal de sliga m e n t o explicita- se tam b é m e m outros sinto m a s tais<br />

co m o o enfraqu e ci m e n t o dos reflexo s, que pod e che g ar à<br />

per<strong>da</strong> total dos reflexo s. Os reflexo s são as resp o st a s mais<br />

simpl e s que o siste m a nervo s o dá ao s estí m ul o s. As pes s o a s<br />

se m reflexo s perd er a m as mais antigas pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

reaç ã o ao am bi e nt e que her<strong>da</strong>r a m , ou seja, que lhes fora m<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> s . Eles não reag e m no sentido m ais ver<strong>da</strong> d eir o <strong>da</strong><br />

palavra. Por m ais que seja m estimulad o s , eles per m a n e c e m<br />

mud o s e - no sentido mais profund o - não resp o n d e m mais à<br />

vi<strong>da</strong> e suas exig ê n ci a s. A isso corresp o n d e a apatia, que<br />

muitas vez e s surg e e m fas e s. A palavra "apatia" vai um pas s o<br />

alé m e m seu significad o literal, já que quer dizer "não sofrer"<br />

(do greg o a = não e patho s = sofrim e nt o). Com isso ela<br />

caract eriza, alé m <strong>da</strong> frouxidã o típica, a recus a de participar <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e de co m p a d e c e r - se. É ver<strong>da</strong>d e que os paci ent e s tenta m<br />

fazer tudo correta m e n t e para todo s, m a s se m en g aja m e n t o<br />

interno. Com o é que eles pod e m participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de outros<br />

quan d o eles não simp atiza m co m a própria vi<strong>da</strong>, co m o<br />

de m o n s tr a m as perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e. Sens a ç õ e s de<br />

surd ez são freqü e nt e m e n t e os prim eiro s sinto m a s e pod e m<br />

co m e ç a r tão paulatina m e n t e que às vez e s os afetad o s<br />

so m e n t e tom a m con s ci ê n ci a de sua situaç ã o mais tarde.<br />

Alia<strong>da</strong> a isso está a per<strong>da</strong> de en er gia que surg e e m quas e<br />

todo s os cas o s . Os pacient e s pouc o a pouc o se dão conta de<br />

que tudo lhes custa muito esforç o e que as ativi<strong>da</strong>d e s<br />

cotidian a s m al pod e m ser levad a s a cab o . A vi<strong>da</strong>, no mais<br />

ver<strong>da</strong>d eir o sentido <strong>da</strong> palavra, custa de m a s i a d o esforç o.<br />

Finalm e nt e eles, muitas vez e s , não pod e m mais ergu er as<br />

perna s. Em sentido figurad o, a fraqu ez a que se impõ e imp e d e<br />

24<br />

6


o progr e s s o e a asc e n s ã o na vi<strong>da</strong>, ape s ar <strong>da</strong> freqü e nt e<br />

am bi ç ã o . Com as perna s que não mais sustenta m , o corp o<br />

sinaliza que a bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> perd e u sua cap a cid a d e de suporte.<br />

A paralisia corp oral extern a é um a repro du ç ã o <strong>da</strong> interna. A<br />

princípio os pacient e s ain<strong>da</strong> tenta m muitas vez e s arrastar- se<br />

pela vi<strong>da</strong>, ag arran d o- se a cad a parad a e a cad a palha. Mesm o<br />

quan d o já estã o há muito cap e n g a s , eles neg a m - se en qu a nt o<br />

pod e m a valer- se <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> de um a terc eira perna, que volta a<br />

am pliar a bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Assim co m o a ben g al a, até m e s m o a<br />

cad eira de ro<strong>da</strong> s, cerc a d a de uma aura de horror, pod e trazer<br />

en or m e alívio quan d o os pacient e s ac e d e m a ac eitar auxilio.<br />

A deficiên cia de força, que che g a a surtos de paralisia nos<br />

ded o s e nas mã o s , mostra que falta força para tom ar nas mã o s<br />

a própria vi<strong>da</strong>. Não pod e hav er coincid ê n ci a m ai or e m am b o s<br />

os plano s. A situaç ã o interna, senti<strong>da</strong> co m o paralisad a,<br />

corre s p o n d e ao s surtos de paralisia.<br />

O can s a ç o paralisant e que surg e e m muitos cas o s se a<strong>da</strong>pta<br />

igual m e nt e a es s e quadr o. Vários pacient e s che g a m a dor mir<br />

até dez e s s e i s horas e o son o con s o m e m ais <strong>da</strong> m etad e de<br />

suas vi<strong>da</strong>s. Não é raro que eles des cr e v a m seu estad o apó s o<br />

des p ertar tardio co m o “entorp e cid o". O entorp e ci m e n t o e m<br />

relaç ã o à própria vi<strong>da</strong> e suas nec e s s i d a d e s é caract erístic o. A<br />

recus a senti<strong>da</strong> de m o n s tr a que já se desistiu do curs o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e<br />

já não se dev e mais esp er ar a bus c a de um objetivo co m as<br />

próprias forças. É ver<strong>da</strong> d e que popular m e n t e costu m a- se dizer<br />

que can s a ç o não é do e n ç a , m a s es s a form a que con s o m e to<strong>da</strong><br />

a vi<strong>da</strong> vai muito alé m do can s a ç o resultante do des g a s t e de<br />

en er gi a. Evidente m e n t e há aqui a participaç ã o de um a certa<br />

quanti<strong>da</strong>d e de defe s a contra um a vi<strong>da</strong> fraca que foi forçad a<br />

para o corp o. Os pacient e s afirma m freqü e nt e m e n t e que<br />

prefeririam dor mir ao long o de to<strong>da</strong>s as suas mis érias. Por<br />

outro lado, o disp ê n di o de en er gi a é tam b é m muitas vez e s<br />

en or m e . Para os pacient e s , tudo é tão fatigante que até mes m o<br />

cois a s insignificante s os deixa m extre m a m e n t e can s a d o s . A<br />

faca <strong>da</strong> cozinha pod e ser pes a d a de m ai s quan d o o próprio<br />

braç o já é sentido co m o um lastro. Tais pes o s plúm b e o s<br />

24<br />

7


den ot a m a carg a que oprim e os afetad o s tam b é m e m sentido<br />

figurad o. Suspeita- se que e m algu m lugar há um furo por ond e<br />

a en er gi a es c orr e. É prováv el que a m e dicin a tenha en c o ntrad o<br />

es s e burac o: pes q uis a s so br e o siste m a imun ol ó gic o vê e m na<br />

es cl er o s e múltipla uma do e n ç a de auto- agr e s s ã o . To<strong>da</strong> s as<br />

en er gi a s disponív ei s são utiliza<strong>da</strong> s na luta contra si m e s m o , de<br />

m o d o que so br a pouc o para a vi<strong>da</strong> extern a.<br />

Outros sinto m a s afeta m a bexig a, aqu el e órgã o co m o qual<br />

nos alivia m o s m a s co m que pod e m o s tam b é m pres si o n ar.<br />

Tam b é m nes s e cas o, a fraqu ez a está e m prim eiro plano e m<br />

muitos paci ent e s de es cl er o s e múltipla. Eles não pod e m mais<br />

reter a urina, e a bexig a a deixa es c a p ar à men o r oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

O sinto m a força um retorn o à situaç ã o <strong>da</strong> prim eira infância,<br />

co m sua incap a ci<strong>da</strong>d e de controlar as funçõ e s fisiológic a s e a<br />

própria vi<strong>da</strong>. Os pacient e s de EM deixa m fluir e m b aix o, ond e<br />

ningu é m m ais pod e notá- las, as lágrim a s não chora d a s aci m a -<br />

que eles, e m sua aus ê n ci a de reaç ã o e bloqu ei o <strong>da</strong>s<br />

sen s a ç õ e s não pod e m ad mitir. Esse chor o transp o st o pod e<br />

tam b é m voltar a transfor m ar- se e m ver<strong>da</strong>d eir o chor o quan d o a<br />

do e n ç a se des e n v olv e co m pl eta m e n t e e as m e di<strong>da</strong>s de defe s a,<br />

co m o sofrim e nt o, tend e m a des m o r o n a r. Não é raro entã o que<br />

o pacient e se torne extre m a m e n t e chor o s o , o que é muito<br />

dolor o s o para ningu é m mais que o próprio afetad o. Qualquer<br />

insignificân cia, um a cen a de filme tocant e ou algo parecid o,<br />

libera o fluxo aní mic o estan c a d o por tanto temp o e provo c a um<br />

ban h o de lágrim a s . Ou entã o as lágrim a s es c o rr e m<br />

con sta nt e m e n t e , m o stran d o ao s pacient e s co m o eles dev eria m<br />

ter chor ad o (animic a m e n t e). Uma vi<strong>da</strong> sec a de sentim e nt o s<br />

não corre s p o n d e evid e nt e m e n t e à sua deter min a ç ã o , e os<br />

olho s se m pr e úmido s m o stra m co m o eles, no m ais íntimo, se<br />

sent e m tocad o s . Isso é valido e m geral para a insen si bili<strong>da</strong>d e e<br />

a durez a volta<strong>da</strong> s para fora. Onde o dique se romp e, surg e m<br />

explo s õ e s de sentim e nt o que m o stra m uma pes s o a totalm e nt e<br />

diferent e.<br />

Nas inflam a ç õ e s <strong>da</strong> bexig a enc arn a- se o conflito relativo a<br />

soltar, aliviar- se. Este conflito se torna uma nec e s si d a d e<br />

24<br />

8


ard e nt e. O sinto m a o força a fazê- lo con stant e m e n t e , se m que<br />

pos s a <strong>da</strong>r muito de si e de sua alm a. Ele de m o n s tr a não<br />

so m e n t e co m o o alívio é nec e s s á ri o ma s tam b é m co m o ele é<br />

difícil e co m o é sentido de man eira dolor o s a.<br />

A reten ç ã o <strong>da</strong> urina, que oc orr e igualm e nt e e que é<br />

pratica m e n t e o contrário <strong>da</strong> fraqu ez a <strong>da</strong> bexig a, enc arn a a<br />

extre m a res erv a e m relaç ã o às coisa s aní mic a s . O fato de que<br />

a incontin ên ci a choro s a <strong>da</strong> urina pos s a alternar- se co m sua<br />

total reten ç ã o m o stra co m o todo o fenô m e n o é indep e n d e n t e<br />

<strong>da</strong> corp or ali<strong>da</strong>d e pura. A reten ç ã o do próprio fluxo aní mic o é<br />

um sinto m a caract erístic o <strong>da</strong> situaç ã o aní mic a básic a.<br />

Os probl e m a s de linguag e m que oc orr e m ilustra m o m e s m o<br />

dra m a. As perturb a ç õ e s para en c o ntrar palavra s m o stra m que<br />

ao s paci ent e s faltam palavra s. Eles estã o se m fala. Sua autoexpr<br />

e s s ã o fica sen siv el m e n t e perturba d a quan d o se torna<br />

probl e m á tic o con struir um a fras e e m deter min a d o contexto. A<br />

dificul<strong>da</strong>d e e m con struir um a fras e inteira que seja co m pl eta<br />

e m seu sentido para pres erv ar o contexto é outra caract erística<br />

que deixa clara a perturb a ç ã o do contexto geral. A<br />

co ord e n a ç ã o de partes relacio n a d a s uma s co m as outras está<br />

perturba d a. A vi<strong>da</strong> vivi<strong>da</strong> é inco m p atív el co m o próprio ser. Os<br />

probl e m a s de co ord e n a ç ã o são tam b é m decisivo s e m outros<br />

âm bito s. Eles incap a cita m os pacient e s antes ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

paralisias, levan d o ao típico an<strong>da</strong>r inse g ur o que lem br a o de<br />

um bê b a d o . Os afetad o s titubeia m pela vi<strong>da</strong> e so m e n t e pod e m<br />

dispor de seus mús c ul o s de form a muito limita<strong>da</strong>. Essa<br />

indeter min a ç ã o é geral. O quadr o de sinto m a s ev olui e m altos<br />

e baixo s tão imprevisív ei s que os pacient e s so m e n t e pod e m<br />

confiar no m o m e n t o .<br />

O ponto fraco dos afetad o s no plan o corp or al é a con e x ã o<br />

entre nervo e mús c ul o. De ac ord o co m a m e dicin a ac ad ê m i c a ,<br />

a EM trata- se so br etud o de um a inflam a ç ã o deg e n e r ativa<br />

nervo s o - mus c ular, um conflito crônic o, portanto, no ponto de<br />

con e x ã o entre a con du ç ã o de inform a ç ã o e os órg ã o s de<br />

m o vi m e nt o que a exe c uta m . A trans mi s s ã o de inform a ç õ e s é<br />

colo c a d a e m que st ã o . No cas o <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>d e e m enc o ntrar<br />

24<br />

9


palavras, os paci ent e s não mais trans mite m suas inform a ç õ e s<br />

ao marido ou à esp o s a , perd e n d o assi m um a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

substanci al de exerc er influência so br e o m ei o am bi e nt e. Na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que não pod e m m ais influen ciá- lo co m palavras,<br />

eles perd e m tam b é m a cap a cid a d e de gov er n á- lo. A per<strong>da</strong> do<br />

control e verb al é um a am e a ç a terrível para pes s o a s cujo<br />

control e intern o se estend e so br e tudo. Caso a influên cia seja<br />

exer ci<strong>da</strong> atrav é s <strong>da</strong> es crita, a iminent e paralisia do braç o pod e<br />

gerar grand e angú stia. A explicaç ã o para o extraordin ário grau<br />

de organiza ç ã o , tanto dos enfer m o s individuais de EM co m o de<br />

to<strong>da</strong> a co m u nid a d e que co m p artilha es s e destino, está nes s a<br />

tend ê n ci a de controlar e exer c er influência. Eles até m e s m o<br />

ch e g a m a aju<strong>da</strong>r outros do e nt e s e m seus esforç o s<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ais. Especial m e n t e os paci ent e s que sup er ar a m<br />

seus próprios proble m a s en c o ntra m aqui um ca m p o para seu<br />

padrã o intern o. Desd e que não seja utilizado para des viar- se<br />

<strong>da</strong>s próprias tarefas e sim, ao contrário, para rec o n h e c ê - las no<br />

esp elh o de outros do e nt e s , há aqui um a soluç ã o ma g nífica.<br />

Os proble m a s de m e m ó ri a apo nta m na m e s m a direç ã o . Os<br />

pacient e s não repara m mais e m na<strong>da</strong>, não reté m na<strong>da</strong> e,<br />

assi m deixa m de participar <strong>da</strong>s conv er s a s . Eles não são m ais<br />

resp o n s á v e i s, eles não são ne m m e s m o cap az e s de resp o n d e r<br />

con cr et a m e n t e , seja às exig ê n ci a s do interlocutor ou às <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. É óbvio que que m não pod e re s p o n d e r tamp o u c o pod e<br />

arcar co m nen hu m tipo de resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e. Os pacient e s<br />

ativo s e orgulho s o s rara m e nt e quer e m perc e b e r aquilo que o<br />

quadr o de sinto m a s deixa tão claro, e eles freqü e nt e m e n t e se<br />

neg a m a ac eitar a invalidez, já que ela justa m e n t e os exim e <strong>da</strong><br />

obriga ç ã o de ser resp o n s á v ei s por si mes m o s .<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de con c e ntr a ç ã o m o stra a<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de per m a n e c e r e m um a coisa. Os pacient e s de<br />

EM têm fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e a tend ê n ci a de ater- se co m rigor a<br />

ponto s de vista, m e s m o quan d o rara m e n t e estã o e m posiç ã o<br />

de defen d ê - los contra outros e até m e s m o de impô- los. Eles<br />

têm a exig ê n ci a de um a firmez a e um a fideli<strong>da</strong>d e ao s princípio s<br />

que ch e g a à rigidez e à ob stinaç ã o . O declínio <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e<br />

25<br />

0


de con c e ntr a ç ã o , assi m co m o a incontin ên ci a <strong>da</strong> bexig a, é uma<br />

tentativa de auto- aju<strong>da</strong> do corpo. Sem con c e ntra ç ã o torna- se<br />

impo s sív el para o afetad o persistir trilhand o os ca min h o s ao s<br />

quais está ac o stu m a d o . Ao contrário, eles são atirado s fora <strong>da</strong><br />

pista o temp o todo, es qu e c e m o assunto e precis a m orientar- se<br />

nova m e n t e .<br />

Eles certa m e n t e tam b é m perd e m a reali<strong>da</strong>d e de vista de<br />

man eira muito con cr et a, já que o sentido <strong>da</strong> visão tam b é m se<br />

deteriora co m freqü ê n ci a. Nas raras visõ e s lumino s a s , tais<br />

co m o relâ m p a g o s claro s, pod e- se ver a tentativa do org anis m o<br />

de ac e n d e r uma luz para o pacient e e m relaç ã o à sua<br />

perc e p ç ã o . Eles evid e nt e m e n t e vê e m cois a s que não existe m .<br />

Muitas vez e s véus rec o br e m os olho s e oc orr e m surtos<br />

periódic o s de ce gu eira. Quando exata m e n t e m ei o ca m p o de<br />

visão des a p ar e c e , a interpreta ç ã o é simpl e s: só se vê ain<strong>da</strong><br />

uma m etad e (a própria) <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Imag e n s duplas, que<br />

surg e m co m freqü ê n ci a, den ota m um a duplici<strong>da</strong>d e de<br />

interpreta ç ã o e de sentido bastant e perigo s a. Expres s õ e s co m o<br />

"fundo duplo" ou "dupla m or al" dão a enten d er a quali<strong>da</strong>d e que<br />

aqui participa. Faz parte tam b é m des s e contexto o fato de que<br />

as con c e p ç õ e s m or ais e éticas são muitas vez e s tão estritas<br />

que o que é simple s m e n t e não pod e ser. As imag e n s duplas<br />

tam b é m pod e m apontar para isso. A reali<strong>da</strong>d e - se m que se<br />

perc e b a - é m e did a co m duas m e di<strong>da</strong> s .<br />

A dupla ótica dá a enten d e r que se tenta viver<br />

simultan e a m e n t e e m dois mun d o s inco m p atív eis. O mun d o <strong>da</strong>s<br />

próprias nec e s si d a d e s e o <strong>da</strong>s exig ê n ci a s do m ei o am bi e nt e<br />

são inco m p atív ei s, razão pela qual a m ai oria dos paci ent e s<br />

decid e, incon s ci e nt e m e n t e , atenu ar de man eira drástica os<br />

próprios sentim e nt o s e perc e p ç õ e s ou simples m e n t e não mais<br />

perc e b e r. Entretanto, as imag e n s duplas m o stra m que as<br />

idéias próprias continua m existindo na so m b r a e a partir <strong>da</strong>í<br />

entra m e m con c orr ê n ci a co m o mund o extern o. Os pacient e s<br />

de EM são, por assi m dizer, crianç a s de dois mund o s (em luta<br />

um co m o outro). Eles não pod e m levantar- se inteira m e nt e e m<br />

nen hu m des s e s mun d o s e senta m - se entre os ass e nt o s . Duas<br />

25<br />

1


perc e p ç õ e s que não se co a dun a m faze m muitas vez e s co m<br />

que uma delas se torne vertigino s a. O m e c a ni s m o é o m e s m o<br />

do enjô o quan d o se viaja de navio. Simples m e n t e , um a<br />

vertige m se faz pres e nt e.<br />

As freqü e nt e s perturba ç õ e s do equilíbrio en c aixa m - se aqui.<br />

Elas m o stra m quã o pouc o os paci ent e s estã o e m har m o ni a,<br />

animic a m e n t e faland o. Eles se m o v e m so br e um solo oscilante.<br />

Muitas vez e s, a exp eriên ci a é des crita co m o se o subs ol o (o<br />

solo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?) afun<strong>da</strong>s s e , é precis o lutar para m o v er- se para a<br />

frente co m o que m ca minha so br e areia m o v e di ç a ou co m o um<br />

equilibrista na cor<strong>da</strong> ba m b a . A sen s a ç ã o de que o chã o<br />

des a p ar e c e so b os pés do afetad o co m o se ele estives s e<br />

bê b a d o m o stra quã o pouc o firme e confiáv el é o contato co m a<br />

própria bas e e o enraiza m e n t o no solo aní mic o. O m e d o de<br />

precipitar- se de ponte s estreitas m o stra a am e a ç a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a<br />

proximi<strong>da</strong>d e do abis m o ao ca min h ar pela crista. De fato, o risco<br />

de precipitaç ã o tom a- se mais próxim o co m o progr e s s o do<br />

quadr o de sinto m a s . A so m b r a não vivi<strong>da</strong> am e a ç a atrair o<br />

pacient e para sua área de influência. Isso torna- se<br />

esp e ci al m e n t e perigo s o quan d o a es s a oscilaç ã o so m a m - se<br />

fraqu ez a e perturb a ç õ e s na sen sibili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong>s perna s, que co m<br />

freqü ê n ci a pare c e m extre m a m e n t e pes a d a s ou co m o se<br />

estive s s e m dor m e nt e s .<br />

A estrutura de pers o n ali<strong>da</strong> d e resultante, por um lado, está<br />

impregn a d a do des ej o de controlar e plan ejar tudo co m<br />

antec e d ê n c i a e, por outro, <strong>da</strong> falta de um a reaç ã o ade q u a d a<br />

frente ao s des afio s. Assim que algo vai contra suas<br />

con c e p ç õ e s fixas e freqü e nt e m e n t e rígi<strong>da</strong>s, surg e m resistên ci a<br />

e angú stia nos paci ent e s . O con sid er á v el med o do fracas s o e a<br />

falta de auto c o nfian ç a, no entanto, impe d e m que eles dê e m<br />

expr e s s ã o à sua indign a ç ã o . Para que m está de fora, es s a<br />

mistura dá facilm e nt e a impre s s ã o de teim o si a.<br />

Para o afetad o , a repre s s ã o de todo s os impulso s vitais<br />

próprios, reaç õ e s e resp o st a s à vi<strong>da</strong> é pratica m e n t e<br />

incon s ci e nt e. Quando ela se torna rudim e ntar m e n t e<br />

con s ci e nt e, oc orr e m tam b é m às vez e s ultrac o m p e n s a ç õ e s e<br />

25<br />

2


uma sed e de viver esp e ci al m e n t e de m o n s tr ativa. A rigidez e as<br />

con c e p ç õ e s fixas contrasta m co m a tend ê n ci a de fazer justiça<br />

a tudo. Com isso, os paci ent e s neglig e n ci a m suas próprias<br />

nec e s si d a d e s , o que os torna interna m e n t e irado s. Em bo a<br />

m e di<strong>da</strong> incap az e s de impor- se e extern ar agre s s õ e s , eles as<br />

dirige m para dentro, contra si m e s m o s . A explicaç ã o m é dic a <strong>da</strong><br />

EM co m o um a enfer mid a d e de auto- agre s s ã o explica para<br />

ond e vai a en er gia. Fras e s típicas durante a terapia são: "Eu<br />

não vivi”, "Meu cas a m e n t o foi um único auto- sacrifício", "Eu<br />

pas s ei a vi<strong>da</strong> pedind o des c ulp a s", "Eu nunc a m e per miti um a<br />

fraqu ez a" ou "Eu m e afastei tanto de mi m mes m o ”.<br />

A proble m á tic a sexual des e m p e n h a um pap el muito<br />

substanci al, esp e ci al m e n t e diss e m i n a d a entre os ho m e n s e<br />

que vai <strong>da</strong> impotên ci a à ejacula ç ã o prec o c e e à incap a ci<strong>da</strong>d e<br />

de atingir o orga s m o . Devido ao posicion a m e n t o de vi<strong>da</strong> dos<br />

pacient e s , voltad o para o exterior, é esp e ci al m e n t e difícil que<br />

eles não faça m co m p ar a ç õ e s e m suas valoraç õ e s . Todo<br />

co m p o rta m e n t o dirigido para o orgulho e a con c o rr ê n ci a, que é<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e imp e ditivo no âm bito sexual, pas s a por<br />

terapias drástica s e a tend ê n ci a geral do quadr o de sinto m a s<br />

de impor a fraqu ez a é ain<strong>da</strong> mais incentivad a.<br />

Por um lado os sinto m a s torna m a pes s o a sinc er a e, por<br />

outro, explicita m a tarefa de apren dizad o e apo nta m o ca minh o .<br />

O endur e ci m e n t o e a fixaçã o exig e m a con s e c u ç ã o firme e<br />

con s e q ü e n t e <strong>da</strong>s próprias nec e s si d a d e s vitais e enc o ntrar força<br />

e m si m e s m o . Uma forte auto c o nfian ç a precis a tornar- se a<br />

bas e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> aní mic a e substituir o endur e ci m e n t o dos nervo s<br />

físico s. Só vale a pen a am bi cion ar ter nervo s de aç o e m<br />

sentido figurad o. Pacient e s de EM, co m o med o que têm de ver<br />

a si mes m o s - para não falar e m realizar- se - tend e m a fazer- se<br />

pequ e n o s , des a m p a r a d o s e apático s.<br />

A liberaç ã o <strong>da</strong> fraqu ez a, e m última instância, está na<br />

entreg a, e m assu mir o ced er e o deixar ac o nt e c e r impo sto s<br />

pelo corpo. k desistên ci a <strong>da</strong> luta torna- se tarefa. A nec e s s i d a d e<br />

rara m e n t e extern a d a que os paci ent e s de EM têm de plan ejar,<br />

dirigir e controlar tudo de ac ord o co m suas con c e p ç õ e s é<br />

25<br />

3


sub m e tid a a terapia pelo destino. É so m e n t e quan d o se logra<br />

uma liberaç ã o <strong>da</strong>s exig ê n ci a s do m ei o am bi e nt e que se dev e<br />

voltar a transfor m ar o eg oís m o con q uistad o e primaria m e n t e<br />

saud á v el e sub m e t e r- se a um a vontad e sup erior. “Seja feita a<br />

Sua vontad e , não a minha!” Mas antes que tais elev a d o s ideais<br />

religios o s tenha m uma chanc e , é nec e s s á ri o parar<br />

interna m e n t e so br e as próprias perna s. A nec e s s i d a d e de<br />

afirmar a si m e s m o é dirigi<strong>da</strong> por um a existên ci a- so m b r a e é<br />

vivi<strong>da</strong> quas e exclusiva m e n t e nos sinto m a s <strong>da</strong> do e n ç a . É<br />

pos sív el exer c er pod er co m o diagn ó stic o de EM, o que<br />

rara m e n t e é visto e é freqü e nt e m e n t e co m b a tid o. A tarefa não<br />

pod e estar e m mais entre g a às exig ê n ci a s do am bi e nt e, m a s<br />

e m prim eiro lugar e m um a entreg a às próprias nec e s si d a d e s e,<br />

e m última instância, a Deus, ou seja, à uni<strong>da</strong>d e no sentido do<br />

"Seja feita a Sua vontad e!". A entre g a ao am bi e nt e so m e n t e<br />

pod eria atuar de form a red e nt or a quan d o a ob e di ê n ci a<br />

cad a v éric a e o se guir contrariad o oriund o s <strong>da</strong> fraqu ez a<br />

tornar e m - se participaçã o levad a interna m e n t e , tal co m o<br />

ac o nt e c e co m freqü ê n ci a quan d o os paci ent e s intervê m e m<br />

favor de seus coleg a s de sofrim e nt o. A exa g er a d a nec e s s i d a d e<br />

de son o e o can s a ç o paralisant e ac e ntua m a noite e, co m ela,<br />

o lado feminino do dia, alojand o no cora ç ã o dos pacient e s . Os<br />

próprios sentim e nt o s , son h o s e fantasias e seu esp a ç o vital<br />

torna m- se tarefa de vi<strong>da</strong>.<br />

Dores na coluna dirige m a aten ç ã o para a luta pela própria<br />

linha e pela tem átic a <strong>da</strong> retidão, que vibra tam b é m e m outros<br />

sinto m a s . A tend ê n ci a à tontura conté m , alé m diss o, a<br />

exig ê n ci a de girar junto co m o m o n d o , colo c ar e m questã o a<br />

certez a e o mund o apar e nt e s dos próprios princípios e<br />

con c e p ç õ e s m or ais e colo c ar nova m e n t e e m m o vi m e nt o a<br />

rigidez de ponto s de vista <strong>da</strong>í dec orr e nt e s . Os ca minh o s já<br />

perc orrido s e as con c e p ç õ e s en c alhad a s que se tem por diante<br />

e que, portanto, estã o no ca minh o , dev e m ser sacudid o s e<br />

tornar- se vacilante s.<br />

As imag e n s duplas indica m , entre outras cois a s, que há<br />

ain<strong>da</strong> uma outra reali<strong>da</strong>d e ao lado <strong>da</strong> usual e que a vi<strong>da</strong> tem de<br />

25<br />

4


fato um chã o duplo. Aquela autoc o nfian ç a que tanta falta faz<br />

ao s pacient e s de EM so m e n t e pod e cres c e r a partir <strong>da</strong><br />

confian ç a nes s e se g un d o plan o, o plano divino que conté m<br />

todo s os plan o s hum a n o s .<br />

A bexig a incontin e nt e quer incitar a que se deixe fluir as<br />

lágrim a s , aliviand o a pres s ã o <strong>da</strong> repres a aní mic a e m to<strong>da</strong>s as<br />

oportuni<strong>da</strong>d e s . A irritaçã o <strong>da</strong> bexig a dirige a aten ç ã o para o<br />

conflito a resp eito do tem a "aliviar", "soltar". A reten ç ã o <strong>da</strong><br />

urina, uma co m pl eta res erv a e renún cia ao interc â m b i o co m o<br />

mund o, e m seu sentido redimid o sug er e que se reflita so br e si<br />

m e s m o , utilizand o para si as en er gias aní mic a s : e m vez de<br />

res erv a e retira<strong>da</strong>, reflexã o e con sid er a ç ã o por si mes m o .<br />

As perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e tam b é m apo nta m nes s a<br />

direç ã o : co m a sen s a ç ã o do próprio corp o e a cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

sentir o mund o extern o, é evid e nt e que o mund o exterior co m<br />

to<strong>da</strong>s as suas exig ê n ci a s dev e ter sido arranc a d o <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a do afetad o . O que resta co m o tarefa é aprend er a<br />

tocar e sentir o mund o interno, que se tornou curto de m ai s. A<br />

indicaç ã o apontand o para o íntimo pod e ser li<strong>da</strong> tam b é m nos<br />

surtos de paralisia. Quando as perna s não agü e nt a m m ais,<br />

evid e nt e m e n t e não se dev e mais sair para o mund o, to<strong>da</strong> a<br />

correria pelo s outros, ou seja, pelo rec o n h e c i m e n t o atrav é s dos<br />

outros, termin ou. And ar para dentro é a única pos sibili<strong>da</strong>d e que<br />

per m a n e c e ab erta. Quando as m ã o s fica m se m força, de<br />

man eira corre s p o n d e n t e deixa de ser seu objetivo agarrar o<br />

mund o exterior para nele esta m p ar seu próprio selo. A tarefa<br />

de tom ar nas mã o s a própria vi<strong>da</strong> interna, ao contrário,<br />

continua sen d o pos sív el e adquire primazia.<br />

A auto- reflexã o que vai m ais long e leva a imag e n s<br />

arqu etípic a s tais co m o as con h e c e m os mitos e a religião.<br />

Portanto, a tarefa m ais abran g e nt e, que pelo m e n o s surg e no<br />

horizonte e m todo s os quadr o s de sinto m a s , é a reflexã o última<br />

e final so br e a pátria aní mic o- espiritual primordial do ser<br />

hum a n o . Em sinto m a s que am e a ç a m terminar co m es s a vi<strong>da</strong><br />

ou limitá- la drastica m e n t e , es s a tarefa torna- se esp e ci al m e n t e<br />

importante. Esse tem a é ac e ntuad o ain<strong>da</strong> mais e m um quadr o<br />

25<br />

5


de sinto m a s tal co m o a es cl er o s e múltipla que, m ais alé m dos<br />

sinto m a s , tão enfatica m e n t e procura forçar um a reto m a d a de<br />

relaç õ e s con sig o m e s m o e co m o próprio mun d o interior. Com<br />

isso, o afetad o aproxim a- se do tem a <strong>da</strong> religio, a religaç ã o co m<br />

a orige m no sentido religios o. E as grand e s que st õ e s <strong>da</strong><br />

existên ci a hum a n a sa e m do mund o <strong>da</strong>s so m b r a s para a luz <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a:<br />

"De ond e venh o?" - "Para ond e vou?" - "Quem sou eu?"<br />

P er g u nta s<br />

1. Por que sou tão duro co mi g o m e s m o e julgo tão<br />

dura m e nt e os outros e m e s m o assi m tento fazer tudo certo<br />

para eles?<br />

2 Onde eu tento controlar m eu m ei o am bi e nt e ou a mi m<br />

m e s m o se m estar e m con diç õ e s de fazê- lo?<br />

3. Que alternativas há neste mun d o para m eu s inam o vív ei s<br />

ponto s de vista so br e a vi<strong>da</strong>, sua m or al e sua ética?<br />

4. Com o pod eria aliviar a minh a vi<strong>da</strong>? Onde pod eria ter<br />

mais paciên ci a co mi g o m e s m o ? Com o en c o ntrar minha s<br />

fraqu ez a s , posicion ar- m e em relaç ã o a elas?<br />

5. O que m e imp e d e de participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? O que leva a<br />

que eu m e desligu e? Que pos sibili<strong>da</strong>d e s tenh o de incorrer e m<br />

stre s s , exig ê n ci a s exag er a d a s e con s u mi ç ã o ?<br />

6. O que paralisa minh a corag e m aní mic a? Que resistên ci a<br />

m e deixa can s a d o ?<br />

7. Por que eu m e en surd e ç o ? Onde eu m e finjo de surdo?<br />

Para que estou ce g o ?<br />

8. Em que m e did a dirijo minha en er gia principal contra mim<br />

m e s m o ?<br />

9. Onde pos s o perc e b e r e m minha vi<strong>da</strong> o fluxo aní mic o que<br />

vaza de minha bexig a? Onde as lágrim a s estã o atras a d a s ,<br />

ond e elas são sup érfluas?<br />

10. Até que ponto sou cap az de resp o n d e r à vi<strong>da</strong> e assu mir<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s ? Por que alim e nt o exp e ctativa s e m lugar de<br />

es c utar a mi m m e s m o ? Com o pas s o <strong>da</strong> deter min a ç ã o pelo s<br />

outros para a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e própria?<br />

25<br />

6


1 1. De que man eira as corrent e s de minha alm a se<br />

relacion a m e m um padrã o? Qual é sua orde m natural? O que<br />

está e m prim eiro lugar? Com o pod e m ser co ord e n a d a s as<br />

ord en s extern a e interna?<br />

12. O que m e impe d e de enc o ntrar ab erta m e n t e o<br />

incalculáv el e o mutáv el de minha vi<strong>da</strong>?<br />

13. Com o pos s o incluir-m e no grand e todo e en c o ntrar o<br />

sentido de minh a vi<strong>da</strong> se m prejudic ar minha identi<strong>da</strong>d e<br />

aní mic a?<br />

Epilepsia<br />

A epilep sia nos confronta co m o mais assu stad o r cas o de<br />

ataqu e que con h e c e m o s . A palavra “ataqu e" quer dizer que<br />

algo atac a um a pes s o a , algo estran h o que evid e nt e m e n t e ve m<br />

de fora. Em muitas culturas, co m o por exe m pl o na hindu, a<br />

do e n ç a é con sid er a d a a m anifesta ç ã o do sagr ad o que,<br />

proc e d e n t e de um outro plan o, so br e v ê m ao afetad o . A partir<br />

diss o, os indian o s con clu e m que ser e s espirituais estran h o s<br />

apo s s ar a m - se do afetad o. Eles vê e m o ataqu e co m o uma luta<br />

entre dois espíritos por aqu el e corpo. A m e dicin a antiga usav a<br />

tam b é m a den o m i n a ç ã o "morbu s sa c e r", m al sagr ad o .<br />

Fenô m e n o s de pos s e s s ã o tam b é m são con h e ci d o s entre<br />

nós, sen d o que ne m m e s m o a psiquiatria, que na ver<strong>da</strong> d e<br />

dev eria sab ê- lo, se atrev e a tocar no assunto. Poss e s s ã o e,<br />

principal m e nt e, a existên ci a de ser e s espirituais a<strong>da</strong>pta m - se<br />

tão pouc o à imag e m que tem o s do mund o que um silêncio<br />

m ortal rec ai so br e tais fenô m e n o s . Entretanto, sab e- se<br />

perfeita m e nt e que ignorar os probl e m a s não exerc e qualqu er<br />

influên cia so br e sua existên cia. Os cas o s de epilep sia e m que<br />

é precis o presu mir urna pos s e s s ã o , de m o d o algu m tão raros,<br />

são de qualqu er m an eir a um proble m a psiquiátrico que dev eria<br />

ser tratado co m o um a do e n ç a espiritual, cujas condiç õ e s de<br />

ponto de parti<strong>da</strong> são fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e diferent e s.<br />

O grand e ataqu e epiléptico clás sic o é cha m a d o pela<br />

m e di cin a de Grand Mal, e m franc ê s . Ao contrário dest e, há<br />

25<br />

7


tam b é m os ataqu e s cha m a d o s de P etit Mal, e m que o<br />

co m p o n e n t e convulsivo está aus e nt e e unica m e n t e a<br />

con s ci ê n ci a é perdi<strong>da</strong> por um curto períod o de tem p o . Em<br />

am b a s as desig n a ç õ e s há a con c e p ç ã o de que algo ruim se<br />

impõ e e m um ataqu e, seja golp e a n d o do exterior, seja<br />

irromp e n d o do interior.<br />

Naturalm e nt e, os fenô m e n o s corp or ais que se produz e m<br />

pod e m ser interpretad o s se gund o os m e s m o s critérios que<br />

outros sinto m a s , sen d o que no entanto volta- se se m pr e a<br />

trop e ç ar na fronteira <strong>da</strong> do e n ç a psíquic a. O que é decisivo e m<br />

todo s os tipos de epilep sia, inclusive as aus ê n ci a s , é a per<strong>da</strong><br />

de con s ci ê n ci a. Os pacient e s vão e m b o r a, estã o real m e nt e<br />

aus e nt e s . Sua con s ci ê n ci a ab and o n a o corp o, levan d o - os ao<br />

m e s m o temp o desta reali<strong>da</strong>d e para um a outra, na qual eles<br />

não con s e g u e m se orientar e <strong>da</strong> qual e m geral não pod e m<br />

trazer nenhu m a lem br a n ç a . Seu sofrim e nt o tam b é m se<br />

diferen cia dos proble m a s pura m e n t e físico s, já que eles não<br />

pres e n ci a m os mo m e n t o s decisivo s de seu estad o .<br />

Quando se con sid er a o ataqu e do ponto de vista físico, ele<br />

se ass e m e l h a a um terre m o t o . Após um a curta aura 57 que<br />

surg e de vez e m quan d o e que anuncia ao s pacient e s o<br />

ac o nt e ci m e n t o iminent e, eles ca e m simultan e a m e n t e ao chã o e<br />

na incon s ci ê n ci a. A pres s ã o san g uín e a cai igualm e nt e, e a<br />

princípio a respiraç ã o pratica m e n t e se paralisa. Às vez e s o<br />

pacient e e mite um forte grito no início. Finalm e nt e, o corp o é<br />

sacudid o por violenta s convuls õ e s , co m freqü ê n ci a há espu m a<br />

na bo c a e pod e- se che g ar a m ord er a língua e à e mi s s ã o de<br />

feze s e urina. Procura- se prote g e r o pacient e de suas próprias<br />

m ordi<strong>da</strong> s enfiand o- lhe uma cunh a de borracha entre os dente s<br />

para que ele não se dilac er e a bo c a e os lábio s. As pupilas<br />

fica m dilata<strong>da</strong> s e não reag e m , imóv ei s co m o as de um m orto.<br />

Para que m ob s erva de fora, é co m o se de fato os pacient e s<br />

estive s s e m <strong>da</strong>nd o os último s estertor e s . Após algun s minuto s<br />

de luta, caract eriza<strong>da</strong> pelas convuls õ e s , sua en er gi a se es g ota,<br />

as convuls õ e s arrefe c e m e che g a- se a um son o profund o,<br />

cha m a d o de termin al, do qual os pacient e s des p erta m<br />

25<br />

8


ab atido s, extre m a m e n t e can s a d o s e freqü e nt e m e n t e co m dor<br />

de cab e ç a .<br />

Os pequ e n o s ataqu e s epiléptico s apres e nt a m um a série de<br />

estad o s crepus c ul ar e s , co m atord o a m e n t o se m el h a nt e a<br />

quan d o se son h a, e delírios. Pode- se che g ar a alucinaç õ e s ,<br />

des ori e nta ç ã o , estad o s de excitaç ã o física e até m e s m o atos<br />

falhos tais co m o explos õ e s de violên cia. Além diss o, há um a<br />

abun d â n ci a de estad o s psiquiátricos que vão <strong>da</strong> dispo siç ã o<br />

depr e s siv a co m irritaçã o e tend ê n ci a s suici<strong>da</strong>s até fenô m e n o s<br />

extrava g a nt e s tais co m o ataqu e s de mania de ca min h ar ou a<br />

cha m a d a epilepsia de suor.<br />

Antes de interpretar os sinto m a s individual m e nt e, eu go staria<br />

de falar de um fenô m e n o do ma cr o c o s m o s que, e m seu<br />

sim b olis m o , corre s p o n d e a muitos asp e ct o s do Grand e Mal: o<br />

terre m o t o . Aqui tam b é m en er gi a s pod er o s a s se des c arr e g a m<br />

e m m o vi m e nt o s se m e l h a nt e s a solav a n c o s . A terra trem e até<br />

que as grand e s tens õ e s tenha m pas s a d o e entã o, após<br />

pequ e n o s trem or e s posterior e s, ch e g a- se à cal m a. O<br />

trans curs o e as perturba ç õ e s são tão se m el h a nt e s que se<br />

pod eria dizer que a terra sofreu um ataqu e epiléptic o. Até<br />

m e s m o o no m e pod eria ser transp o st o, pois um terre m o t o é um<br />

grand e m al do ponto de vista <strong>da</strong>s pes s o a s afetad a s . É precis o<br />

duvi<strong>da</strong>r se ele tam b é m o é do ponto de vista <strong>da</strong> Terra, quan d o<br />

se ob s erva o pan o de fundo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e sís mic a. Os<br />

terre m o t o s oc orr e m nas cha m a d a s zona s de tens ã o <strong>da</strong><br />

sup erfície <strong>da</strong> Terra, sen d o provo c a d o s por duas placa s<br />

tectônic a s que roça m um a na outra. Com o suas bor<strong>da</strong> s não<br />

são ho m o g ê n e a s , isso termina por acu m ular en or m e s ca m p o s<br />

de tens ã o . Quando o arc o está hiperten si o n a d o , es s a s tens õ e s<br />

acu m ul ad a s ao long o de déc a d a s se libera m so b a form a de<br />

ac e s s o s de trem or e s . São Francisc o , que está direta m e n t e<br />

so br e a fen<strong>da</strong> de Santo André, uma <strong>da</strong>s maior e s des s a zona<br />

de tens ã o , pod e ser co m p ar a d a a um epiléptic o que esp er a o<br />

próxim o ataqu e. Os pes q uis a d o r e s de terre m o t o s não ficara m<br />

satisfeito s co m o trem or oc orrido lá e m 19 9 0 , já que lhes<br />

parec e u muito fraco para equilibrar as imen s a s tens õ e s<br />

25<br />

9


acu m ul ad a s des d e o último grand e trem or. Em sua<br />

argu m e n t a ç ã o , os pes q uis a d o r e s parte m do princípio de que a<br />

Terra precis a des s e trem or para livrar- se de suas tens õ e s<br />

interna s. Os paci ent e s precis a m liberar- se exata m e n t e <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira. A epilepsia não é nenhu m a exc e ç ã o , ain<strong>da</strong><br />

que provo q u e <strong>da</strong>n o s alar m a nt e s ao siste m a nervo s o .<br />

Uma outra imag e m do âm bito <strong>da</strong> m e dicin a que é e m grand e<br />

m e di<strong>da</strong> análo g a ao transcurs o de um ataqu e seria o trata m e nt o<br />

de eletro c h o q u e . Na antiga psiquiatria, tentav a- se obter<br />

m elh or a s e m quadr o s de sinto m a s psiquiátrico s atrav é s <strong>da</strong><br />

aplicaç ã o de fortes corrent e s elétricas so b narc o s e . O todo<br />

pareci a- se ao exorcis m o do de m ô ni o co m o Belzebu. A<br />

exp eriên ci a m o str ou no entanto que os ma u s e s pírito s às vez e s<br />

ass o m b r a v a m real m e nt e a vastidã o por algu m temp o.<br />

Externa m e n t e , um eletro c h o q u e pare c e um ataqu e epiléptico<br />

artificial, ou um ataqu e parec e um eletro c h o q u e natural. O<br />

ataqu e do Grande Mal pod e ser visto de fato co m o um<br />

fenô m e n o elétrico e m que to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>d e elétrica do cér e br o é<br />

so br e p o s t a por um poten cial hiperdi m e n si o n a d o cha m a d o<br />

focu s , sen d o assi m silenciad a. A con s ci ê n ci a do paci ent e é<br />

igual m e nt e deslig ad a por um pod er sup erior. A questã o é: por<br />

que m e para quê? A resp o st a m ais profun<strong>da</strong> m al pod e ser<br />

deduzi<strong>da</strong> dos sinto m a s físico s, já que o es s e n ci al é um<br />

fenô m e n o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e nós entretanto m al sab e m o s o que<br />

oc orr e naqu el e outro plan o inac e s s í v el à con s ci ê n ci a desp erta.<br />

Os sinto m a s extern o s visíveis ain<strong>da</strong> assi m nos dão ac e s s o<br />

às con diç õ e s de deline a m e n t o <strong>da</strong> do e n ç a e tam b é m às tarefas<br />

ele apren dizad o nela cifra<strong>da</strong> s. A aura, o prim eiro sinal<br />

evid e nt e m e n t e en sin a pacient e a prestar aten ç ã o ao s sinais,<br />

so br etud o ao s sinais prov e ni e nt e s de uma outra esfera. Eles<br />

nec e s s a ria m e n t e aprend e m a avaliar o significad o iminent e de<br />

tais indícios, m e s m o se m pod er es clar e c ê - los ou co m pr e e n d ê -<br />

los.<br />

O ataqu e convulsivo é a reprodu ç ã o de um a luta. To<strong>da</strong> luta<br />

en gl o b a se m pr e ao m e n o s dois partido s rivais. Assim co m o as<br />

duas plac a s tectônic a s entra m e m colisã o durante um<br />

26<br />

0


terre m o t o , nos epiléptico s pare c e tam b é m que dois mund o s<br />

entra m e m conflito. As convuls õ e s são a expr e s s ã o do atrito<br />

resultante. A con s ci ê n ci a luta contra um outro plan o não<br />

con s ci e nt e e sucu m b e rapi<strong>da</strong> m e n t e . Este outro plan o dev e ser<br />

atribuído e m todo s os cas o s ao incon s ci e nt e. A ac eitaç ã o pelo s<br />

indian o s <strong>da</strong> intro miss ã o de outros mun d o s espirituais na vi<strong>da</strong> é<br />

tão pouc o excluí<strong>da</strong> des s a m an eira co m o a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

uma irrupçã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m outros mund o s espirituais. Em<br />

qualqu er cas o , pare c e que a tarefa é entre g ar- se à luta entre<br />

os mund o s e estar se m pr e pronto a fazê- lo assi m que o m e n o r<br />

sinal do outro lado o conv o q u e para tal. Caso o contato co m o<br />

outro lado, que na do e n ç a é forçad o co m violên cia, foss e feito<br />

de livre e esp o ntân e a vontad e , o corp o seria des c arr e g a d o .<br />

Sob a form a de ataqu e, torna- se clara a tens ã o acu m ul ad a<br />

pelo pacient e. Eles espu m a m pela bo c a e co m isso m o stra m<br />

literalm e nt e co m o se sente m . Se eles espu m a m de ira ou<br />

algu m a outra en er gi a, e m qualqu er cas o sai deles algo que<br />

estav a estan c a d o há muito temp o. Pode- se supor que eles<br />

vive m co m o freio puxad o e m suas vi<strong>da</strong>s burgu e s a s nor m ai s.<br />

Até aqui o ataqu e, durante o qual eles pod e m por uma vez<br />

real m e nt e espu m a r, é tam b é m relaxant e. Oliver Sacks<br />

m e n ci o n a ataqu e s epiléptico s "que dec orr e m co m um a<br />

sen s a ç ã o de paz e de ver<strong>da</strong>d eir o be m - estar". Cinco imag e n s<br />

de paci ent e s faze m refer ên ci a a erupç õ e s vulcânic a s e a<br />

drag õ e s soltand o fogo.<br />

A tend ê n ci a de mord er a língua, provo c a d a pelas convuls õ e s<br />

<strong>da</strong> mus c ulatura, nos fala <strong>da</strong> tens a situaç ã o ao início do<br />

fenô m e n o . Há um a expres s ã o que diz que é m elh or m ord er a<br />

língua que declarar algo e que se aplica perig o s a m e n t e ao s<br />

epiléptico s. Os epiléptic o s per mite m rec o n h e c e r um a tend ê n ci a<br />

à mor<strong>da</strong> cid a d e quan d o m ord e m os próprios lábio s. Dess a<br />

man eira a espu m a <strong>da</strong> ira e um grito não pod e m ultrapas s ar os<br />

lábio s. Eles prefer e m dilac er ar- se antes de colo c ar algo para<br />

fora.<br />

Na que d a dos pacient e s e no principio do des m ai o está a<br />

exig ê n ci a de livrar- se do pod er e deixar- se cair. Aqui tam b é m<br />

26<br />

1


trata- se <strong>da</strong> entreg a àqu el e outro pod er que não pod e ser<br />

atingido co m os m ei o s de nos s o confiáv el mund o. É<br />

unica m e n t e e m seus incon s ci e nt e s que os pacient e s es c olh e m<br />

uma m an eira drástica de entre g ar- se a seu destino. A<br />

indicaç ã o de entre g ar- se é reforç a d a por outros sinto m a s<br />

físico s. A pres s ã o san guín e a que cai m o stra que ag or a não se<br />

trata de um a impo siç ã o , m a s de ac eitaç ã o e, por es s a razão,<br />

de entreg ar- se às forças sup erior e s .<br />

A tem átic a <strong>da</strong> liberaç ã o <strong>da</strong> pres s ã o acu m ulad a se reflete<br />

tam b é m na e mis s ã o involuntária de urina. A bexig a é o órg ã o<br />

co m o qual reagi m o s <strong>da</strong> m an eira m ais sen sív el à pres s ã o a<br />

cuja altura não esta m o s , animic a m e n t e faland o. Nós a<br />

utilizam o s e m to<strong>da</strong> s as oc a si õ e s pos sív ei s para eclipsar- nos e<br />

aliviar a opress ã o acu m ul ad a e m um lugarzinho tranqüilo e<br />

se m confrontaç ã o .<br />

Após a luta inicial, a imag e m do ataqu e m o stra um<br />

relaxa m e n t o e m to<strong>da</strong> a linha de batalha, e entã o entra e m cen a<br />

o intestino co m a igual m e nt e involuntária eva c u a ç ã o . As feze s<br />

prov ê m direta m e n t e do sub m u n d o do corp o, aqu el e país de<br />

so m b r a s e m que reina Plutão- Hades, o deus do Reino dos<br />

Mortos. Visto des s a man eira, nest e sinto m a há a exig ê n ci a de<br />

aliviar- se co m to<strong>da</strong> a sinc eri<strong>da</strong> d e e e m público, se m verg o n h a e<br />

con sid er a ç ã o e m relaç ã o a seu mun d o de so m b r a s . Os<br />

es c ur o s tem a s estan c a d o s aqui con s e g u e m co m o ataqu e a luz<br />

pública que de outra man eira lhes é ve e m e n t e m e n t e neg a d a<br />

devido a seu conteúd o sim b ólic o profund o. Finalm e nt e,<br />

dev e m o s rec o n h e c e r tam b é m nes s e sinto m a a exig ê n ci a de<br />

deixar tudo o que é m at erial so b e atrás de si. O conjunto nos<br />

dá um a imag e m de desinibiç ã o , um a desinibiç ã o que não tem a<br />

míni m a chanc e na vi<strong>da</strong> do afetad o fora do ataqu e. Teste m u n h o<br />

contrário diss o, por exe m pl o, é a caligrafia ped a nt e de muitos<br />

epiléptico s, que mo stra um a orde m impregn a d a de aprum o .<br />

A parad a inicial <strong>da</strong> respiraç ã o , a cha m a d a apn éia, per mite<br />

supor que o estad o forçad o pelo ataqu e não é dest e mun d o . A<br />

respiraç ã o é um a clara expres s ã o de noss a ligaç ã o co m a<br />

polari<strong>da</strong>d e , o mund o dos contrário s. Os dois pólo s <strong>da</strong><br />

26<br />

2


inspiraç ã o e <strong>da</strong> expiraç ã o nos ac orr enta m a ela do prim eiro ao<br />

último fôleg o. Antes do prim eiro ain<strong>da</strong> não esta m o s real m e nt e<br />

neste mund o, co m o último precis a m o s deixá- lo. Modernas<br />

pes q uis a s so br e a m orte revela m que pes s o a s e m estad o de<br />

m orte apar e nt e, quan d o portanto não mais respira m , têm<br />

exp eriên ci a s que coincid e m ass o m b r o s a m e n t e entre si m a s<br />

que, por outro lado, não são dest e mund o 58 . A pes q uis a de<br />

pes s o a s e m m e ditaç ã o profun<strong>da</strong> resultou e m que exp eriên ci a s<br />

extrac orp ór e a s e m outros mun d o s espirituais estã o<br />

relacion a d a s a períod o s de susp e n s ã o <strong>da</strong> respiraç ã o .<br />

Nisso enc aixa m - se tam b é m as pupilas dilata<strong>da</strong> s que não<br />

reag e m , co m p o rtand o - se pratica m e n t e co m o na m orte. O fato<br />

de elas estar e m dilata<strong>da</strong> s, co m o se es c a n c a r a d a s de terror,<br />

pod e indicar, assi m co m o o grito inicial que às vez e s oc orr e,<br />

que be m no início os paci ent e s têm uma visã o fulminant e do<br />

outro plan o, que lhes instila o m ais profund o terror ou um a<br />

ad mira ç ã o incrédula. Normal m e nt e, grita- se de dec e p ç ã o ou de<br />

m e d o ou porqu e algo sup er a as próprias forças; às vez e s<br />

tam b é m de deleite. Até m e s m o um grito de so c orr o seria<br />

co m p atív el co m a situaç ã o , be m co m o um grito prim ordial<br />

arranc a d o <strong>da</strong>s profund ez a s do afetad o. O neurop sic ól o g o<br />

Oliver Sacks lem br a que Dostoiev s ki às vez e s viven ci av a auras<br />

epiléptica s estática s e o cita co m o se se g u e : “Há m o m e n t o s , e<br />

eles dura m apen a s cinc o ou seis se gund o s , nos quais se<br />

exp eri m e nt a a existên ci a de um a har m o ni a divina... A horrível<br />

clarez a co m que eles se rev ela m e o arreb ata m e n t o co m que<br />

nos en c h e são assustad or e s . Se es s e estad o duras s e m ais<br />

que cinc o ou seis se g un d o s , a alm a não o pod eria suportar e<br />

teria de fugir. Ness e s cinc o se gund o s eu vivo to<strong>da</strong> um a vi<strong>da</strong><br />

hum a n a, e por eles eu <strong>da</strong>ria tudo, se m ach ar que estav a<br />

pag a n d o muito caro... 59 ”.<br />

A AEC corro b or a as interpretaç õ e s de invas ã o súbita de algo<br />

pod er o s o . A ativi<strong>da</strong>d e elétrica do cér e br o é deslig ad a de um só<br />

golp e. Os fusíveis se quei m a m e um a força muito m ais<br />

pod er o s a assu m e a iniciativa. O siste m a nervo s o dos pacient e s<br />

não está e m con diç õ e s de mant er a corrent e invas or a, mais<br />

26<br />

3


forte, na con s ci ê n ci a. Aqui, volta a ficar clara a se m e l h a n ç a<br />

co m a interpreta ç ã o hindu, de que na epilep sia um a força<br />

sagra d a se aplac a. Nós tam b é m con h e c e m o s tais idéias <strong>da</strong><br />

Bíblia, quan d o as pes s o a s não suporta m olhar direta m e n t e<br />

para Deus e são adv erti<strong>da</strong> s várias vez e s para não tentar fazêlo.<br />

Pode- se ao m e n o s con statar que no ataqu e atua um a<br />

en er gi a que sup er a e m muito a dos pacient e s . Nem o siste m a<br />

nervo s o está eletrica m e n t e à sua altura ne m a con s ci ê n ci a<br />

pod e fazer- lhe frente e m outros asp e ct o s . É co m o se<br />

rep entina m e n t e se pas s a s s e <strong>da</strong> corrent e alternad a para um a<br />

corrent e de alta voltag e m . De ac ord o co m as exp eriên ci a s <strong>da</strong><br />

terapia <strong>da</strong> reen c arn a ç ã o , no cas o <strong>da</strong> epilep sia trata- se<br />

so br etud o <strong>da</strong> invas ã o de forças sup erior e s es cur a s.<br />

É co m pr e e n s í v el que apó s tudo isso os pacient e s precis e m<br />

dor mir. Entretanto, o son o profund o e ain<strong>da</strong> quas e incon s ci e nt e<br />

que não restaura as forças, sen d o ele m e s m o ain<strong>da</strong> m ais<br />

fatigante, é prova de que ou as exp eri ên ci a s no outro plan o<br />

continua m ou entã o são integrad a s e m um proc e s s o que<br />

con s o m e as en er gias, e os con duto s elétrico s ultracan s a d o s<br />

precis a m se reg e n e r ar. É claro que a cab e ç a dói após o<br />

ataqu e, ela foi totalm e nt e exigi<strong>da</strong> ao m e n o s en er g etic a m e n t e ,<br />

ma s talvez tam b é m quanto a seu conteúd o . Os pacient e s se<br />

refaz e m ao s pouc o s <strong>da</strong> long a viag e m que ro mp e as fronteiras<br />

de sua con s ci ê n ci a. Depois, eles estã o co m p ar ativa m e n t e<br />

relaxad o s e quas e não se lem br a m <strong>da</strong> exp eriên ci a.<br />

Pode- se con cluir do fato de que células cer e br ais são<br />

destruí<strong>da</strong> s a cad a ataqu e do Grand e Mal e que a long o prazo a<br />

cois a es c a p ar á <strong>da</strong> própria vontad e. Quadros tardios de<br />

epiléptico s tam b é m aponta m nes s a direç ã o , já que pod e m<br />

m o strar desd e um ralenta m e n t o geral <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>d e s até sinais<br />

de de m ê n c i a.<br />

Os sinto m a s do Pequ e n o Mal vão ain<strong>da</strong> mais alé m no<br />

âm bito psiquiátrico e serã o m e n ci o n a d o s à marg e m aqui<br />

so m e n t e para indicar que eles, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , aponta m na<br />

m e s m a direç ã o . Por trás <strong>da</strong>s aus ê n ci a s oculta m- se estad o s<br />

crepus c ular e s que se apod er a m rep entina m e n t e do paci ent e. O<br />

26<br />

4


crepús c ul o é um a situaç ã o de pas s a g e m de um plan o para<br />

outro: do dia para a noite ou <strong>da</strong> vigília para o son o. As<br />

aus ê n ci a s força m o pacient e a ultrapas s ar es s e s ponto s de<br />

pas s a g e m entre os plano s, nest e cas o entre a vigília e os<br />

son h o s , ou seja, entre a vigília e o son o. A tarefa é<br />

evid e nt e m e n t e tom ar a zona de lusc ofus c o con s ci e nt e, prestar<br />

mais aten ç ã o a ela con s ci e nt e m e n t e e tom ar- se um an<strong>da</strong>rilho<br />

entre os mund o s .<br />

Apariçõ e s ilusórias já são exp eriên ci a s de um outro mund o.<br />

O pacient e que sofre de alucinaç õ e s óticas vê algo que<br />

ningu é m mais alé m dele perc e b e . O m e s m o é válido para<br />

form a s de alucinaç ã o acústic a, olfativa e tátil 60 . Evidente m e n t e ,<br />

o pacient e dev e e precis a aprend er a integrar es s a s outras<br />

dim e n s õ e s de sua reali<strong>da</strong>d e na vi<strong>da</strong>. Com o as alucinaç õ e s são<br />

e m sua maioria manife staç õ e s <strong>da</strong> so m b r a, a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> é clara: os conteúd o s forçad o s para fora <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a há muito tem p o quer e m ser rec o n h e c i d o s e<br />

integrad o s .<br />

Esse contexto tom a- se ain<strong>da</strong> mais claro nos delírios. Neles<br />

e m e r g e m as so m b r a s mais puras, ou seja, mais es cur a s, razão<br />

pela qual a psiquiatria costu m a despr ez a- las co m o<br />

inexistent e s. Manifesta- se natural m e nt e no delírio tudo aquilo<br />

que os pacient e s não con h e c e m de sua vi<strong>da</strong> burgu e s a . Sob<br />

muitos asp e ct o s , será exata- m e nt e o contrário. Mas isso não<br />

faz co m que seja m inexistent e s , ma s deixa m entrev er que<br />

faze m parte do mais profund o ser do pacient e. É sua so m b r a,<br />

seu outro lado, es c ur o. Quando "atos violento s incontroláv ei s e<br />

se m sentido" irromp e m , isso m o stra por um lado que o pacient e<br />

mant e v e es s a s en er gias so b control e totalm e nt e e por tanto<br />

temp o que evident e m e n t e a única saí<strong>da</strong> que lhes resta con siste<br />

e m obter ar por m ei o <strong>da</strong> violên ci a. Por outro, deixa entrev er<br />

que es s e atos não faze m nenhu m sentido quan d o julgad o s de<br />

ac ord o co m a existên cia burgu e s a dos pacient e s , m a s e m<br />

relaç ã o à sua existên ci a total, repres e nt a m seu outro lado, o<br />

lado es c ur o, e des s e ponto de vista faze m muito sentido. Essa<br />

m etad e es c ura precis o u evid e nt e m e n t e suportar um a<br />

26<br />

5


existên ci a na so m b r a por muito temp o, de m an eira que ag or a<br />

força sua pas s a g e m para a luz <strong>da</strong> con s ci ê n ci a co m um efeito<br />

de esta m pid o. Tam b é m faze m parte des s e âm bito aqu el a s<br />

raras auras e m que voz e s se torna m cad a vez m ais altas e<br />

importun a s sen d o que e m seu aug e a con s ci ê n ci a do afetad o é<br />

oblitera<strong>da</strong>.<br />

Em sinto m a s tais co m o a mania de ca min h ar, sai à luz do<br />

dia o caráter de exortaç ã o . O pacient e evid e nt e m e n t e<br />

per m a n e c e u no lugar, ou seja, ficou pend e nt e de um m e s m o<br />

lugar ou tem a por de m a s i a d o temp o . Agora ele é levad o<br />

forço s a m e n t e a pôr- se a ca min h o e e mi gr ar para outros<br />

âm bito s e outros mun d o s .<br />

A express ã o “epilepsia de suor" m o stra muito clara m e n t e a<br />

m e n s a g e m : não se trata mais de preferir m ord er a língua a<br />

abrir os lábios. A ép o c a <strong>da</strong> res erv a ele g a nt e, ou seja, tolhi<strong>da</strong>,<br />

pas s o u. O paci ent e já se tolheu por temp o suficiente e ag or a<br />

isso se apo d er a inteira m e n t e dele e a corrent e há tanto temp o<br />

estan c a d a flui na transpiraç ã o . O sinto m a aqui repre s e nt a<br />

justa m e nt e o rompi m e n t o dos diqu e s. Todo s os ataqu e s<br />

epiléptico s se ass e m e l h a m neste ponto: eles são co m o<br />

rompi m e nt o s de dique s que põ e m e m m o vi m e n t o os<br />

co m p o n e n t e s contido s do ser.<br />

Cone ctar- se à pod er o s a corrent e de en er gi a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e deixar<br />

fluir livre m e nt e as próprias en er gi a s, ou seja, aliviar- se, se m<br />

dúvi<strong>da</strong> faze m parte <strong>da</strong>s liçõ e s m ais pre m e n t e s a ser e m<br />

apren di<strong>da</strong> s que são força<strong>da</strong> s pelo fenô m e n o epiléptic o. Por<br />

outro lado, está cifra<strong>da</strong> nele tam b é m a exig ê n ci a de abrir- se<br />

para outros plano s, esp e ci al m e n t e aqu el e s que estã o ved a d o s<br />

à con s ci ê n ci a de vigília nor m al. Novos plano s de con s ci ê n ci a,<br />

mund o s de son h o s e de fantasias, m a s tam b é m ab ertura<br />

m e diúnic a para outras dim e n s õ e s espirituais são sug erido s<br />

pelo quadr o de sinto m a s e, portanto, inclue m - se no âm bito <strong>da</strong>s<br />

tarefas<br />

De um ponto de vista prático, justa m e n t e tudo aquilo que<br />

parec e errad o se g un d o as con c e p ç õ e s alopática s é<br />

esp e ci al m e n t e ben éfic o. A terapia respiratória intensiva, que<br />

26<br />

6


não recua diante <strong>da</strong>qu el e s âm bito e m que as travas interna s<br />

são expres s a s exterior m e nt e, tem <strong>da</strong>d o bon s resultad o s . É ao<br />

m e s m o temp o uma oportuni<strong>da</strong>d e de prev e nir os grand e s<br />

ataqu e s de convuls õ e s , já que o pacient e se apres e nt a ao<br />

princípio do tolhim e nt o de ante m ã o e de livre e esp o nt ân e a<br />

vontad e , liberan d o de m an eira dos a d a as inibiçõ e s do mund o<br />

<strong>da</strong> alm a e do corpo. Uma ses s ã o de terapia <strong>da</strong> respiraç ã o<br />

ofer e c e um a reprodu ç ã o ho m e o p á tic a (se m el h a nt e) de um<br />

ataqu e.<br />

Um orga s m o viven ciad o totalm e nt e tam b é m apre s e nt a<br />

paralelo s e tem uma certa se m el h a n ç a co m um ataqu e. Neste<br />

cas o tam b é m des c arr e g a m - se en er gi a s so b a form a de ond a s<br />

que perc orr e m todo o corp o ain<strong>da</strong> que aqui o foco esteja no<br />

baixo- ventre e não na cab e ç a . Segund o a psicot er apia, muitos<br />

ataqu e s epiléptico s nos dão indicaç õ e s de um deslo c a m e n t o<br />

de en er gia de baixo para cim a. Os pacient e s não ous a m soltar<br />

to<strong>da</strong> a sua en er gia no plan o inferior, quas e se m pr e<br />

des q u alificad o co m o sen d o sujo, e deslo c a o fenô m e n o , todo o<br />

grand e orga s m o por assi m dizer, para o plan o <strong>da</strong> cab e ç a , mais<br />

limpo a seus olho s. Uma vi<strong>da</strong> sexual intensiva que per mite às<br />

en er gi a s fluíre m e explodire m é con s e q ü e n t e m e n t e uma<br />

terapia para os epiléptico s.<br />

O asp e ct o m ais substanci al, entretanto, é ced er de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e às tend ê n ci a s força<strong>da</strong> s pelo ataqu e e<br />

pas s ar a cruzar con s ci e nt e m e n t e as fronteiras entre os<br />

mund o s , e m pr e e n d e r viag e n s a outros âm bito s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e<br />

que inclue m o Reino <strong>da</strong>s Som br a s, e confiar- se à forte corrent e<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que grand e s corrent e s contrárias invest e m uma contra a<br />

outra em minh a alm a?<br />

2. Que pos sibili<strong>da</strong>d e s de des c ar g a para a en er gia<br />

estan c a d a eu me per mito alé m dos ataqu e s ?<br />

3. Onde seria nec e s s á ri o e m mim um rompi m e nt o de dique<br />

aní mic o? Poss o deixar- m e ir se m inibiçõ e s ?<br />

26<br />

7


4. Que sinais de outros plano s eu rec e bi e ignor ei?<br />

5. Com o pod eria, de livre e esp o nt â n e a vontad e , criar<br />

esp a ç o e m mi m para as so m b r a s ?<br />

6. Sou cap az de entreg ar- m e a outros (poder e s)?<br />

7. Que relaç ã o eu tenh o co m o mun d o trans c e n d e n t e alé m<br />

<strong>da</strong> noss a perc e p ç ã o usual de tem p o e esp a ç o ?<br />

8. Poss o imagin ar- m e cruzan d o con s ci e nt e m e n t e as<br />

fronteiras entre os mun d o s ?<br />

26<br />

8


5<br />

O Pesc o ç o<br />

Com o ligaç ã o entre a cab e ç a e o tronc o, o pes c o ç o é uma<br />

regiã o m ar c a d a m e n t e sen sív el, um desfilad eiro atrav é s do qual<br />

tudo o que é es s e n ci al precis a pas s ar. O ar que se respira, a<br />

alim e nta ç ã o e as orden s e miti<strong>da</strong>s pela cab e ç a vê m de cim a<br />

para baixo, en qu a nt o as co m u nic a ç õ e s do corp o são<br />

dev olvi<strong>da</strong> s para a central que está aci m a. Três vias centrais de<br />

co m u nic a ç õ e s con c e ntr a m - se aqui e m um esp a ç o<br />

extre m a m e n t e restrito: a traqu éia, o es ôfag o e a m e d ula<br />

espinh al. Cons e q ü e nt e m e n t e , o control e des s a s ligaç õ e s é<br />

uma funçã o es s e n ci al des s a regiã o. A decisiva diss e m i n a ç ã o<br />

<strong>da</strong> voz feita pela laring e tam b é m está relacio n a d a à<br />

trans mi s s ã o e à co m u nic a ç ã o . Comunic a ç ã o para fora atrav é s<br />

<strong>da</strong> voz e co m u ni c a ç ã o para dentro atrav é s do es ôfa g o são os<br />

tem a s básic o s <strong>da</strong> regiã o. Os nervo s <strong>da</strong> m e d ula espinh al<br />

transita m e m am b a s as direç õ e s .<br />

Devido à estreitez a do min a nt e, o pes c o ç o tem um a estreita<br />

ligaç ã o co m a angústia (do latim angu st u s = estreito) e<br />

esp e ci al m e n t e co m a angústia <strong>da</strong> m orte. Todo s so m o s<br />

confrontad o s co m a co m bi n a ç ã o de estreitez a e angú stia no<br />

início <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Com o tudo já está contido no início, assi m co m o<br />

a árvor e na se m e n t e , não é de ad mirar que a angústia seja e<br />

continu e sen d o um a exp eriên ci a hum a n a fun<strong>da</strong> m e n t al. Quando<br />

se aperta o pes c o ç o , e m seu caráter de desfilad eiro decisivo<br />

para as três vias de ligaç ã o decisiva s entre a cab e ç a e o corp o,<br />

isso repres e nt a uma am e a ç a de m orte so b vários asp e ct o s .<br />

Pode- se sufoc ar e m questã o de minuto s, m orr er de sed e e m<br />

dias, m orr er de fom e 61 e m se m a n a s e, no cas o <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al, em segun d o s quan d o oc orr e um a paralisia central.<br />

Assim, o pes c o ç o é na ver<strong>da</strong>d e um lugar pred e stina d o para<br />

matar ser e s hum a n o s . As soci e d a d e s m ais divers a s e<br />

totalm e nt e heter o g ê n e a s des e n v o lv er a m os m ais diferent e s<br />

26<br />

9


m ét o d o s de execuç ã o , m a s a maioria tem prefer ê n ci a pelo<br />

pes c o ç o co m o local do ac o nt e ci m e n t o . Na Franç a, ele era<br />

cortad o na guilhotina co m precis ã o ma q uin al, na Inglaterra o<br />

delinqü e nt e era pendurad o por ele, nos país e s orientais ele é<br />

sec ci o n a d o co m a esp a d a, en q u a nt o no Ocident e utilizava- se o<br />

ma c h a d o . Os ass a s sin o s utilizam de prefer ê n ci a um xale ou<br />

suas próprias mã o s para estran g ulá- lo. Sendo assi m, é<br />

ab s oluta m e n t e co m pr e e n s í v el que a angú stia <strong>da</strong> m orte nos<br />

oprim a o pes c o ç o , ou que este se aperte quan d o esta m o s<br />

perdido s. Com o a angústia se m pr e surg e quan d o as cois a s<br />

aperta m , o pes c o ç o é seu lar natural.<br />

Em con s e q ü ê n c i a, ter algo ao redor do pes c o ç o é algo<br />

am e a ç a d o r , ou pelo m e n o s incô m o d o . Quando caí m o s nas<br />

mã o s de um usurário, pod e m o s endivi<strong>da</strong>r- nos até o pes c o ç o , e<br />

a água nos ch e g a até o pe s c o ç o . Pular no pes c o ç o de algué m<br />

colo c a es s a pes s o a e m um a situaç ã o perig o s a de imediato,<br />

ac o nt e c e n d o algo se m el h a nt e quan d o algu é m dá um a<br />

"gravata" e m outra pes s o a . Por outro lado, per mitir que algué m<br />

colo qu e os braç o s ao redor do pes c o ç o co m intenç ã o am á v el é<br />

uma prova de confianç a. A pes s o a tem certez a de que ele não<br />

vai ser torcido. Tam b é m e m sentido figurad o, pod e- se confiar<br />

os se gr e d o s carre g a d o s de angústia a tal pes s o a . Ela não vai<br />

colo c ar um a cor<strong>da</strong> ao redor de seu pes c o ç o .<br />

Além <strong>da</strong> angú stia, a avidez tam b é m resid e no pes c o ç o ,<br />

esp e ci al m e n t e a avidez de incorp or ar e, con s e q ü e n t e m e n t e , a<br />

de pos suir. Para muitas pes s o a s , en g olir repres e nt a um a<br />

satisfaç ã o ain<strong>da</strong> m ai or que a de sentir o sab or. Ao ob s ervar<br />

pes s o a s co m e n d o , tem- se freqü e nt e m e n t e a impres s ã o de que<br />

se trata de eng olir o máxi m o pos sív el no m e n o r temp o<br />

pos sív el. O sim b olis m o relacio n a n d o o pes c o ç o co m a pos s e e<br />

a avidez é muito profund o.<br />

Uma outra ca m a d a de significad o s está relacio n a d a co m a<br />

nuca. Ela é um lugar de en er gi a prim ordial, e a angú stia<br />

senti<strong>da</strong> na nuca é esp e ci al m e n t e am e a ç a d o r a . Com as nuca s<br />

de touro s literais [em ale m ã o , Stiernack e n : Stier = touro /<br />

nack e n = nuca] pod e- se des at ol ar as carro ç a s . A pes s o a co m<br />

27<br />

0


nuca de touro é um m o d el o popular de força. Ela se g u e seu<br />

ca min h o de man eira firme e se m ser tocad a por dúvi<strong>da</strong>s<br />

intelectuais, impond o- se pela própria força e pela teim o si a que<br />

a ac o m p a n h a . Golpes na nuca são tão perigo s o s justa m e nt e<br />

porqu e ating e m o local <strong>da</strong>s forças sim b ólic a s . Além diss o, eles<br />

vê m de trás e são, portanto, golp e s <strong>da</strong>d o s pelas co sta s,<br />

injustos e freqü e nt e m e n t e revi<strong>da</strong>d o s .<br />

Finalm e nt e, o pes c o ç o é importante tam b é m para a visã o de<br />

conjunto e, co m isso, para o horizonte espiritual. Ele deter min a<br />

a direç ã o <strong>da</strong> cab e ç a e, portanto, do ca m p o de visão. Assim<br />

co m o seu xará titânico carre g a v a todo o glob o terrestre, a<br />

vértebr a cervic al sup erior carre g a noss a cab e ç a e, co m isso,<br />

noss o mund o. Além diss o, o Atlas gira ao redor <strong>da</strong> segun d a<br />

vértebr a, o áxis, que des s a form a torna- se o eixo do mun d o .<br />

Ele é a parte do corp o m ais importante para a torçã o do<br />

pes c o ç o , que se m o v e na direç ã o mais oportun a a cad a<br />

m o m e n t o co m o se foss e um cata- vento. Mais quadr o de<br />

costu m e s que do e n ç a , o torcic ol o inspira muito mais tem or pelo<br />

des g a s t e aní mic o- espiritual que pelo des g a s t e propria m e n t e<br />

físico. A postura do pes c o ç o é ao m e s m o temp o a postura <strong>da</strong><br />

cab e ç a . Ness e sentido, ele oculta muito sim b olis m o . Quando<br />

algué m não tem a cora g e m de ir ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m a<br />

cab e ç a direita e ergui<strong>da</strong>, não é so m e n t e e m sentido figurad o<br />

que ele ab aixa a cab e ç a . O pes c o ç o tem entã o de suportar a<br />

carg a <strong>da</strong> cab e ç a pend e nt e, o que a long o prazo força e m<br />

de m a s i a os mús c ul o s <strong>da</strong> nuca. A ob stina ç ã o é a con s e q ü ê n c i a<br />

e ao m e s m o temp o uma tentativa de se prev e nir contra golp e s<br />

na nuca. que m an<strong>da</strong> cabis b aix o pelo mun d o não vê muito dele<br />

e, co m isso, não obté m muito dele e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Ele se ofer e c e<br />

co m o vítima e em sinal diss o assu m e a postura corresp o n d e n t e<br />

co m a sen sív el nuca. Ness a postura, quas e não se pod e evitar<br />

os esp er a d o s golp e s na nuca. Ao m e s m o temp o, os afetad o s<br />

oculta m a parte anterior de seu pes c o ç o , a garg a nta, e co m ela<br />

o âm bito <strong>da</strong> incorp or a ç ã o e <strong>da</strong> pos s e . Eles não esp er a m na<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que valha a pen a ser incorp or a d o . Eles co m pri m e m no<br />

esp a ç o mais estreito aquilo que têm, e o es c o n d e m do mund o .<br />

27<br />

1


Trata- se de um círculo vicios o típico, pois os afetad o s<br />

viven ci a m o todo na projeç ã o . Eles ach a m que mant ê m a<br />

cab e ç a baixa porqu e o mun d o é tão ruim e, de qualqu er form a,<br />

so m e n t e tem cois a s neg ativa s para ofer e c e r- lhes. Eles deixa m<br />

a cab e ç a cair um pouc o m ais a cad a golp e e, co m isso, atrae m<br />

mais certa m e n t e ain<strong>da</strong> o próxim o golp e na nuca.<br />

Sua tarefa de aprendizad o é liberar es s a postura curva<strong>da</strong> e<br />

transfor m ar o ab ati m e nt o e m humil<strong>da</strong>d e . que m esp er a co m<br />

humil<strong>da</strong>d e aquilo que a vi<strong>da</strong> deixa vir a seu enc o ntr o não força<br />

seu pes c o ç o a viver de m an eira substitutiva es s a postura. A<br />

ob stinaç ã o ced er á a um a m o bili<strong>da</strong>d e a<strong>da</strong>ptáv el. Quem se<br />

colo c a ao s pés do mun d o co m ver<strong>da</strong> d eir a humil<strong>da</strong>d e, terá<br />

finalm e nt e o mund o a seus pés, e ele de qualqu er m an eir a<br />

deixará de golp e á- lo.<br />

A postura contrária é o nariz e m pin a d o , e m que a cab e ç a é<br />

atira<strong>da</strong> so br e a nuca e o queixo e m p urrad o para a frente.<br />

Dess a man eira, o queixo é res s altad o co m o sím b ol o <strong>da</strong><br />

vontad e . Tudo dev e se g uir o nariz <strong>da</strong> pes s o a que tem o nariz<br />

e m pin a d o . De m an eir a corresp o n d e n t e , ela ob s erva de cim a<br />

para baixo o mun d o que tem a seus pés. Ao m e s m o temp o, o<br />

pes c o ç o é forçad o para a frente, esticad o e tend e n ci o s a m e n t e<br />

incha d o , o que ev o c a a tem átic a <strong>da</strong> insaciabili<strong>da</strong>d e. To<strong>da</strong> a<br />

figura <strong>da</strong> pes s o a co m nariz e m pin a d o expr e s s a a exp e ct ativa<br />

de con quistar a sub mi s s ã o . Antiga m e nt e , os aristo cr ata s<br />

olhav a m para cim a em direç ã o ao s caval o s, que tinha m em alta<br />

con sid er a ç ã o , e de m an eir a corresp o n d e n t e , desd e es s a<br />

postura olhav a m para seus súditos co m altivez. Não era raro<br />

que este s, humild e s ou humilhad o s ao dirigir o olhar para am a<br />

viss e m um pes c o ç o inchad o co m o um bócio.<br />

A lição e red e n ç ã o des s a m á postura está e m con q uistar o<br />

olhar des d e cim a e m sentido figurad o e des e n v o l v er a genuín a<br />

corag e m que repou s a na força interna e m substituiçã o <strong>da</strong><br />

so b er b a. que m sub m e t e o mund o nest e sentido m ais profund o<br />

não precis a provar sua so b er a ni a para si m e s m o e para o<br />

mund o e m pin a n d o fisica m e n t e o nariz. Ele está à altura do<br />

mund o e não vai tentar cres c e r artificialm e nt e um pouc o m ais<br />

27<br />

2


por mei o de um a postura força<strong>da</strong>.<br />

A postura lateral m e nt e inclina<strong>da</strong> <strong>da</strong> cab e ç a m o stra o quanto<br />

corp o e alm a an<strong>da</strong> m de mã o s <strong>da</strong>d a s. Basta inclinar a cab e ç a<br />

um pouc o para um lado para que o olhar se fech e para este<br />

lado e se abra na m e s m a m e di<strong>da</strong> para o lado opo st o. Um<br />

exp eri m e nt o simple s m o stra co m o a inclinaç ã o <strong>da</strong> cab e ç a para<br />

a direita abr e para o lado es qu er d o e vice- vers a. Neste<br />

exp eri m e nt o, basta espr eitar dentro de si m e s m o para sentir<br />

que abrir- se para o lado es q u er d o , feminin o, faz co m que surja<br />

auto m atic a m e n t e um estad o de espírito mais brand o , de<br />

ab and o n o . Quando, ao contrário, inclina- se a cab e ç a para a<br />

es qu er d a, abrindo- se assi m para a "m etad e direita do mun d o",<br />

a tend ê n ci a do pólo ma s c ulino torna- se corresp o n d e n t e m e n t e<br />

mais dura e deter min a d a .<br />

Quando algu é m m ant é m sua cab e ç a per m a n e n t e m e n t e<br />

inclinad a para um lado, a brincad eir a torna- se um sinto m a que<br />

m o stra exata m e n t e qual m etad e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e está sen d o<br />

evitad a e qual está sen d o favor e cid a. A lição con siste e m<br />

dirigir-se con s ci e nt e m e n t e para o lado preferido e deixar que o<br />

olhar des c a n s e nele até que se pos s a rec o n h e c e r e ac eitar sua<br />

es s ê n ci a e, assi m, tornar- se m adur o para o outro lado <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>d e. A sinto m átic a é ain<strong>da</strong> mais clara no cas o do<br />

torcic ol o, e m que um a m etad e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e é totalm e nt e<br />

oblitera<strong>da</strong>. Tam b é m nes s e cas o, a soluç ã o pas s a pelo lado<br />

ob s ervad o con stant e m e n t e . De qualqu er form a, o dirigir-se<br />

extern a m e n t e para ele dev e tornar- se algo intern o e a<br />

ob s erva ç ã o , co m isso, sub stan ci al m e n t e mais profun<strong>da</strong>.<br />

1. A laringe<br />

A voz: barômetro do ânimo<br />

A língua ale m ã privilegia noss o órg ã o <strong>da</strong> voz e m relaç ã o ao s<br />

outros órgã o s ao referir- se à voz de um a pes s o a co m o "o<br />

27<br />

3


órg ã o". Ao lado do conteúd o extern a d o , ela expres s a tam b é m o<br />

resp e ctivo ânim o , ou seja, o estad o de ânim o e m que se<br />

per m a n e c e u por algu m tem p o . Pratica m e n t e to<strong>da</strong> s as pes s o a s ,<br />

ain<strong>da</strong> que e m outros cas o s ne m son h a s s e m 62 e m interpretar<br />

funçõ e s org ânic a s ou sinto m a s , atribue m um significad o à<br />

condiç ã o <strong>da</strong> voz. Por es s a razão, as interpreta ç õ e s nest e<br />

âm bito são esp e ci al m e n t e fáceis, já que para nós são cois a<br />

corrent e.<br />

A voz torna- se sinto m a quan d o não corre s p o n d e à form a do<br />

corp o. Ela m o stra log o quan d o algu m a cois a não bate, e nest e<br />

ponto é mais sinc er a que os conteúd o s que divulga. Uma voz<br />

baixa e sussurra<strong>da</strong> e m um corp o grand e e robusto está tão fora<br />

de es qu a dr o co m o uma voz profun<strong>da</strong> e volum o s a e m um tenro<br />

corp o de m e m b r o s finos. Enquanto o prim eiro cas o é bastant e<br />

freqü e nt e, o último não oc orr e pratica m e n t e nunc a. A voz não<br />

tem sup erfície de ress o n â n ci a suficiente e m um corp o franzino<br />

para alcan ç ar profundi<strong>da</strong>d e e volum e . Mas é be m pos sív el não<br />

utilizar um a grand e sup erfície de ress o n â n ci a, não deixar a voz<br />

vibrar na m e di<strong>da</strong> de suas pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

Uma voz se m el h a nt e ao s pios de um pá s s a r o que nos<br />

importun a saind o de um corp o impon e nt e fala por um<br />

proprietário que não confia e m si m e s m o para estar à altura de<br />

suas pos sibili<strong>da</strong>d e s e colo c á- las e m uso. Ele não per mite que a<br />

voz vibre e m conjunto co m o corp o. É de supor tanto o m e d o<br />

<strong>da</strong> própria força e <strong>da</strong> impre s s ã o que se caus a quanto a<br />

distância <strong>da</strong> corp or ali<strong>da</strong>d e. O ânim o interno, ao contrário <strong>da</strong><br />

apar ê n ci a interna, é m e dr o s o e se m auto c o nfian ç a. Uma voz<br />

trêmula deixa igualm e nt e que o m e d o vibre e m conjunto, ma s<br />

e m deter min a d o s m o m e n t o s pod e vibrar tam b é m co m o<br />

m o vi m e nt o interno e a co m o ç ã o . Um parent e próxim o é a voz<br />

sem som, que perten c e a pes s o a s de s a ni m a d a s , que<br />

precis ar a m humilhar- se prec o c e m e n t e e não che g ar a m a<br />

des e n v olv er a própria força ne m obtivera m para si um a<br />

expr e s s ã o mais forte.<br />

A voz rouca dev e- se a cor<strong>da</strong>s voc ais irrita<strong>da</strong>s e não a um<br />

estad o de ânim o rec o n h e c i d a m e n t e irritado. Ela pod e indicar,<br />

27<br />

4


por exe m pl o, que seu proprietário per m a n e c e con sta nt e m e n t e<br />

nas proximi<strong>da</strong>d e s do grito se m real m e nt e berrar do fundo do<br />

coraç ã o . A voz so a extre m a m e n t e fatigad a, seja porqu e gritou<br />

de man eira apen a s parcial e não total, ou entã o porqu e o brad o<br />

tem de ser con stant e m e n t e reprimid o. A rouquidã o m o stra que<br />

a voz prov é m do âm bito <strong>da</strong> cab e ç a e do pes c o ç o , e certa m e n t e<br />

não <strong>da</strong> barriga e do cora ç ã o . Cons e q ü e nt e m e n t e , seu<br />

proprietário não colo c a to<strong>da</strong> a sua pes s o a naquilo que<br />

exterioriza. Juntam e nt e co m o impuls o de falar, perc e b e - se<br />

simultan e a m e n t e no atrito a resistên ci a ao ato de falar. Quem,<br />

por exe m pl o, não abr e m ã o de falar ap e s ar de estar resfriado,<br />

fica rouc o rapi<strong>da</strong> m e n t e . O fato é que ele está ch ei o até o nariz<br />

e go staria m e s m o é de não ouvir, ver ou ch eirar, fechando - se<br />

totalm e nt e. A voz rouc a deixa entrev er a situaç ã o ultra- irrita<strong>da</strong>.<br />

Uma voz que falou de m ai s so m e n t e se torna ain<strong>da</strong> mais rouc a<br />

quan d o seu proprietário falou de m ai s e m relaç ã o às<br />

circunstânci a s. Sem a sup erfície de res s o n â n ci a do corp o, é<br />

duvido s o que a voz enc o ntr e ress o n â n ci a entre os ouvinte s.<br />

quanto mais rouc a e grasn a nt e ela é, m e n o s digna de crédito<br />

ela so a.<br />

A rouquidã o pod e ch e g ar à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> voz (afonia), um<br />

sinto m a <strong>da</strong> m ai oria <strong>da</strong>s do e n ç a s que atac a a laring e, <strong>da</strong><br />

inflam a ç ã o e <strong>da</strong> paralisia até o tum or. Não ter voz não significa<br />

apen a s não ter direito à palavra na política. Uma voz<br />

totalm e nt e aus e nt e indica um a situaç ã o não ad miti<strong>da</strong> de<br />

destituiçã o de pod er e de direitos. Em prim eiro plan o ela pod e<br />

ser teste m u n h o de estreitez a física, devid o a um bó cio, por<br />

exe m pl o. Por trás diss o, no entanto, se m pr e se volta a<br />

en c o ntrar a opres s ã o aní mic a.<br />

Profes s o r e s e cantor e s sofre m de rouquidã o co m freqü ê n ci a<br />

e co m isso sinaliza m que por um lado so br e c a rr e g a m a voz, e<br />

por outro que não en c o ntra m sua força (voc al) total. Muitas<br />

vez e s ch e g a- se ao ponto e m que os nódulo s não diss olvido s<br />

do ânim o precipita m- se e m nódulos nas cor<strong>da</strong>s vocais, de<br />

man eira que estas não m ais se fecha m correta m e n t e . que a<br />

extirpaç ã o cirúrgica não pod e ser a soluç ã o final de um<br />

27<br />

5


probl e m a é m o strad o pelo s cantor e s que pas s ar a m várias<br />

vez e s por es s a op er a ç ã o se m co m isso que br ar a resistên ci a<br />

<strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s voc ais à sua voz disc ord a nt e. Seu organis m o<br />

se m pr e volta a en c arn ar pacient e m e n t e os nós dos probl e m a s ,<br />

quas e nos m e s m o s lugar e s. quan d o , por outro lado, o nó e stá<br />

no lugar, a voz pod e vibrar mais alta e cheia que nunc a, co m<br />

to<strong>da</strong>s as suas pos sibili<strong>da</strong>d e s . Freqü e nt e m e n t e , são exer cí cio s<br />

de respiraç ã o que des ata m os nós e per mite m ao s afetad o s<br />

inspirar e criar co m to<strong>da</strong> a força. O fluxo <strong>da</strong> respiraç ã o , e m seu<br />

caráter de "em a n a ç ã o <strong>da</strong> alm a", pod e con s e g uir colo c ar os<br />

ver<strong>da</strong>d eir o s estad o s de ânim o e m m o vi m e n t o .<br />

A tarefa, na rouquidã o , está evid e nt e m e n t e e m baixar o<br />

volu m e e aprend er a calar, o que leva à pres erv a ç ã o e ao<br />

des c a n s o no plan o corp or al e ao aprofund a m e n t o no plano<br />

aní mic o. Este é nec e s s á ri o quan d o as exteriorizaç õ e s dev e m<br />

ser des e m p e n h a d a s pela pes s o a inteira e por todo o seu corp o.<br />

