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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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uma entrou com um terço do preço e dividiríamos, semanalmente, o uso do veículo. As<br />

três amigas começamos a aprender a dirigir. Na semana <strong>que</strong> me correspondia, <strong>que</strong>m<br />

guiava era um namorado <strong>que</strong> eu tinha na ocasião. Mas não deu certo nem um nem<br />

outro. Em pouco tempo, eu saí da sociedade do carro e, por coincidência, terminei o<br />

namoro. O cara era um “galinha”. A Rural enguiçava a todo instante - dava “chime”, uma<br />

espécie de doença de São Guido, chamada, hoje em dia, de Mal de Parkinson. O veículo<br />

começava a tremer e não parava mais. Um horror! Além do mais, eu, canhota, tinha<br />

dificuldade em frear e acelerar com o pé direito. As meninas riam muito de mim.<br />

Solidariedade zero. Quando eu pegava o carro para dirigir, todos me sacaneavam.<br />

Aparentemente, eu não ligava para a caçoada, mas somente tomei coragem para<br />

aprender a dirigir, de fato, e tirar carteira de motorista, depois de completar quarenta<br />

anos!<br />

Em <strong>68</strong>, eu namorava o Rô, da Filosofia da UEG, <strong>que</strong> eu conhecera em abril de 1966, no<br />

cerco da Medicina. Nesse dia, eu saí antes de a polícia invadir a Faculdade Nacional de<br />

Medicina. Ele ficou até o final e, depois do corredor polonês feito pelos policiais, apanhou<br />

muito e saiu com o braço <strong>que</strong>brado. Nós somente começamos a namorar um ou dois<br />

anos mais tarde, quando eu estava no terceiro ano do curso de História.<br />

Aos sábados, no cine Paissandu, no ano de 19<strong>68</strong>, havia a famosa e concorrida sessão da<br />

meia-noite. A Rua Senador Vergueiro fervilhava. Cinema grande e confortável. Era uma<br />

glória! Jovens universitários oriundos de todas as faculdades encontravam-se ali para ver<br />

Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Roman Polanski, Hitchcock, Fellini, Alain Resnais, Rosselini,<br />

Visconti, Bertolucci, Bergman, Antonioni, entre outros.<br />

Todos de calça Lee (hoje chamada calça Jeans), rapazes e moças. Os garotos, barbas e<br />

cabelos meio longos, de camisa de marinheiro, azul e, como calçado, o Topa-tudo, uma<br />

espécie de tênis verde-oliva, de cano meio longo. Eu usava, como muitas outras, um<br />

embornal, como bolsa. Se fizesse frio, usávamos uma “japona”, tipo de casaco pesadão.<br />

Meu cabelo era muito ondulado e a moda determinava <strong>que</strong> todas tivéssemos cabelos<br />

lisos. Eu passava meu cabelo com ferro de engomar roupas, como outras amigas.<br />

Fugíamos da chuva... Se molhasse, o cabelo encolhia.<br />

O Oklahoma, restaurante ao lado do cinema, com algumas mesas na calçada, funcionava,<br />

na realidade, como extensão do Paissandu. Críticos, inconformados com a situação do<br />

país e do mundo, ali, antes e depois da sessão, discutíamos tudo: desde o filme <strong>que</strong> estava<br />

passando, até política, teatro, literatura, amores, sexo, sociologia, artes, psicologia,<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - <strong>Geração</strong> reBelDe 75

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