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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Como não havia vôo direto Paris-San José, o jeito era fazer uma troca de avião no<br />

Panamá. Mas o aeroporto do Panamá tinha um probleminha: era uma espécie de buraco<br />

negro no qual sumiam as bagagens durante a transferência de uma aeronave para a<br />

outra. Embora o sumiço fosse previsível, não se podia evitá-lo. Parece <strong>que</strong> a coisa tinha<br />

um estatuto de lei da física, ou seja, tratava-se de uma fatalidade irrecorrível. E foi assim<br />

<strong>que</strong> desembar<strong>que</strong>i em San José só com a roupa do corpo e a maleta de mão.<br />

O seminário versava sobre a <strong>que</strong>stão democrática na América Latina, ou qual<strong>que</strong>r coisa<br />

<strong>que</strong> o valha. E transcorreu burocraticamente, como soía acontecer nesses eventos juvenis<br />

internacionais, <strong>que</strong> reuniam invariavelmente aprendizes de diplomata dos países do<br />

“socialismo real” e representantes das juventudes dos partidos socialistas e comunistas<br />

ocidentais e dos partidos social-democratas no governo.<br />

A inutilidade dessas reuniões era proverbial. Se por acaso alguém vislumbrar algum<br />

proveito nelas, este será um gênio ou uma besta. Mas com certeza era uma oportunidade<br />

para se fazer um turismo semi-oficial. Foi desse modo <strong>que</strong> conheci a Costa Rica e, de<br />

<strong>que</strong>bra, uma costarri<strong>que</strong>nse cujo interesse teórico pela <strong>que</strong>stão democrática latinoamericana<br />

se incendiava ao contato das nossas partes pudentes. A bem da verdade, foi a<br />

ela <strong>que</strong> me dedi<strong>que</strong>i com maior afinco na meia-dúzia de três ou quatro dias de reuniões<br />

a <strong>que</strong> assisti.<br />

Dessa viagem, ficou-me uma viva impressão da brava companheira costarri<strong>que</strong>nse,<br />

reformista social-democrata <strong>que</strong> se acasalou à perfeição com o meu indomável espírito<br />

revolucionário proletário. Aprendi muito com ela. Sobre o diálogo silencioso dos corpos,<br />

por exemplo. E inclusive sobre estalidos de salivas e urros e suspiros <strong>que</strong> fazem a alma<br />

desabafar. Mas também sobre doces palavras castelhanas <strong>que</strong> não saberia traduzir, mas<br />

cujo sentido não me escapava e fazia-me eriçar.<br />

Pois encontrava-me nessas lides <strong>que</strong> todos podem imaginar, quando me dei conta de <strong>que</strong><br />

era hora de voltar para passar o Natal em casa com a minha encantadora esposa, <strong>que</strong> me<br />

esperava em Paris. Todavia, aguardava-me uma ingrata surpresa: as passagens estavam<br />

esgotadas por conta das festas de fim de ano. O leitor (ou será leitora?) poderá imaginar<br />

a aflição de um marido apaixonado diante da trágica perspectiva de passar a noite do<br />

Menino Jesus longe de sua amada esposa. Era tal meu desespero <strong>que</strong> es<strong>que</strong>ci da<br />

costarri<strong>que</strong>nse. Eu <strong>que</strong>ria por<strong>que</strong> <strong>que</strong>ria, passar o Natal com a minha amada em Paris.<br />

Então, o vendedor da American Airlines apresentou uma saída: tomar um voo da<br />

companhia americana até o aeroporto de Nova Ior<strong>que</strong> e, lá, fazer a transferência para<br />

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