06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

30.1 Meus GolPes<br />

Lia me tirou do melhor do sono: - é o golpe!<br />

656<br />

30 - angola<br />

Chizuo Osava, vulgo Mario Japa<br />

Não deviam ser nem sete horas ainda, madrugada para <strong>que</strong>m sabe apreciar uma cama.<br />

“Mas <strong>que</strong> golpe? Estamos em Luanda”, tentei um último direito ao cochilo. “Olha os<br />

tan<strong>que</strong>s ali” - insistiu apontando a janela. “Escuta os tiros”.<br />

Mas de novo? Recordei Santiago, no já longínquo 11 de setembro de 1973, um - acorda<br />

<strong>que</strong> é o golpe - mais truculento, com aviões e bombas, tan<strong>que</strong>s atirando de verdade.<br />

Sempre de madrugada. Desconfie de <strong>que</strong>m acorda muito cedo, é certamente um golpista.<br />

Pinochet, então, acho <strong>que</strong> nem dormia.<br />

Mas lá, em 1973, a ruptura militar já era esperada, <strong>que</strong>stão de dias num Chile desgovernado,<br />

com passeatas e gritaria todos os dias, desabastecimento deliberado, elite e classe média<br />

em sua maior parte dispostas a qual<strong>que</strong>r coisa, inclusive à própria bancarrota, para botar<br />

abaixo a<strong>que</strong>la dita via pacífica ao socialismo. Contavam com o apoio de muitos governos<br />

do continente, não apenas o brasileiro e americano. Havíamos visto um ensaio do golpe<br />

dois meses antes, o tancazo de 29 de junho, em <strong>que</strong> um cinegrafista sueco filmou o<br />

próprio fuzilamento nas ruas de Santiago. Era um tempo de duelos assimétricos, de<br />

câmera contra fuzil, estudantes contra militares, canções contra cavalaria.<br />

Agora, 27 de maio de 1977, vemos uma Angola de ano e meio de vida independente sob<br />

o governo do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), mas dividida. O<br />

interior era em grande parte controlado pelos movimentos rivais, principalmente a UNITA<br />

(União pela Independência Total de Angola) <strong>que</strong>, com apoio da África do Sul, isolava<br />

cidades importantes do centro-sul do país, onde só se chegava por avião ou comboios<br />

fortemente armados. A FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), apoiada pelo<br />

Congo, na época Zaire, fustigava ao norte. E havia a FLEC (Frente de Libertação do Enclave

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!