06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vocabulário sem censura nem da minha maneira brincalhona de ser, quase anarquista.<br />

Eu também não tinha afinidade com a seriedade e sisudez excessiva deles. Para mim,<br />

faltava-lhes humor e descontração.<br />

Mais tarde, com a volta dos pais da Creusinha, fomos morar em um coletivo de seis<br />

pessoas na Rua Mar<strong>que</strong>sa de Santos. Casa de vila, perto do Largo do Machado, onde,<br />

antes, funcionava o ateliê de pintura do Urian Agria, artista plástico paraense, nosso<br />

amigo. Duas salas, dois quartos, cozinha, banheiro e quintal. Eu, o Rô, meu companheiro<br />

na época, a Creusinha, o Fausto, irmão dela, o AS, a Ná, namorada dele, <strong>que</strong> tinha<br />

engravidado, embora continuasse virgem. Resquícios de moralismo na época. Sentados<br />

no Oklahoma, rimos muito quando soubemos do “estado interessante” da Ná. O uso da<br />

pílula anticoncepcional, para alguns, ainda era novidade. Ela não tomava, tinha medo.<br />

Como era virgem, acreditava <strong>que</strong> não poderia engravidar.<br />

Enquanto isso, a mulher Leila Diniz esbanjava ousadia, <strong>que</strong>brava tabus e chocava a<br />

mentalidade conservadora da pe<strong>que</strong>na burguesia pelos quatro cantos da vida. Chorei<br />

quando ela morreu na<strong>que</strong>le acidente de avião em 72...<br />

Todo mundo era duro. A casa vazia, sem mobiliário, só paredes. Sei-lá-<strong>que</strong>m iria levar<br />

uma mesa. Sentávamos no chão. Dormíamos no chão. Calor estúpido e, ainda, faltava<br />

água. Tomávamos banho na casa da Margot. Comíamos ou no Pentágono ou na casa da<br />

Margot, sogra amiga <strong>que</strong>rida <strong>que</strong> me adotou. Não tínhamos nada, a não ser um velho<br />

saco de dormir de um amigo do Rô. Esse amigo, dono do saco de dormir, era o Luiz<br />

Carlos, com <strong>que</strong>m, mais tarde, vivi muitos anos, com <strong>que</strong>m fui para a Argentina, Chile e,<br />

posteriormente, para a Suécia.<br />

Nosso grupo ia quase todos os dias ao Oklahoma. O Pinto, garçom <strong>que</strong>rido, relatava-nos<br />

<strong>que</strong>m já tinha passado por lá, <strong>que</strong>m iria voltar, etc. Quando passávamos na porta, sempre<br />

perguntávamos: “Fulano ainda está aí? Sicrano já foi? Deixou algum recado?” Hoje, o<br />

Pinto é gerente do Degrau, restaurante no Leblon.<br />

Certa vez, se não me engano, após a sessão da meia-noite, em algum sábado, depois de<br />

passar pelo Oklahoma, como não tínhamos móveis em casa, eu e o meu companheiro<br />

resolvemos “pegar emprestado” uma escada de um prédio <strong>que</strong> estava sendo construído<br />

do outro lado da Rua Senador Vergueiro. A escada nos serviria de “armário” para<br />

pendurar nossas roupas. Era uma pe<strong>que</strong>na e velha escada de obra, com no máximo seis<br />

78

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!