Só entã o a voz pod e entrar e m aç ã o .<br />

Quem fala co m voz pouco níti<strong>da</strong> é mal co m pr e e n di d o . Ali<br />

ond e os outros não o enten d e m surg e a pergunta, se ele afinal<br />

quer ser co m pr e e n di d o e se sustenta aquilo que diz. Será que<br />

são claro s para ele os pen s a m e n t o s que expres s a co m tão<br />

pouc a clarez a? A lingua g e m pouc o níti<strong>da</strong>, que per mite que as<br />

palavras se confund a m um a s co m as outras, per mite supor<br />

pen s a m e n t o s igual m e nt e indiferen ciad o s . A pes s o a que fala<br />

enrola e tem m e d o de che g ar, vá que aquilo que foi dito se<br />

rev el e m e n o s linguag e m que tolice. Ela evid e nt e m e n t e não<br />

gostaria de co m pr o m e t e r- se co m isso, seus ponto s de vista<br />

não são suficiente m e n t e firme s, claro s e se g ur o s para que ela<br />

os expon h a co m voz mais firme, mais clara e mais segur a.<br />

A fala insegura, tolhi<strong>da</strong>, aponta para um a direç ã o<br />

se m el h a nt e. A cad a palavra soprad a aqu el e que sopra diz,<br />

juntam e nt e co m o conteúd o soprad o : "Por favor, não faça na<strong>da</strong><br />

co mi g o que eu tam b é m não faço na<strong>da</strong> co m voc ê". A suavi<strong>da</strong>d e<br />

ac e ntuad a levanta rapi<strong>da</strong> m e n t e a que st ã o de sua autentici<strong>da</strong>d e<br />

e a susp eita de que ela dev e ocultar um lob o e m pele de<br />

cord eiro. Algo parecid o oc orr e co m voz e s chor o s a s ou<br />

27<br />

6


ge m e n t e s , por trás <strong>da</strong>s quais pratica m e n t e não há ênfas e<br />

algu m a. Mas cas o haja pres s ã o por trás <strong>da</strong>s palavras e o m e d o<br />

imp e ç a sua expr e s s ã o son or a, isso é sentido no timbr e forçad o<br />

do hálito, ou seja, no res s ai b o queixo s o do ge mi d o .<br />

Quem fala se m ênfas e e expr e s s ã o e por m e d o <strong>da</strong> en er gia e<br />

<strong>da</strong> força <strong>da</strong> expres s ã o se refugia na suavi<strong>da</strong>d e tem, de fato, a<br />

suavi<strong>da</strong> d e por lição a ser aprendid a. Dado o cas o, ele precis a<br />

rec o n h e c e r sua suavi<strong>da</strong>d e co m o falsa ou pouc o sinc er a, pois<br />

até m e s m o um pisa- m an sin h o pisa. Os son s baixo s são para<br />

ele lição e pos sibili<strong>da</strong>d e de se en c o ntrar. Som e nt e entã o o<br />

son or o terá tam b é m um a chanc e . Caso contrário, ele continua<br />

sen d o um lobo e m pele de cord eiro. Mas cas o ele se exer cite<br />

e m assu mir inteira m e nt e o caráter de cord eiro, notará que tem<br />

algo m ais, muito diferent e, m etido dentro de si. Enquanto ele<br />

continuar se fazend o de cord eiro, existe o perig o de que e m<br />

algu m m o m e n t o ele se torne um e a autêntica suavi<strong>da</strong>d e<br />

per m a n e ç a oculta para se m pr e. Caso ele, ao contrário,<br />

des c u br a e ac eite sua porç ã o de naturez a de lob o, a suavi<strong>da</strong>d e<br />

força<strong>da</strong> se transfor m ar á e m son ori<strong>da</strong>d e liberad a que tam b é m<br />

pod e express ar- se de m an eira corresp o n d e n t e : terna e suav e<br />

co m o um sus surro ou enfatica m e n t e vociferad a.<br />

Uma voz que se m pr e so a alta e troante torna- se igual m e nt e<br />

sinto m a . Muitas vez e s ela so br e c arr e g a to<strong>da</strong>s as e m o ç õ e s<br />

mais ternas ou até m e s m o as atrop el a. que m é se m pr e um<br />

canh ã o e per mite que as pared e s retum b e m co m o troar dos<br />

canh õ e s não so m e n t e des g o s t a o am bi e nt e co m o tem p o ma s<br />

está ele m e s m o des g o s t a d o . O estad o de anim o é algo mutáv el<br />

e sen sív el; para expres s á- lo de man eira con diz ent e é<br />

nec e s s á ria a con s o n â n ci a do m o m e n t o e m que st ã o . A soluç ã o<br />

para os espíritos de canh ã o notório s tam b é m está e m seu jeito<br />

alto e até indiscr eto, engra ç a d o e alegr e. Se eles se<br />

per mitiss e m por um a vez m er gulhar inteira m e n t e na alegria e<br />

na joviali<strong>da</strong>d e, até sentir o m ais íntim o de si mes m o s , pod eria m<br />

entã o voltar a relaxar e estaria m ab erto s para nov o s estad o s<br />

de ânim o e m novas situaç õ e s .<br />

A voz sibilante revela um ser serp e ntin o, co m o profund o<br />

27<br />

7


sim b olis m o que se ad eriu a es s e réptil desd e os temp o s<br />

bíblico s. Nisso está incluí<strong>da</strong> não apen a s a falsi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> língua<br />

bifurcad a m a s tam b é m o sedutor. Sibilar algo para algué m ,<br />

assi m co m o a própria voz sibilante, tem algo de perigo e de<br />

con s piraç ã o . O pólo opo st o é con stituído por palavra s<br />

ab erta m e n t e articulad a s e níti<strong>da</strong>s que não tem e m a exp o si ç ã o<br />

pública.<br />

A sedu ç ã o tam b é m so a, ou m elh or dito, roça na voz<br />

raspa<strong>da</strong>, pois sug er e que seu proprietário viveu e am o u<br />

exc e s siv a m e n t e . Fumant e s que estã o con stant e m e n t e<br />

defum a n d o suas laring e s pod e m freqü e nt e m e n t e rec orr er a<br />

este registro significativo. Uma voz ásp er a m o stra que as<br />

cois a s não desliza m para fora dos lábio s co m facili<strong>da</strong>d e, ma s<br />

que a pes s o a resp o n d e a um a certa resistên ci a. Caso a voz<br />

seja ásp er a co m o um ralad or, o esforç o ao falar tom a- se<br />

audív el. A soluç ã o está e m ad mitir real m e nt e as resistên ci a s<br />

interna s.<br />

Com um a voz estridente bus c a- se forçar para si a aten ç ã o<br />

e a con sid er a ç ã o dos outros que provav el m e n t e não seria m tão<br />

fáceis de obter co m os conteú d o s exteriorizad o s . O tocad or de<br />

tam b o r no rom a n c e O Ta m b o r de Lata, de Günter Grass, pod e<br />

ser con sid er a d o o protótipo des s e tipo. Quando to<strong>da</strong>s as<br />

cor<strong>da</strong>s se romp e m e ele não con s e g u e se impor ne m m e s m o<br />

co m o rufo m ar cial do tam b or, sua voz estrident e faz tilintar as<br />

vidraç a s .<br />

Uma voz sufoca<strong>da</strong> está tingi<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que a sufoc a.<br />

Lágrim a s reprimi<strong>da</strong>s pod e m so ar, assi m co m o a raiva ou a ira.<br />

A voz abafad a se m pr e é e m última instância a reprodu ç ã o de<br />

uma aflição aní mic a.<br />

A fala molha<strong>da</strong> é m e n o s um probl e m a voc al que um<br />

probl e m a de expres s ã o . Embor a rec o n h e c i d a m e n t e inofen siv o,<br />

o sinto m a é extre m a m e n t e malvisto e m razão de seu óbvio<br />

sim b olis m o . Aqui algu é m co sp e sua agre s s ã o . Assim ele<br />

se m pr e pas s a para seus ouvinte s aquilo que não con s e g uiria<br />

tão facilm e nt e de outra m an eira. Por trás, oculta- se a tentativa<br />

de esforç ar- se esp e ci al m e n t e e de articular declarad a m e n t e<br />

27<br />

8


e m . Em vez de fazê- lo des s a man eira infantilm e nt e bab a d a ,<br />

será que os afetad o s pod eria m ous ar expres s ar a nec e s s á ria<br />

agud e z a e con cis ã o por m ei o do conteúd o ?<br />

Para har m o niz ar- se co m sua voz, é inevitáv el ad mitir- se nos<br />

plan o s de sentim e nt o s que vibra m e m conjunto a cad a<br />

m o m e n t o , vivê- los e deixar que fale m a partir de si m e s m o s .<br />

Som e nt e assi m surg e a chan c e de estar (voc al m e n t e) livre e<br />

ab erto para todo s os estad o s de ânim o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha voz está a<strong>da</strong>ptad a? (À minha apar ê n ci a? Minha<br />

posiç ã o profission al? Social? Minha deter min a ç ã o ?)<br />

2. Minha voz assu m e o prim eiro plano ou se es c o n d e ? Isso<br />

corre s p o n d e ao s m eu s reais ans ei o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

3. Poss o confiar e m minh a voz e falar livre m e nt e? Eu<br />

ch e g o co m ela àqu el e s a que m falo?<br />

4. Consig o expr e s s ar- m e livre m e nt e quan d o há<br />

resistên ci a s?<br />

5. Que senti m e nt o básic o minha voz expres s a ? Ele<br />

corre s p o n d e à tonali<strong>da</strong>d e de minh a alm a?<br />

6. Eu per m a n e ç o voc al m e n t e e m deter min a d o s estad o s de<br />

ânim o ou fico ab erto para cad a mo m e n t o ?<br />

7. Que m e n s a g e n s minha voz transp orta alé m do<br />

conteú d o ?<br />

O pigarro com o sintoma<br />

Naturalm e nt e, o pigarro so m e n t e adquire valor de do e n ç a<br />

quan d o surg e freqü e nt e m e n t e e co m e ç a a se tornar importun o<br />

para a própria pes s o a e evid e nt e para os outros. É a tentativa<br />

de limpar as vias aér e a s para ao final dizer algo. Assim, ele<br />

naturalizou- se co m o o sinal co m o qual se anun cia um<br />

discurs o. Quando algué m pigarreia con stant e m e n t e , anun cia o<br />

temp o todo uma alocuç ã o que entã o não ve m. Trata- se,<br />

portanto, de uma pes s o a que tam b é m gostaria de dizer algo<br />

algu m a vez, m a s que e m p a c a logo no princípio. Ela não<br />

27<br />

9


en c o ntra as palavra s no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o do term o,<br />

per m a n e c e n d o nas preliminar e s co m seus son s guturais de<br />

limp ez a. Muitas vez e s o pigarro quer tam b é m cha m a r a<br />

aten ç ã o so br e si e anun ciar a própria critica se m formulá- la.<br />

A lição con siste e m obter audiç ã o , con sid er a ç ã o e aten ç ã o<br />

para as próprias palavras. O am e a ç a d o r pigarro critico pod eria<br />

transfor m ar- se em conteú d o crítico ab erto.<br />

2. A tireóide<br />

A glândula tireóid e tem a form a de um es c ud o . Comp ar á v el<br />

a uma borb ol eta, seu corp o es g ui o agarra- se à parte inferior <strong>da</strong><br />

cartilag e m tireoidian a que está so br e a laring e en quant o as<br />

as a s <strong>da</strong> borb ol et a, os dois lob o s <strong>da</strong> glândula tireóid e, estã o<br />

dispo sta s de am b o s os lado s <strong>da</strong> traqu éi a. Sua funçã o é a<br />

produç ã o do hor m ô ni o do m eta b olis m o que apar e c e so b duas<br />

form a s . A L-tiroxina e a ain<strong>da</strong> mais eficaz tri-iodotironina<br />

con sist e m sub stan ci al m e nt e de iodo e têm a funçã o de<br />

m o bilizar o m eta b olis m o . Elas aum e nt a m a vitali<strong>da</strong>d e por m ais<br />

temp o e de man eira mais durad o ur a que os hor m ô ni o s de açã o<br />

rápi<strong>da</strong> produzido s pelas glândulas supra- renais, a adren alina e<br />

a noradr e n alina. Além do siste m a circulatório, co m a pres s ã o<br />

san guín e a e a freqü ê n ci a cardíac a, são estimulad a s tam b é m<br />

as funçõ e s respiratórias e digestiva s, a temp er atura se elev a,<br />

aum e nt a n d o tam b é m o m eta b olis m o basal, a ativi<strong>da</strong>d e nervo s a<br />

e a excitabili<strong>da</strong>d e mus c ular; en qu a nt o o tem p o de reaç ã o<br />

diminui, au m e nt a m o estad o de alerta e a velo cid a d e de<br />

raciocínio.<br />

Além diss o, a glândula tireóid e des e m p e n h a um pap el<br />

decisivo nos proc e s s o s de cres ci m e n t o . Franz Alexand er indica<br />

que, no proc e s s o de ev oluç ã o , ela per mitiu a pas s a g e m <strong>da</strong><br />

água para a terra. É so m e n t e a partir dos anfíbio s que os ser e s<br />

vivos têm glândulas tireóid e s . Aplicaç õ e s exp eri m e nt ai s de<br />

tiroxina no axolote Molchart m exic a n o propicia m a sub stituiçã o<br />

<strong>da</strong> respiraç ã o bran quial pela pulm o n ar, de man eira que os<br />

28<br />

0


anim ais transfor m a m - se de ser e s aquátic o s e m habitantes <strong>da</strong><br />

terra firme. W. L. Brown cha m o u a tireóid e de "glândula <strong>da</strong><br />

criaç ã o". A tireóid e con s erv a a relaç ã o co m o mar até hoje por<br />

m ei o do iodo, que oc orr e principal m e nt e no mar e<br />

exclusiva m e n t e a partir do qual ela pod e produzir seus<br />

hor m ô ni o s . quan d o os ser e s hum a n o s afasta m - se muito do<br />

mar e, por exe m pl o, es c al a m m o ntan h a s distantes, pas s a m a<br />

ter facilm e nt e proble m a s de tireóid e.<br />

O significad o dos hor m ô ni o s <strong>da</strong> glândula tireóid e para o<br />

am a d ur e ci m e n t o hum a n o é m o strad o por sua car ên ci a, que<br />

provo c a cretinis m o e mixed e m a , ond e o des e n v o l vi m e n t o<br />

corp or al e espiritual fica m atras a d o s . As juntas de cres ci m e n t o<br />

dos long o s oss o s <strong>da</strong>s extre mi d a d e s , por exe m pl o, so m e n t e se<br />

fecha m tardia m e n t e , o des e n v o l vi m e n t o <strong>da</strong> intelig ên ci a é<br />

prejudic ad o . Durante a fas e de des e n v o l vi m e n t o , a tiroxina<br />

exer c e efeitos análo g o s ao s do hor m ô ni o de cres ci m e n t o <strong>da</strong><br />

hipófise.<br />

O bócio<br />

Quando o local de produç ã o de substânci a s meta b ólic a s que<br />

contê m iodo au m e nt a de tam a n h o , está- se sofren d o<br />

nec e s s a ria m e n t e de um a elev a d a "falta de co m b u stív el". Com<br />

a expans ã o do local de fabricaç ã o localizad o no pes c o ç o , o<br />

org anis m o sinaliza ao s afetad o s que eles não estã o<br />

rec o n h e c e n d o suas nec e s s i d a d e s m otrizes aum e nt a d a s . A<br />

fom e de en er gi a, ativi<strong>da</strong>d e e mud a n ç a m er gulh o u na so m b r a.<br />

Esta fom e de mais m eta b olis m o relacio n a- se e m prim eiro lugar<br />

co m a en er gia <strong>da</strong> mud a n ç a , e só e m se g ui<strong>da</strong> co m a substânci a<br />

nec e s s á ria. O bó cio mais freqü e nt e dev e- se à carên ci a de iodo<br />

na alim e nta ç ã o . Os afetad o s , e m sua m ai oria aferrad o s a<br />

tradiç õ e s rígi<strong>da</strong>s, vive m e m um am bi e nt e que lhes ofer e c e<br />

muito pouc a en er gia e varied a d e . O bó ci o trai a fom e<br />

relacion a d a a isso. Ele se des e n v olv e tanto co m bas e e m um a<br />

car ên ci a hor m o n al co m o no subfuncion a m e n t o . Através <strong>da</strong><br />

form a ç ã o do bó ci o, a tireóid e con s e g u e finalm e nt e co brir as<br />

28<br />

1


nec e s si d a d e s m eta b ólic a s utilizand o cad a áto m o de iodo.<br />

Com o subfuncion a m e n t o , o bó ci o m o stra igual m e nt e o<br />

aum e nt o <strong>da</strong> nec e s si d a d e de co m b u stív el. A situaç ã o nes s e<br />

ponto pros s e g u e sua es c al a d a quan d o , ap e s ar do au m e nt o do<br />

local de produç ã o , es s a nec e s si d a d e não é co b erta. Os<br />

pacient e s torna m - se indolent e s e gord o s, não ac o nt e c e m ais<br />

na<strong>da</strong> (energ etic a m e n t e) e m suas vi<strong>da</strong>s. Até m e s m o a fom e<br />

des a p ar e c e , já que falta a en er gia para fazer algo co m o<br />

alim e nt o.<br />

Na hiperfunç ã o <strong>da</strong> tireóid e, os afetad o s sente m a fom e de<br />

troca de substânci a s (ou m eta b olis m o) co m um ap etite<br />

ver<strong>da</strong>d eira m e n t e des e nfr e a d o . Eles pod e m co m e r<br />

ininterrupta m e n t e se m eng ord ar porqu e seus corpo s quei m a m<br />

as substânci a s imediata m e n t e . Seu pouc o pes o trai o fato de<br />

que eles não dão conta <strong>da</strong>s exig ê n ci a s en er g étic a s do corp o<br />

ape s ar de a tireóid e ter form a d o um bó cio. Eles co m e m e<br />

co m e m , e nunc a é suficiente.<br />

Corresp o n d e n d o ao s tipos de bó cio, os proble m a s pod e m<br />

ser dividido s e m três grand e s grupo s, a hiperfunç ã o , a<br />

hipofunç ã o e a form a ç ã o de bó ci o se m disfunç ã o m eta b ólic a.<br />

Este bó ci o co m valor e s nor m ai s de funçã o glandular estav a<br />

am pla m e n t e difundido e m regiõ e s ond e se con s u mi a sal pobr e<br />

e m iodo. Com o variante inofen siva, ele não apres e nt a nen hu m<br />

sinto m a no que se refer e ao m eta b olis m o , so m e n t e seu<br />

tam a n h o exa g er a d o do ponto de vista estétic o ou m e c â ni c o . A<br />

falta de iodo na alim e nta ç ã o faz co m que a tireóid e cres ç a o<br />

suficiente para pod er utilizar cad a míni m a quanti<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

precio s a substânci a que apar e ç a . O efeito para fora m ais<br />

importante que o bó cio resultante exer c e são probl e m a s<br />

cos m é ti c o s , en qu a nt o para dentro os ponto s principais são,<br />

entre outros, soluç o s , falta de ar e proble m a s voc ais.<br />

O pes c o ç o gros s o dá a impre s s ã o de gros s e ria e relaç ã o<br />

co m a terra, o contrário <strong>da</strong> eleg â n ci a, liga<strong>da</strong> que está ao es g ui o<br />

pes c o ç o do cisn e. Quando o pe s c o ç o de algué m incha, ele<br />

ac e ntua co m isso o âm bito do incorp or ar e do pos suir. Em<br />

ale m ã o se fala popular m e nt e de um "pes c o ç o incha d o"<br />

28<br />

2


(Blähhal s), referind o- se assi m a um a pes s o a presu mi d a. Mas<br />

que m incorp or a muito tem muito e, co m isso, é importante ou,<br />

no míni m o , algué m de pes o . Expres s õ e s e m ale m ã o tais co m o<br />

Gierhal s [Gier = avidez / Hals = pes c o ç o] enfatiza m a<br />

incorp or a ç ã o , en qu a nt o Geizhal s e Geizkra g e n [Geiz = avar ez a<br />

/ Krag e n = colarinho] refer e m - se m ais ao pos suir. Trata- se<br />

evid e nt e m e n t e de pes s o a s que nunca colo c a m o suficie nt e<br />

go ela abaixo e tend e m a acu m ul ar. Quanto m e n o s isso lhes é<br />

con s ci e nt e, co m m ais clarez a o am bi e nt e o vê. Em todo cas o,<br />

pod e ser que a avidez de pos suir esteja tão reprimi<strong>da</strong> que ela<br />

tam b é m deixa de cha m a r a aten ç ã o dos que estã o de fora. Não<br />

é so m e n t e a dim e n s ã o mat erial que faz parte do tem a<br />

"incorp or ar", tal co m o talvez seja aludido tam b é m pelo queixo<br />

duplo. Os pacient e s de bó cio tam b é m têm a tend ê n ci a de<br />

e m b ol s a r algu m e m sentido figurad o. Finalm e nt e, o pes c o ç o<br />

gros s o sinaliza ain<strong>da</strong> a pouc a m o bili<strong>da</strong>d e nes s e âm bito,<br />

ch e g a n d o até a deixar o pes c o ç o duro, o que por sua vez atua<br />

neg ativa m e n t e na visão geral e no horizonte espiritual.<br />

Em algu m a s regiõ e s o bó ci o era algo tão nor m al que fazia<br />

parte <strong>da</strong> imag e m <strong>da</strong> populaçã o rural. Evidente m e n t e , um lenç o<br />

enfeitad o co m jóias ao redor do pes c o ç o fazia parte <strong>da</strong><br />

vesti m e nt a <strong>da</strong>s ca m p o n e s a s . Assim co m o co m os pelican o s ,<br />

um bó cio be m ch ei o sim b olizav a a bols a rech e a d a e altos<br />

rendi m e nt o s . Os afetad o s era m e m sua m ai oria ca m p o n e s e s<br />

que viviam <strong>da</strong> própria terra e a que m condizia a impre s s ã o<br />

robusta e rude ac e ntuad a pelo bó ci o. Eram pes s o a s que<br />

carre g a v a m seus bó cio s so br e os o m br o s co m esta bili<strong>da</strong>d e,<br />

con s erv a v a m estritam e nt e tradiç õ e s que e m parte rem etia m à<br />

I<strong>da</strong>de Média e que não <strong>da</strong>va m muito valor à am pliaç ã o de seu<br />

horizonte espiritual ou até m e s m o a mud a n ç a s e m seu m o d o<br />

de vi<strong>da</strong>. A en or mi d a d e de sua imo bili<strong>da</strong>d e con s er v a d o r a e de<br />

seus esforç o s para a obten ç ã o de pos s e s era e m geral<br />

incon s ci e nt e e ocultava- se por trás <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>d e . Mas quã o<br />

significativo era o pos suir e o pap el desta c a d o que os valor e s<br />

tradicion ais des e m p e n h a v a m são m o strad o s pelas peç a s de<br />

teatro corresp o n d e n t e s , que quas e se m exc e ç ã o tratava m<br />

28<br />

3


des s e assunto. Não se trata so m e n t e <strong>da</strong>s filhas, ma s se m pr e<br />

do dote tam b é m , que muitas vez e s revelav a o caráter de<br />

ven e n o junta m e nt e co m o de pres e nt e. Além diss o, a m ai or<br />

parte gira e m tom o do princípio "Isso se m pr e foi assi m".<br />

Som av a- se a isso o isola m e n t o <strong>da</strong>s regiõ e s afetad a s , que<br />

favor e ci a a falta de ativi<strong>da</strong>d e e mud a n ç a .<br />

Com a introduç ã o do sal de cozinh a io<strong>da</strong>d o e a adiçã o de<br />

iodo na água potáv el, es s e tipo de bó ci o regr e diu<br />

notav el m e n t e , e m b o r a natural m e nt e o tem a não foss e<br />

eliminad o co m isso. Ele entã o precis o u busc ar outros m ei o s<br />

(de expres s ã o). De qualqu er form a, o isola m e n t o original e a<br />

imutáv el m o n ot o ni a <strong>da</strong>s regiõ e s ca m p o n e s a s foi sen d o perdi<strong>da</strong><br />

nas gera ç õ e s seguintes co m a ab ertura para a cultura <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>d e que oc orr eu ao long o do tem p o , e co m isso foi<br />

des a p ar e c e n d o tam b é m a pred o m i n â n ci a <strong>da</strong> postura aní mic a<br />

básic a.<br />

O bó ci o extern o, co m muita freqü ê n ci a, sim b oliza exig ê n ci a s<br />

de pos s e e pod er não ad miti<strong>da</strong>s. Os afetad o s "exib e m " aquilo<br />

que têm, co m o be m sab e a sab e d o ri a popular. O bó cio voltad o<br />

para dentro está mais es c o n di d o e é, por es s a razão, mais<br />

probl e m á tic o. A tem átic a de fundo, natural m e nt e, é<br />

se m el h a nt e, só que aqui tudo é en g olido e ocultad o do<br />

am bi e nt e. Isso dá um a impre s s ã o m elh or para fora, e por es s a<br />

razã o a impre s s ã o para dentro é tanto mais perig o s a.<br />

Aqui, o tem a <strong>da</strong> co biç a está m etido m us profun<strong>da</strong> m e n t e no<br />

incon s ci e nt e e provo c a probl e m a s corresp o n d e n t e m e n t e m ais<br />

profund o s. Esse tipo não ad mitido para si m e s m o de<br />

aç a m b a r c a r e arreb at ar pod e imp e dir a respiraç ã o e, co m isso,<br />

o interc â m b i o e a co m u nic a ç ã o . Muitas vez e s, o bó cio que<br />

cres c e para dentro pod e dificultar tam b é m a deglutiçã o,<br />

m o stran d o co m o continuar a eng olir pod e ser doloro s o e<br />

opressiv o. Caso a opress ã o atinja tam b é m a laring e, a voz<br />

pod e ser afetad a e adquirir um timbr e rouc o, de gras nid o. Por<br />

um lado os afetad o s so a m co m o abutre s, por outro, co m o se<br />

estive s s e m sufoc a n d o , e assi m é e m certo sentido. Eles<br />

am e a ç a m sufoc ar de co biç a.<br />

28<br />

4


Neste contexto, um a imag e m de conto de fa<strong>da</strong>s nos é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pela Gata Borralheira e os po m b o s que vê m e m seu so c orr o.<br />

Eles transfor m a m e m seu contrário aquilo que foi dito até<br />

entã o. Segund o o lem a "O bo m na pan elinha, o ruim no<br />

papinh o", diferen cia- se cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e o que dev e ser<br />

atribuído ao mund o e o que dev e ser guar<strong>da</strong>d o para si m e s m o .<br />

Naturalm e nt e, não pod e ser muito saud á v el colo c ar tudo o que<br />

é bo m e assi miláv el para fora e guar<strong>da</strong>r para si m e s m o e<br />

en g olir tudo o que é ruim e não pod e ser assi milad o .<br />

Na introduçã o ao pes c o ç o , este foi rec o n h e c i d o co m o sen d o<br />

o lar <strong>da</strong> angústia. Naturalm e nt e, es s e tem a é declara d o por um<br />

bó cio que am e a ç a fech ar a garg anta de um a pes s o a . Sendo<br />

um dos dois ponto s de bloqu ei o mais importante s do corp o, o<br />

pes c o ç o é um lugar que se tend e a tranc ar co m um ferrolho.<br />

Permitir o cres ci m e n t o de um bó ci o torna- se entã o, tam b é m ,<br />

uma pos sibili<strong>da</strong>d e de isolar a cab e ç a do corpo.<br />

P er g u nta s<br />

1. Vivo e m um am bi e nt e que prop orci o n a pouc o s estí mulo s<br />

à minh a vivaci<strong>da</strong>d e ?<br />

2. Exag er o o tem a "pos s e"? Deixo minha s pos s e s<br />

expo st a s? Já tenh o minh a s pos s e s pendurad a s no pes c o ç o ?<br />

3. Faç o a mim m e s m o cois a s que m e incha m e que m e<br />

imp e d e m de participar <strong>da</strong> vivaci<strong>da</strong>d e mutant e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

4. Com o and o co m o tem a- pes o (importân cia)? Sinto- m e<br />

importante ou precis o fazer- m e de importante?<br />

5. Escond o muita cois a? Coisas valios a s ? Valores? Coisas<br />

des a gr a d á v e i s?<br />

6. Açam b ar c o se m deixar que os outros perc e b a m (bócio<br />

interno)? Faç o- o para não ter de renun ciar a na<strong>da</strong> ou por<br />

verg o n h a ?<br />

7. Aquilo que aç a m b a r c o mold a a minha vi<strong>da</strong>?<br />

8. Eu m e tranc o no pes c o ç o e sep ar o minh a cab e ç a do<br />

corp o, meus pen s a m e n t o s de m eu s sentim e nt o s ?<br />

Hipertireoidism o<br />

28<br />

5


O hipertireoidis m o oc orr e co m freqü ê n ci a, ma s não precis a<br />

vir ac o m p a n h a d o nec e s s a ria m e n t e de um bó cio. Ele, muitas<br />

vez e s , apres e nt a form a ç õ e s nodular e s , sen d o que se<br />

diferen cia m os nódulo s frios, que arm az e n a m pouc o ou<br />

nen hu m iodo, dos quent e s , forte m e n t e impregn a d o s . A variante<br />

fria está tão deg e n e r a d a no que se refer e ao s tecido s que não<br />

cumpr e m ais sua funçã o de produzir hor m ô ni o s e, alé m diss o,<br />

tend e a deg e n e r ar de form a malign a. Mas ela não leva à<br />

hiperfunç ã o .<br />

Os nódulo s quent e s , por trás dos quais oculta m- se<br />

ad e n o m a s 63 autôn o m o s (assi m cha m a d o s pela m e di cin a),<br />

torna m- se rapi<strong>da</strong> m e n t e um ferro que nt e na vi<strong>da</strong>, o qual não se<br />

gosta de tocar. Concr eta m e n t e , não se suporta na<strong>da</strong> ap ertad o<br />

ao redor do pes c o ç o . A largura do colarinh o au m e nt a<br />

rapi<strong>da</strong> m e n t e se m que se deixe de ter a sen s a ç ã o de aperto.<br />

Isso corresp o n d e animic a m e n t e a tend ê n ci a s claustrofó bic a s ,<br />

ou seja, to<strong>da</strong>s as situaç õ e s restritivas são tem er o s a m e n t e<br />

evitad a s. O pes c o ç o incha e deixa claro o impuls o de<br />

cres ci m e n t o que m er gulh o u no corpo e que mal pod e ser<br />

fread o. O cora ç ã o bate mais rápido, a pres s ã o arterial e a<br />

temp er atura do corpo aum e nt a m e há um surto de su<strong>da</strong> ç ã o e<br />

de nervo si s m o . A inquietaç ã o m ot or a é alivia<strong>da</strong> por m ei o do<br />

nervo sis m o , de trem or e s e <strong>da</strong> agitaç ã o . A insônia roub a ao<br />

corp o o des c a n s o nec e s sitad o co m urgên cia. Os olho s trem e m<br />

de excitaç ã o , se arreg al a m e pod e m até m e s m o ficar<br />

niti<strong>da</strong> m e nt e saltad o s 64 .<br />

O pavor está es crito no rosto dos pacient e s co m o no de<br />

algué m que foi estran g ulad o , cujos olho s arreg al a d o s de m e d o<br />

parec e m que vão saltar <strong>da</strong>s órbitas. Franz Alexand er fala de<br />

"Based o w de cho q u e " 65 . Esse s olho s não estã o so m e n t e<br />

arreg al a d o s , eles estã o sup erdi m e n si o n a d o s . Em alar m a<br />

máxi m o , eles olha m para um a luta entre a vi<strong>da</strong> e a m orte, para<br />

a qual o resto do corpo evid e nt e m e n t e se prepara. A con ex ã o<br />

co m o terror não se rev ela so m e n t e na expres s ã o do rosto,<br />

tend o sido confirm a d a até m e s m o e m exp eri ên ci a s co m<br />

28<br />

6


anim ais. Poo dl e s confrontad o s co m martas ao s quais se tinha<br />

cortad o a rota de fuga des e n v olv er a m todo s os sinais de<br />

hipertireoidis m o , inclusive a so br e s s ali ê n ci a dos glóbulo s<br />

ocular e s, cha m a d a de exoftal mia. Encontra m o s nas histórias<br />

de pes s o a s do e nt e s a persp e ctiva de um a ép o c a pavor o s a ,<br />

co m o corresp o n d e n t e sofrim e nt o aní mic o de long a duraç ã o ,<br />

co m mais freqü ê n ci a que algu m ac o nt e ci m e n t o assu stad o r<br />

agud o. De qualqu er m an eir a, há tam b é m na maioria dos cas o s<br />

en c o ntro s prec o c e s co m a m orte e exp eriên ci a s co m a per<strong>da</strong><br />

de pes s o a s próxim a s . Entretanto, a angústia <strong>da</strong> m orte e o<br />

terror não são confrontad o s e sim rejeitad o s por m ei o <strong>da</strong><br />

neg a ç ã o e <strong>da</strong> repres s ã o , esta m p a n d o - se entã o no rosto.<br />

Muitas vez e s a neg a ç ã o che g a a tal ponto que os paci ent e s<br />

procura m justa m e n t e as situaç õ e s que mais tem e m . Além <strong>da</strong><br />

expr e s s ã o do rosto, o m e d o m anifesta- se tam b é m no pânic o<br />

que ator m e nt a os pacient e s , eles se borra m de m e d o, tal co m o<br />

diz a expres s ã o popular. Em vez de m arc h ar atrav é s <strong>da</strong><br />

situaç ã o e m sentido figurad o, eles vive m a "marcha" no<br />

intestino, so b a form a de diarréia. A tend ê n ci a a transpirar alé m<br />

do suor de m e d o , pod e ser apadrinh a d a tam b é m pelo esforç o e<br />

tens ã o exag er a d o s .<br />

De fato, os pacient e s não recua m ne m diante de fadigas<br />

ne m de esforç o s . Além do pânic o, o pes c o ç o inchad o e os<br />

olho s saliente s nos dão a imag e m de um esforç o imen s a m e n t e<br />

exc e s siv o, assi m co m o um halterofilista que abus a de suas<br />

forças. A tend ê n ci a de abus ar <strong>da</strong>s próprias forças en c o ntra- se<br />

na m ai or parte <strong>da</strong>s histórias de vi<strong>da</strong> dos afetad o s . Eles tend e m<br />

a am a d ur e c e r prec o c e m e n t e e a assu mir resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s<br />

ced o de m ai s para pes s o a tão joven s. O exc e s s o de hor m ô ni o<br />

de cres ci m e n t o e de am a d ur e ci m e n t o e m seu san g u e sinaliza<br />

mais tarde as corresp o n d e n t e s preten s õ e s que m er gulhar a m<br />

no corp o. Muitas vez e s até m e s m o sep ar a d o s <strong>da</strong> m ã e ,<br />

en g a n a d o s ou rejeitad o s , eles tenta m co m b at er a angú stia e a<br />

incertez a resultante s identificand o- se eles m e s m o s co m o<br />

pap el mat ern o . ("Se eu não pos s o tê- la, dev o tornar- m e igual a<br />

ela, de m o d o que pos s a pas s ar se m ela.") Isso leva muitas<br />

28<br />

7


vez e s a que as mulh er e s afetad a s des e n v o l v a m uma ligaç ã o<br />

quas e ince stu o s a co m o pai e à fixaçã o e m um pap el feminin o<br />

nos ho m e n s que pod e ch e g ar ao ho m o s s e x u alis m o . Os<br />

pacient e s per m a n e c e m abn e g a d a m e n t e fiéis ao des e m p e n h o<br />

do pap el mat ern o que eles exig e m de si m e s m o s . O fracas s o<br />

de um a tal tentativa de co m p e n s a ç ã o pod e deton ar a<br />

sinto m átic a.<br />

Mas e m seus olho s arreg al a d o s pod e se refletir tam b é m a<br />

sed e de luta e até m e s m o a curiosi<strong>da</strong> d e . Encontrar e m o s co m<br />

freqü ê n ci a ain<strong>da</strong> maior es s a apar e nt e contradiç ã o . Amea ç a d o s<br />

e ac o s s a d o s , pare c e que os paci ent e s estã o se prep ar and o<br />

para grand e s feitos que exig e m to<strong>da</strong> a sua en er gia. Os sinais<br />

são de tem p e st a d e , co m o se a m ais feroz luta pela<br />

so br e viv ê n ci a foss e iminent e. No entanto, eles m e s m o s não<br />

sab e m na<strong>da</strong> diss o, ao contrário muitas vez e s con sid er a m seus<br />

sinto m a s co m grand e distan cia m e n t o intern o e, tal co m o<br />

de m o n s tr a a exp eri ên ci a, de m o r a m a se apres e nt ar no<br />

con s ultório m é dic o . Eles não têm a tend ê n ci a a deixar- se<br />

declarar do e nt e s , agü e nt an d o pelo m ai or temp o pos sív el. Sua<br />

corag e m para a luta m er gulh o u na so m b r a e lhes é<br />

perfeita m e nt e incon s ci e nt e. No corp o, ao contrário, eles<br />

de m o n s tr a m co m to<strong>da</strong> a hon e sti<strong>da</strong>d e , em nódulos quent e s e no<br />

pes c o ç o inchad o , co m o estã o cand e nt e s por expans ã o e<br />

des e n v olvi m e nt o e os esforç o s que estã o dispo sto s a fazer<br />

para isso. Eles não quer e m ap en a s tornar- se mais am plo s,<br />

ma s so br etud o progr e dir, sua fom e é insaciáv el e trai um<br />

apetite se m el h a nt e pela vi<strong>da</strong>. Eles não con s e g u e m enc h e r<br />

suficiente m e n t e a go el a e muitas vez e s se con s o m e m de<br />

ardent e am bi ç ã o [Ehrg eiz e m ale m ã o : Ehr honra / Geiz =<br />

avar ez a]. Esse tipo de avar ez a salienta- se no prim eiro plano.<br />

Às vez e s , a inquieta ç ã o se explicita e m um ver<strong>da</strong>d eir o zunido<br />

ou um a pulsaç ã o do bó ci o. Esse estad o tem algo de<br />

debilitante, a m o vi m e nt a ç ã o básic a é tão alta que os afetad o s<br />

e m a g r e c e m e a impres s ã o de que estã o sen d o ac o s s a d o s é<br />

sublinhad a ain<strong>da</strong> mais. Eles se dev or a m de am biç ã o e vontad e<br />

de produzir.<br />

28<br />

8


O local <strong>da</strong> luta cand e nt e, no contexto <strong>da</strong> form a de avar ez a<br />

que co biç a honra, deixa entrev er um outro tem a alé m do pavor<br />

e <strong>da</strong> fraca dispo siç ã o para a defe s a. Sendo pas s a g e m do<br />

corp o para a cab e ç a , o pes c o ç o con stitui o ac e s s o para a<br />

instância sup erior. Ness e lugar não só foi erguido um es cu d o<br />

defen siv o aum e nt a d o diante de um a <strong>da</strong>s zona s m ais sen sív ei s<br />

do corp o por m ei o do bó ci o, m a s foi tam b é m pas s a d a um a<br />

tranc a que estreita to<strong>da</strong> s as vias vitais de ab a st e ci m e n t o . Ao<br />

redor des s e bloqu ei o trava- se um a acirra<strong>da</strong> disputa que pod e<br />

ser interpretad a co m o uma luta pelo ac e s s o ao local m ais<br />

elev a d o . Muitas vez e s es c o n d e - se por trás diss o a enc arn a ç ã o<br />

de um ve e m e n t e conflito de autori<strong>da</strong>d e que tem algo de<br />

decisiva m e n t e vital para os afetad o s . O corp o m o stra co m o<br />

es s a luta é des g a s t a nt e, co m o con s o m e as en er gias, e co m o a<br />

pas s a g e m para cim a se estreita cad a vez mais. O m e d o e a<br />

inquietaç ã o explicita m- se nos trem or e s . Constante m e n t e e m<br />

pânic o de que estã o perdido s ante s m e s m o de ter con s e g uid o<br />

algu m a cois a, cad a estreita m e n t o os deixa fora de si. Não é<br />

raro que eles, quan d o na pres e n ç a de um a figura de autori<strong>da</strong>d e<br />

corre s p o n d e n t e , não con sig a m levar uma xícara de café à bo c a<br />

devido ao trem or. Eles têm um a bola na garg a nta,<br />

de m o n s tr a n d o que na<strong>da</strong> mais pod e subir, e m b o r a e m sentido<br />

figurad o tudo neles queira subir. A sed e de vi<strong>da</strong> alia<strong>da</strong> ao med o<br />

(<strong>da</strong> m orte) de perd er tudo o que é es s e n ci al na vi<strong>da</strong> tam b é m<br />

tem um a participaç ã o aqui.<br />

Caso um a palavra ain<strong>da</strong> aflore e m seus lábio s quan d o nesta<br />

situaç ã o , eles o dev e m a sua grand e cap a cid a d e de aprum arse<br />

e de aplicar prag m atis m o a tudo. Eles retê m os estí mulo s<br />

e m o ci o n ai s - esp e ci al m e n t e os hostis - e sentim e nt o s de todo<br />

tipo abaixo <strong>da</strong> barreira form a d a pelo bó ci o. Eles gosta m de<br />

aju<strong>da</strong>r até m e s m o seus opo sitor e s bas e a n d o - se e m<br />

con sid er a ç õ e s racion ais, assi m co m o colo c a m - se, de<br />

prefer ê n ci a, mat ern al e protetora m e n t e ao lado dos irmã o s co m<br />

os quais rivaliza m. Som e nt e quan d o , vez por outra, o dique no<br />

pes c o ç o se ro mp e, abr e m - se as co m p o rta s e banh o s de<br />

lágrim a s apar e nt e m e n t e se m m otivo en c o ntra m o ca minh o <strong>da</strong><br />

28<br />

9


liber<strong>da</strong> d e . Às vez e s eles tam b é m são traído s pela voz raspa d a,<br />

rouc a, audivel m e n t e aflita, m o stran d o quanto a situaç ã o lhes<br />

dá o que fazer. Ela fala clara m e n t e <strong>da</strong> pres s ã o so b a qual eles<br />

se en c o ntra m e o estad o de espírito oprimido de que está<br />

ch eia. Nece s s aria m e n t e baixa, a voz, força<strong>da</strong> co m o é, deixa<br />

so ar as preten s õ e s propria m e nt e ditas. Aqui a pes s o a gostaria<br />

de extern ar- se mais e mais alto, ma s não o con s e g u e .<br />

O co m p o n e n t e de cres ci m e n t o dos hor m ô ni o s <strong>da</strong> tireóid e<br />

alicerç a as interpreta ç õ e s , pois o exc e s s o de hor m ô ni o m o stra<br />

as preten s õ e s de cres ci m e n t o que m er g ulh ar a m no corp o.<br />

Esse é o seu lugar até a adol e s c ê n c i a, ma s dep ois dev e<br />

localizar- se exclusiva m e n t e no nível aní mic o- espiritual.<br />

Portanto, não é de ad mirar que pratica m e n t e não exista<br />

hipertireoidis m o na infância e que sua oc orr ê n ci a au m e nt e<br />

so m e n t e apó s a pub erd a d e . Nos adultos, o exc e s s o de<br />

hor m ô ni o rev ela uma regr e s s ã o , um recuo a um plano que não<br />

é mais ad e q u a d o . Os pacient e s não ad mite m ne m seus<br />

esforç o s de cres ci m e n t o ne m os de luta. Sua preten s ã o de<br />

am a d ur e c e r e cres c e r de form a esp e ci al m e n t e rápi<strong>da</strong> e de<br />

viven ci ar o máxi m o pos sív el é e m p urrad a para o corp o, ond e<br />

se des a b af a co m o au m e nt o <strong>da</strong> produç ã o de hor m ô ni o. O<br />

exc e s s o de hor m ô ni o m eta b ólic o e de cres ci m e n t o os deixa<br />

exa g er a d a m e n t e sen sív ei s, volúveis, turbulento s e<br />

exc e s siv a m e n t e vivaz e s, fom e ntando a angústia de morte. Eles<br />

estã o tão des p erto s que não con s e g u e m m ais fechar ne m um<br />

olho. As pálpe br a s trem e m o dia todo, de noite eles evita m o<br />

son o. A evitaç ã o do son o, o irmã o m e n o r <strong>da</strong> m orte, fecha o<br />

circulo <strong>da</strong> angústia <strong>da</strong> m orte. Algum a s histórias de do e nt e s<br />

levanta m a susp eita de que se trata do m e d o de termin ar a vi<strong>da</strong><br />

antes que ela tenha sido vivi<strong>da</strong>.<br />

Cham a a aten ç ã o que as mulh er e s seja m afetad a s cinc o<br />

vez e s mais que os ho m e n s . Isso pod eria levar à con clus ã o de<br />

que as pos sibili<strong>da</strong>d e s so ciais de cres ci m e n t o e de realizaç ã o<br />

seja m niti<strong>da</strong> m e nt e piores e, portanto, a prob a bili<strong>da</strong>d e de que<br />

seja m reprimi<strong>da</strong> s seja m ai or. Além diss o, e m muitas paci ent e s<br />

é evident e o des ej o de satisfaz er seus esforç o s de cres ci m e n t o<br />

29<br />

0


co m a gravid ez e, alé m diss o, per mitir o cres ci m e n t o <strong>da</strong> família<br />

co m ado ç õ e s e filhos de criaç ã o , o que gera probl e m a s e m um<br />

am bi e nt e relativa m e n t e hostil às crianç a s . Alexand er fala de<br />

"mania de con c e p ç ã o ap e s ar do m e d o <strong>da</strong> gravid ez". Essa<br />

contradiç ã o se reflete na tentativa <strong>da</strong>s mulh er e s afetad a s de,<br />

assi m, defend er e m - se <strong>da</strong> própria angústia de morte, já que dão<br />

vi<strong>da</strong> e m outro plano.<br />

A relaç ã o entre gravid ez e glândula tireóid e pod e ser<br />

co m pr o v a d a de várias m an eira s. Durante a gravid ez, por<br />

exe m pl o, ela está ligeira m e n t e au m e nt a d a e trabalha mais<br />

intens a m e n t e . Uma ativi<strong>da</strong>d e glandular insuficiente leva<br />

freqü e nt e m e n t e a esterili<strong>da</strong>d e ou a ab orto s. O hor m ô ni o <strong>da</strong><br />

tireóid e tam b é m exer c e um a influên cia positiva so br e a<br />

fertili<strong>da</strong>d e dos ho m e n s . Ele produz um au m e nt o no núm er o de<br />

esp er m a t o z ói d e s exp elido s e tam b é m na sua velo cid a d e de<br />

deslo c a m e n t o . Há indício s de que, e m relaç ã o à história <strong>da</strong><br />

ev oluç ã o , a tireóid e se origin e do âm bito uterino.<br />

"Progredir por m ei o dos filhos" é uma variante freqü e nt e <strong>da</strong><br />

am bi ç ã o en c o ntrad a de man eira geral no hipertireoidis m o , que<br />

é a de progr e dir a qualqu er preç o. Fora isso, es s e e m p e n h o se<br />

realiza e m um progra m a de trabalh o que che g a ao<br />

es g ot a m e n t o e nas exig ê n ci a s de produtivi<strong>da</strong>d e de si m e s m o e<br />

do am bi e nt e. Neste ponto, tam b é m , as fronteiras são mais<br />

e str eita s para as mulh er e s , en c arn a n d o - se dolor o s a m e n t e no<br />

hipertireoidis m o . quan d o o des ej o s de gravid ez ou de<br />

produtivi<strong>da</strong>d e são colo c a d o s e m que stã o , isso pod e levar ao<br />

surto <strong>da</strong> sinto m átic a.<br />

Uma outra razão para a m ai or freqü ê n ci a entre as mulh er e s<br />

pod e estar no fato de que a tem átic a do produzir, lutar e se<br />

impor perten c e mais ao pólo arqu etípic o ma s c ulino e, por es s a<br />

razã o, é fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e mais difícil para as mulh er e s . É<br />

muito difícil, por exe m pl o, transp ô- lo para o âm bito<br />

primordial m e nt e feminino do <strong>da</strong>r à luz. À parte o fato de que a<br />

vontad e de produzir pratica m e n t e não corresp o n d e a es s e<br />

âm bito, um grand e núm er o de filhos é na ver<strong>da</strong>d e punido pela<br />

soci e d a d e . O dinheiro <strong>da</strong>d o pelo Estado para aju<strong>da</strong>r a mant er<br />

29<br />

1


as crianç a s não contradiz isso, ao contrário, é na ver<strong>da</strong>d e<br />

expr e s s ã o de má con s ci ê n ci a e m relaç ã o àqu el e s que fora m<br />

prejudic ad o s pela prole num er o s a .<br />

Finalm e nt e, a tem átic a <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>d e entre mã e e filha é<br />

muito mais difícil de solucion ar para a filha que para o filho.<br />

Segund o Alexand er, todo s os afetad o s ado e c e m <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>d e<br />

de do min ar a troca de pap éis, de cui<strong>da</strong>d o a cui<strong>da</strong>d or.<br />

A lição a ser aprendid a con siste e m ad mitir para si m e s m o o<br />

m e d o e o pânic o e m relaç ã o à própria vi<strong>da</strong> e as altas<br />

preten s õ e s de des e n v olvi m e nt o , produtivi<strong>da</strong>d e , cres ci m e n t o e<br />

vivên ci a que co m eles contrasta m . Os en or m e s esforç o s e o<br />

e m p e n h o para obter o rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>d e, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vez e s es c olhid a pelo próprio paci ent e, dev e m ser<br />

relacion a d o s co m a própria história. Para liberar o padrã o, é<br />

nec e s s á ri o rec o n h e c e r a própria participaç ã o na situaç ã o<br />

contraditória: na maior parte <strong>da</strong>s vez e s , a angú stia e o m e d o<br />

que se esta m p a m na cara pod e m ser seguid o s até dec e p ç õ e s<br />

prec o c e s (infantis) dos próprios des ej o s de dep e n d ê n ci a. As<br />

tentativas de substituir a se g ura n ç a am e a ç a d a <strong>da</strong>nd o- a a<br />

outros projeta m luz so br e a exig ê n ci a exc e s siv a. Pois co m o se<br />

pod e <strong>da</strong>r algo que não se tem, ma s de que se precis a co m<br />

urgên ci a? A alta preten s ã o e a en or m e dispo siç ã o para a<br />

produç ã o e o sofrim e nt o torna m pos sív el aquilo que é<br />

contraditório e, ao m e s m o temp o, quas e impo s sí v el. A situaç ã o<br />

que deton a a sinto m átic a <strong>da</strong> do e n ç a , que faz colap s ar o edifício<br />

feito de angústia, esforç o e neg a ç ã o de si m e s m o , e m p urra os<br />

impulso s corre s p o n d e n t e s para o corp o que, por sua vez,<br />

colo c a- se so b a m ais alta exig ê n ci a e o incita a um a luta que<br />

não pod e ser ven ci<strong>da</strong>. Os deton a d o r e s , que pod e m ir de crise s<br />

de relacion a m e n t o até a per<strong>da</strong> por m ei o <strong>da</strong> m orte e que são<br />

alim e ntad o s pelo m e d o fun<strong>da</strong> m e n t al, na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s já<br />

oc orr er a m e m pen s a m e n t o s e, por es s a razão, env olv e m - se<br />

ain<strong>da</strong> mais no terror de um a profecia tornad a reali<strong>da</strong>d e .<br />

Quando o próprio fundo aní mic o é trabalhad o , para o que<br />

uma psicoter apia muitas vez e s não pod e ser evita<strong>da</strong>, trata- se<br />

de voltar a viver con s ci e nt e m e n t e os impuls o s que fora m<br />

29<br />

2


e m p urrad o s para o corp o. A am biç ã o , que gan h a asa s no<br />

des ej o de luta, e o emp e n h o estã o no coraç ã o que faz co m que<br />

até o pes c o ç o pulse. Após a ad mis s ã o de co m o são ardent e s<br />

co m tudo na vi<strong>da</strong> e co m tudo o que vive m , co m a asc e n s ã o e o<br />

rec o n h e c i m e n t o de co m o gostaria m de ser na reali<strong>da</strong>d e as<br />

"pes s o a s quent e s" que eles até entã o so m e n t e vivera m às<br />

es c o n di d a s , os son h o s de alto vô o têm um a chan c e autêntica<br />

de m e dir- se co m a reali<strong>da</strong>d e . Quando se rec o n h e c e o bloqu ei o<br />

no âm bito do pes c o ç o que sep ar a a cab e ç a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e do<br />

corp o e, por exe m pl o, sep ar a tam b é m a própria voz de seu<br />

ca m p o de res s o n â n ci a no corp o, só entã o todo o m e d o m etido<br />

no desfilad eiro do pes c o ç o e que está pres o nos olho s<br />

arreg al a d o s pod e tornar- se con s ci e nt e. Os afetad o s não têm<br />

apen a s um nó con cr et o no pes c o ç o , seu probl e m a são os nós<br />

aní mic o s , que form a m uma barreira entre o que está e m cim a e<br />

o que está e m b aix o. quan d o se defronta m co m es s a angú stia,<br />

que eles até entã o apen a s m et er a m go el a ab aixo (no bó ci o), a<br />

luta no mun d o exterior pas s a a ter um a chanc e . É pos sív el<br />

tam b é m que ela deixe de ser nec e s s á ri a a partir do m o m e n t o<br />

e m que as en er gias de cres ci m e n t o busc a m outros rum o s mais<br />

pacíficos.<br />

O princípio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mer gulh o u na so m b r a e quer retornar ao s<br />

níveis con s ci e nt e s . O hipertireoidis m o sim b oliza um a incrível<br />

abun d â n ci a de vi<strong>da</strong> e cres ci m e n t o , de m a s i a d a para o corpo. É<br />

precis o des viar es s e exc e s s o de vi<strong>da</strong> para os can ais aní mic oespirituais,<br />

pois lá quanta s direç õ e s se queira, na ver<strong>da</strong>d e<br />

to<strong>da</strong>s as direç õ e s , estã o ab ertas.<br />

P er g u nta s<br />

No cas o de nódulos frios:<br />

1. Tenh o nódulo s (= probl e m a s não res olvido s) no pes c o ç o<br />

que pod eria m matar- m e co m sua fria hostili<strong>da</strong>d e à vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que pod eria m e ac o nt e c e r de ruim por continuar a<br />

ignorá- los?<br />

3. Onde há um âm bito substanci al <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do qual retirei<br />

to<strong>da</strong> a en er gi a, que tento mant er frio?<br />

29<br />

3


No cas o de hipertireoidis m o e nódulo s quent e s:<br />

1. Qual é o ferro que nt e que eu não quer o se gur ar?<br />

2. Que am biç ã o ardent e e grand e preten s ã o m e<br />

impulsion a m ? Qual o objetivo de minh a fom e insaciáv el?<br />

3. O que me dá ímp et o, o que m e deixa louc o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

4. Que pelote, que angú stia tenh o m eti<strong>da</strong> há tem p o na<br />

garg a nta?<br />

5. que m pod eria pular no m e u pes c o ç o ? No pes c o ç o de<br />

que m gostaria de pular? Ao redor de que autori<strong>da</strong>d e gira minh a<br />

luta?<br />

6. Até que ponto os cilo entre a angú stia <strong>da</strong> m orte e a<br />

avidez de vi<strong>da</strong>?<br />

7. Por que en gulo estí m ul o s hostis?<br />

8. Com o che g u ei a ponto de colo c ar o prag m atis m o aci m a<br />

<strong>da</strong>s e m o ç õ e s ? Por que forço discus s õ e s cand e nt e s para o<br />

corp o?<br />

9. O que se es c o n d e por trás de minh a exag er a d a<br />

dispo siç ã o para aju<strong>da</strong>r? O que se es c o n d e por trás de m e u<br />

(exag er a d o ?) des ej o de ter filhos?<br />

10. O que se es c o n d e por trás de m eu des a m p a r o quan d o<br />

se trata de mi m e <strong>da</strong> defe s a de meus próprios interes s e s ?<br />

1 1. A que urge m e u alto índic e m eta b ólic o (= troca de<br />

substânci a s)? que sub stân ci a de minha vi<strong>da</strong> é precis o trocar?<br />

que troca é des n e c e s s á ri a?<br />

12. Onde quer o che g ar co m o exc e s s o de vi<strong>da</strong> que há e m<br />

mi m?<br />

Hipotireoidism o<br />

Ao contrário <strong>da</strong> hiperfunç ã o , no hipotire oidis m o muito pouc o<br />

hor m ô ni o <strong>da</strong> tireóid e ch e g a ao san gu e. As con s e q ü ê n c i a s são<br />

baixo m eta b olis m o basal e carên ci a de en er gia. A pres s ã o<br />

arterial cai, assi m co m o o nível de glico s e do san gu e, surg e a<br />

an e mi a e o m eta b olis m o so m e n t e funcion a no fogo mais baixo,<br />

levan d o ao can s a ç o , m ol ez a, uma falta geral de impuls o, e ao<br />

29<br />

4


aum e nt o de pes o. Som a m - se a isso a falta de ap etite e a<br />

prisão de ventre, en qu a nt o os cab el o s* torna m- se sec o s e<br />

hirsutos e pod e m cair. A pele é m al irriga<strong>da</strong> pelo san g u e e, e m<br />

con s e q ü ê n c i a, fria, tend e n d o a en gr o s s ar. O tecido subcutân e o<br />

adquire um a con sist ên ci a esp o njo s a e dura, razão pela qual os<br />

m é di c o s falam de mixed e m a . O estad o de espírito é<br />

des al e nta d o - depr e s siv o , a expr e s s ã o do rosto é e m b o t a d a e<br />

desinter e s s a d a . A pers o n ali<strong>da</strong>d e letárgica, ralenta<strong>da</strong>,<br />

intelectual m e n t e ador m e c i d a a ponto de <strong>da</strong>r a impres s ã o de<br />

atras o m e ntal é o maior contrast e co m os viva m e nt e des p erto s,<br />

hiper ex citad o s pacient e s de hipertireoidis m o chei o s de<br />

angústia.<br />

Os pacient e s de mixed e m a des e n v olv er a m uma ca s c a<br />

gro s s a para sep ar á- los do mun d o exterior. Com a irrigaç ã o<br />

san guín e a eles retiram ain<strong>da</strong> m ais a en er gia vital <strong>da</strong> pele<br />

ma s s u d a e inchad a, isto é, eles não quer e m esta b el e c e r<br />

qualqu er contato vivo co m o mund o lá fora. A pele, co m o<br />

fronteira para fora, per m a n e c e assi m fria e se m vi<strong>da</strong>. As mã o s<br />

frias, cas o eles as esten d a m para cumpri m e nt ar algué m ,<br />

deixa m perc e b e r que não ac eita m qualqu er contato afetuo s o<br />

ou calor o s o . Os pés frios revela m que seu enraiza m e n t o na<br />

terra é na ver<strong>da</strong>d e se m vi<strong>da</strong> e deficiente. quan d o se tem os pés<br />

frios [em ale m ã o , ter pés frios = estar e m uma situaç ã o<br />

des a gr a d á v e l], log o ve m tam b é m a angú stia. Uma pes s o a que<br />

ain<strong>da</strong> não enc o ntr ou um lugar para deitar raízes vive<br />

natural m e nt e co m um a angústia fun<strong>da</strong> m e n t al.<br />

Isso colo c a os pacient e s , co m seus co m p a n h e ir o s de<br />

sofrim e nt o, no pólo opo st o <strong>da</strong> hiperfunç ã o . Com o to<strong>da</strong>s as<br />

opo siç õ e s , es s e s dois contrário s tam b é m se opõ e m um ao<br />

outro, m a s ain<strong>da</strong> assi m se enc o ntra m no m e s m o eixo. Onde os<br />

pacient e s de hipertireoidis m o vão ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m<br />

angústia <strong>da</strong> m orte e dão a impres s ã o de que estã o lutando e m<br />

pânic o pela so br e viv ê n ci a, os pacient e s de hipotire oidis m o vão<br />

ao enc o ntr o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m indiferen ç a, co m o se ela não lhes<br />

diss e s s e resp eito. Assim co m o todo o resto, ela os deixa<br />

inteira m e nt e frios. Parec e que eles estã o se fingindo de morto s.<br />

29<br />

5


Mas no tem a <strong>da</strong> m orte há nova m e n t e algo e m co m u m co m os<br />

pacient e s de hipertireoidis m o . Uns a tem e m en qu a nt o os<br />

outros a imita m, ma s todo s ocup a m - se con stant e m e n t e co m<br />

ela.<br />

Não é de ad mirar tanto que os pacient e s não se sinta m be m<br />

dentro de sua pele fria e esp o nj o s a. O estad o de espírito<br />

deprimid o e a expr e s s ã o am ort e cid a do rosto, ond e falta<br />

qualqu er sinal de participaç ã o , o deixa m be m claro. O coraç ã o<br />

bate e m um ritmo fraco e can s a d o , m o vi m e nt a n d o um san gu e<br />

ao qual falta sub stân ci a. Trata- se de um a seiva vital real m e nt e<br />

rala, co m pouc o s portad or e s de en er gia (glóbulo s ver m el h o s) e<br />

pouc o co m b u stív el (açúc ar). A baixa taxa de açúc ar den ot a<br />

alé m diss o que falta doçura a es s a vi<strong>da</strong>. Não é de ad mirar que<br />

tam b é m extern a m e n t e os paci ent e s m o str e m uma imag e m de<br />

afasta m e n t o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m to<strong>da</strong> regra. Uma retira<strong>da</strong> incondicion al<br />

de to<strong>da</strong> s as frentes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> m er g ulh o u aqui na so m b r a e se<br />

en c arn o u. Este sinto m a m o stra seu caráter e m seu cas o<br />

extre m o , o co m a por mixed e m a , co m estad o s de m orte<br />

apar e nt e e temp er aturas inferiores a 23 graus. A vi<strong>da</strong> aqui está<br />

quas e con g el a d a, as funçõ e s vitais estã o pratica m e n t e<br />

susp e n s a s . Há muito que os pacient e s , e m sua profun<strong>da</strong><br />

incon s ci ê n ci a, já não dão sinal de vi<strong>da</strong>. Eles já não pod e m mais<br />

sentir qualqu er calor pela vi<strong>da</strong>, isso so m e n t e é pos sív el ain<strong>da</strong><br />

por m ei o <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> de fora. Eles pod e m de fato ser<br />

trazido s de volta para a vi<strong>da</strong>. Tais situaç õ e s extre m a s estã o por<br />

trás <strong>da</strong> m ai or parte dos ma c a b r o s relato s de pes s o a s<br />

enterrad a s vivas.<br />

Paciente s de hipofunç ã o não m o stra m qualqu er dispo siç ã o<br />

para assu mir a luta pela vi<strong>da</strong>, eles não se interes s a m ne m<br />

m e s m o por suas vi<strong>da</strong>s. Os olho s can s a d o s e ocultos e m<br />

profun<strong>da</strong> s olheiras contrasta m co m os olho s faisc ant e s e que<br />

salta m <strong>da</strong>s órbitas de seus adv er s ário s co m hiperfunç ã o . Uma<br />

preguiç a, uma apatia que não se interess a por na<strong>da</strong> contrasta<br />

co m um a agitaç ã o hiperativa. Uns não se m ex e m do lugar,<br />

outros voa m de um lugar para outro se m jam ais che g ar a lugar<br />

algu m. Com tudo o que opõ e um e m relaç ã o ao outro, eles<br />

29<br />

6


co m p artilha m o tem a que os divide e que se en c o ntra no m ei o,<br />

entre eles, e do qual am b o s enc o ntra m - se igual m e nt e<br />

distante s. Trata- se de seu lugar na vi<strong>da</strong>. Entre muito pouc a<br />

vi<strong>da</strong> e m um cas o e vi<strong>da</strong> de m ai s no outro, en c o ntra- se a igual<br />

distância de am b o s , a mei o ca minh o entre eles: a vi<strong>da</strong>.<br />

A m e di cin a m o d e r n a, que co m seus m ét o d o s terap êutic o s<br />

radicais de radioterapia e cirurgia muitas vez e s transfor m a<br />

hiperfunç õ e s e m hipofunç õ e s , m o stra tam b é m co m o os dois<br />

pólos estã o na reali<strong>da</strong>d e próxim o s . As pes s o a s assi m trata<strong>da</strong>s<br />

pas s a m nec e s s a ria m e n t e a precis ar ser esta biliza<strong>da</strong> s por m ei o<br />

de aplicaç õ e s de hor m ô ni o <strong>da</strong> tireóid e para o resto de suas<br />

vi<strong>da</strong>s. Através des s e proc e di m e n t o , os afetad o s viven cia m o<br />

m e s m o tem a fun<strong>da</strong> m e n t al de dois lado s contraditório s.<br />

Enquanto a terapia <strong>da</strong> m e dicin a ac ad ê m i c a para a hipofunç ã o<br />

é regi<strong>da</strong> pelo princípio <strong>da</strong> sub stituiçã o e segu e pen s a m e n t o s<br />

alopátic o s (a falta de vi<strong>da</strong> dos pacient e s é trata<strong>da</strong> co m os<br />

hor m ô ni o s vitais <strong>da</strong> tireóid e), a radioterapia co m raios de iodo<br />

segu e ca min h o s quas e ho m e o p á tic o s . Os paci ent e s eng ol e m<br />

iodo radio ativo que se acu m ula na tireóid e e que, a partir desta,<br />

se irradia de dentro para fora. Durante o temp o de trata m e nt o o<br />

pacient e inteiro está tão radiativa m e n t e radiante que precis a<br />

ser rigoro s a m e n t e isolad o. Os radiolo gista s contrap õ e m algo<br />

ain<strong>da</strong> mais agre s siv o ao s impuls o s vitais agr e s siv o s do sinto m a<br />

que m er g ulh ar a m no corp o. As sub stân ci a s radio ativa s são <strong>da</strong>s<br />

mais ativas e, portanto, <strong>da</strong>s m ais vivas que se pos s a imagin ar.<br />

Elas co m o que explod e m de dentro para fora, dilac er a n d o - se,<br />

e m outras palavra s, para sua vivaci<strong>da</strong>d e letal.<br />

A lição a ser aprendid a pelo s pacient e s e a red e n ç ã o do<br />

tem a hipofunç ã o con sist e e m voltar- se con s ci e nt e e<br />

inteira m e nt e para si m e s m o , limitar as ativi<strong>da</strong>d e s ao míni m o<br />

nec e s s á ri o e apren d er a deixar ac o nt e c e r. A "mol ez a" que<br />

todo s os afetad o s enc o ntra m dev e ser transfor m a d a naqu el e<br />

"Seja feita a Sua vontad e" con s ci e nt e. A tarefa não con siste em<br />

deixar- se levar de um lado para o outro por todo s, m a s per mitir<br />

pacient e m e n t e que a vi<strong>da</strong> lhe m o str e seu lugar. Não<br />

resign a ç ã o e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>, ma s um a retira<strong>da</strong> do "Eu quer o!"<br />

29<br />

7


para "Seja feita Sua vontad e!”.<br />

Enquanto na hiperfunç ã o a vi<strong>da</strong> m er g ulh o u na so m b r a, aqui<br />

foi a m orte. Portanto, é precis o deixar que tudo o que é velho<br />

m orra, os velho s padrõ e s e progra m a s , tudo aquilo que há<br />

muito estav a m ortal m e nt e can s a d o . O pacient e de mixed e m a<br />

parec e um cad á v e r, frio, inchad o , exan g u e . Sua tarefa mais<br />

urgent e é enten d er- se co m a m orte. Ele so m e n t e pod er á viver<br />

quan d o apren d er a m orr er. Pode pare c e r uma tarefa bastant e<br />

des pr o p o sitad a e m um a so ci e d a d e industrial m o d er n a.<br />

Entretanto, há culturas nas quais a prepar a ç ã o para a m orte<br />

era o conteú d o m ais importante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, tal co m o no antigo<br />

Egito, entre os maia s e tam b é m entre os lam a s do Tibete. Os<br />

Livros dos Mortos corre s p o n d e n t e s são teste m u n h o s des s e<br />

ca min h o .<br />

Com a subfunç ã o ou o não funcion a m e n t o inato <strong>da</strong> tireóid e,<br />

des e n v olv e- se o quadr o de cretinis m o , co m nanis m o e<br />

debili<strong>da</strong>d e m e ntal e m divers o s graus. Neste cas o , a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> des crita e m prim eiro lugar fica ain<strong>da</strong> mais clara, já<br />

que ela tam b é m se dirige ao s pais de m an eira muito<br />

substanci al. A inteligên ci a é nec e s s á ri a para tornar reali<strong>da</strong>d e o<br />

"Eu quer o", ao m e n o s e m parte. Quando ela falta e m grand e<br />

m e di<strong>da</strong>, a sub ordina ç ã o do am bi e nt e à própria vontad e não é<br />

um tem a. Os déb ei s m e ntais perc e b e m o mund o de m an eir a<br />

instintiva e m vez de inteligent e, eles estã o de fora des d e o<br />

co m e ç o . Inúteis para os objetivo s <strong>da</strong> so ci e d a d e e<br />

con sta nt e m e n t e dep e n d e n t e s de sua aju<strong>da</strong>, eles são um a<br />

carg a para ela. queira m ou não, os afetad o s têm de suportar<br />

to<strong>da</strong>s es s a s situaç õ e s humilhant e s . Na maioria <strong>da</strong>s vez e s , é<br />

m e n o s difícil para eles que para seus pais. A única soluç ã o<br />

está e m aprend er a humil<strong>da</strong>d e a partir <strong>da</strong> humilha ç ã o . O<br />

nanis m o expr e s s o tam b é m dev e ser enten did o nes s a direç ã o .<br />

Evidente m e n t e , não se trata de ser um grand e protag o ni sta<br />

nesta vi<strong>da</strong>, ma s de en c aixar- se e m um a pequ e n a m oldura e m<br />

um grand e mund o e des e m p e n h a r seu pap el pequ e n o e<br />

m o d e s t o .<br />

29<br />

8


P er g u nta s<br />

1. Por que não quer o mais estar vivo? O que m e leva a<br />

viver so m e n t e e m ponto morto?<br />

2. Para que precis o de uma pele tão gros s a?<br />

3. O que m eu exc e s s o de pes o quer m e dizer? O que ele<br />

substitui e m mim?<br />

4. Onde es c o n d o minha en er gi a vital?<br />

5. O que me transfor m a em um bloc o de gelo?<br />

6. Com o pos s o transfor m ar minh a resign a ç ã o e m entreg a,<br />

m e u fatalis m o e m dev o ç ã o ?<br />

7. O que dev eria deixar morr er para voltar a estar vivo?<br />

8. Até que ponto fiquei dev e n d o o enten di m e n t o co m a<br />

m orte?<br />

9. Onde está m eu lugar, ond e pod eria viver e flores c e r?<br />

29<br />

9


6<br />

A Coluna Vertebral<br />

Noss o órgã o mais co m u ni c a nt e é a colun a verte br al (CV),<br />

que co m u ni c a o sup erior (cab e ç a) co m o inferior (bacia). Neste<br />

ponto, o no m e colun a vertebr al (Colu m n a verte bralis ) é<br />

so m e n t e um a aproxim a ç ã o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e, já que durante a<br />

maior parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ela é muito mais um arco que um a coluna.<br />

Visto de perfil, es s e arc o delineia um duplo S. A coluna<br />

vertebr al co m p o rta- se co m o um a uni<strong>da</strong>d e funcion al, e m b o r a<br />

con sista de 34 até 35 oss o s : 7 vértebr a s cervic ais, 12<br />

torácic a s, 5 lom b ar e s , 5 sacrais e 5 coc cí g e a s . As 24 vérte br a s<br />

sup erior e s são m ó v ei s, en qu a nt o as 10 ou 1 1 inferiores estã o<br />

sol<strong>da</strong> d a s um a s às outras até o oss o sacr o e o cóc cix. À<br />

uni<strong>da</strong>d e funcion al <strong>da</strong> coluna vertebr al dev e- se so m ar ain<strong>da</strong> os<br />

550 mús c ul o s e 400 tend õ e s e liga m e nt o s do apar elh o de<br />

apoio circund a nt e, que garant e m a esta bili<strong>da</strong>d e e ao m e s m o<br />

temp o pos sibilitam a impre s si o n a nt e m o bili<strong>da</strong>d e nas 14 4<br />

pequ e n a s articulaç õ e s . Com exc e ç ã o <strong>da</strong>s duas vérte br a s<br />

cervic ais sup erior e s , Atlas e Áxis, to<strong>da</strong> s as outras têm um a<br />

form a básic a se m e l h a nt e.<br />

30<br />

0


Enquanto os corpo s m a ciç o s <strong>da</strong>s vértebr a s suporta m o pes o<br />

do corpo, o can al vertebr al, form a d o por pequ e n a s ab erturas<br />

nas vérte br a s sup erp o st a s , prote g e a sen sív el m e d ul a<br />

espinh al. Nervo s espinh ais sa e m <strong>da</strong> inters e ç ã o de cad a duas<br />

vértebr a s vizinhas. As vérte br a s peitorais dispõ e m alé m diss o<br />

de pequ e n a s sup erfícies de articulaç ã o para as co st el a s,<br />

per mitindo assi m os m o vi m e nt o s <strong>da</strong> caixa torácic a que<br />

dep e n d e m <strong>da</strong> respiraç ã o . Devido ao s prolon g a m e n t o s ós s e o s<br />

e m form a de espinh o que aponta m para fora, a CV é cha m a d a<br />

muitas vez e s de "espinh a dors al", provav el m e n t e porqu e es s a<br />

crista níti<strong>da</strong> foi a prim eira cois a que as pes s o a s perc e b e r a m <strong>da</strong><br />

CV.<br />

A diferent e m o bili<strong>da</strong>d e de cad a um a de suas se ç õ e s<br />

principais está bas e a d a e m bo a parte nos disc o s que sep ar a m<br />

uma vértebr a <strong>da</strong> outra. Ca<strong>da</strong> um des s e s disc o s conté m um<br />

núcleo co m p o s t o por um a sub stân ci a líqui<strong>da</strong> e visc o s a<br />

se m el h a nt e ao tutano. Nos rec é m - nas cid o s , eles são<br />

con stituído s e m 80 % de água, sen d o que es s e índic e ain<strong>da</strong> é<br />

de 70 % e m uma pes s o a de 70 ano s de i<strong>da</strong>d e. Ao redor des s e<br />

núcleo m a ci o e mal e á v el, que se a<strong>da</strong>pta ao s m o vi m e n t o s <strong>da</strong><br />

CV e que pod e funcion ar tanto para distribuir a pres s ã o durante<br />

as torçõ e s co m o para am orte c ê - la nos estira m e nt o s , dispõ e- se<br />

uma estrutura fibros a e m form a de an el. Esta limita os<br />

m o vi m e nt o s do núcle o ma ci o e m ant é m os disc o s e m form a no<br />

sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. Fissuras ev e ntuais nes s a<br />

estrutura fortifica<strong>da</strong> favor e c e m a temi<strong>da</strong> hérnia de disc o. A forte<br />

pres s ã o interna do núcle o gelatino s o é equilibrad a pelo s<br />

num er o s o s mús c ul o s e liga m e n t o s <strong>da</strong> CV. O resultad o é um<br />

equilíbrio tens o, co m p ar á v el ao dos ma stro s de um barc o a<br />

vela. Os núcle o s gelatino s o s têm por m eta a dilataç ã o à qual<br />

os an éis fibros o s que os rec o br e m opõ e m resistên ci a. Os<br />

mús c ul o s ata m as vérte br a s um a s às outras e as ap erta m ,<br />

tend e n d o a mant er a pes s o a pequ e n a e co e s a .<br />

Ao ob s ervar a colun a verte br al co m o um único órg ã o<br />

funcion al, dois asp e ct o s salta m ao s olho s: a form a de serp e nt e<br />

e a estrutura polar. As vérte br a s individuais atua m co m o os<br />

30<br />

1


seg m e n t o s do corpo de um a serp e nt e. A serp e nt e é na<br />

ver<strong>da</strong>d e só colun a verte br al, con sistindo quas e que<br />

exclusiva m e n t e de vérte br a s.<br />

Uma ob s erv a ç ã o m ais atenta faz co m que seja ress altad a a<br />

estrutura polar, expres s a na intercala ç ã o dos rígido s corp o s<br />

<strong>da</strong>s vértebr a s co m os disc o s , mais maci o s .<br />

O m otivo <strong>da</strong> serp e nt e tem igual m e nt e e m si uma relaç ã o<br />

níti<strong>da</strong> co m a polari<strong>da</strong>d e, que é evid e nt e m e n t e a <strong>da</strong> serp e nt e<br />

bíblica, que seduziu os prim eiro s ser e s hum a n o s e os atraiu<br />

para o mun d o polar dos opo st o s . Com o prolon g a m e n t o do<br />

braç o do de m ô ni o, ela leva Eva a violar a árvor e do<br />

con h e ci m e n t o do be m e do m al. É so m e n t e apó s provar o fruto<br />

proibido que os ser e s hum a n o s são cap az e s de rec o n h e c e r<br />

sua opo siç ã o , ou seja, sua sexuali<strong>da</strong>d e , e pas s a m a co brir<br />

suas verg o n h a s co m as fam o s a s folhas de figueira. A serp e nt e<br />

abriu- lhes os olho s para a polari<strong>da</strong>d e , e ningu é m é mais apto<br />

que ela pai a fazê- lo. Sendo um m e c a ni s m o do de m ô ni o, o<br />

sen h o r dest e mund o polar 66 , ela se m o v e con stant e m e n t e entre<br />

os dois pólo s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e. Com o sím b ol o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e, ela<br />

está muito mais pres a à terra que os outros anim ais.<br />

Finalm e nt e, a pos sibili<strong>da</strong>d e de red e n ç ã o está e m sua<br />

periculosid a d e , já que ela dispõ e do ven e n o que pod e se<br />

transfor m ar e m rem é di o. Segund o es s e ponto de vista, ela é<br />

30<br />

2


uma típica criatura de Lúcifer, que traz igual m e nt e em si - e não<br />

só no que à língua se refer e - a pos sibili<strong>da</strong>d e de tom ar- se<br />

portad or a <strong>da</strong> luz.<br />

Além diss o, ao ob s ervar m o s extern a m e n t e a CV, cha m a a<br />

aten ç ã o o fato de sua form a de serp e nt e lem br ar a víbora de<br />

Esculápio, o sím b ol o dos m é dic o s . Assim co m o a víbora de<br />

Esculápio ao redor do bastã o de Esculápio, a coluna verte br al<br />

enrola- se ao redor <strong>da</strong> linha imagin ária <strong>da</strong> força <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong> d e<br />

que, ao long o do corp o hum a n o , é con stant e m e n t e puxad a e m<br />

direç ã o à terra, forçan d o- o assi m a assu mir a postura dos<br />

anim ais. Os m é di c o s <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>d e con sid er a v a m que<br />

endireitar a víbor a, ou seja, elev ar o inferior, era sua tarefa<br />

central. Eles estav a m incu m bid o s ain<strong>da</strong> de livrar a hum a ni<strong>da</strong>d e<br />

do cativeiro do mun d o m at erial inferior e <strong>da</strong>r- lhe ac e s s o ao s<br />

asp e ct o s ideais sup erior e s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Surge aqui a ponte<br />

para o âm bito cultural indian o, no que o con h e ci m e n t o so br e o<br />

des e n v olvi m e nt o sup erior do ser hum a n o está ligado a en er gi a<br />

<strong>da</strong> serp e nt e, "Kun<strong>da</strong>lini", e à CV. Segund o a con c e p ç ã o védic a,<br />

a serp e nt e Kun<strong>da</strong>lini dor m e no chakra inferior, Muladhara,<br />

enrolad a e m três voltas e m eia. Esse chakra inferior, o prim eiro<br />

de sete centro s de en er gia distribuído s ao long o <strong>da</strong> CV, está<br />

localizad o acim a do oss o sacr o. Segund o as cren ç a s<br />

hinduístas, a en er gi a hum a n a primordial repou s a nes s e oss o,<br />

tam b é m con sid er a d o sagra d o por nos s a anato mi a, até que é<br />

des p erta d a e, pas s a n d o pelo s chakra s, se elev a ao long o <strong>da</strong><br />

CV. Quando o chakra sup erior ou cranian o é alcan ç a d o e<br />

ab erto, a pes s o a se realiza, se ilumina ou, co m o dize m os<br />

indian o s , torna- se purush a, um ser hum a n o propria m e nt e dito.<br />

A anato mi a oculta do hinduis m o parte do princípio de que há<br />

três can ais na regiã o <strong>da</strong> espinh a dors al atrav é s dos quais a<br />

en er gi a pod e se elev ar: I<strong>da</strong> e Pingala de am b o s os lado s e<br />

Shushu m n a no m ei o. Há muitas e ve e m e n t e s adv ertên ci a s<br />

contra brincar co m as grand e s forças ador m e c i d a s nes s a área<br />

e contra atrev er- se a pen etrar nes s a s regiõ e s se m um<br />

profes s o r co m p et e nt e. Por outro lado, não se deixa qualqu er<br />

dúvi<strong>da</strong> quanto ao fato de que o tornar- se um ver<strong>da</strong>d eir o ser<br />

30<br />

3


hum a n o oc orr e nec e s s a ri a m e n t e ao long o <strong>da</strong> CV. Assim co m o<br />

a en er gia, to<strong>da</strong> a pes s o a precis a es c al ar es s e eixo central até<br />

atingir a retidã o final. Outras culturas tam b é m sabia m <strong>da</strong>s<br />

en er gi a s que fluem ao long o <strong>da</strong> CV Os tratado s chin e s e s de<br />

acupuntura falam igual m e nt e de vas o s (meridian o s) nes s a<br />

regiã o que têm um significad o central.<br />

A serp e nt e que seduziu as (prim eiras) pes s o a s para o<br />

mund o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e tam b é m lhes per mite, no plan o<br />

en er g étic o, cres c e r para alé m <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e retornar à<br />

uni<strong>da</strong>d e, ou seja, à cura. Assim, a serp e nt e se tom a o sím b ol o<br />

de des e n v olvi m e nt o . Assim co m o o desp ertar <strong>da</strong> serp e nt e de<br />

en er gi a Kun<strong>da</strong>líni é decisivo para a asc e n s ã o rum o ao<br />

ver<strong>da</strong>d eir o ser hum a n o espiritual, foi o endireita m e n t o físico<br />

dos ho m e n s primitivos que pos sibilitou pela prim eira vez a<br />

postura ereta e, co m isso, o tornar- se hum a n o propria m e nt e<br />

dito. A CV, portanto, ocup a a posiç ã o central do ser hum a n o<br />

segun d o am b o s os ponto s de vista. Expres s o de man eira algo<br />

po ética, os mais elev a d o s son h o s <strong>da</strong> hum a ni<strong>da</strong>d e e m to<strong>da</strong>s as<br />

ép o c a s subia m pela CV e tinha m por objetivo libertar- se <strong>da</strong><br />

Mãe Terra e aproxi m ar- se do pai no céu.<br />

Com o sím b ol o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e, a serp e nt e está e m um a ótim a<br />

posiç ã o para aju<strong>da</strong>r a sup er ar o mund o dos contrário s.<br />

Entretanto, os acid e nt e s espirituais que oc orr e m devid o ao<br />

trato levian o <strong>da</strong>d o à en er gia de Kun<strong>da</strong>lini m o stra m quã o<br />

facilm e nt e es s e pres e nt e pos sív el volta a se transfor m ar e m<br />

ven e n o . O perig o está e m perd er o equilíbrio e ir long e de m ai s<br />

e m um dos pólos. Som e nt e o ca minh o do m ei o leva ao<br />

objetivo, e ele so m e n t e pod e ser perc orrido quan d o as en er gias<br />

polare s laterais, a feminina e a ma s c ulina, estã o equilibrad a s .<br />

A segun d a propried a d e <strong>da</strong> CV, alé m <strong>da</strong> form a de serp e nt e, é<br />

a mud a n ç a de pólos ao long o de todo o seu co m pri m e nt o, já<br />

que cad a corp o verte br al óss e o é seguid o por um disc o<br />

vertebr al elástic o. A interc alaçã o de m at éria dura co m o os s o<br />

co m tutano brand o e aqu o s o (no núcle o dos disc o s vertebr ais)<br />

é nec e s s á ria para seu funcion a m e n t o . Simb olica m e n t e , aquilo<br />

que é duro e forte perten c e na ver<strong>da</strong>d e ao pólo m a s c ulino,<br />

30<br />

4


en qu a nt o a suav e cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o do ele m e n t o<br />

aqu o s o , que é do min a nt e nos disc o s , é feminina. Na<br />

intercala ç ã o con stant e de ma s c ulino e feminin o, a CV con stitui<br />

um sim b olis m o primordial que é con h e ci d o de to<strong>da</strong> s as culturas<br />

e de to<strong>da</strong>s as religiõ e s. O taoís m o repre s e nt a es s a ligaç ã o no<br />

sím b ol o do Tai-Chi, a mitolo gia greg a no cordã o de pérola s de<br />

Harm o nia feito por Hefesto s, o ferreiro dos deus e s , que nele<br />

intercalou pérolas negr a s e branc a s .<br />

A aplicaç ã o do principio <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e au m e nt a<br />

en or m e m e n t e a cap a cid a d e de carg a <strong>da</strong> CV. Enquanto a parte<br />

óss e a se ocup a <strong>da</strong> solidez e <strong>da</strong> esta bili<strong>da</strong>d e, a parte aqu o s o -<br />

gelatino s a garant e a elastici<strong>da</strong>d e e a cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o ,<br />

igual m e nt e nec e s s á ri a s. quadr o s de sinto m a s nos quais um<br />

dos asp e ct o s torna- se insuficiente m o stra m a probl e m átic a dos<br />

extre m o s : o m al de Bechter e w leva ao endur e ci m e n t o e à<br />

ossificaç ã o <strong>da</strong>s zona s interverte br ais. A con s e q ü ê n c i a é um a<br />

limitaç ã o extre m a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos pacient e s , um a ossificaç ã o de<br />

seu m ei o no sentido m ais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra. No pólo<br />

opo st o, pod e m oc orr er colap s o s localizad o s na CV e m<br />

con s e q ü ê n c i a de proc e s s o s de am ol e ci m e n t o dos os s o s<br />

caus a d o s por proc e s s o s de raquitis m o ou pela tuberculo s e . Em<br />

con s e q ü ê n c i a, a postura ereta é muitas vez e s limita<strong>da</strong> por<br />

defor m a ç õ e s que pod e m che g ar à form a ç ã o de um a corcun d a.<br />

Nos cas o s extre m o s , há a am e a ç a de uma paralisia por<br />

sec ci o n a m e n t o transv er s al. A form a topo gr áfica <strong>da</strong> CV tam b é m<br />

ob e d e c e ao princípio dos pólo s que se alterna m um co m o<br />

outro. A form a de S duplo implica e m uma alternânci a<br />

con sta nt e entre curvas côn c a v a s e conv e x a s . Obs erv a d a de<br />

perfil, a cha m a d a lordo s e cervic al se impõ e por sua saliên cia e,<br />

assi m, destac a seu ele m e n t o ma s c ulino, en quant o a cifos e 67<br />

torácic a, recuand o e ac olh e n d o protetora m e n t e os órgã o s<br />

torácic o s, tem algo de feminino e ac olh e d o r. Na pas s a g e m <strong>da</strong><br />

colun a verte br al torácic a para a lom b ar segu e- se nova m e n t e<br />

uma lordo s e , e m m o vi m e nt o contrário. Na união do sacr o co m<br />

o có c cix surg e nova m e n t e a típica topo gr afia ac olh e d o r a e<br />

feminina co m p o n d o a parte posterior <strong>da</strong> pélvis.<br />

30<br />

5


Tanto a interc alaçã o de ele m e n t o s duros e brand o s co m o a<br />

intercala ç ã o de form a s, que na ver<strong>da</strong>d e transfor m a m a CV e m<br />

uma guirlan<strong>da</strong> de vérte br a s, realiza m de man eira simple s a<br />

idéia do am ort e c e d o r . Os dois princípios estã o e m con diç õ e s<br />

de am orte c e r golp e s e torçõ e s de form a ideal. Normal m e n t e ,<br />

há um a pres s ã o de 30 a 50 kg so br e os disc o s interverte br ais.<br />

Eles pod e m ab s orv er um a carg a quatro vez e s m ai or co m um<br />

ach ata m e n t o míni m o . A a<strong>da</strong>pta ç ã o à carg a diária pod e ser<br />

co m pr o v a d a de man eira muito simpl e s co m um a fita m étrica.<br />

Uma pes s o a é niti<strong>da</strong> m e n t e mais alta pela man h ã que à noite. A<br />

carg a do dia a co m pri m e (em até 2 cm).<br />

Cargas agud a s , ao contrário, são am ort e cid a s por flexõ e s <strong>da</strong><br />

CV. Os am ort e c e d o r e s de um auto m ó v e l segu e m es s e<br />

principio genial. As flexõ e s <strong>da</strong> CV corre s p o n d e m às m olas e m<br />

espiral que, circund a n d o por fora os am ort e c e d o r e s<br />

propria m e nt e ditos, ab s orv e m golp e s rep entin o s. Os<br />

am ort e c e d o r e s propria m e n t e ditos corre s p o n d e m ao siste m a<br />

vértebr o- discal, que suporta m as carg a s contínua s.<br />

Com o ac o nt e c e co m tanta freqü ê n ci a, a proble m átic a está<br />

nos extre m o s : co m a co m pr e s s ã o exag er a d a <strong>da</strong> form a e m S,<br />

perd e- se a posiç ã o ereta e m favor de um a exc e s siv a<br />

cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o . Essas pes s o a s des e n v olv e m um a<br />

corc o v a. quan d o a form a e m S se co m pri m e muito pouc o,<br />

ac o nt e c e o contrário. Os afetad o s se pavo n ei a m pela vi<strong>da</strong> se m<br />

a nec e s s á ri a cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o e se m a pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de ab s orv er golp e s e cho q u e s . Eles são muito duro s (de<br />

m ol ejo) e retos e, con s e q ü e n t e m e n t e , prop e n s o s a se ferir.<br />

Antes de ab ord ar m o s proble m a s con cr et o s <strong>da</strong> colun a<br />

vertebr al, vale a pen a <strong>da</strong>r uma olhad a na ev oluç ã o . O<br />

des e n v olvi m e nt o hum a n o e o <strong>da</strong> coluna verte br al estã o<br />

estreita m e n t e ligad o s. quanto a es s e ponto, não é de ad mirar<br />

que a grand e maioria dos proble m a s de colun a tenha raízes na<br />

história <strong>da</strong> ev oluç ã o . Por outro lado, quan d o se pen s a que um a<br />

entre cad a duas pes s o a s de nos s a civilizaç ã o já teve dore s nas<br />

costa s, fica claro o quanto es s a história é proble m á tic a até<br />

hoje.<br />

30<br />

6


Na vira<strong>da</strong> do sécul o o pale o nt ól o g o Schwalb e con s e g uiu<br />

provar que o ergu er- se so br e as patas tras eiras oc orr eu muito<br />

antes do des e n v olvi m e n t o do cér e br o. Foi enc o ntrad o o<br />

es qu el et o de um ser co m 30 milhõ e s de ano s de i<strong>da</strong>d e que<br />

ain<strong>da</strong> tinha o cér e br o de um ma c a c o , m a s que já an<strong>da</strong>va so br e<br />

as perna s. Outras con sid er a ç õ e s corro b or a m a supo siç ã o de<br />

que ergu er- se so br e as patas tras eiras foi o pas s o decisivo<br />

para tornar- se hum a n o . Pois por muito orgulho s o s de nos s o<br />

cér e br o que pos s a m o s estar, ele não é de form a algu m a único.<br />

Diversa s baleias e delfins têm cér e br o s maior e s e até m e s m o<br />

mais diferen ci ad o s . A postura ereta, ao contrário, é única,<br />

assi m co m o a ab ó b a d a dos pés que a torna pos sív el e que não<br />

tem o s e m co m u m co m nenhu m a outra criatura. Neste sentido,<br />

de um ponto de vista anatô mi c o é isso, junta m e nt e co m a CV<br />

ereta, o que há de mais hum a n o no ser hum a n o .<br />

A postura ereta não nos é <strong>da</strong>d a de pres e nt e des d e o<br />

princípio; ela nos é colo c a d a no berç o co m o pos sibili<strong>da</strong>d e.<br />

