06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

falando das ri<strong>que</strong>zas do mar. E começa a falar delas. A areia monazítica, o petróleo, os<br />

peixes, a lagosta <strong>que</strong> os barcos franceses estão roubando. Arremete contra a exploração<br />

<strong>que</strong> os pescadores sofrem por parte dos donos de barco, dos frigoríficos e, fazendo uma<br />

aproximação entre a agricultura e a pesca, declama emocionando a multidão: “o pescador<br />

é o camponês <strong>que</strong> tira do mar o peixe”.<br />

Nesse mesmo comício, protestando contra a campanha sistemática <strong>que</strong> a revista O<br />

Cruzeiro mantinha contra ele e as Ligas Camponesas, Julião qualifica-a como um “órgão”<br />

vendido ao imperialismo norte-americano e diz <strong>que</strong>, por essa razão, deveria ser chamada<br />

de O Dólar. Passa a denunciar o tratamento semelhante <strong>que</strong> lhe dispensa o Diário de<br />

Pernambuco, a <strong>que</strong>m acusa de ser um jornal tradicionalmente vinculado ao poder<br />

econômico, <strong>que</strong> na campanha da abolição, ao lado dos escravocratas, chamava Joaquim<br />

Nabuco de carbonário e anarquista. Vai acirrando os ânimos contra o jornal e, num<br />

determinado momento, convoca: “Nós precisamos dar uma resposta enérgica a esse<br />

jornal”. Faz uma pausa. “Vamos agora tocar fogo no Diário de Pernambuco” - conclui.<br />

Nova pausa. Parcelas da multidão começam a se deslocar para atender ao apelo. Mas do<br />

alto do palan<strong>que</strong> Julião sentencia: “Não, companheiros. Não vamos sujar nossas mãos.<br />

Vamos tocar fogo simbolicamente no Diário de Pernambuco”. Em seguida acende um<br />

is<strong>que</strong>iro, ergue um exemplar do jornal e nele toca fogo, sob os aplausos e o delírio da<br />

multidão.<br />

Tachado de agitador, Julião incorporou o qualificativo, dizendo-se um agitador social e<br />

fazendo a defesa poética. “Agitador social, sim! Como é possível conceber a vida sem<br />

agitação? Por<strong>que</strong> o vento agita a planta, o pólen se une ao pólen de onde nasce o fruto<br />

e se abotoa a espiga <strong>que</strong> amadurece nas serras. O gameto masculino busca o óvulo<br />

por<strong>que</strong> há uma cauda <strong>que</strong> o agita. Se o coração não se agita, o sangue não circula e a<br />

vida se apaga. Que dizer da bandeira <strong>que</strong> se hasteia ao mastro e não se agita? É uma<br />

bandeira morta. (...) É agitando <strong>que</strong> se transforma a vida, o homem, a sociedade, o mundo.<br />

Quem nega a agitação nega as leis da natureza, a dialética, a ciência, a justiça, a verdade,<br />

a si próprio”.<br />

Assim falava o tribuno Francisco Julião.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - liGaS CaMPoNeSaS MariNHeiroS 67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!