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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Não foi a ditadura nem o novo regime <strong>que</strong>m <strong>que</strong>imou o prédio da UNE com o propósito<br />

de acabar com a entidade. A ditadura ainda não fora instaurada, o novo regime ainda<br />

não chegara ao poder. Havia, em tese, uma situação de Guerra Civil “relâmpago”, com<br />

resistência constitucionalista em vários pontos da cidade e do País. Jango ainda estava<br />

em território nacional.<br />

Foram setores identificados com o golpe <strong>que</strong> o fizeram, estudantes lacerdistas e<br />

subproletários, provavelmente remunerados, entre eles. Muitos de nós tínhamos a<br />

convicção de <strong>que</strong> era gente do CCC (recordo-me vagamente de uma companheira ter<br />

identificado um colega seu da Faculdade Nacional de Direito). Certamente havia policiais<br />

estaduais no grupo. Então, golpistas <strong>que</strong>imaram o prédio da UNE e nós não pudemos<br />

impedi-lo.<br />

Os soldados da Aeronáutica <strong>que</strong> lá estavam para nos dar proteção, enviados pelo<br />

Brigadeiro Teixeira (pai do atual reitor da UFRJ), receberam ordens de retirar-se. Minutos<br />

antes do incêndio, o ator Carlos Vereza e um outro companheiro desarmaram um dos<br />

provocadores (possivelmente um dos policiais estaduais), de <strong>que</strong>m tiraram um 38. Quer<br />

dizer, como Gregório Bezerra frisa em meu filme 76 anos, Gregório Bezerra, Comunista:<br />

“Infelizmente, não tínhamos armas”. Se tivéssemos, talvez o prédio não <strong>que</strong>imasse, pois<br />

os soldados da ditadura chegariam para ocupá-lo, como fizeram com tantos outros<br />

centros de resistência.<br />

A ditadura não acabou, de fato, com o funcionamento público da entidade até, creio,<br />

1966, quando realizamos seu primeiro congresso clandestino, no convento franciscano<br />

de Petrópolis e José Luiz Guedes foi eleito. Em 64, por razões óbvias, não houve congresso.<br />

A Diretoria clandestina (já resumida a Farias e seus assessores) publicou uma nota oficial<br />

no Correio da Manhã, assinada por Paulo Hernani Farias, <strong>que</strong> foi paga por Ênio da<br />

Silveira, já <strong>que</strong> não tínhamos um tostão e vivíamos em uma comunidade, Farias, Cesarion,<br />

José Wilker e eu, na qual só eu e Cesarion tínhamos trabalho. Outro membro essencial da<br />

fração, o ex-Vice-Presidente da UNE Carlos Alberto de Oliveira, hoje conhecido como<br />

Caó, também buscava emprego, recém-chegado da Bahia. A matéria paga não foi<br />

censurada, o Correio não recebeu represálias por isso.<br />

Então, um grupo de presidentes de Uniões Estaduais de Estudantes, UEEs, <strong>que</strong><br />

permaneciam abertas (o Marco Maciel ainda presidia a de Pernambuco e o Alberto<br />

Abissâmara era vice no Rio, se não me engano) fez uma reunião extraordinária do<br />

conselho de entidades, considerou vacantes os cargos da diretoria (<strong>que</strong>m não estava na<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o GolPe (1964) 97

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