Ca<strong>da</strong> individuo precis a elab or á- la de nov o.<br />

Os m é dic o s falam que a filog enia (história <strong>da</strong> esp é ci e) e a<br />

onto g ê n e s e (história do individuo) se corresp o n d e m . Por es s a<br />

razã o, o ser hum a n o e m cres ci m e n t o precis a voltar a <strong>da</strong>r os<br />

pas s o s es s e n ci ais do des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> esp é ci e hum a n a de<br />

form a abr eviad a e ao m e s m o temp o sim b ólic a. Ele co m e ç a<br />

co m o um ser unicelular, tornand o - se dep ois um ser aquátic o,<br />

razã o pela qual o liquido am ni ótic o con s er v a até hoje<br />

deter min a d o s paralelo s co m a água marinha. Após o<br />

nas ci m e nt o , ele se apóia na barriga co m o os répteis, lutando<br />

dep ois para arrastar- se so br e as quatro patas antes de pod er<br />

ergu er- se definitiva m e nt e so br e as patas tras eiras. O biólo g o<br />

Adolf Portm ann presu miu que o ser hum a n o ve m ao mund o um<br />

ano ante s do tem p o . Enquanto um chimp a n z é rec é m - nas cid o<br />

já tem as prop or ç õ e s de um chimp a n z é adulto, o ho m e m<br />

precis a cres c e r para atingir seu padrã o corp or al adulto. Ele não<br />

con s e g u e sentar e colo c ar a CV na vertical ante s do 5 o m ê s . A<br />

partir do 6 o m ê s - e isso é o mais ced o pos sív el - ele con s e g u e<br />

ficar so br e suas próprias perna s, ma s ain<strong>da</strong> assi m so m e n t e<br />

30<br />

7


co m aju<strong>da</strong> extern a. Os prim eiros pas s o s , hesitante s m a s já<br />

livres, são pos sív ei s no 1 1 o m ê s , portanto quas e um ano<br />

dep ois. Quem pôd e ob s ervar es s e s fatigantes pas s o s do<br />

des e n v olvi m e nt o de uma crianç a, teve ao m e s m o temp o um a<br />

imag e m <strong>da</strong>qu el e s prim eiros pas s o s igualm e nt e pod er o s o s<br />

<strong>da</strong>d o s por noss o s anc e strais na alvorad a dos tem p o s .<br />

A e m bri olo gi a rev ela co m o nos s a heranç a filog e n étic a está<br />

enraizad a profun<strong>da</strong> m e n t e e m nós. Por um lado o e m b riã o , até<br />

o 40 m ê s , tem uma colun a vertebr al substanci al m e n t e m ais<br />

long a, m ais long a devido àqu el a parte que cha m a m o s de<br />

caud a nos "outros anim ai s verte br a d o s ". Por outro lado, a<br />

e m b riol o gia desv el o u a CV co m o um des e n v olvi m e nt o posterior<br />

<strong>da</strong> cha m a d a Chor<strong>da</strong> dor s alis 68 , que é co m u m a todo s os<br />

vertebr a d o s . O ser hum a n o não nas cid o tem no início um a<br />

des s a s cor<strong>da</strong>s primitivas. Ao long o do des e n v o l vi m e n t o , a<br />

irrigaç ã o san guín e a <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> diminui e a partir dela form a m - se<br />

os núcle o s gelatinos o s dos disc o s verte br ais. Quanto a isto, é<br />

pos sív el não so m e n t e ler na CV quanto s ano s um indivíduo<br />

tem nas co sta s m a s tam b é m quanto s milhõ e s de ano s a<br />

hum a nid a d e já tem atrás de si.<br />

Em noss o s probl e m a s co m os disc o s verte br ais des e n h a m -<br />

se as dificul<strong>da</strong>d e s que tive m o s até hoje co m (a história de)<br />

noss o des e n v olvi m e nt o . Isso se torna explícito por m ei o <strong>da</strong><br />

ob s erva ç ã o anatô mi c a. Movend o- se so br e as quatro patas, o<br />

corp o repou s a v a estáv el so br e quatro pilares confiáv eis.<br />

Mesm o quan d o um a faltava, as outras três era m suficiente s.<br />

Além diss o, o perig o de uma qued a era pequ e n o devid o à<br />

proximi<strong>da</strong>d e do chã o. A CV ain<strong>da</strong> não era um a coluna,<br />

ass e m e l h a n d o - se muito mais a um a corrent e leve m e n t e<br />

curvad a. Dela pendia de form a firme e segur a um a ver<strong>da</strong>d eira<br />

bols a para as sen sív ei s vísc er a s. A cab e ç a ain<strong>da</strong> não ocup av a<br />

o lugar m ais alto na vi<strong>da</strong> e portanto ain<strong>da</strong> não tinha tom a d o o<br />

pod er. Devido à man eira trotante de deslo c ar- se para diante, a<br />

cab e ç a pendia para a frente e, portanto, per m a n e c i a ab aixo <strong>da</strong><br />

linha dos o m br o s a m ai or parte do temp o. Isso tinha a<br />

vantag e m , já m e n ci o n a d a , de que nos s o s antep a s s a d o s se<br />

30<br />

8


esfriava m co m men o r freqü ê n ci a.<br />

Mas não foi so m e n t e pelo nariz entupido que os orgulho s o s<br />

ser e s hum a n o s que se esforç a v a m em direç ã o ao alto trocara m<br />

sua postura ereta. Troca n d o qua tro colun a s segur a s por duas<br />

perna s de pau os cilante s, eles deslo c ar a m seu centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e perigo s a m e n t e para cim a e transfor m ar a m um<br />

equilíbrio estáv el e m instáv el. Os ser e s hum a n o s que lutava m<br />

para ergu er- se fizera m o m elh or que podia m co m isso,<br />

adquirindo não so m e n t e um a segur an ç a tranqüilizad or a so br e<br />

suas duas patas tras eiras ma s ain<strong>da</strong> uma habili<strong>da</strong>d e<br />

impres si o n a nt e co m as patas dianteiras libera<strong>da</strong> s . Trata- se<br />

aqui, provav el m e n t e , <strong>da</strong> mais antiga form a de ec o n o m i a de<br />

trabalh o por m ei o <strong>da</strong> racion alizaç ã o . Mas a liber<strong>da</strong> d e adquiri<strong>da</strong><br />

atrav é s <strong>da</strong> liberaç ã o de duas patas unha seu preç o .<br />

Com a postura ereta, o tem a <strong>da</strong> retidã o pas s o u a fazer parte<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a cab e ç a pas s o u a ocup ar o lugar mais alto e,<br />

portanto, o prim eiro lugar. Nenhu m a pes s o a razo áv el esp er aria<br />

retidã o de um anim al que vive so br e as quatro patas. Por outro<br />

lado, nos alegra m o s esp e ci al m e n t e quan d o noss o s anim ais<br />

do m é s tic o s se co m p o rta m co m o se foss e m gent e. quanto mais<br />

hum a n o s , ou seja, quanto m ais ereto s eles fica m, m ais<br />

próxim o s nos sentim o s deles. No final, leva m o s tão pouc o a<br />

mal a falta de retidão nos anim ais co m o nas crianç a s , basta<br />

que se m o v a m so br e as quatro patas. Som e nt e quan d o a<br />

cab e ç a assu m e o lugar m ais elev a d o e a CV assu m e a postura<br />

ereta é que a retidão se torna pos sív el. Com es s e s dois<br />

pas s o s , no entanto, ela se tom a um a exig ê n ci a cate g ó ric a, e a<br />

partir <strong>da</strong>i so m e n t e um ho m e m direito é con sid er a d o ac eitáv el.<br />

Nós instintiva m e n t e rec o n h e c e m o s a falta de retidã o co m o<br />

sen d o um a car ên ci a de des e n v olvi m e nt o , e o recus a m o s .<br />

Com a vi<strong>da</strong> ereta, ou seja, co m a elev a ç ã o <strong>da</strong> cab e ç a , um a<br />

torrente de exig ê n ci a s e enc ar g o s (carg a s) recaiu so br e os<br />

ser e s hum a n o s .Junta m e n t e co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de carreg ar<br />

carg a s físicas so br e os o m br o s por long a s distân cias, veio<br />

tam b é m a de suportar carg a s so br e os o m br o s e m sentido<br />

figurad o. Com isso, foi <strong>da</strong>d a tam b é m a pos sibili<strong>da</strong>d e de<br />

30<br />

9


so br e c ar g a e m am b o s os sentido s. Não foi so m e n t e o nariz<br />

e m pin a d o e, portanto, tantas vez e s entupido, que se tornou um<br />

órg ã o de anún ci o dos nov o s proble m a s ; tam b é m a CV, afetad a<br />

direta m e n t e , colo c o u- se naturalm e nt e no centro dos conflitos.<br />

To<strong>da</strong> s as carg a s, resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s e fardo s assu mi d o s , ma s<br />

tam b é m a visã o m ais ampla que se tem quan d o se está so br e<br />

as patas tras eiras, dera m sua contribuiçã o para voltar a<br />

deprimir o ho m e m erguido. Para isso, as carg a s físicas ain<strong>da</strong><br />

era m as mais inofen siva s, pois ele se m pr e teve con s ci ê n ci a<br />

delas. Hoje e m dia são so br etud o os enc ar g o s e fardo s<br />

incon s ci e nt e s que deprim e m as pes s o a s e torna m as cois a s<br />

difíceis para os m o d er n o s disc o s verte br ais.<br />

1. Problemas de disco<br />

Todo o pes o <strong>da</strong>s so br e c a r g a s físicas con s ci e nt e s e<br />

so br etud o o <strong>da</strong>s carg a s aní mic o- espirituais incon s ci e nt e s<br />

atua m so br e os disc o s verte br ais. Enquanto é pos sív el, eles se<br />

a<strong>da</strong>pta m e ced e m , ma s e m algu m m o m e n t o o colarinh o (isto é,<br />

o an el fibros o) arreb e nt a - um incident e grav e, o prolap s o de<br />

disc o. Então, na dor e e m outros sinto m a s que vão de<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> sen si bili<strong>da</strong>d e até a paralisia, torna- se claro<br />

co m o a pres s ã o é am e a ç a d o r a . A pres s ã o deixa a pes s o a<br />

incap az de mov er- se e de lutar e dá vontad e de gritar de dor.<br />

Os locais mais freqü e nt e s para tais incident e s resulta m de<br />

con sid er a ç õ e s anatô mi c a s . Os disc o s se vê e m mais forçad o s<br />

lá ond e a cap a ci<strong>da</strong>d e am orte c e d o r a do siste m a é m e n o r e a<br />

carg a é m ai or. Por esta razão, mais de 90 % dos incident e s<br />

afeta m os três disc o s inferiores e esp e ci al m e n t e os dois<br />

último s. Os último s são m ordid o s pelo s cã e s , co m o diz o ditado<br />

ale m ã o . Os ortop e dista s, co m a m elh or <strong>da</strong>s intenç õ e s , corta m<br />

fora o brand o, o feminin o que se en c o ntra entre as m ó s do que<br />

é duro e m a s c ulino e que ced e u á pres s ã o e grita por so c orr o<br />

so b a form a de dor. Isso, entã o, não pod e mais do er, es s a é a<br />

en c a nt a d o r a lógica. Mas o probl e m a não é eliminad o do mun d o<br />

31<br />

0


co m isso, so m e n t e posto de lado. No prolap s o de disc o<br />

en c arn a- se a tend ê n ci a de desviar a pres s ã o cad a vez mais<br />

para o lado. A op er a ç ã o alivia a situaç ã o a curto prazo, m a s o<br />

tem a pen etra ain<strong>da</strong> m ais profun<strong>da</strong> m e n t e na so m b r a, de ond e<br />

voltará a cha m a r a aten ç ã o na prim eira oportuni<strong>da</strong>d e .<br />

A pré- história de um prolaps o de disc o co m e ç a muito antes:<br />

nor m al m e n t e , o núcle o gelatino s o e elástic o saud á v el no<br />

interior dos disc o s desvia para os lado s disten did o s to<strong>da</strong> s as<br />

pres s õ e s exer ci<strong>da</strong> s por carg a s. quan d o perd e sua elastici<strong>da</strong>d e ,<br />

ele não pod e m ais desviá- las tão be m . Com o au m e nt o <strong>da</strong><br />

pres s ã o , au m e nt a o perig o de uma fissura no an el fibros o<br />

extern o. quan d o isso ac o nt e c e , m e s m o co m a carg a de<br />

pres s ã o nor m al o núcle o es c a p a pela fissura e pres si o n a os<br />

resp e ctivo s nervo s, caus a n d o uma dor intens a. Nos prolaps o s<br />

posterior e s são principal m e nt e as raízes laterais dos nervo s<br />

que sofre m . A dor resultante se irradia ao long o <strong>da</strong>s vias<br />

nervo s a s , para a periferia. Na ciática típica, a dor pod e ir até a<br />

panturrilha e m e s m o che g ar ao pé. Mais rara m e n t e , o disc o<br />

es m a g a d o pod e pres si o n ar no m ei o, contra a m e d ula espinh al.<br />

As dore s serã o senti<strong>da</strong> s entã o naqu el a s zona s inferiores do<br />

corp o de ond e prov ê m as fibras nervo s a s es m a g a d a s . Pode m<br />

apar e c e r divers o s surtos de paralisia, tanto nas perna s co m o<br />

na bexig a ou no intestino. Após oc orr ê n ci a s agud a s , o núcle o<br />

que foi pres si o n a d o para fora volta muitas vez e s por si m e s m o ,<br />

pod e n d o e m muitos cas o s ser colo c a d o de volta no lugar por<br />

m ei o de traçã o ou de manipulaç õ e s quiroprática s. Entretanto, o<br />

afetad o estará sujeito a um nov o incident e a cad a vez que fizer<br />

um movi m e nt o extre m o .<br />

Para se che g ar a um a soluç ã o ver<strong>da</strong> d eira, a parte brand a<br />

pres si o n a d a precis aria ser alivia<strong>da</strong> e liberad a a long o prazo <strong>da</strong><br />

situaç ã o de opres s ã o . Voltar a endireitar a situaç ã o ós s e a fora<br />

do lugar pod e aju<strong>da</strong>r, ma s e m última instân cia a história<br />

atrapalhad a precis a ser nova m e n t e endireitad a no plan o<br />

aní mic o- espiritual.<br />

Quando falam o s do tiro <strong>da</strong> bruxa [Hex e n s c h u s s =<br />

lumb a g o], não se trata de um a caract erística acidental <strong>da</strong><br />

31<br />

1


língua ale m ã , já que tal oc orr e e m muitos idio m a s . Na<br />

Antigui<strong>da</strong>d e, con cluía- se evident e m e n t e que mal e s e dor e s<br />

esp e ci al m e n t e rep e ntino s era m enviad o s pelo destino e,<br />

portanto, pelo s deus e s . Hécate e Pandor a se distinguira m e m<br />

relaç ã o a isso. Em es c o c ê s e e m irland ê s há as palavras<br />

Alb s c h o s s [Alb = espírito malign o] e Elfflint [Elf= effo] para<br />

desig n ar o lumb a g o . Os antigo s viam pura e simple s m e n t e a<br />

entrad a do m al nas dore s que surgia m de golp e, atribuindo- as<br />

ás bruxas m á s. Ain<strong>da</strong> que hoje e m dia tenha m o s sup er a d o tais<br />

explicaç õ e s caus ais, esta m o s tão próxim o s do m e c a ni s m o <strong>da</strong><br />

projeç ã o co m o naqu el a ép o c a. Muitas pes s o a s alim e nta m a<br />

idéia de que algué m , des d e que não seja m elas m e s m a s , dev e<br />

ser culpad o pelo incident e. Ness e sentido, a expres s ã o "tiro <strong>da</strong><br />

bruxa" tam b é m se a<strong>da</strong>pta a nós. Talvez a prim eira vitima des s e<br />

sinto m a tenha real m e nt e procurad o por algu m a bruxa de<br />

man eira de m a si a d o abrupta. Talvez ele tenha literal m e nt e se<br />

torcido brusc a m e n t e ao ver a bel<strong>da</strong>d e . Se ele tives s e ad mitido<br />

seu arreb at o, sua CV teria participad o do jogo se m recla m ar.<br />

Mas que m se deixa arreb atar se m ad mitir seu interes s e corre o<br />

risco de viven ciar a fissura fisica m e n t e dep ois, até que não<br />

tenha m ais nenhu m a dúvi<strong>da</strong> quanto à sua participaçã o direta<br />

no que ac o nt e c e u . A design a ç ã o “tiro <strong>da</strong> bruxa” atribui a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> bruxa corresp o n d e n t e ao tiro que atingiu o<br />

afetad o ao m e s m o tem p o pelas costa s e se m razão. Na<br />

ver<strong>da</strong>d e , a bruxa mais en c a nt a d o r a so m e n t e pod e virar aqu el a<br />

cab e ç a (e aqu el a colun a verte br al) que se deixa enlev ar. Há<br />

natural m e nt e muitíssi m a s outras situaç õ e s e m que se pod e<br />

ficar algo des g a s t a d o e que não têm na<strong>da</strong> a ver co m o tem a <strong>da</strong><br />

bruxa. Mas to<strong>da</strong>s têm e m co m u m o padrã o de que se trata de<br />

m o vi m e nt o s incon s ci e nt e s e portanto des c o ntr olad o s , que não<br />

se é cap az de suportar e m to<strong>da</strong> a sua exten s ã o .<br />

Quando um prolap s o de disc o sub siste por um períod o m ais<br />

long o, apó s sen s a ç õ e s iniciais de formig a m e n t o , pod e- se até<br />

ch e g ar a paralisias tais co m o um a síndro m e de seç ã o<br />

transv er s al. Quanto às sen s a ç õ e s falsas, o sinto m a deixa claro<br />

co m o a perc e p ç ã o que se tem <strong>da</strong> m etad e inferior do corp o é<br />

31<br />

2


incon gru e nt e e des ori e ntad a. Na paralisia m o stra- se entã o<br />

co m o a parte que se en c o ntra ab aixo do prolap s o é se m vi<strong>da</strong> e<br />

incontroláv el. A lição a ser aprendid a é igual m e nt e aludi<strong>da</strong><br />

pelo s sinto m a s . As sen s a ç õ e s falsas dirige m a aten ç ã o para<br />

baixo e ac e ntua m a nec e s s i d a d e de cui<strong>da</strong>r des s e âm bito. Na<br />

paralisia en c arn a- se um a form a não redimi<strong>da</strong> <strong>da</strong> disten s ã o . A<br />

lição ensin a a viver esta última de form a liberad a em relaç ã o ao<br />

baixo- ventre e às perna s. Com as perna s e sua incap a citaç ã o ,<br />

m e n ci o n a m - se os tem a s estar e m pé (firmez a, esta bili<strong>da</strong>d e) e<br />

an<strong>da</strong>r (avan ç ar, progr e s s o , asc e n s ã o). Trata- se de disten d erse<br />

e m relaç ã o a isso, ou seja, de trazer disten s ã o a es s e s<br />

âm bito s.<br />

A probl e m átic a esp e ci al <strong>da</strong>s m ol é stias resulta de seu<br />

resp e ctivo padrã o de sinto m a s . Para muitos pacient e s de<br />

hérnia discal, por exe m pl o, não é m ais pos sív el ergu er- se<br />

retos. Curvad o s para a frente na articulaç ã o dos quadris, eles<br />

so m e n t e pod e m atrav e s s ar o dia curvad o s e co m as co sta s<br />

extre m a m e n t e rígi<strong>da</strong>s. Aqui, evid e nt e m e n t e , enc arn a- se a<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> falta de retidã o. Repres e nt a- se de form a muito<br />

con cr et a co m o é dolor o s o para os afetad o s ser e m direitos, ou<br />

seja, an<strong>da</strong>r ereto s. Não lhes é pos sív el endireitar- se, isso para<br />

não falar de m o strar a espinh a dors al, ou seja, aprum ar- se. A<br />

soluç ã o está expr e s s a na postura curva<strong>da</strong>/hu milhad a. Trata- se<br />

evid e nt e m e n t e de assu mir es s a posiç ã o , o que quer dizer<br />

curvar- se real m e nt e, ou seja, transfor m ar a humilha ç ã o e m<br />

humil<strong>da</strong>d e autêntica.<br />

Certam e nt e , no entanto, so b o m e s m o diagn ó stic o “corre m ”<br />

tam b é m as form a s opo sta s. Aqueles paci ent e s rígido s,<br />

des m e s u r a d a m e n t e ereto s, que ca min h a m e se m o vi m e n t a m<br />

e m ângulo s retos co m o rob ô s porqu e a m e n o r curvatura ou<br />

des vi o <strong>da</strong> vertical lhes oc a si o n a m ol é stias insup ortáv ei s. Esse<br />

sinto m a m o stra enfatica m e n t e co m o eles são inflexíveis,<br />

rígido s e pouc o vivos. Eles se pavon ei a m por um a vi<strong>da</strong><br />

impregn a d a de m o vi m e nt o s suav e s e pas s a g e n s flui<strong>da</strong>s que<br />

nec e s s a ria m e n t e per m a n e c e des c o n h e c i d a para eles. Em seu<br />

an<strong>da</strong>r express a- se niti<strong>da</strong> m e n t e que eles não ad mite m nen hu m<br />

31<br />

3


m ei o- tom, nenhu m a nuan ç a e na<strong>da</strong> fluido e m seu íntimo.<br />

Estruturas duras e retidã o exag er a d a deter min a m suas vi<strong>da</strong>s<br />

até che g ar à mania de ter se m pr e razão. Eles des c o n h e c e m os<br />

m ei o s- tons e a ver<strong>da</strong>d eira humil<strong>da</strong>d e. A retidã o é forçad a e dá<br />

a impres s ã o de não ser autêntica, ela é a muleta que lhes<br />

per mite pavon e a r- se ereto s e certo s <strong>da</strong> vitória pela vi<strong>da</strong> real. A<br />

imag e m do solteirão ou do oficial prussian o é condiz ent e co m<br />

uma tal paisa g e m aní mic a. A tarefa a ser liberad a no sinto m a<br />

dá a enten d e r que aqu el a retidão que se de m o n s tr a<br />

con sta nt e m e n t e porqu e não se con s e g u e sair de seu estreito<br />

corp et e dev e ser transfor m a d a e m retidão e sinc eri<strong>da</strong>d e<br />

genuín a s para con sig o mes m o .<br />

Os dois tipos, de pólos opo st o s , co m p artilha m um proble m a<br />

co m u m : retidã o. O “torto” precis a redimir seu ser curvad o e<br />

liberar a humil<strong>da</strong>d e que ali está oculta. Tend o con s e g uid o isso,<br />

lhe corresp o n d e r á tam b é m a sinc eri<strong>da</strong>d e e a retidã o do pólo<br />

opo st o. O “solteirão” tes o precis a assu mir sua rigidez e<br />

apren d er que sua liberaç ã o está à esp er a em sua retidã o e sua<br />

lineari<strong>da</strong>d e aní mic o- espiritual. A partir do m o m e n t o e m que<br />

en c o ntra es s a profun<strong>da</strong> sinc eri<strong>da</strong>d e e m si m e s m o , torna- se- lhe<br />

tam b é m facilm e nt e pos sív el des c e r às profund ez a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

curvar as próprias costa s e humild e m e n t e posicion ar- se diante<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Proveni e nt e s de tens õ e s fun<strong>da</strong> m e n t ais não- redimi<strong>da</strong> s<br />

opo sta s, tanto o nariz e m pin a d o co m o o humilhad o aproxim a m -<br />

se do m e s m o tem a redimid o de lado s distintos: retidão<br />

(sinc eri<strong>da</strong>d e) e humil<strong>da</strong>d e. Ain<strong>da</strong> que esteja m apar e nt e m e n t e<br />

tão distantes um do outro, a ver<strong>da</strong>d e é que eles estã o<br />

próxim o s . Ningué m , por exe m pl o, corre tanto perig o de ser<br />

humilhad o co m o algué m que tem o nariz e m pin a d o . E ningu é m<br />

dá um a impres s ã o tão arrog a nt e e repulsiva co m o o corcun d a,<br />

que não sab e na<strong>da</strong> de seus m o d o s retorcido s . Sua<br />

proximi<strong>da</strong>d e é ain<strong>da</strong> m ais palpáv el no plano redimid o, já que a<br />

pes s o a ver<strong>da</strong>d eira m e n t e humilde é tam b é m ab s oluta m e n t e<br />

correta.<br />

Um outro ponto significativo é o fator repous o . A m ai oria dos<br />

pacient e s co m probl e m a s de disc o são forçad o s a ele por seu<br />

31<br />

4


sinto m a , já que qualqu er m o vi m e n t o lhes provo c a dor e s. Eles<br />

evid e nt e m e n t e se carreg ar a m e m de m a s i a e ag or a sent e m as<br />

dore s que provo c a o m o v er- se so b a carg a de suas vi<strong>da</strong>s. O<br />

sinto m a já lhes prop or cion a a terapia, forçan d o - os ao<br />

nec e s s á ri o repou s o . Assim, eles pod e m m e ditar co m to<strong>da</strong> a<br />

cal m a por que e para que se so br e c arr e g a r a m des s a man eira<br />

ou per mitira m que outros o fizes s e m . O resultad o de tais<br />

con sid er a ç õ e s levará ao rec o n h e c i m e n t o de que eles tentara m<br />

con q uistar um rec o n h e c i m e n t o esp e ci al m e n t e grand e atrav é s<br />

de feitos esp e ci ais. O turbilhã o extern o ao redor <strong>da</strong> am biç ã o e<br />

<strong>da</strong> asc e n s ã o deixa entrev er um déficit intern o e se precipita nas<br />

vértebr a s . A lição a ser apren di<strong>da</strong> é suportar a si m e s m o e m<br />

repou s o e m vez de continuar suportan d o o pes o de to<strong>da</strong>s as<br />

tentativas de tapar o sentim e nt o de inferiori<strong>da</strong>d e interno co m o<br />

tornar- se extern a m e n t e impres cindív el. Assim co m o é precis o<br />

deitar- se quan d o se está nes s a situaç ã o , seria apropriad o<br />

ab and o n a r to<strong>da</strong> s as carg a s sup érfluas e des c a n s a r.<br />

Mais rara m e nt e, oc orr e que pacient e s que já estã o e m<br />

repou s o e deitad o s sent e m as dore s mais pavor o s a s e<br />

con s e q ü e n t e m e n t e ca minha m irrequieto s e ch e g a m até a<br />

tentar dor mir sentad o s devido à dor. Aqui o sinto m a leva ao<br />

m o vi m e nt o e força a per m a n e c e r ac ord a d o , ou seja, a<br />

des p ertar. Não se trata evid e nt e m e n t e de continuar<br />

des c a n s a n d o tranqüila m e nt e na ca m a ; exig e- se ativi<strong>da</strong>d e,<br />

sinc eri<strong>da</strong>d e e resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e, imediata m e n t e .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o an<strong>da</strong> o tem a retidão e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. Eu m o stro as co sta s e m e prep ar o para cois a s<br />

importante s?<br />

3. Sou flexível e cap az de genuín a humil<strong>da</strong>d e?<br />

4. Minha porçã o feminina é sub stituí<strong>da</strong> ou até m e s m o<br />

expuls a pela mas c ulina quan d o so b pres s ã o ?<br />

5. Suporto incon s ci e nt e m e n t e carg a s que não agü e ntaria<br />

con s ci e nt e m e n t e ?<br />

6. Que fardo s carreg o e m troca de rec o n h e c i m e n t o ?<br />

31<br />

5


7. Meu sinto m a exig e de mi m repou s o ou movi m e nt o ?<br />

2. Deslocamento <strong>da</strong> primeira vértebra cervical<br />

O desl o c a m e n t o <strong>da</strong> vérte br a cervic al sup erior, quas e se m pr e<br />

caus a d o por um acident e, atrav é s de irradiaç õ e s doloro s a s<br />

provo c a proble m a s que pod e m alcan ç ar to<strong>da</strong> a coluna verte br al<br />

(CV). Na mitolo gia é o titã Atlas que, co m o puniçã o pela revolta<br />

urdi<strong>da</strong> por todo s os titãs, dev e carre g ar o glob o terrestre e m<br />

equilíbrio so br e os o m br o s . De man eira análo g a, a vértebr a<br />

cervic al sup erior tem a tarefa de tom ar so br e si nos s o glob o<br />

cranian o, não ap en a s para carre g á- lo ma s tam b é m para<br />

equilibrá- lo.<br />

Quando (o) Atlas se es quiva des s e pap el de tanta<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e , tentan d o es c a p ar para o lado, trata- se de<br />

uma tentativa de eludir a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e que lhe foi impo sta.<br />

Ele, ao m e s m o tem p o , registra co m as dor e s co m o a carg a do<br />

glob o lhe é dolor o s a. Com o não se sente o único resp o n s á v e l,<br />

ele deixa que as dor e s se irradie m tam b é m para os outros<br />

m e m b r o s sub ordin a d o s <strong>da</strong> corrent e verte br al. A cab e ç a tornouse<br />

o mund o para os ser e s hum a n o s ; certa m e n t e é assi m para<br />

os que sofre m des s e mal.<br />

O corp o, repres e nt a d o por seu oficial mais importante, Atlas,<br />

lhes m o stra que não está dispo sto a continuar suportand o se m<br />

queixas a pes a d a carg a <strong>da</strong> cab e ç a (dura). Ele cha m a a<br />

aten ç ã o para si, e grita por soc orr o na m e s m a m e di<strong>da</strong> e m que<br />

as dor e s são violentas. O que ele gostaria mes m o é de es c a p ar<br />

pela tang e nt e e expres s a isso log o de saí<strong>da</strong> e m sua mud a n ç a<br />

de posiç ã o . O tem a que m er gulh o u na so m b r a é o seguinte: o<br />

pes o <strong>da</strong> cab e ç a não é mais suportáv el, a fronteira <strong>da</strong> dor foi<br />

ultrapas s a d a . A única soluç ã o sen s at a con sist e e m deixar que<br />

a cab e ç a volte a se endireitar. Na m elh or <strong>da</strong>s hipóte s e s , isso<br />

ac o nt e c e naturalm e nt e e m sentido figurad o. Mas o prim eiro<br />

pas s o pod e tam b é m contar co m a colab or a ç ã o de um<br />

quiroprático extern o. Um forte puxão que m o v e a cab e ç a um<br />

31<br />

6


pouquinh o alé m do objetivo pod e fazer co m que ela volte a<br />

assu mir sua posiç ã o natural. Essa interven ç ã o relativa m e n t e<br />

drástica m o stra que já é nec e s s á ri o um bo m puxão para voltar<br />

a enc aixar uma posiç ã o tão desl o c a d a . Significativa m e n t e ,<br />

so m e n t e um en c aixa m e n t o físico não basta a long o prazo, a<br />

vértebr a corresp o n d e n t e continua tend e n d o a deslo c ar- se outra<br />

vez en qu a nt o a situaç ã o não é san a d a e m sentido figurad o. O<br />

acident e que dá ao Atlas a oc a si ã o para seu deslo c a m e n t o<br />

m o stra co m sua ve e m ê n c i a co m o é con sid er á v el a resistên ci a<br />

a mud a n ç a s de direç ã o . Já é nec e s s á ri a algu m a violên ci a para<br />

virar a cab e ç a do afetad o . Tanto o acident e co m o o<br />

quiroprático de m o n s tr a m co m o até m e s m o mud a n ç a s de<br />

direç ã o abruptas pod e m ser nec e s s á ri a s.<br />

A lição a ser aprendid a co m o Atlas desl o c a d o con siste e m<br />

saltar fora dos ca minh o s já trilhado s , ain<strong>da</strong> que seja ao s<br />

tranc o s, voltar a cab e ç a para um a nova direç ã o , per mitir talvez<br />

que ela seja vira<strong>da</strong> algu m a vez por outras pes s o a s ex citant e s<br />

e m vez do quiroprático, se m o e m pr e g o <strong>da</strong> violên cia, de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e m otivad o pelo praz er que a novi<strong>da</strong> d e<br />

prop orci o n a.<br />

Os pacient e s form a m o pólo opo st o imitand o as corujas, que<br />

m o v e m suas cab e ç a s co m o birutas ao vento. Eles são<br />

con s ci e nt e s de seu co m p o rta m e n t o , já que está bas e a d o e m<br />

esp e c ul a ç ã o con s ci e nt e e um a conv e ni e nt e dos e de<br />

oportunis m o . A con s ci ê n ci a intencion al de sua postura<br />

que stion á v el lhes poupa, no entanto, de sinto m a s físico s, cas o<br />

contrário suas vérte br a s cervic ais já estaria m gasta s.<br />

Quando algué m se torc e a cad a oportuni<strong>da</strong>d e , surg e a<br />

susp eita de que não ad mite suas man o b r a s oportunistas, e o<br />

corp o as torna con s ci e nt e s des s a m an eira. Ele é<br />

dolor o s a m e n t e levad o a co m pr e e n d e r que vai long e de m ai s e m<br />

suas torçõ e s e ultrapas s a o alvo. Nova m e nt e, o sinto m a traz<br />

e m si a terapia e força os afetad o s a an<strong>da</strong>r co m antolho s de<br />

vez e m quan d o , se m olhar ne m para a es qu er d a ne m para a<br />

direita, se g uind o seu nariz co m con s e q ü ê n c i a. Após esta<br />

exp eriên ci a de co m pr o v a ç ã o no pólo opo st o, a soluç ã o a long o<br />

31<br />

7


prazo está e m en c o ntrar a ver<strong>da</strong> d eir a m o bili<strong>da</strong>d e e a<br />

ver<strong>da</strong>d eira cap a cid a d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o . Não lhes é rec o m e n d a d o<br />

voltar- se e dirigir-se a cad a pequ e n a vantag e m , m a s sim fluir<br />

co m a vi<strong>da</strong> e a<strong>da</strong>ptar- se às suas exig ê n ci a s .<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha cab e ç a se transfor m o u e m um a carg a elev a d a e<br />

insuportáv el?<br />

2. Contra que m eu Atlas se reb el a?<br />

3. O que m eu destino quer m e dizer ao endireitar minha<br />

cab e ç a ?<br />

4. O que pod e m e virar a cab e ç a , e o que pod e pô- la no<br />

lugar?<br />

5. Com o an<strong>da</strong> m minha cap a ci<strong>da</strong>d e de a<strong>da</strong>pta ç ã o e minh a<br />

flexibili<strong>da</strong>d e?<br />

3. Problemas de postura<br />

A postura extern a corresp o n d e à interna, ou seja, a en c arn a.<br />

Quando algu é m tenta en c o b rir sua postura interna co m outra<br />

extern a assu mi d a con s ci e nt e m e n t e , isso e m pouc o temp o será<br />

perc e bid o pelo s outros e criará probl e m a s para o próprio<br />

afetad o . Por outro lado, m o dificaç õ e s extern a s feitas<br />

con s ci e nt e m e n t e , no sentido talvez de um ritual, pod e m muito<br />

be m criar reali<strong>da</strong>d e s interna s. Esta idéia fun<strong>da</strong> m e n t a as as an a s<br />

e mudra s <strong>da</strong> hatha- yog a. Devido à sua con s ci ê n ci a, tais rituais<br />

não provo c a m qualqu er sofrim e nt o físico tais co m o aqu el e s<br />

caus a d o s pela pen o s a manut e n ç ã o continua de más posturas.<br />

Quando um quadr o de sinto m a s força algu é m a um a<br />

deter min a d a postura corpor al, apre s e nt a- se tam b é m um a outra<br />

interna que lhe corresp o n d e e <strong>da</strong> qual o pacient e, entretanto,<br />

não tem con s ci ê n ci a. O ponto decisivo para as interpreta ç õ e s é<br />

se a pes s o a se identifica con s ci e nt e m e n t e co m um a postura ou<br />

se se transfor m o u e m um a vitima incon s ci e nt e dela. Uma<br />

pes s o a humild e pod e sentir- se muito be m co m um a postura<br />

31<br />

8


algo curvad a e co m os olho s voltad o s para baixo e não sentir<br />

qualqu er m ol é stia devido a ela. Outra pes s o a pod e ter a<br />

m e s m a postura força<strong>da</strong>, sentir- se humilhad o co m ela e sofrer<br />

as dore s corresp o n d e n t e s e m relaç ã o à sua resistên ci a.<br />

Portanto, um a postura por si só não pod e ser equipara d a a um<br />

sinto m a , o decisivo é a atitude que o afetad o tem e m relaç ã o à<br />

sua postura.<br />

Cifose, lordose e “espinha estica<strong>da</strong>”<br />

A proximi<strong>da</strong>d e dos opo st o s que se torna clara nos<br />

probl e m a s de disc o têm continui<strong>da</strong>d e nos m al e s posturais.<br />

Aqui, cifos e e lordo s e são os dois lado s <strong>da</strong> m e s m a m o e d a . A<br />

cifos e nos deixa entrev er um a crianç a curvad a e, às vez e s , até<br />

m e s m o que br a d a (ou entã o, m ais tarde, o adulto<br />

corre s p o n d e n t e). Mas justa m e nt e es s a sinc eri<strong>da</strong>d e que salta<br />

ao s olho s é um espinh o nos olho s dos educ a d o r e s . Eles não<br />

quer e m ser confrontad o s co m o resultad o de sua influên cia e,<br />

por es s a razão, não se can s a m de fazer adv ertên ci a s tais<br />

co m o : “Endireite- se!”, “Barriga para dentro, peito para fora!”.<br />

Com o temp o, o sinc er o sinto m a <strong>da</strong> cifos e pod e ser treinad o<br />

para assu mir o padrã o de co m p e n s a ç ã o repres e nt a d o pela<br />

lordo s e ou “pequ e n o oficial <strong>da</strong> guar<strong>da</strong>”. As costa s curva<strong>da</strong> s <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s que apres e nt a m cifos e m o stra m que algué m se<br />

inclina, não pod e ficar ereto e é “inverte br a d o ”. Pode- se<br />

que br ar as costa s de um a pes s o a se m tocá- la fisica m e n t e.<br />

Quando se que br a a vontad e de um caval o, isso se dá<br />

tornan d o dócil sua resistent e colun a verte br al. Quando se<br />

que br a um ser hum a n o , isso ac o nt e c e igual m e nt e tornan d o sua<br />

espinh a dors al dócil e flexível, impe dind o- o de ergu er- se por<br />

seus próprios interes s e s e opiniõ e s e de an<strong>da</strong>r direito pela vi<strong>da</strong>.<br />

Tal tipo de pes s o a curvad a é naturalm e nt e torci<strong>da</strong> e de fato<br />

tamp o u c o é sinc er a, já que não apóia sua própria vi<strong>da</strong>. Neste<br />

sentido, a voz popular con strói a imag e m do ciclista, que curva<br />

as co sta s para m elh or pod er seguir adiante. Esta imag e m é a<br />

caricatura de todo um enfo qu e de vi<strong>da</strong>: curvar- se para cim a,<br />

31<br />

9


pe<strong>da</strong>l ar para baixo. Outras imag e n s , tais co m o a do adulad or<br />

que rasteja ou a do puxa- sac o , rev ela m posturas oportunistas<br />

se m el h a nt e s , ond e a falta de retidã o e de ab s oluta m e n t e<br />

qualqu er linha própria são co m u n s . Trata- se de pes s o a s<br />

incon si st e nt e s , que não se endireita m e não pod e m ir pela vi<strong>da</strong><br />

ereta s. Em sua corc o v a aní mic a elas enc arn a m um retroc e s s o<br />

no tem p o , quan d o os "ser e s hum a n o s " ain<strong>da</strong> não ca minhava m<br />

ereto s. Provav el m e n t e , é es s a regr e s s ã o que nos cai tão m al,<br />

porqu e go sta m o s tão pouc o de ser lem br a d o s <strong>da</strong> ép o c a es cur a<br />

de noss o pas s a d o coletivo.<br />

O pólo opo st o, a lordose [em ale m ã o , Hohlkre u z = espinh a<br />

oc a], é um parent e próxim o. A expr e s s ã o e m ale m ã o é muito<br />

ver<strong>da</strong>d eira e deixa entrev er co m o es s a postura é vazia. Se a<br />

cifos e corresp o n d e à m ar c a do pacient e de hérnia de disc o<br />

corc o v a d o e humilhad o , a lordo s e trai o ho m e m de be m<br />

cap e n g a que se esforç a igualm e nt e pela vi<strong>da</strong>. Sua pélvis está<br />

projetad a para a frente e, para co m p e n s a r es s a so br e c ar g a<br />

dianteira e continuar <strong>da</strong>nd o uma impres s ã o ereta, ao m e n o s<br />

e m certa m e di<strong>da</strong>, ele precis a forçar de man eira extre m a o peito<br />

para trás. O resultad o é a postura de um sím b ol o de<br />

interro g a ç ã o (?), que tam b é m deter min a sua vi<strong>da</strong>. Enquanto o<br />

corc o v a d o se curva diante de todo s para não ficar encurrala do<br />

e m nenhu m lugar, os pacient e s de lordo s e , e m sua tentativa de<br />

fazer tudo certo, tenta m alé m diss o caus ar um a bo a impres s ã o ,<br />

ou seja, um a impres s ã o resp eitáv el. Eles força m extre m a m e n t e<br />

a postura <strong>da</strong> colun a verte br al, que e m si já é força<strong>da</strong>, e assi m<br />

ca min h a m pela vi<strong>da</strong>.<br />

A m á postura mais refinad a, por ser a m ais difícil de ser<br />

detectad a e exerc er um efeito de resp eitabili<strong>da</strong>d e, assu m e a<br />

form a <strong>da</strong> "espinha estica<strong>da</strong>". Com a colun a esticad a e reta<br />

co m o um pau, eles de m o n s tr a m exe m pl ari<strong>da</strong>d e e ain<strong>da</strong>, ao<br />

m e s m o tem p o , retidã o, um ca min h ar ereto imp e c á v el co m o<br />

peito orgulho s a m e n t e chei o. Quando es s a postura não é<br />

natural, m a s de m o n s tr ativa, surg e a susp eita de que ela sirva<br />

de co m p e n s a ç ã o para um ser secr eta m e n t e rastejant e e<br />

corc o v a d o ou um "espinh a oc a" que se enc olh e u nas so m b r a s .<br />

32<br />

0


Criança s "que br a d a s " que se deixa m treinar nes s a postura<br />

são um exe m pl o triste e muitas vez e s ridículo para os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . Quanto mais dura é a disciplina, "m elh or e s " são os<br />

sol<strong>da</strong> d o s . O objetivo <strong>da</strong> disciplina con siste substanci al m e n t e<br />

e m que brar a vontad e e, co m isso, a e s pinh a do "servidor".<br />

“Esqu erd a, volver!", "Em frente, march e!", "Desc a n s ar!",<br />

"Movam- se!", etc. Exige- se servidã o abs oluta e ob e di ê n ci a<br />

incondicion al, que são treinad a s até a exaustã o . A ver<strong>da</strong> d e é<br />

que o sol<strong>da</strong>d o não dev e pen s ar por si m e s m o ne m repres e nt ar<br />

seus intere s s e s , cas o contrário ele dificilm e nt e colo c aria sua<br />

vi<strong>da</strong> e m jogo para defen d e r as idéias de gen er ai s ou político s.<br />

Ele dev e funcion ar seguind o orden s estran h a s , se m<br />

ab s oluta m e n t e meditar so br e elas. Tudo o que é nec e s s á ri o lhe<br />

é dito, <strong>da</strong> direç ã o para a qual ele dev e olhar até a postura de<br />

sua colun a vertebr al. Um sol<strong>da</strong>d o de elite que tinha<br />

interiorizad o es s e ideal freqü e nt e m e n t e desig n a v a a si m e s m o ,<br />

ch ei o de orgulho, co m o uma "má quin a de luta". Para tornar- se<br />

má q uin a é precis o natural m e nt e per mitir que a própria vontad e<br />

seja expuls a, ou seja, colo c á- la incon dicion al m e n t e so b a<br />

direç ã o de outro. A espinh a dors al é sub stituí<strong>da</strong> por férreas<br />

estruturas de orde m . Mas co m o sol<strong>da</strong>d o s avan ç a n d o co m<br />

cifos e s ver<strong>da</strong> d eir a s não iriam impre s si o n ar ne m o ch ef e ne m<br />

os inimig o s, uma coluna rígi<strong>da</strong> é treinad a e impo sta so br e ela.<br />

As ord en s que se refer e m a isso - justa m e n t e e m sua ingênu a<br />

estupid ez - são ver<strong>da</strong> d eira s: "Endireite m - se!", "Alto!",<br />

"Apres e nt ar arm a s!" Essas indicaç õ e s são impróprias para a<br />

luta; aqui estã o sen d o es culpi<strong>da</strong> s m arion et e s às quais se<br />

pres cr e v e cad a minúcia até que funcion e m ceg a m e n t e . Nem é<br />

precis o dizer que pes s o a s postas so b tutela des s a man eira são<br />

trata<strong>da</strong> s unilateral m e nt e na segun d a pes s o a . O treina m e n t o<br />

<strong>da</strong>s propried a d e s de rob ô, que faze m tudo de man eira flexível<br />

e ob e di e nt e e desliga m o próprio pen s a m e n t o , tem por objetivo<br />

uma literal ob e di ê n ci a de cad á v e r.<br />

A postura libera<strong>da</strong> <strong>da</strong> espinh a dors al, que repre s e nt a o<br />

contrap o nt o a todo s os outros três extre m o s , aproxim a- se<br />

extern a m e n t e <strong>da</strong> postura do sol<strong>da</strong>d o , estan d o interna m e n t e<br />

32<br />

1


impregn a d a de en er gi a fluente e m lugar de reti<strong>da</strong>. Pess o a s que<br />

têm con s ci ê n ci a de si m e s m a s têm es s a form a ereta e elástica.<br />

Os her óis "bon s" dos filme s irradia m es s a retidão e es s a<br />

en er gi a que ve m de dentro, assi m co m o pes s o a s dispo sta s a<br />

lutar por seus direitos. Ness e sentido, sol<strong>da</strong>d o s pod e m<br />

en c aixar- se ai. Neste ponto, pod e- se pen s ar no guerr eiro<br />

Arjuna, o herói do Bhagav a d Gita, e m Palas Atena ou no ideal<br />

guerreiro dos xam ã s : tão orgulho s o que não se curva diante de<br />

ningu é m , e tão humild e que não per mite que ningu é m se curve<br />

diante dele. Para mi m, a mais bela imag e m des s a postura é a<br />

do m e str e de Tai-Chi, que con s e g u e apan h ar um pás s ar o<br />

graç a s à sua elastici<strong>da</strong>d e. Em pé, ereto e quieto, ele ofer e c e<br />

um lugar e m seu o m br o para o pás s ar o. Este pous a porqu e,<br />

devido à aus ê n ci a de m e d o do m e str e, sente que tamp o u c o<br />

precis a ter m e d o . Quando quer voar nova m e n t e , não<br />

con s e g u e . Assim que ele quer levantar vôo o mestr e, co m seus<br />

m o vi m e nt o s fluidos, ced e. O m e str e precis a ofer e c e r- lhe<br />

resistên ci a para que ele pos s a recup er ar sua liber<strong>da</strong> d e .<br />

Este vô o que vai do quarto <strong>da</strong>s crianç a s para o guerr eiro<br />

con s ci e nt e, pas s a n d o pelo pátio de exercí cio s, pretend e<br />

m o strar que as posturas extre m a s no âm bito <strong>da</strong> colun a<br />

vertebr al trata m de um tem a que gira e m tom o do eixo: falta de<br />

apoio nas costa s e uma postura interna m ol e por um lado e<br />

retidã o corajo s a por outro. A expres s ã o "má postura" é muito<br />

apropriad a, pois m o stra que aqui se trata de um a postura má<br />

por estar tão distante <strong>da</strong> própria postura.<br />

P er g u nta s<br />

Para a cifos e:<br />

1. Vivo curvad o ? Que pas s o s eu tem o , e m que m eu piso?<br />

De que eu tenh o med o ?<br />

2. Para que m ou para o que eu me curvo?<br />

3. O que eu esp er o diss o para mi m? Onde quer o ch e g ar<br />

co m isso?<br />

Para a lordo s e (= coluna oc a):<br />

32<br />

2


1. O que está oc o na minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que eu quer o provar para que m ?<br />

3. Que golp e s eu tem o , diante de que eu quer o ced er?<br />

Para a colun a rígi<strong>da</strong>:<br />

1. Que vantag e n s m e traz m eu bo m funcion a m e n t o e<br />

minh a ob e di ê n ci a?<br />

2. O que ac o nt e c e e m mi m quan d o assu m o um a postura<br />

extern a m e n t e ?<br />

3. Quanta razão eu tenh o para assu mir um a postura tão<br />

orgulho s a?<br />

4. A corcun<strong>da</strong><br />

Uma corcun d a está bas e a d a em uma curvatura para a frente<br />

<strong>da</strong> colun a vertebr al e pod e ter divers a s razõ e s . Vértebras<br />

pod e m se romp er e m con s e q ü ê n c i a de proc e s s o s de<br />

tuberculo s e ou raquitis m o , ou ela pod e ser inata ou caus a d a<br />

por um acident e. O efeito repulsivo que exerc e lem br a, entre<br />

outros, a velha bruxa corcun d a dos conto s de fa<strong>da</strong>s. Uma de<br />

suas principais caract erística s é o olhar que, e m vez de estar<br />

voltad o para o céu, olha para a terra, para baixo. Tal co m o foi<br />

dito na proble m átic a <strong>da</strong> serp e nt e, para nós tudo o que é baixo<br />

é extre m a m e n t e susp eito, para não dizer um horror. As<br />

crianç a s , por exe m pl o, sente m um a avers ã o natural e m relaç ã o<br />

ao s corcun d a s e os evita m. Não se trata evid e nt e m e n t e de<br />

uma rejeiç ã o <strong>da</strong>s pes s o a s afetad a s , m a s de repugn â n ci a e m<br />

relaç ã o à sua form a. Ela en c arn a um tem a do qual os afetad o s<br />

quas e nunc a são con s ci e nt e s co m tanta clarez a.<br />

Pess o a s marc a d a s de tal man eira pelo destino são liga<strong>da</strong>s<br />

ao m al des d e ép o c a s ime m o ri ais. Uma cren ç a popular muito<br />

difundi<strong>da</strong> vê na corcun d a um a puniçã o por m á s aç õ e s<br />

pas s a d a s , en quant o povo s orientais vê e m nela uma puniçã o<br />

cár mic a ou um a penitên ci a. Sem entrar na probl e m á tic a <strong>da</strong>s<br />

tarefas trazi<strong>da</strong>s para a vi<strong>da</strong>, pod e- se con statar que a form a<br />

32<br />

3


corc o v a d a é a m e s m a de um penitent e. Para as pes s o a s<br />

curvad a s pelo destino existe evident e m e n t e pouc a<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e de ir ao en c o ntro do mund o co m um a atitude de<br />

confronto, ofen siva. Elas têm os olho s caído s e dão um a<br />

impres s ã o se m e l h a nt e. A postura que lhes foi impo sta imp e d e<br />

deter min a d a s exp eriên ci a s nesta vi<strong>da</strong>, obvia m e n t e não é a vez<br />

deles, outros posicion a m - se contra isso.<br />

A tarefa corresp o n d e e m princípio à dos curvad o s pacient e s<br />

de ciática, sen d o que ag or a seu objetivo é muito mais profund o<br />

e fun<strong>da</strong> m e n t al. Trata- se de aprend er a humil<strong>da</strong>d e a partir <strong>da</strong><br />

postura humilhad a. O proble m a <strong>da</strong> avaliaç ã o é esp e ci al m e n t e<br />

perig o s o e m um tem a e m o ci o n al m e n t e tão carreg a d o . Em um<br />

cas o con cr et o, algué m que ob s erv e de fora se m pr e será cap az<br />

de rec o n h e c e r o tem a, m a s dificilm e nt e perc e b e r á o plan o e m<br />

que ele é vivido e de m an eira algu m a até que ponto ele já está<br />

redimid o. Quasím o d o , o sineiro de Notre Dam e, pod e servir de<br />

exe m pl o aqui. Poss o dizer por exp eriên ci a própria que um a <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s m ais humild e s que con h e ci é um a mulh er corcun d a<br />

muito velha. Ela utilizou sua "form a de bruxa" para tornar- se um<br />

anjo para as pes s o a s a ela confia<strong>da</strong> s e para redi mir sua própria<br />

tarefa. Ela deixou que a humil<strong>da</strong>d e cres c e s s e a partir <strong>da</strong><br />

humilha ç ã o do destino. Ao lado de sua paciên ci a e am a bili<strong>da</strong>d e<br />

de anjo, cha m a a aten ç ã o sua entre g a incondicion al a seu<br />

destino.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde m eu destino quer que eu dê co m o nariz? Eu m e<br />

deixo rebaixar ? Faç o- o eu m e s m o ? Ou co m outros?<br />

2. O que deixei de ver e m pes s o a s próxim a s que estã o a<br />

m e u s pés? Com o reajo e m relaç ã o ao s corcun d a s ?<br />

3. Onde tend o a ficar corcun d a, ond e deixo que outros o<br />

faça m ?<br />

4. Diante de que m e curvo? Os outros precis a m curvar- se<br />

diante de mi m?<br />

5. Que situaç õ e s me humilha m ? Em quais eu humilho?<br />

6. Com o m e co m p o rt o em relaç ã o à humil<strong>da</strong>d e?<br />

32<br />

4


7. Com o estou nesta vi<strong>da</strong>?<br />

5. A escoliose ou desvio lateral <strong>da</strong> coluna<br />

A es c olio s e , o desvi o lateral <strong>da</strong> coluna vertebr al, é um desvio<br />

incon s ci e nt e do m ei o e m um âm bito central. Além des s e fato, o<br />

sinc er o corp o m o stra ain<strong>da</strong> a direç ã o do desvi o que, co m o to<strong>da</strong><br />

unilaterali<strong>da</strong>d e, prejudic a os dois lado s. Quando o centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> se deslo c a para a es qu er d a, para o lado<br />

feminin o, o direito, m a s c ulin o, fica auto m atic a m e n t e curto<br />

de m ai s, e m b o r a tamp o u c o o feminino vá be m . Com a<br />

prefer ê n ci a invers a pelo lado direito, não so m e n t e o lado<br />

es qu er d o , feminin o, é favor e cid o , ma s o direito sofre co m seu<br />

próprio so br e p e s o . Assim co m o os dois lado s lucra m co m o<br />

equilíbrio har m ô ni c o , am b o s sofre m e m conjunto co m a per<strong>da</strong><br />

des s e equilíbrio.<br />

Quando oc orr e m des vi o s ac e ntuad o s <strong>da</strong> linha m e di a n a, os<br />

órg ã o s intern o s <strong>da</strong> caixa torácic a tam b é m são afetad o s .<br />

Quando o cora ç ã o não e stá do lado certo, as interpretaç õ e s<br />

torna m- se desn e c e s s á ri a s. O m e s m o ac o nt e c e quan d o os<br />

pulm õ e s não se expan d e m livre m e n t e . Eles precis a m de<br />

esp a ç o para expan dir- se. Nenhu m a expans ã o é pos sív el<br />

quan d o o esp a ç o é tolhido, seja e m sentido con cr et o ou do<br />

ponto de vista <strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o .<br />

A um a torçã o corp oral corre s p o n d e um a torçã o aní mic a.<br />

Trata- se aqui so br etud o de de s vi o s de percur s o que não<br />

agrad a m ne m um pouc o os afetad o s . Por m ais que eles dê e m<br />

voltas e voltas, eles têm o erro atrás de si, e m suas co sta s. Os<br />

des vi o s têm se m pr e um caráter duplo, algué m se des via de<br />

algo, e dirige- se a algu m a outra coisa. É interes s a nt e notar que<br />

há um a níti<strong>da</strong> prep o n d e r â n ci a de es c olio s e s que se desvia m<br />

para o lado direito, m a s c ulin o. Um pacient e viven ci ou na<br />

terapia, nova m e n t e con s ci e nt e, co m o o desvi o de sua colun a<br />

vertebr al co m e ç o u na pub erd a d e , quan d o não pôd e endireitarse<br />

diante de seu pai e, e m vez diss o, afastou- se fisica m e n t e.<br />

32<br />

5


Dram a s muito esp e ci ais oc orr er a m à m e s a , ond e o filho tinha<br />

que sentar- se à direita do pai. Com o ele não con s e g uiu<br />

distanciar- se animic a m e n t e , sua CV o substituiu e afastou- se<br />

do pai. Apesar diss o ele tentou, se m de m o n s tr ar firmez a,<br />

serp e nt e ar pela vi<strong>da</strong>. Pess o a s co m tais des vi o s tenta m<br />

es quivar- se diante <strong>da</strong> franqu ez a se m rodei o s. Sua colun a<br />

vertebr al perc orr e ca minh o s curvo s e revela prefer ê n ci a s<br />

se m el h a nt e s e m sentido figurad o que elas não ad mite m para si<br />

m e s m a s . Em vez de tom ar ca min h o s retos e direto s, e m sua<br />

co m u nic a ç ã o elas prefer e m enrolar, es c ol h e n d o rod ei o s para<br />

des viar- se dos ob stácul o s. Nisso elas pod e m perd er- se e m<br />

muitos rod ei o s e enrolar- se a si m e s m a s . Uma variante des s e<br />

padrã o treinad a física e con s ci e nt e m e n t e pod e ser estud a d a no<br />

teatro de varied a d e s , nos cha m a d o s ho m e n s - co br a.<br />

A tarefa con sist e e m posicion ar- se real m e nt e no lado<br />

preferido. Quando se viven ci a es s e pólo, o corpo é aliviado e<br />

pod e voltar a distribuir seu pes o de form a equilibrad a. A<br />

ab ertura real para um a m etad e torna sua parciali<strong>da</strong>d e<br />

con s ci e nt e e abr e a oportuni<strong>da</strong>d e de des c o b rir e m seu fundo<br />

tam b é m a quali<strong>da</strong>d e do lado opo st o. A red e n ç ã o do serp e nt e ar<br />

está na a<strong>da</strong>pta ç ã o flexível às nec e s si d a d e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O que se<br />

pretend e aqui não é mud ar de ac ord o co m o vento, m a s vibrar<br />

no ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no sentido que lhe dá Heráclito e seu<br />

con h e ci m e n t o ate m p o r al: panta rhei, tudo flui.<br />

P er g u nta s<br />

1. De qual de m e u s lado s m e desvi ei, qual m e resta?<br />

2. O que é curto de m ai s e m minha vi<strong>da</strong>? De que go sto de<br />

des viar- m e?<br />

3. Que ob stácul o s eu contorn o, e m águas turvas quan d o<br />

nec e s s á ri o?<br />

4. Com o an<strong>da</strong> minha retidão? A que co m pr o m i s s o s e leve s<br />

des vi o s estou dispo st o nes s e sentido?<br />

5. Até ond e quer o trepar por m e u s ca min h o s retorcido s?<br />

32<br />

6


6. Paralisia causa<strong>da</strong> por secção <strong>da</strong> medula<br />

Ela é quas e se m pr e a con s e q ü ê n c i a de um a rotura<br />

traum átic a <strong>da</strong> espinh a dors al. A espinh a dors al do afetad o é<br />

que br a d a, no sentido mais ver<strong>da</strong>d eir o <strong>da</strong> palavra, por um<br />

acident e. A coluna vertebr al é tão <strong>da</strong>nificad a e m um<br />

deter min a d o local que o m ais sagr ad o , o can al nervo s o<br />

protegid o por resistent e s pared e s de oss o, é rompid o. É o<br />

acident e que interro m p e a continui<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> man eira<br />

mais grav e, já que sec ci o n a a ligaç ã o entre o sup erior e o<br />

inferior, entre a cab e ç a e o corp o ou o baixo- ventre.<br />

Paralisias por sec ç ã o <strong>da</strong> m e d ul a pod e m oc orr er a qualqu er<br />

altura <strong>da</strong> CV. Quando o traum a ating e o can al nervo s o muito<br />

aci m a, o resultad o é a m orte por paralisia <strong>da</strong> respiraç ã o , co m o<br />

e m um enforc a m e n t o . A m ai oria <strong>da</strong>s paralisias por sec ç ã o<br />

transv er s al <strong>da</strong> m e d ul a ating e m o baixo- ventre e força m a uma<br />

vi<strong>da</strong> na cad eira de ro<strong>da</strong>s. Estritam e nt e, esta é um a prótes e e<br />

per mite um a m o bili<strong>da</strong>d e que o destino quis na ver<strong>da</strong>d e retirar.<br />

Ela se torna um a parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e pod e, tornan d o - se<br />

tecnic a m e n t e cad a vez mais ma dur a, voltar a abrir vários<br />

âm bito s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O sinto m a m o stra a imo bili<strong>da</strong>d e se m vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> m etad e inferior<br />

do corpo, que arqu etipica m e n t e se inclina para o feminin o, e a<br />

irrem e di a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> situaç ã o . Não existe mais qualqu er<br />

relaç ã o viva entre a cab e ç a e o baixo- ventre, m a s um bloqu ei o<br />

co m pl et o. A impotên ci a e m relaç ã o ao próprio pólo inferior<br />

torna- se palpáv el na paralisia. O sinto m a força os afetad o s a se<br />

dirigire m à sua m etad e inferior co m o se foss e um corpo<br />

estran h o . Eles ag or a precis a m ocup ar- se dela o tem p o todo,<br />

ma s de fora e se m um sentim e nt o intern o de participaçã o . Ao<br />

m e s m o tem p o , a situaç ã o lhes deixa claro o quanto o pólo<br />

inferior é nec e s s á ri o para a so br e viv ê n ci a. O funcion a m e n t o<br />

óbvio <strong>da</strong> m etad e inferior foi interro m pid o e ag or a é<br />

pen o s a m e n t e sub stituído por esforç o s extern o s. Com o no início<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o controle <strong>da</strong> bexig a e do intestino precis a ser<br />

apren did o nova m e n t e , e isso so b as con diç õ e s m ais adv er s a s .<br />

32<br />

7


Os afetad o s viven cia m co m o se tornou difícil para eles eliminar<br />

ab aixo aquilo que foi ad mitido aci m a. A do a ç ã o mat erial<br />

corre s p o n d e à defe c a ç ã o , en qu a nt o a aní mic a é repres e nt a d a<br />

pelo ato de urinar. O sinto m a rev ela que o sentim e nt o natural<br />

para o m o m e n t o de <strong>da</strong>r está aus e nt e. Agora, gov er n a d o por<br />

reflexo s condicio n a d o s e indep e n d e n t e de sen s a ç õ e s interna s,<br />

é precis o aprend er a soltar. No que a isso se refer e, a vi<strong>da</strong> se<br />

transfor m a e m um ritual forçad o .<br />

A sexuali<strong>da</strong>d e genital torna- se totalm e nt e impo s sív el. Neste<br />

ponto o ac o nt e ci m e n t o não é so m e n t e um revé s , m a s um<br />

retroc e s s o à prim eira infância. A genitali<strong>da</strong>d e e, co m ela, o<br />

pod er do próprio sex o, é retira<strong>da</strong> rep e ntina m e n t e de man eira<br />

radical. Tam b é m an<strong>da</strong>r, ficar e m pé e subir, e co m isso<br />

avan ç ar, progr e dir e asc e n d e r, ficara m paralisad o s . O<br />

progr e s s o extern o e a postura ereta tornara m - se impo s sí v ei s e<br />

so m e n t e pod e m ser substituído s pelo s pas s o s intern o s<br />

corre s p o n d e n t e s . O círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> está niti<strong>da</strong> m e nt e restringido<br />

e limitado por um am bi e nt e estreito.<br />

É evid e nt e que os afetad o s dev e m desl o c ar o centro de<br />

gravi<strong>da</strong> d e de sua vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>d e s extern a s para as internas<br />

e con s e g uir temp o para rec o n h e c e r sua situaç ã o . Eles não são<br />

mais livres, tend o sido ac orr entad o s pelo destino (à cad eira de<br />

ro<strong>da</strong>s). Em vez do progr e s s o extern o, indica- se o<br />

des e n v olvi m e nt o intern o. Em vez de con q uistar o mun d o , é<br />

precis o <strong>da</strong>r- se be m e m um circulo restrito. A liber<strong>da</strong> d e e a<br />

retidã o que fora m cortad a s levanta m a susp eita de proble m a s<br />

anterior e s a es s e resp eito. Golpes duros do destino<br />

dec orr e nt e s de acident e s m o stra m o quanto mud a n ç a s de<br />

curs o abruptas e profun<strong>da</strong> s são nec e s s á ri a s.<br />

A partir de declara ç õ e s de vitima s de paralisia caus a d a por<br />

sec ç ã o transv er s al <strong>da</strong> m e d ul a que do min ar a m seu duro destino<br />

e voltara m a tom ar nas m ã o s as réd e a s de sua vi<strong>da</strong>,<br />

depr e e n d e - se muitas vez e s um auto- con h e ci m e n t o profund o e<br />

uma interpreta ç ã o condiz ent e do trágic o ac o nt e ci m e n t o . “O<br />

acident e pôs fim à minha impulsivi<strong>da</strong>d e selva g e m " seria um tal<br />

auto- con h e ci m e n t o . O afetad o colo c a e m palavras que foi<br />

32<br />

8


long e de m ai s e se exc e d e u e m sua ous a di a. Ele so m e n t e<br />

des e n v olv e u a ver<strong>da</strong> d eir a corag e m após o acid e nt e, dep ois<br />

que, nos prim eiros m o m e n t o s de des e s p e r o , teve de<br />

rec o n h e c e r que a ous a dia era ap en a s a co m p e n s a ç ã o de um<br />

profund o senti m e nt o de inferiori<strong>da</strong>d e. Outros dep oi m e n t o s , de<br />

m oto ci clistas e praticant e s de outros esp orte s radicais<br />

acidentad o s , co m pr o v a m que o acident e ac a b o u co m um a fas e<br />

de m o vi m e n t a ç ã o extern a exag er a d a e, so br etud o ,<br />

incon s ci e nt e, mant e n d o - os salutar m e nt e de volta ao chã o<br />

firme. É dep ois de um períod o inicial e m que a vi<strong>da</strong> na cad eira<br />

de ro<strong>da</strong>s é senti<strong>da</strong> co m o não valen d o na<strong>da</strong> que os olho s se<br />

abr e m para o valor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m si. O que antes era óbvio pod e<br />

ser rep e ntina m e n t e rec o n h e c i d o co m o um valios o pres e nt e e<br />

uma pos sibili<strong>da</strong>d e de viven ci ar exp eriên ci a s profun<strong>da</strong> s . Muitas<br />

vez e s é, portanto, a cad eira de ro<strong>da</strong>s que rev ela o milagr e <strong>da</strong><br />

loco m o ç ã o . Um afetad o sentiu- se levad o de um a viag e m se m<br />

rum o de volta a seu ca minh o pelo acid e nt e: "Talvez eu nunc a o<br />

tives s e enten did o se m o acid e nt e". A arrog â n ci a no trato co m o<br />

sexo opo st o so m e n t e se tornou con s ci e nt e para um pacient e<br />

quan d o perd e u a pos sibili<strong>da</strong>d e de exer c er a sexuali<strong>da</strong>d e<br />

genital. Carinho s que antes lhe pare cia m ban ais e<br />

insignificante s ganh ar a m uma profundi<strong>da</strong>d e e um significad o<br />

jam ais imagin a d o s . Em paralítico s por sec ç ã o transv er s al <strong>da</strong><br />

m e d ul a do sex o feminino, a dupla incap a ci<strong>da</strong>d e , pois há<br />

tam b é m a de apoiar seu m arido, é muitas vez e s o ponto<br />

principal.<br />

A lição se g uinte é enc ar ar a reali<strong>da</strong>d e e aprend er a ac eitar o<br />

des a m p a r o . Para pes s o a s que levav a m antes um a vi<strong>da</strong><br />

exa g er a d a m e n t e ativa e extern a m e n t e m o vi m e n t a d a , a<br />

mud a n ç a de pólo para a ativi<strong>da</strong>d e e o m o vi m e n t o interno s é tão<br />

difícil co m o nec e s s á ri a. Não s e deixar abat er, no sentido de<br />

“não desistir, não resign ar- se", é o lem a de muitos afetad o s .<br />

Mas e m um sentido mais profund o, é claro que eles precis a m<br />

antes abaixar- s e, voltar para o tapet e, ac a b ar co m seus altos<br />

vô o s, m e dir suas grand e s preten s õ e s pela reali<strong>da</strong>d e. A vi<strong>da</strong><br />

sed e nt ária os força a impor- se na vi<strong>da</strong>. Na cad eira de ro<strong>da</strong> s<br />

32<br />

9


eles, de m an eir a muito con cr et a, tom a m a vi<strong>da</strong> nas próprias<br />

mã o s e ro<strong>da</strong> m atrav é s dela. O acid e nt e aguç a a con s ci ê n ci a de<br />

que a vi<strong>da</strong> não dura para se m pr e e tem um valor con sid er á v el.<br />

É precis o rec o n h e c e r que valor tinha no pas s a d o a m etad e<br />

inferior do corp o e, co m isso, o pólo feminino. Embor a os<br />

pacient e s tenha m obtido muito dele, eles muitas vez e s não<br />

estav a m dispo st o s a recipro c ar a con sid er a ç ã o<br />

corre s p o n d e n t e . Agora eles precis a m ficar de castig o e<br />

dedic ar- lhe to<strong>da</strong> a aten ç ã o , e m b o r a não pos s a m esp er ar<br />

pratica m e n t e na<strong>da</strong> m ais dele. Com o sinal diss o, o lado<br />

feminin o pend e deles co m o se foss e um corp o e stra nh o. A<br />

sinto m átic a não so m e n t e torna explicito o quanto o próprio lado<br />

feminin o é estran h o ma s tam b é m força a dedic ar- lhe aten ç ã o<br />

redo br a d a. Torna- se palpáv el que ele co m p õ e m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e que se m ele a vi<strong>da</strong> é so m e n t e m ei a vi<strong>da</strong>.<br />

A tarefa central que se segu e à ac eitaç ã o do infortúnio é<br />

fazer uso do pólo sup erior que resta, e isso de um a posiç ã o<br />

mais humild e que antes. Os afetad o s apren d e m a olhar para<br />

cim a, já que pratica m e n t e todo s sup er a m sua altura. Sendo<br />

assi m, a posiç ã o sub ordin a d a de fraqu ez a e a nec e s s i d a d e de<br />

auxilio torna m- se ao m e s m o temp o lição e exig ê n ci a. Assim<br />

co m o tinha m de ficar de castig o na es c ol a, eles precis a m ficar<br />

esp er a n d o e m muitas situaç õ e s . O âm bito <strong>da</strong>s relaç õ e s de<br />

cas al, que deixa muita gent e esp er a n d o sentad a, co m pr o v a o<br />

quanto es s a s situaç õ e s são humilhant e s. Por outro lado os<br />

afetad o s , no âm bito <strong>da</strong>s relaç õ e s , forço s a- m e nt e deixa m o<br />

parc eiro e a si m e s m o s na mã o no que se refer e ao asp e ct o<br />

sexual. Reco m e n d a - se ao s pacient e s , rebaixa d o s no sentido<br />

físico e m suas cad eira s de ro<strong>da</strong>s, a tere m co m pr e e n s ã o ; eles<br />

precis a m aprend er a ac eitar aju<strong>da</strong>. O pod er transfor m a- se e m<br />

impotênci a <strong>da</strong> noite para o dia. Fisica m e n t e , eles ficara m de<br />

joelho s e são forçad o s a per m a n e c e r sentad o s para se m pr e.<br />

Agora é precis o en c h er es s a postura de en er gia aní mic oespiritual<br />

e dedic ar- se às pos sibili<strong>da</strong>d e s que resta m . Se até<br />

entã o podia m olhar para a vi<strong>da</strong> de cim a para baixo, eles ag or a<br />

senta m - se a seus pés. O trato co m o mund o, tal co m o os<br />

33<br />

0


sinto m a s dão a enten d e r, con s e q ü e n t e m e n t e pas s a a ser muito<br />

am pla m e n t e impregn a d o pelo pólo feminin o. Do ponto de vista<br />

redimid o, por m ei o <strong>da</strong> entre g a e <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e , ou por m ei o <strong>da</strong><br />

resign a ç ã o e de estad o s de hum or caprich o s o s 69 que pod e m<br />

ch e g ar à depr e s s ã o no cas o de não ter sido liberad o .<br />

Sentar- se ao s pés <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pod eria ser o ponto de parti<strong>da</strong><br />

para dedic ar- se e m paz ao sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a en c o ntrar a si<br />

m e s m o . Sempr e volta a oc orr er que pes s o a s cujas vi<strong>da</strong>s fora m<br />

co m o que cortad a s ao m ei o por um tal golp e do destino<br />

transfor m a m a biss e ç ã o de suas pos sibili<strong>da</strong>d e s e m um a<br />

oportuni<strong>da</strong>d e de fazer rend er as que resta m e ao m e s m o<br />

temp o cres c e r para alé m de si m e s m a s e de suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . A sinto m átic a de limitaç ã o dos m o vi m e nt o s<br />

m o stra que o ca min h o indicad o pelo destino apo nta m ais e m<br />

direç ã o ao ca m p o aní mic o- espiritual que à Olimpíad a dos<br />

diminuído s físico s. Por outro lado, quan d o serv e m para<br />

ad e q u ar à reali<strong>da</strong>d e a preten s ã o de ser o Númer o 1 ab s oluto e<br />

para ac e ntuar a alegria do m o vi m e n t o e <strong>da</strong>s pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

restant e s, tais des afio s pod e m ser saud á v ei s. A luta contra um<br />

destino tão difícil continua sen d o se m pr e um ca min h o de<br />

pod er, assi m co m o tentativas de m o strar e provar a todo s que<br />

não se precis a de nen hu m a co m p aixã o . To<strong>da</strong> a paleta de<br />

co m p o rta m e n t o s do "ag or a sim" está co m pr o m e tid a<br />

univo c a m e n t e co m o pólo guerreiro- m a s c ulin o, en qu a nt o aqui<br />

se trata de aproxim ar o pólo ma s c ulino do jeito feminin o.<br />

Dos três centro s, o que está localizad o mais ab aixo, o centro<br />

<strong>da</strong> pélvis, é o m ais exten s a m e n t e afetad o, en qu a nt o o centro<br />

do cora ç ã o e o <strong>da</strong> cab e ç a são integral m e n t e pres erv a d o s e<br />

torna m- se tarefa. O pacient e não foi jogad o para fora <strong>da</strong><br />

estrad a e m vão. As tentativas de ignorar as indicaç õ e s do<br />

destino por m ei o <strong>da</strong>s próte s e s mais refinad a s não leva m a<br />

nen hu m a soluç ã o de alcan c e profund o; alé m do que, não<br />

existe qualqu er tipo de prótes e para as sen s a ç õ e s e<br />

sentim e nt o s dos quais o pacient e foi privad o. Elas continua m<br />

sen d o um a tentativa funcion al de en g a n ar o destino. Não se<br />

con h e c e até hoje um único cas o e m que isso tenha sido<br />

33<br />

1


lograd o definitiva m e nt e, seja nos registros <strong>da</strong> história ou nas<br />

mais antigas religiõ e s e es critos mitoló gic o s dos pov o s. Isso<br />

não quer dizer que não se dev a utilizar as m o d e r n a s e<br />

refinad a s pos sibili<strong>da</strong>d e s técnic a s. Elas so m e n t e se torna m<br />

perig o s a s quan d o leva m à repre s s ã o do ac o nt e ci m e n t o<br />

original. Então o destino precis a pens ar e m algu m a outra cois a<br />

para nova m e n t e voltar a e m brulhar a m e s m a lição. Enquanto<br />

até m e s m o as maravilho s a s pos sibili<strong>da</strong>d e s <strong>da</strong> protética<br />

m o d e r n a são limita<strong>da</strong> s, as do destino continua m sen d o<br />

infinitam e nt e varia<strong>da</strong> s.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que m e que br o u a espinh a? O que retirou o antigo<br />

conteú d o e o antigo su st e nt o de minha vi<strong>da</strong>?<br />

2. O que minh a m etad e inferior m orta quer m e dizer? De<br />

que eu sofro apó s sua per<strong>da</strong>?<br />

3. Com o and o e m relaç ã o ao "<strong>da</strong>r", tanto no sentido<br />

mat erial co m o no sentido aní mic o?<br />

4. O que significa retidão para mi m?<br />

5. Sinto- m e humilhad o ou próxim o <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e ?<br />

6. Com o enc ar o o destino que m e tornou tão pequ e n o , que<br />

tirou de mi m a metad e inferior?<br />

7. O que tenh o a ver co m o tem a «ficar esp er a n d o<br />

sentad o "?<br />

8. Com o lido co m a nec e s s i d a d e de aju<strong>da</strong> e co m a<br />

dep e n d ê n c i a?<br />

9. Com o m e co m p o rt o e m relaç ã o ao pod er e à<br />

impotênci a?<br />

10. Que apar ê n ci a tem minha relaç ã o co m o que está<br />

aci m a, co m a cab e ç a e co m o céu? E co m o que está abaixo,<br />

co m a pélvis e co m a terra?<br />

33<br />

2


7<br />

Os Ombros<br />

A postura dos o m br o s deixa entrev er algo <strong>da</strong> postura e m<br />

relaç ã o à vi<strong>da</strong>. As clavículas e as o m o pl ata s mant ê m a área<br />

sup erior do corp o uni<strong>da</strong>. Na parte anterior do corp o os o m br o s ,<br />

pas s a n d o pelas clavículas, che g a m até o estern o, en qu a nt o<br />

atrás suas o m o pl ata s co br e m a parte sup erior <strong>da</strong>s co sta s. Os<br />

o m br o s liga m a expr e s sivi<strong>da</strong>d e dos braç o s e <strong>da</strong>s m ã o s ao<br />

peito, local do m ei o e <strong>da</strong> integraç ã o . Juntam e nt e co m a coluna<br />

vertebr al, eles são a área do corp o ond e se pod e ler qual carg a<br />

uma pes s o a carre g a, e co m o a leva. Más posturas internas<br />

crônic a s pod e m m anifestar- se nos o m br o s so b a form a de<br />

mús c ul o s endur e cid o s e tens o s ou até m e s m o co m o m á s<br />

form a ç õ e s do es qu el et o ós s e o .<br />

Os mais nítidos são os ombros erguidos, entre os quais<br />

parec e quer er es c o n d e r- se uma cab e ç a m e dr o s a . Com o e m<br />

um carac ol ou um a tartarug a, ela se m et e para dentro ao<br />

confrontar os perig o s do mun d o lá fora. Quando algo nos<br />

assusta, nós auto m atic a m e n t e en c olh e m o s a cab e ç a . Então,<br />

quan d o o susto pas s a, os o m br o s retorna m á postura não<br />

assustad a e a cab e ç a se atrev e nova m e n t e para diante.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , o m br o s cronic a m e n t e erguido s m o stra m<br />

que seu proprietário per m a n e c e con stant e m e n t e nes s e estad o<br />

ab aixad o e cho c a d o e não con s e g u e mais livrar- se do m e d o .<br />

Talvez, tam b é m , ele já tenha levad o tanto na cab e ç a que<br />

incon s ci e nt e m e n t e prefer e ab aixar- se e pas s ar de man eira<br />

furtiva pela vi<strong>da</strong> co m a cab e ç a m eti<strong>da</strong> entre os o m br o s . O<br />

m e d o crônic o con g el a d o na área dos o m br o s m o stra- se<br />

tam b é m na estreitez a <strong>da</strong> postura. Não é raro que a es s e s<br />

o m br o s falte m a largura e a en er gi a para suportar o fardo <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e corresp o n d e n t e . O o m br o es qu er d o<br />

erguido unilateral m e nt e serv e tanto para prote g e r o coraç ã o<br />

co m o para bloqu e á - lo.<br />

33<br />

3


O pólo opo st o anatô mi c o é con stituído por pes s o a s co m os<br />

ombros caídos, que expr e s s a m resign a ç ã o . Eles lem br a m<br />

pás s ar o s co m as asa s caí<strong>da</strong>s e, de fato, as o m o pl atas têm<br />

certa se m el h a n ç a co m asa s rec olhi<strong>da</strong>s. Ombro s caíd o s<br />

nec e s s a ria m e n t e suporta m mais carg a (resp o n s a bili<strong>da</strong>d e) do<br />

que são cap az e s , seus pos suid or e s estã o so br e c a rr e g a d o s . Os<br />

o m br o s tenta m deixar es c orr e g ar aquilo que é de m a s i a d o para<br />

eles, e tenta m subtrair- se. Há algo niss o que des p erta<br />

co m p aixã o , so br etud o quan d o os o m br o s são alé m do mais<br />

estreitos. Os afetad o s dão a impres s ã o de que tom a m para si<br />

todo o pes o do mun d o . Dá vontad e de abraç á- los so b os<br />

braç o s (igual m e nt e caído s) e aliviá- los um pouc o.<br />

Ombros ac e ntuad a m e n t e estreito s evid e n ci a m uma<br />

cap a cid a d e reduzi<strong>da</strong> de assu mir a carg a <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e<br />

pela própria vi<strong>da</strong>. Seus pos suid or e s se rec olh e m para pod er<br />

ater- se co m a vi<strong>da</strong>. Eles dão a impres s ã o de que teriam de<br />

fazer um esforç o imen s o para suportar os enc ar g o s que têm<br />

pela frente. Com o bas e para o âm bito e m questã o , tais o m br o s<br />

são um pres s up o st o bastant e fraco, o controle <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> so m e n t e<br />

pod e ser assu mi d o co m grand e s fadigas. É natural que os<br />

pos suid or e s de o m br o s que serv e m mais para orna m e n t o que<br />

outra coisa tenha m um a grand e nec e s s i d a d e de apoio,<br />

preferindo o m br o s esp e ci al m e n t e largo s ond e pos s a m apoiar a<br />

cab e ç a e, junta m e nt e co m ela, a resp o n s a bili<strong>da</strong>d e .<br />

Entre os o m br o s erguido s e os o m br o s caíd o s localiza m- se<br />

os o m br o s e m ângulo reto, que den ot a m um estad o nor m al.<br />

Entretanto, m e s m o nest e cas o há sinais de exa g er o que não<br />

deixa m de ser significativo s. Os o m br o s tipica m e nt e<br />

ma s c ulino s, co m os má s c ul o s estirad o s , sinaliza m para todo o<br />

mund o que aqui algué m está dispo st o a assu mir a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e por si m e s m o e m ais. Acentuan d o<br />

esp e ci al m e n t e es s a expr e s s ã o , talvez atrav é s de ma s s a<br />

mus c ular obti<strong>da</strong> à custa de treina m e n t o ou dos enc hi m e n t o s<br />

corre s p o n d e n t e s , algué m m o stra o quanto pen s a no efeito que<br />

exer c e so br e os outros. Neste ponto, ele levanta tam b é m a<br />

susp eita de simular coisa s que go staria de ter. Os sol<strong>da</strong> d o s ,<br />

33<br />

4


que não so m e n t e usa m galõ e s e m suas jaquetas ma s tam b é m<br />

tiras e m to<strong>da</strong> s as ca mi s a s , se trae m co m o coletivi<strong>da</strong>d e e m<br />

relaç ã o a isso. A voz popular fala de om br o s incha d o s . Indicase<br />

para o exterior quanto pod er e quanta resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e se<br />

está dispo st o a assu mir, sen d o que na ver<strong>da</strong> d e a m ai oria teve<br />

a espinh a que br a d a para exer c er, so b orden s , a falta de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Ombro s sup erdi m e n s i o n a d o s indica m eg o s<br />

similares, en qu a nt o o m br o s estreitos indica m o contrário.<br />

Quando, alé m diss o, eles são caíd o s, isso indica que neste<br />

cas o algué m desistiu de se afirmar e de mo strá- lo ao mun d o .<br />

Os o m br o s , portanto, dize m algo so br e o tipo de conflito que<br />

se tem co m o mun d o , sen d o que os o m br o s e m ângulo reto<br />

estã o real m e nt e na altura certa. Quando caído s , m o stra m o<br />

des â ni m o de seu proprietário; erguido s, que quer e m eludir a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e para cim a. Pois o m br o s erguido s tam b é m se<br />

torna m estreitos, <strong>da</strong>nd o prote ç ã o adicion al á cab e ç a e m sua<br />

tentativa de eclipsar- se.<br />

Além diss o, a altura relativa dos o m br o s m o stra, co m o lado<br />

mais baixo, qual m etad e <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e é ac e ntuad a na vi<strong>da</strong>.<br />

Assim, nos ho m e n s é geral m e n t e o om br o direito que está mais<br />

baixo, indican d o co m isso que estã o mais disten did o s nes s e<br />

âm bito e tend e n d o a ir de enc o ntr o ao mun d o de man eira<br />

ma s c ulina m e n t e controlad a e agre s siv a. O o m br o es qu er d o<br />

mais baixo, que oc orr e e m mulh er e s na maioria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

indica que se en c ar a seu am bi e nt e de m an eira feminina m e n t e<br />

pas siva. Com o o m br o mais baixo m o stra- se ao mund o o lado<br />

do qual se está mais segur o.<br />

A funçã o própria dos o m br o s é <strong>da</strong>r liber<strong>da</strong> d e de açã o ao s<br />

braç o s . Mas de man eira similar a co m o eles, co m o temp o,<br />

pod e m m o v er- se para cim a e prop orci o n ar um es c o n d e rijo para<br />

a cab e ç a , eles pod e m m o v er- se tam b é m para a frente para<br />

abrigar entre si o peito e o cora ç ã o . Esta é uma típica postura<br />

de auto- prote ç ã o , co m a qual os afetad o s m o stra m co m o se<br />

sent e m vulneráv ei s e car ent e s de prote ç ã o . Muitas vez e s , nas<br />

mulh er e s , há por trás diss o a sen s a ç ã o de ter de prote g e r ou<br />

ain<strong>da</strong> ocultar seu peito do mun d o . Essas m á s posturas<br />

33<br />

5


em et e m - se freqü e nt e m e n t e à pub erd a d e . Quando a m e nin a<br />

na ver<strong>da</strong> d e dev eria ter sido um m e nin o, os seios que co m e ç a m<br />

a cres c e r não são saud a d o s co m alegria e sim es c o n did o s co m<br />

verg o n h a . Seios grand e s , e m um a situaç ã o de inse g ur a n ç a de<br />

si m e s m o , pod e m levar a que se prefira ocultar um a<br />

feminili<strong>da</strong>d e tão de m o n s tr ativa. Sentim e nt o s de inferiori<strong>da</strong>d e e<br />

inse g ur an ç a s e m relaç ã o ao próprio pap el feminino que não<br />

são confrontad o s con s ci e nt e m e n t e en c arn a m - se e, nas regiõ e s<br />

corre s p o n d e n t e s , torna m- se visíveis e palpáv ei s co m o<br />

coura ç a s . Quando a postura protetor a tem por objetivo o<br />

coraç ã o e seus sentim e nt o s , é esp e ci al m e n t e o o m br o<br />

es qu er d o que está esp e ci al m e n t e curvad o para a frente.<br />

Com es s a postura os afetad o s se faze m estreito s, é co m o se<br />

eles se es c o n d e s s e m e m si m e s m o s . Dess a m an eir a, seu<br />

interior torna- se estreito e seus pulm õ e s já não pod e m<br />

expan dir- se <strong>da</strong> m an eira corresp o n d e n t e . A respiraç ã o curta<br />

que <strong>da</strong>i resulta explícita a pobr e dispo siç ã o para a<br />

co m u nic a ç ã o . A imag e m de isolar- se e de fechar- se para fora<br />

co m bin a co m a tend ê n ci a de con s er v ar as e m o ç õ e s para si<br />

m e s m o e de pratica m e n t e não se defen d e r de golp e s<br />

ev e ntuais. Em vez diss o, as vitima s des s a postura tend e m a<br />

retirar- se ain<strong>da</strong> m ais para seu esp a ç o prote gid o, que con sist e<br />

de o m br o s adiantad o s , e braç o s e costa s curva<strong>da</strong> s . Mas,<br />

juntam e nt e co m a prote ç ã o des ej a d a , todo bunk e r eficaz traz<br />

tam b é m con sig o estreitez a, rigidez e opres s ã o que pod e m<br />

levar até a falta de ar.<br />

1. Problemas dos ombros<br />

O braço luxado<br />

Nesta lesã o <strong>da</strong> articulaç ã o do o m br o, esp et a c ul ar e<br />

freqü e nt e, a cab e ç a do oss o do braç o salta de seu en c aix e, ao<br />

m e s m o tem p o que os afetad o s perd e m a pos e. Em última<br />

instância, eles já estav a m fora de si antes, já que a lesã o<br />

33<br />

6


dec orr e de m o vi m e nt o s exa g er a d o s dos braç o s . Neste cas o ,<br />

tentou- se algo co m mã o s e pé s , de m an eira forçad a,<br />

des c o n h e c e n d o e sup er e sti m a n d o as próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s .<br />

O braç o m o stra a exig ê n ci a exa g er a d a ao não mais participar<br />

do jogo, aba n d o n a n d o sua posiç ã o tradicion al e indican d o<br />

dolor o s a m e n t e que não so m e n t e ele, m a s seu proprietário<br />

inteiro tom o u o ca minh o errad o. É nec e s s á ri o um imen s o<br />

des g a s t e , heróic o, con s ci e nt e e rep etido <strong>da</strong>s próprias<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de articulaç ã o para que as cois a s seja m levad a s<br />

de volta ao ca minh o correto. O terap e uta apóia o pé na axila <strong>da</strong><br />

vítima e o colo c a de volta no lugar co m um puxão; na m ai oria<br />

<strong>da</strong>s vez e s , apó s ele ter <strong>da</strong>d o um puxão aní mic o e m si m e s m o<br />

para atrev er- se a um a tal interven ç ã o ao m e s m o temp o her óic a<br />

e brutal. Esse proc e di m e n t o , exc e p ci o n al m e n t e rec o n h e c i d o de<br />

form a unâni m e por to<strong>da</strong>s as corrent e s <strong>da</strong> m e dicin a, m o stra<br />

justa m e nt e tend ê n ci a s ho m e o p á tic a s . Aquele ato exc e s si v o e m<br />

que o incident e oc orr eu é nova e con s ci e nt e m e n t e con su m a d o<br />

e exa g er a d o . Fisica m e n t e , pelo m e n o s , o braç o que se perd eu<br />

é nova m e n t e levad o ao ca min h o correto. Seu proprietário<br />

en c o ntrar es s e ca min h o dep e n d e substanci al m e nt e de quã o<br />

con s ci e nt e ele torna o ac o nt e ci m e n t o . Em cas o contrário,<br />

ch e g a- se à cha m a d a fraqu ez a <strong>da</strong> cápsula do o m br o, ou seja,<br />

ele continua desl o c a n d o o braç o e m situaç õ e s deter min a d a s e,<br />

finalm e nt e, e m qualqu er oc a si ã o . Assim co m o transfor m a seu<br />

corp o e m vitima crônic a de tentativas de m o vi m e nt o<br />

exa g er a d o , ele m e s m o torna- se vitima de tentativas heróic a s<br />

de trata m e n t o . Quase todo s os m é dic o s precis a m fazer um<br />

grand e esforç o antes de forçar sua vítima des s a man eira.<br />

Naturalm e nt e, teria mais sentido se os afetad o s<br />

deslo c a s s e m suas tentativas de m o vi m e n t o s extre m a d o s para<br />

o âm bito aní mic o- espiritual. No que a isso se refer e, a alm a<br />

suporta mais e, alé m diss o, abr e oportuni<strong>da</strong>d e s para que o<br />

objetivo propria m e nt e dito <strong>da</strong> ous a d a m o bili<strong>da</strong>d e pos s a ser<br />

alcan ç a d a . O braç o sai do lugar, e m geral, devido a<br />

m o vi m e nt o s de arre m e s s o se m el h a nt e s ao de um a catapulta.<br />

