06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

a carne podre. Eu e o Luiz Carlos Guimarães, ex-companheiro da Eli, ficávamos andando<br />

pelo estádio para ver se encontrávamos casca de banana, laranja ou qual<strong>que</strong>r outra coisa<br />

para comer. A fome era brava.<br />

Tenho belas recordações da Suécia. O povo sueco é um povo extremamente solidário. Sou<br />

muito grato a eles.<br />

28.4 a dor da Perda<br />

634<br />

Francisco Roberval Mendes<br />

A escuridão lá fora era grande. Era sempre assim na Suécia. Inverno, depois das três ou<br />

quatro horas da tarde tornava-se escuro como qual<strong>que</strong>r meia-noite. A janela grande da<br />

sala mostrava a<strong>que</strong>le negror. Minha filha de quase dois anos dormia tranquila em seu<br />

berço. Ignorava – e não podia ser de outra forma – toda minha tristeza, angústia e a<br />

imensa solidão <strong>que</strong> ela, e só ela, adormecida dividia comigo.<br />

Chegara com ela nos braços e a fizera adormecer. Em todo esse processo, uma tristeza me<br />

acompanhava. Ou melhor, pesava dentro e fora de mim. Mariana morrera. Vida tão curta,<br />

tão poucos dias vividos. “E como seria essa vida? Por <strong>que</strong> ela não tivera o direito de vivêla?<br />

E essa curta vida nos trouxera tanta apreensão, tanta angústia e, depois, um fardo<br />

incomensuravelmente pesado de tristeza”.<br />

Patrícia ficara no hospital. Precisava se recuperar do parto prematuro. Ali, na<strong>que</strong>la<br />

escuridão, apenas a luz do aquário acesa, imaginava sua tristeza, seu pranto, sozinha<br />

na<strong>que</strong>le frio e impessoal ambiente de hospital, sem ter, nem mesmo, mão amiga para lhe<br />

passar um lenço em suas lágrimas. Doeu-me deixá-la, mas não tinha ninguém para<br />

cuidar de nossa filha por toda uma noite. Por isso deixei-a no hospital e fui buscar a<br />

menina na casa de Bengt, um amigo sueco <strong>que</strong> dela estava cuidando.<br />

Eu e Patrícia assistimos aos últimos momentos de Mariana sem se<strong>que</strong>r tê-la tomado nos<br />

braços. Desde <strong>que</strong> nascera prematura, fora colocada rapidamente em uma incubadora.<br />

E, ali, eu a vira definhando, seu corpinho profanado por tubos e agulhas. Doía-me tanto!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!