06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A língua sueca aprendi em seis meses, na fábrica onde trabalhava como eletricista.<br />

Comecei a estudar no curso noturno da Escola Técnica de Hässleholm, preparando-me<br />

para o estudo superior na Universidade de Lund. Em Lund, uni-me ao Latinamerika<br />

Gruppen, em sua maioria composto de companheiros suecos <strong>que</strong> se solidarizavam com<br />

os povos em luta contra as ditaduras <strong>que</strong> assolavam nosso continente. Ali, conheci muitos<br />

companheiros de valor <strong>que</strong>, verdadeiramente, mostravam, na prática, o sentido real da<br />

solidariedade internacional. Pouco a pouco, comecei a organizar-me e participei<br />

ativamente da revolta estudantil de 19<strong>68</strong>, em Lund, enquanto a ditadura brasileira, nesse<br />

mesmo ano, me condenava a três anos e um mês de prisão, no Rio de Janeiro.<br />

Pouco tempo depois, recebi a visita de um companheiro de São Paulo, <strong>que</strong> estudava na<br />

Bulgária e <strong>que</strong> me encarregou de comprar e enviar para o Chile duas passagens de navio<br />

para dois companheiros, Neguinho e Élio, <strong>que</strong> viriam desde a<strong>que</strong>le país até Hamburgo.<br />

Na data aprazada, esperava-os em Copenhague onde, finalmente, chegaram. Hospedeios<br />

em minha casa, <strong>que</strong>, futuramente, seria chamada de Embaixada dos Refugiados na<br />

Suécia, pelo companheiro Avelino Capitani, em seu livro.<br />

Foi muito divertido ensinar o Neguinho a andar de bicicleta. No Brasil, ele nunca havia<br />

tido a oportunidade nem a necessidade de usar uma bicicleta. Entretanto, aqui na Suécia,<br />

todos usavam esse tipo de transporte e era necessário <strong>que</strong> ele aprendesse. Além de<br />

significar independência ante os horários de ônibus, significava, também, uma boa<br />

economia para o bolso semivazio dos refugiados. Depois de cair uma série de vezes, para<br />

o divertimento dos jovens suecos <strong>que</strong> se admiravam de ver um adulto <strong>que</strong> não sabia<br />

andar em bicicleta, conseguimos ensiná-lo e lá andava o nosso <strong>que</strong>rido Neguinho,<br />

orgulhosamente, em seu ginete de ferro, como se estivesse em uma va<strong>que</strong>jada nordestina.<br />

Meu herói, Apolônio de Carvalho, o tenente Apolinário como o conhecia do livro de<br />

Jorge Amado, Nos Subterrâneos da Liberdade, festejou seus sessenta anos de vida em<br />

minha casa em Lund. Olhava-o e escutava o <strong>que</strong> dizia nas reuniões em minha casa, mal<br />

podendo evitar minha imaginação de voar, participando com ele da Guerra Civil<br />

Espanhola, da luta contra os nazistas como maquisard na resistência francesa… Um<br />

verdadeiro herói de três mundos! Ah! Quanta saudade tenho desse herói sublime <strong>que</strong><br />

povoou meus anos jovens e depois, no exílio, iria hospedar-se na minha casa. Essas<br />

pessoas não deveriam morrer nunca…<br />

De repente, apareceu em minha casa em Lund, sem <strong>que</strong> eu esperasse, Charlie Anjo 45,<br />

na pessoa de meu conterrâneo e colega de Marinha, Avelino Capitani. Esse bravo<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - SUÉCia 631

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!