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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Nunca tinha morado num país com tão alto padrão de vida, onde saúde e educação<br />

eram, de fato, direito de todos. Agora, por falta de tempo, não tenho condições de<br />

descrever como a<strong>que</strong>la sociedade funcionava. A classe trabalhadora, depois de muita<br />

luta por direitos, tinha alcançado patamares nunca imaginados por mim, no mundo<br />

capitalista.<br />

Sou professora desde os dezessete anos e gosto muito de dar aulas. Meu primeiro<br />

emprego, em Estocolmo, foi limpar o Museu Nacional. Depois, trabalhei como carteira,<br />

fui funcionária dos correios, professora, tradutora, intérprete... Fui professora de língua<br />

materna. O governo sueco pagava para eu acompanhar, nas creches, os filhos de<br />

brasileiros ou portugueses, para brincar com eles em Português. Eles sabiam <strong>que</strong>, se a<br />

criança falasse bem o idioma materno, ficaria mais feliz e seria um cidadão mais<br />

integrado. A criança permanecia na creche de oito meses até os seis anos de idade. Nas<br />

escolas de primeiro grau, eu ensinava português, desde a alfabetização até a nona série.<br />

Impressionou-me a qualidade do ensino público e dos materiais pedagógicos. Escolas de<br />

um único turno: a criança entrava às sete da manhã e saía às quatro da tarde. Refeições?<br />

A instituição oferecia café-da-manhã, almoço e lanche. O material permanecia na sala<br />

de aula e a criança recebia tudo, desde lápis, cadernos e livros, ou o <strong>que</strong> fosse necessário.<br />

Todas as salas de aula tinham, além do quadro negro, quadro de pilot, quadro com<br />

pentagrama (pauta musical), carteiras confortáveis, instrumentos musicais, piano ou<br />

órgão, televisão... Década de setenta! Um luxo, se comparadas às escolas de hoje, aqui,<br />

mesmo as particulares. Imagino <strong>que</strong> hoje, lá, cada criança tenha seu computador...<br />

Abre parêntesis. A situação jurídica de brasileiros <strong>que</strong>, depois do golpe do Chile, tinham<br />

ido para a Alemanha Ocidental - República Federal da Alemanha -, na época, era muito<br />

precária. Sofriam todo tipo de constrangimento, pressão, coação, perseguição mesmo.<br />

Havia sempre a ameaça de expulsão do país. Por exemplo, na ocasião da Copa do <strong>Mundo</strong><br />

de 1974, eram obrigados a comparecer, até três vezes por dia, à delegacia, em Berlim, nos<br />

dias de jogos do Brasil. Por tal humilhação passaram o Reinaldo e a Dora, em cuja casa,<br />

no Chile, eu morei, assim <strong>que</strong> cheguei na<strong>que</strong>le país em fins de agosto de 1973. Em junho<br />

de 1976, eles ainda não tinham recebido o asilo político, quando a Dora suicidou-se, ao<br />

atirar-se sob um trem em uma estação do metrô de Berlim.<br />

Depois do suicídio da Dora, Maria Auxiliadora Lara Barcellos, a Lilliam, irmã do Reinaldo,<br />

<strong>que</strong> vivia na Suécia, escreveu carta ao Primeiro Ministro Olof Palme, onde pedia <strong>que</strong> a<br />

seu irmão Reinaldo fosse concedido asilo e <strong>que</strong> ele fosse retirado de Berlim. A Lilliam<br />

recebeu, quase imediatamente, resposta pessoal e positiva do Olof Palme. Ele, além de<br />

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