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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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estava todo enfumaçado. Vez por outra, um estudante colocava a cabeça na janela e<br />

pedia socorro. Avaliei o poder de fogo das ditas paramilitares, forças repressoras, com<br />

viaturas frágeis, kombis, apenas revólveres e velhas metralhadoras.<br />

Mandei um dos subordinados (fardado, claro) advertir <strong>que</strong> se retirassem da área <strong>que</strong><br />

estava sob nosso comando militar. De início, não recuaram nem se retiraram. A seguir,<br />

alguns deles foram deixando o local, outros permaneceram. Nós, em frente, à distância<br />

de uns 50 metros, tínhamos – como lembrei antes – razoável poder de fogo. Só após<br />

rigorosa ação, mais de advertência, é <strong>que</strong>, rápido, se retiraram e, segundo informaramme,<br />

se refugiaram no pátio do Pronto-Socorro ali perto. Não é fato, como se afirma, <strong>que</strong><br />

chegamos já atirando na<strong>que</strong>le inimigo. E contam – o <strong>que</strong> é a versão dos fatos... – façanhas<br />

<strong>que</strong> jamais prati<strong>que</strong>i no episódio. O fato é <strong>que</strong>, isto sim, apontamos na direção deles, as<br />

variadas armas de <strong>que</strong> dispúnhamos no local.<br />

Entrei no prédio, mandando <strong>que</strong> abrissem todas as janelas e portas, inclusive nos fundos<br />

– fumaceira insuportável do gás. Tínhamos as máscaras, mas não foi necessário colocálas.<br />

Havia estudantes já sufocando, na escadaria e no chão. Dr. Walter Oaquim, hoje<br />

bastante conhecido, ex-Secretário de Estado, Advogado, Diretor do Flamengo, contoume<br />

<strong>que</strong> já se preparava para pular do 2º andar dos fundos para o pátio da Rádio MEC,<br />

quando cheguei. No banheiro encontravam-se, acuadas, as hoje professoras Maria<br />

Helena e Cecília Coimbra. Muitos desses então jovens – hoje encontrando-se comigo –<br />

confessam <strong>que</strong>, quando me viram chegar e postar-me à frente da tropa, logo imaginaram:<br />

agora mesmo é <strong>que</strong> vamos ser executados. E se surpreenderam com o enfrentamento, a<br />

fuga dos grupos inimigos (!) e nossa ocupação do prédio.<br />

Aplaudiram-me no salão do 2º andar, menos pelo <strong>que</strong> fiz e mais por alívio, mas cortei<br />

logo as euforias, comunicando <strong>que</strong> achava estar consumado o golpe, e <strong>que</strong> iria garantirlhes<br />

a retirada tranquila, de dez em dez, ora pela Rua Moncorvo Filho, ora pelo Campo de<br />

Santana, evitando provável nova investida contra eles, preservando-lhes a retirada. Assim<br />

fiz por quase uma hora. Meus subordinados os acompanhavam por uns vinte, trinta<br />

metros. E, aos poucos, de dez em dez, os estudantes, pelas duas saídas, foram deslocandose<br />

para suas casas, ilesos.<br />

Hoje aí estão emprestando rumo digno às suas vidas. Este, o melhor aspecto de tudo. A<br />

seguir, os leitores conhecerão os nomes (não todos, é claro) de alguns da<strong>que</strong>les jovens,<br />

estudantes da Faculdade de Direito (CACO) e da UNE. Hoje, reitero, são figuras notáveis<br />

no cenário brasileiro. Nas homenagens <strong>que</strong> os estudantes do CACO me vêm prestando<br />

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