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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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E qual não foi a surpresa? Uma companheirona das jornadas revolucionárias no Rio de<br />

Janeiro e dos porões do DOI-CODI, havia se casado, estava morando no Reino Unido e me<br />

convidava para jantar em sua casa e conhecer seu marido.<br />

Fi<strong>que</strong>i “pra lá de” feliz e marcamos para o dia seguinte, tal era a ansiedade do reencontro.<br />

E lá estávamos nós na<strong>que</strong>la noite memorável. Tão memorável <strong>que</strong> jamais irei es<strong>que</strong>cê-la.<br />

A comida perfeita, o vinho saboroso. Mas o tal marido, <strong>que</strong> por sinal era americano, toda<br />

hora olhava por trás da cortina, pela janela, talvez o <strong>que</strong> se passava no jardim <strong>que</strong> dava<br />

para a rua. E comecei a ficar encrencada com isso. Meu companheiro não percebia<br />

por<strong>que</strong> estava sentado de costas para a tal janela. E contava estórias e mais estórias...<br />

(éramos loucos por elas...). Lá pelas tantas, no nosso samba de bre<strong>que</strong>, tal como Moreira<br />

da Silva, o Kid Morengueira, imaginaria, não aguentei e perguntei por <strong>que</strong> ele olhava<br />

tanto por trás da cortina e a resposta veio como um míssil tão letal quanto estes com <strong>que</strong><br />

o Estado de Israel mata a população palestina (aliás já está mais do <strong>que</strong> na hora de acabar<br />

com esta crueldade...):<br />

- É por<strong>que</strong> está cheio de agentes da CIA lá fora. Estão cercando o apartamento tentando<br />

bisbilhotar tudo.<br />

Silêncio total. Depois continuou:<br />

- Fui agente da CIA e desertei. Eles estão atrás de mim - completou.<br />

Meu companheiro engasgou quase engolindo o garfo com <strong>que</strong> comia. Eu não sabia onde<br />

me meter, não era inglesa, mas mantive a fleuma (outro bre<strong>que</strong>, <strong>que</strong> aliás vem de brake,<br />

os freios ingleses: na<strong>que</strong>la época nunca admitia sentir medo, embora me estraçalhasse<br />

por dentro).<br />

A solução no caso foi escutá-lo. Fazer o quê? Contou-nos como foi recrutado para a CIA,<br />

<strong>que</strong> estava escrevendo um livro, <strong>que</strong> vivera primeiramente na Espanha e depois em Paris,<br />

mas teve <strong>que</strong> sair dos dois lugares por<strong>que</strong> estava com esta simpática agência em seu<br />

encalço. Viera para o Reino Unido por<strong>que</strong> os súditos secretos da rainha (lembram do 007?<br />

iguaizinhos...) haviam prometido protegê-lo, uma vez <strong>que</strong> não desejavam escândalos em<br />

seu território. Assim <strong>que</strong> os agentes da CIA e do MI-6 (assim se chama o ninho dos<br />

simpáticos britânicos...) ficavam se estranhando no jardim e deveríamos tomar cuidado<br />

quando deixássemos a casa. Depois soube <strong>que</strong> eles <strong>que</strong>riam roubar os manuscritos do<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - iNGlaTerra 615

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