06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Pueblo, Conciencia y Fuzil – MIR.<br />

Lembro-me de <strong>que</strong> minha mãe Angelina ficava horrorizada com esta palavra de ordem.<br />

- Quem está armado, não deve apregoá-lo, se não está, é ainda pior. É cutucar onça com<br />

vara curta, - ela dizia.<br />

A perseguição sem quartel aos estrangeiros também se justificava. Afinal, o Chile tinha<br />

uma tradição de asilo político registrada em seu Hino Nacional: O la tumba será de los<br />

vivos, o el asilo contra la opresión. A década de 60 fora pródiga em golpes militares em<br />

toda a América Latina. Chegaram ao país, principalmente a Santiago, dezenas de milhares<br />

de exilados de quase todos os países do continente. Muita gente. Na primeira lista de<br />

enemigos de la Democracia constavam dois brasileiros. O professor Theotônio dos<br />

Santos e o jornalista José Maria Rabelo.<br />

Quando Allende morreu, caía uma chuva fina em Santiago. A natureza também se<br />

manifestou. Falar da<strong>que</strong>les momentos é muito difícil. Doloroso. Nosso objetivo é relatar<br />

como foi asilar-se na embaixada do Panamá.<br />

Fizemos contato com amigos e militantes chilenos. Queríamos ajudar na resistência ao<br />

golpe. Logo descobrimos <strong>que</strong>, além de não ajudar, éramos um estorvo. Todos os<br />

estrangeiros deviam apresentar-se às autoridades policiais. Um chileno corria risco ao<br />

manter relação conosco. Mais de dez dias após o golpe, quando decidimos procurar uma<br />

embaixada para pedir asilo, a situação já estava muito difícil. Embaixadas como a da<br />

Argentina, do México, estavam cercadas.<br />

Alguém falou da Embaixada do Panamá, um apartamento térreo num prédio de quatro<br />

andares. As ilusões continuavam. Deixamos mamãe e meu filho Juarez, de um ano, em<br />

casa e fomos para a embaixada do Panamá, Mário Japa e eu.<br />

Lá já estavam José Maria Rabelo, Ruy Mauro Marini e até mesmo uma ex-namorada do<br />

Japa, <strong>que</strong> acreditava <strong>que</strong> ainda era dona da situação. Foi a maior saia justa... A moça deu<br />

um grande abraço no Mário Japa, toda entusiasmada. O embaixador viu e deu a maior<br />

bronca. Que não iria admitir imoralidades, e coisa e tal. Gesticulava tanto, bem caribenho,<br />

<strong>que</strong> deixou cair no chão uma revista <strong>que</strong> estava debaixo de seu braço El Viejo Verde,<br />

revista de sacanagem local. O fariseu ficou nu.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - CHile 593

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!