Neste cas o, salta ao s olho s que o grand e arre m e s s o tem m ais<br />

33<br />

7


chan c e s de ser be m - suc e did o e m sentido figurad o.<br />

A terapia usual <strong>da</strong> situaç ã o crônic a tem por objetivo<br />

fortalec er a cápsula do o m br o atrav é s do treina m e n t o de<br />

m o vi m e nt o s e exercí cio s m o d e r a d o s de força que, dentro dos<br />

limites de fronteiras se g ura s, fortaleç a m os mús c ul o s e<br />

liga m e nt o s circund a nt e s . Dess a man eira, evita- se continuar<br />

des g a s t a n d o a cápsula <strong>da</strong> articulaç ã o tal co m o ac o nt e c e a<br />

cad a desl o c a m e n t o e a resp e ctiva reinstalaç ã o que se segu e.<br />

Esse con c eito pod e ser transp o st o para o plano dos probl e m a s<br />

aní mic o s . Os afetad o s dev eria m praticar m o vi m e nt ar- se<br />

estrita m e nt e dentro <strong>da</strong>s circunstânci a s extern a s deter min a d a s<br />

pelas fronteiras pre e st a b el e ci d a s . O pres s up o st o para isso é<br />

apren d er a con h e c e r as fronteiras. Portanto, não se exig e<br />

cui<strong>da</strong>d o , mas cora g e m . Quem con h e c e seus limites pod e ous ar<br />

até m e s m o cres c e r para alé m de si m e s m o . Essa seria,<br />

entretanto, a tarefa redi mi<strong>da</strong> tal co m o a repro duz o braç o que<br />

ultrapas s o u seus limites. É precis o ous ar m ais e alcan ç ar<br />

objetivo s distantes, ain<strong>da</strong> que seja à custa de grand e s esforç o s<br />

e até m e s m o dor e s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde vou long e de m ai s? Em que m e di<strong>da</strong> ultrapas s o<br />

minh a s pos sibili<strong>da</strong>d e s e co m p e t ê n ci a s ?<br />

2. Exijo de m ai s de mi m m e s m o ? Tento alcan ç ar o<br />

inalcan ç á v el e me ma c h u c o de man eira absurd a?<br />

3. Onde, e m sentido figurad o, recu o diante de fronteiras e<br />

m e faço m ais estreito do que corresp o n d e a mi m e a m eu<br />

objetivo de vi<strong>da</strong>?<br />

4. O que quer o alcan ç ar? Para ond e quer o ir? Qual o<br />

objetivo do m eu projeto de vi<strong>da</strong>? Qual a "grand e jogad a" pela<br />

qual m e esforç o (secr eta m e n t e)?<br />

33<br />

8<br />

A síndrome ombro- braço<br />

Trata- se de uma sinto m átic a de dor na áre a do o m br o e do


aç o que freqü e nt e m e n t e está liga<strong>da</strong> a um a síndro m e <strong>da</strong>s<br />

vértebr a s cervic ais. A m e di cin a ac ad ê m i c a enu m e r a m ais de<br />

vinte caus a s diferente s, de hérnia de disc o a tum or e s . Trata- se<br />

na m ai oria dos cas o s de um a sinto m átic a de so br e c a r g a co m<br />

irritaçã o do plexo cérvic o- braquial, a red e nervo s a resp o n s á v e l<br />

pelo braç o. Com isso os m o vi m e n t o s dos braç o s torna m- se<br />

dolor o s o s e, finalm e nt e, o braç o mal pod e ser levantad o , de<br />

qualqu er form a não aci m a <strong>da</strong> horizontal. Muitas vez e s tem- se a<br />

sen s a ç ã o de que ele é exc e s si v a m e n t e pes a d o , o que m o stra<br />

co m o é difícil sair <strong>da</strong> posiç ã o de repou s o repre s e nt a d a pela<br />

posiç ã o pendurad a.<br />

Quando o paci ent e não con s e g u e m ais ergu er o braç o, a<br />

interpreta ç ã o torna- se quas e disp e n s á v el. Ele não está m ais<br />

e m con diç õ e s de assu mir o control e de sua vi<strong>da</strong>, ag arrá- la e<br />

m o strar que m mand a (no corp o). Para a interpreta ç ã o , é<br />

decisivo sab er se é o braç o direito, m a s c ulin o, que está<br />

bloqu e a d o , o braç o co m o qual se leva a esp a d a do pod er, ou o<br />

es qu er d o , feminino, co m o qual se ped e algo <strong>da</strong>nd o à mã o a<br />

form a de uma con c h a. O sinto m a deixa claro o que dev e<br />

retroc e d e r na vi<strong>da</strong>, já que impe d e os afetad o s de atingir o<br />

objetivo. É evid e nt e que se tentou por temp o m ais que<br />

suficiente alcan ç ar tudo co m es s e lado. Ele obté m um<br />

des c a n s o forçad o , e o outro, sua chan c e . Os pacient e s pod e m<br />

estar imp e did o s e m sua tentativa de tornar o mun d o dócil<br />

quan d o o braç o que golp eia, o direito, é desliga d o . Eles não<br />

pod e m mais pôr e dispor co m o go sta m . Com o es qu er d o ,<br />

retira- se a pos sibili<strong>da</strong>d e de ag arrar e segur ar e,<br />

sim b olic a m e n t e , a de pedir e m e n dig ar.<br />

A lição a ser aprendid a con sist e e m <strong>da</strong>r um des c a n s o no que<br />

se refer e ao asp e ct o imp edid o. Caso o pólo ma s c ulino esteja<br />

bloqu e a d o , isso leva auto m atic a m e n t e a um relacion a m e n t o<br />

mais intens o co m o âm bito feminin o. Resta ap en a s o es qu er d o ,<br />

e des s a form a os afetad o s são forçad o s a usá- lo m ais,<br />

e m pr e g a n d o aqu el a postura mais solta e des c o ntr aíd a do pólo<br />

feminin o, ao qual falta a tenacid a d e do lado contrário. Caso o<br />

lado feminin o esteja bloqu e a d o , é precis o ocup ar- se mais do<br />

33<br />

9


pólo ma s c ulin o. É precis o tom ar as réd e a s na própria mã o ,<br />

usan d o o braç o direito. Olhar para a direita, diz a lição, e ela<br />

exig e que se controle a nav e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m o próprio punho e<br />

que a própria pes s o a deter min e o futuro.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual o lado que não controlo mais?<br />

2. Até que ponto m e exc e di na tem átic a do lado<br />

bloqu e a d o ? E atrav é s do quê?<br />

3. Para que ergui o braç o bloqu e a d o ? Para jurar, para<br />

golp e ar, para ac e n ar, para pedir a palavra... ? O que estav a<br />

errad o?<br />

4. Com qual parte de m e u ser, neglig e n ci a d a até ag or a,<br />

sou forçad o a m e ocup ar?<br />

Tensão nos ombro s<br />

Tens õ e s que pod e m che g ar ao total endur e ci m e n t o do<br />

mús c ul o nos o m br o s e na regiã o sup erior <strong>da</strong>s co sta s têm<br />

estreita relaç ã o co m proble m a s de so br e c a r g a na regiã o <strong>da</strong>s<br />

vértebr a s lom b ar e s inferiores. Pois tudo o que colo c a m o s (ou<br />

que nos colo c a m ) so br e os o m br o s termin a finalm e nt e por<br />

pres si o n ar a pélvis. Assim co m o ac o nt e c e co m as dore s nas<br />

costa s, não são as carg a s que o m br e a m o s con s ci e nt e- m e nt e e<br />

co m gosto que nos caus a m m ol é stias, e sim aqu el a s<br />

obriga ç õ e s que arrasta m o s con o s c o de m an eir a incon s ci e nt e e<br />

não ad miti<strong>da</strong>. Quando esta m o s á altura de um a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e , nós a agü e nta m o s . Aquilo que carreg a m o s<br />

con s ci e nt e- m e nt e, seja con cr et o ou sim b ólic o, é suportáv el,<br />

ain<strong>da</strong> que seja objetiva m e n t e pes a d o . Mas aquilo pelo qual não<br />

nos resp o n s a biliza m o s e não ad mitim o s torna- se rapi<strong>da</strong> m e n t e<br />

insuportáv el. Quem, con s ci e nt e e voluntaria m e n t e , suportou o<br />

pes o e a dura resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e de sua vi<strong>da</strong>, exib e o m br o s<br />

fortes co m os corresp o n d e n t e s mús c ul o s treinad o s . Quem, ao<br />

contrário, suporta m e n o s , ma s contra a vontad e ou de form a<br />

incon s ci e nt e, sente a carg a m ais pes a d a e seus mús c ul o s se<br />

34<br />

0


torna m rígido s e seus o m br o s , devid o ao des g a s t e , do e m .<br />

A lição diz que é precis o ter clara para si a so br e c a r g a, para<br />

confrontar aquilo que se tom o u so br e si de m an eir a con s ci e nt e<br />

e incon s ci e nt e e o que, diss o, oprim e e tension a. Pode- se<br />

entã o optar con s ci e nt e m e n t e entre continuar suportand o - o<br />

voluntaria m e n t e ou se é precis o des c arr e g á - lo, porqu e se<br />

tornou insuportáv el e torna a vi<strong>da</strong> arra sta d a. Som e nt e se pod e<br />

livrar <strong>da</strong>quilo que real m e nt e se con h e c e .<br />

P er g u nta s<br />

1. O que pes a so br e mi m e m e so br e c arr e g a ? O que m e<br />

oprim e?<br />

2. O que assu mi se m queixar- m e, m a s co m secr eta má<br />

vontad e? O que assu mi so b protesto?<br />

3. Que dev er e s , que resp o n s a bili<strong>da</strong>d e s pes a m so br e mi m?<br />

4. O que quer o carreg ar? O que precis o suportar? O que<br />

gostaria de não ter mais de agü e nt ar?<br />

34<br />

1


8<br />

Os Braço s<br />

Noss o s braç o s subdivide m - se e m braç o e ante br a ç o , ligado s<br />

pela articulaç ã o do cotov el o. Os braç o s sim b oliza m a en er gia e<br />

a força, são por assi m dizer nos s a s forças arm a d a s pes s o ai s.<br />

Os joven s apo nta m para seus bíc ep s, os mús c ul o s que dobra m<br />

os braç o s , quan d o de m o n s tr a m sua força para impre s si o n ar.<br />

Torna m o - nos cap az e s de m anipular por m ei o dos ante br a ç o s ,<br />

já que neles estã o todo s os mús c ul o s que per mite m os<br />

m o vi m e nt o s <strong>da</strong>s m ã o s . Os cotov el o s , articulaç õ e s e m form a de<br />

dobra diç a, colo c a m e m jogo aqu el a s pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

alavanc a por m ei o <strong>da</strong>s quais pod e m o s apan h ar tudo aquilo que<br />

co biç a m o s . Ter braç o s long o s sim b oliza exer c er grand e<br />

influên cia, pres si o n ar um a alavanc a mais long a significa<br />

tam b é m ter m ais pod er. Além diss o, eles reflete m tam b é m<br />

noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a. Assim, nos s a s extre mid a d e s<br />

sup erior e s m o stra m noss a força, noss a flexibili<strong>da</strong>d e e noss a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e no trato co m o mun d o , co m o tom a m o s nos s a vi<strong>da</strong><br />

nas mã o s e va m o s ao enc o ntr o de outras pes s o a s .<br />

O âm bito interp e s s o al torna- se esp e ci al m e n t e ac e s s í v el por<br />

m ei o deles, já que são os tentáculo s que estend e m o s e m<br />

direç ã o ao mun d o e seus habitantes. Herman Weidelen er<br />

relacion a os braç o s co m a pobr ez a [Ar m = braç o / Armut =<br />

pobr ez a]. Partindo <strong>da</strong> ser e nid a d e [Gleich m ut ] co m o postura<br />

espiritual inata, ele vê a pobr ez a surgir quan d o saí m o s <strong>da</strong><br />

ser e nid a d e . Portanto, o ânim o [Mut ] dos braç o s torna- se<br />

sím b ol o de pobr ez a espirítual.<br />

Braço s saud á v ei s são prop or cion ai s ao corp o e, nest e<br />

quadr o, são tanto vigor o s o s co m o flexíveis, confiáv ei s e<br />

m ó v ei s, fortes e suav e s . Eles pod e m fech ar- se violenta m e n t e e<br />

abraç ar co m ternura, reter e m ant er distante do corpo, ser<br />

gen er o s o s e tam b é m agarrar co m decis ã o ; pod e m ag arrar os<br />

outros so b os braç o s quan d o precis a m de aju<strong>da</strong>, e tam b é m<br />

34<br />

2


ficar imóv ei s en qu a nt o algu é m m orr e de fom e. Quando não se<br />

leva algu é m a sério, pod e- se e m vez diss o tomá- lo no s bra ç o s<br />

e fazê- lo regr e dir à etap a infantil.<br />

Caso os braç o s não corresp o n d a m a es s e ideal, há niss o<br />

uma declara ç ã o so br e seu proprietário. Além de sua força e<br />

pod er, braços pes a d o s e musculosos m o stra m , entre outras<br />

cois a s, um a certa lentidã o e falta de flexibili<strong>da</strong>d e. Pode ser que<br />

lhes falte o sentido para as sutilezas e tam b é m , ás vez e s , tato.<br />

Eles dão um a impre s s ã o bruta e gros s eir a e, esp e ci al m e n t e ao<br />

an<strong>da</strong>r, balan ç a m de m o d o algo acanhado e, alé m diss o,<br />

des aj eitad o. Os proprietário s dão a impres s ã o de que eles<br />

m e s m o s não se dão conta des s a s pod er o s a s ferra m e n t a s . Mas<br />

pod e ser tam b é m que eles dê e m pes o a seu pes o,<br />

esp e ci al m e n t e quan d o se esforç ar a m tanto para que<br />

incha s s e m de form a tão impre s si o n a nt e. As corresp o n d e n t e s<br />

ma s s a s de mús c ul o s dos halterofilistas dev eria m ser vistas <strong>da</strong><br />

m e s m a man eira que os om br o s resp e ctivo s.<br />

O pólo opo st o é form a d o por braços fracos, co m o que<br />

atras a d o s e m seu des e n v o l vi m e n t o . Eles expres s a m a falta de<br />

cap a cid a d e para abraç ar e apod er ar- se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Partindo de<br />

uma sen s a ç ã o de impotên ci a, eles mal estã o e m con diç õ e s de<br />

segur ar aquilo de que precis a m , pers e v e r ar naquilo que lhes é<br />

importante e m ant er distante de si aquilo que não suporta m . A<br />

partir diss o, Wilhelm Reich deduz que a vi<strong>da</strong> de tais pes s o a s<br />

destac a- se pela "falta de iniciativa". É frequ e nt e que a elas se<br />

so m e m m ã o s frias, ac e ntuand o quã o pouc o calor o s o e<br />

afetuo s o é o contato dos afetad o s co m o mun d o 70 .<br />

Braço s finos e fortes, que lem br a m as patas de uma aranh a,<br />

rev ela m um ser que esten d e a m ã o para aquilo que quer, que<br />

talvez seja até m e s m o imp ertin ent e, m a s que tam b é m muitas<br />

vez e s suporta proble m a s . Há neles a tend ê n ci a à rigidez, e a<br />

falta de flexibili<strong>da</strong>d e e de habili<strong>da</strong>d e pod e tornar- se evid e nt e.<br />

Lembr and o pinças, eles tend e m a aprov eitar as oportuni<strong>da</strong>d e s<br />

e muitas vez e s , tam b é m , à apropriaç ã o . Movimento s terno s,<br />

flexíveis e suav e s lhes são na ver<strong>da</strong>d e estran h o s .<br />

Braço s gord o s e fraco s atua m de m an eira des aj eitad a e até<br />

34<br />

3


m e s m o des a str ad a. Eles têm um jeito indolent e e deixa m<br />

entrev er pouc a m o bili<strong>da</strong>d e e alegria de viver, seu próprio pes o<br />

lhes é de m a si a d o , assi m co m o a carg a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Eles custa m a<br />

se pôr e m m o vi m e nt o e deixa m a des ej ar quanto a dina mi s m o ,<br />

força e tam b é m flexibili<strong>da</strong>d e.<br />

1. Problemas dos braços<br />

Fraturas dos braço s<br />

Um braç o que br a d o sim b oliza uma relaç ã o rompi<strong>da</strong> co m o<br />

mund o. Perdeu- se o controle <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não se pod e m ais<br />

ag arrar ne m apan h ar na<strong>da</strong>, não se pod e mais trazer o mun d o a<br />

si ne m participar de ativi<strong>da</strong>d e s nor m ai s. A pes s o a está<br />

incap a citad a para agir. Caso o braç o direito seja afetad o, não<br />

se pod e ne m m e s m o assinar o próprio no m e e é precis o<br />

resign ar- se, o que é o m e s m o que retirar a própria assinatura<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Em algu m a s culturas antigas, que br a v a- se ou<br />

am putava- se o braç o dos ladrõ e s . Dess a m an eir a, eles era m<br />

total ou temp or aria m e n t e forçad o s a abdic ar de seu ofício. Os<br />

ladrõ e s desig n a m a invas ã o de um a cas a co m o "que br ar", e m<br />

ec o n o m i a um a que br a é algo igualm e nt e fatal, dá na mes m a se<br />

algué m é roub a d o direta ou indireta m e n t e atrav é s <strong>da</strong> que bra<br />

<strong>da</strong>s cotaç õ e s . Sempr e, trata- se de um a continui<strong>da</strong>d e até entã o<br />

confiáv el que se romp e abrupta e dolor o s a m e n t e .<br />

Nas fraturas, a tarefa a ser apren di<strong>da</strong> con sist e e m<br />

interro m p e r con s ci e nt e m e n t e o padrã o de vi<strong>da</strong> e m pr e e n di d o .<br />

Com o veredicto de "incap a citad o para agir", o sinto m a<br />

esta b el e c e a m oldura extern a. O braç o que cai fora é<br />

significativo: o direito, co m o qual abrim o s ca minh o , ou o que<br />

ped e, o es qu er d o . Ao m er gulhar no repous o rec eitad o , dev e m<br />

resultar indicaç õ e s de co m o no futuro a alternânci a pod eria<br />

introduzir- se na vi<strong>da</strong> so b a form a de tens ã o e relaxa m e n t o . A<br />

ev oluç ã o do ac o nt e ci m e n t o que levou á fratura repre s e nt a a<br />

lição a ser apren di<strong>da</strong> so b a form a física, não liberad a. Um<br />

34<br />

4


m o vi m e nt o inusual ou exa g er a d o e m sua exten s ã o elev a a<br />

tens ã o de form a dra m átic a até que o relaxa m e n t o volta a<br />

esta b el e c e r- se quan d o o os s o ced e . Tais ac o nt e ci m e n t o s são<br />

igual m e nt e pen s á v ei s e con cr eta m e n t e têm m ais lógica e m<br />

sentido figurad o.<br />

À parte os des vi o s <strong>da</strong> lei <strong>da</strong>s alavan c a s , o gros s o <strong>da</strong>s<br />

fraturas de braç o oc orr e m devid o a que<strong>da</strong>s. Estas co m p õ e m<br />

e m geral a maior parte dos acidentes . A que d a nos põ e e m<br />

contato co m um a probl e m á tic a hum a n a primordial: a qued a <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e paradisíac a na polari<strong>da</strong>d e . Outras culturas utilizam<br />

outras imag e n s , mas nen hu m a es c a p a des s e padrã o primordial<br />

<strong>da</strong> rejeiç ã o de seu criador por parte do ho m e m e de sua qued a<br />

final. Na Antigui<strong>da</strong>d e, a hybris, a reb eliã o do ho m e m contra<br />

Deus, era con sid er a d a o único pec a d o . O ho m e m precis av a<br />

assu mi- la cas o quis e s s e perc orr er o ca minh o do<br />

des e n v olvi m e nt o . O exe m pl o de Prom et e u m o stra a fas e <strong>da</strong><br />

rejeiçã o de form a explicita quan d o traz o fogo ao s ho m e n s ,<br />

contrariand o a orde m dos deus e s . Ele cai fundo dep ois diss o, e<br />

a puniçã o que tem de suportar até sua liberaç ã o é drástica.<br />

O sim b olis m o é se m el h a nt e quan d o que br a m o s noss o s<br />

oss o s , quan d o o plano corp or al torna- se incap a citad o para<br />

tentativas de rejeiç ã o . Nós exag er a m o s algo e contraria m o s as<br />

leis de nos s a naturez a. Segu e- se a puniçã o, e m b o r a a<br />

m e n s a g e m evid e nt e m e n t e não seja: jam ais ous ar nova m e n t e ,<br />

jam ais voltar a ultrapas s ar as fronteiras. Ao contrário, é precis o<br />

atrev er- se a viver e a con sid er ar a vi<strong>da</strong> co m o um des afio.<br />

Quanto m ais diversi<strong>da</strong>d e é introduzi<strong>da</strong> no curs o fixo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

m e n o s o tem a che g a ao s os s o s . Na m ai oria dos cas o s , o local<br />

fraturad o torna- se m ais firme ain<strong>da</strong> por m ei o <strong>da</strong> form a ç ã o de<br />

um calo. Quando uma fratura óss e a não se cura direito, isso é<br />

sinal de que os pas s o s intern o s não fora m suficiente s e o<br />

des a c o r d o que persiste reflete- se no corp o.<br />

Precisa m o s se m pr e arrisc ar cair e m nos s o ca min h o . Uma<br />

que d a dev eria ser um a oportuni<strong>da</strong>d e para deter- se e procurar<br />

outros ca minh o s , so br etud o ca min h o s nov o s que se desvi e m<br />

do trote co stu m eir o. É precis o romp er a continui<strong>da</strong>d e e colo c ar<br />

34<br />

5


os fun<strong>da</strong> m e n t o s anterior e s, já firme s, e m questã o ,<br />

esp e ci al m e n t e quan d o resulta difícil.<br />

P er g u nta s<br />

1. Qual de m e u s lado s, o m a s c ulino ou o feminino, está tão<br />

en c alh a d o que um a interrupç ã o se fez nec e s s á ria?<br />

2. Até que ponto eu não só tinha es s a parte de mim so b<br />

control e, mas a estav a estran g ulan d o ?<br />

3. Será que a fratura foi nec e s s á ri a para romp er a<br />

m o n ot o ni a? O que a varied a d e que ve m co m a fratura traz para<br />

mi m?<br />

4. Onde é que as convic ç õ e s são firme s de m ai s, os<br />

con c eito s se torna m prec o n c eito s , ond e tensio n ei e exag er ei<br />

de m ai s as coisa s?<br />

5. Onde é que m eu ca min h o exig e m ais liber<strong>da</strong>d e (de<br />

m o vi m e nt o)?<br />

6. Com o an<strong>da</strong> minha cora g e m para ir até os limites e<br />

ultrapas s á- los e m sentido figurad o?<br />

7. Com o pos s o trazer para minha vi<strong>da</strong> varied a d e , tens ã o e<br />

relaxa m e n t o que faça m sentido?<br />

Inflamação dos tendõe s<br />

A inflam a ç ã o dos tend õ e s deriva igualm e nt e de um esforç o<br />

exc e s siv o, e m b o r a não de pod er o s a s aç õ e s de alavan c a<br />

exa g er a d a s e golp e s violento s, ma s de pequ e n o s m o vi m e n t o s<br />

de contraç ã o rep etido s, tal co m o oc orr e m ao digitar ou tricotar<br />

de man eira en c arniç a d a. Aqui tam b é m não é a ativi<strong>da</strong>d e e m si<br />

que provo c a proble m a s , m a s sua execuç ã o contraí<strong>da</strong>. Tricotar,<br />

natural m e nt e, pod e ser relaxante. Mas que m afirma isso so br e<br />

sua ativi<strong>da</strong>d e de tricotar e ain<strong>da</strong> por cim a des e n v o l v e um a<br />

inflam a ç ã o dos tend õ e s m o stra, simpl e s m e n t e , que não tem<br />

con s ci ê n ci a do quanto está contraíd o. Algo que não é de form a<br />

algu m a relaxant e se insinua entre as malh a s se m ser notad o.<br />

Talvez algué m dev a ser atraído ou dev a cair nes s a s m alha s<br />

co m o a m o s c a na teia <strong>da</strong> aranh a. Tais m otivaç õ e s prenh e s de<br />

34<br />

6


destino pod e m en c h er de tens ã o a ativi<strong>da</strong>d e m ais relaxant e. O<br />

conflito incon s ci e nt e inflam a- se entã o na bainh a dos tendõ e s ,<br />

já que eles são as cor<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s quais tudo ou, de qualqu er<br />

form a, pelo m e n o s a força dos mús c ul o s, dep e n d e . Em vez de<br />

suportar a força m o d e s t a m e n t e , eles provo c a m dificul<strong>da</strong>d e s e,<br />

co m gritos de dor, força m um des c a n s o para si e, para seus<br />

proprietários, um a paus a para m e ditaç ã o . To<strong>da</strong> terapia<br />

des e m b o c a r á no repous o , seja pela razã o no m o m e n t o<br />

oportun o ou, mais tarde, pelo ge s s o .<br />

A lição oculta, no entanto, so m e n t e tem o repous o co m o<br />

objetivo sup erficial. A partir dele seria nec e s s á ri o que se<br />

des e n v olv e s s e a con s ci ê n ci a <strong>da</strong> doloro s a situaç ã o . Os<br />

pacient e s dev eria m tornar- se tão con s ci e nt e s de sua ativi<strong>da</strong>d e<br />

a ponto de rec o n h e c e r o sentido mais profund o e as intenç õ e s<br />

co m ele relacio n a d a s . Os mús c ul o s contraíd o s revela m<br />

resistên ci a. É precis o des c o b rir contra que esta se dirige. O<br />

forte atrito caus a d o pela resistên ci a pod e ser sentido e quas e<br />

que ouvido na sen si bili<strong>da</strong>d e doloro s a <strong>da</strong> inflam a ç ã o<br />

con s u m a d a na bainh a dos tendõ e s . O tendã o , so b a tens ã o e a<br />

dor, pratica m e n t e rasg a a bainha que o env olv e, to<strong>da</strong> a<br />

flexibili<strong>da</strong>d e é eliminad a e m prol de um esforç o fatigante,<br />

segun d o o lem a "ag or a sim". Sempr e há, portanto, um certo<br />

en c arniç a m e n t o na inflam a ç ã o <strong>da</strong> bainh a do tendã o . É precis o<br />

m ord er os dente s para ignorar os sinais de adv ertên ci a que<br />

pod e m ser sentido s co m nitidez, ir e m frente e m er g ulh ar no<br />

sinto m a totalm e nt e des e n c a d e a d o .<br />

Os pan o s de fundo pod e m variar, natural m e nt e ne m se m pr e<br />

se trata de um pulôv er que dev e ficar pronto rapi<strong>da</strong> m e n t e . Essa<br />

situaç ã o é típica unica m e n t e porqu e expr e s s a o conflito entre o<br />

des ej o con s ci e nt e de eficiên cia e con clus ã o do trabalh o e a<br />

resistên ci a incon s ci e nt e e m relaç ã o à obra. A bainha dos<br />

tend õ e s tam b é m pod e incorrer e m conflitos cand e nt e s co m<br />

outros trabalh o s manuais tais co m o a <strong>da</strong>tilografia. As<br />

ocup a ç õ e s m e n ci o n a d a s têm e m co m u m a m o n ot o ni a dos<br />

m o vi m e nt o s que não são can s ativo s ou es g otad o r e s e m si e a<br />

resistên ci a não ad miti<strong>da</strong> que se en c arn a e ao m e s m o temp o se<br />

34<br />

7


es c o n d e na bainh a dos tend õ e s .<br />

Não se trata de nen hu m a grand e resistên ci a perigo s a co m<br />

tend ê n ci a a sair <strong>da</strong>nd o golp e s - esta dev eria m o strar- se nos<br />

mús c ul o s dos braç o s - ma s de uma resistên ci a con sta nt e, be m<br />

es c o n di d a (na bainha dos tend õ e s), que tam b é m se oculta<br />

habilm e nt e e m sentido figurad o por trás de racion alizaç õ e s tais<br />

co m o "ma s eu go sto tanto de fazê- lo para ele (ou para as<br />

crianç a s), e na ver<strong>da</strong>d e eu só o faço por am or". É pos sív el,<br />

e m b o r a difícil, executar por am or ou amizad e um a ativi<strong>da</strong>d e<br />

m o n ót o n a que não gera nen hu m a alegria e que, no fundo do<br />

coraç ã o , deixa insatisfeito. Fazer co m entreg a algo<br />

m ortal m e nt e ab orr e cid o é quas e impo s sí v el co m o pen s a m e n t o<br />

objetivo dirigido a uma m eta deter min a d a. Isso so m e n t e<br />

funcion a mo m e n t a n e a m e n t e co m o entreg a ritual.<br />

O probl e m a se torna esp e ci al m e n t e nítido quan d o a<br />

inflam a ç ã o surg e e m ativi<strong>da</strong>d e s que não se sa e m be m na<br />

avaliaç ã o geral. Onde "tricotad o pela própria pes s o a " e<br />

sinôni m o de falta de ele g â n ci a, não é de ad mirar que isso não<br />

produz a nenhu m a satisfaç ã o profun<strong>da</strong>. Quem <strong>da</strong>tilografa o que<br />

outro pens o u precis a ter um a profun<strong>da</strong> identificaç ã o co m es s a<br />

pes s o a para sentir- se be m co m es s e trabalh o "alien ad o". É<br />

freqü e nt e que e m tais ativi<strong>da</strong>d e s des e n v o l v a m - se resistên ci a s<br />

que solap a m a m otivaç ã o . Em vez de continuar fazend o- o<br />

co m o até entã o, uma ver<strong>da</strong>d eira prev e n ç ã o e m relaç ã o à<br />

inflam a ç ã o <strong>da</strong> bainh a dos tendõ e s seria es clar e c e r seu<br />

co m p o rta m e n t o e m relaç ã o a es s a ativi<strong>da</strong>d e, tratar de fazer<br />

uma paus a quan d o for o cas o (antes <strong>da</strong> paus a força<strong>da</strong> pelo<br />

ges s o), mud ar o trabalh o ou a postura e m relaç ã o a ele.<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o an<strong>da</strong> m eu cora ç ã o e m relaç ã o à minh a ativi<strong>da</strong>d e?<br />

2. Que objetivo s (tens o s ?) eu persig o e m se gr e d o co m<br />

ela? Que m otivaç ã o , no fundo, tricota, <strong>da</strong>tilografa ou atua e m<br />

conjunto?<br />

3. Quão enc arniç a d a m e n t e eu persig o intenç õ e s secr eta s ?<br />

4. O que tenh o secr eta m e n t e contra m eu trabalh o? De<br />

34<br />

8


ond e ve m minha resistên ci a, a que se relacio n a exata m e n t e ?<br />

5. Em que m e did a ela tem a ver co m a valoraç ã o geral do<br />

m e u trabalh o? Não m e con sid er o cap az de mais ativi<strong>da</strong>d e s<br />

co m mais resp o n s a bili<strong>da</strong>d e ?<br />

6. Com o m e relacion o co m a m o n ot o ni a? Poss o ver<br />

tam b é m seu asp e ct o ritual ou so m e n t e a estupid ez?<br />

2. O cotovelo<br />

Com seu auxilio pod e m o s trazer o mun d o até nós e nele<br />

abrir ca minh o ao s so c o s . É a alavanc a clás sic a co m a qual<br />

colo c a m o s to<strong>da</strong> s as alavan c a s e m m o vi m e n t o , co m a qual<br />

afasta m o s os outros de nós ou os atraí m o s carinh o s a m e n t e .<br />

Alguns trabalha m co m ligadura s tão duras que des e n v olv e m<br />

uma couraç a de es c a m a s nos cotov el o s . A psorías e* tem aqui<br />

um de seus lugare s de apariçã o m ais freqü e nt e s . Não é raro<br />

que ela co m e c e a partir des s e lugar. As sup erfície s<br />

endur e ci<strong>da</strong> s são uma esp é ci e de cotov el eira portad or a de<br />

conflitos. As peç a s de vestuário co m reforç o s nes s e s ponto s,<br />

seja de fabricaç ã o ou dep ois de se des g a st ar e m , m o stra m o<br />

quanto elas pod e m ser nec e s s á ri a s. Abrir ca min h o co m a aju<strong>da</strong><br />

dos cotov el o s é um a expr e s s ã o bastant e co m u m e m várias<br />

língua s ocid e ntais.<br />

O sinto m a am pla m e n t e difundido do braç o de tenista está<br />

bas e a d o e m um esforç o exc e s siv o provo c a d o pela utilizaç ã o<br />

imprópria co m o alavan c a. É um exe m pl o clás sic o <strong>da</strong> existên cia<br />

paralela e simultân e a do impuls o de golp e ar e <strong>da</strong> inibiçã o do<br />

golp e. A raqu et e, sen d o um a exten s ã o do braç o, aum e nt a<br />

en or m e m e n t e a força <strong>da</strong> alavan c a . Então, quan d o se joga e m<br />

uma postura tens a, talvez so b muita pres s ã o para obter<br />

resultad o s ou co m am bi ç ã o e m p e rr a d a, a articulaç ã o <strong>da</strong><br />

alavanc a é força<strong>da</strong> e o co m u ni c a por m ei o <strong>da</strong> dor. Em si, todo<br />

o nec e s s á ri o voltaria ao bo m ca min h o co m isso. Um cotov el o<br />

dolorido contrap õ e - se a continuar jogan d o e provid e n ci a a<br />

nec e s s á ria paus a para m e ditaç ã o , durante a qual o jogad or<br />

34<br />

9


pod e testar suas razõ e s profun<strong>da</strong> s para tais m o vi m e nt o s<br />

exc e s siv o s . A cois a so m e n t e se torna probl e m á tic a quan d o os<br />

afetad o s não dão ouvido s ao claro aviso do corp o e continua m<br />

raqu et e a n d o se m pied a d e ,jogand o os outros contra a pare d e .<br />

A lição a ser aprendid a seria enten d er a idéia do jogo e jogar<br />

de man eira esp ortiva. Aquilo que se falou so br e o cotov el o de<br />

tenista não vale natural m e nt e só para o tênis, ma s para to<strong>da</strong>s<br />

as situaç õ e s análo g a s corresp o n d e n t e s . Mesm o que m nunc a<br />

segur o u um a raqu et e de tênis nas mã o s pod e sofrer des s e<br />

mal.<br />

P er g u nta s<br />

1. O que quer o real m e nt e quan d o ponh o to<strong>da</strong> s as<br />

alavanc a s e m m o vi m e nt o (empr e g o todo s os m ei o s<br />

disponív ei s)? Quem eu quer o tirar <strong>da</strong> jogad a? Onde eu<br />

exa g er o no empr e g o <strong>da</strong>s minh a s alavan c a s ?<br />

2. A que avis o s para des c a n s a r eu deixei de aten d er?<br />

3. Que resistên ci a se m o v e junto quan d o m o v o minh a s<br />

alavanc a s ?<br />

4. Que m otivo s não ad mitido s (que am bi ç ã o ?) se<br />

alavanc a m e m mi m? Que golp e s reb ota m de volta e m mi m e<br />

m e ab ala m (minha articulaç ã o)? Para que m eles fora m<br />

real m e nt e pen s a d o s ?<br />

35<br />

0


9<br />

As Mãos<br />

Elas são nos s o s órgã o s m an ej a d o r e s , co m os quais<br />

segur a m o s e agarra m o s , tom a m o s a vi<strong>da</strong> nas mã o s , faze m o s a<br />

paz, trata m o s dos do e nt e s , ac aricia m o s e ab e n ç o a m o s , m a s<br />

tam b é m manipula m o s (do latim: man a s = mã o). Palavras tais<br />

co m o "apre e n d e r" m o stra m co m o elas estã o próxim a s <strong>da</strong>s<br />

funçõ e s sup erior e s. Para pod er apre e n d e r algu m a cois a é<br />

precis o tom á- la na m ã o e m sentido figurad o, e isso oc orr e de<br />

man eira análo g a a agarrar algo. Quando ag arra m o s , o pole g ar<br />

m o v e- se e m opo siç ã o ao s ded o s . Quando quer e m o s<br />

apre e n d e r algo, rec orr e m o s igualm e nt e à opo siç ã o . Som e nt e<br />

enten d e m o s "rico" co m a aju<strong>da</strong> de "pobr e", "grand e" torna- se<br />

con c e b í v el para nós atrav é s de "pequ e n o " e "bo m" rem et e- se a<br />

"mau". No mund o polar, to<strong>da</strong> apre e n s ã o e co m pr e e n s ã o<br />

precis a dos contrários. A mã o o explicita anato mi c a m e n t e .<br />

O lequ e de pos sibili<strong>da</strong>d e s de nos s a s mã o s torna explicito o<br />

princípio fun<strong>da</strong> m e n t al do qual elas dep e n d e m . É<br />

Herm e s/Mercúrio, o deus do co m é r ci o [em ale m ã o ,<br />

Hand el /Hand = m ã o] e dos neg ó ci o s [Verhand eln], dos ofícios<br />

[Hand werk] e <strong>da</strong> destrez a ma nual, um neg o ci a d o r<br />

[Unter händ ler] tão hábil co m o refinad o, resp o n s á v el pela<br />

co m u nic a ç ã o entre deus e s e ho m e n s , m a s tam b é m entre os<br />

ho m e n s .<br />

As m ã o s são órg ã o s muito individuais. Não existe m duas<br />

mã o s iguais entre si. Os criminalistas utilizam es s e fato quan d o<br />

esta b el e c e m identi<strong>da</strong>d e s a partir do padrã o de linhas <strong>da</strong>s<br />

impres s õ e s digitais. No âm bito <strong>da</strong> co m u ni c a ç ã o não- verb al, as<br />

mã o s são tão confiáv eis co m o a bo c a e significativa m e n t e mais<br />

sinc er a s que os conteú d o s procla m a d o s . Até m e s m o sua<br />

temp er atura per mite tirar con clus õ e s important e s. Mãos<br />

quentes expres s a m o des ej o de contato, elas vê m do cora ç ã o<br />

co m o o san gu e que as es q u e nt a 70 . Mãos frias, ao contrário,<br />

35<br />

1


falam de distân cia. Elas não estã o be m irriga<strong>da</strong> s de san gu e e<br />

deixa m entrev er que seu pos s uid or retê m sua en er gia vital e<br />

não procura o en c o ntro. Nas mãos sua<strong>da</strong>s e frias vibra,<br />

adicion al m e n t e , o m e d o . Quando algu é m co m e ç a a suar frio,<br />

sent e- se mais ator m e nt a d o que co m u ni c ativo.<br />

A impres si o n a nt e sinc eri<strong>da</strong> d e <strong>da</strong>s m ã o s e sua pele sinc er a<br />

são utiliza<strong>da</strong> s na psicoter apia quan d o , durante a se s s ã o ,<br />

m e di m o s e ob s erva m o s a resistên ci a <strong>da</strong> pele. Vale a pen a,<br />

esp e ci al m e n t e e m fas e s críticas, conv er s ar direta m e n t e co m a<br />

pele do pacient e, já que suas resp o st a s são mais diretas e têm<br />

m e n o s res erv a s . Enquanto seus pos s uid or e s ain<strong>da</strong> dão um a<br />

impres s ã o bastant e cool, suas mã o s já pod e m de m o n s tr ar uma<br />

grand e agitaç ã o que ab s oluta m e n t e não ch e g o u ain<strong>da</strong> à<br />

con s ci ê n ci a do afetad o . É a pele <strong>da</strong> mã o , portanto, que<br />

trans mite o es s e n ci al <strong>da</strong>s profund ez a s <strong>da</strong> alm a.<br />

Mãos fortes, be m irriga<strong>da</strong> s e que já ao cumpri m e nt ar<br />

ag arra m calor o s a m e n t e , m o stra m algu é m que está<br />

ac o stu m a d o a lançar m ã o e tom ar a vi<strong>da</strong> nas próprias m ã o s .<br />

Em co m p ar a ç ã o a estas, há mã o s que são ab and o n a d a s ao<br />

cumpri m e nt ar. Esse m o d el o "chorã o" quer dizer: "Você pod e<br />

fazer o que quis er co mi g o , eu não tenh o nen hu m a preten s ã o<br />

(na vi<strong>da</strong>)". Finalm e nt e, dev eria m e n ci o n ar- se ain<strong>da</strong> as mãos<br />

sensíveis , que sent e m e expres s a m muito se m grand e ênfas e<br />

física. Elas perten c e m a pes s o a s se m e l h a nt e s . Entre elas, há<br />

todo s os tipos de gra<strong>da</strong> ç ã o . Som e nt e o fato de que cad a<br />

pes s o a tem sua própria caligrafia tanto con cr eta m e n t e co m o<br />

e m sentido figurad o m o stra as am pla s pos sibili<strong>da</strong>d e s de<br />

expr e s s ã o <strong>da</strong>s mã o s .<br />

O fato de que estend a m o s as mã o s para saud ar e para nos<br />

des p e dir pod e ter sua orige m e m um a ép o c a e m que as<br />

pes s o a s , mais intuitiva m e n t e dotad a s , apre e n dia m a lingua g e m<br />

<strong>da</strong>s m ã o s de man eira óbvia. Quando ain<strong>da</strong> hoje sela m o s<br />

neg ó ci o s co m um aperto de m ã o s , isso é tam b é m um sím b ol o<br />

de sinc eri<strong>da</strong> d e . Ao apertar as m ã o s , pod e- se sentir se o<br />

neg ó ci o está em ord e m e é sustentáv el para as duas partes.<br />

A linguag e m <strong>da</strong>s mã o s , portanto, per mite que se<br />

35<br />

2


co m pr e e n d a muito se m que se rec orra à expres s ã o <strong>da</strong>s linhas<br />

<strong>da</strong>s mã o s ou se avalie a caligrafia. Até m e s m o tais m ét o d o s ,<br />

con sid er a d o s ocultistas, têm enc o ntrad o cres c e n t e<br />

rec o n h e c i m e n t o . Recent e m e n t e , um grupo de m é dic o s ingles e s<br />

pod e co m pr o v ar um a relaç ã o convinc e nt e entre o co m pri m e nt o<br />

<strong>da</strong> linha <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o co m pri m e nt o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> s es s a s<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s m o stra m co m o as m ã o s são expres sivas e<br />

individuais e quã o clara m e n t e elas, sen d o nos s a s m elh or e s<br />

ferra m e n t a s , torna m a obra de nos s a vi<strong>da</strong> apre e n s í v el. Elas<br />

m o stra m proble m a s de contato e estruturas de co m u ni c a ç ã o ,<br />

m o stra m noss a habili<strong>da</strong>d e para esta b el e c e r ligaç õ e s e rev ela m<br />

noss a cap a ci<strong>da</strong>d e de assu mir co m pr o m i s s o s .<br />

1. Contração de Dupuytren ou mão torci<strong>da</strong><br />

Neste sinto m a , a plac a de tend õ e s <strong>da</strong> sup erfície interna <strong>da</strong><br />

mã o , co m e ç a n d o pelo ded o mínim o , vai se contraind o<br />

paulatina m e n t e . Com o tem p o , a mã o forços a m e n t e se fech a e<br />

torna explicito um variad o sim b olis m o . Por um lado ela é um<br />

sinal de insinc eri<strong>da</strong>d e , já que para selar algo co m o sen d o<br />

sinc er o é precis o <strong>da</strong>r a própria palavra, e para isso utiliza- se a<br />

mã o ab erta. Com o a palavra de honra tam b é m perc orr e o<br />

ca min h o ch ei o de sim b olis m o do aperto de m ã o s , pod e hav er<br />

na m ã o fech a d a, alé m <strong>da</strong> falta de sinc eri<strong>da</strong> d e , algo de indign o.<br />

Por outro lado, a m ã o fech a d a reflete estreitez a e, co m isso,<br />

angústia. Som a- se a isso a impres s ã o <strong>da</strong> contraç ã o . O poleg ar<br />

env olvido pelo s ded o s é um típico sinal de angú stia e de<br />

inse g ur an ç a nas crianç a s . Além do m e d o , o punh o fech a d o no<br />

bols o expres s a agr e s s ã o , e é freqü e nt e que am b o s and e m de<br />

mã o s <strong>da</strong>d a s. A insinc eri<strong>da</strong> d e está nova m e n t e pres e nt e, na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que esta mã o está es c o n di d a no bols o e as unha s,<br />

suas garras, na mã o . Caso o punh o fecha d o seja es c ol hid o<br />

con s ci e nt e m e n t e co m o sím b ol o, tal co m o o m o vi m e n t o<br />

trabalhista dispo st o à luta, o tem a <strong>da</strong> agre s s ã o e <strong>da</strong> luta é<br />

unívo c o , m a s na so m b r a do espírito de luta o m e d o está<br />

35<br />

3


se m pr e à espr eita. Na gestuali<strong>da</strong>d e cotidian a, o punh o fech a d o<br />

é sím b ol o de am e a ç a , vinganç a ou vontad e de luta. O poleg ar<br />

que se desta c a sozinh o e m relaç ã o ao s quatro ded o s é um<br />

sím b ol o de uni<strong>da</strong>d e e de individuali<strong>da</strong>d e . Caso esteja env olvido<br />

pelo s ded o s , res s alta- se tam b é m e m relaç ã o a isso a<br />

nec e s si d a d e de proteç ã o , que pod e ser alim e ntad a tanto pelo<br />

m e d o co m o pela agr e s s ã o que, co m o se sab e , é a m elh or<br />

defe s a.<br />

Finalm e nt e, o sím b ol o <strong>da</strong> mã o fecha d a, pod e expr e s s ar<br />

ain<strong>da</strong> a mania de se gr e d o s . Os afetad o s não quer e m falar de<br />

suas peculiari<strong>da</strong>d e s porqu e são muito tímido s e inse g ur o s, ou<br />

muito agr e s siv o s . O sinto m a, portanto, explicita por um lado<br />

falta de sinc eri<strong>da</strong>d e e intenç õ e s ocultas e, por outro, expres s a<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e disponív el m a s não vivi<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> s es s a s<br />

tend ê n ci a s e m seus man ej o s são natural m e nt e incon s ci e nt e s<br />

para os afetad o s , razão pela qual elas são en c e n a d a s no<br />

corp o. Além diss o, a m ã o nod o s a que se fecha é um a imag e m<br />

<strong>da</strong> rapaci<strong>da</strong>d e . No entanto, a ver<strong>da</strong>d e é que os afetad o s ,<br />

con cr et a m e n t e , não pod e m ne m <strong>da</strong>r ne m tom ar. Quem<br />

so m e n t e reté m e não m ais dá, natural m e nt e tamp o u c o rec e b e<br />

mais na<strong>da</strong>. Ele não pod e mais <strong>da</strong>r ne m m e s m o a mã o . Os<br />

ded o s curvad o s e m garras o m o stra m , assi m co m o os nós dos<br />

ded o s , que os afetad o s abraç a m per m a n e n t e m e n t e co m a<br />

mã o . Os nós sim b oliza m os probl e m a s que os afetad o s<br />

oculta m de todo o mun d o de man eira tão estrita que todo s<br />

volta m a notá- lo.<br />

Na imen s a maioria dos cas o s , as mã o s e seus man ej o s são<br />

afetad o s , e muito rara m e nt e a sola dos pés e o âm bito dos<br />

ponto s de vista. O lado afetad o per mite diferen ci ar ain<strong>da</strong> mais<br />

o quadr o. Ness e sentido, o co m p o rta m e n t o no âm bito so cial é<br />

muito es clar e c e d o r . Caso o lado es qu er d o seja afetad o , ele<br />

será es c o n did o na m e di<strong>da</strong> e m que as circunstânci a s o<br />

per mitire m e sofrerá exata m e n t e o m e s m o destino que o lado<br />

feminin o dos sentim e nt o s . Caso seja o direito, a coisa se torna<br />

social m e n t e mais difícil, ma s não m e n o s sinc er a. Para<br />

cumpri m e nt ar, a pes s o a é obriga d a a <strong>da</strong>r a m ã o es qu er d a. À<br />

35<br />

4


parte o fato de se m pr e <strong>da</strong>r um a impres s ã o algo ac anha<strong>da</strong> e<br />

des aj eitad a, sim b olic a m e n t e o fato é muito revelad o r. Escon d ese<br />

a mã o direita, que exer c e o pod er, e se exib e a inoc e nt e<br />

es qu er d a. Caso as duas m ã o s seja m afetad a s , não se pod e<br />

mais simular qualqu er franqu e z a, um cumpri m e nt o nor m al<br />

torna- se impo s sí v el. Caso se renun ci e totalm e nt e às<br />

de m o n s tr a ç õ e s de rec e p ç ã o calor o s a, isso tam b é m é sinc er o.<br />

Mas ag or a o rever s o <strong>da</strong> res erv a pod e apar e c e r quan d o , por<br />

exe m pl o, a pes s o a a ser saud a d a não quer renun ciar a um<br />

genuín o contato de saud a ç ã o . Ela pod e entã o, por exe m pl o,<br />

segur ar a m ã o fech a d a , env olv ê- la por fora e ao m e s m o tem p o<br />

aprision á- la. É justa m e n t e nas tentativas de cumpri m e nt ar que<br />

a probl e m á tic a se torna grafica m e n t e clara. Os afetad o s não<br />

estã o mais ab erto s para a vi<strong>da</strong>. Eles pod e m segur á- la tão<br />

pouc o co m o a m ã o estendi<strong>da</strong> para cumpri m e nt ar. Então, a<br />

trag é di a de sua situaç ã o torna- se clara tam b é m pelo fato de<br />

eles não pod er e m mais segur ar a m ã o que se estend e para<br />

aju<strong>da</strong>r ou salvar. Devido ao ávido e m p e n h o de lançar mã o de<br />

tudo (sobr etud o cois a s mat eriais) e não m ais soltá- lo, eles ao<br />

final não pod e m mais reter a vi<strong>da</strong> nas próprias m ã o s . Cham a a<br />

aten ç ã o o fato de co m freqü ê n ci a surgir, paralela m e n t e , um<br />

probl e m a de alco olis m o . Os afetad o s , co m isso, se co br e m de<br />

entulho e se es c o n d e m . Eles se fech a m sim b olic a m e n t e co m a<br />

mã o . Seu ser está e m sua s mã o s e so m e n t e ai torna- se visível<br />

para todo s, razão pela qual as mã o s são es c o n did a s .<br />

Com m ã o s desfigura<strong>da</strong> s , contorci<strong>da</strong> s, o fech a m e n t o "limpo"<br />

de neg ó ci o s torna- se tam b é m impo s sív el, já que dev e m ser<br />

selad o s co m um aperto de m ã o . A contraç ã o imp e d e o contrato<br />

sinc er o, e deixa- se entrev er o es c ur o lado so m b ri o do pacto, no<br />

qual os dois lado s oculta m intenç õ e s não declarad a s . Trata- se,<br />

por assi m dizer, de um neg ó ci o feito por baixo do pan o.<br />

A lição é voltar a viven ci ar a quali<strong>da</strong>d e dos próprios m an ej o s<br />

e colo c ar- se de seu lado ape s ar <strong>da</strong>s ass o ci a ç õ e s neg ativa s.<br />

Trata- se de ad mitir para si m e s m o que se quer ag arrar e<br />

con s erv ar coisa s para si e que se abriga intenç õ e s que não<br />

dev e m ser ab erta s ao público. Caso o eg oí s m o corre s p o n d e n t e<br />

35<br />

5


seja vivido de m an eir a con s ci e nt e, não há razão para que ele<br />

se sedi m e n t e no corp o. O m e s m o é válido para os impuls o s<br />

agre s siv o s , para o m e d o e para a inse g ur an ç a . A avar ez a pod e<br />

ser transfor m a d a e m um a res erv a que faça sentido, a mania de<br />

segr e d o s e m discriçã o, os romp a nt e s agr e s siv o s e m en er gia<br />

vital trans b or d a nt e, o m e d o em sábia limitaç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde sou insinc er o? Que indício s dão form a a m e u s<br />

ded o s ?<br />

2. Curvar a mã o [Eine krum m e Hand ma c h e n] significa ser<br />

corrupto; para que serv e minh a mã o? Ain<strong>da</strong> pos s o lavar<br />

minh a s mã o s se m culpa?<br />

3. O que oculto de mi m e do am bi e nt e? Quem ou o que<br />

tenh o nas m ã o s ? A que m estã o destinad a s as am e a ç a s que<br />

minh a mã o expres s a ?<br />

4. Onde dev eria de fato estar a dispo siç ã o para a luta<br />

sedi m e n t a d a e m meu punho fech a d o ?<br />

5. Onde não ad mito m eu oportunis m o ? Com o an<strong>da</strong> o <strong>da</strong>r e<br />

rec e b e r? O que significa para mi m o fato de não pod er mais<br />

abrir a mã o , ma s tam b é m nunc a mais estar de mã o s vazias?<br />

6. Quais nós (proble m a s) tenh o fech a d o s no punho, de<br />

form a que ningu é m mais os vê e so m e n t e eu os sinto?<br />

7. De que tenh o m e d o , o que m e deixa tão inse g ur o e<br />

imp e d e de man eira agre s siv a que eu viva minh a<br />

individuali<strong>da</strong>d e?<br />

8. O que significa para mi m o fato de não pod er esten d e r a<br />

mã o (pela vi<strong>da</strong>, para aju<strong>da</strong>r)? E não pod er agarrar a mã o<br />

salvad or a?<br />

9. O que quer o ocultar? Do mund o? De mi m?<br />

2. As unhas<br />

As unha s <strong>da</strong>s mã o s e dos pés des e n v olv er a m - se a partir <strong>da</strong>s<br />

garras, ou seja, são res quí cio s destas, e e m con s e q ü ê n c i a têm<br />

35<br />

6


a ver co m noss a heran ç a agr e s siva e nos s a orig e m . Com o<br />

deixa m o s de utilizar as garras direta m e n t e na luta diária pela<br />

vi<strong>da</strong>, precis a m o s apará- las. Antiga m e nt e elas se des g a st a v a m ,<br />

co m o ac o nt e c e co m os anim ai s de rapina. Quanto a isto, é<br />

igual m e nt e uma atitude hon e st a e um a desilus ã o ob s ervar<br />

que m alé m de nós tem garras no mund o anim al; o<br />

rev e sti m e nt o agre s siv o, tanto <strong>da</strong>s unha s co m o <strong>da</strong>s pes s o a s ,<br />

fica claro.<br />

Agora, e m uma ép o c a que ao m e s m o temp o co m b a t e a<br />

agre s s ã o e é extre m a m e n t e agre s siv a, não é m ais tão fácil<br />

mant er as unha s perfeitas. Seja por ser e m atac a d a s por<br />

ag e nt e s estran h o s tais co m o fungo s ou amputad a s de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e co m os dente s, so br etud o pelas crianç a s ,<br />

ou ain<strong>da</strong> por se tornar e m que br a di ç a s e lasc ar e m co m<br />

facili<strong>da</strong>d e, elas se m pr e lanç a m um a luz so br e nos s a man eira<br />

de li<strong>da</strong>r co m a agr e s s ã o . Em muitas culturas, seu co m pri m e nt o<br />

é sinal do quanto a pes s o a se mant e v e distante do indign o<br />

trabalh o braç al diário. Ao m e s m o tem p o , es s e costu m e deixa<br />

claro quanta agre s sivi<strong>da</strong>d e é nec e s s á ri a para impor um tal<br />

estilo de vi<strong>da</strong> e con s er v ar o pod er corresp o n d e n t e . Tam b é m<br />

entre nós, unha s be m cui<strong>da</strong>d a s são um sinal de trabalh o<br />

intelectual e de seu trato refinad o co m a agr e s sivi<strong>da</strong>d e .<br />

Em nos s a cultura, é principal m e nt e o mund o <strong>da</strong>s sen h or a s<br />

que exib e seus sím b ol o s de agre s s ã o co m orgulho, não<br />

poupand o gasto s em seu cui<strong>da</strong>d o e colo c a n d o - os e m evid ê n ci a<br />

co m cor e s brilhante s. O es m alt e de unha s tornou- se um<br />

co m p o n e n t e per m a n e n t e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Excep ci o n al m e n t e , ele tem a<br />

cor <strong>da</strong> ma dr e p é r ol a, aqu el e m at erial irides c e nt e no qual<br />

divers o s ser e s aquátic o s se env olv e m , e sinaliza que para seus<br />

proprietários a tem átic a agre s siv a transfor m o u- se e m algo<br />

cintilante, precio s o . O ver m el h o , es c olhid o de form a<br />

prep o n d e r a nt e, é muito apropriad o sim b olic a m e n t e , pois se<br />

trata <strong>da</strong> cor do deus <strong>da</strong> guerra, Marte, e de sua rival e<br />

co m p a n h eir a, Vênus, a deus a do am or. A agr e s s ã o e o am or<br />

une m - se e m paixão nas long a s unha s pinta<strong>da</strong> s de ver m el h o , e<br />

as garras assi m ac e ntuad a s sinaliza m algo erotica m e n t e<br />

35<br />

7


sedutor que se m pr e é criado a partir des s a s duas fontes. Não é<br />

de surpre e n d e r, já que Eros/Amor, o deus do erotis m o , é filho<br />

de Vênus e Marte. Com as arm a s de guerra do pai, o arco e a<br />

flecha, ele instila o des ej o <strong>da</strong> m ã e , o am or, no coraç ã o dos<br />

ho m e n s .<br />

Quando se pen s a nas luzes do se m áf or o e no tras eiro dos<br />

babuín o s , o ver m el h o é tam b é m a clás sic a cor de aviso, que<br />

pod e ser vista de long e. Unhas ver m el h a s cha m a m a aten ç ã o<br />

para si, para as quali<strong>da</strong>d e s sedutora s de seu proprietário, ou<br />

para o san g u e que goteja de suas unha s. Finalm e nt e, as unha s<br />

têm ain<strong>da</strong> um caráter saturnino, limitador, já que pod e m<br />

tam b é m sinalizar: "Até aqui, não pros sig a."<br />

Inflamação <strong>da</strong>s unhas<br />

Este sinto m a, tam b é m cha m a d o de pan arício, pod e surgir<br />

tanto nas unha s <strong>da</strong>s m ã o s co m o dos pés. O leito <strong>da</strong> unha, o<br />

esp a ç o ond e ela cres c e e se alim e nta, está inflam a d o e co m<br />

pus. A inflam a ç ã o nes s a regiã o en c arn a um conflito e m relaç ã o<br />

ao lar <strong>da</strong> agre s s ã o , ou seja, <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>d e. De m an eira<br />

se m el h a nt e ao que ac o nt e c e na inflam a ç ã o <strong>da</strong>s gen giv a s<br />

(gen givite), o tem a <strong>da</strong> confianç a prim ordial está sen d o aludido.<br />

As ferra m e nt a s <strong>da</strong> agre s s ã o , garras e dent e s, precis a m de um<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o saud á v el para tornar- se agr e s siv o s de ac ord o co m<br />

sua deter min a ç ã o . De man eira análo g a, uma pes s o a precis a<br />

<strong>da</strong> confian ç a primordial para pod er <strong>da</strong>r expr e s s ã o a sua<br />

agre s s ã o , sua vitali<strong>da</strong>d e e sua en er gia.<br />

Quando falta autoc o nfian ç a às crianç a s e, so br etud o,<br />

confian ç a nos pais, elas não se atrev e m a ser agr e s sivas.<br />

Aquilo que extern a m e n t e parec e um a louváv el afeiç ã o é,<br />

muitas vez e s , falta de confian ç a. Quando, ao contrário, elas se<br />

atrev e m a algo que os pais de form a algu m a valoriza m,<br />

manife sta m co m isso confianç a, pois pod e m contar co m os<br />

pais m e s m o quan d o dão vazã o à sua agr e s sivi<strong>da</strong>d e , ou seja,<br />

sua vitali<strong>da</strong>d e. Estar per m a n e n t e m e n t e gru<strong>da</strong>d o na barra <strong>da</strong><br />

saia <strong>da</strong> m ã e , ao contrário, deixa entrev er m e d o e falta de<br />

35<br />

8


confian ç a.<br />

Quando ao conflito na bas e <strong>da</strong> agre s s ã o no leito <strong>da</strong> unha<br />

so m a- se ain<strong>da</strong> roer as unha s, a situaç ã o torna- se m ais clara<br />

ain<strong>da</strong>. A crianç a não se atrev e a agarrar a vi<strong>da</strong> e m o strar as<br />

garras. A válvula de es c a p e para a en er gi a vital não é<br />

suficiente e a crianç a, portanto, dirige sua agr e s sivi<strong>da</strong>d e contra<br />

si m e s m a e castra suas próprias ferra m e nt a s de agre s s ã o . Em<br />

vez de ficare m content e s pelo fato de as crianç a s não dirigire m<br />

suas m ordi<strong>da</strong>s contra eles, não é raro que os pais rec orra m a<br />

puniç õ e s . Na tentativa de tirar o "vício" de seu filho, eles faze m<br />

co m que o proble m a <strong>da</strong> agr e s s ã o m er g ulh e ain<strong>da</strong> m ais na<br />

so m b r a. É justa m e n t e a sinc eri<strong>da</strong>d e do sinto m a que enfurec e<br />

os educ a d o r e s . Agora todo s pod e m ver co m o seu filho vive de<br />

form a contrária à vitali<strong>da</strong>d e.<br />

Algum a s crianç a s leva m es s a situaç ã o tão long e que<br />

ch e g a m a roer tam b é m as unha s dos pés. O que sua fom e de<br />

agre s s ã o pod eria deixar claro? Caso o sinto m a perdur e até a<br />

adol e s c ê n c i a ou m e s m o até a i<strong>da</strong>d e adulta, isso m o stra a<br />

contínua carên ci a de pos sibili<strong>da</strong>d e s de expres s ã o para a<br />

própria vitali<strong>da</strong>d e. Não é raro que o sinto m a des a p ar e ç a para<br />

voltar a e m e r gir mais tarde co m outra roupag e m , por exe m pl o<br />

so b a form a de uma alergia.<br />

Com o as unha s freqü e nt e m e n t e são roí<strong>da</strong> s quas e até a<br />

bas e , as pontas dos ded o s fica m des pr ot e gid a s e tend e m a<br />

inflam ar- se. O panarício típico, entretanto, afeta unha s intactas<br />

que rep entina m e n t e des e n v olv e m um a tend ê n ci a para<br />

en cr av ar. Elas perfura m a própria carn e e, assi m, declara m a<br />

guerra. Em geral, a situaç ã o não é tão crônic a co m o quan d o se<br />

rói as unha s, inflam a n d o - se e m um conflito agud o. Ain<strong>da</strong><br />

assi m, há pes s o a s que se m pr e volta m a rec orr er a este plano<br />

de conflitos e m torno de sua confian ç a prim ordial.<br />

Além <strong>da</strong> típica feri<strong>da</strong> no leito <strong>da</strong> unha, há outras man eira s<br />

que pod e m ch e g a r até os os s o s . Quando o perióste o , os os s o s<br />

ou os tend õ e s são afetad o s , a probl e m átic a aní mic a que sai à<br />

luz é corresp o n d e n t e m e n t e mais profun<strong>da</strong>. Os agre s s o r e s , no<br />

sentido físico, são na maioria dos cas o s estafiloc o c o s ou outras<br />

35<br />

9


actérias, no quadr o de um a assi m cha m a d a infecç ã o mista.<br />

Enquanto a pes s o a se deixa inflam ar por es s e s ag e nt e s , os<br />

tem a s propria m e n t e caus a d o r e s obtê m muito pouc o esp a ç o .<br />

De fato, um a pes s o a que declara guerra a si m e s m a , ou seja,<br />

cujo siste m a de arm a s ofen siva s, por dentro e por baixo, está<br />

por assi m dizer sen d o colo c a d o e m questã o e m seu próprio<br />

pais, be m , es s a pes s o a m al pod eria defen d e r- se, quanto m ais<br />

tom ar por si m e s m a a decis ã o de atac ar. A feri<strong>da</strong> costu m eir a<br />

no leito <strong>da</strong> unha pod e fazer co m que esta se solte e, co m isso,<br />

indicar uma per<strong>da</strong> na disponibíli<strong>da</strong>d e para a defe s a.<br />

As garras postas temp or aria m e n t e fora de co m b a t e aponta m<br />

para a lição a ser apren di<strong>da</strong>: trazer a própria vitali<strong>da</strong>d e e<br />

agre s sivi<strong>da</strong>d e de volta para plan o s con s ci e nt e s . A guerra e m<br />

tom o do siste m a de arm a s do corp o dev eria ser travad a e m<br />

plan o s ond e as soluç õ e s são pos sív ei s. Ness e cas o, as arm a s<br />

do espírito têm prec e d ê n c i a so br e as arm a s do corp o. Até<br />

m e s m o ag arrar e arranh ar con s ci e nt e m e n t e tem mais sentido<br />

que cultivar ulcera s nas unha s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde dev eria m o strar minh a s garras e não m e atrev o?<br />

Onde eu incon s ci e nt e m e n t e guard o algo so b as unha s?<br />

2. Até que m e did a m e u m e d o m e deixa indefe s o diante <strong>da</strong><br />

agre s s ã o ?<br />

3. Onde, e m sentido figurad o, sou vítima de minh a<br />

agre s s ã o ?<br />

4. Onde pod eria en c o ntrar confian ç a e m minha força e<br />

minh a vitali<strong>da</strong>d e?<br />

5. Onde há pos sibili<strong>da</strong>d e s significativas para minh a<br />

disponibili<strong>da</strong>d e agre s siv a de defe s a? Com o minh a fom e<br />

pod eria ser melh or aplac a d a?<br />

36<br />

0


10<br />

O Peito<br />

O peito é um órg ã o tanto do ponto de vista <strong>da</strong>s glândulas<br />

ma m á ri a s femininas co m o repres e nt a n d o a regiã o central de<br />

noss o tronc o. Ao lado <strong>da</strong> cáp sula óss e a <strong>da</strong> cab e ç a e <strong>da</strong> bacia,<br />

o tórax é um terc eiro recipient e de órg ã o s que têm importân cia<br />

vital. Ele abriga os pulm õ e s , noss o s órgã o s de contato e<br />

co m u nic a ç ã o , e noss o m ei o en er g étic o, o cora ç ã o .<br />

Enquanto o crânio e a bacia são rec e ptácul o s bastant e<br />

firme s e rígido s, o cesto form a d o por cost ela s e mús c ul o s<br />

destac a- se por um a ass o m b r o s a m o bili<strong>da</strong>d e. Com o cora ç ã o e<br />

os pulm õ e s , ele não só conté m dois órgã o s que se m o v e m<br />

ininterrupta m e n t e e m ritmo ac el er a d o , m a s segu e o ritmo <strong>da</strong><br />

respiraç ã o co m uma dúzia de expans õ e s e contraç õ e s por<br />

minuto. A am arra ç ã o articulad a <strong>da</strong>s co st el a s na colun a<br />

vertebr al e sua elástica ligaç ã o cartilagin o s a co m o estern o<br />

per mite m es s a gen er o s a m o bili<strong>da</strong>d e . Apesar de sua<br />

elastici<strong>da</strong>d e , o tórax é ao m e s m o tem p o um a fortalez a<br />

proteg e n d o seu sen sív el conteú d o .<br />

No m ei o dele, no coraç ã o , está o centro <strong>da</strong> circulaç ã o<br />

san guín e a e en er g étic a. No plan o corp or al, tudo gira e m torno<br />

do cora ç ã o . Os orientais con sid er a m o chakra do cora ç ã o ,<br />

Anahata, co m o sen d o o quarto centro e tam b é m o ponto<br />

central dos sete centro s en er g étic o s do ser hum a n o . Os<br />

pulm õ e s são o órg ã o <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o , já que é a coluna de ar<br />

que, ade q u a d a m e n t e m o d ulad a pela laring e e pela cavi<strong>da</strong> d e<br />

buc al, dá form a à noss a linguag e m . Quando se pens a que o<br />

ser hum a n o é, e m prim eiro lugar, um ser so cial (os biólo g o s<br />

falam de um zoon politikon, um anim al político), fica claro o<br />

quanto o lar dos sentim e nt o s do nos s o cora ç ã o e do nos s o<br />

intercâ m b i o co m u nic ativo é central para nos s a existên cia. Para<br />

a interpreta ç ã o do peito, so m a- se o fato de ele ser o m ei o e,<br />

portanto, o local de integraç ã o de tudo o que é racion al e que<br />

36<br />

1


ve m de cim a para baixo, de arcaic o- intuitivo que ve m de baixo<br />

para cim a, e de e m o ci o n al que vai de dentro para fora. Ele<br />

reflete, e m sua form a e funçã o, co m o o ser hum a n o li<strong>da</strong> co m<br />

es s e variad o exer cí cio.<br />

1. O tórax saliente 71<br />

Quando a funçã o de abrigo do tórax, devid o a um a<br />

nec e s si d a d e exa g er a d a de prote ç ã o , é reforç a d a atrav é s do<br />

en c o ur a ç a m e n t o mus c ular e do enrijeci m e nt o <strong>da</strong>s articulaç õ e s ,<br />

o cesto transfor m a- se e m um a gaiola que m ant é m pres o s o<br />

coraç ã o e os pulm õ e s . Ain<strong>da</strong> que es s a gaiola, por m ei o <strong>da</strong><br />

ventilaç ã o corresp o n d e n t e , pos s a ser bastant e esp a ç o s a ,<br />

continua sen d o um a prisão. Ao se prend er ser e s alado s, o<br />

sentido es s e n ci al de suas vi<strong>da</strong>s se perd e. Os pulm õ e s , e m seu<br />

pap el de órgã o de intercâ m b i o do corp o, têm suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s limita<strong>da</strong>s e ne m pod e m extravas ar<br />

co m pl et a m e n t e ne m inalar ar fresc o na m e di<strong>da</strong> de suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . O ar é nos s a en er gi a vital primária, já que<br />

conté m o oxig ê ni o que nos m ant é m vivos, o prana, a força <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> que nos dá sua en er gi a. Com o nós de qualqu er m an eira<br />

tend e m o s a utilizar ap en a s um a pequ e n a parte de noss a<br />

cap a cid a d e pulm o n ar, um a limitaç ã o m ai or ain<strong>da</strong> pod e até ser<br />

co m p atív el co m a so br e viv ê n ci a, mas não co m uma vi<strong>da</strong> plena.<br />

O am or, seu principal m otivo, m orr e na prisão, um a vez que<br />

vive de <strong>da</strong>r e de rec e b e r.<br />

Quando nós nos con c e n tra m o s no peito, inspira m o s<br />

profun<strong>da</strong> m e n t e e e m seguid a rete m o s o ar, tem o s um a<br />

sen s a ç ã o des s e estad o rígido, intum e s ci d o . Com bastant e<br />

rapidez surg e um a sen s a ç ã o de so br e c ar g a e de plenitud e,<br />

ma s um a plenitud e que provo c a pres s ã o . Pelo fato de<br />

expan dir- se o tronc o se torna do min a nt e. Com relaç ã o ao s<br />

sentim e nt o s , m a s tam b é m no âm bito de aba st e ci m e n t o de<br />

en er gi a, sua expan s ã o ac o nt e c e à custa <strong>da</strong> parte inferior do<br />

36<br />

2


corp o. Assim co m o o peito impon e nt e se destac a do resto do<br />

corp o, es s e estad o físico reflete a atitude básic a <strong>da</strong> alm a, que<br />

devido a um sentim e nt o de sup eriori<strong>da</strong>d e quer controlar a si<br />

m e s m a e ao resto do mun d o . A do e n ç a tipica m e n t e<br />

relacion a d a co m es s e tipo de peito é o enfis e m a pulm o n ar co m<br />

tórax de barril. Essa é a den o m i n a ç ã o para um a caixa torácic a<br />

muito am pliad a, e m form a de barril, que se enrijec e, não<br />

per mitindo flexibili<strong>da</strong>d e ne m ab ertura para a en er gia vital <strong>da</strong><br />

respiraç ã o .<br />

É nec e s s á ri o reprimir os sentim e nt o s para que es s e<br />

des c o n h e c i m e n t o de si m e s m o pos s a existir. Isso, por sua vez,<br />

é natural para es s e tipo de peito já que ele, e m sua rigidez, se<br />

fecha para o fluxo de to<strong>da</strong>s as en er gias. Assim, não é raro que<br />

a ab ó b a d a peitoral, exterior m e nt e tão impre s si o n a nt e,<br />

transfor m e - se e m túmulo dos estí mulo s m ais ternos e<br />

sentim e nt o s m ais afetuo s o s <strong>da</strong> alm a. Os proprietário s de<br />

tam a n h o perí m etr o peitoral rara m e nt e chor a m e não m o stra m<br />

qualqu er fraqu ez a, de qualqu er form a não co m freqü ê n ci a e de<br />

form a algu m a e m público. Por es s a razão, eles tend e m ao<br />

e m a g r e ci m e n t o e à agitaç ã o , à sed e de do mínio e de control e,<br />

à hiperten s ã o , ao s probl e m a s cardíac o s , as m a e enfis e m a<br />

pulm o n ar. Em princípio, os probl e m a s cardíac o s ass e m e l h a m -<br />

se ao s dos pulm õ e s . Enquanto deixa m m orr er de fom e o<br />

coraç ã o que trabalha so b um a pres s ã o esp e ci al m e n t e elev a d a,<br />

provo c a n d o a angina pe ct oris ou o infarto, os pulm õ e s<br />

des e s p e r a d a m e n t e hiperinflado s pela as m a ou pelo enfis e m a<br />

não rec e b e m en er gi a vital suficiente.<br />

2. O tórax estreito<br />

Pess o a s co m a ab ó b a d a peitoral estreitad a exp eri m e nt a m<br />

uma pres s ã o no sentido contrário. Onde os pos s uid or e s de<br />

tórax saliente s a ponto de trans b o r d ar m orr e m de fom e e m<br />

m ei o à abund â n ci a, este s o faze m na indigên ci a. Enquanto<br />

aqu el e s , co m seus eg o s inflado s, agü e nta m o am bi e nt e e não<br />

36<br />

3


aras vez e s se deixa m naufrag ar, o peito subd e s e n v o l vid o,<br />

côn c a v o , deixa entrev er um eg o se m e l h a nt e. Muito distante de<br />

tomar a vi<strong>da</strong> a peito, os afetad o s sent e m - se fraco s, vazio s e no<br />

fim. Essa sen s a ç ã o de vi<strong>da</strong> tam b é m pod e ser facilm e nt e<br />

simulad a pela respiraç ã o , quan d o se expira totalm e nt e e não<br />

se volta a inspirar por um long o períod o de temp o. A sen s a ç ã o<br />

de pres s ã o do vazio transfor m a- se muito rapi<strong>da</strong> m e n t e e m algo<br />

torturante e des e s p e r a d o r, a estreitez a e a angústia<br />

estran g ula m os afetad o s . Eles se sent e m per m a n e n t e m e n t e<br />

co m o se a angústia ou o m e d o tives s e tom a d o conta de seu<br />

corp o e eles precis a s s e m aprum ar a si e a seus tórax reunind o<br />

as últimas res erv a s de en er gi a.<br />

Com a profundi<strong>da</strong> d e <strong>da</strong> respiraç ã o diminuí<strong>da</strong> e o batim e nt o<br />

cardíac o fraco, eles têm razã o e m sentir- se es qu e ci d o s pela<br />

vi<strong>da</strong>, e m b o r a evid e nt e m e n t e deixe m de inspirar ar fresc o<br />

suficiente e renovar seu san g u e . Ness e sentido, não é de<br />

ad mirar que eles freqü e nt e m e n t e sofra m co m a sen s a ç ã o de<br />

não rec e b e r a parte que lhes toca e esp er e m aju<strong>da</strong> extern a. O<br />

estad o aní mic o fun<strong>da</strong> m e n t al está impre g n a d o de senti m e nt o s<br />

de m e s q uinh e z e de inferiori<strong>da</strong>d e, ch e g a n d o a depr e s s õ e s . A<br />

quali<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é do min a d a pela estreitez a e pela angú stia.<br />

Os afetad o s pod e m sentir- se co m o um rato cinzento, vazio s,<br />

inúteis e deixad o s de lado. Eles cha m a m tão pouc o a aten ç ã o<br />

que isso até volta a cha m a r a aten ç ã o . Cansa d o s d(est)a vi<strong>da</strong>,<br />

eles es qu e c e r a m que aquilo que ad mite m e m seu peito estreito<br />

tem pouc o a ver co m a vi<strong>da</strong>. Neles a caixa do peito, que na<br />

ver<strong>da</strong>d e quer trans b or d ar de senti m e nt o s e e m o ç õ e s , é<br />

pequ e n a de m ai s, vazia e fech a d a . Por es s a razã o, eles<br />

costu m a m ter na cab e ç a grand e s pens a m e n t o s que che g a m<br />

até às fantasias de onipot ên ci a.<br />

Nos opo sitor e s co m peito des m e s ur a d o es s a caixa é grand e<br />

de m ai s, ab arrotad a e igual m e nt e fecha d a. Ambo s, a partir de<br />

pólos diferent e s , con struíra m barricad a s contra a vi<strong>da</strong>. Os<br />

inflado s con stro e m fortificaç õ e s contra a vi<strong>da</strong>, os que precis a m<br />

de prote ç ã o co m o peito retraído se disfarç a m . Assim am b o s ,<br />

e m sua opo siç ã o extre m a , estã o de ac ord o quanto ao ponto<br />

36<br />

4


decisivo: ass e nt a d o s no solo dos sentim e nt o s de inferiori<strong>da</strong>d e,<br />

eles não estã o ab erto s e per m e á v e i s para a en er gia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

3. "Sintomas" do peito<br />

Fratura de costelas<br />

Fraturas de cost ela s, esp e ci al m e n t e as fraturas e m série,<br />

abr e m um a fen<strong>da</strong> na fortificaç ã o do tórax. E nec e s s á ri a<br />

violên cia con sid er á v el e um a situaç ã o esp e ci al m e n t e restritiva<br />

e fixador a para romp er um a con struç ã o tão elástica co m o o<br />

tórax. Normal m e nt e, to<strong>da</strong> a pes s o a se es quivaria, ou entã o a<br />

estrutura de cost elas e cartilag e n s ab s orv eria o golp e. Na<br />

fratura de cost ela s, a violên cia precis a ser en or m e e apan h ar a<br />

vitima despr e v e ni d a, ou entã o esta está entalad a e não pod e<br />

mais sair <strong>da</strong> situaç ã o restritiva. A des criç ã o <strong>da</strong> situaç ã o física<br />

caract eriza ao m e s m o temp o a situaç ã o aní mic a, já que a<br />

fratura de cost ela s faz co m que se torne nec e s s á ri o romp er<br />

co m um a situaç ã o rígi<strong>da</strong> e restritiva. Em última instân cia, é a<br />

tentativa de abrir um burac o na fortalez a e forçar a franqu e z a<br />

neg a d a por m ei o <strong>da</strong> violên cia.<br />

Aquela ab ertura física força<strong>da</strong> pela fratura e, so br etud o , a<br />

maior m o bili<strong>da</strong>d e obti<strong>da</strong> des s a m an eira, dev eria ser realizad a<br />

no plano aní mic o- espiritual. Por m ei o <strong>da</strong> fratura, nova s<br />

"articulaç õ e s auxiliares", os locais <strong>da</strong> fratura, são postas<br />

temp or aria m e n t e e m funcion a m e n t o . A profilaxia e m relaç ã o a<br />

outras fraturas seria reviver de livre e esp o nt â n e a vontad e as<br />

muitas pos sibili<strong>da</strong>d e s de m o vi m e n t o que já estã o à dispo siç ã o .<br />

O tem a e a lição são a flexibili<strong>da</strong>d e, que dev e ser realizad a<br />

so br etud o no sentido figurad o. É precis o deixar que o nov o<br />

irromp a, abrir- se para em b at e s extre m o s e trazer para o mun d o<br />

dos sentim e nt o s do coraç ã o e do interc â m b i o um a m o bili<strong>da</strong>d e<br />

que alivie fisica m e n t e o tórax.<br />

P er g u nta s<br />

36<br />

5


1. O que, alé m <strong>da</strong> violên ci a, pod e arro m b ar o tes o ur o do<br />

m e u peito?<br />

2. Que âm bito do mun d o de m e u s sentim e nt o s está de tal<br />

m o d o en c ar c er a d o que sua única chan c e con siste e m libertarse<br />

violenta m e n t e ?<br />

3. Onde man o b r ei e m um lugar tão estreito que não sei<br />

mais sair e estou à m er c ê <strong>da</strong> violên ci a extern a?<br />

4. Até que ponto neglig e n ci ei o interc a m b i o ?<br />

5. Tenh o confianç a para per mitir que os tem a s <strong>da</strong> ab ertura<br />

(sinc eri<strong>da</strong>d e) e <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>d e volte m a ganh ar fôleg o e m<br />

minh a vi<strong>da</strong>?<br />

Roncar<br />

O fenô m e n o do ronc o, que se torna mais freqü e nt e à m e did a<br />

que a i<strong>da</strong>d e avan ç a afeta, mais que a respiraç ã o , o tem a <strong>da</strong><br />

co m u nic a ç ã o . Som a- se a isso um a probl e m átic a de ritmo que<br />

se expr e s s a nas fas e s irregular e s <strong>da</strong> respiraç ã o . No âm bito<br />

noturno, a co m u ni c a ç ã o dec orr e de form a angulo s a e ásp er a,<br />

há um a resistên ci a con sid er á v el e m jogo. As pes s o a s que<br />

ronc a m têm m e d o de inco m o d a r os outros e o faze m noite<br />

apó s noite. Seu contato co m o am bi e nt e está perturba d o . O<br />

org anis m o deixa claro que quer ficar sozinh o ao m e n o s durante<br />

a noite. Ruidos a m e n t e , eles mant ê m os outros a distância.<br />

Com o "pretexto" de não quer er inco m o d a r, eles abr e m esp a ç o<br />

para si m e s m o s . Ain<strong>da</strong> que se e m p e n h e m e m enfatizar o<br />

quanto gostaria m de pas s ar a noite juntos na ca m a de cas al,<br />

seu sinto m a fala um a outra lingua g e m . Caso algu é m ain<strong>da</strong><br />

assi m ous a s s e aproxi m ar- se deles durante a noite, precis aria<br />

de con sid er á v el humil<strong>da</strong>d e e vontad e de sub ordin a ç ã o e m<br />

m ei o a seu ritmo inaudív el, ou entã o de tamp õ e s de ouvido.<br />

Ele, assi m, estará surdo e m relaç ã o ao ronc a d o r. Não resta<br />

dúvi<strong>da</strong> quanto a que m dá o tom aqui. Suspeita- se que os<br />

ronc a d o r e s não estã o e m con diç õ e s de abrir esp a ç o , exigir<br />

distância e resp eito e <strong>da</strong>r o tom durante o dia. Eles<br />

de m o n s tr a m e m alto e bo m so m que precis a m de mais<br />

36<br />

6


aten ç ã o , de qualqu er man eira ao men o s no que se refer e a seu<br />

lado noturno, de so m b r a s . Este corresp o n d e à porçã o feminina,<br />

es c ur a <strong>da</strong> alm a.<br />

O ruído de serrote e m um a ou e m am b a s as fase s <strong>da</strong><br />

respiraç ã o fala de uma co m u nic a ç ã o dura, pouc o afia<strong>da</strong>. Por<br />

trás diss o, oculta- se um a argu m e n t a ç ã o crua e um esforç o<br />

para co m u ni c ar de que os afetad o s não têm con s ci ê n ci a. Para<br />

os outros, no entanto, o estilo de co m u nic a ç ã o alto,<br />

de m o n s tr ativo, que não pod e deixar de ser ouvido e que<br />

freqü e nt e m e n t e é agr e s siv o fica muito claro. O fato de os<br />

ronc a d o r e s ser e m os único s que não perc e b e m seus ronc o s<br />

indica que eles tam b é m são os único s que não perc e b e m seu<br />

estilo de co m u nic a ç ã o .<br />

À noite, portanto, eles precis a m de válvulas de es c a p e para<br />

expr e s s ar de form a crua tudo aquilo que ain<strong>da</strong> não foi dito. O<br />

alto con su m o de en er gia des s e tipo de co m u ni c a ç ã o é audív el<br />

no esforç o que faze m . Ao ac ord ar, eles estã o<br />

corre s p o n d e n t e m e n t e m e n o s des c a n s a d o s .<br />

O probl e m a de ritmo desta c a- se nas paus a s de respiraç ã o<br />

extre m a m e n t e long a s, que oc orr e m co m freqü ê n ci a e que de<br />

form a reflexa força m a um a inspiraç ã o esp e ci al m e n t e profun<strong>da</strong>.<br />

As pes s o a s que ronc a m de m o n s tr a m o quanto pen etrara m de<br />

form a co m u nic ativa e m um dos pólos. Reflete- se aqui um a<br />

form a de co m u nic a ç ã o can s ativa a ponto de fazer faltar o ar,<br />

forçan d o às paus a s de respiraç ã o corresp o n d e n t e s . Os long o s<br />

intervalo s se m ar explicita m que muitas vez e s não oc orr e<br />

qualqu er interca m b i o . Comunic a ç ã o é troca. As pes s o a s que<br />

ronc a m , entretanto, exp el e m mais do que co m p artilha m , e<br />

finalm e nt e se bloqu ei a m até que pouc o ante s de sufoc ar<br />

volta m a tom ar ar de m an eir a que não pod e deixar de ser<br />

ouvi<strong>da</strong>. Não respirar quer dizer não participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Foi co m pr o v a d o co m a mai oria <strong>da</strong>s pes s o a s que ronc a m que<br />

elas, devido a seu extenu a nt e estilo de co m u nic a ç ã o precis a m ,<br />

por um lado, de long a s paus a s de reg e n e r a ç ã o , e que por outro<br />

des c a n s a m pouc o co m es s e tipo de son o. Elas co m p e n s a m a<br />

baixa quali<strong>da</strong>d e por m ei o <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>d e . Aqui pod eria estar<br />

36<br />

7


tam b é m a explicaç ã o para as indicaç õ e s <strong>da</strong>s estatística s de<br />

que as pes s o a s que ronc a m não são saud á v ei s. Não é tanto<br />

que o ronc ar e m si não seja saud á v el; ele é um a indicaç ã o de<br />

uma situaç ã o fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e pouc o saud á v el.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde exag er o um dos pólo s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e?<br />

2. Até que ponto falta e m mi m a ligaç ã o entre os extre m o s ?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a a co m u nic a ç ã o do lado feminino<br />

<strong>da</strong> alm a?<br />

4. Onde m e excluo <strong>da</strong> corrent e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>?<br />

5. O que sep ar a e m minha co m u ni c a ç ã o , o que liga?<br />

6. Com o pos s o enc o ntrar um ritmo de vi<strong>da</strong> har m ô ni c o ?<br />

Para<strong>da</strong> respiratória em recém- nascido s ou morte infantil<br />

súbita<br />

Este quadr o de do e n ç a , na ver<strong>da</strong>d e de m orte, que tem se<br />

tornad o m ais freqü e nt e nos último s temp o s , per m a n e c e<br />

co m pl et a m e n t e inexplicáv el pela m e dicin a. Os rec é m - nas cid o s<br />

m orr e m de parad a respiratória e são enc o ntrad o s m orto s no<br />

berç o se m qualqu er sinto m a ou sinal de um a luta interior. É<br />

co m o se eles es qu e c e s s e m de respirar. Emb or a naturalm e nt e<br />

não exista qualqu er exp eriên ci a terap êutic a, os pais afetad o s<br />

têm grand e interes s e e m interpretar o enig m átic o<br />

ac o nt e ci m e n t o . Ele surg e des d e o início co m o um a susp e n s ã o<br />

<strong>da</strong> co m u nic a ç ã o co m o mun d o , talvez se pudes s e dizer co m<br />

este mund o. De fato, nos s o am bi e nt e am e a ç a d o ,<br />

esp e ci al m e n t e nas grand e s ci<strong>da</strong>d e s e esp e ci al m e n t e para as<br />

crianç a s , já não é mais um lugar ond e vale a pen a viver.<br />

Sem quer er imputar to<strong>da</strong> a culpa à morte infantil súbita, cad a<br />

vez mais crianç a s sofre m e m orr e m devid o ao fecha m e n t o <strong>da</strong><br />

laring e caus a d o pela difteria, pas s a n d o pela bron quite<br />

ob strutiva e pela as m a . Paralela m e n t e no tem p o a es s e<br />

fenô m e n o antes des c o n h e c i d o , um outro dra m a igualm e nt e<br />

misterio s o oc orr e nos m ar e s do plan eta. Ca<strong>da</strong> vez m ais, as<br />

36<br />

8


aleias se suici<strong>da</strong> m ao na<strong>da</strong>r para a terra e resign ar- se. As<br />

tentativas hum a n a s de imp edir o dra m a são freqü e nt e m e n t e<br />

aniquila<strong>da</strong> s pela pod er o s a força de vontad e dos anim ais.<br />

4. O peito feminino<br />

O peito feminino, tanto por sua funçã o co m o por sua form a,<br />

tem importân cia central. Cham a d a de m a m a na lingua g e m<br />

utiliza<strong>da</strong> pela m e di cin a, ele sim b oliza a m at erni<strong>da</strong>d e e a<br />

cap a cid a d e de nutrir. Com o cres ci m e n t o <strong>da</strong> crianç a no útero,<br />

cres c e m tam b é m os seio s, e no m o m e n t o do nas ci m e n t o eles<br />

estã o túrgido s devid o ao leite que os en c h e . A prim eira vez e m<br />

que a crianç a é am a m e n t a d a desp erta um sentim e nt o de<br />

volúpia entre m ã e e filho. Além do m ais, isso tem um efeito<br />

favoráv el e m relaç ã o às dor e s puerp er ais e à recup er a ç ã o do<br />

útero. É, por assi m dizer, o sinal para a recup er a ç ã o apó s o<br />

nas ci m e nt o . Além do sentim e nt o de felici<strong>da</strong>d e e de volúpia<br />

sentido pela m ai oria <strong>da</strong>s m ã e s ao am a m e n t ar, es s e ato traz<br />

tam b é m alívio ao s seios túrgido s, sen d o agrad á v el tam b é m<br />

nes s e sentido. Embora ma m a r seja um reflexo inato à crianç a,<br />

o contato co m o seio ma ci o e o fluxo de leite m orn o a enc h e<br />

igual m e nt e co m um a sen s a ç ã o de felici<strong>da</strong>d e e satisfaç ã o 72 .<br />

Os seio s são extre m a m e n t e sen sív ei s. O suav e toqu e<br />

ac ariciante <strong>da</strong>s fac e s infantis e so br etud o o toqu e dos lábio s e<br />

<strong>da</strong> língua ao ma m a r des p erta m sen s a ç õ e s voluptuo s a s e m<br />

muitas mulh er e s . Neste sentido, o fun<strong>da</strong> m e n t o do am or<br />

mat ern o é tam b é m de tipo sexual. A partir diss o, Grodd e c k<br />

con clui que am a m e n t ar atiça a paixão na mulh er e a estimula a<br />

voltar a procurar as relaç õ e s sexuais. Ele interpreta es s a<br />

ob s erva ç ã o a serviç o <strong>da</strong> con s erv a ç ã o <strong>da</strong> esp é ci e co m o<br />

biolo gic a m e n t e significativa. Entretanto, dep õ e contra isso o<br />

fato de que é justa m e nt e a am a m e n t a ç ã o que forne c e um<br />

es c ud o prev e nin d o um a nova con c e p ç ã o de m a s i a d o prec o c e .<br />

A tem átic a sexual do seio que am a m e n t a é co m b atid a<br />

so br etud o por aqu el e s que colo c a m a mat erni<strong>da</strong>d e no céu,<br />

