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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Guarda pregavam a despolitização e só pediam “<strong>que</strong> você me a<strong>que</strong>ça nesse inverno e<br />

<strong>que</strong> tudo mais vá para o inferno”. A es<strong>que</strong>rda dominava totalmente o campo, com uma<br />

seleção <strong>que</strong> só aceitava cra<strong>que</strong>s: Caetano, Chico, Elis Regina, Jair Rodrigues, Gilberto Gil,<br />

Geraldo Vandré, Vinícius de Morais etc. Quando dos festivais da canção, a disputa<br />

politizada transformava-se em uma quase batalha campal.<br />

Através da música, debatiam-se os projetos para o futuro do país. Em uma época sem<br />

cerimônias, iconoclasta, o público levantava-se contra os monstros sagrados <strong>que</strong><br />

construía caso ousassem sair da linha, ou do <strong>que</strong> se pensava <strong>que</strong> fosse a linha. Em 28 de<br />

março de 19<strong>68</strong>, três dias antes do quarto aniversário do golpe, as polícias militares do<br />

Exército e da Aeronáutica invadem o restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e<br />

disparam à <strong>que</strong>ima-roupa contra os estudantes, matando Édison Luís de Lima Souto, de<br />

18 anos. No dia seguinte, sexta-feira, a antiga capital da República parou para <strong>que</strong><br />

sessenta mil populares acompanhassem a despedida ao secundarista. A resposta foi<br />

violenta. Por diversos dias, a cidade tornou-se campo de acirrada batalha. De um lado,<br />

estudantes e populares. Do outro, polícia e exército. Universitários, secundaristas e<br />

populares são mortos. Ao deslocarem-se pelas ruas do Centro, os soldados protegem-se<br />

debaixo das marquises dos objetos atirados desde os edifícios. Um policial militar, a<br />

cavalo, morre ao receber na cabeça um pesado balde, ainda carregando cimento fresco,<br />

lançado desde um edifício em construção.<br />

CeM Mil Contra a ditadura<br />

A agitação estudantil alastra-se pelo Brasil, com manifestações nas principais capitais.<br />

Na quarta-feira, 26 de junho, o movimento alcança seu ápice. No Rio de Janeiro, cem mil<br />

manifestantes concentram-se na Cinelândia e desfilam pelo Centro, em uma demonstração<br />

permitida pelo governo. Cin<strong>que</strong>nta mil pessoas protestam nas ruas de Recife. As grandes<br />

manifestações alcançam efeito inesperado. Dias mais tarde, uma comissão da “Passeata<br />

dos Cem Mil”, do Rio de Janeiro, é recebida em Brasília pelo ditador Costa e Silva. Entre<br />

os membros da delegação, encontra-se um representante da UNE, entidade colocada na<br />

ilegalidade imediatamente após o golpe. Entretanto, o encontro não tem consequências.<br />

A mobilização operária levara a oposição sindical a planejar um amplo movimento<br />

grevista para o fim do ano, quando da data-base de importantes categorias. A explosão<br />

das manifestações de junho aceleraria a greve. Em 16 de julho, José Ibrahim, presidente<br />

do sindicato dos metalúrgicos de Osasco, de vinte anos, ligado à organização militarista<br />

VPR, põe-se à frente de uma paralisação da COBRASMA, com ocupação da empresa e<br />

aprisionamento dos funcionários graduados, à qual aderem dez mil trabalhadores de<br />

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