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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Contabilidade, à noite. O Antônio Carlos era um moço magro e alto, ruivo, muito branco<br />

e de ar angelical. Era o estereótipo do estudante de violino, porém, possuía voz forte e<br />

presença marcante. Ele chegou-se aos coletores de assinaturas e perguntou de <strong>que</strong> se<br />

tratava. Estes iniciaram uma peroração contra o amor livre, até serem interrompidos pela<br />

voz possante do mais jovem dos Poerner:<br />

- Vocês não têm, por acaso, um abaixo-assinado a favor do incesto? Eu sou a favor do<br />

incesto e <strong>que</strong>ro assinar uma lista!<br />

Ri muito do espanto e horror dos castos defensores da família e da virgindade.<br />

A revolução cubana e o bravo exemplo de resistência do povo vietnamita contra as<br />

potências invasoras serviram de fonte inesgotável de inspiração à juventude da<strong>que</strong>la<br />

época e mesmo aos mais velhos. A<strong>que</strong>le grupo corajoso de guerrilheiros sobreviveu ao<br />

desembar<strong>que</strong> do barco Granma, subiu a Sierra Maestra e resistiu aos ata<strong>que</strong>s e ao cerco<br />

do exército regular da ditadura do Batista. Ganhou força, com o apoio popular, conquistou<br />

a vitória, expulsou os imperialistas e construiu o primeiro país verdadeiramente<br />

independente da América Latina. Cuba apresentou-se como um norte a ser seguido por<br />

todos os idealistas do continente. Igualmente, a luta indômita da<strong>que</strong>le povo baixinho do<br />

Vietnã contra os gigantes supernutridos da América do Norte, com seu sistema de túneis<br />

e de armadilhas na floresta, mostrava <strong>que</strong> o ser humano, o patriotismo, a unidade e a<br />

firmeza ideológica podem mais do <strong>que</strong> uma sofisticada máquina de guerra.<br />

Essa geração <strong>68</strong>, urdida no clima de liberdade intelectual do pós-guerra, submetida a<br />

uma criativa renovação cultural e com expectativas de progresso social inspiradas nas<br />

realidades cubana e vietnamita sofreu todo o tipo de perseguição, se<strong>que</strong>stro, prisão,<br />

tortura, morte e desaparecimento. Contra ela, a direita militar, liderada por oficiais <strong>que</strong><br />

tiveram seus neurônios lavados, escovados e engraxados em bases militares dos Estados<br />

Unidos, na<strong>que</strong>le país e no Panamá, deu dois golpes de Estado: um em 1964 e outro com<br />

o AI5. Pertenceram a ela os jovens <strong>que</strong>, em 19<strong>68</strong>, se insurgiram na França e na Alemanha<br />

e os <strong>que</strong>, após manifestações, foram massacrados no México, assim como os <strong>que</strong><br />

protestaram nos Estados Unidos contra a guerra do Vietnã.<br />

A abertura política somente foi possível com a nossa luta e com o martírio de muitos.<br />

Embora tenhamos sido derrotados nas armas – nem poderia ter sido outro o desfecho,<br />

com todo o aparato internacional armado contra nós –, conquistamos uma vitória moral,<br />

<strong>que</strong> submetemos ao veredicto da História. Outras gerações levantarão nossas bandeiras.<br />

Em nome de minha geração, agradeço penhoradamente:<br />

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