06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1.1 o tribuno FranCisCo Julião<br />

1 - ligas Camponesas /<br />

Marinheiros<br />

Marcelo Mário de Melo<br />

“Metida tenho a mão na consciência e não falo senão<br />

verdades puras <strong>que</strong> me ditou a viva experiência.”<br />

(Camões)<br />

Vi muitos oradores discursando em comícios no Recife, dando bem o seu recado e<br />

arrancando aplausos. Mas o único <strong>que</strong> vi levar a multidão às ovações foi Francisco Julião.<br />

Sem citar estatísticas, contornando os chavões do economês e as referências a<br />

documentos políticos e autores. Advogado de júri ele dominava a técnica oratória. Tinha<br />

uma boa voz, com a pronúncia marcada por to<strong>que</strong>s de português castiço – a elegância<br />

antiga de acentuar o l no final das palavras e o uso do apóstrofo. Num comício no dia do<br />

seu aniversário, disse <strong>que</strong> estava completando cin<strong>que</strong>nt’anos. Quando se referia a João<br />

Goulart, pronunciava nitidamente o t final.<br />

Menino de engenho, Julião conhecia profundamente os ciclos de vida do camponês sob<br />

o jugo do latifúndio – da infância à velhice, do nascimento à morte. Sobre isto falava<br />

com familiaridade, colocando os dedos nas feridas, expressando-se com a radicalidade de<br />

<strong>que</strong>m planta uma semente ou arranca uma erva daninha. Suas falas tinham o efeito de<br />

janelas se abrindo e mostrando pedaços de uma paisagem doída. Os seus textos de<br />

agitação também apresentavam essa marca. Como exemplos, o Guia do Camponês, a<br />

Cartilha do Camponês, o Bença Mãe e os artigos <strong>que</strong> escrevia para o jornal A Liga.<br />

Julião era autor de textos literários. Em 1951, com prefácio de Gilberto Freyre, publicou<br />

Cachaça, histórias em torno da presença da aguardente no cotidiano rural. Em 1958,<br />

também com prefácio de Freyre, publicou Irmão Juazeiro, uma sequência encadeada de<br />

histórias camponesas. Além disso, escrevia versos em estilo de cordel. A influência e o<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - liGaS CaMPoNeSaS MariNHeiroS 65

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!