36<br />

9


cond e n a n d o entretanto a sexuali<strong>da</strong>d e ao inferno. A relaç ã o<br />

sexual geral do peito feminin o, ao contrário, é inquestion á v el.<br />

Ele é tom a d o voluptuo s a m e n t e na bo c a tanto quan d o<br />

am a m e n t a co m o quan d o é beijad o, um proc e di m e n t o que<br />

oc orr e no plano sup erior do corpo e que não deixa de ser<br />

se m el h a nt e à relaç ã o sexual co m pl eta que oc orr e abaixo. O<br />

seio des e m p e n h a aqui o pap el do pênis pen etrant e,<br />

corre s p o n d e n d o a cavi<strong>da</strong>d e buc al à vagina.<br />

Sem levar e m conta a que stã o de se a crianç a, ao ma m a r, já<br />

viven ci a a mulh er na mã e, o significad o central do peito na vi<strong>da</strong><br />

posterior é evid e nt e. O vinculo co m o seio é o prim eiro que o<br />

ser hum a n o viven ci a. Neste sentido, é natural que ele continu e<br />

procurand o o am or no seio. Isso é válido tam b é m para as<br />

mulh er e s . Elas gosta m de pres si o n ar- se mutua m e n t e contra o<br />

peito, trans mitind o assi m uma terna sen s a ç ã o de proteç ã o . A<br />

relaç ã o de um a mulh er co m o peito de outra mulh er é<br />

natural m e nt e muito mais próxim a que a de um ho m e m co m o<br />

m e m b r o de um co m p a n h eir o do m e s m o sex o. Apertar algué m<br />

contra o peito é se m pr e um ge st o de simp atia e de am or.<br />

Tam b é m , nen hu m outro órgã o expres s a a co m p aixã o de form a<br />

mais intens a e caloro s a; e m nen hu m outro lugar, por exe m pl o,<br />

pod e- se reclinar a cab e ç a e chorar. Que os seio s, alé m de sua<br />

funçã o m at ern al de alim e nta ç ã o , são tam b é m um órgã o de<br />

relacion a m e n t o , é m o strad o pelo fato de eles ser e m<br />

per m a n e n t e m e n t e saliente s unica m e n t e entre os ser e s<br />

hum a n o s , en qu a nt o nos "outros ma m íf er o s" só se des e n v olv e m<br />

temp or aria m e n t e na ép o c a <strong>da</strong> am a m e n t a ç ã o .<br />

No am or sexual, finalm e nt e, o peito torna- se órgã o sexual, já<br />

que os ho m e n s bus c a m instintiva m e nt e o peito, cha m a d o hoje<br />

e m dia de seio. Essa express ã o e m si m e s m a é errad a, pois a<br />

rigor um seio desig n a uma sinuo sid a d e , uma baia, o esp a ç o no<br />

m ei o, o dec ot e. Esse lugar entre os seios ve m sen d o<br />

des nu d a d o desd e a Antigui<strong>da</strong>d e para excitar o outro sexo. Por<br />

mais que as tend ê n ci a s <strong>da</strong> m o d a tenha m variad o ao long o <strong>da</strong>s<br />

diferent e s ép o c a s , só muito rara m e n t e se renunciou à<br />

expo siç ã o des s e local tão excitante. Em parte, ép o c a s m ais<br />

37<br />

0


antigas ch e g ar a m a ser até m e s m o mais gen er o s a s a es s e<br />

resp eito; basta pen s ar nos vestido s <strong>da</strong> ép o c a de Luís XIV que<br />

deixav a m os seio s livres, isso para não falar na "mod a" dos<br />

cha m a d o s pov o s primitivo s. No antigo Egito, a profundi<strong>da</strong>d e do<br />

dec ot e corre s p o n di a ao grau de influên cia so cial, e e m Atenas<br />

as mulh er e s burgu e s a s co m p ar e ci a m às oc a si õ e s festivas co m<br />

o busto nu. O tople s s , portanto, não é de form a algu m a um a<br />

inven ç ã o de nos s a ép o c a liberal.<br />

Os seio s tam b é m são ac e ntuad o s de man eira m e n o s óbvia:<br />

erguido s por m ei o de esp artilho s, atad o s e ao m e s m o tem p o<br />

exibido s por sutiãs, posto s e m form a por corp et e s esp e ci ais ou<br />

simpl e s m e n t e quan d o a mulh er aperta os braç o s por baixo<br />

deles e se exib e. Até m e s m o o acintura m e n t o <strong>da</strong> roupa serv e<br />

e m parte para ac e ntuar o busto. Jóias tais co m o broch e s e<br />

colar e s apo nta m para as precio sid a d e s que estã o abaixo. Para<br />

muitos ser e s do sexo m a s c ulin o, mais excitante que o peito nu<br />

que se ofer e c e é a sug e st ã o de que eles pod eria m m er e c e r<br />

visão tão gen er o s a . Neste sentido, as resval adiç a s mulh er e s<br />

que usa m vestido s dec otad o s ag e m de form a igual m e nt e hábil<br />

e (se mi) con s ci e nt e.<br />

Assim co m o as mulh er e s se m pr e tivera m a tend ê n ci a de<br />

e m pr e g ar seus seio s, por naturez a pro e mi n e nt e s , no jogo<br />

social, os ho m e n s jam ais o quis er a m evitar. São quas e<br />

exclusiva m e n t e ho m e n s que, no que diz resp eito ao s seios,<br />

deter min a m os ca min h o s muito retilíne o s <strong>da</strong> m o d a. Os seio s,<br />

co m sua ma ci ez e flexibili<strong>da</strong>d e, são a regiã o do corpo que<br />

m e n o s resistên ci a ofer e c e . Esse con h e ci m e n t o , adquirido de<br />

man eira intuitiva pelo be b ê , se m pr e foi usad o pelo s ho m e n s<br />

para con q uistar to<strong>da</strong> a mulh er por mei o dos seios.<br />

Enquanto as mulh er e s e m geral "pulam no pes c o ç o " dos<br />

ho m e n s 73 , os ho m e n s co stu m a m voar para o peito. Sua suav e<br />

form a se mi- esféric a é talvez forte m e n t e resp o n s á v e l pela<br />

prefer ê n ci a que, tam b é m mais tarde na vi<strong>da</strong>, tem o s por to<strong>da</strong> s<br />

as cois a s arred o n d a d a s . Nele na<strong>da</strong> rep el e, sen d o tudo atraent e<br />

e enc a nta d o r. Sendo assi m, tanto e m form a s de expres s ã o<br />

exig e nt e s co m o nas mais m o d e s t a s , ele é circund a d o por<br />

37<br />

1


imag e n s que corresp o n d e m à sua perfeita form a redond a.<br />

Entre as frutas, a ma ç ã é esp e ci al m e n t e solicita<strong>da</strong> e m relaç ã o<br />

a isso, às vez e s tam b é m as pêras. Para os m a mil o s, serv e m<br />

de m o d el o as fram b o e s a s e os m or an g o s , ou entã o os botõ e s<br />

<strong>da</strong>s flores. Enquanto os húng ar o s falam de botõ e s tam b é m na<br />

linguag e m colo quial, os ale m ã e s não se acanha m e m falar de<br />

verrug a s [Warz e n ].<br />

Com isso, faz- se refer ê n ci a a algo rep el e nt e, repug n a nt e<br />

m e s m o , que nós na ver<strong>da</strong>d e co stu m a m o s relacio n ar co m as<br />

bruxas velha s e má s. Quem go staria de colo c ar uma verrug a<br />

na bo c a? Essa desig n a ç ã o pod e ser uma relíquia dos temp o s<br />

<strong>da</strong> Inquisiçã o, aqu el a projeç ã o de loucura coletiva que via<br />

bruxas m á s e sedutor a s esp e ci al m e n t e nas mulh er e s<br />

atraent e s . O m o vi m e n t o feminista des c o b riu es s a tem átic a e,<br />

des s e lado, fala- se por princípio nas pérolas do peito. A palavra<br />

verrug a, nes s e contexto, per mite presu mir que e m ale m ã o as<br />

atitude s incon s ci e nt e s neg ativa s e m relaç ã o à feminili<strong>da</strong>d e<br />

ma dur a pred o m i n a m . Estas tam b é m têm sua tradiçã o na<br />

história. Na I<strong>da</strong>de Média, os fanático s religios o s xingav a m o<br />

dec ot e de "janela do inferno", e os seio s de "foles do diab o" ou<br />

"bolas do diab o". Até m e s m o a política se ocup av a dos seio s<br />

excitante s, e ch e g ar a m até nós decr et o s dirigido s contra sua<br />

"verg o n h o s a exibiçã o". Naquela ép o c a tentou- se,<br />

esp e ci al m e n t e nos país e s católico s, prev e nir o perigo s o<br />

des e n v olvi m e nt o dos seio s e m geral, por exe m pl o colo c a n d o<br />

so br e eles pes a d o s pratos de chu m b o à noite.<br />

O peito feminino é de long e o órgã o sexual secun d ári o e o<br />

cha m a riz óptico mais important e. Ele é ampla m e n t e utilizado<br />

nes s a funçã o, e às vez e s explorad o . São so br etud o as<br />

industrias de cine m a am eric a n a e italiana que destac a m as<br />

"estrelas ch eias de curvas" que faze m os cora ç õ e s dos ho m e n s<br />

bater e m m ais rápido. As mulh er e s são reduzi<strong>da</strong> s a três cifras,<br />

sen d o que o busto ocup a o lugar mais importante. Assim, o<br />

peito evident e m e n t e torna- se o órg ã o pelo qual a mulh er<br />

nec e s s a ria m e n t e se deixa definir e pelo qual muitas vez e s<br />

tam b é m se autod efin e. Em um a ép o c a digital, um a cifra é<br />

37<br />

2


suficiente. Ânimo s m ais fora de m o d a ain<strong>da</strong> define m seu ideal<br />

de man eira mais des critiva. Os seio s entã o dev e m ser be m<br />

form a d o s , firme s e de tam a n h o m é di o. Caso seja m muito<br />

pequ e n o s , são degr ad a d o s co m o aus e nt e s , e quan d o são<br />

grand e s de m ai s pas s a m a ser con sid er a d o s um a provo c a ç ã o ,<br />

juntam e nt e co m sua proprietária. É difícil para nós con c e b e r<br />

que existe m culturas que têm outro ideal e que, por exe m pl o,<br />

dão prefer ê n ci a ao s "peitos caído s", que lá são sím b ol o s de<br />

ma dur ez, fertili<strong>da</strong>d e e de um a vi<strong>da</strong> muito be m vivi<strong>da</strong>.<br />

Na Alem anha, a fórmula simpl e s que se es c o n d e por trás <strong>da</strong><br />

definiçã o digital é que quanto maior o busto, m ais<br />

(sexual m e nt e) excitante é a mulh er. Trata- se de uma<br />

sexuali<strong>da</strong>d e co m forte orla mat ern al. O "con quistad or<br />

ma s c ulino" pod e es c o n d e r- se e m tais seio s e deixar- se mi m ar<br />

por eles co m o quan d o era be b ê . É nes s e sentido que o<br />

sinto m a do fetichis m o dos seio s pod e ser interpretad o . Tais<br />

ho m e n s procura m a m ã e na mulh er, m ais que para a<br />

satisfaç ã o genital m adur a, para <strong>da</strong>r- lhes co b ertura e m o ci o n al,<br />

abrigo e proteç ã o e, junta m e nt e co m isso, a mulh er pod er o s a .<br />

que a infantil cultura norte- am eric a n a, que vai <strong>da</strong> co mi<strong>da</strong> ao<br />

per m a n e n t e jogo de índios e co w b o y s e pas s a por Mickey<br />

Mouse, se desta q u e tam b é m aqui, é tão pouc o de ad mirar<br />

co m o a prefer ê n ci a italiana corresp o n d e n t e . Classic a m e n t e , a<br />

ma m m a italiana tem seio s fartos e colo c a- se inteira m e nt e à<br />

dispo siç ã o de suas crianç a s , grand e s e pequ e n a s .<br />

Vários proble m a s co m o peito e co m os seios se<br />

des e n v olv e m a partir <strong>da</strong> valoraç ã o social, m a s tam b é m do<br />

resp e ctivo am bi e nt e individual. A silhueta ideal está e m bo a<br />

parte sub m e tid a ao go sto de cad a ép o c a . Se na vira<strong>da</strong> do<br />

sécul o a de m a n d a ain<strong>da</strong> era por silhueta s arred o n d a d a s e mais<br />

gen er o s a s , hoje e m dia ped e- se um a linha es g uia. A imag e m<br />

ideal <strong>da</strong> estrela ch eia de curvas difundi<strong>da</strong> por Hollywo o d era a<br />

<strong>da</strong> mulh er es b elta co m seio s grand e s . O ideal Twiggy, um a<br />

silhueta de rapaz pratica m e n t e se m seios, já fez furor no<br />

mund o antigo. Nesta varied a d e de ideais, os probl e m a s não<br />

pod e m ficar de fora. De fato nen hu m órgã o, incluindo o nariz, é<br />

37<br />

3


op er a d o tão freqü e nt e m e n t e se m nec e s si d a d e m é dic a co m o o<br />

peito (glândulas ma m á ri a s) feminin o. Ao m e s m o tem p o ,<br />

entretanto, tam b é m nenhu m órg ã o feminin o é op er a d o co m<br />

mais urgên ci a e nec e s si d a d e , já que o carcin o m a <strong>da</strong> ma m a é o<br />

cân c er mais freqü e nt e nas mulh er e s .<br />

Câncer de mama<br />

O cân c er de m a m a não só é o cân c er feminin o m ais<br />

freqü e nt e co m o é tam b é m o mais angu stiante. Quando algo tão<br />

duro e tão m align o cres c e de m an eira tão palpáv el no lugar<br />

mais belo e m ais ma ci o, provo c a ain<strong>da</strong> mais horror. Os<br />

princípio s enun ciad o s no capítulo geral so br e cân c er são<br />

válido s para o sinto m a e m geral. A localizaç ã o e o significad o<br />

esp e ci al do órgã o e m que st ã o traze m o plano do<br />

ac o nt e ci m e n t o para si. Quando o suav e tecido glandular <strong>da</strong><br />

ma m a , e m vez do natural ac o n c h e g o e prazer que prop orci o n a<br />

torna- se duro e malign o, os tem a s <strong>da</strong> mat erni<strong>da</strong>d e , do prazer e<br />

do relacio n a m e n t o são enun ciad o s e fornec e m a bas e do<br />

dra m a. "Aquilo" atingiu a afetad a no lugar m ais sen sív el, nas<br />

proximi<strong>da</strong>d e s do coraç ã o , e ela o guar<strong>da</strong> para si, não deixand o<br />

que ningu é m perc e b a o quanto está feri<strong>da</strong> e zang a d a. O corp o,<br />

portanto, precis a m o strar o que está real m e nt e ac o nt e c e n d o . E<br />

é o inferno que pulsa e m seu seio, o coraç ã o tornad o<br />

literalm e nt e antro de ass a s si n o s .<br />

Ao lado do asp e ct o <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e, o peito, devid o à sua<br />

form a, tem um caráter destac a d o tam b é m na sexuali<strong>da</strong>d e , e<br />

portanto é enun ciad o tam b é m o co m p o n e n t e agr e s siv o do<br />

erotis m o .<br />

A fase do colap s o do siste m a imun oló gi c o e, co m ele, a <strong>da</strong><br />

irrupçã o <strong>da</strong> do e n ç a propria m e n t e dita está, no cas o do cân c er<br />

de m a m a , marc a d a por um a profun<strong>da</strong> preo c up a ç ã o que a<br />

afetad a não ad mite e m to<strong>da</strong> a sua env er g a d ur a. Ela se aflige<br />

co m algo muito m ais do que ad mite, ap ertan d o- o e m seu peito<br />

não para tê- lo m ais perto, m a s para ocultá- lo. Ela não grita o<br />

quanto está preo c up a d a ou zang a d a co m o ultraje ou o<br />

37<br />

4


ferim e nt o infligido, tend e n d o a con s erv á- lo e m seu seio, ond e<br />

ele pod e en c arn ar- se e transfor m ar- se e m cân c er.<br />

Aquilo que pare c e res erv a altruísta e que às vez e s é<br />

con sid er a d o e m al interpretad o co m o sen d o co m pr e e n s ã o , é<br />

muito mais a angústia de atac ar e de acus ar, de lutar pelo s<br />

próprios interess e s . Muitas vez e s o orgulho tam b é m imp e d e<br />

uma oportun a erupç ã o . A mat erni<strong>da</strong>d e sacrificad a está<br />

esp e ci al m e n t e distante do eg oís m o , que é portanto<br />

con s ci e nt e m e n t e reprimido. Mas ele volta a se exprimir no<br />

corp o, e justa m e nt e no lugar ond e a ver<strong>da</strong>d eir a m ei guic e e a<br />

co m pr e e n s ã o mat ern al vive m (para tudo). Não se pod e dizer<br />

na<strong>da</strong> contra es s e s elev a d o s ideais, ap en a s que a afetad a<br />

evid e nt e m e n t e (ain<strong>da</strong>) não está e m condiç õ e s de viver es s e<br />

objetivo se m res erv a s . A res erv a não ad miti<strong>da</strong> se en c arn a e<br />

deixa ver quanta en er gia infernal estav a ador m e c i d a no próprio<br />

seio e ag or a está des p erta. To<strong>da</strong> a agre s sivi<strong>da</strong>d e , en er gi a<br />

destrutiva, avidez e falta de con sid er a ç ã o irromp e ag or a no<br />

plan o do corp o.<br />

Os m a ci o s tecido s alim e ntad o r e s do peito, cuja tarefa é <strong>da</strong>r,<br />

cui<strong>da</strong>r e alim e ntar, torna m - se eg oí stas a um ponto que a<br />

afetad a jam ais gostaria con s ci e nt e m e n t e de ser. O corp o, co m<br />

isso lhe retira algo que ela recus a, não porqu e não o tenha mas<br />

porqu e não o assu m e ou não o ad mite.<br />

Tam b é m no que se refer e ao peito co m o órgã o de<br />

relacion a m e n t o , no cân c er de m a m a a agre s sivi<strong>da</strong>d e m er gulha<br />

igual m e nt e na so m b r a. Muitas vez e s o cân c er, na form a de<br />

reentrân ci a s <strong>da</strong> pele, mo stra que a afetad a desistiu <strong>da</strong> iniciativa<br />

e optou pelo rec olhi m e nt o. O rec olhi m e nt o, entretanto, não é<br />

indicad o no plano corp or al, m a s unica m e n t e no aní mic o, e<br />

m e s m o assi m so m e n t e no sentido de recup er a ç ã o <strong>da</strong> religio.<br />

Com o órgã o pro e m i n e nt e, se m el h a nt e ao nariz, cab eria ao<br />

peito, entre outras cois a s, ser agr e s siv o. O quanto es s e<br />

co m p o n e n t e é important e pod e ficar claro pelo fato de es s e s<br />

órg ã o s ser e m de long e os que mais são m o dificad o s<br />

cirurgica m e n t e , evid e nt e m e n t e para pod er salientar m elh or as<br />

quali<strong>da</strong>d e s dirigi<strong>da</strong>s para o exterior.<br />

37<br />

5


O ele m e n t o agre s siv o não vivido con s ci e nt e m e n t e expres s ase<br />

tanto no surgi m e nt o do cân c er co m o nas terapias corrent e s .<br />

Quando os nódulos, que e m si são se m pr e um sím b ol o de<br />

probl e m a s não solucion a d o s , são extirpad o s cirurgica m e n t e<br />

co m o bisturi, não é pos sív el deixar de rec o n h e c e r a agr e s s ã o ,<br />

que ch e g a a ser san gr e nt a. Mas as irradiaç õ e s ricas e m<br />

en er gi a tam b é m irradia m agre s sivi<strong>da</strong>d e , já que m ata m muitas<br />

células saud á v ei s junta m e nt e co m as can c erí g e n a s . O m e s m o<br />

é válido para a quimiot er apia, cujo tipo de agre s sivi<strong>da</strong>d e<br />

diab ólic a li<strong>da</strong> co m o env e n e n a m e n t o e o bloqu ei o e é o que<br />

sim b olic a m e n t e se enc o ntra m ais próxim o do cân c er. Esse s<br />

m ét o d o s repulsivo s colo c a m e m jogo algo que falta ao pacient e<br />

de cân c er. Caso ele o integrass e e m sua con s ci ê n ci a, pod eria<br />

libertar o princípio de sua existên cia de so m b r a corp oral e<br />

livrar- se <strong>da</strong> am e a ç a .<br />

Na mitolo gia há um m otivo que se aproxim a des s e<br />

ac o nt e ci m e n t o . Pentes siléia, a rainha <strong>da</strong>s am az o n a s , amputa o<br />

seio direito para m elh or pod er estirar seu arc o na luta, ou seja,<br />

para fazer bonito e m um mun d o de ho m e n s . Seguindo seu<br />

exe m pl o, as am az o n a s pas s a m a mutilar o peito de suas filhas<br />

para equip á -las m elh or para a luta pela vi<strong>da</strong> e para ser e m<br />

co m o ho m e n s ao m e n o s do lado direito. Elas renun cia m de<br />

livre e esp o ntân e a vontad e a um a parte de sua feminili<strong>da</strong>d e<br />

porqu e ela m et e u- se e m seu ca minh o e as imp ed e de enfrentar<br />

a dura vi<strong>da</strong>.<br />

O cân c er de ma m a sinaliza igual m e nt e que a suav e m an eir a<br />

feminina tornou- se um e m p e c ilh o para o do mínio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Ele<br />

m o stra que a suavi<strong>da</strong> d e se transfor m a e m durez a e que, se as<br />

circunstânci a s o per mite m , é precis o renun ciar totalm e nt e a<br />

uma parte <strong>da</strong> feminili<strong>da</strong>d e. O que não ac o nt e c e e m sentido<br />

figurad o torna- se e m algu m m o m e n t o tarefa do cirurgião, que<br />

extirpa o que está no ca min h o (<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>). que m não está<br />

dispo st o a proc e d e r às incisõ e s nec e s s á ria s e m sua vi<strong>da</strong>,<br />

precis a finalm e nt e per mitir que elas seja m feitas no plano não<br />

redimid o.<br />

A tarefa de abrir mã o (temp or aria m e n t e) de certo s âm bito s<br />

37<br />

6


<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para atend er a outros que ne m de long e estã o<br />

rec e b e n d o a aten ç ã o devi<strong>da</strong> quer dizer, nest e cas o , ab and o n ar<br />

o reino <strong>da</strong>s mã e s , o mun d o <strong>da</strong> Lua. Isso pod e significar, por<br />

exe m pl o: desistir de dep e n d ê n ci a s ; renun ciar a garantias de<br />

be m - estar m at erial liga<strong>da</strong> s a condiç õ e s contrárias ao<br />

des e n v olvi m e nt o; ab and o n ar o pap el de "bo a esp o s a", am a nt e<br />

tolerant e e per m a n e n t e m e n t e e m se gund o plan o, "filha<br />

queri<strong>da</strong>", m ã e co m pr e e n s i v a" a que m tudo agra<strong>da</strong>, enterrar e m<br />

sentido figurad o e de livre e esp o nt ân e a vontad e a casinh a<br />

co m lareira; aba n d o n a r a postura de princ e sin h a do ped a ç o ;<br />

deixar m orr er a m e nin a privilegiad a de bo a família; ab and o n ar<br />

a mã e igreja em prol do próprio ca minh o , etc.<br />

O cân c er é fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e um sinal de que não se trilha<br />

ou não se está m ais trilhand o o próprio ca min h o de<br />

des e n v olvi m e nt o , que o nas ci m e n t o <strong>da</strong> alm a não está se<br />

con s u m a n d o . O cân c er resp e ctivo m o stra à pes s o a e m que<br />

ponto do can al de nas ci m e n t o se ficou atas c a d o . Em se<br />

tratand o do peito, arranh a- se o sen sív el âm bito <strong>da</strong> mat erni<strong>da</strong>d e<br />

e, co m isso, to<strong>da</strong> a probl e m á tic a de cui<strong>da</strong>r e ser cui<strong>da</strong>d o, de<br />

alim e ntar e ser alim e ntad o , de am a m e n t ar e ser am a m e n t a d o ,<br />

de prov er e ser provido. Portanto, não é de ad mirar que nas<br />

pacient e s de cân c er de m a m a , quas e se m exc e ç ã o ,<br />

en c o ntr e m o s relacio n a m e n t o s esp e ci ais de mat erni<strong>da</strong>d e ,<br />

des d e inexistent e s, pas s a n d o pelo s que são neg a d o s , até<br />

"exc e p ci o n al m e n t e profund o e bo m ". É nes s e contexto que se<br />

dev e pen s ar tam b é m no que se refer e à racha dur a do ma milo,<br />

um sinal de alerta para o cân c er de ma m a que afeta no míni m o<br />

10 % <strong>da</strong>s paci ent e s . As glândulas m a m á ria s co m e ç a m a<br />

produzir leite e indica m que o tem a <strong>da</strong> alim e nta ç ã o e <strong>da</strong><br />

am a m e n t a ç ã o m er gulh o u na so m b r a.<br />

Com o sím b ol o <strong>da</strong> maci ez e <strong>da</strong> m ei guic e, enun cia- se tam b é m<br />

co m o peito a tem átic a do mant er e ser mantido, <strong>da</strong><br />

vulnera bili<strong>da</strong>d e e do m artírio, do insulto e <strong>da</strong> sen sibili<strong>da</strong>d e. O<br />

peito, co m o órgã o de relacion a m e n t o , colo c a perigo s a m e n t e<br />

e m cen a os tem a s do rec olhi m e nt o e do estar- fora- de- si, <strong>da</strong><br />

atraç ã o e <strong>da</strong> sedu ç ã o , do oculta m e nt o e do des afio.<br />

37<br />

7


Em tudo isso, o objetivo justa m e n t e não é fazer "o certo", "o<br />

que é bo m" ou "o que se esp er a", mas des c o b rir e impor aquilo<br />

que é próprio, individual. Ca<strong>da</strong> ca minh o de des e n v olvi m e n t o é<br />

único, ain<strong>da</strong> que sua m eta, a uni<strong>da</strong>d e, seja idêntica à de todo s<br />

os outros ca min h o s . Em última instân cia, é precis o realizá- lo,<br />

ma s ante s dev e real m e nt e entrar e m jogo o am or co m o<br />

liberaç ã o <strong>da</strong> tem átic a do cân c er. Esse am or não tem<br />

evid e nt e m e n t e na<strong>da</strong> a ver co m ser am á v el. Antes de ch e g ar a<br />

es s e ponto, e m que a mulh er é uma co m tudo e co m todo s,<br />

justa m e nt e é precis o deixar claro que ela não está de ac ord o<br />

co m tudo, m a s que tem a intenç ã o de trilhar seu próprio<br />

ca min h o . Para isso ela precis a entã o, temp or aria m e n t e , fazer<br />

pouc o <strong>da</strong> suavi<strong>da</strong>d e , <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>d e, <strong>da</strong> cap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

a<strong>da</strong>pta ç ã o e dos outros atributos típico s <strong>da</strong> feminili<strong>da</strong>d e. É<br />

certa m e n t e mais saud á v el renun ciar a isso de livre e<br />

esp o nt â n e a vontad e e m deter min a d a s fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que<br />

precis ar renun ciar ao sím b ol o des s e s traç o s feminino s típico s,<br />

o peito.<br />

Caso o peito já tenha sido perdido nes s e ajuste de conta s,<br />

torna- se claro entã o o que a mulh er tinha nele. Perdeu- se<br />

muito m ais que um órgã o. Vai-se tam b é m um sím b ol o e, co m<br />

ele, um a parte do sentim e nt o de valor próprio. Quando uma<br />

mulh er não se sent e mais um a mulh er de ver<strong>da</strong>d e apó s a<br />

am puta ç ã o , ela sentia- se mulh er so br etud o por m ei o de seu<br />

corp o. No futuro, ela será forçad a a não mais se definir<br />

unica m e n t e segun d o a feminili<strong>da</strong>d e corp or al. Outros conteúd o s<br />

vitais quer e m ser aten did o s .<br />

Mulheres que sacrificara m um ou até m e s m o os dois seio s<br />

ao cân c er e so br e viv er a m muitos ano s à am puta ç ã o relata m<br />

impres si o n a d a s co m o suas vi<strong>da</strong>s se m o dificara m ,<br />

principal m e nt e no sentido do conteú d o . O mito <strong>da</strong>s am az o n a s<br />

pod e deixar transp ar e c e r aqui um pan o de fundo. Assim, a<br />

per<strong>da</strong> pod e transfor m ar- se e m oportuni<strong>da</strong>d e para enc o ntrar<br />

uma nova identi<strong>da</strong>d e individual. Um conteúd o vital central<br />

con sig o m e s m o e que tem pouc o a ver co m os outros precis a<br />

entrar na vi<strong>da</strong>.<br />

37<br />

8


Aqui pod e ficar claro por que o cân c er de m a m a tornou- se o<br />

cân c er feminin o m ais freqü e nt e. Sua taxa de cres ci m e n t o é<br />

impres si o n a nt e. Enquanto m e n o s de 30 e m cad a 100 mil<br />

mulh er e s m orria m de cân c er de m a m a na República Fed er al<br />

Alemã e m 19 6 1 , e m 1 9 8 5 já era m mais de 40. Essas cifras<br />

torna m- se ain<strong>da</strong> mais assustad or a s quan d o se pen s a que o<br />

siste m a de rec o n h e c i m e n t o prec o c e 74 já tinha obtido êxito<br />

co m pl et o e a op er a ç ã o per mitia a quas e 90 % <strong>da</strong>s mulh er e s<br />

so br e viv er ao s 5 ano s se g uintes se m rec aí<strong>da</strong>. O en or m e índic e<br />

de cres ci m e n t o tem evid e nt e m e n t e a ver co m um a<br />

probl e m á tic a que ve m se acu m ul and o e m noss a so ci e d a d e<br />

m o d e r n a. As glândulas m a m á ria s, de qualqu er form a, nunc a<br />

fora m um órg ã o esp e ci al m e n t e prop e n s o ao cân c er. Com o já<br />

foi m e n ci o n a d o , há culturas que não con h e c e m es s e au m e nt o<br />

<strong>da</strong> incidên ci a de cân c er e, con s e q ü e n t e m e n t e , es s e aum e nt o<br />

<strong>da</strong> incidên ci a de cân c er <strong>da</strong> m a m a . No cas o do peito, trata- se<br />

natural m e nt e de tecido s declara d a m e n t e sen sív ei s. Por outro<br />

lado, eles existe m tam b é m na bo c a. Aqui se dev eria so m ar<br />

ain<strong>da</strong> o contato co m um se m - núm er o de substânci a s<br />

can c erí g e n a s . Apesar diss o, há muitíssi m o m e n o s cân c er nas<br />

muc o s a s <strong>da</strong> bo c a. Nas vac a s leiteiras, que sofre m de<br />

inflam a ç õ e s do úb er e co m maior freqü ê n ci a que as mulh er e s<br />

sofre m de inflam a ç õ e s <strong>da</strong>s glândulas m a m á ria s, o cân c er<br />

nes s a regiã o é des c o n h e c i d o .<br />

Ao se busc ar a situaç ã o esp e c ífica, não é difícil des c o b rir a<br />

neglig ê n ci a do ca minh o feminino próprio, que não precis a ter<br />

na<strong>da</strong> a ver co m o ideal feminino e m vog a e que requ er muito<br />

mais durez a e força do que muitos con sid er a m correto. Neste<br />

contexto, en c aixa- se tam b é m o fato de que as freiras são<br />

afetad a s pelo cân c er de m a m a co m um a freqü ê n ci a aci m a <strong>da</strong><br />

m é di a. Fica e m susp e n s o sab er e m que m e di<strong>da</strong> a voc a ç ã o<br />

religios a vai contra o ca min h o feminin o. Provav el m e n t e são<br />

afetad a s justa m e n t e aqu el a s freiras que não estã o se guind o<br />

seu ca minh o porqu e não se g u e m uma voc a ç ã o ver<strong>da</strong> d eira,<br />

tend o sido e m p urrad a s para o conv e nt o pela vi<strong>da</strong>. E talvez<br />

tam b é m aqu el a s que real m e nt e ouvira m um cha m a d o m a s<br />

37<br />

9


dep ois perd er a m contato co m o ca min h o m o n á stic o e m e s m o<br />

assi m per m a n e c e r a m . Assim co m o a vi<strong>da</strong> m o n á stic a mal<br />

utiliza<strong>da</strong> para a fuga pro m o v e o cân c er, ela pod e tam b é m<br />

imp e di- lo na m e di<strong>da</strong> e m que leva a mulh er ao ca min h o que lhe<br />

corre s p o n d e .<br />

Pesquis a s epid e m i ol ó gi c a s conten d o a distribuiçã o <strong>da</strong><br />

do e n ç a entre a populaç ã o rev ela m outras relaç õ e s<br />

interes s a nt e s . Enquanto as freiras ado e c e m de cân c er <strong>da</strong><br />

ma m a co m freqü ê n ci a aci m a <strong>da</strong> m é di a, as mulh er e s que<br />

tivera m m ais crianç a s quan d o joven s são as m e n o s afetad a s .<br />

Se elas já tinha m mais de 25 ano s por oc a si ã o do parto, o risco<br />

volta a subir. Mulheres que só têm filhos dep ois dos 30 pas s a m<br />

a correr mais risco que as que não têm filhos. Naturalm e nt e,<br />

não faz o m e n o r sentido esta b el e c e r plan o s de família co m<br />

bas e nes s a s estatística s. Isso seria co m pr e e n d e r mal o sentido<br />

caus al <strong>da</strong>s estatística s. Por outro lado, elas têm um caráter<br />

indicativo bastant e confiáv el. Logo, ter filhos prec o c e m e n t e<br />

continua sen d o decisivo para a auto- realizaç ã o de muitas<br />

mulh er e s , en quant o ter filhos m ais tarde pod eria ser um a<br />

exig ê n ci a que ve m de fora ou uma con sid er a ç ã o racion al. A<br />

isso corresp o n d e m exp eriên ci a s <strong>da</strong> psicoter apia ond e não é<br />

raro con statar que, so b a sup erfície de um estilo de vi<strong>da</strong><br />

m o d e r n o , continua m viven d o ideais e padrõ e s prim e v o s . As<br />

interpreta ç õ e s <strong>da</strong>s estatística s são se m pr e m elindr o s a s ,<br />

esp e ci al m e n t e co m um tem a des s e s e e m um a ép o c a tão<br />

en g ajad a nes s e sentido. Fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , pod e- se con statar<br />

que ap e s ar de to<strong>da</strong>s as indicaç õ e s quanto à importân cia do<br />

ca min h o próprio, não se pod e seguir de man eira geral os<br />

grand e s rastro s do m o vi m e n t o de e m a n cip a ç ã o . Este contribuiu<br />

talvez co m aqu el e que é o m ais importante profilático do cân c er<br />

de ma m a <strong>da</strong>s ultimas déc a d a s , já que abriu novo s esp a ç o s<br />

(livres) e pos sibili<strong>da</strong>d e s para as mulh er e s . Mas à m e di<strong>da</strong> que<br />

obtev e pod er, lanç o u um a so m b r a so br e si m e s m o . A<br />

prev e n ç ã o do cân c er de ma m a seria um estimulo para o<br />

ca minh o fe minino próprio. O ac e nt o aqui está igual m e nt e<br />

distribuído entre próprio e feminin o, m a s o m o vi m e n t o<br />

38<br />

0


feminista, usand o palavra s de orde m legítim a s e m suas<br />

ban d eira s, anim a cad a vez mais as mulh er e s a se impor e m<br />

co m o ho m e n s , des v al orizan d o assi m, se m intenç ã o , o ca min h o<br />

feminin o. Onde crianç a s , cozinha e igreja transfor m a m - se e m<br />

palavras pejorativas, torna- se difícil para muitas mulh er e s<br />

en c o ntrar e valorizar seu ca min h o . Esses âm bito s tem átic o s<br />

estã o anc or a d o s mais profun<strong>da</strong> m e n t e do que agrad a ao s<br />

defen s o r e s do espírito <strong>da</strong> ép o c a.<br />

É pratica m e n t e impo s sí v el en c o ntrar um perfil esp e c ífic o de<br />

pers o n ali<strong>da</strong>d e pred e stin ad a ao cân c er de ma m a . A con st el a ç ã o<br />

de probl e m a s é tão individual co m o o ca min h o . O tem a do<br />

ca min h o ab and o n a d o ou não enc o ntrad o ou de qualqu er form a<br />

não trilhad o transp ar e c e , so b uma form a ou outra, quas e<br />

se m pr e. No que se refer e à m at erni<strong>da</strong>d e , os nódulos que<br />

cres c e m indica m que aqui algo está cres c e n d o e m sub stituiçã o<br />

à mat erni<strong>da</strong>d e genuín a, algo frio e perigo s o . A afetad a pod e<br />

ser integral m e nt e mã e, tal co m o apar e c e nos livros. Quando o<br />

ser m ã e não está e m seu coraç ã o e ela des e m p e n h a para o<br />

mund o o pap el de m ã e de livro ilustrad o, este não é seu<br />

ca min h o e se transfor m a em um perigo. Em seu mod o altruísta,<br />

o am or mat ern o é um a reprodu ç ã o do am or cele st e. Quando<br />

ve m do coraç ã o , ele é um rem é di o milagr o s o , m a s quan d o<br />

so m e n t e imita nor m a s sociais, pod e custar a vi<strong>da</strong>. A mulh erm<br />

o d el o que está inteira m e n t e satisfeita con sig o m e s m a e co m<br />

seu co m p a n h eir o pod e ter o m e s m o probl e m a por se aproxi m ar<br />

tanto do ideal feminin o. Mas quan d o ele não corresp o n d e a seu<br />

ideal interno, sua vi<strong>da</strong> m o d el ar tam b é m pod e ser susp eita de<br />

cân c er. Até m e s m o a mulh er agre s siva, que apar e nt e m e n t e<br />

so m e n t e busc a aquilo que a diverte, não está auto m atic a m e n t e<br />

segur a. Quem des e m p e n h a o pap el de va m p e co m tanto êxito<br />

se m sê- lo está e m perig o co m o o rato cinzento que gostaria de<br />

ser va m p e e não se atrev e. A mulh er m o d er n a, que se<br />

"em a n cip a" porqu e hoje isso faz parte, ma s que son h a co m o<br />

clás sic o pap el de ser- so m e n t e- mã e há muito des c artad o pelo<br />

espírito <strong>da</strong> ép o c a, faz igual m e nt e parte do grupo de risco.<br />

To<strong>da</strong> s as m e di<strong>da</strong>s extern a s a resp eito dos padrõ e s ditado s<br />

38<br />

1


pela so ci e d a d e são prec árias, pois quas e nunc a corre s p o n d e à<br />

man eira própria. Mas que m não corresp o n d e à sua própria<br />

man eira de ser vive perigo s a m e n t e . O perig o é que sua<br />

deg e n e r a ç ã o , este sair <strong>da</strong> própria esp é ci e, m er g ulh a no corp o<br />

e, nes s e plan o, revi<strong>da</strong> contra ela m e s m a . Cons e q ü e n t e m e n t e ,<br />

a m elh or profilaxia contra o cân c er é um a vi<strong>da</strong> corajo s a, ou<br />

seja, trilhar o ca minh o individual rum o à singulari<strong>da</strong>d e . O<br />

ca min h o é perfeita m e n t e individual, m a s a m eta é supraindividual<br />

e perfeita.<br />

O rabino has sídic o Susya diss e pouc o ante s de sua m orte:<br />

"Quando eu che g ar ao céu, não vão m e perguntar: por que<br />

voc ê não foi Moisés? Mas eles vão perguntar: por que voc ê<br />

não foi Susya? Por que voc ê não foi aquilo que so m e n t e voc ê<br />

podia ser?".<br />

P er g u nta s<br />

1 Que pap el des e m p e n h a o tem a m ã e e m minha vi<strong>da</strong>?<br />

Espero que cuide m de ruim? Satisfaz- m e cui<strong>da</strong>r de outros?<br />

Qual minh a posiç ã o e m relaç ã o à minha mã e, a ser mã e?<br />

2. Que pap el des e m p e n h a o sustentar para ruim? Por que<br />

razõ e s eu sustento? Com que sentim e nt o e a que preç o eu<br />

deixo que me sustent e m ? Poderia sustentar a ruim mes m a ?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a para ruim a auto- suficiên cia, ou<br />

seja, a em a n cip a ç ã o ?<br />

4. Quão agr e s siv o e de m o n s tr ativo per mito que m e u peito<br />

seja? Atrevo- m e a usá- lo co m o sinal?<br />

5. Encontrei m e u ca minh o co m o mulh er? Estou<br />

progr e din d o nele?<br />

6. Isso que vivi até ag or a foi minh a vi<strong>da</strong>? Isso que vejo vir<br />

e m minh a direç ã o é minha vi<strong>da</strong>?<br />

7. Para ond e vai m e levar? Qual é m eu son h o ? Qual é<br />

minh a m eta?<br />

38<br />

2


11<br />

O Ventre<br />

Após ter interpretad o exten s a m e n t e a vi<strong>da</strong> interna do ventre<br />

no livro Pro bl e m a s dige stiv o s 75 , resta interpretá- lo co m o regiã o.<br />

Localizad o entre o peito e a bacia, ele proteg e muito m e n o s<br />

que este s. Com a ereç ã o so br e as perna s tras eiras, ele sofreu<br />

a maioria <strong>da</strong>s des v a nt a g e n s . Quando se ca minhava so br e as<br />

quatro patas, suas tripas ain<strong>da</strong> estav a m real m e nt e protegid a s<br />

na cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al. A co b ertura acim a era feita pela coluna<br />

vertebr al, os m e m b r o s garantia m a segur an ç a dos flanc o s, por<br />

baixo estav a o chã o protetor, a parte frontal era garanti<strong>da</strong> pelo<br />

baluarte <strong>da</strong> caixa torácic a. Ao ficar m o s ereto s, o ventre ficou<br />

ab erto para a frente e ampla m e n t e despr ot e gi d o . Som e nt e a<br />

cap a abd o m i n al, co m seus mús c ul o s long o s e ach atad o s , o<br />

proteg e de ferim e nt o s e imp e d e que as vísc er a s caia m para<br />

fora.<br />

Mas não foi so m e n t e prote ç ã o , o ventre perd e u tam b é m<br />

significad o co m a asc e n s ã o <strong>da</strong> cab e ç a . Baseand o - se na<br />

história dos des e n v olvi m e nt o s individual e <strong>da</strong> esp é ci e,<br />

análo g o s em grand e s traço s, pod e- se ver, pela importân cia que<br />

o ventre tem para o be b ê , que pap el ele dev e ter<br />

des e m p e n h a d o para nos s o s prim eiro s anc e strais. Para a<br />

crianç a pequ e n a , tudo gira ao redor dele e de sua sen s a ç ã o de<br />

vi<strong>da</strong>. Quando ele está quent e e ch ei o, o mund o está e m orde m ,<br />

quan d o ele está vazio e tens o, surg e m sinais de torm e nt a. As<br />

con sid er a ç õ e s <strong>da</strong> cab e ç a ain<strong>da</strong> não des e m p e n h a m pap el<br />

nen hu m , e até m e s m o os estí mulo s do coraç ã o fica m atrás <strong>da</strong>s<br />

sen s a ç õ e s <strong>da</strong> barriga.<br />

Nós e m geral não quer e m o s ter m ais na<strong>da</strong> a ver co m es s a<br />

prim eira fas e <strong>da</strong> história de nos s o des e n v o l vi m e n t o .<br />

Expres s õ e s tais co m o "aterriss ar de barriga" ou "cair de<br />

barriga" m o stra m que retroc e s s o s no temp o, quan d o a vi<strong>da</strong><br />

girava ao redor do ventre, são extre m a m e n t e m alvisto s. Quem<br />

38<br />

3


ag e a partir <strong>da</strong> "barriga vazia" não desfruta de qualqu er<br />

rec o n h e c i m e n t o . A fria cab e ç a distan cia- se do ventre e de suas<br />

exig ê n ci a s des or d e n a d a s e até mes m o caótica s.<br />

Aquelas culturas que, co m o a indian a, confia m nos<br />

sentim e nt o s do ventre e na intuição, fora m aba n d o n a d a s e m<br />

noss o mund o. Preferim o s cha m a r as que so br e vivera m de<br />

primitivas. De fato, os sentim e nt o s e e m o ç õ e s do esp a ç o<br />

abd o m i n al têm algo de primitivo quan d o co m p ar a d o s co m as<br />

diferent e s opiniõ e s e reflexõ e s <strong>da</strong> cab e ç a . Uma en er gia tão<br />

primordial co m o a fom e que abr e ca minh o a partir <strong>da</strong>s<br />

profund ez a s do intestino será nec e s s a ri a m e n t e con sid er a d a<br />

gros s eira e bruta e m co m p ar a ç ã o co m as contribuiç õ e s se m pr e<br />

prontas para a discus s ã o do cér e br o . A ira na barriga é o<br />

co m p a n h eir o mais difícil para a cab e ç a inteligent e.<br />

Se a cab e ç a é a central <strong>da</strong> razã o e o coraç ã o é o centro <strong>da</strong>s<br />

e m o ç õ e s e dos m o vi m e n t o s afetivo s <strong>da</strong> alm a, o ventre é o lar<br />

dos sentim e nt o s e impuls o s primitivo s, infantis por um lado e,<br />

por outro, arcaic o s . O terc eiro chakra, localizad o ab aixo do<br />

umbig o, está ligado à en er gia e ao pod er prim ev o s . Para a<br />

crianç a pequ e n a , seu umbig o ain<strong>da</strong> é o um big o do mund o.<br />

Quando algo a contraria, ela reag e co m dore s de barriga, e se<br />

tudo vai be m ela pod e esfre g ar a barriga de contenta m e n t o . Os<br />

adultos até hoje atribue m ao estô m a g o sentim e nt o s de estar a<br />

salvo e de prote ç ã o so br e os quais não têm do mínio. Uma<br />

angústia profun<strong>da</strong> e incon c e b í v el provo c a dore s de barriga,<br />

probl e m a s intelectuais têm um a con e x ã o direta co m a dor de<br />

cab e ç a e a pres s ã o em o ci o n al ating e so br etud o o coraç ã o .<br />

O que o con d e Dürckhei m Hara cha m o u de o m ei o do<br />

mund o do ser hum a n o , é con sid er a d o de m an eir a geral pelo s<br />

orientais co m o o centro do corp o a partir do qual, por exe m pl o,<br />

eles des e n v o l v e m a en er gi a para as artes marciais. Com isso,<br />

as tradiç õ e s orientais ac eitara m e do min ar a m o des afio surgido<br />

co m o desnu d a m e n t o de nos s o ponto fraco. Para a maioria dos<br />

ocid e ntais, a barriga continua sen d o a parte fraca. Sua<br />

freqü e nt e flacidez gorduro s a a m o stra, assi m co m o a barriga<br />

grávi<strong>da</strong> e a cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al, co m o "local feminino<br />

38<br />

4


primordial" <strong>da</strong> rec e p ç ã o , <strong>da</strong> digestã o e <strong>da</strong> reg e n e r a ç ã o .<br />

Desprote gid o e vulneráv el, o ventre é o lugar do corpo para<br />

expr e s s ar a angú stia existen ci al e a resp e ctiva am e a ç a do<br />

ho m e m e m seu mun d o . O um big o é o teatro <strong>da</strong> prim eira crise<br />

existen ci al grav e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Antes ain<strong>da</strong> que a nova pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de provisã o seja testad a, o cordã o umbilical, aqu el a linha de<br />

ab a st e ci m e n t o que garantia as condiç õ e s de país <strong>da</strong>s delicias<br />

no ventre mat ern o , é cortad o. A angú stia de m orr er de fom e,<br />

certa m e n t e um a <strong>da</strong>s m ais prim ordiais de to<strong>da</strong>s, é enun ciad a.<br />

Ao m e s m o temp o, sofre m o s no um big o a prim eira cicatriz<br />

inevitáv el <strong>da</strong> luta pela vi<strong>da</strong>. Caso se tentas s e adiar o corte do<br />

cordã o um bilical, a vi<strong>da</strong> física se veria extre m a m e n t e<br />

incap a citad a, se não am e a ç a d a . A tentativa de adiar o corte do<br />

cordã o um bilical no sentido figurad o leva a proble m a s que<br />

freqü e nt e m e n t e se sedi m e n t a m no estô m a g o ou no duod e n o 75 .<br />

Finalm e nt e, o ventre é tam b é m o arm az é m do corpo e<br />

m o stra as res erv a s mat eriais disponív ei s. Basta um olhar para<br />

a m o d er n a so ci e d a d e do be m - estar e seu proble m a de exc e s s o<br />

de pes o 76 para sab er quanta s pes s o a s gosta m de levar con sig o<br />

todo o nec e s s á ri o. Com o local de aprovision a m e n t o para<br />

ép o c a s de vac a s m a gr a s, a barriga m o stra a confianç a no<br />

futuro mat erial.<br />

Nós não valoriza m o s esta última funçã o, des pr ez a n d o a<br />

barriga por sua prec a u ç ã o arm az e n a d o r a . Quando tem o s bo a<br />

intenç ã o e m relaç ã o a um a pes s o a dize m o s "Erga a cab e ç a!<br />

Não se deixe ab at er!" e ac e ntua m o s o pólo sup erior. Uma<br />

barriga gor<strong>da</strong> e ch eia nos puxa para baixo, e há pouc a s coisa s<br />

que detest e m o s tanto. "Uma barriga cheia não estu<strong>da</strong> direito",<br />

diz a voz popular, e a expr e s s ã o "barriga preguiç o s a " m o stra<br />

definitiva m e n t e a crianç a (não) intelectual que é a barriga.<br />

Torna- se nova m e n t e claro o conflito de interes s e s entre o<br />

sup erior e o inferior. Todo o san g u e que o ventre co m pr o m e t e<br />

para suas ativi<strong>da</strong>d e s digestiva s falta à am bicio s a cab e ç a que<br />

quer estud ar. Preferim o s não ver que a barriga que nos puxa<br />

para baixo tam b é m nos liga à terra.<br />

O que o ho m e m m o d e r n o mais gostaria de ter e m lugar <strong>da</strong><br />

38<br />

5


arriga é um burac o , mús c ul o s abd o m i n ai s rijos que não têm<br />

pratica m e n t e na<strong>da</strong> a es c o n d e r, e ficar e m paz e m relaç ã o ao<br />

mund o inferior, inde c e nt e por definiçã o. Assim, os son s<br />

produzido s pela barriga, por exe m pl o, nos são extre m a m e n t e<br />

repugn a nt e s , en qu a nt o não tem o s na<strong>da</strong> contra aqu el e s do<br />

coraç ã o e até m e s m o valoriza m o s o que sai <strong>da</strong> bo c a, des d e<br />

que tenha a ver co m a digestã o intelectual, e não a con cr et a.<br />

Entretanto, pen a que a barriga res m u n g u e e m defe s a de seus<br />

interes s e s e até m e s m o o intestino se faça notar. O que a<br />

m etad e inferior tem a ofer e c e r não é real m e nt e muito fino. De<br />

qualqu er form a, ain<strong>da</strong> que não seja muito dign o, é<br />

ab s oluta m e n t e sinc er o.<br />

O ho m e m - ventre é o pólo opo st o m e n o s valorizad o do<br />

estetica m e n t e intelectualizad o ho m e m - cab e ç a , que exer c e a<br />

disciplina, tend e à razã o e no pior dos cas o s ao fanatis m o . Isso<br />

está long e do ho m e m - ventre, voltad o para o corp o e o praz er,<br />

que vive de seus pres s e nti m e n t o s e sen s a ç õ e s e para seus<br />

apetites.<br />

1. Herpes- zoster, a zona<br />

Com o, no cas o <strong>da</strong> zona, esta m o s tratand o do m e s m o<br />

quadr o de sinto m a s <strong>da</strong> erisipela facial, o que lá foi dito tam b é m<br />

dev e ser levad o e m con sid er a ç ã o . A infecç ã o secun d ária co m<br />

o vírus <strong>da</strong> varic ela zoster pod e afetar qualqu er um, pois<br />

pratica m e n t e todo s entrara m e m contato co m a varic ela,<br />

tam b é m cha m a d a de catap or a. Os ag e nt e s caus a d o r e s não<br />

ab and o n a m o corp o apó s a inofen siva do e n ç a infantil, ma s se<br />

entrinch eira m nas raízes posterior e s dos nervo s <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al. Sendo assi m, so m e n t e na áre a do tronc o há 3 1 pares<br />

de nervo s por cuja área de difusã o eles pod e m esp alh ar- se. A<br />

principal localizaç ã o do ataqu e dos vírus está acim a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong><br />

cintura, e a faixa etária en c o ntra- se entre os 50 e os 70 ano s<br />

de i<strong>da</strong>d e.<br />

38<br />

6


A inflam a ç ã o co m e ç a e m geral algun s dias dep ois <strong>da</strong><br />

erupç ã o típica, co m violenta s dore s ardent e s e agud a s . As<br />

pequ e n a s bolha s, restritas exclusiva m e n t e à áre a de difusã o<br />

dos nervo s afetad o s , circund a m o corp o form a n d o um cinturão.<br />

Ataque s bilaterais ou a propa g a ç ã o por m ais de dois<br />

seg m e n t o s de nervo são raros. Ain<strong>da</strong> assi m, dentro de quadr o s<br />

de enfer mi<strong>da</strong>d e s que enfraqu e c e m o siste m a de defe s a do<br />

org anis m o tais co m o a AIDS ou a leuc e m i a linfática, pod e- se<br />

ch e g ar à difusã o por todo o tronc o (zoster gen er alizad o).<br />

Normal m e n t e , as bolha s cheias de liquido sec a m rapi<strong>da</strong> m e n t e ,<br />

e as crosta s ca e m se m deixar cicatrizes apó s duas ou três<br />

se m a n a s . Complica ç õ e s tais co m o a form a ç ã o de úlcera s e a<br />

deg e n e r a ç ã o de tecido s pod e m retar<strong>da</strong>r o proc e s s o de<br />

recup er a ç ã o . Mais alé m de tais probl e m a s , o vírus continua<br />

agind o perfi<strong>da</strong> m e n t e. Um ou dois ano s apó s a extinçã o <strong>da</strong>s<br />

erupç õ e s cutân e a s , os locais afetad o s ain<strong>da</strong> pod e m do er<br />

violenta m e n t e e estar extre m a m e n t e sen sív ei s. O sinto m a afeta<br />

cad a pes s o a e m seu lugar m ais sen sív el, e m um m o m e n t o e m<br />

que as forças de defe s a do org anis m o diminu e m ou até mes m o<br />

entra m em colap s o .<br />

As rosa s que flores c e m na pele anuncia m ao pacient e que<br />

algo nele quer entrar e m erupç ã o . O vírus que espr eita,<br />

entrinch eirad o nas ramificaç õ e s posterior e s <strong>da</strong> m e d ul a<br />

espinh al, aprov eita um m o m e n t o de fraqu ez a para irromp er de<br />

seu exílio voluntário. Seu tem a se cha m a inflam a ç ã o e, co m<br />

isso, conflito e m um duplo sentido. Com bas e nas do e n ç a s<br />

fun<strong>da</strong> m e n t ais, que na m ai oria dos cas o s enc arn a m , por seu<br />

lado, um conflito, o herp e s- zoster repre s e nt a nova m e n t e um<br />

tem a de conflito. Um des e nt e n di m e n t o adiad o por muito temp o<br />

cha m a dolor o s a- m e nt e a aten ç ã o so br e si a reb o q u e de tropas<br />

estran g eir a s.<br />

Trata- se aí de um conflito de fronteiras, já que o cinturão e a<br />

cintura marc a m a fronteira entre o mund o sup erior e o mund o<br />

inferior, en qu a nt o a pele é o órg ã o geral de fronteira. A zona<br />

en c arn a o rompi m e nt o des s a fronteira e a irrupçã o do cont eú d o<br />

aní mic o so b a form a do liquido <strong>da</strong>s bolha s. Ela provo c a feri<strong>da</strong>s<br />

38<br />

7


úmi<strong>da</strong> s e abr e as fronteiras e m am b a s as direç õ e s . Assim<br />

co m o o liquido sai, os ag e nt e s caus a d o r e s pod e m entrar. Aqui<br />

tam b é m há algo de pérfido, pois en qu a nt o os afetad o s<br />

bloqu ei a m estrita m e nt e suas fronteiras entre o que está aci m a<br />

e o que está ab aixo e entre o que está dentro e o que está fora,<br />

o ass alto tem êxito partindo do próprio interior do país. Os vírus<br />

zoster assu m e m o pap el de quinta- coluna. O caráter de<br />

bo m b a - relógio <strong>da</strong> tem átic a é ac e ntuad o por sua esp e ci al<br />

man eira de agir. Ela pod e ser adiad a por muito temp o, ma s não<br />

ser posta de lado.<br />

Além diss o, a pele colo c a e m jogo os tem a s <strong>da</strong> defe s a e <strong>da</strong><br />

resistên ci a a um tem a central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A do e n ç a primária já<br />

deixa entrev er uma resistên ci a, que é nec e s s a ri a m e n t e tão<br />

grand e a ponto de abrir inteira m e n t e o corp o. Aquilo que por<br />

muito tem p o deu no s nerv o s desl o c a- se ag or a de b aix o <strong>da</strong> pele.<br />

A erupç ã o doloro s a do ataqu e torna o surto de resistên ci a<br />

dolor o s a m e n t e con s ci e nt e. O sentim e nt o de tens ã o , de algo<br />

que vai se estreitand o , en c arn a por um lado a angú stia e<br />

estreitez a <strong>da</strong> situaç ã o , e por outro tam b é m a nec e s si d a d e , já,<br />

<strong>da</strong> erup ç ã o. O ataqu e golp eia e m um mo m e n t o e m que já se foi<br />

golp e a d o por outro lado. É co m o se foss e um golp e traiço eir o<br />

na barriga, ou seja, diante do peito. Sua form a de cinto<br />

des e n h a imag e n s se m el h a nt e s a uma corrent e, grilhõ e s<br />

torturantes ou um rosário.<br />

A imag e m <strong>da</strong> rosa que flores c e [o no m e popular <strong>da</strong> do e n ç a<br />

e m ale m ã o é Ro s e n g ü rt el = cinto de rosa s] faz so ar tam b é m<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s de liberaç ã o do sinto m a . Arma<strong>da</strong> de espinh o s a<br />

rosa, alé m de prontidã o, abrir- se e servir de sím b ol o do am or,<br />

sim b oliza tam b é m a cap a ci<strong>da</strong>d e de resistên ci a. Inflam ad a s<br />

rosa s ver m el h a s so br e a co b ertura do corp o são sím b ol o s de<br />

dispo siç ã o para a luta. O rubro dos ataqu e s de fúria pod e m ser<br />

tão belo s co m o as cha m a s dev or a d o r a s do am or, do<br />

entusias m o ardent e e <strong>da</strong>s labar e d a s <strong>da</strong> ira sagr ad a.<br />

É precis o tornar- se nova m e n t e vulneráv el, abrir fronteiras,<br />

romp er muro s e des a b r o c h a r. Desa br o c h ar significa procurar<br />

contato. As flores des a b r o c h a m para ser fecund a d a s . Com<br />

38<br />

8


seus botõ e s elas atrae m os inseto s. Com cad a flores ci m e n t o e<br />

cad a erupç ã o , o que está dentro tom a- se visível, os lado s<br />

lumino s o s e tam b é m os so m b ri o s. Não é o cas o de virar para<br />

fora so m e n t e os lado s rosa d o s , m a s fazer flores c e r seu cern e<br />

ver<strong>da</strong>d eir o. Assim co m o as rosa s porta m suas se m e n t e s no<br />

m ei o de seu ser, não é por ac a s o que os botõ e s <strong>da</strong> zona<br />

contê m liquido inflam at ório e m seu m ei o. Na água, sím b ol o do<br />

aní mic o, na<strong>da</strong> aqui um se m - núm er o de células agr e s siv a s de<br />

am b o s os lado s, de glóbulo s bran c o s e anticorp o s até ag e nt e s<br />

caus a d o r e s . Muita cois a que pod e ferir quan d o dita de form a<br />

nua e crua sai aqui sim b olic a m e n t e à luz. Os espinh o s <strong>da</strong> rosa<br />

propria m e nt e dita são assu mi d o s pelas dor e s agud a s do<br />

sinto m a . Aquele cujo flanc o pura e simpl e s m e n t e se rasg a<br />

precis a deixar sair o que está dentro, ain<strong>da</strong> que não seja<br />

rosa d o e sim rubro de ira ou repulsivo co m o es s e ataqu e. E<br />

dev eria per mitir que o que está fora entras s e e m seus lado s<br />

lumino s o s e so m b ri o s. "Levantar!", diz o ditado báv ar o quan d o<br />

um levant e é nec e s s á ri o, tanto para o be m co m o para o mal. É<br />

precis o atrav e s s ar os muro s, e os prim eiro s pas s o s são os<br />

mais difíceis e os mais doloro s o s . Em um proc e s s o ofen siv o, o<br />

sup erior e o inferior, o interno e o extern o quer e m ser juntad o s.<br />

Tal dispo siç ã o para o levant e des c arr e g a o corp o de levant e s e<br />

ataqu e s . Som e nt e a partir des s a postura de ab ertura pod e- se<br />

gerar a en er gia nec e s s á ri a para ass e n h o r e a r- se <strong>da</strong> sinto m átic a<br />

primária.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que conflito aní mic o- espiritual tenh o e m cas a (no<br />

corp o)?<br />

2. O que há muito m e deu nos nervo s e, so b a pele, ain<strong>da</strong><br />

não foi es qu e c i d o ?<br />

3. Que m e d o faz co m que eu m e fech e tanto a ponto de ter<br />

de me abrir tanto corp or al m e n t e ?<br />

4. O que precis a flores c e r fisica m e n t e porqu e não pod e<br />

abrir- se aní mic o- espiritualm e nt e?<br />

5. O que so m e n t e m e atrev o a dizer por m eio de flore s ? De<br />

38<br />

9


que jam ais pod eria livrar- m e se m que flores ç a?<br />

6. Que fronteiras estã o carre g a d a s de conflitos para ruim,<br />

ond e m e sinto limitado? Que cad ei a s m e prend e m ?<br />

7. Que mina s estã o enterrad a s no jardim <strong>da</strong> minha alm a?<br />

2. Rompimentos ou hérnias<br />

As hérnias surg e m e m sup erfície s fronteiriças, ond e regiõ e s<br />

muito divers a s do corp o se enc o ntra m . Ter min a m por oc orr er<br />

invas õ e s pela cha m a d a porta hernial, e m que um a parte<br />

pen etra na outra, ond e não tem na<strong>da</strong> a fazer. Ca<strong>da</strong> hérnia é ao<br />

m e s m o tem p o uma invas ã o e um a interfer ên ci a. Ela explicita<br />

uma situaç ã o de con c o rr ê n ci a entre duas área s vizinha s e m<br />

que deixa m de ser ob s erva<strong>da</strong>s as relaç õ e s de fronteira e de<br />

propried a d e . As fronteiras váli<strong>da</strong>s existente s são ignorad a s e<br />

feri<strong>da</strong>s de form a perigo s a. O âm bito ocup a d o se vê restringido,<br />

pres si o n a d o para o lado e cortad o e m seus direitos vitais. Mas<br />

a usurpaç ã o tamp o u c o serv e de na<strong>da</strong> ao tecido invas or, o<br />

esp a ç o vital gan h o não traz nen hu m alívio, ao contrário,<br />

freqü e nt e m e n t e a estreita porta hernial provo c a<br />

estran g ula m e n t o s . A analo gi a co m a invas ã o crimino s a, que de<br />

man eira se m e l h a nt e não deixa o perp etrad or content e, é clara<br />

e per mite que trac e m o s algun s outros paralelo s.<br />

O crimin o s o ne m é levad o à invas ã o por algu m a pres s ã o<br />

con sid er á v el ne m a oportuni<strong>da</strong>d e é tão atraent e assi m. No<br />

corp o, a situaç ã o hernial resulta de m an eira análo g a à<br />

co m bin a ç ã o <strong>da</strong> elev a ç ã o <strong>da</strong> pres s ã o de um lado, e a fraqu ez a<br />

do outro. Quanto mais elev a d a a pres s ã o e quanto mais fraca a<br />

pared e que sep ar a, mais facilm e nt e a fronteira é ro mpi<strong>da</strong>.<br />

Quem abus a de suas forças, e m sentido figurad o ou<br />

con cr et a m e n t e , facilm e nt e provo c a e m si m e s m o um<br />

rompi m e nt o. Ele ab ord o u agre s siv a m e n t e um tem a fraco<br />

de m ai s e não estav a à altura <strong>da</strong> pres s ã o resultante.<br />

Pode- se contar co m co m plica ç õ e s e m to<strong>da</strong> s as hérnias, por<br />

exe m pl o a inflam a ç ã o do sac o hernial. Isso corre s p o n d e a um<br />

39<br />

0


conflito agre s siv o e m torno <strong>da</strong> invas ã o . A guerra é uma reaç ã o<br />

apropriad a a um a situaç ã o des s a s . Ela dirige a aten ç ã o para o<br />

ponto fraco e para a elev a d a pres s ã o do min a nt e. Além diss o,<br />

pod e oc orr er o estran g ula m e n t o do sac o hernial junta m e nt e<br />

co m seu conteú d o . Ness e en c ar c er a m e n t o , o sac o hernial<br />

ch ei o fica pres o e corre perig o de vi<strong>da</strong>. O tecido pinçad o deixa<br />

de rec e b e r o fluxo san guín e o e é estran g ulad o no estran g eir o.<br />

Na áre a dos intestinos, pod e- se ch e g ar a um rompi m e n t o co m<br />

inflam a ç ã o gen er alizad a do peritônio, e a um estad o e m que se<br />

corre risco de vi<strong>da</strong>.<br />

Hérnia umbilical<br />

Hérnias um bilicais são do mí nio <strong>da</strong> m e dicin a infantil, sen d o<br />

que ain<strong>da</strong> co m p õ e m 5 % <strong>da</strong>s hérnias que oc orr e m na i<strong>da</strong>d e<br />

adulta. O prim eiro ferim e nt o do ser hum a n o volta a se abrir, os<br />

mús c ul o s do abd ô m e n ced e m à pres s ã o interna e so m e n t e a<br />

elástica pele reté m o intestino. Após ter pen etrad o na fen<strong>da</strong>,<br />

fugindo <strong>da</strong> pres s ã o <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong> d e abd o m i n al, ele fica pendurad o<br />

do lado de fora, um a esp é ci e de m o c hila de pele que pod e<br />

ch e g ar a atingir o tam a n h o de uma cab e ç a .<br />

Em rec é m - nas cid o s , ch e g a- se freqü e nt e m e n t e a isso por<br />

duas razõ e s . Uma é que a feri<strong>da</strong> do um big o ain<strong>da</strong> está fresc a,<br />

e outra é que eles se colo c a m tantas vez e s so b pres s ã o ao<br />

chor ar que não é a garg a nta que se romp e , e sim a barriga,<br />

muito m ais sen sív el nes s a i<strong>da</strong>d e. Eles quer e m se fazer notar e<br />

ultrapas s ar suas estreitas fronteiras ao s berro s. Quando não<br />

en c o ntra m nenhu m a ress o n â n ci a, a pres s ã o física pod e subir<br />

devido ao s gritos cad a vez m ais irado s até que o dique se<br />

romp a no ponto m ais fraco. Devido às contraç õ e s <strong>da</strong> barriga, a<br />

pres s ã o se dirige para as próprias pared e s e, aqui,<br />

esp e ci al m e n t e contra a antiga porta para o mun d o . Assim, volta<br />

a ser ab erto um antigo ca min h o que na ver<strong>da</strong>d e dev eria fecharse<br />

co m o des e n v olvi m e nt o . Isso deixa entrev er um a tend ê n ci a<br />

regr e s siva, um des ej o de retorn ar a condiç õ e s anterior e s,<br />

quan d o a crianç a não precis a v a esfalfar- se tanto, a pres s ã o<br />

39<br />

1


não era tão alta e, so br etud o , a situaç ã o de ab a st e ci m e n t o era<br />

muito mais óbvia.<br />

Quando o um big o de um adulto se romp e, as condiç õ e s são<br />

fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e as m e s m a s . Ele, se m perc e b e r, pas s o u a<br />

estar so b pres s ã o e m seu mund o de sentim e nt o s arcaic o s e<br />

não pod e satisfaz er algu m a nec e s s i d a d e básic a tal co m o , por<br />

exe m pl o, a fom e (de abrig o e proteç ã o , de provis õ e s m at eriais<br />

ou de pod er). Na falta de outro m ei o de pres s ã o , ele tenta<br />

livrar- se do exc e s s o de pres s ã o contra- indo o abd ô m e n ,<br />

pres si o n a n d o assi m e m um a direç ã o e m que se m pr e confiou.<br />

Incons ci e nt e m e n t e , ele procura a saí<strong>da</strong> e m um retorn o ao s<br />

bons e velho s temp o s , quan d o tudo corria muito m elh or e,<br />

so br etud o, por si m e s m o .<br />

A lição a ser aprendid a exig e tornar- se con s ci e nt e <strong>da</strong><br />

pres s ã o existen cial e ced er a ela. Trata- se de abrir nov o s<br />

esp a ç o s , trilhar nov o s ca minh o s e, alé m diss o, apoiar- se nas<br />

exp eriên ci a s con h e ci d a s do pas s a d o . Seguind o o instinto,<br />

dev e- se ter por objetivo um a ruptura nos tem a s centrais <strong>da</strong><br />

bas e mat erial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Tipica m e n t e , a hérnia umbilical ating e mulh er e s entre os 40<br />

e os 50 ano s de i<strong>da</strong>d e, favor e ci<strong>da</strong> pelo exc e s s o de pes o e<br />

outras carg a s físicas. Em i<strong>da</strong>d e mais jove m , uma gravid ez<br />

tam b é m pod e prep ar ar o ca minh o . Os esforç o s físico s m o stra m<br />

co m o os afetad o s precis a m se esfalfar para ass e g ur ar seu<br />

sustento, en qu a nt o o exc e s s o de pes o m o stra co m o lhes custa<br />

agü e ntar a carg a <strong>da</strong> própria existên ci a, e um a gravid ez é<br />

apropriad a para per mitir a ab ertura de feri<strong>da</strong>s relacion a d a s ao<br />

próprio nas ci m e n t o . Além diss o, des s a m an eira que st õ e s de<br />

segur an ç a existen cial não es clar e ci<strong>da</strong> s torna m - se atuais e m<br />

um duplo asp e ct o. Caso o probl e m a do sustento m at erial ain<strong>da</strong><br />

esteja ab erto na ép o c a <strong>da</strong> m e n o p a u s a - quan d o na ver<strong>da</strong>d e o<br />

ca min h o de cas a aní mic o já dev eria estar ass e nt a d o so br e<br />

terren o bastant e se gur o - é precis o provo c ar um a ruptura, ou<br />

seja, tornar con s ci e nt e o des ej o urgent e de ter um futuro<br />

ass e g ur a d o . Caso es s a nec e s s i d a d e seja des al ojad a <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a, a ruptura "tem suc e s s o " no corp o.<br />

39<br />

2


A terapia con sist e e m rec o n duzir o conteúd o intestinal que<br />

errou o ca minh o e fech ar a porta hernial ilegal. Nos rec é m -<br />

nas cid o s , isso se dá por m ei o do cha m a d o e m pl a stro um bilical,<br />

en qu a nt o os adultos são freqü e nt e m e n t e op er a d o s e o<br />

es c o n d e rijo infantil, e co m ele a barriga, é costurad o<br />

definitiva m e n t e . Quando a saí<strong>da</strong> física é nova m e n t e tranc a d a,<br />

seria nec e s s á ri o rec o n duzir o des e nt e n di m e n t o para o plano <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a.<br />

As cha m a d a s hérnias abdominais, direta m e n t e na linha<br />

central ou tam b é m laterais, expr e s s a m uma probl e m átic a<br />

se m el h a nt e. Na hérnia do diafragma pod e- se diferen ciar as<br />

hérnias genuín a s <strong>da</strong>s falsas, mais freqü e nt e s , quan d o o<br />

estô m a g o resv ala para cim a, pas s a n d o pela ab ertura do<br />

es ôfa g o e pen etran d o na cavi<strong>da</strong>d e torácic a se m form ar um<br />

sac o hernial. Essa situaç ã o de subi<strong>da</strong> de partes femininas <strong>da</strong><br />

área abd o m i n al para o tórax, ma s c ulino, é des crita e m<br />

Pro bl e m a s dige stiv o s 75 .<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde estou so b pres s ã o con sid er á v el? Pression a d o ?<br />

Atascad o ? Estrangulad o?<br />

2. Em qual âm bito de minha existên ci a abus ei de minh a s<br />

forças?<br />

3. Onde m e propus algo que m e exig e de m ai s, m e colo c a<br />

so b alta pres s ã o ?<br />

4. Onde tenh o sentim e nt o s primitivos estan c a d o s ? Onde<br />

deixo de prestar aten ç ã o e m m eu s instintos?<br />

5. Preferiria retroc e d e r ao s bons velho s temp o s ? Que<br />

ab erturas e rotas de fuga deixei ab ertas?<br />

6. Onde, e m m eu s sentim e nt o s ventrais, estou à beira <strong>da</strong><br />

ruptura ou do colap s o ?<br />

Hérnia inguinal<br />

A cha m a d a hérnia inguinal já perten c e ao âm bito <strong>da</strong> bacia e,<br />

co m um a incidên ci a de 80 % dos cas o s , con stitui a form a m ais<br />

39<br />

3


freqü e nt e de to<strong>da</strong> s as hérnias. Ela pod e ser inata ou adquiri<strong>da</strong><br />

e afeta so br etud o os ho m e n s . Em sua form a direta, o intestino<br />

se espr e m e atrav é s do can al inguinal, uma pequ e n a ab ertura,<br />

so b a pele, na cavi<strong>da</strong> d e abd o m i n al. Na form a indireta, o<br />

conteú d o hernial segu e o can al se min al (Funniculu s<br />

sp er m a ticu s ) e, nas mulh er e s , o cha m a d o Liga m e n t u m<br />

rotund u m (= fita redo n d a), e termina no es cr ot o ou nos grand e s<br />

lábio s.<br />

O asp e ct o de es c a p a d a que termina em um bec o se m saí<strong>da</strong>,<br />

co m u m a to<strong>da</strong>s as hérnias, torna- se aqui esp e ci al m e n t e<br />

retum b a nt e. Por m ei o de contraç õ e s abd o m i n ai s, a pres s ã o<br />

aum e nt a d a es c a p a por um atalho e termin a na áre a sexual ou,<br />

pelo m e n o s , nas suas proximi<strong>da</strong>d e s . A tarefa natural <strong>da</strong>s<br />

contraç õ e s abd o m i n ai s é exprimir o cont e ú d o intestinal. Elas o<br />

faze m tam b é m nest e cas o , e m b o r a por ca minh o s ob s c ur o s .<br />

Cheg a- se à form a ç ã o de um a hérnia quan d o a pres s ã o interna<br />

do abd ô m e n torna- se muito alta, por exe m pl o ao se fazer<br />

esforç o s físico s tais co m o levantar carg a s de m a si a d o pes a d a s ,<br />

e quan d o há ponto s fraco s na regiã o inguinal.<br />

Expres s õ e s co m o «exc e d e r- se" e "abus ar <strong>da</strong>s próprias<br />

forças" [sich übern e h m e n = abus ar <strong>da</strong>s próprias forças, ma s<br />

tam b é m "ser presun ç o s o ", "ufanar- se"] m o stra a proble m á tic a<br />

de fundo do exc e d e r- se, ou seja, <strong>da</strong> presun ç ã o , <strong>da</strong> so b er b a.<br />

Quem abus a con sid er a v el m e n t e <strong>da</strong>s próprias forças m o stra<br />

tam b é m um a bo a dos e de "presun ç ã o ". A so br e e s ti m a ç ã o e m<br />

relaç ã o às próprias forças é a bas e <strong>da</strong> hérnia. Em<br />

con s e q ü ê n c i a, partes do intestino tom a m ca minh o s<br />

alternativo s. Postas so b pres s ã o de man eira exc e s si v a, elas<br />

tom a m o ca minh o de m e n o r resistên ci a e invad e m a virilha dos<br />

afetad o s apó s romp er a pared e de mús c ul o s do abd ô m e n . À<br />

m e di<strong>da</strong> que o mun d o de sentim e nt o s arcaic o s pen etra em suas<br />

virilhas e e m seus es cr oto s ou grand e s lábios, o sinto m a<br />

m o stra que eles não agü e nt a m tanto quanto crê e m . Qualquer<br />

esforç o reforç a a contraç ã o do abd ô m e n e, co m isso, o<br />

probl e m a .<br />

Ain<strong>da</strong> que pos s a parec er que se trata principal m e nt e de um<br />

39<br />

4


esforç o exa g er a d o no plano físico, neste cas o tam b é m são<br />

so br etud o os conteúd o s aní mic o s que se sedi m e nt a m no corp o<br />

dep ois de não rec e b e r e m aten ç ã o . Há pes s o a s que ergu e m<br />

pes o e o carre g a m durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> se m adquirir hérnias. A<br />

tortura aní mic a não ad miti<strong>da</strong> que surg e quan d o se suporta ou<br />

agü e nta algo para o qual não se está à altura é muito mais<br />

perig o s a que a so br e c a r g a objetiva, física.<br />

Assim co m o ac o nt e c e co m as outras hérnias, a lição a ser<br />

apren di<strong>da</strong> exig e nov o s ca minh o s que forne ç a m vias de es c a p e<br />

para a pres s ã o interna e que expan d a m as fronteiras existent e s<br />

até entã o. Vale a pen a notar que o cont eú d o de senti m e nt o s<br />

primitivos, prim e v o s , expres s o pelo mun d o intestinal bus c a<br />

ac e d e r ao âm bito sexual. Estab el e c e - se a ligaç ã o entre os<br />

sentim e nt o s <strong>da</strong>s entran h a s e a sexuali<strong>da</strong>d e. Quando a en er gia<br />

impulsor a <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>d e abd o m i n al não pres si o n a e m direç ã o ao<br />

mund o sup erior, co m o ac o nt e c e co m a hérnia do diafrag m a ,<br />

ma s sim para baixo, e m direç ã o ao âm bito sexual, isso pod e<br />

significar, por exe m pl o, um a fom e instintiva de satisfaç ã o<br />

sexual. Poder o s o s senti m e nt o s arcaic o s pres si o n a m e m<br />

direç ã o à esfera sexual. Isso pod e surpre e n d e r e m ho m e n s<br />

idos o s , que "segura m " sua hérnia por m ei o de um a faixa<br />

hernial. Mas a sexuali<strong>da</strong>d e está liga<strong>da</strong> de man eira muito men o s<br />

substanci al às fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do que e m geral supo m o s . Ela<br />

pod e ac o m p a n h a r es s a form a que por muito temp o bus c a um a<br />

saí<strong>da</strong> para fora de m an eir a não libera<strong>da</strong>, esp e ci al m e n t e<br />

quan d o não foi suficiente m e n t e expres s a nas fas e s anterior e s<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

To<strong>da</strong> hérnia unifica dois âm bito s que antes estav a m<br />

sep ar a d o s . Até m e s m o um a invas ã o crimino s a unifica duas<br />

situaç õ e s de propried a d e que até entã o estav a m sep ar a d a s e<br />

esta b el e c e ligaç õ e s , ain<strong>da</strong> que por ca min h o s tortos. Quem<br />

sofre um a hérnia pod e, pen s a n d o alopatica m e n t e , ass e g ur arse<br />

ain<strong>da</strong> mais e ergu er barricad a s ain<strong>da</strong> melh or e s . Do ponto de<br />

vista ho m e o p á tic o , seria pos sív el rec o n h e c e r a exig ê n ci a de<br />

tornar- se m ais gen er o s o e ab erto. Com gen er o sid a d e<br />

con s ci e nt e, pod e- se prev e nir, ou seja, <strong>da</strong>r, aquilo que cas o<br />

39<br />

5


contrário o destino tom a de form a violenta. Pode- se deplorar e<br />

recla m ar aquilo que foi roub a d o e perdido ou, se g un d o o<br />

epíteto estóic o, que foi dev olvido.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde estou so b pres s ã o e m relaç ã o a meus senti m e nt o s<br />

primitivos e tom ei o ca min h o errad o?<br />

2. Onde en c o ntrar nov o s ca min h o s e abrir esp a ç o s<br />

frutífero s ?<br />

3. Minha sexuali<strong>da</strong>d e está sep ar a d a de outras en er gias?<br />

Onde me exc e d o quanto às nec e s s i d a d e s sexuais?<br />

4. Onde faço justiça ao mund o de m e u s sentim e nt o s<br />

instintivos?<br />

5. O que, e m minh a vi<strong>da</strong>, estav a sep ar a d o até ag or a e<br />

precis a ser unificad o?<br />

6. Onde exc e d o minh a s forças e confio de m ai s e m ruim?<br />

Onde sou presun ç o s o ?<br />

7. Será que es s a so br e e s ti m a ç ã o e es s e exc e s s o têm a<br />

ver co m a sep ar a ç ã o <strong>da</strong>s fontes de en er gi a sexual?<br />

39<br />

6


12<br />

A Bacia<br />

A bacia sustenta o corp o e é seu fun<strong>da</strong> m e n t o . Com três<br />

chakra s, ela abriga mais centro s de en er gi a do que a cab e ç a . A<br />

serp e nt e Kun<strong>da</strong>lini des c a n s a enrolad a e m seu piso e esp er a<br />

ser des p erta d a para ergu er- se até o alto <strong>da</strong> cab e ç a . Com o<br />

fonte <strong>da</strong> en er gi a, pod er- se- ia relacio n ar es s e recipiente co m o<br />

Graal. À parte o se gr e d o de nos s a en er gia, ela abriga os<br />

órg ã o s de reprodu ç ã o e, co m a bexig a e a porç ã o final do<br />

intestino gros s o , tam b é m os <strong>da</strong> elimina ç ã o . Repres e nt a n d o as<br />

fun<strong>da</strong>ç õ e s <strong>da</strong> colun a verte br al, ela não so m e n t e sustenta to<strong>da</strong><br />

a carg a do tronc o m a s tam b é m une entre si noss o s órgã o s de<br />

loco m o ç ã o . Os m o vi m e n t o s real m e nt e fortes parte m <strong>da</strong> bacia,<br />

co m o se pod e viven ciar co m a prática do Tai-Chi. Ela é o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o de noss o progr e s s o , a plac a de ress o n â n ci a e m<br />

relaç ã o à terra. De fato, a bacia é tam b é m um instrum e nt o<br />

music al, e m o stra co m o vibra m o s e m relaç ã o à nos s a bas e .<br />

A postura <strong>da</strong> bacia per mite ver "co m o as coisa s estã o<br />

parad a s e co m o as cois a s vão". Duas posiç õ e s extre m a s se<br />

cristaliza m: uma delas é a bacia ab erta, e m que a pelve está<br />

tão inclinad a para a frente que seu conteúd o pod e es c o rr er<br />

tranqüila m e n t e para fora. Essa postura força a colun a a curvarse<br />

ac e ntuad a m e n t e e niti<strong>da</strong> m e n t e força o tras eiro para fora.<br />

Sendo um a postura tipica m e n t e feminina, ela é con sid er a d a<br />

excitante devido à sua evident e irradiaç ã o ac e ntuad a m e n t e<br />

sen s u al. A refer ên ci a sexual é m anifesta, o an<strong>da</strong>r lem br a o de<br />

um pato. Ao ac e ntuar o pólo corpor al inferior, feminin o, es s a<br />

pes s o a , alé m <strong>da</strong> bacia be m form a d a, pod e freqü e nt e m e n t e<br />

fun<strong>da</strong>r- se tam b é m e m perna s estáv ei s. Para co m p e n s a r o<br />

tras eiro ac e ntuad o , a barriga fica algo desta c a d a e muitas<br />

vez e s au m e nt a adicion al m e n t e de tam a n h o devido à<br />

abun d â n ci a de sentim e nt o s que contê m . Trata- se de um a<br />

pes s o a que sup er a sua timidez nes s e s plano s inferiores. O<br />

39<br />

7


tronc o e a regiã o do peito, ao contrário, ficam leve m e n t e m ais<br />

para trás e m o stra m que a auto- afirm a ç ã o fica e m se gund o<br />

plan o e m relaç ã o à esta bili<strong>da</strong>d e do corp o e à sen s u ali<strong>da</strong> d e .<br />

Essa postura tipica m e n t e feminina é assu mi d a pela maioria dos<br />

negr o s e se expres s a e m sua man eira de <strong>da</strong>n ç ar. Pratica m e n t e<br />

não há branc o s e m condiç õ e s de deixar sua pelve m o v er- se ao<br />

ritmo do blue s co m tanta naturali<strong>da</strong>d e . Podería m o s ver todo o<br />

rock, que se des e n v o l v e u a partir do rhythm- blue s, co m o uma<br />

tentativa de pedir des c ulp a s à neglig e n ci a d a bacia. "Elvis the<br />

pelvis" foi um típico repre s e nt a nt e des s a tend ê n ci a<br />

provo c a d o r a. Pess o a s co m um a bacia neglig e n ci a d a e até<br />

m e s m o se m vi<strong>da</strong> sent e m - se provo c a d a s por es s e tipo de<br />

m o vi m e nt o e de <strong>da</strong>nç a.<br />

O outro extre m o a<strong>da</strong>pta- se pen o s a m e n t e ao ho m e m típico,<br />

que não per mite fluir de sua pelve um a única gota de<br />

sentim e nt o ou até m e s m o de sen s u ali<strong>da</strong> d e , de tão fecha<strong>da</strong><br />

que a tem. Essa imag e m típica <strong>da</strong> po stura res erv a d a é<br />

ac e ntuad a ain<strong>da</strong> mais pelas nád e g a s ap ertad a s . Na postura<br />

opo sta, o tras eiro está relaxad o e sinaliza tam b é m ab ertura<br />

para trás. A pelve volta<strong>da</strong> para cim a é a marc a registrad a do<br />

m o cinh o dos filmes de co w b o y. A caixa torácic a<br />

pod er o s a m e n t e des e n v o l vi<strong>da</strong> e aprum a d a , ele e m p urra para a<br />

frente a bacia fecha d a e estreita, ou m elh or, subd e s e n v o l vid a.<br />

As nád e g a s tens a s garante m a retagu ard a. Ele não se per mite<br />

qualqu er em o ç ã o ou sentim e nt o; so m e n t e um a aten ç ã o tens a e<br />

uma férrea vontad e de auto- afirm a ç ã o do min a m a postura. A<br />

postura assu mi d a tipica m e n t e pelo s sol<strong>da</strong> d o s vai nes s a<br />

direç ã o , sen d o que o sol<strong>da</strong>d o prussian o ain<strong>da</strong> por cim a bate os<br />

calcanhar e s , indican d o a seus coleg a s o quanto está adiantad o<br />

no que se refer e à paralisaç ã o dos sentim e nt o s e do mí nio <strong>da</strong><br />

sen s u ali<strong>da</strong>d e . Nessa postura, a en er gia sexual fica e m<br />

des v a nta g e m . Quando surg e, não o faz de man eira sen s u al e<br />

sim de golp e e, muitas vez e s, de form a surpre e n d e n t e m e n t e<br />

prec o c e . A primazia <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>d e que ac o m p a n h a es s e<br />

hábito relacio n a- se co m o pólo sup erior, m a s c ulin o. Os<br />

sentim e nt o s são restringido s e pas s a m a segun d o plan o, a<br />

39<br />

8


sen s u ali<strong>da</strong>d e é manti<strong>da</strong> so b estrito controle. Essas posturas<br />

apertad a s são freqü e nt e m e n t e pag a s co m he m o rr ói<strong>da</strong>s* e<br />

perturba ç õ e s sexuais. Tens õ e s na barriga, na bacia e na parte<br />

inferior <strong>da</strong>s costa s são a regra. Muitas vez e s , até m e s m o a<br />

privilegiad a cab e ç a reag e co m avis o s dolor o s o s .<br />

As duas posturas extre m a s traze m con sig o suas<br />

dificul<strong>da</strong>d e s , a soluç ã o está no m ei o, e m um a postura que<br />

prop orci o n a um a certa ab ertura tanto para a frente co m o para<br />

trás. A "postura de pato" abr e para trás, ac e ntuan d o assi m a<br />

primitiva postura anim al durante o ato sexual. No que a isso se<br />

refer e, apar e c e m aqui noss o s traço s anim ais instintivo s. Por<br />

outro lado, es s a postura está fecha d a para a frente, a vi<strong>da</strong> não<br />

é confrontad a e a ela, e m vez diss o, se ofer e c e a retagu ard a.<br />

Na "postura her óic a", o âm bito posterior de noss a heranç a<br />

anim al, tem p or aria m e n t e deixad o para trás, é isolad o, e tudo é<br />

feito co m bas e na confrontaç ã o . Na postura de pato, o m e m b r o<br />

ma s c ulino é es c o n did o e dirigido para baixo. A postura heróic a,<br />

ao contrário, o dirige orgulho s a m e n t e para cim a, o e m p urra<br />

para a frente e ac e ntua seu caráter de arm a. Sendo que os<br />

desfiles rec o n h e c i d a m e n t e dize m pouc o so br e a ver<strong>da</strong>d eir a<br />

força bélica.<br />

1. Herpes Genital<br />

Apesar <strong>da</strong> AIDS, trata- se aqui, de long e, <strong>da</strong> mais freqü e nt e<br />

enfer mi<strong>da</strong>d e sexual. O vírus do herp e s sim pl e x já surgiu aci m a<br />

<strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura co m o o cha m a d o tipo 1, que atac a e<br />

desfigura os lábios e o rosto. O tipo 2 esp e ci alizou- se na regiã o<br />

genital, extern a m e n t e não se diferen ci a de seu co m p a n h e ir o de<br />

arm a s e m ab s oluto e, interna m e n t e , muito pouc o. Igualm e nt e<br />

pouc a s são as diferen ç a s no que se refer e à deflagra ç ã o <strong>da</strong><br />

infecç ã o e seu quadr o extern o. Som e nt e há algu m a s<br />

diferen ç a s quanto ao co m p o rta m e n t o . Substan cial m e nt e m ais<br />

agre s siv o que a variante do mund o sup erior, ape s ar diss o o<br />

tipo 2 está m e n o s difundido no mund o inferior, já que o<br />

39<br />

9


contá gi o oc orr e so m e n t e por m ei o <strong>da</strong>s relaç õ e s sexuais.<br />

