06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

domínio das formas literárias se faziam sentir fortemente na retórica de Julião,<br />

transmitindo à sua agitação oral e escrita um tocante e vigoroso encantamento poético.<br />

Em 1960, na campanha presidencial, a es<strong>que</strong>rda, já rompida com o governador Cid<br />

Sampaio, <strong>que</strong> apoiara nas eleições de 1958, defendia as candidaturas do Marechal<br />

Teixeira Lott, tendo como vice João Goulart. A direita alinhava-se com Jânio Quadros e<br />

Miltom Campos. Em comício na Av. Dantas Barreto, Julião começou a desancar os<br />

latifundiários e usineiros, tomando Cid Sampaio como exemplo. Disse <strong>que</strong>, quando<br />

jovem, o governador remava num clube de regatas e, sendo de pe<strong>que</strong>na estatura e com<br />

braços curtos, constantemente era solicitado pelos companheiros de barco a alongar a<br />

remada, a fim de não retardar o grupo. A sua resposta era <strong>que</strong> os remadores se<br />

subordinassem ao seu ritmo. A partir daí, Julião começou a fazer considerações sobre a<br />

mentalidade individualista dos usineiros e do governador, e terminou neste rasgo<br />

oratório: “Pernambuco não pode ser dirigido politicamente por um governador de<br />

remada curta!”<br />

Em 1962, na campanha para governador e deputados, Julião fala num comício na<br />

Pracinha do Diário. Diz <strong>que</strong>, desde menino, o camponês começa a trabalhar como<br />

cambiteiro na palha da cana, acumulando calos amarelos nas mãos e contribuindo para<br />

multiplicar moedas amarelas nas mãos do latifundiário. O menino vai crescendo, tornase<br />

rapaz, tem filhos <strong>que</strong> vê seguirem o mesmo destino <strong>que</strong> o seu, e filhas <strong>que</strong>, muitas<br />

vezes, caídas na prostituição, vendem o corpo por moedas amarelas. Julião ressaltava, de<br />

um lado, os calos amarelos <strong>que</strong> se cristalizavam nas mãos, e do outro, a montanha de<br />

moedas amarelas <strong>que</strong> cada vez mais se agigantavam. O adulto envelhece precocemente<br />

ou adoece, tornando-se incapaz para o trabalho – continua ele – e, no final, o seu<br />

destino é acabar os dias num pé de ponte ou numa feira, estendendo a mão cheia de<br />

calos amarelos para receber nela uma moeda amarelinha.<br />

No ano de 1962, barcos franceses começam a pescar lagosta, invadindo as águas<br />

territoriais brasileiras na costa de Pernambuco, num ensaio de contenda <strong>que</strong> foi<br />

denominado de A Guerra da Lagosta. A marinha de prontidão, fazendo patrulhamento.<br />

Julião, <strong>que</strong> andava se articulando entre os pescadores, promove um comício na Av.<br />

Guararapes, na Esquina da Sertã, em frente ao antigo Cinema Trianon, onde denuncia<br />

<strong>que</strong>, depois de dominarem a indústria, o comércio, as finanças e a terra, os imperialistas,<br />

agora, <strong>que</strong>rem também dominar as ri<strong>que</strong>zas <strong>que</strong> temos nas águas. Diz <strong>que</strong> um dos seus<br />

filhos, estudante em Cuba (abre um parênteses e fala das reformas sociais empreendidas<br />

pela revolução cubana), depois de fazer uma prova de geografia, lhe escreveu uma carta<br />

66

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!