06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

para nos avisar <strong>que</strong> o Hasselman tinha sido transferido pelas Nações Unidas. Para onde?<br />

Adivinhem: Bruxelas!<br />

Vixe! Fi<strong>que</strong>i uma fera e enviei um recado à<strong>que</strong>le verme para <strong>que</strong> desaparecesse<br />

“voluntariamente” de Bruxelas, senão ele iria fazer a viagem definitiva de sua vida, por<br />

minha conta. Acho <strong>que</strong> ele foi transferido de lá. Nunca mais soube nada dele, nem<br />

procurei saber.<br />

Na realidade, não lograram dar sumiço na gente. Não sei por quê. Tivemos sorte, acho.<br />

Em Villa Devoto, consegui passar uma mensagem às Nações Unidas, denunciando nosso<br />

caso, por intermédio de Julian Rei, velho anarquista combatente da guerra de Espanha,<br />

dramaturgo, outro benfeitor. Ele vinha visitar seu filho e nora. Faziam-no passar por meu<br />

familiar e, com isso, eu tinha visitas. Um dia de Natal, montei uma peça de teatro <strong>que</strong> ele<br />

escreveu. Recitávamos através das grades, foi um momento de grande emoção entre nós,<br />

presas políticas.<br />

Ficamos “ocultados” durante oito meses. José Antonio Vieira da Cunha, conseguiu <strong>que</strong><br />

um companheiro enviasse à sua mãe, um recado onde comunicava <strong>que</strong> estava preso em<br />

Buenos Aires. Ela foi procurá-lo. Chegando na<strong>que</strong>la capital, certo Carlos Rodrigues,<br />

funcionário do ACNUR, informou <strong>que</strong> havíamos sido mortos na tortura. Ela não acreditou,<br />

pois havia recebido a mensagem do filho e exigiu saber onde ele estava. Por fim,<br />

localizou-o na sinistra prisão de Villa Devoto, em Buenos Aires. Ela o visitou e, ao tomar<br />

conhecimento de tudo, fez com <strong>que</strong> acabasse a clandestinidade da prisão do Zé Antonio<br />

e, conse<strong>que</strong>ntemente, da nossa, um pouco mais tarde.<br />

Voltando ao Brasil, dona Maria Vieira da Cunha publicou denúncia, em um jornal de<br />

Goiânia, de <strong>que</strong> havia mais dois pernambucanos presos na Argentina: Maria Inêz da Silva<br />

de Brito e Abiasafe Xavier de Brito. Em outro lugar da cidade, Dona Maria Baú, leu essa<br />

notícia e lembrou-se de <strong>que</strong>, há poucos anos, um rapaz pernambucano, chamado<br />

Joaquim Belo, havia trabalhado na Companhia ASTEP Engenharia, onde ela era cozinheira.<br />

Que Deus a tenha.<br />

A ASTEP Engenharia tinha filiais em Goiânia e Recife. Ela recortou a notícia do jornal e<br />

enviou à ASTEP de Recife, onde trabalhavam vários irmãos meus. Acompanhava o recorte,<br />

uma carta pedindo para localizar a família da<strong>que</strong>les presos. O diretor da ASTEP Recife<br />

circulou com o recorte <strong>que</strong> acabou caindo nas mãos de outro irmão de Joaquim Belo <strong>que</strong><br />

trabalhava lá, na época. Qual não foi a surpresa dele ao descobrir onde eu andava!<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - arGeNTiNa 607

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!