Enquanto seu irmã o gê m e o colonizou pratica m e n t e to<strong>da</strong> a<br />

hum a nid a d e m o d er n a, o tipo 2 so m e n t e está em cas a em cerc a<br />

de 1 5 % de noss a populaç ã o . Na ÁfrIca do Sul, entretanto, ele<br />

infecta cerc a de 70 % <strong>da</strong> populaçã o negr a. Com es s e s<br />

núm er o s , o herp e s genital é pura e simpl e s m e n t e a epide mi a<br />

do praz er m o d er n a. Ele tam b é m é con sid er a d o um a do e n ç a<br />

ven ér e a pela m e di cin a. Com o o lado so m b ri o do mun d o<br />

voluptuo s o de Vênus, ele so br e p ujou de muito a sífilis e a<br />

gon orr éia. Quando se pen s a na histeria que des e n c a d e o u nos<br />

Estado s Unidos, ele talvez ain<strong>da</strong> tenha sua ép o c a de ouro<br />

entre nós diante de si. Neste ponto ele faz jus a seu no m e (do<br />

greg o herp eto s = mal insidios o) já que, co m o os outros vírus de<br />

sua estirpe, fica paci ent e m e n t e à espr eita, es c o n di d o ,<br />

aguard a n d o sua oportuni<strong>da</strong>d e , para entã o atac ar pelas costa s,<br />

dolor o s a e des c o n si d er a d a m e n t e . Ele se entrinch eira nos<br />

gân glio s posterior e s <strong>da</strong> m e d ul a espinh al e dor m e até que um a<br />

situaç ã o oportun a o desp erta. A co m p ar a ç ã o co m um<br />

sub m a rin o espr eitand o a vitima é oportun a.<br />

Emb or a niti<strong>da</strong> m e nt e m ais agre s siv o que a variante do<br />

mund o sup erior, o tipo do sub m u n d o orienta- se muito mais pelo<br />

padrã o aní mic o no que se refer e ao contá gi o. Tipica m e n t e, a<br />

do e n ç a é des e n c a d e a d a por um a es c orr e g a d e l a. O vírus pod e<br />

ser trans mitido des s a m an eir a, m a s não nec e s s a ria m e n t e . A<br />

verg o n h a e o sentim e nt o de culpa são freqü e nt e m e n t e<br />

suficiente s para levar o vírus a manife star- se. A es c o rr e g a d e l a<br />

pod e criar tais proble m a s que as con s e q ü ê n c i a s ac a b a m pro<br />

vindo <strong>da</strong> própria pes s o a . A infec ç ã o é entã o um a autopuniç ã o<br />

por pular a cerc a, ao qual não se está real m e nt e à altura, e que<br />

indica palpav el m e n t e , de m an eir a evid e nt e - e so br etud o - o<br />

lugar ond e o pas s o e m falso oc orr eu. Os afetad o s tend e m<br />

freqü e nt e m e n t e a colo c ar a culpa nos parc eiro s ilegais, m e s m o<br />

quan d o es s e s co m pr o v a d a m e n t e não são portad or e s do vírus.<br />

Caso contrário eles teriam de ad mitir que eles m e s m o s são a<br />

fonte <strong>da</strong> "verg o n h a" e, e m última instân cia, tam b é m colo c ar a m<br />

e m perig o o próprio parc eiro.<br />

40<br />

0


Assim co m o to<strong>da</strong>s as outras do e n ç a s ven ér e a s , o herp e s<br />

genital está impregn a d o de prec o n c e it o s m or ais. Geralm e nt e,<br />

do e n ç a s ven ér e a s são con sid er a d a s co m o sen d o<br />

esp e ci al m e n t e sujas e verg o n h o s a s . Em nenhu m a outra parte<br />

a cifra sub m e r s a é tão alta, e e m nenhu m a outra parte a<br />

m e di cin a projeta a culpa co m tanta valentia. Inúm er a s pia<strong>da</strong> s<br />

canta m um a can ç ã o a es s e resp eito: O valent e pai de família<br />

diz ao m é dic o , após este ter diagn o stic a d o herp e s genital: "Eu<br />

dev o ter apan h a d o isso no banh eir o"; resp o n d e o exp erient e<br />

m é di c o <strong>da</strong> família: "Que des c o nf ortáv el."<br />

A pos sibili<strong>da</strong>d e de apan h ar o vírus e m um ban h eir o é<br />

pura m e n t e teórica e não foi co m pr o v a d a até hoje. Entretanto, é<br />

pos sív el que um a latrina desp ert e tal horror - e as<br />

corre s p o n d e n t e s ass o ci a ç õ e s de repug n â n ci a - que o padrã o<br />

interno de asc o , e os vírus já disponív ei s, seja m ativad o s . O W.<br />

C. esterilizad o pod e, portanto, disp arar a herp e s . Hoje e m dia,<br />

con clui- se nec e s s a ria m e n t e que o contá gi o do vírus, m e s m o<br />

e m burgu e s e s social m e n t e m elh or posicion a d o s , so m e n t e<br />

oc orr e por m ei o de relaç õ e s sexuais, m a s que muitos<br />

ado e ci m e n t o s são surtos rec e nt e s de vírus há muito pres e nt e s<br />

no organis m o . Ness e sentido, os saltad or e s de cerc a atrevido s ,<br />

graç a s à con s ci ê n ci a de si m e s m o s , leva m vantag e m e m<br />

relaç ã o ao s tímido s e co m sentim e nt o de culpa. Durante o<br />

surto <strong>da</strong> do e n ç a , os vírus não se en c o ntra m so m e n t e nas<br />

células dos gân glio s e nas vias nervo s a s , m a s tam b é m so br e a<br />

sup erfície <strong>da</strong>s muc o s a s dos órg ã o s genitais.<br />

A infecç ã o , que quanto a seu asp e ct o não se diferen cia <strong>da</strong>s<br />

bolhas de herp e s acim a <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> cintura, afeta aci m a de<br />

tudo as muc o s a s genitais: os grand e s lábios corresp o n d e m ao s<br />

lábio s sup erior e s , e os pequ e n o s lábios corresp o n d e n d o à<br />

gland e do órgã o ma s c ulino e à área do prepúcio. To<strong>da</strong> a pele e<br />

to<strong>da</strong> a muc o s a do âm bito genital e dos órg ã o s genitais<br />

feminin o s extern o s pod e m , alé m diss o, inchar e inflam ar- se. Os<br />

gân glio s linfático s genitais, posto s de vigilância <strong>da</strong> áre a genital,<br />

fica m inchad o s e do e m quan d o pres si o n a d o s . As vez e s , as<br />

bolhas ating e m o lado extern o do pênis, a coxa e o perín e o ,<br />

40<br />

1


ch e g a n d o até a regiã o anal. O cha m a d o herpes anal dep e n d e<br />

so br etud o <strong>da</strong>s práticas sexuais corresp o n d e n t e s . Trata- se<br />

quas e se m pr e de lugare s íntimo s que estã o carreg a d o s de<br />

con sid er á v el senti m e nt o de verg o n h a . O fato de que o herp e s<br />

genital oc orra co m freqü ê n ci a e m pes s o a s que co m e ç a m ced o<br />

a ter relaç õ e s sexuais e que troca m freqü e nt e m e n t e de<br />

parc eiro s é óbvio e m se tratand o de um a do e n ç a ven ér e a , mas<br />

os prec o n c e it o s o reforç a m . Mulheres grávi<strong>da</strong> s tam b é m são<br />

afetad a s acim a <strong>da</strong> m é di a estatística.<br />

Uma pes s o a marc a a si m e s m a co m as bolha s de herp e s ,<br />

ou per mite que a mar qu e m ; não por Deus, mas por um parc eiro<br />

relativa m e n t e des c o n h e c i d o na maioria dos cas o s . Isso não<br />

quer dizer que os afetad o s seja m culpad o s , ma s sim que eles<br />

se sent e m culpad o s . Assim co m o o herp e s labial m e n ci o n a d o<br />

aci m a imp e d e qualqu er beijo, o do mund o inferior imp e d e as<br />

relaç õ e s sexuais. Os afetad o s vê e m seu des ej o de mais des ej o<br />

e se pun e m , co m falta de des ej o e co m a dor, por "seu des ej o<br />

sujo". O que esta b el e c e a relaç ã o co m a sujeira são as<br />

pequ e n a s bolha s, esp e ci al m e n t e dep ois que o liquido que<br />

contê m fica turvo devid o à con c e ntra ç ã o de bactérias. É natural<br />

a ass o ci a ç ã o co m algu é m que pes c a e m águas turvas e abriga<br />

intenç õ e s turvas.<br />

As bolha s finalm e nt e se romp e m e o liquido repug n a nt e<br />

esp alha- se pelas partes íntima s. É níti<strong>da</strong> a ass o ci a ç ã o co m a<br />

seiva do des ej o, que aqui está e m seu lugar. Caso as<br />

secr e ç õ e s se torne m purulentas, m ais esp e s s a s e am ar el a d a s ,<br />

a ass o ci a ç ã o co m o sê m e n é ain<strong>da</strong> mais direta. Este tam b é m é<br />

perig o s o , e pod eria infectar um a mulh er co m um a criatura<br />

prov e ni e nt e <strong>da</strong> parc eira errad a, razã o pela qual é<br />

cui<strong>da</strong>d o s a m e n t e isolad o e m tais situaç õ e s . Na fas e seguinte <strong>da</strong><br />

infecç ã o , a confluên ci a de bolha s pod e levar à form a ç ã o de<br />

grand e s áre a s de feri<strong>da</strong>s sup erficiais que sim b oliza m a<br />

"ab ertura perig o s a" que o afetad o se per mitiu. No está gi o e m<br />

que está saran d o , as crosta s lanç a m um holofote so br e as<br />

atitude s interna s incrustad a s , no que se refer e à sexuali<strong>da</strong>d e ,<br />

co m as quais se vive.<br />

40<br />

2


É a infec ç ã o pela impurez a, já que a sexuali<strong>da</strong>d e<br />

social m e n t e des c o ntr olad a continua sen d o um tem a tabu<br />

m e s m o e m temp o s apar e nt e m e n t e es clar e ci d o s . A verg o n h a<br />

arde so br e tudo isso. Depen d e n d o <strong>da</strong>s forças <strong>da</strong> am e a ç a d o r a<br />

instância do sup er e g o , os pen s a m e n t o s clas sificad o s co m o<br />

impuro s já pod e m ser suficiente s para colo c ar e m marc h a a<br />

autopuniç ã o viral. Vistos des s a man eira, os vírus de herp e s<br />

são tropas vingad or a s do sup er e g o . Som e nt e o pen s a m e n t o de<br />

ab and o n a r o ca minh o ord en a d o e legal pres crito e "<strong>da</strong>r um a<br />

es c a p a d a ", saltar para o lado ou vagu e ar pelo estran g eir o pod e<br />

parec er suficiente m e n t e dign o de puniçã o. Aqui pod eria estar<br />

tam b é m a razã o aní mic a para o surto, durante a gravid ez, dos<br />

vírus acu m ulad o s , já que se trata de um a ép o c a e m que a<br />

mulh er precis a confiar de man eira muito esp e ci al e m um<br />

co m p a n h eir o. Caso, entretanto, ela rem e x a e m pen s a m e n t o s<br />

ou, con cr et a m e n t e , e m tabus, a autopuniç ã o pod e ser aplicad a<br />

de form a esp e ci al m e n t e rápi<strong>da</strong> e drástica. Não é so m e n t e a<br />

própria segur an ç a que está e m perigo, ma s tam b é m a <strong>da</strong><br />

crianç a não- nas ci<strong>da</strong>. Por um lado, o perigo s o e o proibido são<br />

muito quent e s , e por outro a futura m ã e cond e n a a si m e s m a<br />

por todo s os risco s assu mi d o s intencion al m e n t e , que põ e m e m<br />

perig o o futuro de seu filho. Há um perigo con cr et o de que a<br />

crianç a seja infectad a pelo herp e s durante o nas ci m e n t o ou<br />

m e s m o antes. Uma infecç ã o do rec é m - nas cid o por herp e s é<br />

se m pr e um a am e a ç a à sua vi<strong>da</strong>.<br />

A bas e aní mic a do herp e s genital está na am biv al ê n ci a do<br />

des ej o e do sentim e nt o de culpa. Inveja- se algo que no fundo<br />

não se pod e invejar. Assim, a inflam a ç ã o genital é um a<br />

reprodu ç ã o do conflito que pulsa no intimo entre o prazer<br />

genital e o m e d o <strong>da</strong> impurez a. O des ej o <strong>da</strong> carn e alheia e o<br />

nojo do prazer carn al e <strong>da</strong> infideli<strong>da</strong>d e colo c a m - se um diante<br />

do outro co m o adv er s ário s. Em prim eiro lugar ve m a luxúria. A<br />

puniçã o, entretanto, lhe pisa os calcanhar e s , ou m elh or, as<br />

verg o n h a s , golp e a n d o de form a doloro s a e múltipla. A renun cia<br />

a outras aventura s no Reino <strong>da</strong> Luxúria, força<strong>da</strong> pelo sup er e g o ,<br />

so m a- se à "verg o n h a", e isso ag or a inclui até m e s m o o terren o<br />

40<br />

3


per mitido. Quando se co m p ar a o brev e m o m e n t o de praz er<br />

co m a exten s ã o <strong>da</strong> con d e n a ç ã o que ac arreta, o resultad o é um<br />

des e q uilíbrio que pod e real m e nt e fazer des a p ar e c e r todo o<br />

des ej o <strong>da</strong> pes s o a .<br />

Portanto, não é de ad mirar que os afetad o s se torne m<br />

rec e ptivo s às projeç õ e s de culpa de um am bi e nt e imo bilizad o<br />

que so m e n t e go sta de cond e n ar aquilo que des ej a para si<br />

m e s m o ma s não se atrev e a con cr etizá- lo. Delineia- se um<br />

círculo vicios o: a tentativa de reprimir ain<strong>da</strong> mais o des ej o após<br />

a má exp eriên ci a leva a um repre s a m e n t o ain<strong>da</strong> maior e<br />

so m e n t e torna a próxim a ruptura do diqu e ain<strong>da</strong> m ais prováv el.<br />

Desejo e êxtas e são nec e s s i d a d e s hum a n a s fun<strong>da</strong> m e n t ai s que<br />

não pod e m ser eliminad a s do mun d o , so m e n t e postas de lado.<br />

Atira<strong>da</strong>s para o lado, elas aterriss a m na so m b r a.<br />

Seria m elh or en c or ajar o afetad o- , prop or cion ar- lhe vias de<br />

es c a p e , já que as es c a p a d a s não são, natural m e nt e, as únicas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s . Em qualqu er cas o , é nec e s s á ri o se g uir as<br />

nec e s si d a d e s ardent e s , voltar a ac e n d e r as cha m a s no âm bito<br />

do des ej o, e m vez de cultivar inflam a ç õ e s . Quando algu m a<br />

cois a co ç a, dev er- se- ia rasp ar para des c o b rir o que se es c o n d e<br />

por trás e que dev e ser vivido. O que não quer dizer "não<br />

per mitir que na<strong>da</strong> pegu e fogo" a partir de ag or a e so m e n t e<br />

pers e g uir nec e s s i d a d e s erótica s sup erficiais. A sexuali<strong>da</strong>d e<br />

não é m ais, ma s tamp o u c o é m e n o s que o asp e ct o físico do<br />

am or. A regiã o <strong>da</strong>s verg o n h a s quer ser pre e n c hi d a de vi<strong>da</strong> e<br />

transfor m a- se e m tem a e m seu duplo sentido. Trata- se aqui de<br />

mais ab ertura viva e m relaç ã o a si m e s m o e ao s outros. É<br />

certa m e n t e m elh or m et er- se co m um a pes s o a e aprend er a<br />

con h e c ê - la e m suas múltiplas fac eta s que fazê- lo co m muitos<br />

parc eiro s virais. Abrir-se inteira m e n t e para um a pes s o a é muito<br />

mais significativo que abrir- se um pouc o para muitas. É<br />

pos sív el aproxim ar- se perigo s a- m e nt e de um/a, m a s<br />

dificilm e nt e se con s e g uirá isso co m muitos/as. Para satisfaz er<br />

as exig ê n ci a s totalm e nt e prim ordiais des s e tem a é nec e s s á ri o<br />

viver a ab ertura para o nov o, para o estran h o , que existe no<br />

salto de cerc a, assi m co m o a verg o n h a que se expr e s s a na<br />

40<br />

4


autopuniç ã o sub s e q ü e n t e . Há uma pos sibili<strong>da</strong>d e redimi<strong>da</strong> no<br />

"des ej o se cr et o", que conté m tanto o estran h o co m o a<br />

verg o n h a . O grand e segr e d o que cad a parc eiro repre s e nt a é a<br />

própria so m b r a, que dev eria propor cion ar mat erial suficiente.<br />

O nojo e a verg o n h a do estran h o , dos outros, tam b é m são<br />

tem a e lição. O que não está na própria pes s o a não pod e<br />

assustar desd e fora, co m o con stata m o s e m relaç ã o ao herp e s<br />

dos lábio s sup erior e s. Trata- se, portanto, de investigar o que é<br />

tão estran h o ao próprio ser a ponto de precis ar ser procurad o e<br />

neg a d o nos outros.<br />

O objetivo distante é tornar- se tão ab erto co m o implica m as<br />

feri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> infec ç ã o . A terapia <strong>da</strong> m e dicin a aca d ê m i c a não tem<br />

muito a ofer e c e r, já que não existe m antibiótico s contra os vírus<br />

tais co m o os que co m b a t e m as bact érias, sen d o que os<br />

antivirais têm um a aç ã o muito limita<strong>da</strong>. Eles so m e n t e m ant ê m<br />

os vírus e m um estad o estátic o. A des c o b e rta rec e nt e mais<br />

interes s a nt e é um rem é di o produzido pelo próprio corpo, que<br />

se m pr e estev e à dispo siç ã o do m é dic o interno e que a<br />

m e di cin a cha m a de interfero n. Trata- se de uma substânci a<br />

secr eta d a pela célula atac a d a por vírus pouc o ante s de sua<br />

m orte e que está e m condiç õ e s de prote g e r as outras células<br />

dos vírus. É, por assi m dizer, o testa m e n t o <strong>da</strong> célula moribun d a<br />

para as que ficam, e que põ e fim ao s outros vírus. O con c eito é<br />

familiar: ced er ao vírus leva e m última instância à sua<br />

sup er a ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o estou e m relaç ã o ao s sentim e nt o s de verg o n h a e<br />

de culpa sexuais?<br />

2. Tenh o a tend ê n ci a de punir- m e pelo s pas s o s e m falso?<br />

É o herp e s minh a puniçã o pelo des ej o de des ej o s ilegais?<br />

3. Tenh o um a postura natural e m relaç ã o ao sex o, ou<br />

prep o n d e r a e m ruim a parte que o neg a co m o algo sujo?<br />

4. O que ous o arrisc ar sexual m e n t e ? Em relaç ã o a mi m<br />

m e s m o ? Em relaç ã o a parc eiro s estran h o s ?<br />

5. Descubr o ain<strong>da</strong> coisa s nova s co m m e u parc eiro, ou<br />

40<br />

5


so m e n t e co m parc eiro s nov o s ?<br />

6. Que conflitos sexuais não ad mito? Onde tenh o que abrir<br />

minh a s fronteiras nas dificul<strong>da</strong>d e s sexuais?<br />

7. O que m e dá coc eira, o que m e quei m a real m e nt e?<br />

Com o pod eria <strong>da</strong>r a m e u s genitais a aten ç ã o pela qual arde m ,<br />

co m des ej o e se m sentim e nt o s de culpa?<br />

8. Em que m e did a não ad mito real m e nt e m e u parc eiro e<br />

seus (meus) segr e d o s ?<br />

2. A próstata e seus problemas<br />

Aumento s de tam a n h o <strong>da</strong> próstata são um proble m a<br />

am pla m e n t e difundido na i<strong>da</strong>d e m adur a dos ho m e n s . Através<br />

des s e paulatino aum e nt o de tam a n h o , a próstata, que env olv e<br />

a uretra ma s c ulina, pres si o n a o fluxo de urina. Ele é<br />

estran g ulad o e a tend ê n ci a ao estran g ula m e n t o é cres c e n t e . A<br />

bexig a so m e n t e pod e ser esv aziad a atrav é s dela co m um a<br />

pres s ã o (esforç o) con sid er á v el, o que transfor m a o ato de<br />

urinar e m um esforç o, sen d o que a bexig a não mais se esv azia<br />

co m pl et a m e n t e . Isso faz, por um lado, co m que seja nec e s s á ri o<br />

urinar m ais freqü e nt e m e n t e , perturb and o assi m o son o, e por<br />

outro o fluxo de urina, orgulho de tantos m e nin o s , transfor m ase<br />

e m um fio can s a d o . O grand e arco urinário sucu m b e<br />

cla m o r o s a m e n t e , e os mictórios público s são pen o s a m e n t e<br />

evitad o s já que a fraqu ez a (do jato) é senti<strong>da</strong> co m o humilhant e.<br />

O orgulho s o jato co m o qual o m e nin o apo sta que m ch e g a<br />

mais long e (na vi<strong>da</strong>?), tam b é m serv e nes s a ép o c a prec o c e<br />

para diferen ciar- se de m an eira expr e s s a do sex o que, nest e<br />

asp e ct o, é decidi<strong>da</strong> m e n t e m ais fraco. Som a- se a isto o fato de<br />

que a postura ma s c ulina ao urinar é um a postura de pod er.<br />

Com as perna s be m afastad a s , o jato é dirigido agre s siv a m e n t e<br />

para diante. Nos jogo s dos m e nin o s , o m e m b r o torna- se<br />

real m e nt e um apar elh o esp ortivo. A Bíblia já utiliza a son or a<br />

palavra es c ol hi<strong>da</strong> por Lutero, "piss e n" (= mijar) co m o um<br />

sím b ol o de força ma s c ulina. A postura feminina<br />

40<br />

6


corre s p o n d e n t e , ao contrário, exer c e um efeito de humil<strong>da</strong>d e. A<br />

mulh er se põ e de cóc or a s e, na postura aga c h a d a , deixa que o<br />

líquido flua.<br />

Quando es s a cap a cid a d e de diferen ci a ç ã o ced e, à m e di<strong>da</strong><br />

que a i<strong>da</strong>d e avan ç a, o corp o indica que se está aproxi m a n d o<br />

do sexo fraco. Ele ag or a não pod e m ais eliminar sua água co m<br />

tanta facili<strong>da</strong>d e e form a n d o um arco tão alto, situaç ã o na qual<br />

as mulh er e s vive m se m pr e. O org anis m o explicita que a<br />

aproxi m a ç ã o ao pólo feminin o tem lugar no plan o corpor al. É<br />

natural susp eitar que a tarefa propria m e n t e dita, a aproxim a ç ã o<br />

ao próprio pólo feminin o, a anima, fica aqu é m do nec e s s á ri o, e<br />

o corp o precis a viver o que a alm a evita.<br />

O sinto m a m o stra a tarefa: trata- se <strong>da</strong> anulaç ã o <strong>da</strong>s<br />

fantasias m a s c ulina s de grand e z a. O corp o torna sinc er o e<br />

força o afetad o a rec o n h e c e r que seu jato ma s c ulino e a<br />

irradiaç ã o a ele relacio n a d a já não che g a muito long e. A tarefa<br />

de aproxim a ç ã o ao pólo feminino se con cr etiza<br />

simultan e a m e n t e e m sentido figurad o.<br />

Uma indicaç ã o terap êutic a corrent e lanç a um a luz adicion al<br />

so br e o quadr o sinto m átic o. A funçã o <strong>da</strong> próstata é produzir<br />

liquido para que tudo deslize be m durante o ato sexual e o<br />

sê m e n esteja aprovision a d o para sua viag e m . O tam a n h o <strong>da</strong><br />

próstata, con s e q ü e n t e m e n t e , diminui devido ao esv azia m e n t o .<br />

Neste ponto, o con s el h o do urolo gista para que se tenha<br />

relaç õ e s sexuais co m freqü ê n ci a é con s e q ü e n t e . Caso, e m<br />

relaç ã o a isso, o pacient e não esteja dispo st o ou não seja<br />

cap az, ele força o próprio urologista a apalpá- lo. O ded o metido<br />

no ânus pod e exer c er pres s ã o so br e a próstata au m e nt a d a e<br />

espr e m ê - la por m ei o des s a ma s s a g e m anal. A própria<br />

ativi<strong>da</strong>d e sexual está certa m e n t e sen d o levad a e m<br />

con sid er a ç ã o , pois o fluxo de sê m e n que surg e é um alívio.<br />

O sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a quer forçar o pacient e a relacion ar- se<br />

mais co m sua sexuali<strong>da</strong>d e . Ness e contexto, é interes s a nt e<br />

notar que nas culturas árab e s , ond e a ativi<strong>da</strong>d e sexual<br />

freqü e nt e até a velhic e é a regra para o xá de pos s e s , não<br />

surg e m quais qu er probl e m a s de próstata co m p ar á v ei s. Por<br />

40<br />

7


outro lado, a hiperplasia <strong>da</strong> próstata é muitas vez e s o resultad o<br />

<strong>da</strong> impot ê n ci a. A glândula produz líquido s que entã o não são<br />

mais utilizado s. Eles ficam repres a d o s , e torna- se nec e s s á ri o<br />

am pliar a repre s a.<br />

O sinto m a <strong>da</strong> do e n ç a força a exerc er mais a sexuali<strong>da</strong>d e e,<br />

co m isso, ao rec o n h e c i m e n t o e à elab or a ç ã o do tem a <strong>da</strong><br />

polari<strong>da</strong>d e . O pacient e evid e nt e m e n t e deixou de se ocup ar<br />

suficiente m e n t e do assunto. É nec e s s á ri o, portanto,<br />

rec o m e n d a r- lhe mais contato físico co m o sex o feminino e mais<br />

contato aní mic o co m o próprio lado feminin o. Com a i<strong>da</strong>d e<br />

avan ç a d a , o centro de gravi<strong>da</strong> d e do enc o ntr o sexual deslo c ase<br />

para o enc o ntr o co m a anima. Quanto a isso, o plano<br />

corp or al continuará sen d o importante nes s e sinto m a na mes m a<br />

m e di<strong>da</strong> e m que não foi suficiente m e n t e trabalhad o até entã o. A<br />

próstata incha d a indica tam b é m a nec e s s i d a d e de um<br />

cres ci m e n t o adicion al <strong>da</strong> ma s c ulini<strong>da</strong>d e. Entretanto, o grand e<br />

obje tivo continua sen d o realizar e m si o pólo opo st o, não no<br />

plan o do jato de urina, ma s no <strong>da</strong> irradiaç ã o aní mic o- espiritual.<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que m e did a sinto- m e enfraqu e ci d o e m minh a<br />

irradiaç ã o m a s c ulina? Sinto- m e velho e des g a st a d o para o<br />

sexo?<br />

2. Onde luto contra resistên ci a s tenaz e s cres c e n t e s ?<br />

3. O que não "bate" co m minha soltura? Onde estan c o<br />

algo?<br />

4. Não "che g o lá" na vi<strong>da</strong>?<br />

5. Onde ponh o o grand e arc o para fora? Onde o perdi de<br />

vista?<br />

6. Que pap el des e m p e n h a o feminin o na minh a vi<strong>da</strong>, que<br />

pap el des e m p e n h a o "sexo fraco"? Que pap el des e m p e n h a o<br />

en c o ntro (sexual) co m ele?<br />

7. Em que m e did a enc o ntr o a feminili<strong>da</strong>d e em ruim?<br />

40<br />

8


3. A articulação coxo-femural<br />

A articulaç ã o coxo- femural é a bas e de noss o ca minhar e,<br />

co m isso, o lar de noss o s pas s o s e progr e s s o s e m grand e e<br />

pequ e n a es c al a, para o be m e para o m al. To<strong>da</strong> viag e m<br />

co m e ç a co m um pas s o , e tam b é m to<strong>da</strong> ca min h a d a . Dores na<br />

articulaç ã o coxo- femural, que na mai oria dos cas o s têm orig e m<br />

e m um a artros e, impe d e m es s a s ca min h a d a s e sinaliza m ao s<br />

afetad o s que não se pod e m ais contar co m grand e s<br />

progr e s s o s . Eles so m e n t e avan ç a m (na vi<strong>da</strong>) co m dore s. Ao<br />

lado do surgi m e nt o de des g a s t e s , são colo c a d o s e m questã o<br />

co m o bas e m e dicin al, so br etud o , os proble m a s reu m átic o s .<br />

A tarefa seria confor m ar- se co m o des c a n s o forçad o,<br />

rec o n h e c e r co m o o progr e s s o e o m o vi m e nt o são difíceis e <strong>da</strong>r<br />

pas s o s intern o s em vez de extern o s . Com a ad mis s ã o de que a<br />

cap a cid a d e de articulaç ã o nes s e plano foi perdi<strong>da</strong>, os objetivo s<br />

extern o s des a p ar e c e m na distân cia. Ao m e s m o tem p o , nesta<br />

oportuni<strong>da</strong>d e pod e oc orr er ao s afetad o s que continua sen d o<br />

pos sív el articular e tam b é m alcan ç ar objetivo s interno s durante<br />

o des c a n s o forçad o. A articulaç ã o des g a s t a d a , que co m seu<br />

an<strong>da</strong>r tenaz dá a impres s ã o de não ter sido lubrificad a, sinaliza<br />

que os ca minh o s extern o s dev e m ser limitado s. A situaç ã o<br />

en c alh o u. Isso leva natural m e nt e ao des c a n s o . Caso este seja<br />

suficiente m e n t e profund o, dele resultará nova m e n t e<br />

m o vi m e nt o , na ver<strong>da</strong>d e movi m e n t o interno.<br />

A saí<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> hoje é a articulaç ã o coxo- femural artificial,<br />

um truque tão genial co m o contrário ao des e n v olvi m e n t o que<br />

per mite à pes s o a voltar a viver co m o se na<strong>da</strong> tives s e<br />

ac o nt e cid o. Aqui tam b é m há um a chanc e para a sinc eri<strong>da</strong> d e ,<br />

na m e di<strong>da</strong> e m que se ad mita que o progr e s s o alm ejad o no<br />

futuro é artificial, que estritam e nt e faland o não mais se pára e m<br />

pé so br e as próprias perna s. Nova- m e nt e é de supor que a<br />

partir de ag or a é precis o contar m ais co m a aju<strong>da</strong> de outras<br />

pes s o a s para as cois a s extern a s e, por es s a razão, tornar- se<br />

mais autôn o m o nas cois a s interna s. Daí pod e- se derivar<br />

40<br />

9


tam b é m a con clus ã o de que o progr e s s o extern o pod e ser um<br />

progr e s s o forçad o artificialm e nt e, des d e que o genuín o oc orra<br />

e m um outro plano.<br />

P er g u nta s<br />

1. Com o avan c ei na vi<strong>da</strong>? Com o progr e di? Som e nt e<br />

con sid er ei objetivo s extern o s? Cons e g ui alcan ç á- los?<br />

2. É pos sív el alcan ç ar m e u s objetivo s por ca min h o s<br />

extern o s ?<br />

3. Onde enc alh ei ou m e en g a n c h e i?<br />

4. Que pap el des e m p e n h a para ruim o des c a n s o e o<br />

rec olhi m e nt o ?<br />

5. Onde aterriss ei interna m e n t e , e ond e ain<strong>da</strong> quer o<br />

ch e g ar?<br />

6. Aprendi a amp ar ar- m e na aju<strong>da</strong> extern a, torná- la útil<br />

para minha s nec e s s i d a d e s interna s?<br />

41<br />

0


13<br />

As Pernas<br />

Nossa s perna s, juntam e nt e co m os pés e as articulaç õ e s do<br />

joelho e do tornoz el o, form a m aqu el a s uni<strong>da</strong>d e s funcion ais que<br />

resp o n d e m à pergunta: Com o vai, co m o an<strong>da</strong>? Ain<strong>da</strong> que e m<br />

geral preste m o s pouc a aten ç ã o ao fato, to<strong>da</strong> a nos s a vi<strong>da</strong><br />

des c a n s a so br e as perna s. Respo n s á v ei s pelo m o vi m e n t o no<br />

esp a ç o , elas m o stra m co m o esta m o s no ca min h o . A relaç ã o<br />

<strong>da</strong>s extre mi d a d e s inferiores co m a reali<strong>da</strong>d e con cr eta é<br />

sim b olizad a pelo contato co m o chã o. Enquanto os braç o s<br />

estã o pendura d o s no ar, as perna s, co m os dois pés, estã o<br />

apoiad a s no chã o. Elas deixa m ver que postura assu mi m o s na<br />

vi<strong>da</strong> e co m o nos colo c a m o s nela, co m o nos apres e nt a m o s e se<br />

so m o s m elindro s o s , se so m o s dissi m ulad o s e o que<br />

repre s e nt a m o s , ond e deturpa m o s e o que form a m o s . O<br />

posicion a m e n t o é algo central, e a m an eir a co m o nos<br />

posicion a m o s e m relaç ã o à vi<strong>da</strong> decid e co m o nos sentim o s<br />

nela. A postura pes s o al m o stra se esta m o s a ca min h o na vi<strong>da</strong><br />

unica m e n t e sozinh o s ou a dois. Os adol e s c e n t e s , que ain<strong>da</strong><br />

não se firmara m e ain<strong>da</strong> estã o e m m o vi m e n t o , an<strong>da</strong> m junto s.<br />

Assim co m o os braç o s , as perna s tam b é m tend e m a<br />

con s erv ar en er gi a cinética não conv erti<strong>da</strong>. Impulsos de fuga<br />

bloqu e a d o s enc arn a m - se e m tens õ e s , impuls o s de luta<br />

rejeitad o s e m cãibra s, um a postura indolent e enc arn a- se na<br />

mus c ulatura corresp o n d e n t e . Há tantos tipos de perna co m o há<br />

pes s o a s e ponto s de vista. Apesar diss o, é pos sív el rec o n h e c e r<br />

deter min a d o s padrõ e s rec orr e nt e s . Não é por aca s o que<br />

falam o s de extre mi d a d e s , já que são elas que nos põ e m e m<br />

contato co m os extre m o s <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> distância. Sua<br />

tarefa é son d ar os extre m o s .<br />

Pernas maciças e mus c ul o s a s , que tend e m a m ant er- se<br />

algo afastad a s uma <strong>da</strong> outra devido às m a s s a s de mús c ul o s<br />

que colide m ao ca min h ar, per mite m entrev er um a<br />

41<br />

1


pers o n ali<strong>da</strong>d e se m e l h a nt e. Apesar de to<strong>da</strong> a sua força, a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e esp o nt â n e a e mud a n ç a s brusc a s não são seu forte.<br />

O an<strong>da</strong>r rígido, rob ótic o, dá forço s a m e n t e uma impre s s ã o de<br />

esforç o. A m o bili<strong>da</strong>d e fluente e flexível é substituí<strong>da</strong> pela força<br />

robusta. Se a isso se so m a m ain<strong>da</strong> os ma ci ç o s pés<br />

corre s p o n d e n t e s , está pronto o elefa nt e na loja de porc ela n a.<br />

O pólo opo st o é repres e nt a d o por perna s fraca s co m um a<br />

mus c ulatura muito pouc o des e n v olvid a, que têm proble m a s<br />

para mant er seus proprietários so br e os pés e am e a ç a m ced er<br />

a qualqu er m o m e n t o . Com dificul<strong>da</strong>d e s para m ant er- se so br e<br />

as próprias perna s e se m ponto s de vista firme s, os afetad o s<br />

declarad a m e n t e nec e s sita m de apoio. Eles estã o ca minhand o<br />

co m perna s que precis a m de reforç o que cuide de sua postura<br />

e de seu progr e s s o . De m an eira corre s p o n d e n t e , eles bus c a m<br />

apoio e m to<strong>da</strong> parte e corteja m aqu el a confianç a que se<br />

des e n v olv e tão m al e m sua platafor m a de vi<strong>da</strong>. Com o<br />

co m p e n s a ç ã o , eles freqü e nt e m e n t e tenta m adquirir<br />

con sist ê n ci a ao m e n o s e m cim a, ac e ntuand o esp e ci al m e n t e os<br />

mús c ul o s dos braç o s ou o cér e br o.<br />

Pernas de arame são igual m e nt e finas, m a s de form a<br />

algu m a fracas. Elas se desta c a m pela m o bili<strong>da</strong>d e intens a,<br />

esp o nt â n e a , que pod e ch e g ar à inquietud e nervo s a. Sempr e<br />

ca min h a n d o , elas têm probl e m a s para che g ar e para ficar. Tais<br />

perna s são con sid er a d a s atraent e s , pois são rijas e es b elta s,<br />

alé m de ág ei s e nervo s a s . A instabili<strong>da</strong>d e oculta- se<br />

discr eta m e n t e por trás <strong>da</strong> ele g a nt e mo bili<strong>da</strong>d e atarefad a.<br />

Às de ara m e opõ e m - se as pernas maciças e<br />

subdesenvolvi<strong>da</strong>s, cujos proprietários cha m a m a aten ç ã o<br />

pelo an<strong>da</strong>r co m o qual se arrasta m pela vi<strong>da</strong>. Eles costu m a m<br />

es c utar desd e pequ e n o s : "Erga as perna s!" ou "Você ain<strong>da</strong> vai<br />

trop e ç ar nos próprios pés!" Eles freqü e nt e m e n t e se gu e m es s a s<br />

profecias, colo c a m - se e m seu próprio ca min h o , têm<br />

dificul<strong>da</strong>d e s e m se mant er so br e os pés e mais ain<strong>da</strong> e m<br />

progr e dir. A fraqu ez a de sua postura e de seus ponto s de vista<br />

m o stra- se ab aixo, co m o o lastro que eles arrasta m con sig o.<br />

Pode- se imagin ar que seu an<strong>da</strong>r arrastad o , que lem br a o de<br />

41<br />

2


algué m que está dor mind o , é totalm e nt e inapropriad o para ir de<br />

en c o ntro à vi<strong>da</strong>. Arrastand o- se pelo ca minh o , falta- lhes muitas<br />

vez e s a esta bili<strong>da</strong>d e e a pers e v e r a n ç a nec e s s á ri a s para<br />

perc orr ê- lo.<br />

1. A articulação do joelho - problemas de menisco<br />

Na articulaç ã o do joelho elab or a m o s o tem a <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e .<br />

Ajoelhar- se e do br ar o joelho são ge st o s de sub mi s s ã o . Dess a<br />

man eira se vai ao en c o ntro dos dignitários religios o s ;<br />

antiga m e n t e se co m p ar e ci a assi m perant e o rei. Cham a a<br />

aten ç ã o o fato de que as pes s o a s m o d e r n a s tend e m m e n o s a<br />

dobrar o joelho. Pratica m e n t e não há oportuni<strong>da</strong>d e para isso<br />

fora <strong>da</strong> igreja católica, e m e s m o lá, ve m se proc e s s a n d o um a<br />

notáv el transfor m a ç ã o . Segund o nov o s "regula m e n t o s ", ag or a<br />

se pod e ficar e m pé e m situaç õ e s nas quais antes se<br />

ajo elh a v a. Em vez de dobrar o joelho humilde m e n t e diante do<br />

Todo- Poder o s o , hoje ele é confrontad o . A humil<strong>da</strong>d e e a<br />

sub mi s s ã o não estã o mais muito be m cotad a s .<br />

O ser hum a n o aprum a d o e inflexível tornou- se um ideal -<br />

cad a qual seu próprio rei. Até m e s m o trabalh o s que<br />

antiga m e n t e forçav a m a ajo elh ar- se, tais co m o tirar o pó e<br />

esfre g ar o chã o , hoje e m dia estã o pelo m e n o s tão<br />

m e c a niz a d o s que es s a postura se tornou desn e c e s s á ri a.<br />

Portanto, não é de estran h ar que os probl e m a s dos joelho s,<br />

esp e ci al m e n t e na form a de lesõ e s do m e ni s c o , tenha m<br />

adquirido um significad o con sid er á v el.<br />

A bas e <strong>da</strong>s lesões de menisco é a sup er exig ê n ci a. Os dois<br />

m e ni s c o s , que con siste m de cartilag e m , per mite m que a<br />

articulaç ã o do joelho, se m el h a nt e a uma do br adiç a, exe c ut e<br />

tam b é m m o vi m e n t o s giratório s. Quanto à form a, um equival e a<br />

uma m eia- lua e o outro, à lua cheia. Quanto à funçã o, eles<br />

corre s p o n d e m igual m e nt e ao pólo feminino. Na lesã o<br />

resp e ctiva eles se rasg a m , espr e m i d o s entre os pod er o s o s<br />

oss o s <strong>da</strong> coxa e <strong>da</strong> perna. A terapia usual ass e m e l h a- se a um<br />

41<br />

3


prolap s o de disc o, extirpand o os tecido s <strong>da</strong>nificad o s e fraco s<br />

de m ai s para o esforç o exigido. Finalm e nt e, os afetad o s tenta m<br />

freqü e nt e m e n t e continuar pratican d o o esforç o exc e s si v o se m<br />

as alm ofa d a s cartilagino s a s .<br />

O sinto m a m o stra ao s afetad o s sua arrog â n ci a. Eles<br />

dev eria m rec o n h e c e r seus limites e perc e b e r que seu impuls o<br />

de m o vi m e n t o extern o e o rendi m e nt o exigido do corp o para<br />

isso vão long e de m ai s. Caso eles ignor e m os doloro s o s sinais<br />

de adv ertênci a, os tem a s <strong>da</strong> m o d é s tia e <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>d e , nãovivido<br />

s e e m p urrad o s para a so m b r a, precipita m- se nos<br />

joelho s, que para isso estã o pred e stina d o s . Em vez <strong>da</strong><br />

humil<strong>da</strong>d e esp o ntân e a , eles ag or a viven ci a m a m o d é s tia<br />

força<strong>da</strong> e m sua m o bili<strong>da</strong>d e limita<strong>da</strong>, e a humilha ç ã o <strong>da</strong>s dore s.<br />

Quem não reduz de livre e esp o nt ân e a vontad e sua exag er a d a<br />

m o bili<strong>da</strong>d e extern a, é levad o a fazê- lo pelo s menis c o s .<br />

Trata- se de endireitar- se e ad mitir sinc er a m e n t e quais<br />

esforç o s são real m e nt e exigido s. Suspeita- se que justa m e n t e<br />

os atletas radicais utilize m sua exa g er a d a m o bili<strong>da</strong>d e extern a<br />

co m o co m p e n s a ç ã o para a imo bili<strong>da</strong>d e interna. Em vez de<br />

procurar interna m e n t e um a certa flexibili<strong>da</strong>d e e esforç ar- se<br />

para en c o ntrar ponto s de vista alternativo s, eles gira m e viram<br />

extern a m e n t e até que a paciên ci a do destino se es g ota e lhes<br />

rasg a o m e nis c o . Ness e sentido, a lesã o do joelho força a uma<br />

imo bili<strong>da</strong>d e sinc er a que tam b é m corresp o n d e à postura interna.<br />

Seria precis o aprov eitar o des c a n s o forçad o para estar<br />

nova m e n t e e m har m o ni a: para ser o m ai or extern a m e n t e ,<br />

tam b é m são nec e s s á ri a s m o bili<strong>da</strong>d e interna e uma dos e de<br />

m o d é s tia, que pod e ac eitar, que não se deixa forçar a fazer<br />

aquilo que não está dentro dos limites <strong>da</strong>s próprias<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s ou tarefas.<br />

Quando se pes q uis a a incidên ci a de acident e s direto s no<br />

esp orte, por exe m pl o, en c o ntra- se um a situaç ã o ond e a<br />

imo bili<strong>da</strong>d e espIritual precis a ser co m p e n s a d a por torçõ e s<br />

corp or ais exag er a d a s . Caso o jogad or de futeb ol, co m a<br />

cab e ç a pens a nt e que tem acim a, tives s e se posicion a d o m ais<br />

habilm e nt e e m relaç ã o à bola ou ao adv er s ário, não precis aria<br />

41<br />

4


se torc er tanto. Além diss o, na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s trata- se de<br />

situaç õ e s e m que os afetad o s "jogav a m " interna m e n t e co m um<br />

sentim e nt o tens o a ponto de se romp er. As lesõ e s jam ais são<br />

provo c a d a s por torçõ e s con s ci e nt e s , exe c utad a s co m o prazer<br />

do movi m e n t o ; para isso é nec e s s á ri o ter tam b é m a cab e ç a um<br />

pouc o torci<strong>da</strong>.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que pap el des e m p e n h a a m o d é s tia e m minh a vi<strong>da</strong>? Eu<br />

m e curvo quan d o nec e s s á ri o, ou deixo que o destino m e<br />

curve?<br />

2. Há algu m a pes s o a ou algu m tem a que exig e humil<strong>da</strong>d e<br />

de ruim?<br />

3. Tento des e m b a r a ç a r- m e quan d o estou so br e c arr e g a d o ?<br />

Tend o a curvar- m e fisica m e n t e para isso?<br />

4. Onde sou extre m a d o e so m e n t e m e deixo forçar a<br />

ajo elh ar- m e por uma «forç a sup erior"?<br />

5. Onde, junta m e nt e co m a alegria que sinto e m torc er- m e<br />

extern a m e n t e , pod eria adquirir flexibili<strong>da</strong>d e interna?<br />

6. O praz er que sinto no m o vi m e n t o extern o flui a partir do<br />

repou s o ou nas c e <strong>da</strong> am biç ã o e <strong>da</strong> inquietud e?<br />

7. Para ond e m e volta o destino? Para ond e m e u olhar<br />

dev e se dirigir?<br />

2. A panturrilha e suas cãibras<br />

Elas são a bas e de perna s bela s, que se destac a m por um<br />

saud á v el equilíbrio na mus c ulatura, que dão à perna e a to<strong>da</strong> a<br />

pes s o a en er gi a e elastici<strong>da</strong>d e . Quando algu é m está saltand o<br />

ou prest e s a saltar, isso se m o stra na panturrilha. Em seu vigor<br />

está o se gr e d o para <strong>da</strong>r o salto certo. Quando não se<br />

con s e g u e e se perd e a oportuni<strong>da</strong>d e , são freqü e nt e m e n t e as<br />

panturrilhas que de m o n s tr a m a so br e c ar g a não ad miti<strong>da</strong>. Elas<br />

pod e m ser con sid er a d a s o tes o ur o de nos s a s tens õ e s<br />

e m o ci o n ai s e, de m an eira corresp o n d e n t e a isso, per m a n e c e m<br />

41<br />

5


ocultas e protegid a s por trás <strong>da</strong>s canelas. Estas enc a n a m as<br />

perna s e, con s e q ü e n t e m e n t e , os m o vi m e n t o s , esta b el e c e m<br />

critérios e têm a ver co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de agü e nt ar. Quando se<br />

«lev a um a can el a d a", é- se fread o m o m e n t a n e a m e n t e e m seu<br />

progr e s s o . Os jogad or e s de futeb ol e de hock e y no gelo, para<br />

os quais a cap a cid a d e de se impor e a resistên ci a são<br />

decisiva s, proteg e m es s a s regiõ e s fortes e ao m e s m o temp o<br />

sen sív ei s co m can el eira s. Com o as can el a s ca min h a m à frente<br />

na vi<strong>da</strong>, elas e m geral são tam b é m as que m ais apan h a m .<br />

Marcas roxas e dore s "nervo s a s " docu m e n t a m o quanto elas<br />

são sen sív ei s e ranc or o s a s . As ma ci a s panturrilhas tam b é m o<br />

são, ma s de outra man eira.<br />

O que se pod e con cluir a partir dos son h o s durante um surto<br />

de cãibra s noturnas na panturrilha pod e ser facilm e nt e<br />

rec o n h e c i d o nas cãibras nas panturrilhas que surg e m nos<br />

jogad or e s de futeb ol quan d o sofre m um estira m e nt o . Os<br />

estira m e n t o s oc orr e m so m e n t e co m os futeb olistas decidido s,<br />

dos quais dep e n d e o "avan ç o " do time. Quando a tens ã o<br />

e m o ci o n al acu m ul ad a relacion a d a à "asc e n s ã o " e ao "avan ç o "<br />

aproxi m a- se de seu ponto culminant e, as cãibras na panturrilha<br />

m o stra m a carg a e m o ci o n al do individuo. Naturalm e nt e, o<br />

esforç o físico tam b é m se faz notar esp e ci al m e n t e. Entretanto,<br />

e m relaç ã o a isso cha m a a aten ç ã o o fato de que o m e s m o<br />

jogad or e m geral agü e nta tais provas de so br e c ar g a durante os<br />

treina m e n t o s se m probl e m a s e se m cãibra s nas panturrilhas.<br />

Os corred or e s de m ar aton a, que suporta m um des g a st e físico<br />

ain<strong>da</strong> m ai or, pratica m e n t e não têm cãibra s nas panturrilhas. A<br />

razã o pod eria estar na carg a e m o ci o n al sub stan ci al m e n t e<br />

m e n o r, sen d o que nes s e s long o s percurs o s pratica m e n t e não<br />

há decis õ e s tens a s a ser e m tom a d a s .<br />

Cãibras noturna s nas panturrilhas revela m que a tens ã o<br />

e m o ci o n al acu m ulad a ao long o do dia é tão con sid er á v el que<br />

não pod e ser confrontad a de man eira suficiente m e nt e<br />

con s ci e nt e durante a elab or a ç ã o noturna. Ela entã o m er gulha<br />

no corpo, m e s m o so b a prote ç ã o <strong>da</strong> noite, e se faz notar na<br />

mus c ulatura hiperten s a <strong>da</strong> panturrilha.<br />

41<br />

6


As m e di<strong>da</strong>s de prim eiros so c orr o s usuais, que têm por<br />

objetivo relaxar a mus c ulatura endur e cid a, trabalha m<br />

ho m e o p a tic a m e n t e . A perna, so b forte pres s ã o , é apoiad a<br />

contra um suporte resistent e. Desta tens ã o intencion al, que<br />

e m p urra a situaç ã o de hiperten s ã o para a con s ci ê n ci a, resulta<br />

a soluç ã o , o relaxa m e n t o <strong>da</strong> cãibra. As des e s p e r a d a s<br />

tentativas de saltar dos afetad o s têm efeito se m e l h a nt e. O<br />

sinto m a os tira <strong>da</strong> luta física e os força a um a tens ã o<br />

con s ci e nt e. Esse m o m e n t o de con s ci ê n ci a pod e ser suficiente<br />

para deixar clara a luta corp or al que está sen d o travad a e<br />

per mitir rec o n h e c e r qual tens ã o e m o ci o n al e qual am biç ã o se<br />

es c o n d e por trás dela. Trata- se de se apoiar, de corp o e alm a e<br />

con s ci e nt e m e n t e , na am e a ç a e m o ci o n al, pois quan d o a<br />

con s ci ê n ci a ab and o n a a luta, o corp o por si só não tem a<br />

m e n o r chanc e . Ele entã o m o stra a exig ê n ci a exc e s si v a na<br />

cãibra, a caricatura <strong>da</strong> luta. Mas cas o o des afio seja reto m a d o<br />

con s ci e nt e m e n t e , o corp o é aliviad o <strong>da</strong> tarefa de apoiar- se<br />

substitutiva m e n t e contra algo que de qualqu er form a não pod e<br />

ser detido por m ei o s pura m e n t e físico s. A hiperten s ã o física<br />

ced e co m es s e pas s o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a e o ritual que é<br />

exe c utad o simultan e a m e n t e . Pode- se entã o voltar a jogar ou a<br />

dor mir, ou seja, a son h ar. Quando a luta é travad a de man eira<br />

con s ci e nt e m e n t e e m o ci o n al, o corp o tam b é m pod e continuar<br />

lutand o. A cãibra física <strong>da</strong> panturrilha, portanto, se m pr e trai<br />

tam b é m uma dos e de resign a ç ã o e de renún cia. Os afetad o s<br />

sinaliza m que fora m posto s fora de co m b at e , ou seja, estã o<br />

incap a citad o s para a luta. O que eles não ad mite m fisica m e n t e<br />

torna- se claro no corp o.<br />

P er g u nta s<br />

1. Que exaltaç ã o e m o ci o n al não ad miti<strong>da</strong> pod eria ter se<br />

acu m ul ad o e m minh a s panturrilhas?<br />

2. Até que ponto a luta e m o ci o n al que se enc arn a na cãibra<br />

faz falta e m minh a vi<strong>da</strong>?<br />

3. Contra o que m e apóio e m sentido figurad o, quan d o<br />

en c o st o minha perna e m convuls õ e s contra um suporte?<br />

41<br />

7


4. Onde dev eria esforç ar- m e de man eira m ais con s ci e nt e<br />

para agü e nt ar um a luta co m forte carg a em o ci o n al?<br />

5. O que e sta e m jogo para ruim no m o m e n t o e co m o lido<br />

co m isso em o ci o n al m e nt e?<br />

6. Onde quer o pular fora e desistir, se m ad miti- lo?<br />

3. Rompimento do tendão de Aquiles<br />

A co m p a ct a mus c ulatura <strong>da</strong> panturrilha liga- se ao calcanhar<br />

por mei o do tendã o de Aquiles. Quando esta cor<strong>da</strong> arreb e nt a, a<br />

pes s o a não dá m ais nenhu m pas s o e tam b é m nenhu m pulo.<br />

Há divers a s razõ e s para que o calc anhar se transfor m a s s e e m<br />

calcanhar de Aquiles e, assi m, no ponto fraco do ser hum a n o .<br />

É nest e local que Eva é am e a ç a d a de ser atac a d a pela<br />

serp e nt e ao ser expuls a do Paraís o. Neste ponto fraco a<br />

serp e nt e, prolon g a m e n t o do braç o do de m ô ni o , sím b ol o <strong>da</strong><br />

duali<strong>da</strong>d e e <strong>da</strong> divisã o, se insinuará para ela. O mito que<br />

apo nta o calc anhar co m o sen d o um a áre a esp e ci al m e n t e<br />

am e a ç a d a se rem et e a Aquiles, o herói <strong>da</strong> guerra de Tróia. Sua<br />

mã e queria imp e dir que qualqu er coisa nest e mund o<br />

ac o nt e c e s s e a seu am a d o filho, e por es s a razã o m er gulh o u- o<br />

no rio do mund o dos m orto s, o Estige, cujas água s con c e di a m<br />

a imortali<strong>da</strong>d e . Mas ela precis av a se gur á- lo por algu m lugar,<br />

para que ele não afun<strong>da</strong> s s e co m pl et a m e n t e . Com o ela<br />

es c ol h e u os calc anhar e s , este s ficara m sen d o o único lugar<br />

vulneráv el de Aquiles. Foi aí que a flech a de Heitor o atingiu,<br />

provo c a n d o - lhe a m orte quan d o ain<strong>da</strong> era jove m . Finalm e nt e, o<br />

calcanhar é tam b é m aqu el e lugar que nos une mais<br />

intens a m e n t e co m a Mãe Terra, que con cr et a e sim b olic a m e n t e<br />

repre s e nt a a polari<strong>da</strong>d e, o mun d o feminin o dos opo st o s .<br />

O mund o <strong>da</strong> duali<strong>da</strong>d e , co m o pólo opo st o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e<br />

paradisíac a, é o lugar <strong>da</strong> m ortali<strong>da</strong>d e e de todo o sofrim e nt o. O<br />

calcanhar co m o ponto de união co m a polari<strong>da</strong>d e e m Eva,<br />

Aquiles e o resto <strong>da</strong> hum a nid a d e é co m isso a porta de entrad a<br />

41<br />

8


para to<strong>da</strong> s as iniqüi<strong>da</strong>d e s pos sív ei s. A infelici<strong>da</strong>d e co m o<br />

expr e s s ã o <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>d e e pólo opo st o <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>d e <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e go sta esp e ci al m e n t e de pen etrar na vi<strong>da</strong> por aqui.<br />

O tendã o de Aquiles, que se inser e nes s e lugar tão esp e ci al,<br />

é nos s o tendã o m ais ma ci ç o e forte, e é precis o tension ar o<br />

arco de form a extre m a para que ele se romp a. Nas situaç õ e s<br />

corre s p o n d e n t e s , um a pes s o a deixa de calcular suas<br />

pos sibili<strong>da</strong>d e s e tensio n a e romp e seus tend õ e s . Ele<br />

literalm e nt e se romp e e m pe<strong>da</strong> ç o s . Arreb entar- se por um a<br />

obriga ç ã o significa arriscar tudo, e tam b é m m ais do que o<br />

nec e s s á ri o, por ela. E es s a situaç ã o que colo c a e m jogo o<br />

ponto fraco dos ho m e n s . Através do ro mpi m e n t o do tendã o , os<br />

afetad o s são abrupta m e n t e levad o s de volta ao chã o dos fatos.<br />

O calc anhar de Aquiles que não m ais se ergu e deixa claro que<br />

se é so m e n t e um ser hum a n o e que, estan d o e m todo cas o na<br />

polari<strong>da</strong>d e , não se está a<strong>da</strong>ptad o para o so br e n atural. A<br />

arrog â n ci a de equipar ar- se ao so br e n atural é pec a d o , sen d o<br />

que na Antigui<strong>da</strong>d e era inclusive o único. Ele se torna explicito<br />

no pec a d o original, quan d o a serp e nt e leva Eva a colh er <strong>da</strong><br />

árvor e do con h e ci m e n t o do be m e do mal para tornar- se igual a<br />

Deus. Tal con h e ci m e n t o está res erv a d o a Deus, e quan d o Eva<br />

se torna culpad a <strong>da</strong> arrog â n ci a, ele a pers e g u e co m a<br />

polari<strong>da</strong>d e dizen d o à serp e nt e: "Sem e a r ei a disc órdia entre<br />

voc ê e a mulh er. Você olhará para seus calc anhar e s ... ".<br />

Essa relaç ã o se explicita e m um plano m ais ban al nos<br />

ferim e nt o s esp ortivo s do tendã o de Aquiles. Trata- se se m pr e<br />

de esforç o s máxi m o s que exig e m de m a si a d o do corp o e<br />

tension a m ao extre m o seus tend õ e s mais fortes. Quando o<br />

tendã o de Aquiles ced e, ele m o stra que o rec ord e que se tinha<br />

e m vista está fora do alcan c e . É con h e ci d o o fato de que é<br />

se m pr e o mais intelig ent e que ced e . O corpo freqü e nt e m e n t e<br />

tem de des e m p e n h a r es s e pap el ingrato e m relaç ã o à<br />

am bi ci o s a razão, que m et e tantas cois a s pouc o realistas na<br />

ca b e ç a . Isso se tornou esp e ci al m e n t e nítido co m alguns atletas<br />

ligeiro s durante os control e s de doping. Montanha s de<br />

mús c ul o s ergui<strong>da</strong> s à bas e de hor m ô ni o s des e n v o l via m um a<br />

41<br />

9


força que, exigind o de m a s i a d o dos tend õ e s hiperten si o n a d o s ,<br />

fazia co m que se romp e s s e m um atrás do outro. Quando o<br />

siste m a de segur an ç a <strong>da</strong> con s ci ê n ci a ve m ab aixo se m que os<br />

afetad o s o note m , cab e ao corp o parar a louc a viag e m <strong>da</strong><br />

am bi ç ã o .<br />

Providen ci a- se entã o um a paus a para a m e ditaç ã o , e<br />

tam b é m as pos sibili<strong>da</strong>d e s de m o vi m e nt o que não fora m<br />

e m pr e g a d a s e m relaç ã o a isso, as do pens a m e n t o , continua m<br />

sen d o as m elh or e s . Em vez de esp er n e ar fisica m e n t e e tentar<br />

con s e g uir algo incrível, rep entina m e n t e é hora de deixar os<br />

pen s a m e n t o s vagu e ar e m . O org anis m o deixa claro o quanto<br />

um intervalo é nec e s s á ri o. A ligaç ã o dos atos de força<br />

e m o ci o n ai s co m a estrutura interna, sim b olizad a pelo s oss o s , é<br />

muito fraca. Os afetad o s estã o e m um ca min h o que na ver<strong>da</strong>d e<br />

não co m bin a co m eles. O corp o diz que isso precis a parar e<br />

procura justa m e n t e pelo s prim eiro s soc orr o s, paran d o<br />

abrupta m e n t e o projeto de am biç ã o e m pr e e n di d o . Ele não quer<br />

ter mais na<strong>da</strong> a ver co m tais saltos e deixa que a ligaç ã o se<br />

romp a. Ou a força e os ele m e n t o s cinétic o s são fortes de m ai s<br />

para es s a cor<strong>da</strong>, ou a cor<strong>da</strong> é de m a s i a d o fraca para tanta<br />

força.<br />

A lição a ser aprendid a supõ e trocar os pólo s do con c eito<br />

mantido até entã o: <strong>da</strong>r des c a n s o ao corpo e ultrapas s ar<br />

animic a m e n t e o lugar ond e se está e aquilo pelo qual se<br />

esforç a por alcan ç ar. Objetivo s so br e- hum a n o s exig e m<br />

esforç o s so br e- hum a n o s , e co m isso muitas ligaç õ e s<br />

importante s pod e m romp er- se e m ped a ç o s . É precis o<br />

rec o n h e c e r quais ligaçõ e s leva m à infelici<strong>da</strong>d e e dev e m ser<br />

ab and o n a d a s . É evid e nt e que algu m a s se tornara m de m a si a d o<br />

obrigatórias e dev eria m ser cortad a s . Quando a pes s o a se liga<br />

muito forte m e nt e a objetivo s am bi ci o s o s que estã o muito aci m a<br />

<strong>da</strong>s próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s , a ligaç ã o co m o mund o polar se<br />

romp e. Caso contrário se perd eria o chã o so b os pés e se<br />

correria o perigo de dec ol ar. É o ro mpi m e n t o por m ei o do corp o<br />

que a traz de volta ao chã o dos fatos.<br />

42<br />

0


P er g u nta s<br />

1. Onde exc e d o minh a s pos sibili<strong>da</strong>d e s ? Pelo que m e<br />

arreb e nt o?<br />

2. Onde m e deixei apan h ar e am arrar por son h o s de vôo<br />

de m a s i a d o alto?<br />

3. Que obriga ç õ e s e m minha vi<strong>da</strong> é precis o cortar?<br />

4. Onde precis o m e soltar, ond e precis o reen c o ntr ar o<br />

chã o?<br />

5. Onde minha am bi ç ã o se transfor m o u em cila<strong>da</strong>?<br />

6. O que eu faço quan d o to<strong>da</strong> s as cor<strong>da</strong> s se romp e m ?<br />

42<br />

1


14<br />

Os Pés<br />

No ponto m ais distante <strong>da</strong> cab e ç a en c o ntra- se o que tem o s<br />

de m ais hum a n o no corp o, a ab ó b a d a do pé. Enquanto<br />

co m p artilha m o s to<strong>da</strong>s as outras estruturas e todo s os outros<br />

órg ã o s , inclusive o cér e br o, co m outras criaturas, as ab ó b a d a s<br />

de nos s o s pés são a única garantia de nos s a postura ereta - e<br />

rec e b e m pouc a aten ç ã o e rec o n h e c i m e n t o por isso. A man eira<br />

co m o li<strong>da</strong>m o s co m noss o s pés trae m noss o estilo de vi<strong>da</strong>.<br />

Emb or a tenha m o s tido contato direto <strong>da</strong> pele co m a terra<br />

durante a m ai or parte <strong>da</strong> história de noss o des e n v o l vi m e n t o ,<br />

nós o evita m o s des d e há alguns século s. An<strong>da</strong>r des c al ç o ain<strong>da</strong><br />

des e m p e n h a um pequ e n o pap el so m e n t e no co m e ç o <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do individuo. A tend ê n ci a posterior de usar<br />

sap ato s co m salto m o stra a intenç ã o incon s ci e nt e de<br />

distanciar- nos o m áxi m o pos sív el <strong>da</strong> Mãe Terra. Ao colo c ar<br />

sap ato s de salto alto, as mulh er e s usa m algo que tire seus<br />

calcanhar e s de Aquiles <strong>da</strong> zona de perigo (<strong>da</strong> serp e nt e). A<br />

distância <strong>da</strong> terra é, alé m diss o, eleg a nt e, e por isso a per<strong>da</strong> de<br />

esta bili<strong>da</strong>d e é suportad a de bo m grad o.<br />

Fazer os pés entrar e m à força e m sap ato s extre m a m e n t e<br />

estreitos, ch e g a n d o até ao antigo costu m e chin ê s de impe dir o<br />

cres ci m e n t o dos pés por m ei o de band a g e n s rígi<strong>da</strong>s, lança<br />

uma luz caract erística so br e o martírio de nos s a s "raízes". Essa<br />

prefer ê n ci a por pés pequ e n o s existe até hoje, razã o pela qual<br />

não é raro que os pés seja m m etido s e m sap ato s de m a s i a d o<br />

pequ e n o s . A mutilaç ã o intencion al <strong>da</strong>s raízes na China antiga e<br />

entre nós contrasta co m a prefer ê n ci a de viver à larga. Pois a<br />

exp eriên ci a en sin a que raízes fortes são o fun<strong>da</strong> m e n t o de um a<br />

vi<strong>da</strong> be m - suc e di<strong>da</strong>. Pode- se per mitir algu m a s cois a s quan d o<br />

se tem raízes be m des e n v o l vi <strong>da</strong>s. Quando, ao contrário, elas<br />

são tranc afiad a s e m prisõ e s de m a si a d o estreitas, o preç o diss o<br />

terá de ser pag o e m um plan o mais elev a d o .<br />

42<br />

2


Segund o a lei "Assim aci m a co m o ab aixo", todo o corp o está<br />

reproduzido na planta do pé so b a form a de zona s reflexa s,<br />

sen d o que as zona s corresp o n d e n t e s à cab e ç a estã o<br />

localizad a s na regiã o dos ded o s dos pés. É de supor que o<br />

suplício <strong>da</strong> parte anterior dos pés e m sap ato s muito ap ertad o s<br />

tenha corre s p o n d ê n c i a no aum e nt o vertiginos o <strong>da</strong>s dor e s de<br />

cab e ç a . Nas cha m a d a s culturas primitivas, ond e as pes s o a s<br />

so m e n t e se m o v e m des c al ç a s , as dor e s de cab e ç a são tão<br />

des c o n h e c i d a s co m o o co stu m e de arreb e nt ar a cab e ç a ou<br />

arre m e t ê- la contra a pared e.<br />

A cap a cid a d e de estar e sta b el e ci d o, ter pé firme na vi<strong>da</strong> e<br />

ergu er- se so br e os próprios pés m o stra co m o so m o s<br />

dep e n d e n t e s de nos s a s raízes e co m o não tem sentido<br />

m e n o s p r e z á- las. A con stâ n ci a e a esta bili<strong>da</strong>d e parte m deles e<br />

nos per mite m agü e nt ar a vi<strong>da</strong>. Neste ponto vale a pen a notar<br />

que, segun d o Herman Weidel en er, so m o s um a soci e d a d e<br />

do e nt e dos pés, que corre o perig o de perd er o chã o so b os<br />

pés porqu e ain<strong>da</strong> se ocup a so m e n t e <strong>da</strong> cab e ç a . Assim, cad a<br />

afirma ç ã o está bas e a d a e m um fun<strong>da</strong> m e n t o, e a razã o e a<br />

co m pr e e n s ã o do mun d o dep e n d e m evident e m e n t e do contato<br />

co m o solo. O proble m a está ond e o sap ato aperta, já diz o<br />

ditado.<br />

O pé saud á v el de uma pers o n ali<strong>da</strong>d e estáv el con sist e de<br />

uma ab ó b a d a dupla co m duas ponte s e três ponto s de contato<br />

co m a terra. A pequ e n a ab ó b a d a anterior está apoiad a e m dois<br />

ponto s à altura dos ded o s grand e e pequ e n o , sen d o que a<br />

grand e apóia- se adicion al m e n t e no calcanhar.<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , noss o pé é um tripé e se destac a pela<br />

esta bili<strong>da</strong>d e e pela elastici<strong>da</strong>d e . Apesar diss o, já não são<br />

muitas as pes s o a s m o d er n a s que ain<strong>da</strong> têm es s e contato<br />

perfeita m e nt e equilibrad o co m o solo. A situaç ã o <strong>da</strong> m ai oria é<br />

mais balouç a nt e, já que e m vez de três, posicion a m - se<br />

so m e n t e so br e um ou dois ponto s de apoio. Quem tem os dois<br />

pés no chã o e este s, por sua vez, o toca m e m três ponto s, tem<br />

confian ç a pois está so br e um a bas e segur a e tem um sentido<br />

de reali<strong>da</strong>d e fun<strong>da</strong> m e n t a d o . Quem, ao contrário, desliza pelo<br />

42<br />

3


chã o apoiad o e m um a sup erfície m ais larga, gosta tam b é m de<br />

oscilar e m relaç ã o às coisa s, alheio à reali<strong>da</strong>d e . Sua vi<strong>da</strong> é<br />

algo incon sist e nt e e des c a n s a , ou seja, resvala so br e pés<br />

fraco s.<br />

O ach ata m e n t o <strong>da</strong> pequ e n a ab ó b a d a do pé (pés alargado.)<br />

retira um dos pilares <strong>da</strong> ponte anterior e reduz o contato co m o<br />

solo a dois ponto s. Caso a ab ó b a d a long a tam b é m se ach at e, a<br />

voz popular fala de pé chato. O m ol ejo e os ponto s de apoio<br />

diferen ciad o s se perd e m . Apoiado s so br e as largas sup erfícies<br />

ach atad a s , os afetad o s desliza m por aí quas e co m o se<br />

estive s s e m co m patins de gelo, se m en c o ntrar esta bili<strong>da</strong>d e ou<br />

con sist ê n ci a. Isso muitas vez e s se reflete e m uma vi<strong>da</strong> se m<br />

co m pr o m i s s o s , à qual falta o enraiza m e n t o . A posiç ã o ampla,<br />

sup erficial e algo des a str ad a não é firme, m o v e n d o - se<br />

livre m e n t e . Devido a es s e m o d o de vi<strong>da</strong> infun<strong>da</strong>d o e muitas<br />

vez e s insond á v el, eles não go sta m de se co m pr o m e t e r ou de<br />

ass e nt ar- se.<br />

Pess o a s co m os pés pes a d o s , que gru<strong>da</strong> m no chã o , são<br />

opo sta s ao s "patinad or e s ". Elas ac e ntua m sua posiç ã o mais do<br />

que o nec e s s á ri o e tam b é m mal ergu e m os pés do chã o ao<br />

an<strong>da</strong>r. O pas s o arrastad o já oc orr eu no cas o <strong>da</strong>s perna s<br />

gor<strong>da</strong> s, ma s fracas. Eles tam b é m m al levanta m os pés do chã o<br />

e m sentido figurad o, e portanto tamp o u c o ch e g a m muito long e<br />

nas regiõ e s aér e a s do mund o do pens a m e n t o , ond e a<br />

criativi<strong>da</strong>d e e a esp o ntan ei d a d e estã o e m cas a. Por es s a<br />

razã o, eles são confiáv ei s e con stant e s , razo á v ei s e be m<br />

fun<strong>da</strong> m e n t a d o s . Na<strong>da</strong> ac o nt e c e co m eles facilm e nt e, e m e n o s<br />

ain<strong>da</strong> os derrub a. Onde os pés chato s têm algo de incon stant e,<br />

nos pes a d o s tudo per m a n e c e quieto. Aqui a esta bili<strong>da</strong>d e<br />

prec e d e a m o bili<strong>da</strong>d e. Entretanto, quan d o os pés se<br />

transfor m a m e m chu m b o , eles puxa m seu proprietário para<br />

baixo e impe d e m qualqu er es c a p a d a para outras dim e n s õ e s .<br />

Uma vi<strong>da</strong> que se limita so m e n t e ao chã o dos fatos pod e tornarse<br />

bastant e ab orr e ci<strong>da</strong>.<br />

Muito diferent e s são os príncipe s (princ e s a s) que flutua m<br />

pelo mun d o e esp e ci al m e n t e pelo mun d o dos son h o s nas<br />

42<br />

4


pontas dos pés, co m o se quis e s s e m colo c ar- se aci m a <strong>da</strong>s<br />

depr e s s õ e s <strong>da</strong> terra. No m elh or estilo de balé, eles <strong>da</strong>nç a m<br />

pela vi<strong>da</strong>. An<strong>da</strong>r nas pontas don pés é a variante natural dos<br />

sap ato s de salto alto e m o stra quã o pouc o seus proprietários<br />

liga m para o contato co m o chã o e até m e s m o para a<br />

e sta bili<strong>da</strong>d e . Eles não lanç a m raízes em nenhu m a parte, já que<br />

esta s so m e n t e atrapalharia m suas existên ci a s levian a s (de<br />

artista). Em vez de sentido de reali<strong>da</strong>d e, eles cultiva m a<br />

fantasia. Eles optara m pelas alturas e m am b o s os lado s do<br />

mund o polar, deixand o a profundi<strong>da</strong>d e para os que têm os pés<br />

pes a d o s . Em vez de raízes, eles têm son h o s de alto vôo,<br />

impulso criativo, ímp eto con sid er á v el, fantasia e m abund â n ci a<br />

e nen hu m a firmez a. Eles são ain<strong>da</strong> mais difíceis de derrub ar<br />

que os que têm os pés pes a d o s , pois no mund o de fa<strong>da</strong>s dos<br />

ser e s flutuante s na<strong>da</strong> é firme e tudo flui. Mas a levez a de tais<br />

ser e s feitos de nuve n s tam b é m tem seu lado so m b ri o na<br />

neglig ê n ci a freqü e nt e m e n t e exten s a <strong>da</strong> existên ci a mat erial.<br />

No pólo opo st o estã o ass e nt a d o s os pés em forma de<br />

garra, co m os quais seus proprietários se aferra m à sup erfície<br />

<strong>da</strong> Terra. Os ded o s curvad o s co m o garras bus c a m apoio<br />

convulsiva m e n t e . Tais pés falam de um a existên ci a am e a ç a d a ,<br />

um forte des ej o de enc o ntrar parag e m e de não ced er. Não<br />

so m e n t e os ded o s dos pés, ma s tam b é m os mús c ul o s dos pés<br />

e <strong>da</strong>s perna s, estã o muitas vez e s cronic a m e n t e tens o s e<br />

deixa m entrev er uma postura se m e l h a nt e e m relaç ã o à vi<strong>da</strong>.<br />

Pés inquieto s, ao contrário, revela m a tend ê n ci a de ca minhar<br />

con sta nt e m e n t e e, e m geral, de es c a p ar. Seus proprietários<br />

estã o se m pr e <strong>da</strong>nd o no pé e, freqü e nt e m e n t e , oculta m tam b é m<br />

tend ê n ci a s de fuga por trás de sua co m p uls ã o e interes s e pelo<br />

m o vi m e nt o .<br />

Uma inclinaç ã o extre m a para trás, que perten c e a um tipo de<br />

an<strong>da</strong>r que se apóia nos calc anhar e s , aponta para um a direç ã o<br />

se m el h a nt e. A postura apoiad a nos calcanhar e s indica um<br />

recuo diante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e garant e contrag olp e s nas costa s e na<br />

nuca. Por es s a razão, tanto m ais fácil é derrub ar pela frente os<br />

repre s e nt a nt e s des s a posiç ã o . Apesar de ass e g ur ar- se<br />

42<br />

5


m e dr o s a m e n t e , eles tend e m a cair. Um leve vento lateral já é<br />

suficiente para levantá- los pelo s pés.<br />

1. O astrágalo<br />

Quem torc e o tornoz el o não pod e m ais, co m o Hefesto s, o<br />

ferreiro dos deus e s , <strong>da</strong>r grand e s saltos. Ele que br o u seus dois<br />

astrág al o s quan d o sua mã e o arre m e s s o u do céu para a Terra,<br />

e a partir de entã o ele ficou coxo. Algo se m el h a nt e ac o nt e c e<br />

co m aqu el e s que dão saltos grand e s de m ai s e aterriss a m co m<br />

de m a s i a d a durez a so br e o chã o dos fatos. A exig ê n ci a é clara:<br />

per m a n e c e r no chã o e es c al ar degr au a degr au, lenta e<br />

con sta nt e m e n t e . Os grand e s saltos estã o vetad o s pelo destino.<br />

Para as pes s o a s que estav a m se m pr e saltand o para diante,<br />

ficar coxo é uma dura terapia. Quando eles apren d e m a abrir<br />

ca min h o avan ç a n d o pen o s a m e n t e pelo s vales <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o ges s o<br />

que têm no pé parec e uma bola de ferro. Mas ele pod e tornarse<br />

tam b é m a ânc or a que o m ant é m pres o ao corpo e o imp ed e<br />

de pular fora fisica m e n t e e sair <strong>da</strong> raia. Justam e nt e o corp o<br />

pres o ao chã o pod e transfor m ar- se na bas e ideal para saltos<br />

aér e o s espirituais e vô o s de altitude.<br />

O astrág al o, que se en c o ntra so br e a ab ó b a d a do pé, é a<br />

orig e m de noss a postura ereta, ma s tam b é m <strong>da</strong> pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de neg á- la. O salto para o plan o dos deus e s so m e n t e pod e ser<br />

be m - suc e did o a partir <strong>da</strong>qui. Mas aqui são tam b é m vingad o s<br />

os pas s o s e m falso. Quando torc e m o s o pé, esta m o s sen d o<br />

repre e n did o s sev er a m e n t e , na fratura nós tem o s um estalo.<br />

A lição a ser aprendid a resulta do acident e: os afetad o s<br />

precis a m ad mitir que estã o apoiad o s e m falso, que aterriss a m<br />

de form a muito pouc o flexível quan d o salta m, que apó s seus<br />

altos vôo s leva m um a bron c a <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e , ou seja, que o<br />

contato entre o mun d o dos pen s a m e n t o s e a reali<strong>da</strong>d e não é<br />

har m ô ni c o e trilha ca minh o s perigo s o s . Eles estã o sen d o<br />

des afiad o s a retirar seu corp o do duro confronto co m a<br />

reali<strong>da</strong>d e, garantir m elh or suas rotas de fuga e am ort e c e r as<br />

42<br />

6


aterriss a g e n s , testar e m pens a m e n t o os ca minh o s pouc o<br />

claro s e ous a d o s antes de exe c utá- los na mat eriali<strong>da</strong>d e. Os<br />

ferim e nt o s por ela caus a d o s os força m ao des c a n s o e os<br />

levanta m pelo s pé s . É precis o poupar o corpo e, nes s e<br />

des c a n s o extern o, e m p e n h a r- se m ais na m o bili<strong>da</strong>d e e nos<br />

saltos espirituais intern o s. O coxo Hefesto s, imp e did o de<br />

progr e dir fisica m e n t e , tornou- se um criativo inventor e<br />

con q uistou assi m o lugar no céu que ante s lhe era neg a d o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Que pap el des e m p e n h a a impulsivi<strong>da</strong>d e em minh a vi<strong>da</strong>?<br />

2. Tend o ao s altos vô o s pouc o fun<strong>da</strong> m e n t a d o s na<br />

reali<strong>da</strong>d e? Costum o es qu e c e r na dec ol a g e m a nec e s si d a d e de<br />

aterriss ar? Com o m e relacion o co m o son h o e co m a<br />

reali<strong>da</strong>d e?<br />

3. Negligen ci o minha nec e s si d a d e de repou s o na tentativa<br />

de lutar por m eu lugar?<br />

4. Onde and o mal? Onde minha vi<strong>da</strong> estala, ond e ela<br />

precis a do br ar, ond e ela precis a de um intervalo?<br />

5. Onde tend o a <strong>da</strong>r pas s o s e m falso fisica m e n t e , e m vez<br />

de provar novo s ca min h o s des d e um a persp e ctiva espiritual?<br />

6. Onde m e insurjo contra m eu destino? Onde a<br />

sublev a ç ã o faz parte do m eu destino?<br />

2. Olho de peixe<br />

Os olho s inferiores ofer e c e m um a persp e ctiva muito<br />

diferent e <strong>da</strong> que ofer e c e m os olho s que estã o aci m a. Derivad o<br />

dos olho s e m form a de botã o dos peixes, es s e s ponto s de<br />

pres s ã o crônic o s m o stra m co m muita exatidã o ond e o sap ato<br />

aperta.<br />

Neste contexto, a relaç ã o do aci m a e do ab aixo, tal co m o<br />

rev ela m as zona s reflexa s, é esp e ci al m e n t e caract erística.<br />

Olhos de peixe, que surg e m so br etud o na zona dos ded o s dos<br />

pés, sinaliza m que deter min a d a s zona s <strong>da</strong> cab e ç a estã o so b<br />

42<br />

7


pres s ã o . Quando algué m está pisand o nos ded o s do pé de<br />

outra pes s o a , isso apar e c e co m o tem p o e m ponto s nos pés<br />

dolor o s o s à pres s ã o , m e s m o quan d o os impe di m e n t o s que<br />

surg e m des s a m an eira tenha m um cunh o ac e ntuad a m e n t e<br />

social. Pode até m e s m o ser que a pes s o a pise e m seu próprio<br />

pé e, assi m, ob strua seu próprio ca min h o e imp e ç a seu próprio<br />

progr e s s o . Este é certa m e n t e o cas o , por exe m pl o, quan d o se<br />

usa sap ato s ap ertad o s con s ci e nt e m e n t e . Em um a situaç ã o<br />

des s a s a pes s o a , na maioria dos cas o s a mulh er, per mite que<br />

um ideal de gosto imp e ç a seu progr e s s o con cr et o.<br />

Anato mic a m e n t e , os olho s de peixe con siste m de um<br />

exc e s s o de pele endur e ci<strong>da</strong> que form a um a ca m a d a para<br />

proteg er <strong>da</strong> pres s ã o exer ci<strong>da</strong> a partir do exterior. Eles são um a<br />

tentativa de blin<strong>da</strong>r ponto s fraco s. A exp eriên ci a típica é que<br />

co m o temp o es s a s placa s blin<strong>da</strong>d a s se transfor m e m elas<br />

m e s m a s e m foco s de dor. Quem quer se poup ar de tudo corre<br />

o perig o de sofrer tudo. Trata- se, con s e q ü e n t e m e n t e , de refletir<br />

mais a resp eito de m e di<strong>da</strong> s aní mic o- espirituais de autoproteç<br />

ã o e m vez de prote g e r- se fisica m e n t e co m um a<br />

arm a d ur a. É precis o confrontar aquilo que nos pres si o n a e<br />

entã o adotar as m e di<strong>da</strong>s corresp o n d e n t e s que pos s a m<br />

solucion á- lo. Poder- se- ia, por exe m pl o, ab and o n ar a posiç ã o<br />

que provo c a tanta pres s ã o contrária, ou entã o ass e g ur á- la co m<br />

argu m e n t o s mais sólido s.<br />

P er g u nta s<br />

1. Quem está pisan d o nos m eu s calo s? Pode ser que seja<br />

eu mes m o ?<br />

2. Onde insisto e m m ant er posiç õ e s quan d o a fronteira <strong>da</strong><br />

dor já foi alcan ç a d a e algu é m já esteja pisand o e m m eu s pés?<br />

3. Em que m e did a m e u m e d o , ou seja, minha política de<br />

segur an ç a é dolor o s a e se transfor m o u e m um e m p e c ilh o para<br />

m e u avan ç o ?<br />

4. Que ponto s de pres s ã o eu dev eria afastar de minha<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

5. Onde e m p urro dolor o s a m e n t e as fronteiras?<br />

42<br />

8


3. Fungos<br />

Os fungo s do reino veg et al vive m so br etud o de m at éria<br />

org ânic a e m dec o m p o s i ç ã o , ma s coloniza m tam b é m partes<br />

m oribun d a s de plantas vivas. Eles são parasitas declara d o s ,<br />

que se aprov eita m <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> alheia e não dão na<strong>da</strong> e m troca.<br />

Essa m á reputaçã o fez co m que foss e m colo c a d o s na lista de<br />

alim e nt o s proibido s de muitos grupo s espirituais. No reino<br />

anim al e hum a n o , os fungo s coloniza m na ver<strong>da</strong> d e estruturas<br />

vivas, m a s que já estã o enfraqu e ci d a s e no ca minh o<br />

deg e n e r ativo que leva à m orte. Os fungo s pod e m oc orr er<br />

pratica m e n t e e m to<strong>da</strong> s as partes ond e os tecido s desiste m <strong>da</strong><br />

luta pela vi<strong>da</strong>, sen d o ao m e s m o temp o anun ciad or e s <strong>da</strong> m orte.<br />

Todo s os micro or g a ni s m o s que nos visita m requ er e m as<br />

condiç õ e s corresp o n d e n t e s , co m a cap a ci<strong>da</strong>d e de defe s a<br />

reduzi<strong>da</strong>. Som e nt e quan d o o organis m o retira sua en er gia de<br />

uma estrutura, eliminan d o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a a tem átic a que ela<br />

repre s e nt a, é que ela se torna vulneráv el ao con quistad or<br />

corre s p o n d e n t e . Enquanto os m e n o r e s , os vírus, na m ai oria<br />

dos cas o s bus c a m a decis ã o e m um surto agud o, as bact érias<br />

opta m por proc e di m e n t o s agud o s lentos e insidios o s , e m b o r a<br />

con h e ç a m tam b é m a conviv ê n ci a sim biótica pacífica, co m o por<br />

exe m pl o as bact érias do intestino. Os fungo s, exc et o e m cas o s<br />

de colap s o total <strong>da</strong>s defe s a s do org anis m o , tend e m a ataqu e s<br />

exe c utad o s lenta m e n t e , nos quais con quista m território pas s o a<br />

pas s o se m am e a ç a r seria m e n t e seu hosp e d eir o. Eles não<br />

traze m a morte, ma s a anun cia m (à área afetad a).<br />

O fungo que atac a os pés é um parasita inofen siv o e m si<br />

m e s m o que não caus a dor, pratica m e n t e não atrapalha e,<br />

ape s ar diss o, leva muitas pes s o a s ao des e s p e r o . Os ser e s<br />

estran h o s coloniza m justa m e nt e noss a s garras, m o stran d o<br />

quã o pouc o resp eito têm por noss a s arm a s . Uma co m p ar a ç ã o<br />

co m o m a cr o c o s m o s es clar e c e o dile m a. É co m o se um band o<br />

de ladrõ e s , inofen siv o no que se refer e ao arm a m e n t o ,<br />

42<br />

9


atac a s s e um país e lá se instalas s e , justa m e n t e , nos quartéis.<br />

Parasitand o e ofer e c e n d o um a imag e m extre m a m e n t e<br />

des a gr a d á v e l para o exterior, ele do min a o siste m a bélico e o<br />

vai minan d o lenta m a s con stant e m e n t e , de tal m an eir a que<br />

logo nenhu m inimig o tem mais qualqu er resp eito por ele.<br />

O fato de que os fungo s unica m e n t e se atrev a m a atac ar<br />

área s que estã o nas últimas lanç a um a luz significativa so br e a<br />

situaç ã o <strong>da</strong>s unha s e m questã o : elas dev e m estar preste s a<br />

m orr er, ou estar desvitaliza<strong>da</strong> s e m grau máxi m o , para pod er<br />

servir de alim e nt o ao s parasitas. A partir do m o m e n t o e m que<br />

os fungo s deita m raízes, eles se desta c a m pela tena ci<strong>da</strong> d e e<br />

neg a m - se a se retirar até m e s m o diante <strong>da</strong> artilharia mais<br />

pes a d a , tais co m o antimic ótic o s quí mic o s . Uma retira<strong>da</strong> tática,<br />

ao contrário, é m ais fácil de ser alcan ç a d a . Mas assi m que o<br />

ataqu e propria m e nt e dito ced e, os des m a n c h a - praz er e s volta m<br />

a apres e nt ar- se e volta m a perturbar a paz aní mic a, m o strand o<br />

ao m e s m o temp o co m isso co m o o afetad o é vulneráv el. Os<br />

fungo s alim e nta m - se <strong>da</strong>s garras já que, co m to<strong>da</strong> a cal m a, as<br />

dev or a m pouc o a pouc o. Essa man eira insidios a m e n t e<br />

agre s siv a, à qual se é entregu e indefes o , é so br etud o<br />

extre m a m e n t e irritante. Além diss o, naturalm e nt e des e m p e n h a<br />

seu pap el o fato de que as arm a s dev or a d a s des s a m an eira já<br />

não são de form a algu m a orna m e n t o s . Fora m- se o brilho e o<br />

polim e nt o. Cheg a- se a um des el e g a n t e impas s e entre as<br />

unha s e os parasitas. Os prim eiros substitue m pouc o a pouc o o<br />

que os último s dev or a m ao s pouc o s . Com isso, a unha<br />

disputad a se torna mais esp e s s a e mais irregular, lem br a n d o<br />

uma lâmina golp e a d a inúm er a s vez e s e ch eia de dente s que<br />

volta se m pr e a ser afia<strong>da</strong>. Quando os fungo s exag er a m e a<br />

unha cai ou é arranc a d a por um proprietário des e s p e r a d o , a<br />

história não aca b a aí. Enquanto a situaç ã o de bas e perdura, o<br />

m e s q uinh o des afio continua.<br />

Finalm e nt e, o asp e ct o <strong>da</strong> sujeira tam b é m des e m p e n h a seu<br />

pap el aqui. Os pés são lavad o s sim b olic a m e n t e e m muitas<br />

religiõ e s, sen d o purificad o s para um a relaç ã o limpa co m o solo<br />

do próprio ser, co m a asc e n d ê n c i a e co m o pas s a d o . Os<br />

43<br />

0


fungo s que atac a m os pés de m o n s tr a m que o contato co m a<br />

Mãe Terra e, portanto, co m o mun d o e m geral, não é<br />

ab s oluta m e n t e limpo. Na clás sic a posiç ã o de m e ditaç ã o do<br />

lótus, as solas dos pés são m anti<strong>da</strong> s volta<strong>da</strong> s para cim a co m o<br />

sím b ol o <strong>da</strong> orientaç ã o perfeita e m relaç ã o ao mun d o espiritual.<br />

Em tal situaç ã o , tanto fungo s co m o verrug a s nas solas dos pés<br />

são tão des a gr a d á v e i s co m o sinc er o s .<br />

A lição é a se g uinte: reduzir o arm a m e n t o , diminuir as<br />

defe s a s . Isso, entretanto, dev eria ac o nt e c e r na con s ci ê n ci a.<br />

Aliviado de m an eira corre s p o n d e n t e pelo lado aní mic oespiritual,<br />

o corp o pod e rec o n stituir suas arm a s feri<strong>da</strong>s e<br />

rec o n q uistar o território perdido. Um conflito crônic o e m torno<br />

<strong>da</strong> própria resistên ci a arm a d a que caiu no es qu e ci m e n t o quer<br />

retorn ar à con s ci ê n ci a e ser res olvido. Com o ac o nt e c e co m<br />

to<strong>da</strong>s as infecç õ e s que têm a ver co m tropas estran h a s , as<br />

defe s a s aní mic o- espirituais estã o de m a s i a d o altas, de man eira<br />

que as do corp o estã o enfraqu e ci d a s . O principio <strong>da</strong> agr e s s ã o<br />

quer ser vivido con s ci e nt e m e n t e ; no cas o <strong>da</strong>s infec ç õ e s por<br />

fungo s, esp e ci al m e n t e os abus o s benign o s , m e n o s agud o s .<br />

Com o todo s os ag e nt e s patoló gic o s , os fungo s con cla m a m à<br />

defe s a. Os fungo s dos pés anim a m esp e ci al m e n t e a que a<br />

pes s o a se ocup e de suas arm a s e ferra m e n t a s , e a que as<br />

deixe voltar a cres c e r. Isso se expres s a grafica m e n t e nas<br />

garra s que se esp e s s a m rude m e n t e . É precis o ocup ar- se<br />

esp e ci al m e n t e <strong>da</strong> prote ç ã o <strong>da</strong>s próprias fronteiras. Quem se<br />

irrita co m parasitas e m e n di g o s tem um proble m a co m es s e<br />

tem a e reprim e os traç o s corresp o n d e n t e s e m si m e s m o . É<br />

precis o voltar a en c o ntrá- los e torná- los con s ci e nt e s . Meter- se<br />

na vi<strong>da</strong> e, cas o seja nec e s s á ri o, ag arrar- se firme m e n t e significa<br />

viven ci ar a tarefa até o limite.<br />

P er g u nta s<br />

1. Onde há um conflito não- ad mitido e m torno <strong>da</strong> autoproteç<br />

ã o ardend o e m surdina no incon s ci e nt e?<br />

2. Onde deixo de m o strar as garras espirituais e de<br />

ag arrar- m e? Que terren o fronteiriço do corpo eu não cultivo e<br />

43<br />

1


deixo que se deg e n e r e ?<br />

3. Se tenh o verg o n h a de minh a s garras físicas carc o m i d a s ,<br />

e m que medi<strong>da</strong> me env er g o n h o <strong>da</strong>s minh a s garras espirituais?<br />

