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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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sábados, íamos, religiosamente, comer feijoada, ouvir Chico, Geraldo Vandré, Sérgio<br />

Ricardo, tomar uma cerveja e jogar muita conversa fora.<br />

Quando alguém adoecia, não era um problema, por<strong>que</strong> o remédio <strong>que</strong> ela tinha como<br />

mais eficaz era uma canja de galinha <strong>que</strong> despertava até defunto. Eu nunca adoeci, mas<br />

minha irmã veio visitar-me e pegou uma gripe. Leia aproveitou e lascou seu remédio<br />

milagroso: minha irmã ficou curada na hora!<br />

- Que milagre é esse? - perguntei.<br />

- É para não comer de novo - respondeu minha irmã.<br />

Mas a feijoada era muito boa. De qual<strong>que</strong>r maneira, não tínhamos outra.<br />

Éramos todos jovens e adorávamos uma arruaça na rua, não perdíamos uma passeata,<br />

uma greve. Qual<strong>que</strong>r reboliço nas ruas nos atraía como moscas ao mel. Estávamos sempre<br />

xeretando, por aí, em busca de adrenalina. Era um êxito quando estourava uma bomba<br />

ou vinham os milicos nos cavalos de ferro para cima dos estudantes. E nós a jogar pedras<br />

e tudo o <strong>que</strong> encontrávamos pelo chão na soldadesca espantosa. Vinte anos depois,<br />

quando pensei nestas loucuras, peguei um medo retroativo tão grande <strong>que</strong> fi<strong>que</strong>i dois<br />

meses tremendo nas bases, repetindo na cabeça: “merda, poderíamos ter morrido”. Levei<br />

sete anos para me refazer do susto atrasado. Cada uma <strong>que</strong> parecem duas.<br />

Voltando no tempo, um dia, soubemos <strong>que</strong> ia haver um almoço na Embaixada do Brasil,<br />

talvez pelo 7 de setembro, não lembro bem. Eu sei <strong>que</strong> nos deu na telha de ir lá mexer<br />

com eles e perturbar o almoço. Preparamos, eu, Eri e Arnaldo, um pe<strong>que</strong>no panfleto<br />

denunciando a ditadura. Entramos no local e começamos a distribuir aos presentes, todos<br />

paralisados pela surpresa. O embaixador, amarelo, olhos esbugalhados, já nos mirava com<br />

cara de futuro se<strong>que</strong>strado, vigiando o momento onde e quando jogaríamos os co<strong>que</strong>téis<br />

molotov na sala. Tivemos também uma surpresa bacana. A panfletagem acabou dando<br />

com os burros n’água por<strong>que</strong> uma “louca” se levantou e gritou:<br />

- Vixe Maria, terroristas brasileiros! Eu <strong>que</strong>ro um panfleto, me dá um aí. Que maravilha!<br />

Vocês vão matar a gente? Vão se<strong>que</strong>strar? Eu <strong>que</strong>ro ir para Cuba, para sair na televisão.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - arGeNTiNa 601

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