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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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A geração cuja adolescência e juventude coincidiram com esse período, vivenciou um<br />

estímulo intelectual, uma colocação de novas ideias e uma sociedade em transformação<br />

rápida e positiva como nenhuma outra. Coube a ela <strong>que</strong>stionar tabus arraigados,<br />

preconceitos cristalizados e realizar uma revolução nos costumes e na mentalidade então<br />

predominantes. Esta foi a geração do feminismo, do amor livre e do antirracismo. Nos<br />

Estados Unidos, foi a geração da contestação pacifista à guerra do Vietnã, do movimento<br />

hippie e do poder negro. Foram os moços e moças dos anos 60 <strong>que</strong> lutaram pela igualdade<br />

de direitos entre homens e mulheres, conquistaram a liberdade sexual e começaram a<br />

deitar por terra os preconceitos raciais.<br />

Pode parecer estranho aos jovens de hoje, mas, em passado recente, as moças eram uma<br />

espécie de propriedade de seus pais, <strong>que</strong> tudo faziam para preservar-lhes a virgindade,<br />

como se nela se consubstanciasse toda a honra da família. Uma vez perdida essa condição<br />

e sendo impossível solucionar tudo com um casamento, a perda era amiúde incorporada<br />

à pessoa, <strong>que</strong> tornava-se uma “perdida” e era, com frequência expulsa de casa pelo pai,<br />

precisando muitas vezes recorrer à prostituição para sobreviver. É bem ilustrativo o título<br />

do filme de Roberto Farias: Toda Donzela Tem um Pai <strong>que</strong> é uma Fera. Na verdade,<br />

eram covardes, pois temiam a maledicência mais do <strong>que</strong> amavam a filha. As <strong>que</strong><br />

conseguiam resistir e preservar o hímen tornavam-se, depois de casadas, dependentes<br />

dos maridos, <strong>que</strong>, não raramente, as proibiam de trabalhar. As mulheres não podiam<br />

viajar, nem ter conta bancária sem o consentimento da<strong>que</strong>les. Se abandonassem o lar,<br />

perdiam o direito à guarda dos filhos. O adultério feminino era punido, não com o<br />

apedrejamento, mas quase: com a execração pública, o desquite e a perda da convivência<br />

com os filhos, quando não com a morte, pois o assassínio da mulher adúltera era aceito<br />

como “legítima defesa da honra”.<br />

Havia, nesse tempo, os <strong>que</strong> tentavam puxar para trás. Rapazes de terno, portando o<br />

estandarte do leão rompante, colhiam nas ruas assinaturas “contra o comunismo e o<br />

amor livre”. Embora em pe<strong>que</strong>no número, dispunham de consideráveis recursos. Esse<br />

grupo anacrônico autodenominava-se TFP – Tradição, Família e Propriedade – e ainda<br />

existe.<br />

Certa vez, topei com alguns desses mancebos, de terninho e cabelo repartido fixado com<br />

Gumex, na Av. Rio Branco, perto do Castelo. Eles tinham, sobre uma bancada, um livro<br />

grande no qual tentavam colher assinaturas contra o amor livre. Por coincidência,<br />

encontrei-me ali, também, com o Antônio Carlos Poerner, irmão mais novo do Arthur,<br />

<strong>que</strong>, como eu, estudava na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, só <strong>que</strong> ele fazia<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - <strong>Geração</strong> reBelDe 71

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