4. Com o pod e ser que a vitali<strong>da</strong>d e de minha s garras esteja<br />

nas últimas?<br />

5. Quem parasita minh a vi<strong>da</strong>? Onde eu parasito?<br />

4. Verrugas na sola do pé<br />

Assim co m o os fungo s que atac a m os pés, as verrug a s não<br />

repre s e nt a m qualqu er am e a ç a física. Animica m e n t e ,<br />

entretanto, elas pod e m ser extre m a m e n t e am e a ç a d o r a s . Elas<br />

são muito m ol e st a s no pé, e esp e ci al m e n t e na sola do pé. A<br />

am e a ç a substanci al, no entanto, dec orr e de sua orig e m<br />

misterio s a. Assim co m o co br a s e aranh a s não repre s e nt a m<br />

qualqu er am e a ç a m ortal e m noss a s latitude s e, ape s ar diss o,<br />

são viven ci ad a s co m o extre m a m e n t e am e a ç a d o r a s devido a<br />

seu resp e ctivo sim b olis m o , o terror que as verrug a s inspira m<br />

está e m sua gestaç ã o sim b ólic a. A verrug a gor<strong>da</strong>, horrível e<br />

talvez ain<strong>da</strong> por cim a co m pêlo s é um sím b ol o típico <strong>da</strong> bruxa<br />

dos conto s de fa<strong>da</strong>s, um a excr e s c ê n c i a do inferno, ou seja, dos<br />

pod er e s <strong>da</strong> es curidã o. Uma tal verrug a des c o n c e rt aria até<br />

m e s m o o mais racion al dos ho m e n s cas o se instalas s e e m seu<br />

nariz. Embora ela não seja um a am e a ç a e não pos s a fazer m al<br />

a ningu é m , até m e s m o o m ais razo á v el dos noss o s<br />

conte m p o r â n e o s sent e que ela, em um plan o mais profund o, se<br />

não ch e g a a ser levad a a mal, é certa m e n t e mal interpretad a,<br />

porqu e apo nta para o mund o do padrã o arqu etípic o do m al.<br />

Além diss o, não se pod e ne m m e s m o aleg ar que ela, vindo de<br />

fora, instalou- se em nós. De man eira unívo c a ela, excr e s c ê n c i a<br />

insignificante, e m e r g e do interior <strong>da</strong> própria pes s o a . Quem<br />

se m pr e li<strong>da</strong> co m verrug a s dispara es s a s es c ur a s ass o ci a ç õ e s ,<br />

de javalis e lagarto s até bruxas má s.<br />

Diversa s form a s de terapia faze m co m que aflore m novo s<br />

<strong>da</strong>d o s quanto à interpreta ç ã o <strong>da</strong>s verrug a s. As tentativas <strong>da</strong><br />

43<br />

2


m e di cin a ac ad ê m i c a , bas e a d a s na violên ci a crua, <strong>da</strong><br />

cauterizaç ã o e do ácido até a extirpaç ã o , desta c a m - se pelo<br />

altos índic e s de fracas s o . Embor a extraí<strong>da</strong> totalm e nt e e se m<br />

deixar resto s, freqü e nt e m e n t e a verrug a volta a e m e r gir no<br />

m e s m o lugar, trazen d o a m e s m a m e n s a g e m do ob s c ur o reino<br />

<strong>da</strong>s so m b r a s . Os m ét o d o s utilizado s pela m e di cin a popular são<br />

mais variad o s e mais be m - suc e did o s . Todo s eles se equival e m<br />

no que diz resp eito ao principio m á gi c o e m que estã o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t a d o s . As verrug a s são eliminad a s co m algu m êxito<br />

por m ei o de m a gi a ou oraç õ e s e m uma noite de Lua cheia,<br />

conjurad a s co m as mais varia<strong>da</strong> s fórmulas m á gi c a s ,<br />

enfeitiçad a s pela impo siç ã o de m ã o s ou outros pequ e n o s<br />

rituais. Crianç a s que já têm uma relaç ã o co m a quali<strong>da</strong>d e<br />

má gic a do dinh eiro, às vez e s deixa m tam b é m que elas seja m<br />

co m pr a d a s por uma quantia módic a.<br />

As verrug a s nos confronta m co m nos s o próprio lado es c ur o,<br />

razã o pela qual elas resp o n d e m tão be m ao s trata m e n t o s<br />

oculto s 77 corresp o n d e n t e s . Quando outros sinto m a s tam b é m<br />

resp o n d e m a fórmulas verb ais e manipulaç õ e s ou a<br />

m e di c a m e n t o s , isso mo stra o quanto a antiga medicin a, em sua<br />

totali<strong>da</strong>d e, era má gic a. Quando se pergunta e m que as<br />

verrug a s inco m o d a m ou o que elas impe d e m , obté m - se<br />

indicaç õ e s plausív eis quanto ao significad o individual. Elas e m<br />

geral impe d e m um a apar ê n ci a imaculad a, e é esta má c ula que,<br />

es crita no rosto, inco m o d a con sid er a v el m e n t e . Quanto às<br />

verrug a s na sola do pé pergunta- se, alé m diss o, e m que<br />

m e di<strong>da</strong> se está trop e ç a n d o incon s ci e nt e m e n t e no oculto se m<br />

rec o n h e c e r seu significad o, e m b o r a ele se faça notar a cad a<br />

pas s o . Finalm e nt e trata- se, e m qualqu er cas o, de se a pes s o a<br />

o ad mite ou não. A soluç ã o está na con s ci e ntizaç ã o . O<br />

rec o n h e c i m e n t o do lado so m b ri o que ac o m p a n h a os rituais<br />

má gic o s é, portanto, sup erior ao s m ét o d o s co m b ativ o s. O<br />

principio <strong>da</strong> ho m e o p a ti a, que trata aquilo que é<br />

misterio s a m e n t e ob s c ur o co m m ét o d o s misterio s a m e n t e<br />

ob s c ur o s , tem maior êxito e, so br etud o, es s e é m ais durad o ur o<br />

43<br />

3


que a luta alop átic a contra a m e n s a g e m oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s próprias<br />

profund ez a s .<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que m e did a a verrug a m e inco m o d a ou m e<br />

atrapalha? Não pos s o ficar e m pé ou an<strong>da</strong>r se m sentir dore s?<br />

Ou ela m e desfigura, ou seja, evid e n ci a algo de ruim que eu<br />

não quer o ver e que, so br etud o, os outros não dev e m ver?<br />

2. O que eu es c o n di quan d o a verrug a apar e c e u?<br />

3. Que pap el des e m p e n h a para ruim o des e nt e n di m e n t o<br />

co m o lado es cur o de minh a vi<strong>da</strong>?<br />

4. Sou con s ci e nt e do lado oculto de minh a existên ci a?<br />

43<br />

4


15<br />

Os Problemas <strong>da</strong> Velhice<br />

1. A velhice em nossa época<br />

Em um a ép o c a que deifica a juventud e, a velhic e e o<br />

proc e s s o de env elh e ci m e n t o são nec e s s a ria m e n t e<br />

probl e m á tic o s . Alfred Ziegler diz a es s e resp eito: "Quanto mais<br />

uma ép o c a é ce g a d a por Hebe, a colori<strong>da</strong> deus a <strong>da</strong> juventud e,<br />

tanto mais o horror m ortal <strong>da</strong> velhic e se transfor m a e m um a<br />

epide mi a. Hebe traz ao mund o populaç õ e s de anciã e s" 78 . Dai<br />

se con clui que a epid e m i a de env elh e ci m e n t o é a so m b r a<br />

legítim a de nos s a soci e d a d e sed e nt a de juventud e, <strong>da</strong> m e s m a<br />

man eira pela qual "o ilícito am or pelo mund o do Renas ci m e n t o "<br />

provo c o u a sífilis e "a purez a do brilho dourad o <strong>da</strong>s ab ó b a d a s<br />

<strong>da</strong> cren ç a m e di e v al deflagrara m a m orte negra". Ca<strong>da</strong> ép o c a,<br />

e m seus quadr o s de sinto m a s , tem um a esp é ci e de corretivo<br />

que resta b el e c e seu equilíbrio perdido. Na m e dicin a, há<br />

sécul o s não há unani mi<strong>da</strong> d e quanto a se clas sificar a velhic e<br />

juntam e nt e co m as reali<strong>da</strong>d e s fisiológic a s nor m ai s ou tratá- la<br />

co m o uma do e n ç a . Georg Grodeck co m e n t a: "Os órg ã o s não<br />

estã o des g a s t a d o s co m o surgi m e nt o <strong>da</strong> velhic e, o que o órg ã o<br />

está é carre g a d o de pen s a m e n t o s : se algu é m tem 70 ano s de<br />

i<strong>da</strong>d e, os órg ã o s estã o sen d o carre g a d o s há 70 ano s" 79 . A<br />

torrente de co m pri mid o s colorido s que serv e de prev e n ç ã o à<br />

cinzenta velhic e hoje e m dia m o stra por outro lado que a<br />

m e di cin a mod e r n a con c e b e os sinais <strong>da</strong> velhic e co m o sinto m a s<br />

de um a do e n ç a digna de ser co m b a ti<strong>da</strong>. A mai oria <strong>da</strong>s pes s o a s<br />

hoje e m dia quer tornar- se o mais velha s pos sív el, ma s<br />

ningu é m quer ser velho. Noss o dile m a explicita- se nes s e<br />

parad ox o . É justa m e n t e por ter a velhic e em tão pouc a conta, e<br />

e m tão alta a juventud e, que a soci e d a d e env elh e c e<br />

visivel m e n t e . Nós tenta m o s todo o pos sív el para per m a n e c e r<br />

joven s, e co m isso nos torna m o s cad a vez mais velho s.<br />

43<br />

5


Finalm e nt e, co m todo o culto à juventud e, esta m o s orientad o s<br />

para a velhic e, já porqu e bus c a m o s o progr e s s o e este, por<br />

definiçã o, está no futuro. Relacion a d o à vi<strong>da</strong> hum a n a, o<br />

progr e s s o tem por objetivo a velhic e e a m orte. Custa- nos<br />

esforç o reprimir o fato de que todo s os noss o s esforç o s , que<br />

se m exc e ç ã o estã o orientad o s para o futuro,<br />

con s e q ü e n t e m e n t e procura m se m exc e ç ã o atingir a velhic e e a<br />

m orte e, co m isso, alcan ç a m exata m e n t e o contrário de nos s o s<br />

son h o s de juventud e e vi<strong>da</strong> etern a s .<br />

As fontes <strong>da</strong> juventud e de ép o c a s anterior e s pod e m nos<br />

parec er ridículas, ma s elas não estã o muito distante s de<br />

noss a s tentativas funcion ais de en g a n ar a velhic e e banir a<br />

m orte de noss o ca m p o de visã o. To<strong>da</strong> um a indústria vive do<br />

co m é r ci o co m o m e d o des s e s dois tem a s aterrorizante s. Os<br />

co m pri mid o s colorido s m e n ci o n a d o s , que en c h e m os frasc o s<br />

para co m b a t er a senili<strong>da</strong>d e e a rigidez <strong>da</strong> velhic e ou que, de<br />

algu m a m an eir a, dev eria m rem e di ar a m á circulaç ã o<br />

san guín e a , são as m ais rend o s a s fontes de lucro <strong>da</strong> indústria<br />

farm a c ê utic a, e m b o r a e m sua m ai oria não sirva m<br />

co m pr o v a d a m e n t e para na<strong>da</strong>. Permitim o s que aquilo que não<br />

con s e g ui m o s levantar mais e m sentido figurad o seja levantad o<br />

con cr et a m e n t e por to<strong>da</strong> parte atrav é s de liftings, do rosto,<br />

pas s a n d o pelo pes c o ç o e pelo s seios, até a barriga e o<br />

tras eiro. Tentativas de deixar- se alim e ntar co m células fresc a s<br />

de fetos de anim ai s lem br a m o co stu m e dos sen h or e s<br />

m e di e v ai s de vivificar seu san g u e can s a d o atrav é s de fresc a s<br />

donz el a s. O ditador rom e n o Ceauc e s c u, já e m nos s a ép o c a,<br />

tentava rejuven e s c e r sua vi<strong>da</strong> fen e c e n t e por m ei o de<br />

transfus õ e s de san g u e de rec é m - nas cid o s . Mais m o d e r n a s ,<br />

ma s não m e n o s caract erística s, são as tentativas de obter a<br />

imortali<strong>da</strong>d e física co m a aju<strong>da</strong> de afirma ç õ e s 80 . As fontes <strong>da</strong><br />

juventud e de to<strong>da</strong>s as ép o c a s , ob s erva<strong>da</strong>s co m mais precis ã o ,<br />

parec e m to<strong>da</strong> s ingênu a s . Estimulad a s por esp er a n ç a s<br />

ilusórias, elas con s e g u e m muitos adepto s a curto prazo que se<br />

dec e p ci o n ar a m e m to<strong>da</strong> s as ép o c a s . Se os cirurgiõ e s plástico s<br />

"tiram" rugas, pes s o a s ingênu a s lam b uz a m a cara co m cre m e s<br />

43<br />

6


que controla m a i<strong>da</strong>d e 81 , se cab el o s grisalho s são tingido s e<br />

man c h a s <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e ma q uia<strong>da</strong> s , trata- se se m pr e do m e s m o jogo<br />

ingênu o contra o temp o, que tem so m e n t e um ven c e d o r, a<br />

m orte, e seu arauto, a velhic e.<br />

quanto m ais a velhic e ven c e , na vi<strong>da</strong> individual e na <strong>da</strong><br />

soci e d a d e , tend e m o s a aferrar- nos ain<strong>da</strong> mais ao s ideais<br />

juvenis. A propa g a n d a , a m o d a, o cine m a e a televis ã o<br />

apres e nt a m o char m e <strong>da</strong> tenra juventud e e pes s o a s ativas na<br />

flor <strong>da</strong> juventud e. Eles colo c a m a prim eira m etad e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />

tal m an eir a e m prim eiro plano que não so br a na<strong>da</strong> para a<br />

segun d a, e quan d o so m o s sinc er o s , tamp o u c o quer e m o s ver<br />

ou ouvir algo a resp eito. Preferim o s entreg ar- nos à esp er a n ç a<br />

equivo c a d a de jam ais voltar m o s nós mes m o s a ter contato co m<br />

aquilo. Além diss o, há tão pouc a segur an ç a e m noss o prim eiro<br />

suspiro co m o no último. É nec e s s á ri a uma con sid er á v el arte <strong>da</strong><br />

repre s s ã o para deixar de ver de m an eir a tão con s e q ü e n t e<br />

es s e s fatos, be m co m o o ritmo natural <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Isso so m e n t e se<br />

torna pos sív el atrav é s de um jogo de cabr a- ce g a org anizad o<br />

coletiva m e n t e e que ating e todo s os plan o s <strong>da</strong> soci e d a d e .<br />

Estam o s tão orgulho s o s devido à maior exp e ct ativa de vi<strong>da</strong><br />

que convulsiva m e n t e deixa m o s de ver que des s a m an eir a o<br />

que aum e nt o u foi so br etud o a exp e ct ativa <strong>da</strong> velhic e. quan d o a<br />

m e di cin a quer livrar- nos <strong>da</strong> susp eita de que so m o s um a<br />

ver<strong>da</strong>d eira so ci e d a d e do cân c er, ela argu m e n t a que isso se<br />

dev e à m ai or exp e ct ativa de vi<strong>da</strong>. Som e nt e des s a m an eir a<br />

alcan ç a m o s um a i<strong>da</strong>d e e m que o cân c er é m ais freqü e nt e.<br />

Naturalm e nt e, es s e argu m e n t o pod e ser transp o st o para<br />

muitos quadr o s de sinto m a s , do reu m atis m o ao diab et e.<br />

Tentativas de prolon g ar a vi<strong>da</strong> artificialm e nt e por m ei o, por<br />

exe m pl o, de uni<strong>da</strong>d e s de terapia intensiva, muitas vez e s<br />

prolon g a m so m e n t e o sofrim e nt o. Neste ponto, a m e di cin a<br />

ac ad ê m i c a é quas e um a m e di cin a <strong>da</strong>s so m b r a s , já que faz<br />

tanta justiça ao es c ur o reino <strong>da</strong>s so m b r a s e dos fantas m a s . As<br />

m o d e r n a s uni<strong>da</strong>d e s de terapia intensiva são os próprios<br />

lugare s mal- ass o m b r a d o s des s e mund o, por ond e pera m b ul a m<br />

ser e s que estã o entre a vi<strong>da</strong> e a m orte, que não estã o à<br />

43<br />

7


vontad e ne m lá, ne m cá. Quem pod e m e dir o que sofre um a<br />

alm a en qu a nt o seu corp o e m co m a am arrad o e m um a ca m a<br />

não pod e m orr er e não pod e, às vez e s durante ano s, se guir<br />

seu ca minh o ?<br />

2. A guerra moderna contra o padrão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

Em nen hu m a outra ép o c a houv e um a cultura que ignor ou<br />

co m tanto êxito aqu el a s fase s de des e n v olvi m e nt o que<br />

ilumina m os proc e s s o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, co m isso, tam b é m os <strong>da</strong><br />

velhic e, transfor m a n d o assi m as crise s <strong>da</strong> maturi<strong>da</strong>d e e m<br />

catástrofe s. Com e ç a co m o nas ci m e n t o , do qual faze m o s um<br />

dra m a m é dic o único. Ca<strong>da</strong> vez mais nas ci m e nt o s são<br />

clas sificad o s co m o sen d o de risco e solucion a d o s por m ei o de<br />

ces arian a s . Isso quer dizer um a única cois a: o co m e ç o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

torna- se cad a vez m ais arrisc a d o . quan d o se pens a que todo<br />

co m e ç o já con c e ntra o des e n v olvi m e nt o posterior e m um<br />

pequ e n o esp a ç o , es s e fato lança um a luz que caract eriza<br />

noss a ép o c a. Vamo s ao en c o ntro do inicio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cad a vez<br />

mais proble m á tic o m e dic a m e n t e arm a d o s e, co m isso,<br />

deixa m o s de ver que so m o s nós m e s m o s que torna m o s tudo<br />

tão terrivel m e nt e co m plic a d o e perig o s o .<br />

Um reb e nt o relativa m e n t e jove m <strong>da</strong> ciên cia m é dic a, a<br />

gine c ol o gi a, contribuiu co m algo neste sentido. Ele pôd e, por<br />

exe m pl o, levar as mulh er e s a parir seus filhos e m um a <strong>da</strong>s<br />

posiç õ e s m e n o s favoráv ei s. Todo s os povo s naturais tend e m<br />

natural m e nt e a aum e nt ar a pres s ã o nec e s s á ria de có c or a s .<br />

Com isso, eles evita m o corte e o rompi m e n t o do perín e o . A<br />

posiç ã o deita<strong>da</strong> de costa s, à parte a vantag e m de prop orci o n ar<br />

um bo m ca m p o de trabalh o e de ob s erva ç ã o para o<br />

gine c ol o gi sta, só tem des v a nt a g e n s . Quem não con s e g u e<br />

imagin ar isso, pod eria tentar por um a vez evacuar deitad o. Até<br />

m e s m o para neg ó ci o s tão m e s q uinh o s falta aqui a nec e s s á ri a<br />

pres s ã o por falta de contrapr e s s ã o . Os holan d e s e s dão<br />

prefer ê n ci a à m e s m a posiç ã o pouc o favoráv el para o parto,<br />

43<br />

8


ma s de m o n s tr a m tam b é m que algo é diferent e. Cerca de 90 %<br />

<strong>da</strong>s crianç a s na Holan<strong>da</strong> nas c e m e m cas a se m a colab or a ç ã o<br />

de um gine c ol o gi sta. As cha m a d a s clínicas m ó v ei s co m seus<br />

m é di c o s estã o de prontidã o, m a s so m e n t e para cas o s de<br />

urgên ci a. Naturalm e nt e, a taxa de m ortali<strong>da</strong>d e infantil na<br />

Holan<strong>da</strong> é m e n o r que a nos s a [na Alemanha], já que adora m o s<br />

co m plicar tudo des d e o principio.<br />

O grand e pas s o seguinte rum o à m aturi<strong>da</strong>d e vai no m e s m o<br />

estilo. quan d o , co m o surgi m e nt o <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de, surg e m<br />

impulso s que anuncia m o tornar- se adulto, a soci e d a d e é<br />

unâni m e e m ach ar que ain<strong>da</strong> não se che g o u a tal ponto<br />

en qu a nt o não che g a a tal ponto. Sem os nec e s s á ri o s rituais,<br />

esta m o s indefe s o s quanto às nec e s s i d a d e s de cres ci m e n t o<br />

naturalm e nt e urgent e s . Do lado dos adultos, tenta m o s ir ao<br />

en c o ntro delas co m progra m a s de educ a ç ã o se m pr e novo s e,<br />

do lado dos afetad o s , co m rituais sub stitutivos tão perigo s o s<br />

quanto infrutífero s. quan d o a pub erd a d e sai do plano aní mic o,<br />

o tornar- se adulto se vê am e a ç a d o co m o um todo, e o<br />

nec e s s á ri o pas s o se guinte de cortar o cordã o um bilical <strong>da</strong> cas a<br />

patern a torna- se ain<strong>da</strong> m ais proble m á tic o. Caracteristica m e n t e ,<br />

res erv a m o s o con c eito de pais- corvo ao s pais desn aturad o s<br />

[Ra b e n = corvo / Eltern = pais / Ra b e n e lt ern = pais<br />

des n aturad o s], já que esp erta m e n t e os corvo s expuls a m seus<br />

filhote s do ninho assi m que este s estã o m adur o s, para que<br />

leve m sua própria vi<strong>da</strong>. Provav el m e n t e , precis ar e m o s de muito<br />

temp o e muitos estud o s científico s para con c e b e r a sab e d o ria<br />

natural dos corvo s. Não precis a m o s portanto ad mirar- nos se<br />

e m nos s a soci e d a d e as pes s o a s se torna m cad a vez mais<br />

velha s e, co m isso, cad a vez m e n o s adultas. Uma hor<strong>da</strong> de<br />

psicot er ap e uta s vive de brincar de pub erd a d e co m pes s o a s<br />

que, pelo s ano s que têm, já che g ar a m à crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e.<br />

Ca<strong>da</strong> fase de vi<strong>da</strong> não do min a d a fornec e a bas e para o<br />

fraca s s o <strong>da</strong> seguinte. E to<strong>da</strong> elab or a ç ã o posterior é tanto m ais<br />

difícil, porqu e o ca m p o favoráv el ao des e n v olvi m e nt o con siste<br />

se m pr e <strong>da</strong> ép o c a natural m e nt e prevista para isso.<br />

Após um nas ci m e nt o exc e s siv a m e n t e cozido e um a<br />

43<br />

9


pub erd a d e não- do min a d a, a crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de muitas vez e s<br />

tam b é m naufrag ar á. Com o es s e ponto decisivo no padrã o <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> de cad a pes s o a está alé m diss o carre g a d o co m o terrível<br />

tem a <strong>da</strong> velhic e, ele freqü e nt e m e n t e fraca s s a até m e s m o<br />

quan d o as crise s anterior e s fora m sup er a d a s . Na mand al a, o<br />

padrã o prim ordial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a crise <strong>da</strong> m eia- i<strong>da</strong>d e é<br />

repre s e nt a d a co m o ponto de transiç ã o . A mand al a é um<br />

sím b ol o co m u m a to<strong>da</strong>s as culturas, que se con s erv o u entre<br />

nós nas ros etas <strong>da</strong>s catedr ais góticas, servind o so b divers a s<br />

form a s co m o bas e para a m e ditaç ã o no Oriente e tend o<br />

deixad o seu rastro em to<strong>da</strong>s as culturas.<br />

Rosa alquí mic a de Notre- Dam e e m Paris 82<br />

Sendo o arqu étipo do ca min h o do des e n v olvi m e nt o hum a n o ,<br />

ela está intima- m e nt e liga<strong>da</strong> não so m e n t e à noss a existên cia<br />

ma s tam b é m à de todo o univers o. Ca<strong>da</strong> áto m o é um a<br />

mand al a, co m sua <strong>da</strong>nç a de en er gi a ao redor do próprio centro,<br />

o núcle o atô mic o . Com o tudo nesta criaç ã o con siste de<br />

áto m o s , tudo tam b é m con siste de mand al a s. To<strong>da</strong> célula é<br />

reproduzi<strong>da</strong> a partir do padrã o primordial <strong>da</strong> m and al a, já que<br />

aqui tam b é m tudo gira e m torno do núcle o <strong>da</strong> célula que está<br />

44<br />

0


no centro. Com o a vi<strong>da</strong> veg et al, anim al e hum a n a é feita de<br />

células, tam b é m nest e plan o tudo está bas e a d o na mand al a.<br />

Nossa Terra é igual m e nt e um a mand al a, já que gira ao redor<br />

de seu centro para o qual conv er g e tam b é m a força <strong>da</strong><br />

gravi<strong>da</strong> d e . Até m e s m o o siste m a solar corresp o n d e a um a<br />

mand al a, co m o Sol ao redor do qual circula m todo s os<br />

plan etas. O univers o, finalm e nt e, co m a nebul o s a e m espiral,<br />

tam b é m traz a assin atura <strong>da</strong> m and al a. Em um mund o de<br />

mand al a s, tudo abriga e m si es s e sím b ol o primordial, e<br />

tam b é m , natural m e nt e, o ser hum a n o . Nossa vi<strong>da</strong> se<br />

des e n v olv e nes s e padrã o, e nunc a na<strong>da</strong> nesta criaç ã o pod e<br />

jam ais aba n d o n a r es s a m oldura.<br />

A vi<strong>da</strong> hum a n a co m e ç a co m a con c e p ç ã o no ponto central<br />

<strong>da</strong> mand al a. O ponto, na m at e m á ti c a, é definido co m o não<br />

tend o dim e n s õ e s no esp a ç o e, e m con s e q ü ê n c i a, so m e n t e<br />

pod e ser con c e b i d o ideal m e nt e. Ele é um sím b ol o para um<br />

plan o que não existe neste mun d o , pois no mund o polar tudo<br />

tem dim e n s õ e s . Com a con c e p ç ã o , deixa m o s o infinito se m<br />

dim e n s õ e s e aterriss a m o s no útero m at ern o , ond e entretanto<br />

ain<strong>da</strong> esta m o s be m próxim o s <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e. A crianç a é um co m<br />

a mã e. Esta uni<strong>da</strong>d e, entretanto, ab and o n a o centro pas s o a<br />

pas s o , dirigindo- se para a periferia <strong>da</strong> mand al a.<br />

No nas ci m e nt o a crianç a, e m m ei o às dor e s do parto, é<br />

expuls a co m grand e violên ci a <strong>da</strong> paradisíac a terra do faz- deconta<br />

do ab a st e ci m e n t o óbvio e auto m átic o. A ligaç ã o física<br />

co m a m ã e e co m a alim e nta ç ã o , o cordã o um bilical, é cortad a.<br />

Com a prim eira inspiraç ã o de ar, sua única grand e câ m ar a<br />

cardíac a divide- se e m dua s m etad e s por m ei o do septo<br />

cardíac o , os dois pulm õ e s se expan d e m e a respiraç ã o , co m<br />

seus pólos de inspiraç ã o e expiraç ã o , termina de prend er- nos<br />

definitiva m e n t e na polari<strong>da</strong>d e. Até a última expiraç ã o , co m a<br />

qual volta m o s a ab and o n a r este mun d o polar, o ser hum a n o<br />

precis a respirar ininterrupta m e n t e e pag ar tributo à polari<strong>da</strong>d e.<br />

Tam b é m dep ois des s e pas s o que se afasta do m ei o e m<br />

direç ã o ao mun d o , viven ci ad o muitas vez e s co m des e s p e r o e<br />

ab and o n a d o ao s gritos, a crianç a per m a n e c e ain<strong>da</strong> muito<br />

44<br />

1


próxim a à m ã e . A principio ela é am a m e n t a d a , até que isso<br />

tam b é m termin a e o alim e nt o é posto cad a vez m ais e m suas<br />

próprias mã o s e, juntam e nt e co m ele, tam b é m a<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . Finalm e nt e, a crianç a precis a an<strong>da</strong>r co m as<br />

próprias perna s, precis a ab and o n ar a estáv el posiç ã o de<br />

bruç o s e m favor do perigo s o e lábil equilíbrio so br e duas<br />

perna s. E assi m ela dev e pros s e g uir a partir de ag or a, até que<br />

finalm e nt e pas s a a ca min h ar so br e as próprias perna s tam b é m<br />

e m sentido figurad o e corta o cordã o um bilical que a liga à<br />

cas a. Ela co m e ç a r á a falar e e m algu m m o m e n t o lançar á seu<br />

prim eiro não ao mun d o , co m o que se delimita e exclui partes<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . Com cad a não e co m cad a pas s o , ela se afasta<br />

ain<strong>da</strong> m ais do centro e se esforç a por pros s e g uir e m direç ã o à<br />

periferia <strong>da</strong> mand al a.<br />

Na pub erd a d e termin a entã o a crianç a, que deixa de ser<br />

neutra e pas s a a ser "a mulh er" ou "o ho m e m " . Nas culturas<br />

arcaic a s , a crianç a precis a v a m orr er ritualm e nt e para que o<br />

adulto pudes s e nas c er. Ela "morria" co m m e d o e so b torturas<br />

e m um ritual de pub erd a d e muitas vez e s san gr e nt o e seus<br />

pais, co m o corresp o n di a, ficava m de luto. O adulto so m e n t e<br />

podia nas c er a partir <strong>da</strong> m orte definitiva <strong>da</strong> crianç a. A partir <strong>da</strong>í<br />

havia mais um adulto no clã, que tinha deixad o tudo o que era<br />

infantil para trás, e m um outro mun d o .<br />

Após a pub erd a d e , a con s ci ê n ci a do fato de que se está<br />

dividido ao m ei o, ou seja, <strong>da</strong> própria imp erfeiç ã o , é tão grand e<br />

que os joven s se põ e m a busc ar sua outra m etad e , a que lhes<br />

falta. A voz popular sab e que se trata <strong>da</strong> m etad e m elh or, <strong>da</strong><br />

cara- m eta d e . quan d o ela é en c o ntrad a, a principio dá de fato<br />

es s a impre s s ã o . Com o temp o, entretanto, perc e b e - se que o<br />

que se es c olh e u foi o próprio lado de so m b r a. Agora já não são<br />

muitos os que têm a cora g e m de rec o n h e c e r que continua se<br />

tratand o, ag or a m ais do que nunc a, <strong>da</strong> m etad e m elh or, aqu el a<br />

que falta para a perfeiç ã o .<br />

Seguind o o m and a m e n t o bíblico "Conquistai a terra!", o<br />

ca min h o continua afastan d o- se do m ei o e e m algu m m o m e n t o ,<br />

apó s se ter lograd o mais ou m e n o s no mund o dos contrário s,<br />

44<br />

2


todo s che g a m à bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mand al a. Tudo ag or a gira, o ca minh o<br />

não pros s e g u e na direç ã o co stu m eir a e to<strong>da</strong>s as tentativas de<br />

pros s e g uir nele ape s ar diss o fracas s a m e dev e m fraca s s ar. O<br />

quanto es s e ponto de transiç ã o na vi<strong>da</strong> é importante pod e ficar<br />

claro pelo fato de que a m e dicin a aca d ê m i c a , que<br />

ab s oluta m e n t e não tem con s ci ê n ci a do padrã o de fundo,<br />

tam b é m o des c o b riu. Na mulh er, não era difícil perc e b e r a<br />

m e n o p a u s a atrav é s do marc a nt e fim <strong>da</strong> m e n struaç ã o e a níti<strong>da</strong><br />

transfor m a ç ã o hor m o n al, ma s co m o tem p o não se pod e deixar<br />

de perc e b e r a crise <strong>da</strong> m eia- i<strong>da</strong>d e no ho m e m tam b é m ,<br />

so br etud o não na m e did a e m que ela se m pr e resv al ou para<br />

âm bito s não liberad o s . Os proble m a s típicos <strong>da</strong> mud a n ç a , de<br />

ond a s de calor a depr e s s õ e s , que só rec e nt e m e n t e colo c ar a m<br />

noss a m e dicin a e m seu rastro, são des c o n h e c i d o s por parte<br />

dos povo s que vive m con s ci e nt e m e n t e no padrã o <strong>da</strong> m and al a.<br />

A razão pod eria estar e m uma outra es c al a de valor e s e e m<br />

uma ac eitaç ã o se m res erv a s <strong>da</strong>s diferente s fase s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Para os povo s arcaic o s , a ép o c a do m ei o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é<br />

freqü e nt e m e n t e con sid er a d a o ponto culminant e, que ain<strong>da</strong><br />

ress o a e m noss o con c eito de clím ax [Klimakt eriu m -<br />

m e n o p a u s a]. A expans ã o física e, co m ela, a <strong>da</strong> força e <strong>da</strong><br />

en er gi a extern a s, termin a e m favor <strong>da</strong> expans ã o interna. A<br />

mud a n ç a do des e n v olvi m e nt o extern o para o interno é <strong>da</strong><strong>da</strong> de<br />

ante m ã o pelo padrã o, anun cia- se o retorn o <strong>da</strong> alm a ao lar.<br />

Após um a m etad e de vi<strong>da</strong> ch eia de env olvi m e nt o s , segu e- se<br />

uma de des e n v olvi m e n t o . Os povo s que con s erv ar a m suas<br />

raízes espirituais vive m es s a oportuni<strong>da</strong>d e con s ci e nt e m e n t e .<br />

Aquilo que nós con sid er a m o s co m o sen d o sinal <strong>da</strong> velhic e e<br />

<strong>da</strong> diminuiçã o <strong>da</strong>s forças é be m - vindo para eles, já que eles<br />

vê e m o objetivo <strong>da</strong> volta ao lar, o retorn o à uni<strong>da</strong>d e, co m outros<br />

olho s. Onde a m orte, co m o fim do mund o , nos am e a ç a , é para<br />

eles uma pas s a g e m natural para uma outra form a de<br />

existên ci a. Cons e q ü e n t e m e n t e , es s a última crise <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

tamp o u c o repres e nt a um proble m a para eles. Eles saúd a m a<br />

m orte quan d o ela entra, às vez e s até m e s m o a esp er a m e, de<br />

qualqu er man eira, não vê e m nenhu m a razão para fugir dela.<br />

44<br />

3


Nós, ao contrário, esta m o s coletiva m e n t e e m fuga. Até m e s m o<br />

quan d o a m orte surpre e n d e algué m próxim o, tenta m o s ain<strong>da</strong><br />

assi m ignorá- la ou retoc á- la para não vê- la. De que outra<br />

man eira se pod eria interpretar as tentativas de enfeitar os<br />

m orto s de form a juvenil? Nos Estado s Unidos está na m o d a<br />

ma q uiar cad á v e r e s de 80 ano s para caract erizá- los co m o<br />

adol e s c e n t e s . Em co m p ar a ç ã o co m tais tentativas de tapar a<br />

reali<strong>da</strong>d e, é de um a digni<strong>da</strong>d e co m o v e d o r a quan d o os índios<br />

ou os es qui m ó s se prepar a m para es s e último enc o ntr o. Eles<br />

não são lança d o s à água, ne m se per mite que m orra m<br />

impied o s a m e n t e de fom e, tal co m o gosta m o s de m al enten d e r.<br />

Um velho índio, quan d o sent e que sua hora está che g a n d o , se<br />

retira tão tranqüila m e n t e co m o um a jove m índia que sent e que<br />

a hora do parto se aproxi m a. Não há nenhu m a razão para que<br />

o clã "fique louc o" porqu e perd er á ou ganh ar á um m e m b r o<br />

neste plano. Isso faz parte <strong>da</strong> naturez a e é ac eito co m o algo<br />

evid e nt e. Som o s nós que rem o v e m o s os m oribun d o s para<br />

clínicas, e esp e ci al m e n t e os m oribun d o s velho s, e lá entã o,<br />

nova m e n t e , para canto s es c ur o s, ban h eir o s ou algu m outro<br />

lugar ond e não precis e m o s enc ar ar o "atroz ac o nt e ci m e n t o ".<br />

Nós projeta m o s es s e co m p o rta m e n t o indign o nos cha m a d o s<br />

primitivos, que são muito sup erior e s a nós no que a isso se<br />

refer e.<br />

Onde já não tem o s a m e n o r chan c e de driblar a m orte,<br />

blefa m o s nos prim eiro s está gi o s à bas e de força física.<br />

Tenta m o s ignorar a crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e para entã o ser<br />

nova m e n t e lem br a d o s que isso não pod e continuar assi m, que<br />

a prim ei ra m etad e já pas s o u. Com tais con h e ci m e n t o s ,<br />

qualqu er um dev eria na ver<strong>da</strong>d e con cluir que a vi<strong>da</strong> volta- se e<br />

dirige- se para a m orte, que perd e m o s definitiva m e nt e noss a<br />

juventud e e que e m lugar dela a velhic e está baten d o à porta.<br />

Uma série de probl e m a s m é di c o s relevant e s surg e m a partir <strong>da</strong><br />

resistên ci a a esta seç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Experim e nta m o s de m an eira<br />

tanto m ais cras s a no corp o o que não quer e m o s perc e b e r na<br />

con s ci ê n ci a.<br />

44<br />

4


3. Menopausa e osteoporose<br />

Com o os sinto m a s típicos tais co m o os calor e s e os surtos<br />

de transpiraç ã o já fora m ab ord a d o s no prim eiro volum e , aqui<br />

tratare m o s so m e n t e do sinto m a m o d e r n o <strong>da</strong> oste o p o r o s e .<br />

Com o a oste o p o r o s e se m pr e existiu, ele é m o d e r n o na m e di<strong>da</strong><br />

e m que este diagn ó stic o foi relacion a d o há pouc o, ma s não<br />

auto m atic a m e n t e , co m a m e n o p a u s a . De fato, a<br />

des c al cificaç ã o dos oss o s se ac e ntua co m ela. Entretanto, ela<br />

não é um sinto m a de do e n ç a , ma s um sinal nor m al <strong>da</strong><br />

a<strong>da</strong>pta ç ã o do corp o nes s a ép o c a. Apesar diss o, rec e nt e m e n t e<br />

ela ve m sen d o trata<strong>da</strong> co m aplicaç õ e s de estró g e n o por muitos<br />

gine c ol o gi stas. Isso tem adicion al m e n t e o efei to, agradáv el<br />

para muitas mulh er e s , de que a m e n o p a u s a seja ignorad a<br />

co m o paus a. O corpo é en g a n a d o pelas aplicaç õ e s de<br />

estró g e n o a tal ponto que ch e g a a assu mir que tudo continua<br />

co m antiga m e n t e , ou seja, co m o na juventud e, e que a<br />

mud a n ç a não é iminent e.<br />

Quem tem m e d o <strong>da</strong> des c al cificaç ã o dos os s o s e <strong>da</strong> carên ci a<br />

de cálcio dev eria na ver<strong>da</strong>d e fornec er cálcio ao corp o.<br />

Entretanto, é interes s a nt e notar que a aplicaç ã o de cálcio<br />

nes s a ép o c a não tem qualqu er efeito. O corpo con sid er a<br />

sup érfluo o cálcio ministrad o e volta a eliminá- lo. Ele con clui<br />

que ag or a pod e aliviar- se e não precis a m ais de oss o s<br />

ma ci ç o s , já que os tem a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mud a m co m a mud a n ç a e o<br />

centro de gravi<strong>da</strong>d e mud a <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>d e extern a para a interna.<br />

Agora, trata- se m e n o s de apoiar- se nos os s o s físico s que<br />

en c o ntrar suporte na estrutura aní mic a interna. No que se<br />

refer e à vi<strong>da</strong> extern a, a m e n o p a u s a dev eria ter um asp e ct o de<br />

paus a e de repous o . É so m e n t e atrav é s do ludibrio que o corp o<br />

é levad o a continuar dep o sitan d o nos os s o s exata m e n t e tanto<br />

cálcio quanto ante s.<br />

44<br />

5


Pode- se ignorar a m e n o p a u s a co m es s e truque hor m o n al,<br />

continuar brincand o de jove m e exigir dos os s o s . A<br />

populari<strong>da</strong>d e de tais truque s não é de ad mirar quan d o se<br />

pen s a no culto à juventud e do min a nt e e na neg a ç ã o <strong>da</strong> velhic e<br />

que o ac o m p a n h a . Entretanto, per m a n e c e a pergunta se o que<br />

se quer é real m e nt e sacrificar a chanc e de sup er ar<br />

con s ci e nt e m e n t e es s a grand e crise de pas s a g e m <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e m<br />

prol de um a m e ntira vital. E precis o aliviar- se tanto física<br />

quanto aní mic a m e n t e e prep ar ar- se para o retorn o, o ca minh o<br />

de cas a <strong>da</strong> alm a. Para isso é nec e s s á ri o livrar- se do lastro.<br />

quanto mais isso ac o nt e c e e m sentido figurad o, mais estáv el<br />

per m a n e c e r á a estrutura do corp o.<br />

Apesar <strong>da</strong>s reivindica ç õ e s e m contrário, o ho m e m m o d e r n o<br />

é hostil às mud a n ç a s na vi<strong>da</strong>. A mud a n ç a do verã o para o<br />

invern o e vice- vers a já é suficiente para que milhõ e s de<br />

pes s o a s , simultân e a e coletiva m e n t e , tenha m o nariz entupido<br />

e rec orra m à gripe para repre s e nt ar o tem a. Os ag e nt e s<br />

nec e s s á ri o s pod e m ser enc o ntrad o s e m qualqu er canto.<br />

Parec e tão simpl e s m and ar tudo o que é des a gr a d á v e l para<br />

o corp o às favas. O fato de que a m e di cin a ain<strong>da</strong> por cim a<br />

apói e es s e jogo é um erro cô mi c o de seu des e n v o l vi m e n t o tão<br />

ch ei o de mud a n ç a s . Quando se m e dita so br e os argu m e n t o s<br />

gine c ol ó gi c o s , eles so m e n t e pod e m caus ar estup or. Quem<br />

m et e m e d o nas mulh er e s dizend o que seus os s o s vão se<br />

que br ar cas o não en gula m nenhu m estró g e n o dev eria, entre<br />

outras coisa s, per mitir-se perguntar co m o os bilhõ e s de<br />

mulh er e s que vivera m ante s <strong>da</strong> m o d a do estró g e n o puder a m<br />

sup er ar es s a ép o c a perigo s a se m fraturas ós s e a s , tal co m o<br />

muitas anciãs con s e g u e m fazer até hoje.<br />

Este argu m e n t o so m e n t e perd e e m impertinên ci a para<br />

aqu el e outro, não m e n o s querido nest e s temp o s tão ch ei o s de<br />

mud a n ç a s : "Se a sen h or a não per mite que seu útero seja<br />

retirado, ele pod e se deg e n e r ar de form a m align a". Seria<br />

pos sív el rec o m e n d a r a am puta ç ã o dos braç o s utilizand o a<br />

m e s m a lógica. Eles se m pr e pod eria m ter cân c er de pele e<br />

deg e n e r ar. Esse pânic o fabricad o não só levou a um au m e nt o<br />

44<br />

6


se m prec e d e n t e s no índic e de op er a ç õ e s do útero, m a s alé m<br />

diss o esp alh o u uma inse g ur an ç a preo c up a nt e. Naturalm e nt e,<br />

tanto ante s co m o ag or a, há situaç õ e s nas quais o útero dev e<br />

ser retirado. Mas co m o a mulh er pod e sab er se seu<br />

gine c ol o gi sta participa <strong>da</strong> cruzad a contra os útero s ou tem<br />

razõ e s m e dic a m e n t e fun<strong>da</strong> m e n t a d a s ? Uma <strong>da</strong>s minh a s<br />

exp eriên ci a s "m é dic a s" m ais verg o n h o s a s é a de que os<br />

mio m a s pod e m en c olh er simpl e s m e n t e pelo fato de as<br />

mulh er e s con s ultar e m para um a segun d a opinião um<br />

gine c ol o gi sta que não é cirurgião, que não tem nen hu m<br />

interes s e pes s o al na op er a ç ã o .<br />

Não há infelizm e nt e nenhu m truque corresp o n d e n t e para a<br />

probl e m á tic a <strong>da</strong> oste o p o r o s e , exc et o talvez rec orr er à saud á v el<br />

razã o hum a n a e um olhar so br e a cad ei a de gera ç õ e s<br />

feminina s, de nos s a s avó s até Eva, a prim eira mulh er. To<strong>da</strong> s<br />

elas tivera m que ad ministrar e mant er seus hor m ô ni o s e m<br />

ord e m se m a aju<strong>da</strong> de gine c ol o gi sta s, e m e s m o assi m, e m<br />

m é di a, atingira m um a i<strong>da</strong>d e m ais elev a d a que seus m arido s e,<br />

de qualqu er form a, não que br ar a m seus os s o s co m m ai or<br />

freqü ê n ci a.<br />

A profilaxia mais razo á v el e m relaç ã o a to<strong>da</strong> a proble m átic a<br />

con sist e e m um a vi<strong>da</strong> plena e satisfatória para o pólo feminin o,<br />

antes que a m e n o p a u s a se anunci e. Quando ela ch e g a, um<br />

deslo c a m e n t o dos tem a s e m que st ã o para plan o s aní mic oespirituais<br />

prop orci o n a o m ais profund o alívio. Quem, nas<br />

oc a si õ e s oportuna s, trans mitiu seu calor ao ho m e m , dep ois<br />

diss o não precis a se fazer de mulh er ardent e em circunstânci a s<br />

inconv e ni e nt e s . Agora seria natural ser fogo s a e m relaç ã o a<br />

outros conteú d o s , de entusias m a r- se pelo pólo opo st o, o<br />

mund o espiritual. Quem re s olv e u seus des ej o s de<br />

des c e n d ê n c i a, de ter reb e nt o s , não precis a deixar que na<strong>da</strong><br />

mais se des e n v olva e m seu útero após a m e n o p a u s a . A<br />

fertili<strong>da</strong>d e e o cres ci m e n t o ag or a faze m parte do mun d o<br />

aní mic o- espiritual. Quem se livra de lastro na m e n o p a u s a e<br />

mud a a orienta ç ã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expan s ã o exterior para a interior,<br />

não precis a mais de os s o s tão pes a d o s e tem neles suficiente<br />

44<br />

7


tutano para enfrentar o cainh o de volta à cas a <strong>da</strong> alm a se m<br />

fraturas.<br />

P er g u nta s<br />

1. Poss o assu mir a tarefa <strong>da</strong> mud a n ç a que ac o m p a n h a a<br />

crise <strong>da</strong> m ei a- i<strong>da</strong>d e?<br />

2. Admiti e satisfiz m e u s des ej o s e m relaç ã o à<br />

des c e n d ê n c i a e à "vi<strong>da</strong>", ou deixo que aquilo que falta cres ç a<br />

so b a form a de mio m a s ? Vivi o suficiente? Estou farta?<br />

3. Há plano s nos quais go staria de mud ar e não m e<br />

atrev o? Onde pod eria tornar- m e fértil e m sentido figurad o?<br />

4. Que lastro dev eria soltar? Que tarefa dev eria co m e ç a r ?<br />

5. Onde m e falta estrutura? Onde pos s o en c o ntrá- la?<br />

4. A crise <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de<br />

Trata- se <strong>da</strong> m e n o p a u s a ma s c ulina, ou seja, <strong>da</strong>s exig ê n ci a s<br />

de mud a n ç a que resvalara m para plan o s não liberad o s . A<br />

palavra greg a kris is (= crise) quer dizer, entre outras cois a s,<br />

decis ã o , e o ho m e m de fato precis a decidir se quer<br />

e m pr e e n d e r o ca minh o de volta con s ci e nt e m e n t e ou pad e c ê - lo<br />

incon s ci e nt e m e n t e . A decis ã o so br e se ele quer se g uir adiante<br />

co m o ante s ou retorn ar não cab e a ele. O padrã o não a ad mite<br />

e força ao retorn o de um a form a ou de outra. Onde no ca minh o<br />

de i<strong>da</strong> valia a fras e bíblica: "Conquistai a terra", para o ca minh o<br />

de volta vale: "Em ver<strong>da</strong>d e vos digo que se não retorn ar e m e<br />

não voltare m a ser co m o as crianç a s , não alcan ç ar ã o o reino<br />

cele st e de Deus."<br />

A m ai oria sente o puxão para trás nes s a ép o c a . Só que,<br />

co m o se m pr e, a res olv er as cois a s no plan o físico. Assim,<br />

pes s o a s de 50 ano s, e m vez de se tornar e m outra vez co m o as<br />

crianç a s animic a m e n t e , torna m - se extern a m e n t e infantis,<br />

vest e m - se co m m o d a jove m , co m pr a m carro s esp ortivo s e<br />

procura m na m o r a d a s joven s. Com o culto à juventud e<br />

do min a nt e, isso não é difícil. Já do ponto de vista financ eir o,<br />

44<br />

8


carro s esp ortivo s são con struído s principal m e nt e para<br />

sen h o r e s de i<strong>da</strong>d e, a m o d a de qualqu er form a está dirigi<strong>da</strong><br />

para o jove m , e devid o à sep ar a ç ã o aní mic a dos pais, que<br />

oc orr e co m freqü ê n ci a, existe m suficiente s m e nin a s joven s que<br />

de bo m grad o viven cia m co m um sen h or de i<strong>da</strong>d e o proble m a<br />

não res olvido co m o pai. Essa ad ministraç ã o <strong>da</strong> crise no<br />

mund o extern o, algo ridícula, ain<strong>da</strong> é m elh or que a recus a total<br />

e m <strong>da</strong>r o pas s o nec e s s á ri o. Quem se neg a a fazê- lo e m<br />

sentido figurad o força o corp o a tom ar seu lugar. A depressão<br />

seria uma des s a s form a s não- redi mi<strong>da</strong> s de retorn o. Depres s ã o<br />

quer dizer literalm e nt e "long e <strong>da</strong> pres s ã o " ou "dis- tens ã o", e de<br />

fato es s a postura de vi<strong>da</strong> conté m o relaxa m e n t o de to<strong>da</strong>s as<br />

tens õ e s , ain<strong>da</strong> que seja de form a totalm e nt e não- redimi<strong>da</strong>.<br />

Em vez de parar co m tudo e entre g ar o probl e m a <strong>da</strong> própria<br />

vi<strong>da</strong> à previd ê n ci a do Estado, trata- se sim de relaxa m e n t o , mas<br />

de um a form a m ais exig e nt e. A tens ã o é m áxi m a na periferia<br />

<strong>da</strong> m and al a. Justam e nt e lá, ond e a expans ã o do pod er e <strong>da</strong><br />

influên cia está m ais difundi<strong>da</strong>, exig e- se o retorn o à uni<strong>da</strong>d e,<br />

ond e não há qualqu er tens ã o . O ditado seguinte o formula à<br />

sua m an eira: "Quando está m elh or é quan d o se dev e parar".<br />

Por trás dele está a exp eriên ci a de que, cas o contrário,<br />

forço s a m e n t e se tornará m e n o s belo.<br />

O mito des cr e v e o retorn o <strong>da</strong> alm a ao lar e m to<strong>da</strong>s as suas<br />

variante s: Parsifal precis a procurar es s e ca min h o de volta à<br />

uni<strong>da</strong>d e exata m e n t e co m o Ulisses ou os Argonauta s. Na Bíblia<br />

é o filho pródig o, que rec e b e a rec o m p e n s a m er e ci d a por<br />

retorn ar ao pai, o sím b ol o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e. Ele é muito sup erior ao<br />

outro, que não ous o u e m pr e e n d e r o ca minh o do mun d o <strong>da</strong><br />

duali<strong>da</strong>d e, do des e s p e r o e <strong>da</strong> des a v e n ç a . Todo herói de conto<br />

de fa<strong>da</strong>s segu e es s e padrã o arqu etípic o. As vez e s o ab and o n o<br />

<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e é facilitado por um a ma dr a sta má, e m se g ui<strong>da</strong> ele<br />

precis a do min ar o mund o e finalm e nt e en c o ntrar sua outra<br />

m etad e , ou seja, integrar sua so m b r a. Após cas ar- se co m a<br />

figura <strong>da</strong> princ e s a , am b o s retorna m à cas a do pai e "vive m<br />

felizes para se m pr e".<br />

Este padrã o tam b é m é válido <strong>da</strong> m e s m a man eira para as<br />

44<br />

9


pes s o a s m o d er n a s 83 . Antes, o apoio m ais sub stan ci al nes s e<br />

ca min h o era a religião. Até m e s m o e m um a ép o c a e m que as<br />

grand e s religiõ e s se alien a m de seu con h e ci m e n t o , a religio,<br />

co m o religaç ã o do inicio primordial, ain<strong>da</strong> está à altura des s a<br />

tarefa. A m e ditaç ã o tem igualm e nt e por objetivo es s e m ei o,<br />

es s e centro, e ante s o fazia tam b é m a m e di cin a, tal co m o ain<strong>da</strong><br />

se pod e ver na palavra. De qualqu er m an eira, es s a era uma<br />

m e di cin a arqu etípica, que confiava nos sím b ol o s co m o<br />

indicad or e s do ca min h o , co m p ar á v el e m certa m e did a à<br />

m e di cin a pretendid a pelo s índios. Ela não é tom a d a e m form a<br />

de pílulas, mas leva<strong>da</strong> no cora ç ã o .<br />

P er g u nta s<br />

1. Em que ponto do padrã o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> estou ag or a?<br />

2. Com quais se ç õ e s de m e u ca minh o de vi<strong>da</strong> estou e m pé<br />

de guerra?<br />

3. Onde e de que form a ofer e ç o resistên ci a ao retorn o<br />

exigido pelo padrã o?<br />

4. Com o lido co m a tens ã o na minh a vi<strong>da</strong>?<br />

5. Quais ca min h o s de disten s ã o estã o ab erto s para mi m?<br />

6. Realizei ou m e s m o so br e vivi ao s objetivo s de minh a<br />

vi<strong>da</strong>?<br />

7. O que minh a vi<strong>da</strong> pod eria ain<strong>da</strong> salvar ag or a?<br />

5. Fratura do fêmur<br />

Com este tem a che g a m o s à visão terrorífica <strong>da</strong> velhic e que<br />

os ginec ol o gi sta s têm pintado ultima m e n t e nas pared e s .<br />

Quando o fêmur se que br a, o que pratica m e n t e só ac o nt e c e na<br />

velhic e, rapi<strong>da</strong> m e n t e susp eita m o s de uma assi m cha m a d a<br />

fratura por fadiga. A bas e fisiológic a do can s a ç o dos oss o s é<br />

sua des c al cificaç ã o na velhic e, a cha m a d a osteoporose, que<br />

surg e tanto nas mulh er e s co m o nos ho m e n s . O diagn ó stic o de<br />

fratura por fadiga é m ais sinc er o que a m é di a, já que afirma<br />

que nest e cas o um os s o can s a d o ced e u. Neste ponto,<br />

45<br />

0


tamp o u c o é de ad mirar que freqü e nt e m e n t e não seja<br />

nec e s s á ria a atuaç ã o de qualqu er força, um leve tom b o de<br />

tras eiro já é suficiente.<br />

O tom b o cont é m todo o sim b olis m o <strong>da</strong> qued a. A imen s a<br />

maioria de todo s os acid e nt e s rem et e m - se a um tom b o ou a<br />

uma qued a e, co m isso, à atualizaç ã o de um tem a mitoló gic o<br />

plen o de significad o s . "A so b er b a ve m antes <strong>da</strong> qued a", diz a<br />

interpreta ç ã o prov er bial <strong>da</strong> situaç ã o . Lúcifer, o anjo favorito de<br />

Deus, incorreu na so b er b a antes de ser arre m e s s a d o à<br />

polari<strong>da</strong>d e . Os prim eiros ser e s hum a n o s , Adão e Eva, fizera mse<br />

culpad o s des s e delito, o que acarr etou o pec a d o original e a<br />

con s e q ü e n t e expuls ã o <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e do Paraís o. E os último s<br />

ser e s hum a n o s tam b é m serã o culpad o s e m relaç ã o a isso. No<br />

Velho Testa m e n t o , o padrã o está cond e n s a d o , e m última<br />

instância, na história <strong>da</strong> con struç ã o <strong>da</strong> Torre de Babel que<br />

finalm e nt e, co m o to<strong>da</strong> so b er b a, termin a na qued a. Para os<br />

antigo s a so b er b a, a sublev a ç ã o contra os deus e s , era<br />

con sid er a d a co m o sen d o o único pec a d o real e ao m e s m o<br />

temp o co m o a única chan c e de atingir o casninh o do<br />

des e n v olvi m e nt o que leva à divin<strong>da</strong>d e . Esse ca minh o contê m<br />

e m si, quas e que nec e s s a ri a m e n t e , o tom b o , tal co m o mo stra a<br />

que d a de Prom et e u.<br />

Em qualqu er cas o, algo de so b er b a é so m atizad o e, ao<br />

m e s m o tem p o , rec e b e sua terapia. Na que d a que leva à fratura<br />

do fêmur, um "oss o velho" é atingido. Na maioria <strong>da</strong>s vez e s ,<br />

sua so b er b a con sist e e m ter ignorad o sua i<strong>da</strong>d e e ter<br />

pretendid o ser tão vigoro s o quanto um jove m . A fratura por<br />

fadiga, que teria poupa d o um jove m na m e s m a situaç ã o ,<br />

resta b el e c e as ver<strong>da</strong>d eiras prop or ç õ e s etárias e sep ar a os<br />

oss o s . Agora não se pod e mais pular fora e tamp o u c o se pod e<br />

saltar as fronteiras naturais.<br />

O sinto m a endireitou as cois a s e força os pacient e s a uma<br />

postura de repous o e de con s ci ê n ci a, m ais ad e q u a d a à sua<br />

i<strong>da</strong>d e. É precis o assu mir de livre e esp o ntân e a vontad e es s a<br />

posiç ã o de distân cia e m relaç ã o à m o vi m e nt a d a vi<strong>da</strong> extern a e<br />

resp eitar as exig ê n ci a s <strong>da</strong> própria i<strong>da</strong>d e. O can s a ç o natural<br />

45<br />

1


que, en g a n a d o extern a m e n t e , en c arn o u- se de m an eira<br />

substitutiva nos os s o s , exig e o que é seu de direito, des c a n s a r.<br />

Caso o pacient e siga es s a rec o m e n d a ç ã o , ele tem to<strong>da</strong>s as<br />

chan c e s de ain<strong>da</strong> lograr interna m e n t e <strong>da</strong>r grand e s pas s o s<br />

rum o ao des e n v olvi m e n t o . Trata- se de um a situaç ã o<br />

se m el h a nt e à dos ferim e nt o s que oc orr e m durante a prática de<br />

esp orte s, um a so br e e s ti m a ç ã o <strong>da</strong>s próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

naturais.<br />

A tarefa seria ac eitar a própria situaç ã o e não mais abus ar<br />

<strong>da</strong>s próprias forças, ma s entre g ar- se ao des c a n s o e à<br />

con s ci e ntizaç ã o que o ac o m p a n h a . A continui<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

ativa se gund o o padrã o juvenil dev e ser interro m pid a e,<br />

pas s a n d o por um a fas e de des c a n s o , dev e ser dirigi<strong>da</strong> para um<br />

nov o rum o, mais de ac ord o co m a i<strong>da</strong>d e.<br />

P er g u nta s<br />

1. Minha cora g e m já se transfor m o u e m so b er b a? Ela<br />

ain<strong>da</strong> está de ac ord o co m o tem p o ? A que m precis o provar o<br />

que co m ela?<br />

2. Tend o a m e ntir minha i<strong>da</strong>d e? Deixei de ver que não só<br />

tenh o os s o s velho s, ma s que m e tornei um?<br />

3. Comp e n s o minh a estrutura óss e a que vai se<br />

enfraqu e c e n d o co m a ossificaç ã o e m relaç ã o à con s ci ê n ci a?<br />

Exijo de m ai s de m eu corp o para poup ar minh a alm a?<br />

4. Com o lido co m minh a s fronteiras naturais? Onde as<br />

desr e s p eito?<br />

5. Consig o aliviar- m e e arrojar lastro para o retorn o à cas a<br />

<strong>da</strong> alm a?<br />

6. Barba feminina ou a integração dos opostos<br />

Resulta do padrã o dos conto s de fa<strong>da</strong>s que o herói dev e<br />

en c o ntrar sua outra m etad e , unir-se a ela e entã o voltar para<br />

cas a. Segund o C. G. Jung, cab e ao ho m e m ao long o de sua<br />

vi<strong>da</strong> a tarefa de des c o b rir sua m etad e feminina, a anima, e<br />

45<br />

2


des p ertá- la para a vi<strong>da</strong>. À mulh er corre s p o n d e a tarefa de<br />

en c o ntrar a parte ma s c ulina de sua alm a, o animu s , e fazer- lhe<br />

justiça. Ness e contexto, para a unificaç ã o dos opo st o s o<br />

es ot eris m o utiliza a imag e m do cas a m e n t o alquí mic o, na<br />

repre s e nt a ç ã o astroló gic a tem o s a conjun ç ã o do Sol co m a Lua<br />

e, na alqui mia, o andró gin o. Essas imag e n s , e esp e ci al m e n t e a<br />

do andró gin o, que integra em si am b o s os sexo s , não dev eria m<br />

en g a n ar- nos quanto ao fato de que es s a unificaç ã o é aní mic oespiritual.<br />

No âm bito físico, o org a s m o durante a relaç ã o sexual<br />

repre s e nt a um brev e vislum br e do sentim e nt o de unificaç ã o ,<br />

ma s fora isso há nele pouc a s chanc e s de liberar o pólo opo st o.<br />

Quando o ho m e m fisica m e n t e rígido torna- se, co m a i<strong>da</strong>d e,<br />

mais suav e quanto à expres s ã o do rosto, postura e<br />

m o vi m e nt o s , isso pod e repre s e nt ar um fenô m e n o paralelo co m<br />

a aproxim a ç ã o à anima, sen d o entã o rec e bid o de bo m grad o.<br />

Mas o surgi m e nt o de sinais do sexo opo st o no corp o pod e<br />

m o strar tam b é m que a integra ç ã o aní mic o- espiritual ficou muito<br />

curta e que o corp o co m p e n s a es s a car ên ci a. A tarefa entã o é<br />

clara: trata- se de per mitir a m anifesta ç ã o do outro lado, ma s<br />

e m um plano figurad o.<br />

Uma barb a feminina que se des e n v o l v e na m e n o p a u s a é um<br />

sinal típico para que a aten ç ã o seja dirigi<strong>da</strong> ao pólo ma s c ulino<br />

ma s, co m o foi dito, e m outro plan o. Apesar de totalm e nt e<br />

inofen siv o e m si m e s m o , é claro que o sinto m a produz algu m<br />

des g o s t o , m o strand o co m isso a força explosiva do tem a. Ele<br />

indica que a afetad a expres s a seu lado m a s c ulino e m plan o s<br />

extern o s , m e n o s apropriad o s para tal. É pos sív el tam b é m que<br />

isso ac o nt e ç a de um a man eira exc e s si v a m e n t e ma s c ulina. Ela<br />

precis aria busc ar seu próprio ca min h o feminino- lunar para<br />

fazer justiça ao principio ma s c ulino- solar. Não se trata de<br />

tom ar- se ma s c ulina, ma s de aproxi m ar- se do pólo ma s c ulino,<br />

do princípio Yang. Um animu s que fica muito curto no nível<br />

aní mic o- espiritual opta pela saí<strong>da</strong> que leva à pele. Barbear- se,<br />

sen d o a resp o st a m a s c ulina ao cres ci m e n t o indes ej a d o <strong>da</strong><br />

barb a, está por es s a razão pratica m e n t e fora de questã o para a<br />

mulh er, pois a am e a ç a d o r a so m b r a <strong>da</strong> barb a conferiria um a<br />

45<br />

3


durez a ma s c ulina ao rosto. A m eig a suavi<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> cútis pod eria<br />

transfor m ar- se e m uma lixa e e m rabugic e, o que pod eria<br />

expr e s s ar algo sinc er o m a s, justa m e nt e por isso, indes ej a d o .<br />

As afetad a s tend e m a arranc ar os pêlo s um a um, co m a<br />

intenç ã o declar ad a de eliminá- los. O fato de que isso quas e<br />

nunc a dê certo explicita quã o important e é a m e n s a g e m<br />

trans miti<strong>da</strong> des s a man eira pelo org anis m o . A extirpaç ã o<br />

marcial ao m e n o s força a um co m p o rta m e n t o marcian oagre<br />

s siv o, ain<strong>da</strong> que nes s a i<strong>da</strong>d e o que dev eria ser des c o b e rto<br />

é o sim b olis m o solar do pólo m a s c ulin o. A diminuiçã o <strong>da</strong><br />

produç ã o de hor m ô ni o s feminino s explica fisiologic a m e n t e a<br />

prep o n d e r â n ci a relativa <strong>da</strong> parte m a s c ulina, que está se m pr e<br />

pres e nt e tam b é m nas mulh er e s . Juntam e nt e co m o<br />

cres ci m e n t o ma s c ulino de pêlo s, pod e m se des e n v olv er<br />

tam b é m traç o s faciais ma s c ulin o s. Uma barb a feminina que<br />

surg e m ais ced o na vi<strong>da</strong> tam b é m m o stra que aqui o princípio<br />

ma s c ulino está sen d o vivido e m um plan o m e n o s redimid o,<br />

mais mat erial. O sinto m a indica que o animu s dev e ser<br />

realizad o e m plano s mais sutis, tal co m o por exe m pl o o<br />

espiritual, e que ele adquiriu um certo exc e s s o de pes o . A<br />

m e n o p a u s a é a hora para isso, e antes, naturalm e nt e , m e n o s .<br />

Um fenô m e n o se m e l h a nt e m o stra- se e m ho m e n s que, ao<br />

env elh e c e r , neglig e n ci a m o trabalh o de des c o b e rta de sua<br />

anima e, e m vez diss o, des e n v o l v e m traço s faciais suav e s e<br />

form a s corp or ais feminina s. Da suaviza ç ã o do rosto, pas s a n d o<br />

por curvas inteira m e n t e atípicas, pod e se ch e g ar até a<br />

form a ç ã o de um busto. A expres s ã o pouc o resp eito s a de<br />

"efe min a d o " para es s a tend ê n ci a indica que o des e n v o l vi m e n t o<br />

aqui desvi ou- se para plano s equivo c a d o s .<br />

Ness e ca minh o de transfor m ar- se fisica m e n t e , mulh er e s e<br />

ho m e n s velho s pod e m ficar parecid o s . As vez e s isso pod e ser<br />

a expr e s s ã o de um des e n v olvi m e nt o interno paralelo, se gund o<br />

o princípio de "assi m dentro co m o fora". Entretanto, é natural a<br />

susp eita de que mais freqü e nt e m e n t e tal ac o nt e ç a co m o<br />

co m p e n s a ç ã o : "em vez de dentro, fora". A prim eira variante<br />

pod e ser rec o n h e c i d a pelo fato de que tais rosto s velho s<br />

45<br />

4


exer c e m um efeito muito belo e har m ô ni c o . É pos sív el viven ciar<br />

a irradiaç ã o andró gin a corresp o n d e n t e e m velho s indian o s e<br />

indian a s, m a s tam b é m e m to<strong>da</strong> s aqu el a s pes s o a s que vivera m<br />

suas vi<strong>da</strong>s e ous ar a m a integraç ã o de suas caras- m etad e s . A<br />

sab e d o ria e a co m p aixã o não são que st õ e s sexuais e se<br />

expr e s s a m de m an eira se m e l h a nt e e m am b o s os sexo s .<br />

Cons e q ü e nt e m e n t e , elas impregn a m os rosto s e os corp o s de<br />

man eira se m el h a nt e.<br />

A tend ê n ci a dos sexo s de se aproxi m ar e m um do outro na<br />

velhic e está relacion a d a tam b é m co m o tem a do retorn o e <strong>da</strong><br />

religio. Caso es s a tend ê n ci a de retorn o seja neglig e n ci a d a e m<br />

sentido figurad o, ela m er g ulh a na so m b r a e se manifesta no<br />

corp o co m o a assi m cha m a d a involuç ã o . A involuç ã o do timo<br />

na pub erd a d e e do útero na m e n o p a u s a é nor m al. Mas ela<br />

tam b é m pod e afetar outros órgã o s e se faz notar de form a<br />

esp e ci al m e n t e des a g r a d á v el no cér e br o . Assim, não é raro que<br />

pes s o a s velha s se torne m nova m e n t e infantis na expres s ã o e<br />

no co m p o rta m e n t o , e a ingenui<strong>da</strong>d e infantil festeja os bon s e<br />

velho s temp o s . A teim o si a <strong>da</strong> velhic e lem br a as fas e s de<br />

ob stinaç ã o <strong>da</strong> infância; pod e- se voltar a bab ar quan d o se<br />

co m e , a lingua g e m torna- se ininteligível, o pas s o inse g ur o. A<br />

en er gi a sexual ador m e c e e aproxim a- se do estad o<br />

caract erístico do início <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O tem a <strong>da</strong> agre s s ã o retroc e d e<br />

igual m e nt e, e os dente s ab and o n a m a pes s o a um apó s o outro,<br />

assi m co m o viera m . O "retornar- e- voltar- a- ser- co m o - ascrianç<br />

a s" m er g ulh o u no corpo. Quando es s e proc e s s o de<br />

con s ci ê n ci a retroativa e volta ao lar oc orr e na con s ci ê n ci a, leva<br />

ao bo m enten di m e n t o entre avó s e neto s, que oc orr e co m tanta<br />

freqü ê n ci a.<br />

Na viag e m de volta, trata- se de afrouxar o eg o con struído<br />

co m tanto esforç o ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Dos sinais físico s <strong>da</strong><br />

velhic e até os sinto m a s típicos tais co m o a de m ê n c i a e o mal<br />

de Alzheim er, pas s a n d o pelo corpo, força m o declínio do eg o<br />

retirand o- lhe sua bas e , o cér e br o . Esse proc e s s o tam b é m pod e<br />

ser res g at a d o na con s ci ê n ci a, quan d o o muito que se sab e é<br />

liberad o e transfor m a d o e m sab e d o ria. Então as crianç a s e os<br />

45<br />

5


anciã e s , vindo de dois lado s, enc o ntra m - se no m e s m o plano.<br />

7. Da ampla visão <strong>da</strong> velhice às rugas<br />

Esses "sinais nor m ai s <strong>da</strong> velhic e" estã o tão difundido s que<br />

mal ve m o s algo de do e nt e neles. Com a presbiopia , o<br />

org anis m o m o stra que se está deixan d o de ver o que está<br />

próxim o. O olhar pas s a por cim a diss o e vagu ei a na distância.<br />

A tarefa é: obter uma visã o de conjunto e enx er g ar long e e m<br />

sentido figurad o. O horizonte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> per m a n e c e nítido e é até<br />

m e s m o ac e ntuad o pela confus ã o do que está próxim o. É<br />

importante vagu e ar na distância e ter claro para si o que o<br />

futuro res erv a. Aquilo que está próxim o dev e ir para trás <strong>da</strong><br />

visão ampla. Quando se enc o ntra a persp e ctiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, é<br />

pos sív el voltar a alcan ç ar aquilo que está perto.<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> memória recente dev e ser enten did a de form a<br />

totalm e nt e análo g a. Enquanto os ac o nt e ci m e n t o s <strong>da</strong> última<br />

guerra são lem br a d o s e surg e m claro s diante <strong>da</strong> visã o interna,<br />

o pas s a d o imediato se esfu m a na név o a do es qu e ci m e n t o , por<br />

exe m pl o aquilo justa m e nt e que se queria co m pr ar. Aqui<br />

tam b é m a tarefa é níti<strong>da</strong>, libertar- se <strong>da</strong>s ninharias do cotidian o<br />

e des c o b rir de prefer ê n ci a o grand e arco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A m o n ot o ni a<br />

diária dev e se tornar m o n ót o n a , é precis o lem br ar- se dos<br />

tem a s important e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e interiorizá- los. Caso se faça es s e<br />

trabalh o espiritual, volta a surgir esp a ç o para aquilo que está<br />

próxim o, isso para não falar que a ativi<strong>da</strong>d e espiritual con s er v a<br />

a mo bili<strong>da</strong>d e e uma me m ó ri a treinad a per m a n e c e intacta.<br />

A surdez <strong>da</strong> velhice m o stra ao s afetad o s que eles não<br />

pod e m mais ouvir deter min a d a s cois a s. É natural susp eitar que<br />

eles já as ouvira m de m a si a d a s vez e s e ag or a de sligara m.<br />

Cham a a aten ç ã o nes s e contexto o fato de que a m ai or parte<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>d e s de audiçã o <strong>da</strong> velhic e m o stra um a<br />

discr ep â n ci a caract erística: há muita cois a que eles<br />

ab s oluta m e n t e não ouv e m m ais, ma s outras, contra as<br />

exp e ctativa s, são ouvi<strong>da</strong> s, e be m . Quem con h e c e pes s o a s<br />

45<br />

6


velha s que ouv e m m al, às vez e s não pod e evitar a sen s a ç ã o<br />

de que há niss o um a certa dos e de trapaç a. Enquanto o<br />

co m p a n h eir o que está no m e s m o quarto pod e arranc ar a alm a<br />

do corp o a gritos, as conv er s a s <strong>da</strong>s crianç a s no quarto ao lado,<br />

mais interess a nt e s , são bo a s de ouvir. Esse sinto m a, portanto,<br />

é tam b é m um a form a não- redi mi<strong>da</strong> de retira<strong>da</strong> para o mund o<br />

próprio, ond e os outros não o pod e m seguir ne m m e s m o ao s<br />

gritos. O sinto m a isola e distan cia do mun d o e torna a pes s o a<br />

solitária e fecha d a.<br />

O fato de que tantos velho s lute m contra isso atesta que a<br />

orienta ç ã o para o exterior, equival ent e co m o sinto m a, é<br />

tipica m e n t e social. Nova m e n t e , são as cha m a d a s culturas<br />

primitivas que, renun ciand o e m grand e es c al a a es s e s<br />

imp e di m e n t o s típico s <strong>da</strong> velhic e, m o stra m que aquilo que é<br />

nor m al para nós não é na ver<strong>da</strong> d e nor m al e ne m m e s m o<br />

natural.<br />

Apesar <strong>da</strong> abund â n ci a de próte s e s que vão se tornand o<br />

cad a vez m ais refina<strong>da</strong> s, a surd ez contínua sen d o um sinto m a<br />

que transfor m a muitas pes s o a s e m outsid e r s. Enquanto<br />

se m pr e pod e m o s fazer algu m a coisa co m a visão ativa,<br />

continua m o s impotent e s e m relaç ã o à pas siva audiçã o, ap e s ar<br />

de to<strong>da</strong> a técnic a. Devido a seu grand e núm er o os velho s<br />

surdo s, e m seu isola m e n t o , transfor m a m - se e m so m b r a s <strong>da</strong><br />

soci e d a d e e, co m o todo o âm bito <strong>da</strong>s so m b r a s , são vistos de<br />

mau grad o. Dominar e o do mínio vê m e m prim eiro lugar entre<br />

nós. Ouvir, es cutar e ob e d e c e r leva m uma existên ci a de<br />

so m b r a na m ai oria <strong>da</strong>s pes s o a s m o d er n a s . Os velho s nos<br />

m o stra m para ond e leva es s a política de repre s s ã o .<br />

A otoesclerose, a calcificaç ã o dos os sículo s do ouvido,<br />

expr e s s a fisica m e n t e a tem átic a do não- ser- mais- fiexivel no<br />

âm bito <strong>da</strong> audiç ã o e <strong>da</strong> ob e di ê n ci a. A pes s o a já está ch eia (de<br />

ouvir e de ob e d e c e r), enrijec e- se e m relaç ã o às vibraç õ e s<br />

exterior e s e se rec olh e para dentro de si m e s m a co m o um<br />

cara m ujo. Os surdo s, no sentido mais profund o, já não vibra m<br />

mais e m conjunto. Até m e s m o os ceg o s estã o m e n o s isolad o s<br />

e enrijecid o s .<br />

45<br />

7


A tarefa é real m e nt e con c e ntr ar- se e m si m e s m o , reduzir os<br />

contato s co m o exterior e, e m vez de estar se m pr e ouvind o os<br />

outros, es cutar para dentro e apren d er a ob e d e c e r à própria<br />

voz interna. A tend ê n ci a caricaturad a na vi<strong>da</strong> diária de so m e n t e<br />

ouvir ain<strong>da</strong> o que interes s a m o stra o ca min h o : dev e- se ouvir o<br />

que é importante, sub stan ci al. Assim co m o as voz e s extern a s<br />

se torna m mais baixas, as internas torna m- se ag or a mais<br />

níti<strong>da</strong> s. Assumir o voltar- se para dentro seria a chanc e oculta<br />

no sinto m a.<br />

A m o bili<strong>da</strong>d e que diminui na velhic e pod e ch e g ar à rigidez<br />

<strong>da</strong>s articulações . O org anis m o de m o n s tr a co m o está<br />

enferrujad o e que falta óle o ao m e c a ni s m o . Ele quer m o strar<br />

co m o o m o vi m e nt o é difícil, que não vai muito mais para a<br />

frente na vi<strong>da</strong> e pratica m e n t e na<strong>da</strong> para cim a. Então, a tarefa<br />

tam b é m é des c a n s a r exterior m e nt e e con s ci e ntizar- se do pólo<br />

interno que des c a n s a . Dess e des c a n s o do centro pod e entã o<br />

voltar a cres c e r a m o bili<strong>da</strong>d e interna e, e m con s e q ü ê n c i a,<br />

tam b é m a extern a.<br />

O "teatro <strong>da</strong> velhic e" na pele é uma variante tão difundi<strong>da</strong><br />

co m o pouc o queri<strong>da</strong>, à parte o fato de ser m e di c a m e n t e<br />

inofen siva. Na velhic e, qualqu er um rec o n h e c e a pele co m o<br />

sen d o o esp el h o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> interior. E que m gosta de ver a própria<br />

história es crita tão niti<strong>da</strong> m e n t e na pele e no rosto? Torna- se<br />

co m pr e e n s í v el aqui o mito de Dorian Gray, que vend e u sua<br />

alm a para per m a n e c e r extern a m e n t e jove m . Ao enxa m e de<br />

man c h a s que se coleci o n o u ao long o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> so m a m - se<br />

mud a n ç a s de cor caract erística s que rec e b e m o traiço eiro<br />

no m e de manchas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, isso para não falar <strong>da</strong>s dobras e<br />

rugas que m o stra m o res s e c a m e n t o intern o. P é s de galinha<br />

marc a m os vestígios esp e ci al m e n t e persistent e s dos<br />

ac o nt e ci m e n t o s , as do br a s do riso se transfor m a m e m<br />

profund o s sulco s, teste m u n h a s de um pas s a d o que, co m o o<br />

riso, há muito já pas s o u. A tens ã o e a elastici<strong>da</strong>d e<br />

des a p ar e c e r a m , e m vez diss o estran h a s excr e s c ê n c i a s<br />

e m e r g e m <strong>da</strong>s profund ez a s insond á v ei s, cuja ob s c ur a tem átic a<br />

já en c o ntra m o s nas verrug a s. Está- se m ar c a d o co m o um<br />

45<br />

8


tapet e de rem e n d o s e, alé m diss o, qualqu er coisa m e n o s<br />

colorido, pred o m i n a n d o os tons atroz e s do cinza. Ziegler fala<br />

de paisa g e m ári<strong>da</strong>, env elh e ci m e n t o prec o c e 84 e "transfor m ar- se<br />

e m tralha".<br />

A tarefa que surg e e m prim eiro plan o faz co m que o afetad o<br />

bata co m o nariz nas próprias es quisitice s e abus o s , as<br />

man c h a s es c ura s <strong>da</strong> alm a e o con h e ci m e n t o indubitáv el de que<br />

já não se pod e falar de um traje branc o . Ao long o <strong>da</strong> viag e m <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, que é so br etud o um a viag e m <strong>da</strong> alm a, o corpo precis o u<br />

deitar muita água, ou seja, líquido aní mic o. Assim co m o a flor<br />

que vai murch a n d o preo c up a- se ain<strong>da</strong> co m a trans mi s s ã o de<br />

sua se m e n t e , que contê m sua es s ê n ci a e seu legad o , deixan d o<br />

pend e nt e todo o de m ai s, para a pes s o a idos a trata- se ag or a<br />

tam b é m de ocup ar- se de sua es s ê n ci a, de seu lega d o . O<br />

es s e n ci al dela per m a n e c e r á , ma s o invólucr o precis a ir. A pele<br />

que vai murch a n d o pod e explicitá- lo quan d o , con s erv a d a co m o<br />

couro curtido, estira- se so br e os os s o s e dirige o olhar para o<br />

ele m e n t o con s er v a d o r, já que se trata <strong>da</strong> con s er v a ç ã o do que é<br />

es s e n ci al. Ness e sentido, não é de ad mirar que a m ai oria <strong>da</strong>s<br />

pes s o a s se torne con s er v a d o r a na velhic e. Caso isso não se<br />

relacion a s s e so m e n t e à política, ma s tam b é m à alm a, e não<br />

foss e mal- enten did o co m o rigidez e m e d o do nov o, tudo iria<br />

m elh or para as pes s o a s e para o mund o.<br />

8. A cor cinza<br />

A tem átic a do env elh e ci m e n t o tam b é m pod e ser trata<strong>da</strong> a<br />

partir dos con c eito s do tornar- se grisalh o e do horror [Ergrau e n<br />

= enc a n e c e r / Grau e n = alvorad a, ma s tam b é m m e d o , horror].<br />

As m o difica ç õ e s <strong>da</strong> pele dev e m ser clas sificad a s aqui, assi m<br />

co m o o env elh e ci m e n t o <strong>da</strong>s perc e p ç õ e s sen s oriais que pod e m<br />

ch e g ar à catarata, que esten d e um a cortina cinzenta diante do<br />

45<br />

9


mund o colorido. De fato, a perc e p ç ã o <strong>da</strong>s cor e s diminui à<br />

m e di<strong>da</strong> que os ele m e n t o s <strong>da</strong> retina resp o n s á v ei s pela<br />

perc e p ç ã o <strong>da</strong> luz retroc e d e m . Dirige- se um olhar turvo e m<br />

direç ã o a persp e ctivas so m b rias. O véu cinzento tamp o u c o se<br />

deté m diante do ouvido, cuja cap a ci<strong>da</strong>d e auditiva para son s<br />

agud o s diminui, e o pala<strong>da</strong>r e o olfato pas s a m a ignorar as<br />

notas mais picante s dos odor e s e dos sab or e s . Até m e s m o a<br />

alm a pare c e en c a n e c e r de form a múltipla, parec e n d o can s a d a<br />

e vazia, se m vontad e e se m cor.<br />

A retira<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cor e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> torna- se esp e ci al m e n t e níti<strong>da</strong><br />

nos cab el o s e pod e ser interpretad a co m o sinal de<br />

resign a ç ã o 85 . Quando eles, co m o sinal típico do<br />

env elh e ci m e n t o , en c a n e c e m ante s de cair, trata- se para muitos<br />

de um horror. Sendo que o cinza nas têm p or a s goz a de certa<br />

prefer ê n ci a entre os ho m e n s . Neste cas o, ele estaria<br />

docu m e n t a n d o a exp eri ên ci a do mun d o e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que pod e<br />

ac o m p a n h a r a velhic e. Ziegler é de opinião que o<br />

en c a n e c i m e n t o na velhic e tem a ver co m o horror, que esta<br />

fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> transfor m a- se e m tarefa. Ele vê as pos sibili<strong>da</strong>d e s<br />

e a loucura des s a ép o c a de form a positiva, já que se trataria de<br />

apren d er o próprio horror e tam b é m ensin á- lo ao s joven s. Esta<br />

relaç ã o desta c a- se esp e ci al m e n t e no enc a n e c i m e n t o<br />

pre m atur o e particular m e nt e no en c a n e c i m e n t o instantân e o<br />

durante a noite. Por trás diss o há situaç õ e s de pavor que os<br />

afetad o s não puder a m digerir con s ci e nt e m e n t e . O corp o<br />

precis a entrar co m o substituto e conferir expres s ã o ao horror<br />

na cor dos cab el o s .<br />

A tarefa é sair de cas a, aprend er a tem er e des e m b a r c a r no<br />

pólo es c ur o, ir de livre e esp o ntân e a vontad e até lá, ond e a<br />

vi<strong>da</strong> perd e todo o colorido: até o mun d o <strong>da</strong>s so m b r a s , o lado<br />

noturno <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Aqui se está ag or a em seu próprio ele m e n t o , à<br />

noite todo s os gato s são pardo s. As vivas cor e s do mun d o<br />

sup erior não faze m parte dos fantas m a s <strong>da</strong> noite, trata- se <strong>da</strong>s<br />

profund ez a s <strong>da</strong> alm a. O grand e arco, a ab straç ã o , está no<br />

ponto central do trabalh o de elab or a ç ã o <strong>da</strong>s exp eriên ci a s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, pois to<strong>da</strong> s as teorias tam b é m são cinzenta s. A<br />

46<br />

0


confrontaç ã o co m a so m b r a, des d e que esta seja ac eita e<br />

integrad a, pod e am a d ur e c e r e, e m um sentido m ais profund o,<br />

transfor m ar- se e m sab e d o ria. Quando a luz e a so m b r a se<br />

une m surg e o cinza, e o colorido do mun d o parec e um a ilusão.<br />

Sábio [= Weis] e bran c o [= Weiss] não estã o assi m tão<br />

distante s. To<strong>da</strong> s as cor e s estã o conti<strong>da</strong>s no bran c o , assi m<br />

co m o todo o con h e ci m e n t o na sab e d o ria. E um a questã o <strong>da</strong><br />

con s ci ê n ci a sab er se, ao tornar- se velho e grisalh o, o cinza<br />

indica um a carên ci a de cor ou o branc o ond e se enc o ntra tudo.<br />

Não é pos sív el decidir de fora se a cor dos cab el o s reflete o<br />

estad o intern o ou o co m p e n s a , cad a pes s o a dev e es clar e c ê - lo<br />

por si m e s m a . Um asp e ct o sub stan ci al <strong>da</strong> velhic e está no<br />

horror que, derivan d o <strong>da</strong> cor cinza, des cr e v e um estad o de<br />

alm a. Na m e did a e m que a cor es m a e c e , so br a o cinza. Ness e<br />

contexto, cha m a a aten ç ã o co m o es s a cor está próxim a dos<br />

fantas m a s que vive m , ou m elh or, anim a m e en c h e m de horror<br />

as regiõ e s junto à fronteira <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Os fantas m a s apar e c e m<br />

se m as cor e s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, já que mais propria m e n t e são tam b é m<br />

enviad o s do reino dos m orto s. Sua horrível paleta de cor e s<br />

con sist e de nuan ç a s de cinza e vai do cinza quas e negr o até o<br />

cinza es br a n q ui ç a d o . Assim co m o a pele de pes s o a s muito<br />

velha s, suas vest e s que lem br a m farrapo s pend e m deles e,<br />

co m a aus ê n ci a de qualqu er estrutura ou cor, trans mite m a<br />

con h e ci d a impre s s ã o m e d o n h a . Assim co m o o fantas m a g ó ri c o ,<br />

a velhic e se refer e à m orte; m ais alé m do horror que inspira, o<br />

fantas m a <strong>da</strong> velhic e tem um a relaç ã o intima co m o alé m . Mas a<br />

velhic e não co m p artilha so m e n t e a form a e a cor co m o<br />

fantas m a g ó ri c o , m a s tam b é m as locali<strong>da</strong>d e s que prefer e<br />

habitar. Afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pulsant e, nas m ar g e n s e nicho s <strong>da</strong><br />

soci e d a d e , ela circula por lugar e s sinistros e faz <strong>da</strong>s suas, já<br />

que inspira horror ao s vivos. Os ce mit ério s jam ais fora m<br />

ca m p o s de paz para os vivos co m o o fora m para os que estã o<br />

do lado de lá. De qualqu er form a, eles log o se des e n v o l v er a m<br />

e se transfor m ar a m e m ante- salas do horror, e m portos de<br />

m e d o do outro mun d o . Pode- se ob s ervar, esp e ci al m e n t e no<br />

ca m p o , co m o eles atrae m os velho s e ao m e s m o temp o os<br />

46<br />

1


colo c a m so b seu en c a nt o mági c o .<br />

Nossa ép o c a es clar e cid a limpou a paisa g e m (tanto a<br />

con cr et a co m o a espiritual) de fantas m a s e ass o m b r a ç õ e s ,<br />

ma s não pen s o u que na<strong>da</strong> se deixa eliminar definitiva m e n t e do<br />

mund o. Assim, as apariç õ e s tivera m de es c olh er o ca minh o<br />

que pas s a pelas so m b r a s , que de qualqu er m an eira<br />

corre s p o n d e a seu ser. Elas se instalara m nas uni<strong>da</strong>d e s de<br />

terapia intensiva, be m dissi mulad a s entre m o d er ní s si m o s<br />

apar elh o s reluzent e s m a s se m vi<strong>da</strong>, assi m co m o e m asilos de<br />

velho s, nos dep arta m e n t o s geriátrico s <strong>da</strong>s instalaç õ e s <strong>da</strong><br />

psiquiatria e nas alas de internaç ã o de nos s a s clinicas<br />

m o d e r n a s , ond e a m é di a de i<strong>da</strong>d e so b e cad a vez m ais,<br />

ilustrand o de form a "horrível" os triunfos <strong>da</strong> m e dicin a e tam b é m<br />

seu lado so m b ri o.<br />

Todo o am plo ca m p o <strong>da</strong> velhic e e <strong>da</strong> i<strong>da</strong>d e transfor m o u- se<br />

para nós e m uma ass o m b r a ç ã o . Mal tem o s temp o de co m pr ar<br />

antes que as cois a s já esteja m velha s. Não se ad mite usar<br />

roupa s env elh e ci d a s , opiniõ e s velha s, con h e ci m e n t o s velho s,<br />

e m b o r a tudo isso atest e que já se está gasto, e pouc a s cois a s<br />

são piores que isso. Em nos s o esforç o de se m pr e m ant er tudo<br />

no estad o m ais nov o pos sív el, pura e simpl e s m e n t e lança m o s<br />

uma impres si o n a nt e m a gi a de defe s a contra a velhic e. O pap el<br />

dos castel o s m al- ass o m b r a d o s e <strong>da</strong>s ruínas antiga s 86 foi<br />

transferido para os asilos de velho s, clínicas e outras<br />

instalaç õ e s geriátricas. Por bonito s que seja m extern a m e n t e ,<br />

nós os evita m o s co m o se eles pudes s e m nos influenciar. Nós<br />

não quer e m o s nos infectar co m o vírus <strong>da</strong> velhic e. Podería m o s<br />

ser tom a d o s pelo s (maus) espíritos que lá pad e c e m . A<br />

proximi<strong>da</strong>d e imediata do pólo opo st o torna- se aqui<br />

esp e ci al m e n t e níti<strong>da</strong>, pois esta m o s totalm e nt e pos suíd o s pelo<br />

espírito do nov o. E uma maldiç ã o ser velho e m um a soci e d a d e<br />

tão pos suíd a pela juventud e e sed e nt a de renovaç ã o , e assi m<br />

o m au costu m e de am aldiç o ar, tão difundido antiga m e n t e ,<br />

tam b é m con quistou seu lugar em noss o mei o.<br />

Tanto hoje e m dia co m o antiga m e n t e , pag a m o s um preç o<br />

para ser poup ad o s pelo horrível fantas m a <strong>da</strong> velhic e. Assim<br />

