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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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isco de vida a todo momento. Como nenhum diretor nos recebeu, decidimos <strong>que</strong> ali<br />

permaneceríamos até <strong>que</strong> algum funcionário nos atendesse. Havia, na sala de espera da<br />

instituição, uma família de uruguaios <strong>que</strong> também <strong>que</strong>ria ajuda para sair de lá. Por volta<br />

do meio-dia, como a fome apertou, saí do edifício para comprar sanduíche.<br />

Quando voltei, embora eu não tivesse percebido, o quarteirão estava completamente<br />

cercado pela polícia. Ao subir as escadas do prédio, notei algo estranho na atitude do<br />

vigia do ACNUR. Tentei voltar, mas fui impedida por esse tal vigia <strong>que</strong> me levou à sala de<br />

espera. Vi <strong>que</strong> a polícia argentina tinha sido acionada e estava a postos. O Abiasafe e o<br />

Zé Antonio já estavam algemados e a polícia somente esperava pelo meu retorno.<br />

Prenderam-me. Vejam <strong>que</strong> absurdo! Mesmo <strong>que</strong> o porra-louca do Abiasafe, por desespero,<br />

tivesse feito alguma ameaça ao pessoal do ACNUR, por<strong>que</strong> eles não nos <strong>que</strong>riam receber,<br />

em hipótese alguma, eles jamais poderiam ter cometido o crime de violar sua própria<br />

missão, <strong>que</strong> era a de nos proteger, acima de tudo. Colaboraram com a polícia argentina<br />

<strong>que</strong>, na<strong>que</strong>le momento, somente exercia uma tarefa: exterminar com os opositores do<br />

regime.<br />

Fomos levados à prisão de Villa Devoto. Nossas famílias não sabiam onde estávamos.<br />

Havíamos sido presos no próprio local do ACNUR, o órgão das Nações Unidas para os<br />

Refugiados, por obra de Hasselman, Diretor, e de um tal Krens <strong>que</strong>, depois do ocorrido,<br />

foram transferidos de lá. Isso provocou um grande escândalo na época. Alguns<br />

funcionários do ACNUR pediram demissão, pois não podiam admitir tal procedimento.<br />

Segundo me contaram mais tarde, o glorioso exército argentino havia cercado o bairro<br />

inteiro para levar três quase adolescentes presos: eu, Abiasafe e Zé Antônio, expulsos, um<br />

ano e meio depois, na época do golpe na Argentina, por decreto militar publicado nos<br />

jornais argentinos em letras garrafais. “Junta militar expulsa estrangeiros implicados em<br />

subversão e tentativa de destruição do Estado Argentino”. Uma graça, se não fosse uma<br />

tremenda covardia.<br />

A ordem havia sido dada, não sei por <strong>que</strong>m, para <strong>que</strong> nos fizessem desaparecer. Por sorte,<br />

não nos “desapareceram”. Tentativas não faltaram.<br />

Quando cheguei a Bruxelas, fui informada de alguns supostos fatos por um tal de Edson<br />

<strong>que</strong> teria sido exilado na Argélia. Contou-me <strong>que</strong>, uma semana após nossa prisão na<br />

Argentina, ele teria se<strong>que</strong>strado a<strong>que</strong>les funcionários do ACNUR. Explicou <strong>que</strong> pedira um<br />

avião para a Argélia, além de nossa liberdade, em troca da libertação dos reféns. Ele teria<br />

recebido somente o avião. O fato foi abafado, pelo <strong>que</strong> ele contou.. Ele veio até Bruxelas<br />

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