06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

asileiros, aqui no Brasil, soavam mais saborosas. Sempre gostei de ouvir as vozes das<br />

pessoas. A espontaneidade. As risadas. Os jeitos de se comportar. Mão no ombro.<br />

Cachorros <strong>que</strong> latem. Simpatia e bom humor. Usufruí. Lavei minha alma.<br />

Estava em Brasília, em rápida visita à minha prima Marly, se não me engano, quando tive<br />

grande alegria. Em maio de 1977, ouvi na televisão da casa dela, <strong>que</strong> o execrável Carlos<br />

Lacerda tinha morrido. Comemorei quase em silêncio, para <strong>que</strong> os vizinhos não ouvissem.<br />

A ditadura era dura.<br />

Sentia-me meio isolada, sozinha, não sabia o <strong>que</strong> fazer, apreensiva, cabreira. Perdida no<br />

espaço do Brasil ame-o ou deixe-o. Fantasmas rondavam os ambientes por ar, terra e<br />

mar, fazendo a maior zoeira. Tempo nubladíssimo ao som de bandas militares. Ameaça de<br />

tempestade tropical carregada de fagulhas.<br />

Certo dia, quase fim de maio, levantei-me e vi <strong>que</strong> parara um carrão preto, em frente à<br />

casa dos meus pais. Do veículo saiu um sujeito alto, forte, sério, de terno, <strong>que</strong> parou<br />

encostado no para-lamas e ficou, disfarçando, olhando em volta. Tremi. O papai estava<br />

na sala, sentado, lendo jornal. Ele notou <strong>que</strong> eu estava em pânico. Chamei-o e perguntei<br />

como é <strong>que</strong> eu poderia escapar pelos fundos. Estava muito nervosa. Como eles moravam<br />

em casa, eu poderia sair pelo quintal, lá atrás. Ele custou a entender de <strong>que</strong> se tratava.<br />

Quando eu já me encaminhava, apressadamente, para pular o muro, ele correu, alcançoume<br />

e esclareceu. “O carrão é para o casamento da filha da vizinha do lado. O cara de<br />

terno é o motorista. Fica calma. Calma, minha filha!” Caralho!<br />

Aquilo foi a gota d’água nos meus temores. Como é <strong>que</strong> eu poderia continuar?<br />

Arrumei minha trouxa, mar<strong>que</strong>i viagem e na semana seguinte já estava feliz da vida em<br />

Estocolmo. Beleza! Verão! Só alegria. Acho <strong>que</strong> “aproveitei” a Suécia muito mais depois<br />

deste interregno na Terra de Ibirapitanga, ainda sob a égide do Terror de Estado.<br />

Somente voltei, de fato, em 1979, depois da Lei da Anistia. Levei mais ou menos um ano<br />

e meio para me adaptar aqui.<br />

“Viva o sol do céu da nossa terra<br />

Vem surgindo atrás da linda serrra.”<br />

(Lucília Villa-Lobos, no Hino ao Sol do Brasil)<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - SUÉCia 651

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!