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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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marinheiro tinha arriscado, como muitos outros, sua vida na luta contra a ditadura.<br />

Avelino mostrou-me seu braço com as cicatrizes de uma refrega contra os agentes da<br />

ditadura. Um homem simples e bom, cujo único desejo era lutar pela liberdade e pela<br />

democracia em nossa terra. Hospedei-o, como a muitos outros, com alegria de revê-lo e<br />

de sentir-me participante da luta travada contra a injustiça social em minha Pátria.<br />

Todos nós <strong>que</strong> o conhecíamos, sabíamos também <strong>que</strong> se tratava de um homem crescido<br />

nos montes do Rio Grande do Sul, onde a liberdade era considerada um bem precioso e<br />

digno de <strong>que</strong> se lutasse por essa causa. Para Avelino Capitani, a luta pela liberdade era<br />

uma coisa natural.<br />

Certa vez, a pedido do companheiro Lalo, manifestei aos membros do Latinamerika<br />

Gruppen a necessidade <strong>que</strong> tínhamos de passaportes, para salvar companheiros <strong>que</strong><br />

deveriam deixar o Brasil a fim de salvar-se de uma morte certa nas garras da infame<br />

polícia da ditadura. Qual não foi o meu espanto, na próxima reunião do grupo, quando<br />

dezesseis jovens vieram à mesa e depositaram seus passaportes. Era emocionante<br />

testemunhar esse gesto de solidariedade com os nossos companheiros perseguidos pela<br />

repressão.<br />

Meses depois, fui chamado à polícia para ser intérprete de mais um refugiado <strong>que</strong> pedia<br />

asilo e tive <strong>que</strong> fazer um esforço hercúleo para não cair na gargalhada ao ler seu nome<br />

no passaporte sueco: Elisabeto Andersson. O policial interrogador estava verdadeiramente<br />

curioso para saber como ele tinha conseguido a<strong>que</strong>le passaporte, mas o companheiro<br />

contou-lhe <strong>que</strong> era fácil comprar passaportes perdidos ou mesmo roubados no mercado<br />

clandestino nas grandes cidades…<br />

Às vezes, abrigava vários companheiros, ao mesmo tempo, em meu pe<strong>que</strong>no apartamento<br />

de estudante universitário em Vildande, Lund, o <strong>que</strong>, não raramente, ocasionava<br />

desavenças com a minha jovem esposa <strong>que</strong> via companheiros dormindo por toda parte.<br />

Sentia ser meu dever ajudar a todos <strong>que</strong> buscavam um refúgio neste país e, por haver<br />

sido o primeiro refugiado político da América Latina na Escandinávia (algo histórico),<br />

sentia verdadeira alegria em orientar os <strong>que</strong> chegavam.<br />

Em 1971, nasceu meu primeiro filho (Nino) na Suécia e, em 1976, publi<strong>que</strong>i meu primeiro<br />

livro nesse mesmo país generoso, <strong>que</strong> me deu abrigo e <strong>que</strong> me proporcionou a alegria de<br />

ter sido útil a tantos companheiros.<br />

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