06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

4.2 sede da une<br />

Militei ali, triplamente:<br />

96<br />

Luiz Alberto Sanz<br />

1º - como membro da equipe do jornal O Movimento (para <strong>que</strong>m não sabe, era o órgão<br />

oficial da UNE) — do qual fui editor sindical e, depois, superintendente — e assessor do<br />

Primeiro Vice-Presidente (Assuntos Universitários), o bravo cearense Paulo Hernani<br />

Farias, <strong>que</strong> se tornou Presidente na clandestinidade depois <strong>que</strong> José Serra fugiu para a<br />

Bolívia. Fi<strong>que</strong>i nesta última função até Farias voltar para o Ceará. Mas esta é outra<br />

história;<br />

2º - Já afastado da equipe do Jornal por razões profissionais (fui dedicar-me ao cinema),<br />

voltei ao prédio e à fração comunista da UNE no dia 1º de abril de 1964 para resistir ao<br />

golpe. Permaneci até a evacuação total, o prédio já em chamas;<br />

3º - Ali estudei, como aluno do libertário Conservatório Nacional de Teatro, dirigido por<br />

Edwaldo Cafezeiro, <strong>que</strong> ainda tinha como professora uma de suas fundadoras, Luiza<br />

Barreto Leite, minha mãe.<br />

Sendo melodramático, digo <strong>que</strong> a<strong>que</strong>las paredes continham pedaços da minha vida. Ali<br />

me apaixonei por algumas mulheres maravilhosas e outras não tanto, quase todas só me<br />

quiseram como amigo. Ali me apaixonei pela política e nunca mais nos separamos;<br />

apenas mudamos as formas de nos amarmos. Ali fiz grandes amigos, dos quais a morte<br />

(Cesarion Praxedes) e a vida me separaram, mas <strong>que</strong> me visitam constantemente a<br />

memória. Outros ficaram, para sempre, mesmo <strong>que</strong> quase não nos vejamos. Escolho dois,<br />

talvez os mais próximos: Edwaldo Cafezeiro (a <strong>que</strong>m conheci ainda no tempo da UNE,<br />

quando ele coordenava, com Aron Abend, o Movimento de Alfabetização) e o ator e<br />

cineasta Cláudio McDowell (a <strong>que</strong>m já conhecia das noites e do movimento jovem de<br />

teatro, mas cuja amizade ganhei ali, no CNT, “estudando e lutando e ouvindo a canção”).<br />

Alguns afirmam <strong>que</strong> o prédio foi <strong>que</strong>imado pelo novo regime. A formulação me parece<br />

mais uma tentativa de eludir a realidade, de fugir da dialética pela visão autoritária do<br />

“pão-pão, <strong>que</strong>ijo-<strong>que</strong>ijo”. Por esta linha de pensamento, tudo é sistemático, portanto,<br />

basta atingir a superestrutura para <strong>que</strong> a infraestrutura seja facilmente transformada.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!