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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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“Rafael Videla será julgado por crimes dentro da Operação Condor, aliança entre ditaduras<br />

sul-americanas nos anos 70. O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, 82, será julgado<br />

por crimes contra a humanidade cometidos dentro da Operação Condor, como ficou<br />

conhecida a aliança entre ditaduras militares de Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai<br />

e Bolívia na década de 70 para perseguir dissidentes <strong>que</strong> fugissem para outros países”.<br />

A Operação Condor foi iniciada, talvez antes de 1970, pelas ditaduras militares do Chile,<br />

Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil, com a cumplicidade dos EUA, como<br />

revelaram documentos desclassificados da CIA. Teve como consequência milhares de<br />

desaparecimentos e homicídios, incluindo os assassinatos do ex-ministro chileno Orlando<br />

Letellier em Washington e do também chileno general Carlos Prats, em Buenos Aires.<br />

A notícia me reavivou a memória. Mas não era bem da Argentina. Essas coisas quando<br />

começam não acabam mais, fazem um rosário sem fim. Não vamos enfiar o dedo na<br />

pereba, não é mesmo?<br />

Eu <strong>que</strong>ria mais propriamente falar de um amigo <strong>que</strong> conheci na<strong>que</strong>le ano de 1974 na<br />

Argentina. O Arnaldo, baiano, negro, na época com 22 anos e com uma filha de nove.<br />

Bonito, elegante, andava sempre enturmado, com uma casaca de couro marrom e não<br />

dispensava, por nada neste mundo, um “babador de rola” vermelho (era assim <strong>que</strong><br />

chamava a gravata). Eu sei <strong>que</strong> pelo baiano, negro, vai ter <strong>que</strong>m me acuse de redundância,<br />

se conhecer a Bahia pela TV Globo. Mas não é pela cor <strong>que</strong> o classifico assim, é <strong>que</strong> ele<br />

se tratava de “meu nego” nas intermináveis discussões com seus botões. Caso contrário,<br />

não teria sentido nem mencionar o fato. Seus diálogos iam além da negritude e além da<br />

baianice habitual. Era do tipo da rede-rasgada <strong>que</strong> não leva nada a sério, insolente, mal<br />

comportado, galhofeiro, gaiato. Não perdia uma ocasião de rir, tanto dele quanto dos<br />

outros.<br />

Muitos anos depois soube <strong>que</strong> tinha se suicidado vestido de palhaço. Só ele mesmo para<br />

se disfarçar para morrer. Vez por outra, dava de inventar maneiras de morrer. Vivia<br />

simulando suicídios. O <strong>que</strong> nos deixava completamente histéricos. Tão reais eram as<br />

cenas de morte <strong>que</strong> ele preparava! Lembro-me da vez em <strong>que</strong> chegamos em casa, um fim<br />

de tarde, Leia e eu. Ela abriu a porta e não sentimos presença alguma na maloca. Um<br />

silêncio estranho reinava. Coisa rara, ele escutava música tão alto <strong>que</strong>, às vezes, os<br />

vizinhos ameaçavam chamar a polícia.<br />

- Arnaldo? - Ninguém respondeu.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - arGeNTiNa 599

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