06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Johansson era o pastor da igreja e meus pais eram fiéis dessa congregação evangélica.<br />

Eram tempos problemáticos quando o Brasil havia, recentemente, declarado guerra à<br />

Alemanha de Hitler e eu, menino de seis anos, gostava de escutar o <strong>que</strong> o missionário<br />

sueco contava sobre a guerra na Europa. Raríssimos navios logravam furar o blo<strong>que</strong>io da<br />

guerra submarina e chegar desde a longínqua Suécia até Rio Grande. Um ou outro, às<br />

vezes, conseguia passar com cartas para a família Johansson e, por isso, Anders Johansson<br />

sempre tinha tanto para contar para o garotinho, encantado com nomes estranhos de<br />

paragens longínquas e cheias de neve…<br />

Nos idos de 1958, eu e muitíssimos outros brasileiros já sabíamos dizer três palavras em<br />

sueco: Rasunda, Nia Ulévi e Indas. Anos depois, descobriria o significado dessas palavras<br />

e sua grafia correta… Råsunda, Nya Ullevi e Hindås. A Seleção Brasileira havia disputado<br />

importante partida no Estádio de Nya Ullevi, em Gotemburgo, contra a seleção da União<br />

Soviética, cujos três primeiros minutos de jogo foram considerados como os mais<br />

importantes da história do futebol mundial. No Estádio de Råsunda, em Estocolmo, a<br />

final gloriosa contra a Suécia nos fez Campeões Mundiais de Futebol. Entretanto, o nome<br />

mais conhecido era Hindås, nas cercanias de Gotemburgo, onde a seleção brasileira<br />

estava alojada. Desse lugar mágico, vinham todas as notícias sobre quais jogadores<br />

Vicente Feola havia escalado para o jogo.<br />

Em Montevidéu, conheci Leonel Brizola. Um dos vários ex-sargentos do exército <strong>que</strong>,<br />

fre<strong>que</strong>ntemente, eram vistos em sua companhia levou-me à sua casa e apresentou-me<br />

ao Caudilho (como passei a chamá-lo, carinhosamente). Lembro-me bem da minha<br />

emoção ao encontrar a<strong>que</strong>le homem corajoso e dedicado à luta contra a ditadura. Brizola<br />

perguntou-me na sua maneira muito franca e direta se eu estava disposto a participar da<br />

luta armada ao <strong>que</strong> respondi, sem titubear, <strong>que</strong> sim, <strong>que</strong> estava, mas <strong>que</strong> necessitaria de<br />

treinamento. Eu sabia disparar uma arma, havia aprendido na escola da Marinha, mas<br />

todo o exercício <strong>que</strong> havíamos tido, muito curto e precário, não me dava conhecimentos<br />

para participar de uma ação para valer. Ele, então, prometeu-me <strong>que</strong>, a seu tempo, eu<br />

seria chamado para treinamento, pois ele jamais mandaria alguém participar de uma luta<br />

sem preparo.<br />

No seguinte encontro com o Caudilho, ele me explicou <strong>que</strong> estava tomando providências<br />

a respeito do meu treinamento e <strong>que</strong>, em breve, eu seria convocado. Perguntei-lhe se<br />

havia algum fundo de ajuda para a família. Contei-lhe <strong>que</strong> morava em um bairro pobre<br />

de Montevidéu com minha mulher e nossas duas filhas de três e dois anos de idade e <strong>que</strong><br />

teria <strong>que</strong> deixar o trabalho <strong>que</strong> tinha para participar da<strong>que</strong>les planos. Ele argumentou,<br />

628

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!