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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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28.10 volta e reviravolta<br />

Não sei se é ridículo o <strong>que</strong> vou contar.<br />

Eliete Ferrer<br />

Dedico este relato à minha <strong>que</strong>rida mãe, Dona Adelina<br />

“Não permita Deus <strong>que</strong> eu morra, sem <strong>que</strong> eu volte para lá”<br />

(Gonçalves Dias na Canção do Exílio)<br />

A Griselda, irmã do Jaimão, chegou na Suécia com a notícia de <strong>que</strong> a abertura política<br />

estava em pauta. “Só se fala nisso no Brasil”. O Governo do general Geisel prometia<br />

distensão, redemocratização. Fins de 76, inícios de 77. Os exilados poderiam voltar...<br />

Desde <strong>que</strong> saí de Pindorama, minha cabeça não parava de girar. Aliás, desde antes, com<br />

a prisão do Luiz Carlos, meu companheiro de então. Aconteceram muitas mudanças,<br />

tudo rápido demais para meus pobres neurônios, muitas e diferentes circunstâncias<br />

relevantes, quase todas com risco de morte, em pouquíssimo espaço de tempo.<br />

Se<strong>que</strong>stro e prisão do Luiz Carlos em abril de 1973. DOI-CODI. Não suporto lembrar<br />

desses fatos. Não sei se vou conseguir escrever isto até o fim. Talvez o fato de escrever<br />

colabore para o exorcismo dos demônios das recordações malignas. Xô!<br />

Em julho fomos para a Argentina, por terra, mil peripécias. Com a ajuda de um general<br />

amigo da família, quando já estava no DOPS, meu companheiro foi solto para responder<br />

o processo em liberdade. A transferência para o DOPS significava <strong>que</strong>, provavelmente, o<br />

período do “pau”, das torturas sistemáticas, já tinha acabado. Sabíamos <strong>que</strong> tudo aquilo<br />

era precário, <strong>que</strong> tínhamos <strong>que</strong> agir a toda pressa.<br />

Enquanto ele esteve preso, fui obrigada a me esconder, temerosa de retornar ao<br />

apartamento onde vivíamos, em Botafogo. Em um dos bolsos da camisa dele, a polícia<br />

encontrou um recibo da lavanderia onde constava nosso endereço. Nosso apê foi<br />

arrombado, invadido e completamente revirado pela polícia logo depois. Eu não estava<br />

em casa. Estava trabalhando. Sorte minha. Somente soube do ocorrido, quando cheguei<br />

na casa da Margot, para almoçar. Dias depois, apesar do risco, meu grande e solidário<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - SUÉCia 643

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