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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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No ano da desgraça seguinte, 1975, quando fui levada à prisão de Villa Devoto, essas<br />

práticas ajudaram-me a manter certa distância dos urubus de verde-oliva. Mas isto é<br />

outra história, <strong>que</strong> contarei em outro momento.<br />

E o velho desejado nadica de nada, nem lembrava <strong>que</strong> ela existia. Com isso, a Magdalena<br />

se agoniava com os caboclos, <strong>que</strong>ria por<strong>que</strong> <strong>que</strong>ria <strong>que</strong> fizéssemos uma macumba para<br />

ele. Arnaldo, muito escopeteiro, saía pela tangente e dizia zombeteiro:<br />

- Eu não sou Axogun, minha tia. Sou católico, apostólico, romano, não jogo catimbó nem<br />

entro em macumba. Fala aí com a Neguinha, ela tem parte com Pomba Gira, nas segundas<br />

cai no Santo. Ela é cavalo de Zé Pilintra e Tranca-Rua, os mais poderosos santos do Brasil.<br />

- Oxente, mole<strong>que</strong>, cala a boca. Eu lá tenho cara de catimboseira nem de macumbeira?<br />

Me ajude aí!<br />

- Tem. Não é só a cara não. Olhe, dona Magdalena, ela recebe santo, pode acochar <strong>que</strong><br />

ela vai fazer o velho se apaixonar. Despacho dela é tiro e <strong>que</strong>da, o velho vai arriar os<br />

quatro pneus pela senhora, bote fé!<br />

E se escangalhava de rir com a maior cara de safado.<br />

Tanto aperrearam <strong>que</strong>, um dia, eu resolvi jogar uma fumacinha do cachimbo do santo na<br />

cara dela para ver se curava, pelo menos, a maluquice. A verdade é <strong>que</strong> fiz. Mas foi mais<br />

para me desembaraçar dos malucos. Receitei <strong>que</strong> me trouxesse, além das velas, uma<br />

galinha branca viva (trouxe preta, mas viva); azeite de dendê (trouxe de oliva); farinha de<br />

mandioca para fazer farofa de dendê (trouxe farinha de rosca); cachaça (trouxe uís<strong>que</strong>);<br />

pipoca (trouxe); vela de sete dias (trouxe vela branca) e arrumar um ataba<strong>que</strong> para o<br />

Adolfo bater (trouxe o tarol do neto dela). Não aceitei, deboche, não!<br />

- Bom. Falei. Vou logo avisando! Está tudo substituído, não sei se o santo vai gostar.<br />

Negócio de santo é coisa séria, não se pode enganar eles. E Exu, então... Eu não me<br />

responsabilizo. Se não der certo, a culpa é não é minha. Então, o jeito vai ser de a senhora<br />

ir buscar as puçangas e os despachos lá em Porto Alegre, viu?<br />

Pela cara <strong>que</strong> fez, vi mesmo do <strong>que</strong> ela seria capaz!<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - arGeNTiNa 603

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