06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ângelo era um médico sério. Não se assemelhava a esses charlatães <strong>que</strong> vemos hoje em<br />

dia nos planos de saúde. Entregou o paciente aos cuidados do colega chileno <strong>que</strong>, digase<br />

de passagem, recebeu-o com todo carinho.<br />

Vigilância daqui, vigilância dali, o paciente (não me lembro o nome dele) ia, aos poucos,<br />

melhorando. Até <strong>que</strong> um belo dia, estava eu deitada no meu saco de dormir, quando o<br />

solo começou a tremer debaixo de mim como uma gelatina <strong>que</strong> se mexe na vasilha, sem<br />

sustentação alguma. A sensação era de <strong>que</strong> a qual<strong>que</strong>r momento a<strong>que</strong>la gelatina iria se<br />

partir e eu cairia no centro da Terra como Alice no País das Maravilhas. Mas eu não<br />

era Lewis Carrol nem nada e tratei de ficar quietinha. Olhei para a janela, então, e<br />

consciente da presença dos pacos lá fora (força policial dos Carabineros de Chile),<br />

prontos a atirar em qual<strong>que</strong>r cabeça <strong>que</strong> se aventurasse a sair à rua, achei estranho <strong>que</strong><br />

ela estivesse aberta.<br />

Amigos leitores, assisti, então, a uma das cenas mais hilárias da minha vida. E aqui,<br />

desculpem-me os defensores do drama: ele chega a um clímax <strong>que</strong> se transforma em um<br />

anticlímax, tal o seu desprendimento da realidade dos mais comuns dos mortais. Ou, sei<br />

lá, a sua proximidade.<br />

O psiquiatra, responsável pelo paciente com ímpetos suicidas, tentava se lançar janela<br />

afora com medo do terremoto. E o paciente, consciente de <strong>que</strong> o terremoto não era mais<br />

perigoso do <strong>que</strong> os pacos (experimentara na carne), tentava detê-lo, segurando-o pelas<br />

pernas e gritando: “Calma, calma, é só um terremoto!”<br />

Dei boas gargalhadas, nunca mais me es<strong>que</strong>ci da cena, e embora seja amante de<br />

Shakespeare e de suas belíssimas tragédias, não dispenso um gibi de história em<br />

quadrinhos. Não somos nada, jamais seremos alguma coisa se não soubermos dançar. A<br />

salsa está aí, e o samba também, já nos mostrava o nicaraguense <strong>que</strong> possuía doze<br />

passaportes, cada um de uma nacionalidade diferente, mas <strong>que</strong> afirmava ser da Nicarágua.<br />

O Panamá, posteriormente, foi um espaço e tempo deliciosos. Vocês sabiam <strong>que</strong> no mapa<br />

do seu hotel principal, o Caribe, não existia Cuba? Fácil maneira de lidar com o<br />

indesejável...!<br />

Sabiam <strong>que</strong>, no Panamá, os micro-ônibus eram aparelhados com equipamentos sonoros<br />

magníficos <strong>que</strong> emanavam os sons da salsa, da rumba e outros ritmos caribenhos? Que<br />

bastava gritar parada e o motorista obedecia, pois não havia pontos pré-determinados?<br />

Que os panamenhos estranhavam o nosso uso das sandálias havaianas (olha aí, já na<strong>que</strong>la<br />

época!) <strong>que</strong> hoje se tornaram a co<strong>que</strong>luche de exportação para a Europa? Que eles<br />

612

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!