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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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plástico Guido Rocha, lhe disseram para buscar trabalho na construção civil! Hoje, uma<br />

escultura dele orna o salão de entrada do edifício das Nações Unidas em Genebra – um<br />

Cristo <strong>que</strong> grita e <strong>que</strong>r despregar-se da Cruz...<br />

No sexto mês em <strong>que</strong> aqui estava, me levaram à Policia Federal, em Berna, para me<br />

informar <strong>que</strong> meu nome era falso – ameaçaram-me retirar o asilo – e <strong>que</strong>, ademais,<br />

durante este período, eu havia feito três viagens para a América Latina. Imaginem <strong>que</strong><br />

loucura! Passei por um interrogatório digno dos Carabineros chilenos. A única resposta<br />

<strong>que</strong> eu poderia dar era <strong>que</strong> telefonassem para Campo Mourão, no Paraná, onde meu pai<br />

fora vereador da es<strong>que</strong>rda do PTB, pois a prefeitura confirmaria minha identidade pelos<br />

meus traços físicos. Ou, então, <strong>que</strong> me entregassem para o Alto Comissariado das Nações<br />

Unidas em Genebra a fim de <strong>que</strong> eu pudesse ESCOLHER um país de asilo.<br />

Portanto, decidi rumar para Portugal. Em julho de 1974 fui para Paris e esperei um visto<br />

para atravessar a Espanha franquista sem direito de pôr os pés no solo espanhol. Dia 23<br />

de dezembro de 1974 cheguei a Lisboa. Os suíços não puderam fazer nada contra mim,<br />

já <strong>que</strong> protocolei um pedido de asilo num outro país junto ao Alto Comissariado das<br />

Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, em Genebra.<br />

Em Portugal, trabalhei no jornal Página Um ligado às Brigadas e a Otelo Saraiva de<br />

Carvalho. Criamos o Comitê pela Anistia Ampla e Irrestrita para todos os presos, foragidos<br />

e exilados brasileiros. Publicamos um jornal e acolhemos todos os companheiros <strong>que</strong> iam<br />

pra lá, no nosso aparelho na Rua Duarte Lobo, 32, junto com Almir Dutton e Clarice<br />

Figueiredo. Surgiram problemas quando tive <strong>que</strong> renovar meu título de viagem de<br />

refugiado, pois Portugal não havia assinado a Convenção de Genebra e não nos dava<br />

asilo, apenas nos tolerava por sermos brasileiros. Como eu sempre tive “sorte” na vida, o<br />

embaixador da Suíça, em Lisboa, era o Bucher, <strong>que</strong> havia sido se<strong>que</strong>strado no Brasil.<br />

Acabei voltando, depois de quatro anos, para a Suíça.<br />

Em Portugal tínhamos muitas armas, mas poucos combatentes, ao contrário do Chile. A<br />

taxa de analfabetismo era de 40%. Até o MDC-MFA, o Movimento de Dinamização<br />

Cultural do Movimento das Forças Armadas, fora expulso das cidades e aldeias do norte<br />

de Portugal, pois <strong>que</strong> a Igreja e a reação organizada os acusavam todos de comunistas,<br />

de <strong>que</strong>rer roubar seus pertences, seus animais e desnudar suas mulheres para se beneficiar<br />

de ajuda médica e ginecológica. Mais de seiscentos mil soldados voltaram das colônias,<br />

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