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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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livro, pois passamos a nos encontrar na rua, carregando uma mala <strong>que</strong> continha os tais<br />

manuscritos. E sabem de uma coisa? Comecei a achar tudo muito divertido. Quando eles<br />

foram morar em Cambridge por<strong>que</strong> os filhos dele vieram dos Estados Unidos para morar<br />

com o pai, fomos morar no apartamento deles em Londres e dane-se a CIA. Não é à toa<br />

<strong>que</strong>, já no Brasil depois da anistia, quando fui ler meu habeas data, vi <strong>que</strong> o governo<br />

brasileiro havia sido informado dos meus passos na<strong>que</strong>la terra, pois meu primeiro filho<br />

nasceu lá.<br />

O tempo passou, o livro foi lançado, foi um sucesso de público e traduzido para não sei<br />

quantas línguas (as pessoas adoram livros de espionagem...). Por outro lado, nós nos<br />

assentamos bem na Inglaterra e quando fui convidada para aparecer em um filme <strong>que</strong><br />

contava a estória dele (não a minha...) fi<strong>que</strong>i simplesmente a-ter-ro-ri-za-da. Não <strong>que</strong>ria<br />

magoar o amigo <strong>que</strong> ele se tornara, mas também não <strong>que</strong>ria arriscar a pele ao lado de<br />

um ex-agente da coisa mais odiosa do mundo depois da Gestapo (afinal de contas o<br />

pensamento comum na época era uma vez Flamengo, sempre Flamengo...). Só sei <strong>que</strong><br />

inventei a desculpa de <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria voltar para o Brasil (na<strong>que</strong>la altura não havia nem<br />

sombra de anistia), ele não acreditou muito, argumentou, argumentou e tudo ficou por<br />

isso mesmo.<br />

A vida continuou correndo. Ele tinha certa mania de <strong>que</strong> eu não gostava muito: ficava<br />

denunciando todos os agentes da CIA <strong>que</strong> detectava. Achava <strong>que</strong> sua missão revolucionária<br />

era esta. Eu discordava, pois achava e acho ainda, <strong>que</strong> lidar com estes indivíduos é tão<br />

perigoso <strong>que</strong> não vale a pena arriscar o bem estar de muitos em troca de trazer à tona<br />

elementos contra os quais você não pode lutar, pois pertencem a um sistema operacional<br />

sustentado e alimentado por algo muito maior. E foi assim <strong>que</strong> ele caiu. Veio o governo<br />

progressista do Manley na Jamaica e, se éramos revistados na porta do Rainbow em show<br />

do Bob Marley, imaginem o maluco denunciando os agentes da CIA na Jamaica, <strong>que</strong><br />

deviam estar misturados aos secretas ingleses. Resultado: expulso do Reino Unido por<br />

agir contra a segurança nacional. Pode? Não pode. A partir desse momento, foi perdendo<br />

força, calando-se e hoje está de volta aos Estados Unidos e até onde sei, vive em paz com<br />

sua família.<br />

Mas por <strong>que</strong> quando resolvi falar sobre a minha vida no Reino Unido, ocorreu-me<br />

justamente esta estória? Por<strong>que</strong> foi a primeira. Logo na chegada. Muitas outras me<br />

chacoalharam por dentro. Elas ocorrem fre<strong>que</strong>ntemente em Londres em virtude do seu<br />

cosmopolitismo. Gente de todas as partes do mundo. Gente de todas as cores políticas:<br />

direita, es<strong>que</strong>rda, centro e o <strong>que</strong> mais <strong>que</strong> possa existir. Maluco para tudo. E Westminster<br />

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