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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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então, <strong>que</strong> não sabia <strong>que</strong> eu tinha filhos tão pe<strong>que</strong>nos e <strong>que</strong>, sendo assim, ele não<br />

permitiria <strong>que</strong> eu participasse. Disse-me mais, <strong>que</strong> eu passaria a receber mil e duzentos<br />

pesos uruguaios, por mês, de uma caixinha <strong>que</strong> havia para os casados com filhos. Confesso<br />

<strong>que</strong> fi<strong>que</strong>i um pouco decepcionado por não poder tomar parte da ação <strong>que</strong> se planejava,<br />

mas estava também muito consciente da minha responsabilidade com a pe<strong>que</strong>na família<br />

<strong>que</strong> dependia muito de mim.<br />

Passei a visitar Leonel Brizola, periodicamente, para vender-lhe livros e, nessas ocasiões,<br />

encontrei muitas pessoas importantes, tais como Darcy Ribeiro, Neiva Moreira e outros.<br />

A cada reunião crescia a minha admiração e respeito por ele, pois sentia-me orgulhoso<br />

pela oportunidade de conviver com uma pessoa <strong>que</strong>, eu sabia, tornar-se-ia histórico.<br />

Com a minha vinda para a Suécia, a nossa amizade não acabou e a prova é <strong>que</strong>, a<br />

caminho do Brasil e da anistia, passou alguns dias em Estocolmo e telefonou-me,<br />

pessoalmente, convidando-me para almoçar com ele e com o professor Abdias<br />

Nascimento. Leonel Brizola foi para mim o exemplo de um homem sério e honesto. Foi,<br />

na minha opinião, uma lástima para o Brasil, não havê-lo tido como presidente. Lamentei<br />

sua morte e, de certa maneira, essa orfandade em <strong>que</strong> deixou milhões de brasileiros <strong>que</strong><br />

acreditavam nele. Honra à sua memória!<br />

Nessa época, encontrei Darcy Ribeiro. Fechando os olhos, ainda o vejo sentado sobre suas<br />

pernas cruzadas à maneira oriental. Dedicava a ele verdadeira veneração, por seus<br />

conhecimentos, sua inteligência clara e seus escritos sobre os índios do Brasil. Conheci<br />

também: Djalma Maranhão, ex-prefeito de Natal; o general Oest cuja esposa tricoteou<br />

um casaquinho de lã para a minha filhinha recém-nascida no Hospital das Clínicas em<br />

Montevidéu; o almirante Aragão; o Dr. César Chiafitelli de cuja amizade ainda privo e<br />

muitos outros <strong>que</strong> povoaram minha vida no exílio.<br />

A situação para os refugiados políticos brasileiros no Uruguai tornava-se, a cada dia,<br />

mais difícil e perigosa, depois da decisão do governo uruguaio, forçado pela ditadura<br />

militar brasileira, de isolar Brizola, internando-o no Balneário Atlântida. A intenção era<br />

impedir ou, pelo menos, dificultar <strong>que</strong> ele mantivesse seus contatos políticos. Brizola<br />

tinha, no entanto, direito de tratar dos dentes em seu dentista em Montevidéu. Para isso,<br />

viajava à capital a cada duas semanas e aproveitava, então, o ensejo para fazer contatos<br />

importantes. Seu tratamento dentário prolongou-se indefinidamente…<br />

Em Montevidéu, conheci um casal de missionários suecos da mesma igreja fre<strong>que</strong>ntada<br />

por meus pais e pelo bondoso pastor Anders Johansson da minha infância em Rio Grande.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - SUÉCia 629

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