06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sou, muito ativa. Li toda a literatura em língua portuguesa das bibliotecas de Estoclomo.<br />

Morria de saudades.<br />

As palavras da Griselda não saíam da minha imaginação. A abertura está chegando. Vivia<br />

cantarolando o Lupicínio Rodrigues.<br />

648<br />

“Felicidade foi se embora<br />

E a saudade no meu peito ainda mora<br />

E é por isso <strong>que</strong> eu gosto lá de fora<br />

Por<strong>que</strong> sei <strong>que</strong> a falsidade não vigora<br />

A minha casa fica lá de trás do mundo<br />

Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar<br />

O pensamento parece uma coisa à toa<br />

Mas como é <strong>que</strong> a gente voa quando começa a pensar.”<br />

Em 1977, já de posse da<strong>que</strong>le passaporte conseguido, em Roterdã, depois de mil e uma<br />

aventuras, planejei tudo. Voltaria clandestina para a Terra de Santa Cruz. Entraria pela<br />

Argentina, e viria por terra para o Rio. Apesar das notícias da “abertura”, o medo de ser<br />

presa era muito grande. A ditadura era dura. Ninguém no Brasil ou na Suécia saberia da<br />

minha volta. Ninguém. Naturalmente, a Lilliam, o Jaimão e o Luiz Carlos estavam a par<br />

de tudo. Somente eles, mais ninguém. Eu estava uma pilha. Em Estocolmo, expli<strong>que</strong>i <strong>que</strong><br />

iria para a Inglaterra passar uns tempos, para aperfeiçoar meus estudos de inglês. Comprei<br />

uma passagem estudantil, barata, voo da Sabena, <strong>que</strong> partia de Bruxelas para Buenos<br />

Aires.<br />

Estava realmente decidida a voltar. Empacotei todos os meus pertences e mandei, por<br />

correio, de navio, para o endereço de meus pais, <strong>que</strong> tinham mudado para Olaria. Lembrome<br />

de <strong>que</strong> somavam nove as caixas com meus livros, minhas roupas, sei lá, minhas<br />

tralhas. Antes de entregar meu apartamento no Fyrtalet, já estava “definitivamente” na<br />

casa do meu ex-ex-companheiro. Muito estresse por causa da viagem. Estava feliz, mas<br />

muito apreensiva.<br />

Lágrimas na despedida. Quase perco o trem <strong>que</strong> iria de Estocolmo até Paris na<strong>que</strong>la<br />

manhã do dia 20 de março de 1977. Cheguei atrasada na Estação Central e tive <strong>que</strong><br />

correr muito para alcançar o vagão... Chorei muito. De Paris, fui para Bruxelas. Na<strong>que</strong>le<br />

aeroporto, tive <strong>que</strong> esperar não sei quantas horas pela conexão do voo. Muitas horas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!