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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Tinham um comunicado urgente e reservado. Fomos para um corredor, onde, muito<br />

tensos, me relatam <strong>que</strong>, no Largo do CACO (portanto, entre a Casa da Moeda e o Pronto-<br />

Socorro Sousa Aguiar), milícias, grupamentos, o <strong>que</strong> fossem, armados, e com várias<br />

viaturas, tinham cercado estudantes, centenas de pessoas (do povo, alguns a caminho da<br />

Central do Brasil), <strong>que</strong> assistiam a espécie de comício dos estudantes do CACO (da<br />

Faculdade Nacional de Direito) e da UNE, <strong>que</strong>, da sacada do prédio da instituição,<br />

conclamavam o povo a reagir ao golpe, inclusive com palavras de ordem como “Exército<br />

é povo”, “<strong>que</strong>remos armas”, etc. Os grupos repressores teriam atirado no povo para<br />

dispersá-los (o <strong>que</strong> foi confirmado, a seguir). O povo fugia para o Campo de Santana. Os<br />

estudantes se refugiavam na Faculdade. Os repressores apontavam-lhes as armas e<br />

ameaçavam jogar granadas de gás lacrimogêneo através das vidraças e janelas do prédio<br />

(e o fizeram mesmo) para obrigar os jovens a sair. Segundo o informe, tais grupamentos<br />

passaram a apontar suas armas (revólveres e metralhadoras) para a porta da Faculdade,<br />

à espera da saída dos estudantes. Enquanto isso, a guarnição do Exército, à frente da<br />

Casa da Moeda, baionetas caladas, se limitava a não permitir <strong>que</strong> o povo se aproximasse<br />

dali. Uma confusão geral. Ninguém sabia <strong>que</strong>m era o quê, nem o <strong>que</strong> fazer. Enfim e<br />

resumindo: quando surgiram os tais Grupamentos de repressão violenta, aos estudantes<br />

restou tentar abrigar-se na sede, e ao povo proteger-se atrás das árvores do Campo. Um<br />

parêntese: anos mais tarde, ao encontrar (eu aluno, ela professora na UERJ) Lília Lobo –<br />

membro hoje do “Grupo Tortura Nunca Mais” – esta me expõe: estava ali no largo e, com<br />

o tiroteio, ao invés de correr para o interior da Faculdade, conseguiu escapar para o<br />

Campo de Santana. E viu quando cheguei para intervir, antes de escapar do conflito.<br />

Retomando: um graduado nos garantiu <strong>que</strong> os repressores atiraram para o alto, a seguir<br />

na direção do povo, havendo feridos, levados ao Pronto-Socorro. Admito <strong>que</strong> aquilo ali<br />

acontecendo, ao lado do “meu” Ministério, de nossas guardas, foi uma enorme surpresa,<br />

antes do mais. Afinal, essa gente do golpe já estava tranquilamente na ofensiva. E nossa<br />

intervenção ou, pelo menos, resistência? Onde? Testemunhei, a seguir, boa parte da<strong>que</strong>le<br />

quadro de quase-massacre: correrias, estampidos, gritos. Soube <strong>que</strong> se tratava de grupos<br />

paramilitares (em suas viaturas), órgãos de repressão, inclusive do DOPS (cuja participação,<br />

no caso, nunca foi possível confirmar), grupos de ação anticomunistas, etc, cuja audácia<br />

chegara ao ponto de encurralar e tentar exterminar centenas de jovens universitários<br />

(cerca de 400) <strong>que</strong> se opunham, apenas em discursos e manifestações, ao golpe.<br />

Imaginem o <strong>que</strong> se passou na cabeça de um também jovem capitão de Regimento de<br />

Guarda, legalista, tropa de elite – em constante contacto com a Presidência da República<br />

– diante da<strong>que</strong>las cenas tão próximas do “seu” Ministério do Exército. Que certamente<br />

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