46<br />

2


co m o antiga m e n t e se tentava am e niz ar a dispo siç ã o <strong>da</strong>s<br />

ass o m b r a ç õ e s co m ofer en d a s m at eriais, para que nos<br />

deixass e m e m paz, hoje pratica m e n t e to<strong>da</strong> a so ci e d a d e<br />

contribui co m altas so m a s para o cui<strong>da</strong>d o dos velho s na<br />

esp er a n ç a equivo c a d a de, por es s e m ei o, retirar <strong>da</strong> velhic e<br />

algo de seu horror. A previd ê n ci a <strong>da</strong> velhic e leva na ver<strong>da</strong> d e a<br />

que a pes s o a , be m provi<strong>da</strong> mat erial m e nt e, exp eri m e nt e o<br />

m e d o e o horror <strong>da</strong> velhic e de form a esp e ci al m e n t e clara. Na<strong>da</strong><br />

des via mais do tem a des s a etap a propria m e nt e dito.<br />

A tarefa <strong>da</strong> velhic e cinzenta é o horror. Na so ci e d a d e , são os<br />

velho s que en sina m os joven s a ter m e d o , que se torna m os<br />

estrag a- praz er e s de seu culto à juventud e, en e g r e c e n d o<br />

unilateral m e nt e os pen s a m e n t o s claro s e sup erficiais. Assim<br />

co m o con sig o m e s m o s , eles tam b é m pod e m fazer co m que os<br />

outros fique m preo c up a d o s e oportuna m e n t e es c a p ar para o<br />

es c ur o do se gund o plan o. A luz do Sol não é mais cois a sua,<br />

ela <strong>da</strong>nifica sua pele fatigad a e ceg a seus olho s cad a vez m ais<br />

fraco s. Asso m b r ar des d e o es c o n d e rijo e tec er fios invisíveis,<br />

cuspir na sop a dos que estã o no prim eiro plan o co m o<br />

e min ê n ci a par<strong>da</strong>, este é seu ofício. "O traste velho dev e <strong>da</strong>r<br />

solav a n c o s e fazer barulho, no ático e no porã o. Ele dev e<br />

rum or ejar e ass o m b r ar. Sua hora propicia é a hora dos<br />

espíritos.. " 87 .<br />

O que é válido para a soci e d a d e , natural m e nt e afeta<br />

tam b é m o indivíduo idos o. A ép o c a grisalha é sua chan c e de<br />

confrontar- se co m o es cur o, o horrível de sua vi<strong>da</strong>, fazer a<br />

arrum a ç ã o dos fantas m a s que fora m se acu m ul and o .<br />

Juntam e nt e co m isso, há tam b é m um a participaçã o<br />

substanci al do ele m e n t o "doidic e". O que o velho louco faz é<br />

totalm e nt e inco m pr e e n s í v el para os conte m p o r â n e o s de<br />

orienta ç ã o mun d a n a, porqu e ele já vê as cois a s de uma outra<br />

persp e ctiva. No tarô, o louc o é o grau mais elev a d o . O fato de<br />

que justa m e n t e ele seja clas sificad o por algu m a s es c ol a s de<br />

tarô co m o sen d o o prim eiro sím b ol o, inferior, m o stra a grand e<br />

confus ã o que no entrete m p o se form o u e m relaç ã o a es s e<br />

arqu étipo. O pap el clás sic o do louc o e <strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>d e conti<strong>da</strong><br />

46<br />

3


nes s a fase pod e ser visto na imag e m do bo b o <strong>da</strong> corte. O bo b o<br />

<strong>da</strong> corte era o único que podia dizer a ver<strong>da</strong> d e se m disfarc e s<br />

ao gov er n a nt e se m ter de resp o n d e r por isso. Estand o fora <strong>da</strong><br />

jurisdiçã o nor m al, ele já não podia mais ser culpad o. Seu mai or<br />

crim e era ser chato.<br />

Mostra- se aqui co m o es s e arqu étipo está des a m p a r a d o hoje<br />

e m dia. Te m o s um a profus ã o de político s env elh e ci d o s que se<br />

aferra m ao pod er e que che g a m até m e s m o a levá- lo para a<br />

tumb a. Os adulad or e s <strong>da</strong> corte de ép o c a s anterior e s fora m<br />

substituído s por hor<strong>da</strong> s env elh e ci d a s de funcion ários públicos<br />

que, cinzento s e m e s q uinh o s , deficient e m e n t e repre s e nt a m as<br />

belas e fresc a s cortes ã s de outros temp o s e so m e n t e<br />

con s erv a m flores c e n t e o padrã o do lacaio. Os velho s louc o s ,<br />

que pod e m se per mitir dizer simples m e n t e a ver<strong>da</strong>d e e isso,<br />

ain<strong>da</strong> por cim a, de form a irônica, nos faze m falta. O que não<br />

<strong>da</strong>ría m o s por um velho político que, co m o bo b o <strong>da</strong> corte e<br />

ad m o e s t a d o r que não tem m ais na<strong>da</strong> a perd er e, por isso<br />

m e s m o , tem tudo a ganh ar, es cr e v e a ver<strong>da</strong>d e nua e crua no<br />

livro de visitas <strong>da</strong> solícita ca m arilha de provo c a d o r e s .<br />

O velho louc o, que finalm e nt e pod e dizer o que se m pr e quis<br />

ser declar ad o , seria e m con s e q ü ê n c i a uma soluç ã o do tem a <strong>da</strong><br />

velhic e. De uma man eira mais direta, mais irônica e até m e s m o<br />

mais ob s c e n a , ele pod eria obter ar para si m e s m o . Caso até<br />

entã o ele guar<strong>da</strong> s s e no coraç ã o algu m ranc or ass a s si n o , ag or a<br />

seria a hora de, so b a prote ç ã o <strong>da</strong> velhic e, trazer à luz do dia<br />

to<strong>da</strong>s as form a s es cur a s e indec e nt e s . Talvez es c a n d alizar os<br />

outros trouxe s s e alívio para si m e s m o . Suas adv ertên ci a s<br />

pod eria m es m a g a r a des gr a ç a contra a pared e. Livre <strong>da</strong> carg a<br />

do próprio sustento e do can s ativo jogo <strong>da</strong> soci e d a d e , ele<br />

pod eria recup er ar a alegria infantil provo c a d a por todo s os<br />

segr e d o s e surpres a s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É raro que se pres e n ci e ain<strong>da</strong><br />

um des s e s velho s louc o s nas pouc a s grand e s famílias uni<strong>da</strong>s<br />

que ain<strong>da</strong> resta m , que são tratad o s pelas crianç a s co m o um<br />

igual porqu e con sid er a m as regra s de seus jogo s tão<br />

importante s co m o os jogo s dos adultos. Eles ne m<br />

m e n o s p r e z a m o jogo infantil ne m o reve st e m co m a seried a d e<br />

46<br />

4


dos adultos. Eles voltara m a ser se m el h a nt e s às crianç a s (no<br />

sentido bíblico) e por es s a razão freqü e nt e m e n t e são mais<br />

querido s por elas que os próprios pais. O parent e s c o entre as<br />

ép o c a s <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> velhic e é expres s o tam b é m e m<br />

algu m a s imag e n s de rem é di o s ho m e o p á tic o s que des cr e v e m<br />

es s e arqu étipo do velho louc o etern a m e n t e jove m . Viver a<br />

maluquic e des s a man eira é a m elh or profilaxia e m relaç ã o à<br />

loucura psiquiátrica não- redi mi<strong>da</strong>, que de resto castig a a<br />

velhic e co m freqü ê n ci a.<br />

O arqu étipo <strong>da</strong> velhic e citado quas e se m pr e é o do velho<br />

sábio . Ele já não pod e des e m p e n h a r qualqu er pap el e m nos s a<br />

soci e d a d e , porqu e a velhic e se ag arra tão convulsiva m e n t e à<br />

vi<strong>da</strong> que perd e aqu el a soltura impres cin dív el ao velho sábio.<br />

Ele é sábi o porqu e, co m o Sócrate s, sab e que não sab e na<strong>da</strong> e<br />

que a vi<strong>da</strong> é muito mais que sab er e fazer. Velhos sábio s<br />

seria m extre m a m e n t e des a g r a d á v ei s para um a soci e d a d e de<br />

provo c a d o r e s , pois este s teriam de question ar<br />

per m a n e n t e m e n t e o rufar dos tam b or e s produzido co m tanto<br />

esforç o.<br />

9. O mal de Alzheimer<br />

O quadr o de sinto m a s unha antiga m e n t e o no m e de<br />

"de m ê n ci a pré- senil", porqu e colo c a v a prec o c e m e n t e no jogo<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> proc e s s o s <strong>da</strong> dec a d ê n c i a nor m al <strong>da</strong> velhic e. O centro<br />

de gravi<strong>da</strong>d e do ado e ci m e n t o oc orr e entre os 50 e os 60 ano s<br />

de vi<strong>da</strong>, sen d o que as mulh er e s são afetad a s de man eira<br />

prep o n d e r a nt e. Comp ar á v el a um a caricatura do<br />

env elh e ci m e n t o prec o c e do cér e br o que se instaura, este<br />

quadr o de sinto m a s ganh a rapi<strong>da</strong> m e n t e terren o e m um a<br />

soci e d a d e que ado e c e tanto de velhic e. Neste m o m e n t o , 6 %<br />

<strong>da</strong>s pes s o a s co m mais de 65 ano s são afetad a s , em um a curva<br />

que tend e a cres c e r. Embor a exista m 600 mil do e nt e s so m e n t e<br />

na Alemanha, ao s quais se so m a m 50 mil a cad a ano, e o<br />

quadr o de sinto m a s tenha se tornad o no entrete m p o a quarta<br />

46<br />

5


caus a de m orte m ais freqü e nt e nas naç õ e s industrializa<strong>da</strong> s do<br />

Ocident e, ele não des e m p e n h a pratica m e n t e nenhu m pap el na<br />

con s ci ê n ci a dos (ain<strong>da</strong>) não afetad o s . O "grand e<br />

es qu e ci m e n t o " é ele m e s m o es q u e ci d o . Uma do e n ç a que<br />

termin a fazend o co m que se perc a a razã o é um a provo c a ç ã o<br />

para as pes s o a s de um a so ci e d a d e que colo c a a razão acim a<br />

de tudo. Quando o psiquiatra báv ar o Alois Alzheim er a<br />

des cr e v e u pela prim eira vez há quas e um século, os m é dic o s<br />

já não queria m sab er na<strong>da</strong> a resp eito. Foi so m e n t e nos último s<br />

ano s, co m os núm er o s subind o vertigino s a m e n t e , que se<br />

form o u uma certa con s ci ê n ci a des s a que é a mais terrível<br />

per<strong>da</strong> de con s ci ê n ci a <strong>da</strong> qual pod e sofrer um ser hum a n o , a<br />

deg e n e r a ç ã o de seu cér e br o . O véu cinzento <strong>da</strong> velhic e<br />

assu miu aqui a form a <strong>da</strong> cha m a d a sedi m e nt a ç ã o de amilóid e s ,<br />

que oc orr e so br etud o nas ligaç õ e s <strong>da</strong>s células nervo s a s , as<br />

sinap s e s . Esses dep ó sito s de albu min a co m bi n a m - se co m ligas<br />

de alumínio form a n d o um a esp é ci e de arga m a s s a e<br />

e m p ar e d a n d o tanto o interior co m o os prolon g a m e n t o s dos<br />

neurôni o s. Com isso, a funçã o mais important e dos nervo s ,<br />

esta b el e c e r ligaç õ e s , é anulad a. A red e de co m u ni c a ç õ e s entre<br />

o cér e br o , resp o n s á v e l pelas funçõ e s lógica s, e o siste m a<br />

límbic o, do qual dep e n d e o mund o dos sentim e nt o s , é<br />

bloqu e a d a . Enquanto se perd e a m e m ó ri a, a intelig ên ci a, a<br />

cap a cid a d e de decis ã o , a orientaç ã o , a linguag e m , e m sum a,<br />

tudo aquilo a que cha m a m o s de razão, freqü e nt e m e n t e se<br />

con s erv a m por muito temp o os sentim e nt o s e padrõ e s sociais,<br />

a sen s a ç ã o de ritmo e a music ali<strong>da</strong>d e . Após o probl e m a ter<br />

sido pes quis a d o mais intens a m e n t e nos último s temp o s ,<br />

divers a s pistas vão surgind o. Por um lado con clui- se por<br />

defeitos gen étic o s , já que a her e ditaried a d e se co m pr o v a e m<br />

um déci m o dos afetad o s . Som a- se a isso o fato de que<br />

pratica m e n t e todo s os cha m a d o s m o n g ol óid e s , à m e di<strong>da</strong> que<br />

faze m 30 ano s de i<strong>da</strong>d e, des e n v olv e m o m al de Alzheim er.<br />

Ness e ponto, os dois quadr o s de sinto m a s pod eria m ter e m<br />

co m u m um defeito no cro m o s s o m o 2 1. Entretanto, o que es s e<br />

defeito des e n c a d e i a está e m ab erto. Discute- se alé m diss o a<br />

46<br />

6


influên cia de oxig ê ni o agre s siv o, os cha m a d o s radicais óxido s,<br />

que atac a o rev e sti m e nt o gorduro s o dos nervo s, ou seja, um a<br />

car ên ci a de substânci a s protetora s que imp e ç a m isso. Não é o<br />

oxig ê ni o e m si que está so b susp eita, m a s algu m a s m ol é c ula s<br />

isolad a s esp e ci al m e n t e agre s siv a s tais co m o as que resulta m<br />

<strong>da</strong> dec o m p o s i ç ã o do ozô nio.<br />

A sinto m átic a co m e ç a de form a discr eta, co m leves<br />

perturba ç õ e s <strong>da</strong> m e m ó ri a, so br etud o a m e m ó ri a rec e nt e,<br />

per m a n e c e n d o intacta a m e m ó ri a distante. É uma situaç ã o<br />

típica de pes s o a s idos a s, quan d o es qu e c e m aquilo que está<br />

próxim o ma s rec ord a m be m o pas s a d o rem oto. À m e did a e m<br />

que a do e n ç a progrid e, levan d o ao declínio de form a lenta e<br />

implac á v el, freqü e nt e m e n t e so m a m - se a isso inquietud e e<br />

agitaç ã o , que força m o paci ent e a <strong>da</strong>r pequ e n o s pas s o s , alé m<br />

de perturba ç õ e s <strong>da</strong> orienta ç ã o e <strong>da</strong> lingua g e m , proble m a s co m<br />

o rec o n h e c i m e n t o , be m co m o dificul<strong>da</strong>d e s para levar a cab o<br />

atos co er e nt e s , finalm e nt e depr e s s õ e s e, m ais rara m e nt e,<br />

perturba ç õ e s eufórica s do ânim o.<br />

O quadr o de sinto m a s oc orr e se m pr e na se gund a metad e <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, o que quer dizer à ép o c a do retorn o e do rec olhi m e nt o. A<br />

interpreta ç ã o do sinto m a apo nta para a relaç ã o co m o ca min h o<br />

de des e n v o l vi m e n t o e m o stra co m o a ligaç ã o co m es s e<br />

ca min h o se perd e u, ou seja, foi e m p urrad a para o corpo. A<br />

exig ê n ci a cristã de voltar a ser co m o as crianç a s m er gulh o u<br />

nas so m b r a s , os afetad o s se torna m infantis e regride m no<br />

sentido con cr et o.<br />

Os laps o s progr e s siv o s <strong>da</strong> m e m ó ri a rec e nt e m o stra m co m o<br />

se desistiu <strong>da</strong> resp o n s a bili<strong>da</strong>d e por aquilo que está próxim o.<br />

Os pacient e s es qu e c e m sua vi<strong>da</strong> no sentido mais ver<strong>da</strong> d eir o<br />

<strong>da</strong> palavra, partindo do pres e nt e e retroc e d e n d o cad a vez m ais<br />

no pas s a d o . Com o colap s o <strong>da</strong> m e m ó ri a, eles são forçad o s<br />

impied o s a m e n t e a viver no pres e nt e, ou seja, o pas s a d o e o<br />

pres e nt e torna m- se um a e a m e s m a cois a. A vi<strong>da</strong> no aqui e<br />

ag or a, o objetivo do ca minh o do des e n v o l vi m e n t o , têm algo de<br />

horrível so b es s a form a não- redi mi<strong>da</strong>. No m er g ulh o redi mid o<br />

no m o m e n t o pres e nt e, as tarefas es s e n ci ais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na<br />

46<br />

7


polari<strong>da</strong>d e fica m para trás, en qu a nt o nos pacient e s de<br />

Alzheim er a inquietaç ã o e a agitaç ã o trae m tudo aquilo que<br />

eles ain<strong>da</strong> têm diante de si. Com a per<strong>da</strong> do tem p o , a<br />

co m pr e e n s ã o do ca minh o <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e suas tarefas fica no m ei o<br />

do ca min h o . Quem não se lem br a de na<strong>da</strong> e vive fora do tem p o<br />

linear não pod e mais assu mir nenhu m tipo de<br />

resp o n s a bili<strong>da</strong>d e . A per<strong>da</strong> do sentido de orienta ç ã o vai na<br />

m e s m a direç ã o . Nenhu m objetivo foi alcan ç a d o no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>;<br />

perd e u- se o ca min h o . Os pacient e s não sab e m mais ond e<br />

estã o, ne m para ond e isso leva. Com a orienta ç ã o, eles<br />

perd er a m literalm e nt e o oriente, a direç ã o <strong>da</strong> qual prov é m a<br />

luz, se g un d o as es crituras sagr ad a s . Ao final de seu ca minh o<br />

não há luz, e portanto não há esp er a n ç a . As depr e s s õ e s<br />

freqü e nt e s env olv e m es s a aus ê n ci a total de persp e ctiva e de<br />

esp er a n ç a . A falta de prudê n ci a e de con sid er a ç ã o , que de<br />

form a tão inquietante pod e <strong>da</strong>r nos nervo s <strong>da</strong>s pes s o a s<br />

próxim a s , surg e de m an eir a quas e forço s a. Com o to<strong>da</strong>s as<br />

funçõ e s de controle <strong>da</strong> razão se interro m p e m , as e m o ç õ e s<br />

pod e m ser des c arr e g a d a s se m e m p e c ilh o s , co m o ac o nt e c e<br />

co m as crianç a s pequ e n a s . Aquilo que os paci ent e s se m pr e<br />

estan c ar a m ao long o de suas vi<strong>da</strong>s, seja devido à educ a ç ã o<br />

que tivera m ou por outras con sid er a ç õ e s , pod e ag or a abrir<br />

ca min h o . O sofrim e nt o, que esp e ci al m e n t e à noite adquire<br />

prop orç õ e s impre s si o n a nt e s quan d o os pacient e s desp erta m<br />

e m pânic o e ao s gritos ou pera m b ul a m pela cas a, é difícil de<br />

enten d e r para as pes s o a s que cui<strong>da</strong> m dos do e nt e s . Com o os<br />

pacient e s estã o se m orientaç ã o e se m m e m ó ri a, eles ac ord a m<br />

à noite e m co m pl et a es c uridã o, se m sab er ond e estã o e, mais<br />

tarde, tam b é m se m sab er que m são. Deixar ac e s a um a<br />

pequ e n a luz, m ais sim b ólic a que outra cois a, já pod e ser<br />

suficiente para acal m á- los, <strong>da</strong> m e s m a man eira que alivia o lado<br />

es c ur o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e para as crianç a s .<br />

Absoluta m e n t e mais que qualqu er outra cois a, o sinto m a<br />

dev e ser enten did o co m o um voltar- a- ser- crianç a que<br />

m er gulh o u no corpo. Freqü e nt e m e n t e , os pacient e s segu e m a<br />

pes s o a que os cui<strong>da</strong> co m o crianç a s pequ e n a s , ador a m<br />

46<br />

8


pendurar- se na barra de suas saias ou pelo men o s garantir sua<br />

proximi<strong>da</strong>d e por m ei o de sinais acústic o s tais co m o cantar ou<br />

ass o bi ar. Assim co m o as crianç a s pequ e n a s , eles od eia m<br />

portas fech a d a s e inse g ur an ç a . Do que eles m ais go sta m é<br />

estar no am bi e nt e ao qual estã o ac o stu m a d o s e, de ac ord o<br />

co m as circunstan cia s, pod e m reagir e m pânic o diante de<br />

surpres a s ou mud a n ç a s , ain<strong>da</strong> que be m - intencion a d a s . Eles<br />

não pod e m fazer abs oluta m e n t e na<strong>da</strong> co m argu m e n t o s , m a s<br />

reag e m agrad e ci d o s e co m alegria a aten ç õ e s tais co m o<br />

afag o s e elogio s. Caso se queira evitar ataqu e s de faria, é<br />

precis o <strong>da</strong>r- lhes razão se m pr e que pos sív el, deixar que<br />

gan h e m nos jogo s e, fun<strong>da</strong> m e n t al m e n t e , assu mir to<strong>da</strong> culpa<br />

so br e si m e s m o . Finalm e nt e, eles precis a m ser cui<strong>da</strong>d o s co m o<br />

crianç a s so b todo s os ponto s de vista, des d e alim e ntar- se até<br />

limpar- se. Enquanto os pacient e s retorna m ao princípio de<br />

suas vi<strong>da</strong>s, exig e m de seu am bi e nt e um a humil<strong>da</strong>d e tão difícil<br />

de con s e g uir co m o es c a s s a s são as esp er a n ç a s de m elh or a.<br />

A inquietaç ã o , cha m a d a de acatisia, que leva o pacient e a<br />

<strong>da</strong>r pas sinh o s minús c ul o s de um lado para o outro, é<br />

teste m u n h o do ímp et o de ca minhar, ma s tam b é m de que os<br />

pas s o s são de m a si a d o pequ e n o s e se m direç ã o . Os pacient e s<br />

gira m e m círculos. A incap a ci<strong>da</strong>d e de per m a n e c e r sentad o e<br />

circunsp e ct o de m o n s tr a a nec e s si d a d e de co m u nic a ç ã o ,<br />

ligaç ã o co m a vi<strong>da</strong> e ativi<strong>da</strong>d e. O fato de que eles se<br />

disp ers a m a cad a m o m e n t o , não rec o n h e c e m m ais na<strong>da</strong> e<br />

pera m b ul a m des ori e nta d o s deixa claro o quanto eles se<br />

des viar a m do ca min h o no sentido figurad o.<br />

As perturb a ç õ e s <strong>da</strong> linguag e m indica m co m o o contato se<br />

torna difícil e cad a vez mais impo s sív el. Eles perd e m<br />

con sta nt e m e n t e o fio <strong>da</strong> m e a d a , assi m co m o perd er a m o fio<br />

condutor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O filme se romp e co m freqü ê n ci a cad a vez<br />

maior, até que no final resta m so m e n t e imag e n s isolad a s e<br />

des c o n e x a s . As fras e s torna m- se cad a vez mais curtas,<br />

transfor m a n d o - se e m palavra s que pouc o a pouc o perd e m seu<br />

sentido lógic o, até finalm e nt e es g ot ar e m - se por co m pl et o. Os<br />

pacient e s não têm m ais na<strong>da</strong> a dizer quanto ao s m ais variad o s<br />

46<br />

9


assunto s, m a s é no sentido figurad o ond e eles na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s estã o interditad o s . Apesar diss o, eles ain<strong>da</strong> pod e m<br />

expr e s s ar muita cois a atrav é s <strong>da</strong> co m u nic a ç ã o não verb al. A<br />

desig n a ç ã o m é dic a para o probl e m a de linguag e m é disfasia, o<br />

que quer dizer que eles não vibra m mais e m fase, isto é, no<br />

m e s m o ritmo, co m os outros. Eles tam b é m estã o des ori entad o s<br />

verb al m e n t e , o que resulta e m um a exten s a mud e z.<br />

A agn o si a, um outro sinto m a, desig n a a incap a ci<strong>da</strong>d e de<br />

rec o n h e c e r e ao final ch e g a ao ponto e m que os pacient e s não<br />

con h e c e m mais ne m a si m e s m o s . O con h e ci m e n t o de si<br />

m e s m o co m o objetivo do ca minh o hum a n o m er gulh o u nas<br />

so m b r a s , assi m co m o naturalm e nt e o mund o tam b é m não<br />

pod e m ais ser rec o n h e c i d o co m o tarefa. A apraxia, ou<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de executar aç õ e s práticas, imp ed e que os<br />

recurs o s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> seja m aplicad o s de um a man eira que faça<br />

sentido. Os paci ent e s afun<strong>da</strong> m na inativi<strong>da</strong>d e e no des a m p a r o .<br />

Eles tam b é m não pod e m mais li<strong>da</strong>r co m um mund o que eles<br />

não rec o n h e c e m mais.<br />

Os estad o s depr e s siv o s reduz e m o tem a a seu den o m i n a d o r<br />

co m u m <strong>da</strong> man eira mais clara pos sív el. A palavra de- pre s s ã o<br />

tam b é m pod e ser enten did a co m o dis- ten s ã o , e de fato ela<br />

repre s e nt a um a form a não libera<strong>da</strong> de relaxa m e n t o . Os<br />

pacient e s se deixa m cair aní mic a e fisica m e n t e e deixa m as<br />

preo c up a ç õ e s de suas vi<strong>da</strong>s para o am bi e nt e. Mostra- se aqui<br />

de form a drástica que o retorn o às orig en s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> m er g ulh o u<br />

nas so m b r a s . Em vez de voltar a ser crianç a do ponto de vista<br />

redimid o, eles regride m à i<strong>da</strong>d e infantil física, aní mic a e<br />

espiritual m e nt e. Em vez de nova m e n t e colo c ar- se ad mirad o s<br />

diante do milagr e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> co m a bo c a e o cora ç ã o ab erto s, eles<br />

afun<strong>da</strong> m na mud e z. Em vez de con q uistar o círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

co m pequ e n o s pas s o s , eles giram e m círculos co m pas s o s<br />

minús c ulo s e se disp ers a m . Eles volta m a se refugiar na falta<br />

de resp o n s a bili<strong>da</strong>d e <strong>da</strong> infância, des ej a m aten ç ã o e cui<strong>da</strong>d o s<br />

se m qualqu er contrap arti<strong>da</strong> e, se m ter con s ci ê n ci a diss o,<br />

exer c e m pod er ao impor a famílias inteiras ou a indivíduo s<br />

próxim o s um a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e que eles de man eira algu m a<br />

47<br />

0


estã o dispo st o s a assu mir. A imag e m do neurônio e m p ar e d a d o<br />

co m suas ligaç õ e s ininterruptas tornad a s inúteis que ag o niza<br />

lenta m e n t e é o impre s si o n a nt e esp elh o anatô mi c o <strong>da</strong> situaç ã o .<br />

O asp e ct o de fuga tam b é m apar e c e quan d o se enten d e depres<br />

s ã o <strong>da</strong> man eira m ais corrent e, co m o pres si o n ar para<br />

baixo, já que todo s os impuls o s vitais são reb aixad o s . O<br />

resultad o é a m orte e m um corp o vivo. Finalm e nt e am b o s , o<br />

relaxa m e n t o total não- redimid o e a co m pl eta supres s ã o <strong>da</strong>s<br />

en er gi a s vitais, leva m à m orte.<br />

Mais alé m de seu lado deprim e nt e, os sinto m a s per mite m<br />

vislum br ar a variante redi mi<strong>da</strong>, na qual a lição a ser apren di<strong>da</strong><br />

se reflete. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> m e m ó ri a significa tam b é m , libertar- se do<br />

pas s a d o . Desiste- se de co m pr o m i s s o s e obriga ç õ e s . A<br />

inquietaç ã o e o impuls o de m o vi m e nt ar- se ac e ntua m a<br />

importân cia de m o v er- se e pôr- se a ca min h o - pequ e n o s<br />

pas s o s são m elh or e s do que nenhu m . A des ori e ntaç ã o e a<br />

incap a ci<strong>da</strong>d e de sab er que m se é faz pen s ar e m paralelo s<br />

mitoló gic o s . Pode e m er gir Ulisses, cujo rec o n h e c i m e n t o de que<br />

era Ningué m lhe salvou a vi<strong>da</strong> perant e o gigant e antrop ófa g o<br />

Polifem o . Ele tinha prendid o Ulisses e seus co m p a n h e ir o s e m<br />

uma cav er n a e am e a ç a v a dev or á- los. Mas Ulisses já tinha<br />

apren did o o suficiente e m seu long o ca minh o . Quando<br />

Polifem o perguntou que m ele era, ele resp o n d e u: "Ningué m ."<br />

Em se guid a Polifem o se deixou burlar e o deixou pas s ar. A<br />

preten s ã o do eg o de ser singular e extraordin ário pod e ser<br />

vislum br a d a na volta ao lar <strong>da</strong> alm a que a Odiss éia des cr e v e .<br />

Isso pod e culmin ar no rec o n h e c i m e n t o <strong>da</strong> própria ignorância<br />

diante do mistério <strong>da</strong> criaç ã o . Por muito que o eg o tenha se<br />

inflado, e m última instân cia ele é insignificante e um ningu é m .<br />

Esse rec o n h e c i m e n t o força o quadr o de sinto m a s de man eira<br />

drástica. Ulisses e Sócrates m o stra m a liberaç ã o des s a tarefa<br />

e m plena con s ci ê n ci a. Immanu el Kant pod e explicitar o quanto<br />

é important e es s e pas s o de relativizaç ã o e sup er a ç ã o de to<strong>da</strong><br />

intelig ên ci a e a volta ao lar, ou seja, o retorn o; ele, con sid er a d o<br />

o ponto mais alto do con h e ci m e n t o <strong>da</strong>qu el a ép o c a , contraiu o<br />

mal de Alzheim er ao s 80 ano s de i<strong>da</strong>d e.<br />

47<br />

1


A mud e z pod e significar a quietud e diante de um mun d o que<br />

caus a esp a nt o e so br e o qual já se falou o suficiente. Da<br />

apraxia, a incap a cid a d e para as cois a s práticas, pod e- se ler a<br />

exig ê n ci a de deixar a vi<strong>da</strong> prática ativa e m paz, assi m co m o o<br />

âm bito do sab er (per<strong>da</strong> de me m ó ri a). O objetivo é na ver<strong>da</strong>d e o<br />

rec o n h e c i m e n t o , m a s no sentido de Ulisses, no sentido <strong>da</strong><br />

religio e <strong>da</strong> filosofia co m o am or à sab e d o ria. Seria o cas o de se<br />

pen s ar aqui na sop hia, a sab e d o ri a feminina <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que não<br />

neg a o sentim e nt o. A de- pre s s ã o indica a dis- ten s ã o , a<br />

con s ci ê n ci a retroativa do próprio lar <strong>da</strong> alm a. Após a tens ã o<br />

máxi m a no ponto culminant e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, no âm bito <strong>da</strong> crise <strong>da</strong><br />

m eia- i<strong>da</strong>d e o ca min h o do des e n v o lvi m e nt o tem por objetivo<br />

ab and o n a r o âm bito <strong>da</strong>s tens õ e s e retornar à disten s ã o total <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>d e. A euforia que surg e entre as fas e s depr e s siv a s pod e<br />

<strong>da</strong>r um gostinh o <strong>da</strong> be m - aventuran ç a que corre s p o n d e a es s e<br />

âm bito. Realizar e m si o reino cele st e de Deus é o objetivo de<br />

to<strong>da</strong>s as vi<strong>da</strong>s. A vi<strong>da</strong> na polari<strong>da</strong>d e de nos s o mun o de<br />

opo st o s se m pr e visa e m última instân cia a uni<strong>da</strong>d e, o paraís o,<br />

o nirvan a ou co m o quer que se queira cha m á - lo.<br />

Freqü e nt e m e n t e , são duas as pes s o a s afetad a s por es s e<br />

quadr o de sinto m a s . Quando se pens a que os dep ó sito s de<br />

albu min a co m e ç a m 30 ano s ante s do surto dos sinto m a s e que<br />

o percurs o <strong>da</strong> do e n ç a pod e durar até 15 ano s, pod e- se calcular<br />

o que isso significa para o co m p a n h eir o. O probl e m a para o<br />

cui<strong>da</strong>d or, exigido durante todo o dia e às vez e s tam b é m à<br />

noite, pare c e pratica m e n t e insolúv el. Pess o al cui<strong>da</strong>d or<br />

estran h o é rapi<strong>da</strong> m e n t e exigido até o limite devid o à dificul<strong>da</strong>d e<br />

<strong>da</strong> situaç ã o , e na m ai oria dos asilos utilizam calm a nt e s <strong>da</strong><br />

família do Diazep a m (Valium, etc.) que real m e nt e torna m os<br />

pacient e s m ais "tratáv eis"; ma s os sinto m a s piora m. Parentes,<br />

que na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s são esp o s a s ou filhas, têm a<br />

incalculáv el vantag e m de am ar os pacient e s ma s, co m isso,<br />

tam b é m o probl e m a de ter um a imag e m positiva deles. Na<br />

maioria dos cas o s , es s a imag e m é destruí<strong>da</strong> se m deixar resto s,<br />

e o que os esp er a é um a desp e di d a que dura ano s, pas s o a<br />

pas s o , irrevo g á v el, que requ er m ais força do que a que se<br />

47<br />

2


pod e exigir de um a pes s o a . Muitas vez e s não se sab e que m<br />

sofre m ais, se os do e nt e s ou aqu el e s que per m a n e c e m<br />

voluntaria m e n t e a seu lado. Enquanto os pacient e s regride m<br />

inexor av el m e n t e e m seu ca min h o , os ac o m p a n h a n t e s trilham<br />

um ca minh o de auto- sacrifício. É um a variante do ca min h o de<br />

volta que foi neg a d a ao s do e nt e s a eles confiad o s . Enquanto<br />

eles ag or a precis a m perc orr ê- lo incon s ci e nt e m e n t e , isto é,<br />

pad e c ê - lo, os aju<strong>da</strong>nt e s que estã o a seu lado são forçad o s a<br />

co m p artilhá- lo con s ci e nt e m e n t e . Algum a s pes s o a s que se<br />

entreg ar a m a es s e ca min h o conta m o quanto ele os<br />

transfor m o u e os enriqu e c e u . Quem se prop õ e es s a tarefa<br />

so br e- hum a n a apren d er á muito so br e si m e s m o e so br e o ser<br />

infantil que se es c o n d e e m cad a pes s o a , so br e a corag e m e<br />

so br e a humil<strong>da</strong>d e . Ao contrário <strong>da</strong> educ a ç ã o de um a crianç a,<br />

ond e todo s os proble m a s estã o ligado s a um a persp e ctiva de<br />

m elh or a, o deprim e nt e aqui é o con h e ci m e n t o de que es s a<br />

persp e ctiva não existe. Enquanto as crianç a s cres c e m , os<br />

pacient e s de Alzheim er afun<strong>da</strong> m . Ness e ponto, as tentativas de<br />

educ a ç ã o feitas pelo s ac o m p a n h a n t e s che g a m co m déc a d a s<br />

de atras o e, na ver<strong>da</strong>d e , estã o fora de lugar. Seria nec e s s á ri o<br />

m o strar o itinerário do ca minh o de volta ao lar. A fase mais<br />

importante e m ais difícil do ca min h o hum a n o , a des ci<strong>da</strong> às<br />

treva s, tom o u form a e não é m e n o s important e para o con dutor<br />

de alm a s voluntário que para os con duzido s . Percorrer es s e<br />

ca min h o faz lem br ar a história de Orfeu e Eurídice, e m b o r a e m<br />

noss o mund o na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s seja um a mulh er que<br />

assu m e voluntaria m e n t e a des cid a ao mund o dos m orto s por<br />

am or a uma alm a queri<strong>da</strong>. Com es s a bas e, torna- se<br />

co m pr e e n s í v el quan d o parc eiro s cui<strong>da</strong>d or e s ou crianç a s<br />

relata m os m o m e n t o s felizes do am or que so m e n t e pod e se<br />

manife star quan d o a coura ç a intelectual se des m o r o n a . Nos<br />

está gi o s posterior e s do ca min h o , que se aproxim a m cad a vez<br />

mais <strong>da</strong>s trevas impe n etráv ei s, es s a s exp eriên ci a s precis a m<br />

entã o ser tam b é m sacrificad a s : o am or individual pelo ser<br />

hum a n o individual transfor m a- se nec e s s a ri a m e n t e em um am or<br />

suprap e s s o a l que tudo abran g e , pois a pes s o a que se<br />

47<br />

3


con h e c e u tão be m des a p ar e c e na es curidã o, e é co m o se<br />

ficás s e m o s so m e n t e co m sua form a infantil. Dentro, entretanto,<br />

há so m e n t e um tedio s o vazio 88 . A pes s o a iluminad a tam b é m<br />

desist e de seu eg o, e sua individuali<strong>da</strong>d e des a p ar e c e quan d o<br />

ela entra no grand e vazio. A diferen ç a es s e n ci al, entretanto,<br />

está e m sua con s ci ê n ci a.<br />

À m e di<strong>da</strong> e m que este quadr o de sinto m a s reforç a os<br />

"fenô m e n o s nor m ai s de dec a d ê n ci a <strong>da</strong> velhic e", colo c a um<br />

esp elh o nítido e apav or a nt e diante de um a soci e d a d e que<br />

conviv e co m um num er o cad a vez m ai or de pacient e s de<br />

Alzheim er. Para nós, a velhic e quer dizer muitas vez e s tornarse<br />

infantil, seja co m bas e na es cl er o s e do cér e br o 89 , outras<br />

form a s de de m ê n c i a, derra m e s múltiplos* ou a degr a d a ç ã o<br />

nor m al do cér e br o . A tarefa propria m e nt e dita, entretanto, é<br />

retorn ar con s ci e nt e m e n t e e "voltar a ser co m o as crianç a s".<br />

P er g u nta s para o início do qua dr o de sinto m a s e para os<br />

cui<strong>da</strong>d or e s<br />

1 Alca n c e i a curva, en c o ntr ei o ponto de retorn o e m minha<br />

vi<strong>da</strong> e o utilizei para voltar para cas a?<br />

2. Com o vai a crianç a que há e m mi m? Mantive a ligaç ã o<br />

co m ela e volto a aproxim ar- m e dela na velhic e? Volto a<br />

aproxi m ar- m e <strong>da</strong>s crianç a s?<br />

3. Pelo que pod eria m e "orientar"? De ond e teria de vir a<br />

luz em minh a vi<strong>da</strong>? Que aju<strong>da</strong>s deixo de utilizar?<br />

4. De que man eira se m pr e volto a perd er contato co m<br />

outras pes s o a s e co m a vi<strong>da</strong>?<br />

5. Com o é que recus o a resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e por minh a<br />

própria vi<strong>da</strong>?<br />

47<br />

4


Conclusão<br />

Para con cluir, resta a questã o de co m o é que se pod e ficar<br />

saud á v el diante de tam a n h a quanti<strong>da</strong>d e de imag e n s . É<br />

pos sív el sarar co m imag e n s ? O proc e s s o de cura por m ei o de<br />

imag e n s e m si é tão simple s que ch e g a a parec er co m plic ad o<br />

para as pes s o a s intelectualizad a s . Noss o probl e m a co m<br />

padrõ e s e imag e n s está so br etud o no pens a m e n t o de<br />

orienta ç ã o m a s c ulin o- analítica, que tem e m pouc a conta o<br />

significad o do pólo opo st o, feminino- sim b ólic o. Ness e sentido o<br />

proc e di m e n t o contrário, a enfatizaç ã o <strong>da</strong> esfer a imagin ativa,<br />

seria mais ade q u a d o à noss a reali<strong>da</strong>d e interna.<br />

Pode m o s pas s ar se m a n a s e até m e s m o m e s e s se m o pólo<br />

ma s c ulino <strong>da</strong> anális e. Muitos povo s renun cia m totalm e nt e a ele<br />

e, co m isso, ao progr e s s o tal co m o nós o enten d e m o s , se m<br />

qualqu er prejuízo para sua saúd e corp oral ou aní mic a. Mas<br />

cas o a vivên ci a <strong>da</strong>s imag e n s interna s esteja aus e nt e apen a s<br />

por algun s dias, ou por algu m a s noites, des e n v olv e m o s<br />

perturba ç õ e s m e ntais sérias. Nos m o d e r n o s labor atório s do<br />

son o, pod e- se imp e dir que voluntários son h e m . Eles são<br />

des p erta d o s se m pr e que o m o vi m e nt o de seus olho s indica m o<br />

início <strong>da</strong> fas e de son h o s , ou seja, de REM 90 . Ao final <strong>da</strong> noite<br />

eles dor mira m de sete a oito horas se m son h ar. Após no<br />

máxi m o nov e dias, até o último deles pas s a a ter alucinaç õ e s ,<br />

isto é, eles vê e m e ouv e m cois a s que ningu é m alé m deles<br />

perc e b e . Essas imag e n s ilusórias que se vê co m os olho s<br />

ab erto s são cha m a d a s de alucina ç õ e s ópticas pela psiquiatria,<br />

sen d o que as voz e s ilusórias que se ouv e são cha m a d a s de<br />

alucinaç õ e s acústica s. Aquelas imag e n s interna s que ag or a<br />

não pod e m mais ser elab or a d a s nos son h o s torna m - se tão<br />

prep ot e nt e s a ponto de impor- se à con s ci ê n ci a diurna e tornarse<br />

visíveis até m e s m o co m os olho s ab erto s. Isso deixa claro o<br />

quanto as imag e n s interna s são es s e n ci ai s para a vi<strong>da</strong> (e até<br />

m e s m o para a so br e viv ê n ci a), sen d o que aqui se trata ap en a s<br />

47<br />

5


de conte m pl a ç ã o e de form a algu m a, ain<strong>da</strong>, de interpreta ç ã o .<br />

Essa esp é ci e de sho w de imag e n s é viven ci ad a to<strong>da</strong> s as noites<br />

por to<strong>da</strong> pes s o a m e ntal m e nt e saud á v el, até m e s m o por<br />

aqu el a s que não se lem br a m de seus son h o s . Que isso afete<br />

um núm er o cad a vez m ai or de pes s o a s é um sinal de quã o<br />

pouc o o lado feminin o imagin ativo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e se expres s a<br />

livre m e n t e no ser hum a n o m o d e r n o . As imag e n s interna s<br />

m er gulha m mais profun<strong>da</strong> m e n t e nas so m b r a s à m e di<strong>da</strong> que se<br />

presta m e n o s aten ç ã o ao s son h o s , e m que os conto s de fa<strong>da</strong>s<br />

são m e n o s con sid er a d o s e as fantasias perd e m significad o. A<br />

seguir, todo des e nt e n di m e n t o co m eles é trabalh o nas so m b r a s<br />

e é saud á v el na m e di<strong>da</strong> e m que recup er a aquilo que foi<br />

perdido, reprimido, e que está aus e nt e.<br />

Te m o s a sen s a ç ã o de que evident e m e n t e esta m o s certo s<br />

e m nos s a prefer ê n ci a pelo pólo m a s c ulin o- analítico e pela<br />

con s ci ê n ci a critica diurna e m relaç ã o à <strong>da</strong> noite. Mas a posiç ã o<br />

contrária é igualm e nt e imagin áv el e tam b é m existe. Os sen oi<br />

são um pov o que dá prefer ê n ci a à noite co m seus son h o s . Seu<br />

dia gira exclusiva m e n t e ao redor <strong>da</strong> noite co m o pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de ter exp eriên ci a s naqu el e plan o de imag e n s e de entrar e m<br />

contato co m o divino. Entre os indian o s tam b é m se pod e<br />

viven ci ar ain<strong>da</strong> o quanto os grand e s son h o s e visõ e s são<br />

centrais para a vi<strong>da</strong> diária e para a vi<strong>da</strong> co m o um todo.<br />

Que pres e n ci ar es s a s imag e n s atua por si m e s m o é<br />

m o strad o pelo fato de que isso m ant é m noss o equilíbrio<br />

aní mic o. Para tal, a cap a cid a d e intelectual de interpreta ç ã o é<br />

des n e c e s s á ri a. Aqui se pod e es clar e c e r a questã o de co m o as<br />

crianç a s li<strong>da</strong>m co m as interpreta ç õ e s . De man eira geral, elas<br />

não têm qualqu er nec e s si d a d e de suas variantes intelectuais e<br />

pod e m poupar- se es s e s rodei o s. Elas tend e m a ac eitar<br />

esp o nt a n e a m e n t e as imag e n s e a integrá- las a seu mund o<br />

aní mic o. O trabalh o de Elisab eth Kübler- Ross é esp e ci al m e n t e<br />

apropriad o para aca b ar co m o prec o n c e it o de que as crianç a s<br />

não pod e m fazer na<strong>da</strong> co m o sim b olis m o e co m as m e n s a g e n s<br />

dos sinto m a s . Ao contrário, elas freqü e nt e m e n t e estã o e m<br />

m elh or situaç ã o para isso que seus pais intelectualizad o s , que<br />

47<br />

6


enten d e m tudo e, muitas vez e s , ain<strong>da</strong> assi m não apre e n d e m<br />

na<strong>da</strong>. Por es s a razão não é precis o, por exe m pl o, con sid er ar<br />

as enc arn a ç õ e s na psicot er apia co m crianç a s , porqu e esta s<br />

ain<strong>da</strong> con sid er a m importante s o sim b olis m o dos conto s de<br />

fa<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s fantasias. Enquanto não são tom a d a s pelo<br />

pen s a m e n t o de que tudo é "apen a s" fantasia, as crianç a s estã o<br />

mais ab erta s para seus padrõ e s interno s. Os pas s o s de<br />

apren dizad o que elas freqü e nt e m e n t e dão por oc a si ã o <strong>da</strong>s<br />

do e n ç a s infantis típicas falam por si m e s m o s . Nos adultos, ao<br />

contrário, a distân cia intelectual é intransp o nív el, porqu e eles<br />

ne m relacio n a m as imag e n s con sig o m e s m o s ne m as<br />

con sid er a m ab s oluta m e n t e importante s.<br />

Na terapia infantil, pod e- se deixar que os pequ e n o s<br />

pacient e s son h e m co m um conto de fa<strong>da</strong>s e apó s algun s<br />

minuto s pergunte m ond e é que eles estã o na história. O<br />

estí m ul o para que eles m e s m o s continue m contan d o a história<br />

é se g uid o alegr e m e n t e na mai oria <strong>da</strong>s vez e s , e assi m se obtê m<br />

e m imag e n s gráficas um padrã o atinad o co m a situaç ã o de<br />

suas vi<strong>da</strong>s. Uma outra pos sibili<strong>da</strong>d e, tão simples co m o eficaz,<br />

é deixar que a própria família seja son h a d a so b a form a de<br />

anim ais. Dai resulta m, igual m e nt e se m proble m a s , as<br />

estruturas familiares e o padrã o de relacion a m e n t o s . Com o as<br />

crianç a s esp o ntan e a m e n t e con sid er a m es s a s imag e n s<br />

importante s e as relacio n a m con sig o m e s m a s , na m ai oria <strong>da</strong>s<br />

vez e s elas estã o e m con diç õ e s de influen ciar a reali<strong>da</strong>d e de<br />

suas vi<strong>da</strong>s por m ei o de m o dificaç õ e s no padrã o de imag e n s .<br />

Com freqü ê n ci a, isso é mais fácil para elas que para os<br />

adultos.<br />

Nós quas e se m pr e aba n d o n a m o s ced o noss a ingenui<strong>da</strong>d e<br />

infantil, influenciad o s por um a ped a g o g i a orientad a para a<br />

eficiên cia. Já no início <strong>da</strong> es c ol a primária, co m e ç a m o s a ouvir:<br />

"Não durm a! Não son h e! Não fique fantasian d o! Você está no<br />

mund o <strong>da</strong> Lua! É melh or con c e ntrar- se!". Quando es s a<br />

educ a ç ã o dá resultad o s , dela resulta m adultos totalm e nt e se m<br />

fantasia, que não se lem br a m mais de seus son h o s e que<br />

freqü e nt e m e n t e não con s e g u e m mais ne m m e s m o dor mir. Não<br />

47<br />

7


é raro que eles termin e m nos con s ultórios dos psicólo g o s para<br />

voltar a apren d er es s a s facul<strong>da</strong>d e s prim ordial m e nt e hum a n a s .<br />

Não é raro que a ped a g o g i a atual confund a trans mi s s ã o de<br />

con h e ci m e n t o s co m form a ç ã o . A ver<strong>da</strong> d eira forma ção tem a<br />

form a não so m e n t e na palavra, ma s tam b é m no coraç ã o .<br />

Com o micro c o s m o s (ser hum a n o), so m o s uma repro du ç ã o<br />

do ma cr o c o s m o s (mund o) e traze m o s e m nós to<strong>da</strong>s as<br />

imag e n s des s e mun d o . Quando es qu e c e m o s isso, elas<br />

m er gulha m cad a vez mais profun<strong>da</strong> m e n t e no incon s ci e nt e e a<br />

form a ç ã o se deg e n e r a e m um a torrente de inform a ç õ e s a cuja<br />

altura não esta m o s , m e s m o co m nos s o intelect o alta m e nt e<br />

treinad o. Até m e s m o na palavra inform a ç ã o es c o n d e - se ain<strong>da</strong><br />

a form a, o padrã o, e m o stra quã o profun<strong>da</strong> m e n t e esta m o s<br />

ligad o s a es s e asp e ct o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>d e . As imag e n s são o<br />

alim e nt o <strong>da</strong> alm a, se m es s e alim e nt o noss a s alm a s m orr e m de<br />

fom e.<br />

As imag e n s <strong>da</strong>s do e n ç a s , os sinto m a s , tam b é m são<br />

alim e nt o <strong>da</strong> alm a, e muito m elh or e s que quais qu er imag e n s .<br />

Este livro é uma excurs ã o intelectual pelo mund o <strong>da</strong>s imag e n s<br />

<strong>da</strong>s do e n ç a s , realizad o co m a esp er a n ç a de que as imag e n s<br />

não fique m estan c a d a s na cab e ç a , m a s leve m a um a form a ç ã o<br />

interior a resp eito <strong>da</strong> relaç ã o entre o corp o e a alm a. Seria<br />

muito bonito se a co m pr e e n s ã o racion al foss e suficiente e<br />

foss e pos sív el curar- se atrav é s <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> co m pr e e n s ã o de<br />

padrõ e s . Segund o to<strong>da</strong> s as exp eriên ci a s, isso é a exc e ç ã o . A<br />

co m pr e e n s ã o precis a levar a "agarrar" e tocar a alm a e <strong>da</strong>r<br />

ac e s s o ao mun d o dos senti m e nt o s e <strong>da</strong>s sen s a ç õ e s . Quando,<br />

ao final de A Doe n ç a co m o Ca minh o, dize m o s que conte m pl ar<br />

e con h e c e r é suficiente, esta m o s nos referind o co m isso a um<br />

con h e ci m e n t o no sentido bíblico, um a ad mis s ã o de si m e s m o<br />

no sentido mais profund o. Abraão con h e c e u Sara, e o<br />

resultad o ain<strong>da</strong> assi m foi Isaac.<br />

Portanto, a co m p r e e n s ã o intele ctual co m o prim eiro pas s o<br />

não deixa de ser importante, ela só não é suficie nt e. A<br />

ad mis s ã o do próprio mun d o de imag e n s 91 pod eria ser um<br />

segun d o pas s o nes s a direç ã o . Viagen s imagin árias feitas co m<br />

47<br />

8


a aju<strong>da</strong> de músic a para a m e ditaç ã o e imag e n s verb ais vão<br />

mais fundo que excurs õ e s intelectuais. Quando a leitura de um<br />

livro já é perig o s a para velha s posturas e prec o n c eito s ,<br />

excurs õ e s nas as a s <strong>da</strong>s imag e n s interiores,<br />

con s e q ü e n t e m e n t e , contê m exp eri ên ci a s e perig o s m ais<br />

profund o s para velho s m o d o s de co m p o rta m e n t o e de do e n ç a .<br />

As viag e n s no sentido do sub stituto 92 aqui repre s e nt a d o leva m<br />

muitas vez e s a âm bito s que freqü e nt e m e n t e per m a n e c i a m<br />

estran h o s e fech a d o s .<br />

Não se pod e certa m e n t e dizer que viajar é algo inofen siv o.<br />

Mas não viajar é muito m ais perigo s o que viajar. Quem<br />

apren d e u a con h e c e r o mun d o extern o viajand o tam b é m<br />

precis o u enfrentar perigo s. Caso ele, ao contrário, tives s e<br />

per m a n e c i d o por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> e m sua ci<strong>da</strong>d e natal, teria evitad o<br />

es s e s perig o s, ma s e m co m p e n s a ç ã o estaria muito m ais<br />

vulneráv el e m relaç ã o ao des c o n h e c i d o . Recon h e c i d a m e n t e ,<br />

as viag e n s forma m e, co m isso, alim e nta m a alm a co m<br />

imag e n s .<br />

Algo análo g o oc orr e co m noss a s viag e n s interiores. O<br />

mund o interno modifica- se tão pouc o por ser con h e ci d o co m o o<br />

extern o. Mas am b o s deixa m de ser am e a ç a d o r e s , porqu e todo<br />

perig o con h e ci d o am e dr o nt a m e n o s . Em última instância, co m<br />

os sinto m a s não se trata de um a modificaç ã o <strong>da</strong>s coisa s e m si,<br />

dos tem a s e dos conteú d o s <strong>da</strong>s do e n ç a s , ma s de mud ar a<br />

man eira de ver. A tarefa de apren dizad o e tam b é m o padrã o<br />

per m a n e c e m os m e s m o s , ma s faz um a grand e diferen ç a se<br />

es s e padrã o é extraditad o para o plan o físico e m um círculo<br />

vicios o ou vive livre m e n t e e m um plan o liberad o . Quem es c uta<br />

sua voz interior pod e tam b é m co m isso ouvir cois a s pouc o<br />

elogio s a s a seu resp eito. Visto des s a m an eir a, a curto prazo é<br />

mais agrad á v el não es cutá- la. Mas ignorá- la é perig o s o a long o<br />

prazo, pois quan d o a voz interior se torna rep e ntina m e n t e alta<br />

apó s ter sido neglig e n ci a d a por muito tem p o , já é tarde. Na<br />

maioria <strong>da</strong>s vez e s, o psiquiatra con sultad o não a es c utará e<br />

dificilm e nt e lhe atribuirá algu m significad o, m a s tentará<br />

bloqu e á- la co m arm a s quí mic a s. A exp eriên ci a diz que faz mais<br />

47<br />

9


sentido apren d er a con h e c e r o mund o interior a temp o e co m<br />

cal m a que so b pres s ã o long a m e n t e acu m ulad a. O<br />

relacion a m e n t o co m o corp o corresp o n d e ao relacion a m e n t o<br />

co m a alm a. A ignorância e a repress ã o são mais cô m o d a s a<br />

curto prazo, ma s a long o prazo é mais saud á v el atrev er- se a<br />

confrontar as imag e n s interna s e cres c e r, e m vez de<br />

pres si o n ar. Os dois tipos de m e di cin a e tam b é m de psicol o gia<br />

têm suas vantag e n s : a medi cin a e a psicolo gi a aca d ê m i c a s têm<br />

por objetivo a prosp eri<strong>da</strong>d e a curto prazo, pond o de lado a<br />

cura, en qu a nt o a m e dicin a e terapia interpretativas colo c a m o<br />

be m - estar em segun d o plan o e busc a m a cura a long o prazo.<br />

Antiga m e nt e viajava- se m e n o s pelo mun d o exterior, e<br />

quan d o se viajava, tratava- se na m ai oria <strong>da</strong>s vez e s de<br />

pere grina ç õ e s , que ligava m o mund o extern o co m o interno. A<br />

tend ê n ci a de e m pr e e n d e r viag e n s extern a s se m relaç ã o co m<br />

viag e n s aní mic a s internas é relativa m e n t e nova e dá um a<br />

impres s ã o peculiar a um olhar m ais atento. Viagen s culturais,<br />

que abs oluta m e n t e não estã o interes s a d a s no culto, flutuam no<br />

ar de man eira tão estran h a co m o as viag e n s de form a ç ã o , que<br />

evita m esta b el e c e r contato co m as imag e n s interiores. Elas<br />

pod eria m ser facilm e nt e substituí<strong>da</strong>s por filme s culturais. As<br />

cha m a d a s viag e n s de resta b el e ci m e n t o , con sid er a d a s do ponto<br />

de vista m é di c o , são e m sua m ai oria um es c árnio à saúd e.<br />

Essa mis éria <strong>da</strong>s viag e n s ch e g o u até ao s org anizad or e s : estã o<br />

sen d o des e n v o l vid o s con stant e m e n t e nov o s con c eito s que, na<br />

m e di<strong>da</strong> e m que lhes falta a relaç ã o co m viag e n s interiores, são<br />

logo nova m e n t e des c arta d o s . Viagen s de aventura pod e m ser<br />

mais eletrizante s que as que se faz para tom ar ban h o de sol,<br />

ma s as ver<strong>da</strong> d eira s aventura s são se m pr e internas; na m elh or<br />

<strong>da</strong>s hipóte s e s , elas tam b é m o são extern a m e n t e .<br />

Em ép o c a s antigas, a viag e m do herói era um ca min h o<br />

interior que unica m e n t e se refletia no exterior. Viagen s rum o às<br />

próprias tarefas de apren dizad o , tais co m o elas se reflete m nas<br />

paisa g e n s interna s dos quadr o s de sinto m a s , são as<br />

ver<strong>da</strong>d eira s viag e n s heróic a s . Elas co m freqü ê n ci a não são<br />

esp e ci al m e n t e agrad á v ei s e nunc a belas, às vez e s elas exig e m<br />

48<br />

0


muita cora g e m , m a s elas são se m pr e rec o m p e n s a d o r a s . Tal<br />

co m o foi des crito no prim eiro volum e , um guia pod e ser útil e m<br />

viag e n s long a s, e às vez e s ele é ne c e s s á ri o. Em noss a ép o c a,<br />

es s e s guias se cha m a m psicot er ap e ut a s. Eles existira m e m<br />

to<strong>da</strong>s as ép o c a s , só que antes, quan d o os ser e s hum a n o s<br />

viviam por si m e s m o s nos mund o s de imag e n s de seus mitos e<br />

conto s de fa<strong>da</strong>s e confiava m e m sua fantasia, eles tinha m<br />

outros no m e s e m e n o s trabalh o. Isso não estav a tão<br />

relacion a d o co m interv en ç õ e s e m crise s agud a s , m a s sim co m<br />

a indicaç ã o do ca minh o e o ac o m p a n h a m e n t o àqu el e outro<br />

mund o intern o que está se m pr e lá e que nos esp er a. Quando<br />

não tom a m o s qualqu er m e did a para nos aproxim ar- nos dele,<br />

ele ve m ao nos s o en c o ntro e nos faz sinais so b a form a de<br />

sinto m a s e de quadr o s de do e n ç a s co m pl et o s .<br />

Quando ve m o s e utilizam o s as oportuni<strong>da</strong>d e s conti<strong>da</strong>s nos<br />

sinto m a s , noss a vi<strong>da</strong> não se torna nec e s s a ri a m e n t e mais fácil,<br />

ma s nós nos torna m o s mais con s ci e nt e s <strong>da</strong> resp o n s a b ili<strong>da</strong>d e e<br />

tam b é m mais ricos. Ca<strong>da</strong> erro se transfor m a e m pos sibili<strong>da</strong>d e<br />

de cres c e r a partir dele, já que acr e s c e n t a algo à nos s a vi<strong>da</strong><br />

que faltava até entã o. Portanto, a valoraç ã o pod eria <strong>da</strong>r um a<br />

volta de 18 0 graus: e m vez de afastar os proble m a s ou<br />

es quivar- se deles, é um a alegria ir a seu en c o ntro e des c o b rir<br />

as pos sibili<strong>da</strong>d e s que neles se oculta m. Ness e sentido, as<br />

pergunta s levantad a s e m cad a capítulo pod e m tornar- se o<br />

fun<strong>da</strong> m e n t o de um a m e ditaç ã o pes s o al, e m um a viag e m ao<br />

mund o dos sím b ol o s <strong>da</strong> própria proble m á tic a. O que tem o s a<br />

perd er? O temp o de vi<strong>da</strong> abr e- se diante de nós co m o um vasto<br />

ca m p o de pos sibili<strong>da</strong>d e s . Tudo é pos sív el quan d o ac eita m o s o<br />

des afio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não so m e n t e no sentido extern o, ma s tam b é m<br />

no intern o. Uma vi<strong>da</strong> extern a m e n t e agre s siv a co m cora g e m e m<br />

relaç ã o às próprias pos sibili<strong>da</strong>d e s pod e contribuir para o<br />

des e n v olvi m e nt o , um a vi<strong>da</strong> interior corajo s a pod e levar o<br />

des e n v olvi m e nt o ao objetivo.<br />

As m ais divers a s religiõ e s faze m refer ê n ci a ao ca min h o que<br />

pas s a pelo mun d o interior, e e m noss o âm bito cultural a<br />

doutrina cristã dá indicaç õ e s inequív o c a s a es s e resp eito. Com<br />

48<br />

1


o dito já citado: "Seja quent e ou frio, o m orn o eu cuspirei!",<br />

Cristo ac o n s el h a a que se ous e até os extre m o s , adv ertind o ao<br />

m e s m o tem p o contra os co m pr o m i s s o s m orn o s e falso s. Caso<br />

es s e ca min h o , o <strong>da</strong> viag e m her óic a, seja con quistad o , pas s a a<br />

ser finalm e nt e váli<strong>da</strong> aqu el a outra senten ç a: "Se algué m<br />

golp e ar sua fac e es qu er d a, ofer e ç a- lhe a direita". O ho m e m<br />

auto- realizad o, que en c o ntrou o centro entre os pólos e o<br />

centro e m si m e s m o , não avalia mais e sab e no fundo de seu<br />

coraç ã o que tudo o que distribui volta para ele.<br />

Em última instância, to<strong>da</strong> terapia que m er e c e es s e no m e<br />

pod e ser resu mi d a naqu el e que é talvez o m ais importante dito<br />

de Cristo: "Ama teus inimig o s". Jamais se pod er á dizer mais<br />

so br e as terapias, ne m des cr e v ê - las de man eira m ais brev e e<br />

con cis a. Nós hoje tem o s a tend ê n ci a de des cr e v e r a m e s m a<br />

cois a de m an eira m ais m o d e r n a e m ais co m plic a d a: "Aceite de<br />

volta suas projeç õ e s ". Pois tudo o que nos falta para a cura<br />

está e m nos s a so m b r a, e co m o lá não o pod e m o s ne m<br />

quer e m o s ver, nós o projeta m o s so br e sup erfícies de projeç ã o .<br />

Noss o s inimig o s são sup erfícies extern a s de projeç ã o que<br />

reflete m para nós aquilo que não pod e m o s suportar e m nós e<br />

que por isso m e s m o detesta m o s nos outros. Os sinto m a s <strong>da</strong>s<br />

do e n ç a s são inimig o s intern o s para a m ai oria <strong>da</strong>s pes s o a s . O<br />

próprio corp o transfor m a- se e m sup erfície de projeç ã o <strong>da</strong>s<br />

faceta s de que não go sta m o s . Quando con s e g ui m o s am ar os<br />

inimig o s extern o s e intern o s, o resultad o é a cura. E nós o<br />

con s e g uir e m o s tanto m ais facilm e nt e quanto mais estiver m o s<br />

e m condiç õ e s de rec o n h e c e r a do e n ç a co m o lingua g e m <strong>da</strong><br />

alma. Então, o que tem o s é a do e n ç a co m o ca minh o. Este não<br />

é nov o ne m co m plic a d o , ele é tão ate m p o r al, tão simpl e s e tão<br />

exig e nt e co m o as etern a s palavras: AMA TEUS INIMIGOS.<br />

48<br />

2


Notas<br />

48<br />

3


1 De ac ord o co m as estatística s, e m dez ano s o ale m ã o m é di o pass a por uma do e n ç a ond e corre risco de vi<strong>da</strong>,<br />

dez do e n ç a s grav e s e um se m- núm er o de enfer mid a d e s mais leves. Se tom ar m o s mil pes s o a s na rua e m uma<br />

grand e ci<strong>da</strong>d e e as sub m e t e r m o s aos m o d e r n o s m ét o d o s de diagn ó stic o e de exa m e intensivo, não sobraria<br />

nenhu m a totalm e nt e saud á v el.<br />

2 WHO = World Health Organization [Organizaç ã o Mundial <strong>da</strong> Saúd e <strong>da</strong> ONU].<br />

3 Em quí mic a, uma substân ci a é design a d a de catalisad or quan d o põ e e m curso uma reaç ã o se m m o dificar- se<br />

nes s e proc e s s o . A raçã o não pod e oc orrer se m o catalisad or, e portanto a substân cia participa dela, não sen d o<br />

ela m e s m a entretanto altera<strong>da</strong>. Neste ponto a co m p ar a ç ã o fica um pouc o claudic ant e, pois freqü e nt e m e n t e tais<br />

proc e s s o s de cura tam b é m pod e m oc orr er se m o m é dic o e estã o não per m a n e c e inalterad o durante e terapia.<br />

4 Mais rec e nt e m e n t e , a expr e s s ã o PCP tem sido utiliza<strong>da</strong> so br etud o para uma inflama ç ã o pulm o n ar que surg e<br />

principal m e nt e e m pacient e s de AIDS, significand o entã o Pn e u m o c y s ti s carinii pneu m o ni a . O prim eiro P <strong>da</strong><br />

antiga PCP foi eliminad o , já que de qualqu er form a não queria dizer na<strong>da</strong>.<br />

5 Caso a ho m e o p a tia e a m e dicin a chines a seja m con sid er a d a s form a s de m e dicina natural, esta classificaç ã o<br />

não é váli<strong>da</strong>. Tam b é m no âm bito de um a m e dicin a holística, há pelo m e n o s tentativas de se che g a r a uma<br />

filosofia abran g e nt e <strong>da</strong> do e n ç a .<br />

6 Uma diferen ç a important e, ain<strong>da</strong> que so m e n t e gradu al, consiste certa m e nt e na periculo si<strong>da</strong> d e dos efeitos<br />

colaterais devid o às arm a s colo c a d a s e m ca m p o . Quando o proc e di m e nt o alopático não pod e ser evitad o, dev ese<br />

natural m e nt e <strong>da</strong>r prefer ê n cia a rem é di o s que têm pouc o s ou nenhu m efeito colateral. Mas ele s não dev e m<br />

ser con sid er a d o s m ei o s de cura propria m e nt e ditos, já que eles não têm por objetivo a cura ou a perfeiçã o , ma s<br />

so m e n t e a eliminaç ã o dos sinto m a s .<br />

7 Herman Weidelen er, Leb e n s d e u t u n g au s der W eish eit der Spra c h e , p. 19.<br />

8 Parac els o aponta para o fato de que e m última instância todo nest e mund o é ven e n o . Som e nt e a dos e decid e<br />

o quanto algo é ven e n o s o .<br />

9 Lach e s i s muta é tam b é m , muito concr eta m e n t e , uma serp e nt e ven e n o s a .<br />

1 0 Trata- se de álco ol e água que, se gund o cons e g uiu de m o n strar um grupo de pes q uis a vien e n s e , des e m p e n h a<br />

um pap el decisivo na assi milaç ã o do padrã o do m e dic a m e n t o .<br />

1 1 Isso não é esp e ci al m e nt e surpre e n d e n t e para o es ot eris m o , já que a partir diss o ele se m pr e concluiu que<br />

todo nest e mund o polar tem um pólo opost o e que nós só pod e m o s apre e n d e r o mund o por m ei o des s e s<br />

opost o s. Para enten d er "pequ e n o " precis a m o s de "grand e", "bo m" so m e nt e adquire sentido por m ei o de "mau",<br />

etc.<br />

1 2 Alguma s <strong>da</strong>s cha m a d a s culturas primitivas funcion a m se m pratica m e n t e nenhu m enten di m e nt o caus al, ma s<br />

evid e nt e m e n t e não sã o de form a algu m a uma alternativa para nós.<br />

1 3 Ver tam b é m R. Dahlke, Der Men s c h und die W elt sind ein s - Analo gien zwis c h e n Mikrok o s m o s und<br />

Makro k o s m o s , Munique, 19 8 7 .<br />

1 4 A palavra "cont e m pl a ç ã o " já express a e m si m e s m a o contexto análo g o . O prefixo con quer dizer "junto,<br />

unido", templu m era original m e nt e uma regiã o do céu que um Augur tinha de obs erv ar para deduzir de cima as<br />

clav e s para o que está abaixo. "Unitemplar" - o templo acim a no céu e o que está abaixo na terra - era o<br />

significad o original de conte m pl a ç ã o .<br />

1 5 Ver Dahlke, Der Men s c h und die W elt sind ein s , Munique, 19 8 7.<br />

1 6 A rec eita vale de fato e de direito co m o docu m e n t o . Caso algu é m não autorizad o se atrev a a fazer<br />

m o dificaç õ e s , sujeita- se a ser punido por falsificaç ã o de docu m e n t o .<br />

1 7 Quando os próprios m é dic o s precis a m dedic ar- se a pre e n c h e r as notas fiscais dos do e nt e s e co m p ar a n d o<br />

isso co m suas tarefas propria m e nt e ditas, e m geral ach a m ess a ativi<strong>da</strong>d e humilhant e ou moral m e nt e en erv a nt e.<br />

1 8 Entend e- se por efeito plac e b o o substan cial efeito m e dic a m e n t o s o que se dev e não à substân cia ministrad a,<br />

ma s ao efeito de sug e st ã o sobr e o qual está bas e a d o todo o ritual <strong>da</strong> distribuiçã o de rem é di o s . Esse efeito está<br />

pres e nt e até me s m o nos re m é di o s quí mic o s mais fortes. De vez em quand o , até m e s m o droga s co m o a morfina<br />

pod e m ser substituí<strong>da</strong> s por plac e b o s ministrad o s co m habili<strong>da</strong>d e .<br />

1 9 Aqui pod e estar tam b é m a explica ç ã o para a consid er á v el faixa de freqü ê n ci a de to<strong>da</strong>s as profecias.<br />

Provav el m e nt e é pos sív el, na m elh or <strong>da</strong>s hipótes e s , ver o padrã o, ou seja, a m oldura, e m b o r a sua realizaç ã o<br />

con cr et a per m a n e ç a res erva<strong>da</strong> ao temp o . Cons e q ü e nt e m e n t e , a provid ê n cia existe, mas não é exata m e n t e<br />

previsã o .<br />

20 Quem tives s e afirmad o há 10 0 anos que cad a célula que se despr e n d e <strong>da</strong> unha do pole g ar, por exe m pl o,<br />

cont é m to<strong>da</strong> a inform a ç ã o sobr e o ser hum a n o , teria certa m e nt e provo c a d o garg alh a d a s .<br />

2 1 Send o princípios primordiais, ele s natural m e nt e não estã o só na bas e <strong>da</strong> astrolo gia, ma s na bas e de todo. A<br />

astrolo gia unica m e n t e utiliza es s a s ima g e n s primordiais de man eira con s ci e nt e. Os arqu étipos tam b é m estã o na<br />

bas e de todo, apen a s que nos mitos e nos conto s de fa<strong>da</strong>s eles se toma m esp e ci al m e nt e nítidos.<br />

22 Os 7 relacion a m - se co m os set e plan eta s clássic o s, aos 10 é precis o acresc e n t ar os três plan eta s trans-<br />

saturnino s.


23 Uma exten s a introduç ã o a es s e pen s a m e n t o pod e ser enc o ntra d a no livro Das senkr e c h t e Weltbild , de N.<br />

Klein e R. Dahlke, Munique, 19 8 5 .<br />

24 O fato de tantas pes s o a s não declarar e m mais ab erta m e n t e sua inclinaç ã o pela antiga ima g e m analó gic a do<br />

mund o talvez não tenha levad o ao des a p ar e ci m e n t o de suas m e n s a g e n s , ma s a uma trivializaç ã o e<br />

ban alizaç ã o tal co m o se mostra, talvez, e m divers o s horós c o p o s ilustrad o s.<br />

25 A exc e ç ã o são as crianç a s, que graç a s a seu ac e s s o intuitivo às ima g e n s e sím b ol o s de sua alm a, pod e m<br />

utilizar as do e n ç a s infantis típicas para <strong>da</strong>r saltos impres si o n a nt e s em seu des e n v olvi m e nt o .<br />

26 No es ot eris m o , o cas a m e n t o alquí mic o design a a união dos contrários e é freqü e nt e m e n t e repre s e nt a d o pela<br />

conjunçã o do Sol (para o principio mas c ulino) e <strong>da</strong> Lua (para o princípio feminino).<br />

27 Com es s a express ã o , esta m o s nos referindo aqui ao s opositor e s ao álco ol co m b ativ o s, que repre e n d e m as<br />

pes s o a s que be b e m por sua "deprav a ç ã o " e que não pod e m ser de m o vi d o s de sua missã o , ma s não àqu el e s<br />

que, ape s ar de não be b e r álco ol, deixa m os outros e m paz des d e que não afete m suas vi<strong>da</strong>s.<br />

28 O tato e a própria intuiçã o, que não pod e m ser controlad o s a partir <strong>da</strong> cab e ç a , fora m send o cad a vez mais<br />

reprimid o s ao long o de sua ditadura.<br />

29 Após o cânc er dos pulm õ e s , relacion a d o ao hábito de fumar, ter sido apontad o co m o o cânc er mais freqü e nt e<br />

entre os ho m e n s , e o cânc er do estô m a g o e o cânc er do intestino, resp o n s á v e i s por mais <strong>da</strong> m eta d e de todos<br />

os carcino m a s , tere m sido elab or a d o s exten s a m e n t e e m Pro bl e m a s <strong>da</strong> dige stã o , nest e volu m e se tratará o<br />

cânc e r de ma m a , e m seu devid o lugar, por ser o cânc er de maior incidência nas mulh er e s . O que se gu e , que<br />

corre s p o n d e ao capítulo geral e m Pro bl e m a s <strong>da</strong> dige stã o , e e m con ex ã o co m as des criç õ e s <strong>da</strong>s regiõ e s , pod e<br />

esta b el e c e r a bas e para interpreta ç õ e s de ado e ci m e n t o s esp e ci ais de cânc er que não sã o trabalha d o s de form a<br />

esp e cífica.<br />

30 No entrete m p o , sab e - se ao m e n o s de um carcino m a de retina que foi her<strong>da</strong>d o . Caso um rec é m - nas cid o o<br />

tenh a rec e bid o dos dois prog e nitor e s, ele o her<strong>da</strong>r á co m certez a. Caso o rec é m - nascid o tenh a her<strong>da</strong>d o o "gen e<br />

do cânc e r" de apen a s um dos pais, o des e n v olvi m e nt o <strong>da</strong> do e n ç a dep e n d e r á <strong>da</strong>s influência s do am bi e nt e. O<br />

risco entã o é maior, ma s não obrigatório.<br />

31 De qualqu er forma, aqui seria o cas o de pens ar que o no m e cânc er é mais antigo que o micro s c ó pi o;<br />

so m e n t e a partir des s e m o m e n t o as células e m forma de tes oura do cânc e r de ma m a pod eria m ter sido<br />

des c o b e rt a s.<br />

32 Em algu m a s form a s de leuc e m i a, entretanto, acredita- se mais e m uma orig e m liga<strong>da</strong> aos vírus.<br />

33 Ver a es s e resp eito as publicaç õ e s de Elisab eth Kübler- Ross.<br />

34 Na palavra portugu e s a "resp o n s a bili<strong>da</strong>d e", a habili<strong>da</strong>d e de resp o n d e r é níti<strong>da</strong>.<br />

35 Com o, no uso que faze m o s <strong>da</strong> lingua g e m , ab ertura tem uma con ota ç ã o positiva en qua nt o fecha m e n t o é algo<br />

neg ativo, é fácil que surja m aqui mal- enten did o s . Uma pes s o a que des c a n s a e m seu centro tem uma maior<br />

ab ertura para a vi<strong>da</strong> ape s ar de um exten s o fecha m e n t o de sua pers o n ali<strong>da</strong>d e . Suas fronteiras físicas estã o<br />

fecha d a s , co m o que seu siste m a imunol ó gic o tem a ab ertura nec e s s á ria para fazer exp eriên cias, mant e n d o e m<br />

qualqu er cas o a sup eriori<strong>da</strong>d e em relaç ã o aos ag e nt e s hostis.<br />

36 Para que não surja qualqu er mal- enten did o, diga- se expres s a m e n t e que o diagn ó stic o prec o c e é<br />

substan ci al m e nt e m elh or que o rec o n h e ci m e n t o tardio, apen a s que isso não tem na<strong>da</strong> a ver co m prev e n ç ã o .<br />

37 Dentre as plantas nativas, o visg o é o que mais se pare c e co m o cânc er. Ele afeta os mais diferent e s tipos de<br />

árvor e, contra to<strong>da</strong> s as regra s não cres c e para cim a e sim e m to<strong>da</strong> s as direç õ e s , parasita seu hosp e d e ir o, sua<br />

selva e seu cres ci m e nt o fica m a carg o do hosp e d e ir o. Os limites estã o e m sua relativa benignid a d e , já que<br />

dificilm e nt e ele mata uma árvor e. Do ponto de vista <strong>da</strong> assinatura, por exe m pl o, a figueira asiática, que<br />

estran g ula suas vítima s, teria muito mais a ofer e c e r.<br />

38 Carl Simonton, Wied e r ge s u n d werd e n , Hamburgo, 198 2 .<br />

39 A fita cas s et e que resultou de m e u próprio trabalh o co m pacient e s de cânc er tam b é m pod eria ser<br />

m e n ci o n a d a aqui. No lado 1, que é o mais importante para o co m e ç o , ela traz um m ét o d o de agres s ã o contra o<br />

cres ci m e nt o do cânc e r, enqu a nt o o lado 2 ab ord a as quest õ e s do retorno e <strong>da</strong> volta. R. Dahlke, Kreb s , Edição<br />

Neptun, Munique, 19 9 0 .<br />

40 Tam b é m , pod e- se ver os olho s co m o sím b ol o s <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>d e. A forma circular fala e m favor diss o, be m co m o<br />

a relaç ã o co m a luz, que é um símb ol o <strong>da</strong> perfeiçã o . Mas co m o a luz se contrap õ e à so m br a no mund o polar, o<br />

olho tend e mais para o mas c ulino. Fun<strong>da</strong> m e n t al m e nt e o olho, assi m co m o a luz, con s er v a seu caráter de<br />

integri<strong>da</strong> d e , ain<strong>da</strong> que e m nos s a cultura ele seja utilizado sobr etud o sob o asp e ct o ma s c ulino. Ele é tam b é m<br />

esp elh o <strong>da</strong> alm a e pod e não so m e nt e brilhar mas tam b é m respland e c e r, não só ver co m agud e z a ma s tam b é m<br />

olhar. Para nós, entretanto, a visã o tornou- se o sentido do min a nt e sobr etud o devid o à sua óptica calculista.<br />

41 Comp ar ar co m a obra ho m ô ni m a de Joachi m- Ernst Behrendt.<br />

42 A cad a dia se g u e - se uma noite, a cad a verã o um invern o, etc., em um ritmo con stant e e perpétu o.<br />

43 Há um cha m a d o duplo co m pr o m i s s o e m situaç õ e s tais co m o , por exe m pl o, a se guinte: algu é m ganh a de<br />

pres e nt e uma blusa am ar el a e outra ver m el h a . Caso vista a am ar el a, isso quer dizer: "Ah, voc ê não gosta <strong>da</strong><br />

ver m el h a ." Caso vista a ver m el h a , oc orr e o contrário.


44 Ver tam b é m R. Dahlke, Be w u βt Fa st e n , Munique, 19 8 0 .<br />

45 A alquimia tam b é m divide as plantas, co m o todo o mais, nos âm bito s de corp o, alm a e espírito. A parte rígi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> planta corre s p o n d e ao corpo, à alm a corresp o n d e seu óle o, resp e ctiva m e n t e mais etér e o e que repres e nta a<br />

individuali<strong>da</strong>d e e, co m isso, tam b é m o sab or esp e ci al que tem. O álco ol liberad o pela ferm e nt a ç ã o , tal co m o por<br />

exe m pl o o espírito do vinho (conh a q u e), corresp o n d e ao espírito.<br />

46 Além des s e , rec o n h e cid o por to<strong>da</strong> a m e dicina, existe m ain<strong>da</strong> as vias de inform a ç ã o dos m eridian o s e dos<br />

fenô m e n o s de biorres s o n â n cia, ac eitos apen a s pela m e dicina natural. Além diss o, os ca m p o s m orfo g e n é tic o s<br />

m e n ci o n a d o s no início tam b é m são uma esp é ci e de siste m a abran g e nt e de informa ç õ e s .<br />

47 Evidente m e n t e , as pergunta s coloc a d a s aqui são dirigi<strong>da</strong>s aos adultos. É ver<strong>da</strong>d e que os tem a s aludidos<br />

dize m resp eito a lactantes e crianç a s pequ e n a s , que sã o freqü e nt e m e n t e afetad o s e m b o r a, naturalm e nt e , e m<br />

outros plano s.<br />

48 Neurolépticos são os re m é di o s utilizados na psiquiatria para reprimir os surtos psicótic o s.<br />

49 Oliver Sacks, Der Mann, der s ein e Frau mit ein e m Hut verw e c h s e lt e , p. 1 3 6, Hamburgo, 19 8 7 .<br />

50 Hans Bankl, Viele W e g e führten in die Ewigk eit , Viena, 19 9 0 .<br />

51 O gen e <strong>da</strong> cor éia enc o ntra- se e m um dos 22 pare s de cro m o s s o m o s típicos (= autos s o m o s ) e se impõ e à<br />

heran ç a gen étic a saud á v el do cro m o s s o m o s corresp o n d e n t e (= do min a nt e).<br />

52 Uma tend ê n ci a de trabalh o <strong>da</strong> con s ci ê n ci a que surgiu nos EUA, fun<strong>da</strong>d a por Robert Hoffman e conh e cid o<br />

entre nós pelo no m e de "proc e s s o - quadrinity", trabalh a as relaç õ e s co m os pais de forma intensiva ao long o de<br />

uma se m a n a . Após ess a se m a n a , não resta na<strong>da</strong> do próprio padrã o que não tenha se originad o do pai ou <strong>da</strong><br />

mã e e tenha sido assu mi d o direta m e n t e ou transfor m a d o e m seu contrário.<br />

53 "Este pais é o seu pais": o resto <strong>da</strong> letra <strong>da</strong> canç ã o con siste substan ci al m e nt e de uma des criç ã o <strong>da</strong> paisa g e m<br />

norte- am eric a n a .<br />

54 Ver tam b é m o capítulo sobr e pres s ã o alta e m: R. Dahlke, Herz( e n s ) p r o bl e m e - Be- Deutung und Chan c e der<br />

Herz- Krei slauf- Po bl e m e , Munique, 19 9 0 .<br />

55 Neste lugar, Lutero traduziu livre m e nt e "cost ela" por "costa d o".<br />

56 Além <strong>da</strong> cortison a, de efeitos bastant e discutidos, atualm e nt e a m e dicina acad ê m i c a não tem nenhu m outro<br />

re m é di o para a EM.<br />

57 Ness e contexto, design a- se por aura os brev e s aviso s que oc orre m pouc o ante s do ataqu e propria m e nt e dito.<br />

Existe m auras lumino s a s , ma s tam b é m as que se manife sta m pela audiçã o , pelo palad ar ou pelo olfato.<br />

58 Comp ar ar os trabalh o s de Elisab eth Kübler- Ross e Raym o n d Moody.<br />

59 Oliver Sacks, Der Mann, der s ein e Frau mit ein e m Hut verw e c h s e lt e , Hamburgo, 198 7 .<br />

60 Alucinaç õ e s acústica s nos confronta m co m a audiçã o ilusória, as olfativas co m cheiro s <strong>da</strong> m e s m a natureza,<br />

as táteis co m o toqu e e, finalm e nt e, existe m ain<strong>da</strong> alucinaç õ e s do pala<strong>da</strong>r.<br />

61 Entretanto, é precis o distinguir jejum de pass ar fom e . Pode- se jejuar por se m a n a s , des d e que ac o nt e ç a<br />

con s ci e nt e m e n t e e so b as condiç õ e s correta s.<br />

62 Além diss o, a ver<strong>da</strong>d e é que todos pens a m <strong>da</strong>r significad o às funçõ e s dos órgã o s e m sonh o s , pois a<br />

lingua g e m do incon s ci e nt e é uma lingua g e m de símb ol o s . No mund o dos sím b ol o s , cad a forma tem<br />

natural m e nt e cont eúd o . O incon s ci e nt e vê es s a s relaç õ e s de form a esp o ntân e a , enqu a nt o a con s ci ê n ci a diurna<br />

tem mais proble m a s aqui.<br />

63 Trata- se de um incha ç o benign o <strong>da</strong> glândula que freqü e nt e m e n t e oc orr e se m a forma ç ã o de um bó cio. A<br />

palavra "autôn o m o " faz refer ên ci a ao fato de que os nódulo s produz e m hor m ô ni o indep e n d e n t e m e n t e <strong>da</strong><br />

nec e s si<strong>da</strong>d e .<br />

64 O hipertire oidis m o que faz co m que os glob o s oculares fique m saltad o s (exoftalmia) é cha m a d o tam b é m de<br />

mal de Based o w .<br />

65 Franz Alexand er, P s y c h o s a m a ti s c h e Medizin , p. 13 6, Berlim, 19 7 1 .<br />

66 Na Última Ceia, Cristo dirige- se expres s a m e n t e ao de m ô ni o co m o senh or dest e mund o .<br />

67 A lordo s e design a um abaula m e n t o para a frente, e a cifos e para trás.<br />

68 Chor d a dor s alis = cord a dors al.<br />

69 Laun e [= estad o de ânim o e m ale m ã o] tem a ver co m luna [= Lua e m latim]. Comp ar ar tam b é m co m "estar de<br />

Lua", e m portugu ê s .<br />

70 Ver alé m diss o a seç ã o sobr e perturbaç õ e s circulatórias no âm bito <strong>da</strong> pres s ã o arterial baixa e m R. Dahlke,<br />

Herz( e n s ) p r o bl e m e - Be- Deutun g und Cha n c e der Herz- Kreislauf- Po bl e m e , Munique, 19 9 0 .<br />

71 Para os tipos de form ato do peito e de outras partes do corpo, ver tam b é m : Ken Dycktwald,<br />

Körp er b e w uβ t s ein , Essen, 198 1 .<br />

72 Tais declara ç õ e s pod e m ser feitas a parar de muitas exp eriên ci a s coincid e nt e s co m a terapia <strong>da</strong><br />

reen c arn a ç ã o .<br />

73 Com o pes c o ç o , tal co m o foi m e n ci o n a d o acim a, declara- se o tem a <strong>da</strong> propried a d e . Cons e q ü e n t e m e n t e ,<br />

que m se atira ao pes c o ç o de outra pes s o a visa a (regiã o <strong>da</strong>) propried a d e .


74 Esse rec o n h e c i m e n t o prec o c e é muito m elh or que o rec o n h e c i m e n t o tardio que oc orria usual m e nt e antes,<br />

ma s por outro lado não tem na<strong>da</strong> a ver co m prev e n ç ã o . A profilaxia, co m a qual ele é freqü e nt e m e n t e<br />

confundid o, teria de <strong>da</strong>r um grand e pas s o adiante e impedir o surgim e nt o <strong>da</strong> sinto m átic a, ou seja, torná- lo na<br />

ver<strong>da</strong>d e sup érfluo.<br />

75 R. Höβl e R. Dahlke, Ver<strong>da</strong>uun g s pr o bl e m e , Munique, 19 9 1 .<br />

76 Quanto ao tem a <strong>da</strong> distribuiçã o do pes o, <strong>da</strong>s form a s <strong>da</strong> barriga, pass a n d o pelo fenô m e n o dos culotes, até a<br />

cap a cid a d e de se impor de um tras eiro corre s p o n d e nt e m e n t e volum o s o , ver R. Dahlke, Ge wi c ht s p r o bl e m e ,<br />

Munique, 19 8 9 .<br />

77 Oculto = es cur o, esc o n did o .<br />

78 Alfred Ziegler, Bilder ein er Sch att e n m e d i zin , Zurique, 19 8 7.<br />

79 Georg Grodd e c k, Werke, Vol. I, p. 64.<br />

80 As afirma ç õ e s são as sent e n ç a s coloc a d a s pelo s ad epto s do "pens a m e n t o positivo", co m as quais sa e m a<br />

ca m p o contra tudo o que pos s a ser neg ativo (co m o por exe m pl o os sinto m a s).<br />

81 Do inglês ag e control cre m e ; es s e conc eito colo c a- se co m digni<strong>da</strong>d e ao lado de outros tão ven er á v ei s co m o<br />

"segur o de vi<strong>da</strong>", co m o qual ne m uma única vi<strong>da</strong> tornou- se mais se g ura até hoje.<br />

82 Ver tam b é m R. DahIke, Man<strong>da</strong>la s der W elt , Munique, 19 8 5 . [Man<strong>da</strong>la s - For m a s qu e Re pr e s e n t a m a<br />

Harm o nia do Co s m o s e a En er gia Divina , publicad o pela Editora Pens a m e n t o , São Paulo, 19 9 1 .]<br />

83 No filme de Hollywo o d "Em bus c a <strong>da</strong> crianç a dourad a", por exe m pl o, trata- se exata m e nt e des s e padrã o.<br />

84 As duas palavras e m ale m ã o , grau [= cinza] e greis [= anciã o], têm a m e s m a raiz.<br />

85 Re-signaç ã o = retirar o sinal (<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> colori<strong>da</strong>), literalm e nt e (do latim) tirar o lacre, dev olv er, anular.<br />

86 O fato de que tais lugares horripilante s goz e m de uma certa prefer ê n ci a turística tem seu lado bo m , pois<br />

assi m as so m br a s fantas m ai s reprimi<strong>da</strong>s volta m à vi<strong>da</strong>. Esse tipo de lugar mal- ass o m b r a d o , salas dos horror e s,<br />

tre m- fantas m a e tam b é m os corre s p o n d e n t e s filme s de terror têm a vantag e m <strong>da</strong> distância e m relaç ã o aos<br />

asilos para ci<strong>da</strong>dã o s alqu e brad o s e enfraqu e ci d o s pela i<strong>da</strong>d e. Não se é lem br a d o do próprio futuro de man eira<br />

tão ime diata.<br />

87 Alfred Ziegler, Bilder ein er Sch att e n m e d i zin , p. 62, Zurique, 19 8 7 .<br />

88 O grand e vazio, assi m co m o o con c eito cristão de Paraís o, é unica m e nt e uma des criçã o imperfeita <strong>da</strong><br />

perfeiçã o , ou seja, <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>d e . Ain<strong>da</strong> que definiçõ e s diferent e s para es s e âm bito que está alé m do nos s o<br />

mund o polar seja m usad a s por diferent e s culturas, só pod e hav er por princípio uma uni<strong>da</strong>d e , que abran g e tudo<br />

e m um instante ou que é o vazio abs oluto ond e tudo existe em poten cial.<br />

89 A cha m a d a calcificaç ã o , que alé m do cér e br o tam b é m pod e afetar os vas o s e todo s os outros órgã o s é, na<br />

ver<strong>da</strong>d e , assi m co m o o mal de Alzheim er, mais uma "albu min a ç ã o ". Os dep ó sito s de albu min a co m e ç a m muito<br />

ante s dos dep ó sitos de cálcio. Aqueles tam b é m oc orr e m muito ante s dos dep ó sitos de cole st er ol e de gordura,<br />

que levara m injusta m e nt e a uma histeria em relaç ã o a uma substân cia vital, o cole st er ol.<br />

90 REM, do inglês rapid ey e mo v e m e n t ; as fases de sonh o sã o ac o m p a n h a d a s por m o vi m e nt o s rápido s dos<br />

olho s.<br />

9 1 Existe m fitas cas s et e esp e ci ais so br e os tem a s: cânc e r, alergia, pres s ã o arterial alta, pres s ã o arterial baixa,<br />

proble m a s dige stivo s, proble m a s de pes o, taba gis m o , proble m a s de fígad o, proble m a s de coluna e angú stia. As<br />

m e ditaç õ e s dirigi<strong>da</strong>s "Médico Interno" e "Relaxa m e n t o Profundo" são alé m diss o apropriad a s para progr e dir e m<br />

planos mais profund o s co m quais qu er sinto m a s ; to<strong>da</strong>s as fitas cas s et e por Ediçõ e s Neptun, Munique.<br />

92 As produç õ e s oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> atm o sf er a do "Pens a m e n t o Positivo", que enc o br e m os sofrim e nt o s co m<br />

afirma ç õ e s e assi m cria m novas so m br a s , sã o des a c o n s e l h a d a s . Utilizar as interpreta ç õ e s dest e livro para tal<br />

obra de repres s ã o é co m p ar á v el à tentativa de sen sibilizar um organis m o co m o jejum para torná- lo mais<br />

rec e ptivo aos psicofár m a c o s .

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!