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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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amigo Vadão acompanhou-me até nosso apartamento quando precisei buscar algumas<br />

roupas. Não <strong>que</strong>ro falar mais sobre esse terrível momento.<br />

O Luiz Carlos saiu do DOPS e fomos direto para um apartamento “novo” <strong>que</strong> eu tinha<br />

alugado em nome sei-lá-de-<strong>que</strong>m. Clandestinos. Já no dia seguinte à soltura, o DOI-<br />

CODI voltou a procurá-lo no Correio da Manhã, jornal em cuja porta ele tinha sido<br />

levado encapuzado alguns meses antes.<br />

Meu <strong>que</strong>rido eterno sogro, o Simões, levou-nos de carro até São Paulo. Solidário. Voltou<br />

imediatamente ao Rio e foi direto para a farmácia onde trabalhava. Eu estava muito<br />

nervosa. De lá pegamos ônibus até não lembro mais. Sei <strong>que</strong> trocamos várias vezes até<br />

chegar a Uruguaiana, <strong>que</strong> se limita com Paso de Los Libres, Argentina. Na fronteira, de<br />

manhã bem cedo, passei primeiro, de táxi, com as malas, e voltei imediatamente. Após a<br />

troca da guarda, passamos os dois juntos, creio <strong>que</strong> no mesmo táxi. Acho <strong>que</strong> o motorista<br />

pensou <strong>que</strong> éramos contrabandistas...<br />

Buenos Aires! Inverno. Frio muito gelado. Ficamos na bela e acolhedora capital até <strong>que</strong><br />

nos chegaram notícias do Chile. Por causa do episódio do tancazo, estávamos temerosos.<br />

“En Chile no pasa nada”. Fomos informados de <strong>que</strong> o povo chileno era muito legalista,<br />

não haveria golpes.<br />

Fazia muito frio quando deixamos a<strong>que</strong>la linda e gentil cidade. Nervosos. Sem saber nem<br />

imaginar o <strong>que</strong> nos esperava. Olhos interrogativos, abertos arregalados. Bagagem pesada.<br />

Ansiedade. Malas, casacos. Medos. O Luiz Carlos reclamava <strong>que</strong> o sapato estava apertado<br />

e, por sei lá <strong>que</strong> motivos, deixamos para comprar novo calçado no Chile. Ônibus até<br />

Mendoza e, de lá, trem. Viagem <strong>que</strong> não acabava mais por causa das paradas, por causa<br />

das greves de transportes. Baldeação. Muita desconfiança amenizada pela presença da<br />

neve na Cordilheira das Incertezas, digo, dos Andes. Lembro-me de <strong>que</strong> encontramos<br />

uma brasileira morena magra no trem. Jovem como nós. Não me recordo do nome <strong>que</strong><br />

ela disse chamar-se, mas, no momento em <strong>que</strong> a encontramos, imediatamente,<br />

presumimos <strong>que</strong> ela fosse policial. Sozinha, falante, espevitada, cheia de certezas...<br />

Sempre respondia: “Claro! Claro!” Depois descobri <strong>que</strong> essa era maneira de falar, em<br />

Santiago. No Brasil, na<strong>que</strong>la época, se usava “podes crer”. Chegada difícil. Cansaço. Noite<br />

escura, comunicação em espanhol precário.<br />

Santiago, fim de agosto de 1973, fomos para casa da Dora e do Reinaldo, meu cunhado,<br />

onde já estavam dois companheiros. Acho <strong>que</strong> chegamos quase duas semanas antes do<br />

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